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INTRODUÇÃO
O Relatório de Verificação n° 02/2007, realizado pela SEDUMA durante o período de julho de 2007 a
fevereiro de 2008, teve como objetivo analisar a situação da Vila Planalto para avaliar os parâmetros
urbanísticos praticados, a legislação vigente e a preservação do patrimônio tombado. Este estudo
procurou estabelecer um diagnóstico amplo da localidade para subsidiar novas abordagens e propor
ações efetivas de controle urbano, necessárias à compatibilização entre o planejamento e a ocupação
existente.
O Relatório inicia com a caracterização do objeto, que contém tópicos com informações sobre a história
da Vila Planalto, a preservação do patrimônio histórico e a situação fundiária, colhidas nos órgãos
envolvidos no processo de planejamento, normatização e controle do uso e ocupação do solo. Em
seguida, apresenta o diagnóstico, que aborda os critérios da verificação e a análise, cujos dados foram
obtidos tanto por meio de vistorias, feitas no local por servidores da SEDUMA, quanto por estudo de
diversos documentos técnicos e acadêmicos sobre a Vila, reunidos para este fim.
OBJETO
O objeto desta Verificação é a área urbana da Vila Planalto, definida pelo Projeto de Urbanismo MDE
URB 90/90 e aprovada pelo Decreto n.º 16.226/94 de 28/12/1994. A Vila Planalto é uma área
predominantemente residencial, de relevante interesse histórico, situada entre a Praça dos Três
Poderes e o Palácio da Alvorada.
A Vila Planalto apresenta, assim, uma situação complexa, envolvendo aspectos relacionados à situação
fundiária e, principalmente, quanto à preservação do patrimônio histórico. O conhecimento desses
aspectos é necessário para a avaliação adequada da localidade em geral, notadamente para a
confrontação entre a condição original, objeto do tombamento e da legislação vigente, com o quadro
atual do assentamento.
Histórico
A Vila Planalto tem sua origem em meados dos anos 50 com o início da construção da capital, tendo
surgido a partir da instalação de empreiteiras em acampamentos nas imediações das obras que se
realizavam para o Palácio da Alvorada, do Eixo Monumental e da Praça dos Três Poderes.
As construtoras Rabelo e Pacheco Fernandes foram as primeiras a se instalarem, ainda em 1956, para
edificar, respectivamente, o Palácio da Alvorada e o Brasília Palace Hotel. Com o final dessas obras,
entre 1957 e 1958, seus acampamentos foram transferidos para o local conhecido hoje como Vila
Planalto, voltando-se para a construção do Eixo Monumental e da Praça dos Três Poderes, quando
também outras vinte construtoras se instalaram em áreas próximas às obras. Nessa época, o conjunto
Vila Planalto se estendia pelo local agora ocupado pelos Anexos dos Ministérios, Senado Federal,
Palácio do Planalto, Setores de Embaixadas e Clubes Norte, até perto do Palácio da Alvorada.
Além dos acampamentos da Rabelo e da Pacheco Fernandes, contribuíram para a formação da Vila
Planalto os acampamentos dos Mineiros, do Tamboril e das seguintes companhias: Adil, Atlas,
Consispa, CVB, DFL, DTUI, EBE, Ecisa, Emulpress, ESOL, Nacional, Pederneiras, Planalto, Telebrás,
WSK, entre outras.
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Após o término das obras de construção da cidade, as empresas desativaram seus escritórios, sendo
demolida a maioria dos acampamentos e parte da população foi transferida para as cidades satélites
que já haviam sido criadas.
A Vila Planalto é atualmente composta por quatro acampamentos remanescentes: Rabelo, Pacheco
Fernandes, DFL e Tamboril. Considerada como núcleo urbano mais íntegro e característico da época
da construção de Brasília e de reconhecido valor histórico no processo de ocupação do território do
Distrito Federal, a Vila Planalto foi tombada em 1988.
1) Rabelo
Acampamento que representa muito bem a estratificação social existente à época da construção,
separando os diversos escalões de funcionários espacialmente. Também é o acampamento que
mais teve instalações de equipamentos e serviços públicos, chegando a contar com cinema,
farmácia, posto médico e odontológico, igreja, campo de futebol e clubes (separados entre clube
dos operários e dos engenheiros).
2) Pacheco Fernandes
Assentamento resultante do acampamento da Construtora Pacheco Fernandes iniciado durante a
construção do Brasília Palace Hotel. As casas dos antigos diretores foram transformadas em
residências funcionais dos dirigentes da TERRACAP e de altos funcionários do GDF após a
inauguração de Brasília. Este acampamento também era estratificado espacialmente, separando o
alto escalão da construtora dos operários em geral.
3) Tamboril
Acampamento construído para os funcionários da firma americana responsável pelas esquadrias
metálicas dos edifícios da Esplanada dos Ministérios. A construtora responsável por este
acampamento foi a primeira a deixar a cidade, desocupando casas de excelente qualidade em uma
época em que residências amplas eram escassas em Brasília. Esse acampamento possui alguns
dos maiores terrenos da Vila e várias das casas neste local foram transformadas em residências
funcionais logo após a inauguração de Brasília.
4) DFL
Possui a maior densidade demográfica da Vila, pois absorveu parte de outros acampamentos que
foram erradicados, como o da Nacional e da Emulpress, segundo levantamento do Grupo de
Trabalho dedicado à preservação do patrimônio histórico e cultural de Brasília – GT Brasília (1987).
Por isso, tornou-se a área que mais sofreu modificações espaciais em razão dos enxertos sofridos e
da acomodação precipitada de pessoas residentes em acampamentos extintos.
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Mapa 3 – Acampamentos remanescentes na Vila Planalto
O Decreto n° 11.079, de tombamento da Vila Planalto, foi assinado no dia 21 de abril de 1988 e
publicado no DODF em 25 de abril de 1988. Reconhecida como Patrimônio Histórico do Distrito Federal,
sendo inscrita no Livro do Tombo sob a categoria de Conjuntos Urbanos e Sítios Históricos, a Vila
Planalto também está inserida na poligonal de tombamento do Plano Piloto, que se tornou Patrimônio
Cultural da Humanidade.
