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Data de há mais de trezentos e cinquenta anos o Sermão de Santo António aos


Peixes, da autoria do padre António Vieira, missionário português no Brasil, mas
continua, a meu ver, bastante actual.
Vieira dizia que os homens não ouviam os pregadores, e viviam sem qualquer regra
moral. Vemos hoje que, com pregadores ou sem pregadores, salgando bem a terra ou
deixando-a insossa, os males continuam visíveis, tal como há mais de três séculos.
Alguns males são, até, os mesmos, outros mudaram… Mas a sua origem é comum: a
(in)capacidade humana de pensar mais nos outros, e menos no seu ego e na sua
pessoa.
No tempo do missionário, a arrogância, a soberba, a ambição de mandar numa
terra sem rei presente, a traição e a hipocrisia dos religiosos, eram alvos maiores do
discurso incisivo do sacerdote, e hoje em dia podemos confirmar que muitos dos
defeitos dos peixes, ou homens, continuam bem patentes.
Temos a arrogância e a soberba dos que enriqueceram e constituíram as suas SA’s
com os “amigos”, e controlam a alta finança como bem querem e lhes apetece,
pedindo ao povinho que compre acções sem saberem, a grande maioria, muito bem
para que serve aquilo, e que se comportam nas assembleias gerais de accionistas
como se fossem donos do mundo quando são, na maioria das vezes, donos de não
mais de uma mera percentagem de uma empresa que, caso a legislação seja levada à
risca, é levada à falência se, revoltando-se o povo contra ela, vir os seus produtos
boicotados. Ou os que, chegando a um posto mais alto na vida, como, por exemplo,
alguns políticos, esquecem as origens, e que, em tempos, também fizeram parte da
sociedade anónima.
A ambição de mandar sem rei presente, ou seja, os homens “comerem-se uns
aos outros e os maiores aos mais pequenos”, como dizia António Vieira, pode ser
aplicada no nosso quotidiano a tantas situações que é complicado escolher. As
cunhas que tão bem funcionam em Portugal e servem para passar à frente do
próximo, desde uma obtenção de um emprego num certo local de trabalho, até aos
subornos (ou pelo menos suspeitas, em muitos casos, disso) para se passar por cima
de leis ambientais de forma a instaurar imóveis, ou mesmo às compras de concursos
públicos… tudo é bastante similar à crítica de Vieira aos ambiciosos, que não olhavam
a meios para subir na vida no Brasil colonial.
A traição também é um mal que todos reconhecemos hoje em dia. Parece, por
vezes, estar na essência humana, por muito que me custe dizer isto. Consciente ou
inconscientemente. Quantas vezes não vemos, hoje em dia, governantes que
atraiçoam outros nas costas, num gesto que acaba por ter consequências nefastas
para o país? A deposição de Santana Lopes por Jorge Sampaio é exemplo disso.
Quantas vezes não vemos, e dou um exemplo de um mundo que conheço bem,
treinadores de futebol traídos pelos seus presidentes? Octávio, no Porto, tinha
supostamente toda a segurança quando na verdade já José Mourinho estava
contratado há quatro meses, secretamente… E o presidente Pinto da Costa sempre o
negou a pés juntos! Além de outro tipo de traições, que por vezes vão acontecendo, a
um nível mais pessoal…
Quanto à hipocrisia dos religiosos, é mais um assunto bem observável. Todos
nós conhecemos como funciona a esmagadora maioria dos eclesiásticos, que querem
ajudar os pobrezinhos e acabam por viver vidas desafogadas com o dinheiro dos
paroquianos, em muitos casos. Além da quantidade de ensinamentos ministrados que
nem eles cumprem, muitas vezes em sigilo. São bem conhecidos os casos de pedofilia
envolvendo padres católicos nos Estados Unidos, ou sacerdotes que acabam por se
casar ou ter amantes, já para não falar nos “pecados” da ostentação e exibição do
Vaticano e de quem lá habita, como de muitos locais de culto.
Estes são os “pecados” dos “peixes” que a meu ver continuam actuais, mas
nem só aqui o sermão continua a ser contemporâneo. Vejamos que Vieira disse que
não era só a terra que não se deixava salgar, mas também havia sal que não salgava
bem. Dei exemplos do primeiro caso, vou agora dar alguns exemplos actuais de
mensagens que chegam ao ouvinte distorcidas, ou seja, de “sal que não tempera”.
Começo por um exemplo dentro da Igreja. Uma mensagem errada, na
actualidade, é a veiculada pelos altos membros da Igreja Católica contra o uso do
preservativo. Parece-me, de todo, uma mensagem desadequada à realidade, e
António Vieira provavelmente diria que é “sal que não salga”.
Hoje em dia, contudo, os pregadores já não são muito ouvidos na sociedade,
pregando. Hoje quem “prega”, na mais parecida acepção da palavra, são os políticos.
E aí se encontram novamente exemplos de “pregadores que não pregam a verdadeira
doutrina”, agindo os cidadãos como os homens de poder. Acabam todos agindo
incorrectamente. Mas a culpa é, em considerável medida, de quem não cumpre a
missão de “pregar”…
O sermão continua assim, a meu ver, tão actual hoje como quando foi pela
primeira vez dito. Parafraseando, em jeito de conclusão, o sacerdote… “Ainda mal!”.

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