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Nem soldados nem inocentes

Juventude e tráfico de drogas no Rio de Janeiro

Otávio Cruz Neto


Marcelo Rasga Moreira
Luiz Fernando Mazzei Sucena

Objetivo discutir a questão do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, levando em


consideração o processo histórico-social que os originou e que os dotou de características
singulares. O eixo-central da discussão é a atuação do poder público que através de suas
medidas podem criar vulnerabilidades nas vidas dos jovens cariocas.

1. Revisando o tráfico de drogas no município do Rio de Janeiro: raízes históricas de um


objeto de estudo recente

 Violência estrutural – criadora de vulnerabilidades. População de comunidades


pobres excluídas do processo produtivo e de consumo. Ausência do estado nessas
áreas, sem acessos aos serviços básicos e medidas governamentais pouco eficazes
para a solução desses problemas.
 No caso dos jovens a violência estrutural criadora de vulnerabilidades soma-se as
vulnerabilidades já comuns a essa fase da vida.
 População pobre – marginalizada e estigmatizada por não participar do mercado
consumidor nem ter acesso à propriedade privada. Existe na sociedade uma noção
de que essas pessoas estão na iminência de cometerem um ato criminoso para se
incluir a todo custo nesses processos.
 Contra esse senso comum, a exclusão não significa o aumento das “soluções
marginais”, mas sim tornam essas populações alvos de setores oportunistas
(políticos, religiosos, tráfico) o que significa o agravo das dificuldades e não
soluções imediatas.
 Parcialidade da mídia ao divulgar os casos de violência – disseminadora do medo,
raiva contra esses “marginais”.
 Por estar à relação indivíduo-droga presente em todas as sociedades em diferentes
tempos históricos acredita-se nas associações imediatas, similarizar características.
Mas os estudos sobre o assunto mostram que se deve produzir conhecimento sobre
uma região/questão circunscrita, as características da relação indivíduo-droga são
muito diferentes e altamente mutáveis.
 Utilização do termo “narcotráfico” por alguns setores – ampla abrangência, os
efeitos/significados das diferentes drogas podem ser perdidos (drogas são todas
iguais?)
 Diferença entre usuário e consumidor (caráter comercial)
- Processo histórico:

 Abolição + migrações = formação de um exército de excedente de mão-de-obra,


levando a criação por parte dessas pessoas de maneiras alternativas de
sobrevivência (soluções marginais)
 Primeiro os cortiços (epidemias) e após as reformas urbanas, as favelas, locais de
moradias das populações mas empobrecidas são mal vistos pela sociedade –
estigmatização pelo local de moradia
 Associação da exclusão econômica a traços da personalidade (preguiçosos,
vagabundos, inaptos)

 1927 – Criado o primeiro código de menores do Brasil, Código Mello Matos:


- Cria mecanismos de proteção das crianças evitando o “desvio” do caminho do
trabalho e da ordem. O estado assume o papel de tutor dos menores (pobres
+ moralmente desvalidos).
- Criação do Sistema de Assistência do Menor (SAM), subordinado ao Ministério da
Justiça, institucionalização e internação nas Escolas Modelares.

 Ditadura militar – Doutrina da Segurança Nacional:


- A questão social (desigualdades) ganha um tratamento repressivo
- Órgão Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM) eram organizadas e
orientadas pela Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM). A repressão
passa a atuar junto com uma prática assistencialista, atender ao menor carente e
menor infrator de acordo com a lógica da punição da pobreza.
- Drogas e classe média – Crescimento do número de envolvidos com maior grau de
escolaridade (Contra cultura, movimentos políticos de oposição à ditadura, elite
politizada)
- Lei de entorpecente – Lei 5.726 de 1971. Traçada em acordo com as normas dos
organismos internacionais
- Código de menores de 1979 – cuidado com o jovem em situação irregular, ou seja
em conflito com a lei e abandonados passam a ser um instrumento de controle social
da infância e juventude

 Anos 80/90 (redemocratização)


