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Resumo
O trabalho insere–se no eixo temático Educação de Jovens e Adultos e tem por
objetivo apresentar, numa breve reflexão, as origens da práxis político–pedagógica
de Paulo Freire que influenciaram a concepção do seu Método de Alfabetização de
Adultos e da assunção da educação como prática da liberdade. Destaca, também, a
influência marcante e contribuições da pedagogia freireana nos processos de
alfabetização de jovens e adultos até os dias atuais. Mostra a adesão do Programa
de Alfabetização de Jovens e Adultos do Banco do Brasil, BB Educar, às concepções
Paulo Freireanas e a adoção de seu Método e de sua pedagogia como um dos
pilares desse Programa, que vem formando educadoras e educadores, em todo o
Brasil, desde 1992. Discute a proposta de alfabetização de adultos de Freire, no
que tange ao aprendizado da escrita, a partir dos temas geradores e palavras
geradoras. Pretende–se contribuir para que os (as) alfabetizandos (as) se sintam
sujeitos no processo de aprendizagem da escrita ao optarem por aquilo que
desejam aprender a escrever e para que tenham autonomia de elaborar hipóteses
sobre o funcionamento do sistema de escrita. A convicção de que Paulo Freire foi
um de nossos educadores mais importantes, que com coerência norteou sua vida e
sua obra em favor dos oprimidos, marginalizados, miseráveis, espoliados, sem voz
e sem vez, é inerente à construção desse texto.
Palavras-chave:
Método Paulo Freire, alfabetização de jovens e adultos, escrita.
existem
Os sabiás divinam.
Introdução
Ao ler De Kadt (2007), que fez um estudo sobre o MEB, de 1961 a 1966, pude
compreender a força da influência pernambucana em um contexto em que a
Conferência de Puebla, reeditou[1] nos católicos latino-americanos o compromisso
com as lutas populares e com a transformação da sociedade. Ações marcantes na
década de 1960.
Conforme Saviani (2007), na primeira metade dos anos de 1960 "a educação passa
a ser vista como instrumento de conscientização". A partir daí, a expressão
"educação popular" assume o sentido de uma "educação do povo, pelo povo e para
o povo". E segue afirmando:
Concordo, pois, com Saviani (2007), que a concepção Paulo Freireana foi a
expressão mais acabada da orientação que esses movimentos seguiram e que teve
maior repercussão no Brasil e no exterior.
Como bem afirma Paulo Freire, que como todo intelectual traz as marcas do seu
tempo e de sua história em sua produção, esta concepção não esteve descolada da
realidade.
A compreensão crítica de minha prática no Brasil, até março de 1964, por exemplo,
exige a compreensão daquele contexto. Minha prática, enquanto social, não me
pertencia. Daí que não seja possível entender a prática que tive, em toda a sua
extensão, sem a inteligência do clima histórico em que se deu (p. 34).
Concordamos com Scocuglia (1999), pois também para nós está bem claro que a
obra de Paulo Freire sempre seguiu um caminho coerente, num movimento em
espiral, em que o autor aborda temas recorrentes, sempre num movimento de
revisar, ampliar, recriar, complementar seus escritos, como afirma Fávero (2007).
Di Pierro (2008) afirma que a categoria para melhor definir os sujeitos da EPJA é a
da exclusão pelo fato de contemplar o conjunto de processos socioeconômicos e
culturais que possibilitam explicar a distribuição desigual do analfabetismo e do
atraso escolar nas sociedades, levando em conta gênero, geração, etnia, além da
distribuição geográfica da pobreza, zonas rurais e urbanas.
Vale ressaltar que a Educação de Pessoas Jovens e Adultas (EPJA), regida pelo
paradigma compensatório, centrado em programas escolarizados e recuperação do
atraso escolar, ocupa posição marginal no Brasil, tanto nas políticas, quanto nos
sistemas educacionais.
A partir da minha experiência com o Programa BB Educar, concebido com base nos
princípios de uma educação libertadora, que tem como objetivo contribuir para a
superação do analfabetismo no Brasil, por meio de atividades educacionais voltadas
para a alfabetização e a promoção da cidadania entre pessoas jovens e adultas,
elegi, para dialogar com este texto, Oliveira (1988), que em sua análise focaliza
principalmente a escrita no Método Paulo Freire. Assim como essa autora, venho
estudando os modos de constituição da escrita em pessoas jovens e adultas em
processo de alfabetização.
Com base na referida autora, busco ressaltar suas críticas às concepções de Freire
no sentido de contribuir para Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas do Brasil
de hoje, mais especificamente no âmbito do Programa BB Educar, que mantém
convênios com entidades diversas localizadas em todos os estados brasileiros.
Para subsidiar minha análise, recorri a uma experiência que tive, em que uma das
maiores dificuldades que alfabetizadores (as) e supervisores (as) apresentavam era
a compreensão de como escolher/trabalhar temas geradores e palavras geradoras.