Em dezembro de 1985, foi criado um grupo de trabalho com o intuito de promover a preservação do
patrimônio histórico, cultural e natural da cidade, conhecido como GT Brasília. Este grupo, constituído
por meio de um protocolo de cooperação mútua entre o Governo do Distrito Federal, o Ministério da
Cultura e a Universidade de Brasília, preparou um trabalho que visava “estudar, propor e adotar
medidas para preservação da Vila Planalto”. Este trabalho trouxe diretrizes para a preservação da Vila,
que foram contempladas pelo decreto de tombamento. As diretrizes são as que seguem, de forma
resumida:
b) Quanto à silhueta:
- Manutenção das alturas dos planos verticais, com o atual número de pavimentos e características
da textura de suas unidades componentes;
- Reforço dos grupos tipológicos genuínos do período inicial da Vila Planalto;
- Preservação da situação de realce apenas naquelas edificações de grande valor simbólico para a
Vila.
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c) Quanto à tipologia:
Foi identificada uma predominância de edificações habitacionais na Vila, porém, sem exclusividade de
usos ou rígida setorização de atividades. A Vila Planalto apresentava algumas tipologias habitacionais
bem definidas, agrupadas na Tabela 1:
Rabelo, DFL,
Em torno de Próximas à rua, grupo
2ª Um Compacta Pacheco
120m² mais comum na Vila
Fernandes
Parcelamento por
3ª Um - Longilínea Esparsa projeção, alojamentos de
solteiros.
Aplicada em áreas de
Áreas de
adensamento posterior,
4ª Um - Compacta adensamento
aberturas reduzidas, uso
recente
misto.
Áreas de Mais recente, cobertura
5ª Um - Geminadas adensamento inclinada, sem referências
recente à arquitetura moderna.
Situação Fundiária
A Vila Planalto está situada na Região Administrativa de Brasília – RA I, entre os Palácios da Alvorada e
Jaburú, circunscrita por anel viário compreendido pela Estrada Presidencial – EPP, Via L4 Norte,
Estrada Hotéis e Turismo – EHT, Setor de Garagens dos Ministérios e Setor de Clubes Esportivos.
Para a fixação da Vila Planalto foi destinada uma área com 197,463 ha, denominada Poligonal de
Tutela, dentro da antiga fazenda Bananal, desmembrada do Município de Planaltina. O conjunto
urbanístico, que compreende a Vila Planalto, possui uma área de 73,665 ha e é delimitada pela
Poligonal de Tombamento, que circunscreve o perímetro da Vila.
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Inicialmente, a área da Vila Planalto pertencia à Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil –
NOVACAP, sendo posteriormente incorporada ao patrimônio da Companhia Imobiliária de Brasília –
TERRACAP. Com o título do tombamento, a localidade passou para a proteção do Governo do Distrito
Federal.
A área da Vila Planalto é pública e pertence ao Governo do Distrito Federal, uma vez que não houve
transferência de propriedade, conforme será abordado no item seguinte.
DIAGNÓSTICO
Critérios de Verificação
A análise da atual situação urbana da Vila Planalto foi baseada tanto no estudo dos documentos
reunidos e da legislação vigente quanto nas vistorias realizadas por técnicos da SEDUMA entre julho e
outubro de 2007, sendo considerados os temas e critérios de verificação constantes da Tabela 2.
A escolha dos temas objetivou uma melhor caracterização da Vila Planalto, adotando-se uma etapa
completa de verificação, com identificação e análise preliminar dos problemas e proposição de ações
específicas, que se justifica em função da gravidade e da complexidade do quadro encontrado na Vila
Planalto e, principalmente, devido à urgência requerida para as intervenções necessárias.
Esta verificação se presta, ainda, para estabelecer um processo evolutivo de avaliação, de forma a
observar e separar os aspectos relevantes, otimizando os recursos humanos e materiais e reduzindo os
prazos de execução de cada ciclo. Com essa abordagem, evitam-se trabalhos e análises
desnecessárias e permite a adoção de medidas preventivas para a contenção de desconformidades em
curso.
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Comparação de imagens da década
de 80 com imagens aéreas atuais e de
satélite.
Ocupação das Áreas Verificação in loco feita pela equipe da
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Públicas SEDUMA entre julho e agosto de
2007.
Análise do Projeto URB 90/90,
aprovado para o local.
Vistorias feitas no local pela equipe da
06 Atividades Irregulares SEDUMA.
Análise do Memorial Descritivo MDE
90/90.
07 Tipologia Arquitetônica Observação in loco das edificações
tombadas e consideradas de interesse
histórico.
Patrimônio Análise do Projeto Urbanístico URB
08 90/90.
Histórico
Análise dos documentos elaborados
pelo GT Brasília.
Morfologia Urbana
Levantamento in loco executado pela
SEDUMA.
Comparação de imagens dos anos 80
e atuais.
Análise
Neste item, a legislação urbanística referente à Vila Planalto é analisada, visando à identificação de
dispositivos para aprovação de projetos e o acompanhamento da implantação de edificações. A análise
também considera os aspectos vigentes e aplicáveis, que devem ser observados na gestão do controle
urbano.
Embora date do ano de 1990, a legislação urbanística vigente na Vila Planalto foi aprovada apenas em
28 de dezembro de 1994 pelo Decreto n.º 16.226 e, em 11 de março de 1998, pelo Decreto n.º 19.082.
É composta pelas Normas de Edificação, Uso e Gabarito – NGB 90/90, 163/90, 164/90, 165/90 e 58/91,
pelo Memorial Descritivo – MDE 90/90 e pelo Projeto Urbanístico de Parcelamento – URB 90/90.
A análise destas normas demonstra que alguns dispositivos relativos aos parâmetros de gabarito
previstos tomam como referência a situação existente à época da elaboração das mesmas. A situação
original tombada deveria ter sido registrada em documento técnico apropriado, a ser utilizado como
marco de referência. Como o documento não foi elaborado, tal situação não ficou definida. Assim,
perdeu-se a base de referência para que esses dispositivos, notadamente aqueles relativos à tipologia
das construções, materiais utilizados e afastamentos, pudessem ser utilizados. Apresenta-se a seguir
exemplos de dispositivos relativos à situação original:
- NGB 90/90 (itens 4.a, 4.a.1, 4.b, item 18.b) e a NGB 164/90 (item 4.a; 4.b): definem que sejam
mantidos os “afastamentos originais e quando não houver edificação, será obedecido os afastamentos
das unidades vizinhas”. Nestas normas não são citados quais os valores dos referidos afastamentos,
nem é feita menção ao documento e/ou legislação no qual o valor é discriminado. Também não se pode
tomar como referência a unidade vizinha sem ter a certeza de que seu afastamento original foi mantido.