- Preocupação com o atendimento dos jovens em suas próprias comunidades. Plano de
Integração Menor Comunidade (PLIMEC). Fracasso na atuação com os jovens por
intermédio de Núcleos Preventivos devido à padronização e verticalização do
PLIMEC, levando a um adensamento do viés coercitivo e repressivo (FUNABEM).
- Sociedade civil entra na discussão, tenta através da criação do Fórum Permanente de
Entidade não Governamental de Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes a
aprovação da Emenda Popular Criança Prioridade Nacional (1988)
- Criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990. Substituição da
doutrina da situação irregular pela doutrina da proteção integral
- Municipalização dos órgãos, conselhos de direitos e tutelas (sociedade civil),
FUNABEM/PNBEM substituídos pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente.
 Anos 2000
- Estado, sociedade e família tem responsabilidade em diferentes áreas da vida das
crianças e jovens
- Questão das drogas assume o caráter de inimiga interna, campanhas de “lei e
ordem”
- Discurso hegemônico de que a favela é o lócus da droga é lá que habita o seu
disseminador na sociedade, discurso que dá respaldo a arbitrariedade e justifica
invasões as favelas e atitudes violentas para com a população que lá vive
- Combate a drogas: concentração nos pontos de vendas (comunidades carentes),
dissimulando a entrada do “capital do tráfico” no mercado financeiro através de
atividades lícitas

2. Perfil dos “perfis” de jovens envolvidos com o trafico de drogas

O objetivo ao se traçar um perfil desses jovens e oferecer subsídios para que se


implementem políticas públicas que corresponda ao real interesse e demandas dessa
população. O problema da segurança pública deve ser analisado juntamente com os
problemas socioestruturais.
O constante retrato fornecido pela mídia acaba por introjetar em nossas mentes um
perfil (padronização) desse jovem, ocorrendo uma vinculação do esteriótipo entre o ato
infracional e o cidadão que está à margem dos padrões sociopolíticos e econômicos
hegemônicos (resquícios da escravidão acirrados pelo capitalismo periférico brasileiro).
Foram utilizadas entrevistas com 88 jovens atendidos pelo Sistema de Aplicado de
Proteção (SAP), para através de suas fala sobre categorias como condições de moradia,
educação e trabalho, convivência familiar e lazer e cultura, construir um retrato dessa
juventude.

 Dados Pessoais
- Reprodução da demarcação etária adotada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (12 aos 18 anos)
- 90% dos jovens são do gênero masculino
- Número de mulheres cresceu nos últimos 05 anos, porém ainda são menos freqüente
e geralmente suas participação é mediada pela influência masculina (namorados,
irmãos)
- Forte influência paternalista e machista, o que pode ser entendida com uma forma de
barrar a participação das mulheres no tráfico pela visão de serem mais fracas, mas
também há uma grande preocupação com suas mulheres (mães, irmãs)
-Relação étnica = grande maioria de não brancos, oriunda das populações mais
pauperizadas (não se deve reduzir esse dado à relação etnia = pobreza= criminalidade)

 Condições de Moradia
- Todos residem em áreas urbanas
- Contradição = a maioria diz residir em casa própria (sua ou de familiares) não
significa que possuem condições materiais favoráveis nesse campo e sim que a posse
física não corresponde à posse jurídica
- Habitações precárias em bairros periféricos
- Resignação com a situação de moradia, falta de perspectiva
- Falta de atuação do poder público sobressai no discurso quando falam do que não
gostam nas suas comunidades

 Educação e Trabalho
- Nenhum dos 88 jovens entrevistados se enquadra nos parâmetros estabelecidos
pelo Ministério da Educação. Enorme defasagem na relação idade-série, com
intervalos de estudo que variam de 03 a 12 anos
- Relação idade-série serve de indicador de repetência e evasão escolar (fracasso
escolar)
- 5º série é um dos principais pontos estranguladores da rede pública
- 25 dos jovens começaram a trabalhar entre os 7 e 12 anos (ilegalidade trabalho
infantil)
- Problemas em arrumar emprego agravado por terem passado pelo sistema
socioeducativo
- 04 jovens declararam que “trabalhavam” no tráfico
- Vulnerabilidade social e pessoal: pouco estudo, múltiplas reprovações, defasagem
educacional, cursos profissionalizantes que não surtiram efeito, histórico de trabalho
infantil, baixa remuneração, exclusão dos direitos trabalhistas, seqüência de
negativa afetando a auto-estima desses jovens e mostrando o descaso do poder
público