Essa experiência se deu quando realizei um trabalho de acompanhamento
pedagógico a um programa de alfabetização de pessoas jovens e adultas, Lendo e
Aprendendo, da Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte, em parceria com
os programas Brasil Alfabetizado, do Governo Federal e BB Educar, da Fundação
Banco do Brasil. O acompanhamento, que durou 15 meses (de outubro/2005 a
dezembro/2006), aconteceu em nove municípios, situados em diferentes regiões
daquele estado, com turmas de alfabetização localizadas na capital e região
metropolitana, em municípios de portes médio e pequeno, nas zonas rural e urbana
e em comunidades quilombolas e pesqueiras.
Dos temas geradores que surgem dos círculos de cultura nas turmas de
alfabetização, o (a) alfabetizador (a) deverá escolher as palavras geradoras a
serem trabalhadas na sala de aula. Surge aqui um ponto contraditório na proposta
de alfabetização de Freire, segundo Oliveira (1988: 9), com quem concordamos:
"se no momento de decodificação da realidade, alfabetizandos/alfabetizadores se
assumem como sujeitos no desvelamento dessa realidade, o mesmo não acontece
em relação ao processo de criação do conhecimento sobre a escrita".
Esse mesmo autor afirma que a palavra está sempre relacionada às estruturas
sociais, posto que, penetrando em todas as relações entre os indivíduos, é tecida
por uma multidão de fios ideológicos, enredando todas as relações sociais, nem
sempre harmônicas, são também relações de conflito, relações de poder.
Se discutimos idéias, como impor aos (às) alunos (as) que comecem a aprender a
ler e a escrever a partir das palavras que nós, enquanto alfabetizadores (as),
selecionamos? Por que negamos a eles (elas) o direito de escolher as palavras que
querem aprender a escrever, da maneira que sabem/podem escrever? Se
entendermos o diálogo enquanto pronúncia do mundo, como afirma Freire (1987),
essa pronúncia não pode se restringir à fala, às opiniões e visões de mundo que são
verbalizadas. O (a) alfabetizando (a) também tem o direito de poder pronunciar seu
mundo através de sua escrita.
Sendo assim, a linguagem, não somente oral, mas também escrita, deve assumir
um papel preponderante nos contextos de ensino e de aprendizagem, para que os
(as) alunos (as) possam expressar seus pensamentos, suas palavras, seus mundos,
para que se sintam sujeitos dessa prática social. Se o (a) aluno (a) pode dizer sua
vida, deve também poder escrever a sua vida.
Nesse processo, a linguagem não está "solta no ar", ela está diretamente
interligada à realidade, pois entre a leitura de mundo e a leitura da palavra há um
ir e vir constante, e isso nos afirma o próprio Freire (1987).
Dessa maneira, segundo Mortatti (2007: 166): "ensinar a ler e a escrever é ensinar
a ler e produzir textos (orais e escritos) que permitam ao sujeito se constituir como
tal no âmbito de uma sociedade letrada".
Desafios
BIBLIOGRAFIA:
BARROS, M. Livro sobre nada. 11. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
______. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
______. Educação como prática da liberdade. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1999.
______. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Ed. UNESP, 2001.
______. À sombra desta mangueira. 7. ed. São Paulo: Olho d'Água, 2005.
[3] Vide a notícia a seguir, publicada em uma revista de circulação nacional voltada
para a educação: "Pernambuco organiza aulas contra o analfabetismo - O método
Paulo Freire é o alicerce da nova iniciativa para Educação de Jovens e Adultos de
Pernambuco: ensinar 300 mil pessoas entre 15 e 29 anos a ler e escrever até 2010.
O programa, que recebeu o nome do educador, é composto de ciclos de dez meses,
sendo que os dois últimos são dedicados à iniciação profissional das turmas. Em
2009, a meta é alfabetizar 120 mil pessoas." (EJA. Pernambuco organiza aulas
contra o analfabetismo. Nova Escola, São Paulo, Ano XXIV, n.219, jan/fev 2009).
[4] Essa dissertação me foi indicada por Osmar Fávero, professor do Programa de
Pós-graduação em Educação da UFF, estudioso e contemporâneo de Freire, que foi
orientador da autora no período em que fez seu curso de Doutorado. Segundo o
professor, é o único trabalho que conhece que faz uma crítica consistente (grifo
nosso) ao Método Paulo Freire.
[5] Segundo Scocuglia (1999: 27), a maioria dos trabalhos sobre Paulo Freire,
publicados até o final dos anos oitenta, no Brasil, leva em consideração apenas
seus escritos iniciais. A desconsideração da continuidade de sua obra, na qual
vários conceitos, categorias e relações são revistos sob outras óticas, constitui
obstáculo intransponível à compreensão do pensamento político-pedagógico do
autor, como um todo.