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A version of this article appeared in print on August 29, 2010, on page MM42 of the Sunday Magazine, The New York Times

O idioma molda o que você pensa?


O autor Guy Deutscher é pesquisador honorário da Escola de Línguas, Linguística e Culturas da Universidade de Manchester. Seu novo
livro, “Através da Lente da Língua: Por Que o Mundo Parece Diferente em Outras Línguas” vai ser publicado este mês pela Metropolitan
Books nos EUA. O artigo do NYTimes é uma adaptação do livro. Eu traduzi e editei neste doc pra consumo pessoal.

Pesquisas revelam que quando aprendemos a falar adquirimos hábitos de


organização do pensamento próprios do idioma materno que influenciam nossa
forma de experimentar o mundo

Em 1940, o antropólogo amador Benjamin Lee Whorf defendeu num artigo


chamado “Ciência e Linguística”, publicado numa revista científica norte-
americana, que o idioma materno de um povo pode limitar sua capacidade de
pensamento.

Whorf anunciou que os idiomas nativos impunham aos indígenas da América


uma percepção de realidade diferente. Eles não seriam capazes de assimilar
conceitos básicos do “homem branco” como o fluxo do tempo. Ou de fazer
distinções entre objetos (como “pedra”) e ações (como “cair”).

O argumento era de que se uma língua não tem uma palavra para um conceito
seus falantes não são capazes de compreender esse conceito.

A teoria de Whorf sucumbiu à falta de comprovação científica.

...

20 anos depois, o assunto ganhou luz nova quando o lingüista Roman Jakobson
sustentou que os idiomas diferem entre si mais pelo que obrigam do que pelo
que permitem dizer.

Em inglês, digo que ontem jantei na casa de “a neighbor”. Você pode se


perguntar se minha companhia era do sexo masculino ou feminino, mas a
língua inglesa me deu o privilégio de não ser obrigado a dar essa informação.

Se nós estivéssemos falando francês (le voisin ou la voisine) ou português


(vizinho ou vizinha), eu não teria esse privilégio, porque a gramática dessas
línguas me obriga a escolher entre masculino e feminino.

Isso não significa que os falantes de inglês não façam diferença entre jantar com
um homem ou uma mulher.

Apenas que não precisam pontuar o sexo de vizinhos, amigos, professores e


médicos toda vez que falam deles numa conversa. Já os falantes de outras
línguas são obrigados a descrever o sexo de toda pessoa de quem falam.
...

Por outro lado, o inglês, assim como o português, obriga a especificar certos
tipos de informação que podem ficar fora do contexto no chinês, por exemplo.

Se eu descrever um jantar com alguém da minha vizinhança, em inglês posso


não precisar mencionar seu sexo, mas sou obrigado a situar o evento numa linha
de tempo: vou deixar claro se já jantamos, se estamos jantando, se ainda vamos
jantar e assim por diante.

Já o chinês não obriga o falante a situar a ação no tempo, já que a mesma forma
verbal poder servir para exprimir passado, presente ou futuro.

Isso também não significa que os chineses não são capazes de entender o
conceito de tempo. Apenas significa que não são obrigados a pensar nisso toda
vez que descrevem uma ação.

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Quando sua língua te obriga rotineiramente a especificar certos tipos de


informação, ela força você a se acostumar a focar atenção em certos detalhes nos
quais os falantes de outras línguas não precisam pensar o tempo todo.

E como esses hábitos de discurso são cultivados desde a idade mais tenra, é
natural que se consolidem como hábitos mentais que vão além da língua em si,
afetando nossas experiências, percepções, associações, sentimentos, memórias e
orientações no mundo.

...

Línguas como o espanhol, o português, o francês, o alemão e o russo não apenas


obrigam a pensar no sexo dos vizinhos e amigos, mas também obrigam a
especificar um gênero para objetos inanimados!

O que é que existe de feminino na barba de um homem francês ou brasileiro,


por exemplo, para ser tratada com nome feminino?

Por que a água é um líquido de nome feminino no português? E por que esse
líquido muda de gênero se você mergulha nele um saquinho de chá?