 Convivência familiar
- Extrapola a relação “mãe-pai-filho” para abranger todas as pessoas que convivam
no domicílio
- Residem com um número consideravelmente alto de pessoas (apenas 21
vivenciam o tripé “mãe-pai-irmãos”)
- Elevado número de separações evidenciadas pelas composições familiares
freqüentes: mãe/irmã, mãe/padrasto/irmão, mãe/avô/tio
- Maioria das pessoas do convívio tem grau de consangüinidade
- No primeiro momento da entrevista a maior parte das respostas foram positivas
quanto à relação que tem com as pessoas com quem moram. Quando se aprofundam
as perguntas revelam os conflitos existentes, críticas acirradas aos pais
- Não fazem muitas atividades de lazer junto as familiares. Mais citadas foram:
assistir tv, fazer compras e ir a igreja. Não fazem muitos programas devido aos
problemas financeiros e o distanciamento dos familiares
- Mãe e irmãos são os familiares com quem esses jovens mais gostam de conversar
(questões afetivo-sexuais, preocupação com o futuro e formas de lazer)
- Citam o resgate do relacionamento familiar como um dos fatores mais importante
para retirar o jovem do tráfico ou impedir seu ingresso

 Lazer e Cultura
- Formas de divertimento mais freqüente: ir ao baile, pagode, futebol, soltar pipa,
praia, namorar e ficar (atividades pouco dispendiosas)
- Revelam a vontade de ir a shopping, bares, fazer compras e acusam a falta de
recursos financeiros como obstáculo a esses divertimentos

3. A vida no tráfico
Cotidianos de uma sociedade que não se reconhece

A expansão globalizante do mercado ilícito das drogas e o incremento bélico do


tráfico levou a um rompimento da fronteira sociopolítica e econômica que existia na cidade.
Jovens diante do acúmulo de vulnerabilidades, aceitaram a inserção na estrutura do
tráfico como possibilidade de existência coletiva, pertencimento social e até sobrevivência
pessoal. Se para o mercado de trabalho formal são desqualificados e assim excluídos o
trafico faz poucas exigências e abre novas oportunidades para jovens e cada vez mais
crianças de ingressarem no “movimento”.
Questão importante é que muitos desses jovens vêem o tráfico como um trabalho,
“emprego”, pelo seu caráter comercial, vendem o seu produto, se não houvesse demanda
não haveria oferta, consideram numa escala valorativa uma atividade mais positiva que o
roubo, furto ou crimes de colarinho branco.
O fato de estarem envolvidos com o tráfico não exclui esses jovens da sociedade,
sua participação em atividades ilícitas não os afasta dos problemas enfrentados por todos, e
ainda se criam outros.

 Por que o jovem entra no tráfico?


-Condições socioeconômicas
-Status e poder de sedução
-Influências dos que já estão no tráfico
-Consumo de drogas

 O que os jovens fazem no tráfico?


-Existência de um plano de carreira e possibilidades de ascensão e remuneração
definidas pelo desempenho e produtividade
- Posições de segurança e serviços gerais
-Funções de processamento e venda
- Chefia

 O que o jovem faz com o dinheiro que ganha no tráfico?


-Revelam a necessidade de ganhar dinheiro – obter e consumir
-Não tem sentido a acumulação (consumo orgiástico)
- Principais gastos roupas e drogas

 Como a polícia/sistema socioeducativo insere-se na “vida do tráfico”?


-Relação com os policiais é um dos pontos mais preocupantes de todos: violência e
extorsão
-Violência sofrida nas instituições responsáveis pelo cumprimento de medidas
socioeducativas (cadeias para crianças). As regras do tráfico vigoram dentro das
instituições

4. “Coração de bandido é na sola do pé”


Implicações na saúde dos jovens envolvidos com o tráfico de drogas

Dentre os aspectos que caracterizam a vida dos jovens atendidos pelo SAP, os que
dizem respeito à saúde são provavelmente os que despertam menos debates e polemicas,
são negligenciadas pelos jovens e por segmentos da sociedade.