- Outra inconsistência encontrada diz respeito à NGB 90/90 (item 18.b) a qual diz que “as edificações
remanescentes deverão obedecer a: forma de telhado da construção original ou das construções
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existentes na rua”. Novamente não se tem nenhuma citação quanto ao modo correto a ser adotado ou
como tal informação pode ser encontrada.
- A NGB 164/90 (item 8.a), cita que “fica mantida a cota de coroamento da construção original”.
Novamente não é citado nenhum valor numérico com referência ao coroamento original.
- NGB 164/90 (item 18.b.2): “obedecer a largura e altura da fachada da construção original ou das
construções existentes da rua”. Novamente, não encontramos nenhuma referência quanto aos valores a
serem adotados.
- A NGB 90/90 (item 18.b) esclarece que “as intervenções físicas nas edificações deverão resgatar
elementos e materiais de portas, janelas, beirais, elementos vazados e quaisquer outros
elementos/componentes originais das fachadas laterais e frontal”. Sem o registro das características
originais não se tem referência para realizar o resgate previsto.
- No item 18.h encontramos que “qualquer projeto de intervenção física no conjunto Vila Planalto deverá
conter em planta, a especificação e locação exata de todas as árvores de porte cuja altura seja
maior que 2m existente dentro dos limites das unidades imobiliárias, bem como, quando for o caso, a
locação da construção existente”. Não há mapeamento algum das árvores que existiam na Vila Planalto
à época do tombamento e que possa ser consultado, no sentido de definir a cobertura vegetal que deve
ser mantida nos lotes.
Um deles, o item 7a da NGB 165/90, diz respeito à altura das edificações, prevendo que “Em toda área
do conjunto da Vila Planalto o gabarito é de um pavimento – Térreo”. Não cabe dúvida com relação ao
dispositivo. Toda e qualquer execução de obra de acréscimo de pavimentos poderia ter sido evitada
com base no mesmo. Se tal ocorresse, estaríamos tratando de uma situação muito menos complexa e
danosa ao patrimônio histórico, com melhores possibilidades de preservação e manutenção.
Além das normas técnicas estritas de urbanismo abordadas anteriormente, apresenta-se a seguir as
normas correlatas aplicadas a Vila Planalto:
Tema 2 – Obras
O levantamento, realizado em julho de 2007 pela SEDUMA, apontou um número total de 42 unidades
imobiliárias em obras.
Deduzindo-se estas obras do levantamento atual, constata-se que existem hoje 33 obras novas,
iniciadas após dezembro de 2006, época da verificação anterior.
O Mapa 4 mostra as obras em execução nos dois momentos e registra, ainda, aquelas que foram
identificadas no período anterior e permaneciam em andamento até o mês de julho, quando ocorreram
as vistorias feitas pela SEDUMA.
À revelia destas restrições legais e normativas, estabeleceu-se um quadro grave que acaba por permitir
a consolidação da Vila Planalto sem a preservação do patrimônio histórico. Uma vez que toda e
qualquer obra executada no local é irregular, já que o licenciamento não é dado, nenhuma obra deveria
ter sido permitida pela Fiscalização.
Os números apresentados mostram uma realidade oposta. As 78 obras verificadas demonstram que a
atuação da fiscalização não está sendo efetiva. Essa constatação é reforçada pelas informações
apresentadas no Oficio no 084/2007 – RAF 1, de 13/09/2007. Anexos ao documento estão memorandos
nos quais a Sub-Administração da Vila Planalto solicita ao Administrador Regional de Brasília a
presença de fiscais para coibir construções irregulares nos anos de 2001 e 2002. O documento informa
também que, no ano de 2003, medidas foram tomadas para coibir as irregularidades, no entanto, estas
“continuavam a acontecer”. Nenhuma outra providência ou ação foi relatada, no documento, para os
anos seguintes de 2004, 2005, 2006 e 2007. São ainda apresentados relatórios, datados de 2005 e
2006, nos quais os responsáveis pela fiscalização da Vila Planalto informam, aos superiores
hierárquicos, a gravidade da situação, “as dificuldades encontradas pelos Fiscais/Inspetores para coibir
o crescimento das irregularidades nos imóveis” e solicitam instruções e providências urgentes para
interrompê-las.
De início, vale ressaltar que, segundo as Normas de Uso e Gabarito vigentes para a Vila Planalto, o
número de pavimentos por edificação é limitado a 01 (um).
A identificação da existência de segundo e terceiro pavimentos se deu de forma direta pela simples
constatação no local, considerando como pavimento acrescido qualquer construção de caráter definitivo
com altura equivalente a um pé direito tradicional, ou seja, algo em torno de 2,5 metros ou mais.
No levantamento de 2006, feito pela Fiscalização, existiam 176 unidades imobiliárias com dois ou mais
pavimentos na Vila Planalto. Já no levantamento realizado pela SEDUMA, foram identificadas 188
construções com dois pavimentos e 22 com três pavimentos, totalizando 210 construções com mais
pavimentos do que o permitido por lei. Dessas 22, duas foram erguidas em áreas irregulares e,
portanto, não constam no Mapa 5 ou no levantamento da DIFIS RA I. Assim, constatou-se que a Vila
Planalto tem atualmente 20 edificações com três pavimentos, totalizando 208 edificações com mais
pavimentos que o permitido pela legislação vigente.
Cruzando-se as informações dos dois levantamentos, tem-se que, dessas 20, 13 já existiam à época do
levantamento anterior e 7 foram iniciadas no período entre os dois levantamentos, que foi de 9 meses.
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Mapa 5 – Edificações com pavimentos irregulares na Vila Planalto
As restrições de atuação da fiscalização na Vila Planalto são amplas e recorrentes. Uma delas surge da
deficiência da estrutura administrativa que, durante anos, não dispôs de quadro próprio de fiscalização
para atuar no local. O órgão gestor, primeiramente o Grupo Executivo para Assentamento e
Preservação da Vila Planalto - GEAP, criado pelo Decreto nº 1.080, de 21 de abril de 1988 e,
posteriormente, a Sub-Administração da Vila Planalto, solicitavam à Administração Regional de Brasília,
que contava com fiscais, a execução das ações de fiscalização, que ocorriam apenas quando
demandadas e em função das restrições e conveniências dessa unidade administrativa. Esta situação
prevaleceu até a criação da Secretaria Extraordinária de Fiscalização de Atividades Urbanas – antiga
SEFAU, hoje AGEFIS – Agência de Fiscalização do Distrito Federal, que passou a ser o órgão
responsável pelo controle urbano, assumindo o acompanhamento e a repressão às obras irregulares.