Na verdade, entre as línguas ocidentais, o inglês é exceção quando não trata


pires e xícaras como masculino e feminino. A maioria das línguas força seus
falantes a falar de objetos inanimados como se fosse homem ou mulher.

Numa experiência feita nos anos 90, espanhóis e alemães tinham de dar voz a
objetos num desenho animado. Quando um francês viu o desenho de um garfo
(objeto de gênero feminino em francês, la fourchette), ele lhe fazia voz de
mulher, mas os espanhóis, para quem garfo é objeto de gênero masculino (el
tenedor), fizeram voz de homem.

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Experiências recentes têm mostrado que gêneros gramaticais podem moldar os


sentimentos e associações que os objetos evocam.

Há muitos objetos cujos nomes têm gêneros opostos no espanhol e no alemão.

Em alemão, ponte é feminino (die Brücke), mas em espanhol ponte é masculino


(el puente). O mesmo vale para relógio de parede, apartamento, garfo, jornal,
bolso, ombro, selo, violino, mundo, amor e sol.

Por outro lado, maçã é masculino em alemão, mas feminino em espanhol, como
cadeira, vassoura, borboleta, chave, montanha, estrela, mesa, guerra, chuva e
lixo.

Será que um idioma que vê gênero em objetos inanimados não veria o mundo
através de lentes tingidas de associações e respostas emocionais específicas?

Os gêneros opostos de ponte em espanhol e alemão teriam um efeito diferente


no design das pontes na Espanha e na Alemanha?

O mapa emocional imposto por um sistema de gêneros não moldaria gostos,


modismos, hábitos e preferências de uma sociedade?

Isso é coisa que ainda está por se comprovar.

...

A área onde existem mais fortes evidências da influência do idioma no


pensamento é na linguagem de espaço – como se dá uma orientação espacial,
como se descreve a localização das coisas ao redor.

Você pode dizer “Passando o sinal, pegue a primeira esquerda e depois a


segunda direita”. Mas também poderia dizer “Passando o sinal, pegue a
primeira saída para o norte e siga pro leste depois da segunda esquina”.

É a mesma rota, mas baseada em sistemas diferentes de coordenadas. O


primeiro é de coordenadas egocêntricas, que dependem dos nossos próprios
corpos como principal referência. O segundo usa direções geográficas que não
variam conforme o giro do meu corpo.

Usamos as coordenadas geográficas para nos situarmos em amplos espaços


como florestas e desertos, no mar ou no ar, mas as coordenadas egocêntricas
dominam o nosso discurso do dia-a-dia. Não dizemos “Quando sair do elevador
ande pro sul e entre na segunda porta a leste”.
O discurso egocêntrico é mais fácil para nós porque não precisamos de um
mapa e uma bússola para saber o que significa seguir “em frente” ou “à direita”.
As coordenadas egocêntricas são baseadas nos nossos próprios corpos e no
nosso campo visual imediato.

...

Um remoto povo aborígene australiano falante da língua Guugu Yimithirr não


usa coordenadas egocêntricas. Não usa palavras como “esquerda” e “direita”,
“em frente a” nem “atrás de” para descrever a posição dos objetos. Nas situações
onde nós usamos o sistema egocêntrico, eles usam os pontos cardeais.

Se quiserem que você sente um pouco mais para lá para dar lugar no sofá, vão te
pedir para “sentar um pouquinho mais para o leste”. Para dizer onde deixaram
um objeto dentro de casa, vão dizer “Na ponta sudoeste da mesa ao sul da sala”.
Ou vão te avisar para tomar cuidado com aquela formiga enorme que está “a
norte do seu pé”.

Línguas com a mesma característica existem em todo o mundo, da Polinésia ao


México, da Namíbia a Bali.

Idiomas diferentes nos fazem falar do espaço de maneiras diferentes e


deveríamos procurar descobrir que hábitos mentais podem se desenvolver por
causa disso.

...

Para falar um idioma como o Guugu Yimithirr é preciso saber onde estão os
pontos cardeais sempre. É preciso ter uma bússola mental trabalhando o tempo
todo.

Por isso, nativos de línguas com orientação espacial geográfica têm um senso de
orientação extraordinário.