 Implicações ocasionadas pelo consumo de drogas


- Dependência física/psíquica e social. Para muitos deixar de ser usuário está ligado
a deixar de pertencer a estrutura do tráfico
-Esses jovens têm consciência dos danos causados pelo consumo das drogas
(existência de estigma entre eles, visão negativa dos que são viciados)

 Morbi-mortalidades
-Nos anos 90 mortes por causas externas assume o segundo lugar entre a
população de 10 a 19 anos (crescimento no número de homicídios)
-Tem um estilo de vida estressante
-Sofrem devido a um isolamento social (são temidos dentro de suas comunidades
e não podem se relacionar com determinadas pessoas devido à divisão em facções
criminosas)

 Morbidade na Família dos jovens


-Repercussões na família desses jovens: direta (represália que os familiares sofrem),
indireta (implicações derivadas dos problemas causados aos jovens)

 Morbi-mortalidade nas comunidades


-Associação entre o encastelamento do tráfico nos morros a noção de que é pelo
apoio que recebem das comunidades. Traficante não é visto como “bandido social”,
que promove benefícios para aquela comunidade. Os moradores são obrigados a
seguir a “lei do tráfico”, o erro da comunidade é imperdoável

 Morbi-mortalidade na sociedade
- Mudança na rotina dos cidadãos que ocasionam estresse e frustrações, medo,
estratégia para fugir da violência
- Por em casos o consumidor pertencer a mesma classe social (classe media) os
vendedores são culpabilizados

5. Nem soldados nem inocentes

Através do conhecimento sobre a vida dos jovens inseridos no Sistema


Aplicado de Proteção (SAP), em especial seu envolvimento direto/indireto com o
tráfico, pretende-se propor o debate democrático livre de preconceitos e estereótipos
que tradicionalmente permeiam essa questão
Três níveis de conceitualização da participação dos jovens em atividades
criminalizadas:
 Estrutural – condições sociais
 Sociopsicológico – controle social da família, escola e demais instituições
responsáveis pelo jovem
 Individual – aspecto biológico e psicológico

Necessário fugir dos determinismos sociais para explicas escolhas que dizer respeito
à subjetividade humana, mesmo tendo maior visibilidade os fatores socioestruturais
em eu os jovens estão inseridos.

POSSIVEIS TEMAS PARA DISCUSSÃO

 Violência estrutural – exclusão dos processos econômicos e ausência do estado em


fornecer infra-estrutura necessária para o desenvolvimento dos jovens pobres cria
um vácuo que os deixa suscetíveis à ação de agentes oportunistas (ex.tráfico)
 A exclusão dos processos produtivo-consumidores não significa que optarão por
“soluções marginais” para obter essa inserção (número de pessoas que se envolvem
com o crime em relação à população total das comunidades empobrecidas é
pequena)
 Saber que a decisão de entrar para o tráfico não é uma solução vista por eles como
fácil, nem significa a solução imediata de seus problemas. Permanecem as questões
pertinentes a essa fase da vida e somam-se as decorrentes da sua inserção na
criminalidade
 Influência da mídia: principal veículo disseminador do retrato do jovem criminoso
(não branco, morador de comunidade carente, que não estuda nem trabalha)
 Diferença no tratamento dado aos jovens envolvidos com drogas. Jovens pobres
(medidas repressivas/sanções judicial), jovens de classe média (tratamento médico e
psicológico)
 A sua inclusão na estrutura do tráfico acarreta problemas na saúde desses jovens,
decorrente do consumo das drogas e da extrema violência que caracteriza essa
atividade. Número muito elevado de homicídios
 Os problemas perpassam a vida dos diretamente envolvidos, acarretam dificuldades
para a sociedade de forma geral. Os moradores das comunidades carentes são
estigmatizados, são obrigados ao convívio com o crime organizado, os moradores
do “asfalto” tem de desenvolver estratégia de convívio com a violência, medo,
estresse, raiva, são ponto que influenciam na saúde dessas pessoas.

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