O Ofício nº 084/2007 – SUFIS RAF 1, de 13 de setembro de 2007, encaminhou informações acerca das
ações de controle das construções irregulares, realizadas pelo órgão na Vila Planalto. Apresenta ainda
alegação de restrições de atuação e deficiência de estrutura administrativa para controlar as
irregularidades no local, transfere parte das responsabilidades para o Grupo Executivo para
Assentamento e Preservação da Vila Planalto e para a TERRACAP, e sugere o envolvimento de
diversos órgãos do GDF no controle urbano e a realização de campanha publicitária.
Uma das irregularidades apontadas pelo Relatório da Fiscalização diz respeito ao fracionamento de
lotes. Nele são relatados os seguintes tipos de fracionamento:
- lotes divididos em mais de 1 (uma) unidade, com cerca ou muro interno e cuja numeração foi alterada
(ex: casa 4a; casa 2b);
- lotes residenciais transformados em comerciais e divididos em lojas;
- edifícios residenciais com diversas unidades, em 1 (um) ou 2 (dois) pavimentos;
- condomínios urbanísticos irregulares (sem divisão por muro interno).
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Mesmo quando não foi possível a constatação direta do fracionamento, foram encontrados indícios
inequívocos de sua ocorrência, em função do número significativo de unidades imobiliárias
apresentando mais de 1 (um) relógio de energia elétrica e outros com mais de 1 (um) hidrômetro,
caracterizando com isso mais de uma unidade consumidora por lote.
Esta constatação é reforçada quando se confronta o número de lotes aprovados pela URB 90/90, 1.020,
com os dados apresentados na Carta no 075/2007 – NOCCC, de 23 de julho de 2007, pela Companhia
Energética de Brasília – CEB, que indicam a existência de 1.398 unidades consumidoras, além do
Censo 2000 – IBGE, já defasado em sete anos, que apresenta 1.634 domicílios na Vila Planalto e
estimativa populacional de 5.965 habitantes.
A Secretaria de Estado da Fazenda, por meio do Ofício nº 1.240, de 18 de outubro de 2007, informou
que existem 1.020 domicílios residenciais inscritos no Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU,
dentre os quais estão 52 utilizados como comerciais.
Vale ressaltar que nem a DIFIS / RA I nem a equipe da SEDUMA puderam, durante as vistorias
executadas, verificar todos os lotes, pois muitos cercamentos não possuem qualquer permeabilidade
visual. Algumas verificações só foram possíveis quando ocasionalmente os portões estavam abertos no
momento da vistoria.
A equipe da SEDUMA constatou in loco a ocorrência de alguns casos citados no Relatório da DIFIS /
RA I como, por exemplo, lotes com mais de uma unidade habitacional (havendo em alguns casos
alterações de endereçamento do tipo “casa 4A” ou “lote 5C”), edifícios residenciais com diversas
unidades habitacionais (evidenciando possíveis sublocações) e ainda lotes transformados em
comércios e divididos em lojas.
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Além do fracionamento físico do lote, em dois ou mais lotes, foram constatados o fracionamento de
unidades habitacionais, a criação de condomínios urbanísticos com várias unidades habitacionais em
um mesmo lote e as construções com características de pousada/hotel ou de residências geminadas,
abrigando pessoas ou famílias inteiras.
Para a verificação das áreas públicas ocupadas irregularmente foram feitas comparações entre imagens
aéreas e de satélite da Vila Planalto com o Projeto Urbanístico aprovado para o local – URB 90/90. A
SEDUMA realizou ainda verificações in loco e levantamento fotográfico dos casos mais graves.
Nas vistorias realizadas pela SEDUMA, observou-se que há invasões de diversos tipos na Vila Planalto,
não só das áreas residuais como também de áreas de uso coletivo e até de áreas de preservação
rigorosa. Estas ocupações irregulares não puderam ser levantadas detalhadamente em função da
quantidade de ocorrências e da complexidade das ocupações, que variam de lotes com dimensões
regulares e construções de alvenaria até aglomerados de construções precárias com distribuição
espacial irregular.
As invasões de áreas comuns encontradas foram divididas em quatro tipos de ocorrências, como
segue:
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Mapa 7 – Ocupação irregular de becos
Por causa do modo como a Vila Planalto foi formada, com a justaposição dos acampamentos, existe a
ocorrência de varias áreas intersticiais, as chamadas áreas residuais, entre os acampamentos. Algumas
dessas áreas foram invadidas e cercadas pelos ocupantes dos lotes lindeiros, sendo transformadas em
áreas de jardim, pomar, lazer, etc. A principal ocorrência deste tipo de invasão se dá no Acampamento
do DFL, onde as áreas intersticiais do Antigo acampamento da construtora Emulpress foram invadidas
pelos ocupantes dos lotes localizados à Rua Emulpress, como mostram o Mapa 8 e a Imagem 3, a
seguir.
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Mapa 8 – Ocupação irregular de áreas residuais
Imagem 3: Cercamento de área intersticial. Rua Emulpress, Acampamento DFL. Agosto de 2007.
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3) Parcelamento em áreas intersticiais
Imagem 4: Av. JK, Acampamento Rabelo. As edificações no lado esquerdo da via foram erguidas em área
pública. Agosto de 2007.
A principal ocorrência desse tipo de invasão é em largos e praças da Vila. Há desde invasões de menor
porte, como é o caso da existente na Praça Nelson Corso, até um conjunto inteiro criado sobre o largo
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existente na Rabelo, lindeiro à Rua das Flores, que conta até com via de acesso, também irregular
(Imagem 5). Pode-se observar, na Imagem 7, de foto aérea de 2002, que a invasão supracitada ainda
não existia e hoje, apenas cinco anos depois, já consta como conjunto consolidado, servido inclusive
pelas concessionárias de serviços públicos. O Mapa 10 fornece a localização destas ocupações.
Imagem 5: Conjunto irregular próximo à Praça Nelson Imagem 6: Ocupações irregulares no Campo do DFL.
Corso. Agosto de 2007. Agosto de 2007.