Não importando as condições de visibilidade, se numa floresta densa ou numa


planície aberta, na rua ou dentro de cavernas, parados ou em movimento, não
perdem nunca o senso de direção.

E não precisam verificar a posição do sol e ainda calcular por um instante antes
de saber que a formiga está ao norte do seu pé. Eles simplesmente sabem onde
está o norte, assim como as pessoas com ouvido absoluto sabem identificar uma
nota com precisão.

...

O modo de contar histórias muda.


Se você falar um idioma do tipo Guugu Yimithirr, as memórias de qualquer
coisa que um dia queira relatar terão de ser armazenadas tendo os pontos
cardeais como parte do registro.

Um senhor Guugu Yimithirr foi filmado contando uma história de sua


juventude. Ele estava com seu pai num barco que virou por causa de uma
tempestade e ambos pularam na água tendo de nadar até chegar à praia.

O senhor narrou que se jogou ao mar no lado oeste do barco, enquanto seu pai
se jogou no lado leste, que viram um tubarão seguindo para o norte e que ambos
nadaram para o sudeste e assim por diante.

Ainda mais notáveis eram os gestos que acompanhavam os pontos cardeais que
mencionava: quando contou que pulou para o lado oeste do barco, gesticulou
apontando para o oeste e não para a sua esquerda ou direita.

Se você vir um falante de Guugu Yimithirr apontando o dedo em sua própria


direção, naturalmente presume que ele quer atrair atenção para si mesmo. Mas,
na verdade, ele está apontando para a direção cardeal atrás dele.

Nós sempre nos vemos como o centro do mundo e nunca nos ocorreria que
apontar na direção do próprio peito pudesse significar outra coisa além de nós
mesmos.

O falante de Guugu Yimithirr aponta para si mesmo como se seu corpo fosse
invisível e sua própria existência irrelevante.

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Recentemente, também foi demonstrado que a maneira como percebemos as


cores também é influenciada pela língua materna. Azul e verde são cores
diferentes na maioria das línguas, mas não em algumas.

As cores que nosso idioma nos obriga a tratar distintivamente desde a mais
tenra idade, quando começamos a organizar nossa memória e nosso discurso,
podem refinar nossa sensibilidade para certas nuanças da realidade. E nosso
cérebro exagera a diferença entre elas quando tentamos descrevê-las numa
pintura, por exemplo.

Pode parecer estranho, mas a percepção de um artista como Chagall pode ter se
desenvolvido melhor porque ele vivia numa cultura cujo idioma natural tinha
palavra para a cor azul.

Assim como um falante de idioma sem palavra para azul pode não perceber
tanto engenho nos quadros do artista.

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Algumas línguas como a dos Matses peruanos obrigam os falantes a especificar
como ficaram sabendo dos fatos que estão reportando.

Você não pode simplesmente dizer, como no português, “Um animal passou
aqui”. Você tem de especificar, usando uma forma verbal diferente, se o fato foi
diretamente vivenciado (o animal te atacou), ou se foi testemunhado (você viu o
animal passando), se foi apenas conjecturado (há pistas dessa passagem) ou se
você ouviu de alguém etc.

Nesse caso, o idioma obriga a certa precisão narrativa da qual outros povos
podem abrir mão.

...

Durante anos a língua nativa foi tida como uma “camisa de força” que restringia
nossa capacidade de racionalizar. Quando ficou claro que não havia prova disso,
tomou-se o fato como evidência de que todas as pessoas em todas as culturas
pensam fundamentalmente da mesma forma. Agora, sabemos que não é assim
também.

Os hábitos que nossa cultura nos incute desde a infância moldam nossa
experimentação do mundo e respostas emocionais aos objetos que
encontramos. As consequências vão provavelmente bem além do que tem sido
demonstrado até hoje e também podem ter impacto em nossas crenças, valores
e ideologias.

Pode ser que ainda não saibamos medir tais consequências nem avaliar sua
contribuição para superar os desentendimentos culturais e políticos.

Mas como primeiro passo na direção de compreendermos melhor uns aos


outros podemos fazer mais do que simplesmente presumir que todo mundo
pensa igual.

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