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Imagem 7: Foto aérea da Vila Planalto. 2002. Fonte: Augusto Areal
O largo localizado próximo ao Campo do DFL também começou a ser invadido e conta hoje com uma
construção em alvenaria na área. O próprio Campo do DFL, lote de preservação rigorosa e atual Clube
Unidade de Vizinhança, foi ocupado por casas de aspecto precário, feitas em madeirite, lona e outros
materiais perecíveis (Imagem 6).
5) Área de tutela
Embora não tenha sido objeto desta Verificação, cabe registrar a situação da poligonal de tutela, onde
existem ocupações e construções irregulares, inclusive residências de porte considerável, constituindo
um parcelamento indevido da área. A Poligonal de Tutela é considerada no MDE 90/90, aprovado pelo
Decreto no 19.082 de 11/03/1998, como área pública Non Aedificandi e, portanto, não comporta
qualquer tipo de ocupação, o que demonstra a gravidade da situação encontrada.
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Imagem 8: Ocupação na área de tutela. Fonte: GoogleEarth
A Vila Planalto apresentava, quando do tombamento, distribuição espacial diferente da tradicional e isso
se manifestava na configuração de cada um dos acampamentos que a compõe. A setorização de usos
das unidades imobiliárias não era rígida, ocorrendo nas áreas de maior centralidade a predominância de
uso misto, enquanto que, nas áreas periféricas prevalecia o uso residencial, com usos mistos esparsos.
Essa divisão foi feita de modo a não haver alteração na dinâmica urbana, ou seja, as atividades já
desenvolvidas poderiam permanecer e outros usos poderiam ser acrescentados desde que não
trouxessem perturbação de ordem sonora ou dano ambiental. Nos casos de edificações destinadas à
habitação e ao comércio, estas deveriam ser organizadas espacialmente de modo a não caracterizarem
mais de uma edificação.
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TABELA 3: USOS DESENVOLVIDOS NA VILA PLANALTO
Tipos Número de Unidades Imobiliárias
Misto (Habitação + Comércio) 954
Comércio Residencial 29
Comercial 23
Institucional 14
Total 1.020
Considerando o que estabelece cada NGB para o uso das unidades imobiliárias, é permitido o exercício
de atividades condizentes com sua vocação inicial. De modo geral, é permitido o uso misto
(habitacional/comercial), ficando estabelecido o uso predominante habitacional e exclusivamente
unifamiliar. São autorizadas as atividades caracterizadas como:
- prestação de serviços pessoais e domiciliares - todas as atividades;
- prestação de serviços de conservação e reparos - conserto de aparelhos elétricos e eletrodomésticos,
artigos de couro, artigos esportivos e recreativos, brinquedos, estofados em geral e utensílios
domésticos.
Em alguns endereços o uso comercial é permitido com atividades de consumo alimentar, consumo
pessoal e de saúde, consumo eventual, consumo excepcional (antiquário/antiguidades, artefatos de
metal/papel/papelão, artesanato/folclore) e atividades de prestação de serviços como bares,
restaurantes e congêneres, serviços pessoais e domiciliares, serviços de conservação e reparos,
serviços profissionais e de negócios (aluguel de filmes/ louças/ vestimentas/ toalhas, consultórios,
copiadora/ fotocópia/ plastificação, despachantes, encadernadora, escritórios).
O uso institucional complementa os usos permitidos, destinando alguns lotes específicos para o
exercício de atividade de culto, cultura, lazer, educação e mobiliário urbano.
Apesar da impossibilidade de definir uma quantificação exata de tipos de atividades, frente aos casos
de invasão de área pública e fracionamento de lotes, pôde-se registrar que a grande maioria dos lotes
permanece com uso exclusivamente habitacional, seguindo-se de lotes prioritariamente residenciais e
que também desenvolvem comércios e atividades de pequeno porte, como salão de beleza, consultório,
venda de produtos de beleza, etc.
Foram encontrados lotes que, apesar de destinados a uso misto segundo as normas, são ocupados por
comércio sem habitação, como restaurante, bar, academia e mercado. Além destes, chamam a atenção
os comércios voltados para venda e manutenção de embarcações e oficina de veículos (Imagens 9 e
10). Também foram encontrados depósitos para triagem de lixo dividindo espaço com barracos
precários (Imagem 11). Foi verificada ainda a existência de construções subdivididas de forma a indicar
sua destinação à hospedagem ou aluguel de apartamentos, tratando-se também de uma espécie de
comércio (Imagens 12, 13 e 14).
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Imagem 9: Setor de Oficinas, Acampamento Rabelo. Imagem 10: Loja náutica ao lado de oficina mecânica.
Agosto de 2007. Acampamento DFL. Agosto de 2007.
Imagem 11: Depósito de triagem de lixo. Acampamento Imagem 12: Edifício de apartamentos para sublocação.
DFL. Agosto de 2007. Acampamento DFL. Agosto de 2007.
Imagem 13: Anúncio no Acampamento DFL. Outubro Imagem 14: Mais um anúncio no Acampamento DFL.
de 2007 Outubro de 2007
A realização do presente levantamento foi prejudicada pela existência de lotes com muros altos e sem
transparência visual. Em outros casos, não foi possível a identificação da atividade especifica exercida,
embora tenham sido encontrados os indícios de uso comercial.
As atividades estabelecidas pela legislação para serem desenvolvidas na Vila Planalto foram definidas
de forma a preservar as características dos acampamentos que a compunham. Porém, com o passar do
tempo, os espaços foram descaracterizados com relação aos usos, resultando muitas vezes em
invasões de área pública, quando o lote demonstrava ser insuficiente para o comércio escolhido.
Nas normas urbanas da Vila Planalto predomina o uso habitacional e exclusivamente unifamiliar para a
maior parte dos lotes e, nos casos de imóveis destinados à habitação e ao comércio, estes devem ser
organizados espacialmente de modo a não caracterizarem mais de uma edificação. Todavia, a Vila
22
Planalto apresenta um quadro de atividades comerciais aparentemente em crescimento, beneficiada
pela localização privilegiada e situação ambientalmente aprazível.
Esses números superam a previsão da URB 90/90 que prevê apenas 29 unidades com uso residencial /
comercial e 14 unidades de uso institucional, revelando a mudança de destinação.
A maior parte dos lotes da Vila com utilização voltada para comércio convive sem problemas com o uso
habitacional e apresenta um baixo nível de impacto na comodidade da população (salão de beleza,
consultório, venda de produtos de beleza).
Uma outra parcela de lotes, que aparentemente não apresenta uso habitacional, mas somente
comercial (restaurante, bar, academia, mercado, igreja), provoca nas vias um trânsito acima do
planejado, causando transtornos aos moradores vizinhos.
Os lotes com comércio voltado para venda e manutenção de embarcações e oficinas de veículos, essas
últimas ocorrendo em maior concentração e em local extremamente exíguo e central em relação à Vila,
caracteriza a formação de um embrião de “setor de oficinas”. Cabe frisar a existência da Lei no 1.933 de
5 de maio de 1998, que criou o Setor de Microempresas da Vila Planalto. A Lei está em vigor, no
entanto, como não definiu a área a ser usada, depende de regulamentação e de estudos específicos
para alcançar eficácia plena.
O depósito de triagem de lixo apresenta toda a precariedade e incompatibilidade próprias desse tipo de
atividade com a vizinhança residencial.
Além desses usos é importante ressaltar, pois já apresenta uma quantidade significativa, a ocupação de
lotes com construções aparentemente divididas em compartimentos, próprios para abrigar tanto
visitantes temporários como inquilinos para maior tempo de permanência. Esse fato acaba por
ocasionar um aumento da densidade populacional, com conseqüências para os serviços públicos e para
o trafego das vias, e, como já citado anteriormente, desobedece e descaracteriza o planejamento
urbano instituído por Lei.
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Em relação à arquitetura, foram analisadas apenas as edificações citadas no MDE 90/90 como sendo
de relevância histórica. Nesse contexto, as análises foram divididas em dois focos: edificações de
preservação rigorosa e edificações de interesse histórico.
Para a verificação das edificações de preservação rigorosa foi adotado o critério de verificação in loco,
de modo a observar a existência atual de características relevantes da época do tombamento, como
materiais utilizados e partido arquitetônico. Esta busca foi limitada pelas restrições da norma, uma vez
que, conforme abordado na análise do Tema 1 – Legislação Urbanística, não existe registro técnico da
situação original das construções. Assim, foram procurados indícios evidentes de alterações nas
edificações e, além disso, as condições de conservação também receberam atenção.
23
O MDE 90/90 define como edificações de preservação rigorosa as construções “onde só cabem
intervenções de caráter de restauração ou resgate das características originais.” O texto também
menciona a preocupação dos autores relacionada à possibilidade desses espaços serem revertidos
para uso público, de modo a atenderem às necessidades da população local. As edificações e espaços
definidos como de preservação rigorosa são:
Nesse contexto, são consideradas edificações de preservação rigorosa as que estão representadas no
Mapa 11.
Nas vistorias feitas in loco pela SEDUMA, constatou-se a seguinte situação das sete edificações de
preservação rigorosa:
- A Escola Classe no 1 do Planalto e o Alojamento dos operários da Rabelo não mais existem (Vide
Imagens 15 e 16);
- O Campo da Rabelo e a Igreja N. S. do Rosário ainda existem, sendo que esta última foi totalmente
reconstruída após um incêndio, ocorrido no ano 2000 (Imagens 17 e 18);
24
- O Conjunto Fazendinha e o Campo do DFL também permanecem, ainda que em precárias condições
de preservação (Imagens 19 e 20). O Conjunto Fazendinha vem sofrendo diversas modificações pelos
atuais ocupantes, como demolições e novas construções fora dos padrões do tombamento;
- O Alojamento dos engenheiros da Rabelo, localizado à Av. Rabelo no 23, está em processo de
descaracterização, sendo que suas fachadas de madeira já foram totalmente cobertas por alvenaria e
as esquadrias originais retiradas (Imagem 21).
Imagem 18: Igreja N. S. do Rosário. Imagem 15: Lote da Escola Classe nº 1 do Planalto. Agosto de 2007.
Agosto de 2007.
Imagem 20: Clube Unidade de Vizinhança – Campo do Imagem 17: Campo da Rabelo. Agosto de 2007.
DFL. Agosto de 2007.
Imagem 16: Local onde ficavam os Alojamentos dos Imagem 21: Alojamento dos engenheiros solteiros da
Operários da Rabelo, próximo ao Campo da Rabelo. Rabelo. Agosto de 2007.
Agosto de 2007.
25
Imagem 19: Casa de madeira no Conjunto Fazendinha da Pacheco Fernandes. Agosto de 2007.
Assim, dos sete bens de preservação rigorosa, definidos no Decreto de tombamento nº 11.079/88,
constatou-se que dois não existem mais, um está parcialmente ocupado por moradias, dois estão em
situação precária de preservação e sofreram acréscimos ou alterações e dois estão preservados, sendo
que um deles com reconstrução completa. A situação encontrada contraria as premissas do
tombamento que, segundo o MDE 90/90, admitiam apenas “intervenções de caráter de restauração ou
resgate das características originais.”
Com efeito, em relação ao enfoque dado ao presente tema, dois dos princípios fundamentais de
preservação identificados no documento não estão sendo observados. São eles os princípios de
linguagem arquitetônica peculiar e de espaços de valor simbólico e referencial para a população e a
história do conjunto.
O MDE 90/90 define as Edificações de Interesse Histórico como “edificações que, embora possuindo
carga histórica e valor arquitetônico enquanto monumento isolado, se destacam, sobrepondo, pelo
conjunto arquitetônico que compõe”.
Segundo levantamento feito por ocasião da publicação do Memorial Descritivo MDE 90/90, 81
construções da Vila Planalto foram registradas como edificações de relevante interesse histórico. As
edificações consideradas constam no Mapa 12.
26
Mapa 12 – Edificações de interesse histórico na Vila Planalto
No levantamento realizado em julho de 2007 pela equipe da SEDUMA, constatou-se que, dessas 81
construções, apenas 19 se apresentavam preservadas, no que diz respeito à análise tipológica –
materiais empregados e partido arquitetônico – e manutenção. Várias dessas edificações aparentam
elevado grau de deterioração ou ainda modificações em relação à construção original (ampliações em
alvenaria e outros materiais, modificações na cobertura e em partes dos fechamentos). As poucas
unidades remanescentes não se inseriam em um conjunto edilício coeso, constando mais como
edificações históricas remanescentes e de ocorrência pontual. Poucas edificações não puderam ser
avaliadas por terem cercamentos completamente fechados e sem permeabilidade visual, não sendo
computadas, portanto, no número final, explicitado no Mapa 12.
Imagem 20: Casa original, Acampamento Tamboril. Em Imagem 21: Casa original, Acampamento Tamboril.
estado de má conservação. Agosto de 2007. Parcialmente modificada. Agosto de 2007.
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Imagem 22: Casa original no Acampamento Tamboril, totalmente preservada. Agosto de 2007.
Pela observação das edificações enquadradas nessa categoria, pode-se dizer que a maioria delas não
mantém nos dias de hoje nem o valor arquitetônico enquanto monumentos isolados e nem configuram
conjuntos históricos preservados.
Em relação à qualidade arquitetônica individual, observou-se que a maioria das edificações foi
completamente desvirtuada. Mesmo que haja permissão legal garantida pelo MDE 90/90 para a
realização de “intervenções enquanto bem isolado, permitindo agenciamentos e pequenas adaptações”,
o que se encontra hoje no lugar dessas casas são construções com mais de um pavimento e lotes
fracionados com e sem divisões físicas, em tipologias e escalas muito diferentes das edificações
originais.
Também se pôde observar que o caráter de conjunto histórico relevante, fator principal e que levou à
conformação da categoria Interesse Histórico no MDE 90/90, encontra-se hoje bastante deteriorado,
uma vez que as casas restantes ocorrem pontualmente e não representam conjuntos edilícios coesos.
Cabe registrar que, apesar desse fato, foram observadas, durante as vistorias, edificações que não
constam da lista de Edificações de Interesse Histórico e que mantém características tipológicas
originais, principalmente em relação à forma e ao uso da madeira. Foram verificados conjuntos inteiros
de edificações nesse padrão e que poderiam vir a ser adicionadas à lista de Edificações de Interesse
Histórico, no intuito de que essa categoria de preservação seja mantida no tombamento da Vila
Planalto.
A morfologia urbana da Vila Planalto foi analisada em duas frentes distintas: parcelamento e massa
arbórea. A análise do parcelamento foi feita com base no estudo do projeto aprovado para a área (URB
90/90), nos documentos elaborados pelo GT Brasília, nas imagens de satélite do programa Google
Earth e nos levantamentos in loco executados pela SEDUMA, confrontando a situação projetada com a
situação real.
A massa arbórea, por ter natureza diversa da massa construída, foi analisada de outra forma. Sua
avaliação foi feita em duas frentes: a primeira comparou imagem aérea datada de agosto de 1986 com
imagens aéreas atuais e imagens de satélite do Google Earth. A segunda frente comparou imagens do
ponto de vista do observador da década de 80 com imagens recentes dos mesmos locais, capturadas
pela equipe da SEDUMA entre julho e agosto de 2007. Desse modo, foi possível verificar a massa
vegetal que existe de fato com a forma como esta é apreendida pelo observador no nível da rua.
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1) Parcelamento
Tomando-se a relação entre as imagens obtidas no Google Earth, com defasagem máxima de 4 anos, e
a URB 90/90, pode-se observar que a Poligonal de Tombamento foi respeitada e os limites da Vila
mantidos. A comparação entre as imagens demonstra também que, de um modo geral, a forma do
parcelamento está mantida, bem como a preservação do sistema viário. As Imagens 23 e 24 foram
utilizadas para esta verificação.
29
Imagem 24: Imagem de satélite do programa Google Earth. Pode-se observar que os limites da Poligonal de
Tombamento foram respeitados. Fonte: Google Earth
Pode-se também observar a manutenção da forma do parcelamento pela observação in loco dos
acampamentos. Como exemplo, podemos tomar o Acampamento Tamboril, que ainda hoje mantém o
parcelamento em fita - terrenos contíguos formando um parcelamento linear - com lotes grandes e baixa
densidade populacional (Imagem 25).
Também podemos citar o Acampamento DFL, que mantém o caráter de parcelamento não planejado,
com lotes de tamanhos díspares e forma irregular. Nos dias de hoje ainda é visível o fato de ter sido
formado a partir da junção de outros acampamentos, uma vez que não há padrão de formação dos
conjuntos, havendo a freqüente perda da noção de legibilidade do local, ou seja, dificuldade de leitura
do espaço por parte do observador (Imagem 26).
Imagem 25: Acampamento Tamboril. Outubro de 2007 Imagem 26: Acampamento DFL. Agosto de 2007.
Em relação ao sistema viário, pode-se observar que, apesar da recente pavimentação das ruas e
conseqüente mudança do seu aspecto geral (foram agregados meios-fios e calçadas ao sistema viário),
houve a manutenção do traçado. A diferença de hierarquia entre as avenidas e ruas ainda é visível.
Constata-se que não houve mudanças em relação à hierarquia viária na Vila, mas o asfaltamento do
local trouxe outras conseqüências. O asfalto permite um trânsito mais rápido de veículos, incompatível
com a dimensão das caixas de rua existentes na área (muitas vezes menores do que o padrão de
7,0m), o que ocasionou a colocação de vários quebra-molas em toda a Vila. Além disso, o asfalto foi
30
executado antes da implantação de um sistema de captação de águas pluviais, o que gera problemas
de drenagem no local, principalmente em épocas chuvosas.
2) Massa Arbórea
No tocante à ocorrência da massa arbórea na Vila Planalto, houve uma diminuição sensível no que diz
respeito ao volume de vegetação existente, fato que pode ser observado comparando-se as Imagens 27
e 28. Nessas imagens pode-se notar que a vegetação existente hoje é bem menor tanto em termos de
volume quanto de posicionamento, salvo os principais núcleos arborizados, como é o caso dos campos
do DFL e Rabelo e também a Fazendinha.
Imagem 27: Vila Planalto. Imagem aérea de agosto de 1986. Fonte: DePHA
Apesar disso, também se observa por meio das Imagens 29 e 30 que a Poligonal de Tutela mantém
massa vegetal equivalente à que existia nos anos 80 no que diz respeito à área exterior à Vila Planalto,
salvo a parte tomada pelas invasões, assunto abordado no tópico Uso e Ocupação do Solo.
31
Imagem 29: Poligonal de Tutela. Imagem aérea de agosto de 1986. Fonte: DePHA
Já pela análise da percepção visual da massa arbórea pelo observador, nota-se diferenças ocasionadas
por elementos incorporados à Vila mais recentemente. Pela comparação entre as Imagens 31 e 32 é
possível avaliar que, apesar dos dois locais apresentarem tipos vegetais de porte semelhante, os
cercamentos mais recentes (mais altos e executados em alvenaria) modificam totalmente a percepção
da vegetação.
32
Imagem 31: Acampamento DFL, 1986. Fonte: DePHA Imagem 32: Acampamento Rabelo, 2007. Agosto de
2007.
Segundo o levantamento do GT Brasília, a área verde é “um elemento de forte significado para a Vila.
(...) As áreas verdes de maior significado na configuração da Vila são os quintais, que possuem
exuberante massa de vegetação, constituída de árvores frutíferas em sua maioria”. A comparação entre
as imagens aéreas dá a entender que essa vegetação dos quintais não mais existe, salvo raras
exceções. E mesmo nos casos de manutenção da vegetação, a visualização da mesma encontra-se
prejudicada, tanto pelo aumento da altura das edificações quanto pelos cercamentos dos lotes, hoje em
dia executados geralmente em alvenaria ou metal, com pouca ou nenhuma permeabilidade visual e,
muitas vezes, ultrapassando os 2,5 metros de altura.
Conforme exposto no item anterior, todos os lotes existentes na Vila Planalto são de propriedade da
TERRACAP.
No inicio de 1992, o Grupo Executivo para Assentamento e Preservação da Vila Planalto – GEAP,
baseado na Decisão no 014/92 – do GEAP COLEGIADO, de 23/01/92, emitiu um Termo de Ocupação
Provisória para os moradores cadastrados segundo requisitos definidos pelo Decreto no 11.080 de
21/04/1988.
De acordo com o Decreto supracitado, os requisitos para fixação dos moradores na Vila Planalto são
especificados no Artigo 2o. Este Artigo preconiza que terão direito a concessão de uso dos lotes os
moradores com domicílio há mais de cinco anos, que estejam inscritos no levantamento
socioeconômico de 1986/1987 e que não sejam proprietários de outra unidade residencial no Distrito
Federal.
A Lei Distrital no 1.060, de 30 de abril de 1996, que dispõe sobre a concessão de títulos de transferência
de posse e domínio na Vila Planalto pelo Governo do Distrito Federal, vigorou durante 10 anos, até ser
anulada por Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIN. No entanto, a título de análise a respeito das
diretrizes de fixação dos moradores residentes na área, vale destacar o artigo 2o:
“Art. 2º - Tem direito à aquisição das unidades de que trata esta Lei os moradores cadastrados pela
Sociedade de Habitações de Interesse Social Ltda. - SHIS, por meio de levantamento sócio-econômico
realizado em 1986 e 1987; os moradores que receberam lotes por transferência e por inclusões,
formalizadas perante o Grupo Executivo para Assentamento e Preservação da Vila Planalto, entre 1989
e 1994; os filhos de pioneiros, de acordo com a Lei nº 271, de 28 de março de 1992; os moradores das
sete unidades que compõe o antigo acampamento da Empresa Brasileira de Eletricidade - EBE.”
Com a anulação da Lei no 1.060/96, passou a vigorar a Lei no 271, de 28 de maio de 1992, a qual em
seu artigo 1º autoriza o Poder Executivo a fixar os moradores Pioneiros da Vila Planalto que preencham
33
os requisitos estabelecidos no Decreto no 11.080/88. Porém, ainda discute-se sobre a aplicação dessa
Lei em relação ao Decreto de Tombamento de Brasília, uma vez que a possibilidade de inserção de
novas unidades imobiliárias para atender o contingente populacional citado na Lei é incompatível com a
preservação dessa área com caráter histórico.
Existem três processos que tratam da situação habitacional da Vila Planalto, visando à regularização da
concessão de uso dos lotes: no 141.001.277/2003, no 111.001.599/2005 e no 260.045.404/2005.
No segundo processo, iniciado na TERRACAP por determinação do Governo do Distrito Federal, para
intervir e ajustar a situação fundiária e urbanística da Vila Planalto, são apresentados documentos
técnicos e legais, incluindo a mesma relação de endereços e moradores. Consta no processo a criação
de Grupo de Trabalho para a regularização da Vila Planalto, Ofício no 1.400/2006, fl. 201, mas não são
encontrados indícios de prosseguimento dos trabalhos.
O terceiro processo, aberto nesta SEDUMA, motivado por proposta da Associação dos Moradores da
Vila Planalto, visando à regularização das unidades habitacionais, avançou em relação aos dois outros.
Contém uma análise técnica dos Termos de Referência, para execução de levantamento e diagnóstico
da situação atual da Vila Planalto, apresentado no processo no 141.001.277/2003, com manifestação da
Diretoria de Preservação de Brasília - DIPRE quanto às restrições e requisitos técnicos e jurídicos
impostos pelo tombamento da Vila Planalto e de Brasília. A análise também aborda a necessidade de
uma maior discussão do assunto, envolvendo os órgãos especializados em preservação histórica –
Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. A manifestação foi endossada pela Subsecretaria de Urbanismo e Preservação – SUDUR,
sem prosseguimento posterior dos trabalhos.
No entanto, apesar da existência da legislação e dos registros cadastrais citados, até a presente data
não foram expedidos contratos de concessão de uso, ou documento legal equivalente, em substituição
ao “Termo de Ocupação Provisória de Unidade Imobiliária”.
A Companhia Energética de Brasília – CEB, consultada para informar sobre o número de consumidores
na Carta no 075/2007 – NOCCC, de 23 de julho de 2007, informou que constam em seus registros um
total de 1.398 unidades consumidoras localizadas na Vila Planalto.
Em consulta aos dados do Censo 2000 foi constatada a existência de 1.634 domicílios na Vila Planalto
com estimativa populacional equivalente a 5.965 habitantes. Comparando os registros do Censo e da
CEB ao valor registrado na URB 90/90, que é de 1.020 lotes, já é possível notar em números o aumento
do contingente habitacional na região.
A partir dos dados expostos nesta análise, conclui-se que a região apresenta aspectos associados ao
crescimento populacional da Vila Planalto que devem ser observados, no intuito de conter a
fragmentação fundiária e urbana. Como exemplo desses aspectos pode-se citar a ocorrência de lotes
abrigando mais de uma família, fracionamento de lotes e invasões de áreas públicas.
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