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PAULO FREIRE E A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

INEZ HELENA MUNIZ GARCIA (UFF).

Resumo
O trabalho insere–se no eixo temático Educação de Jovens e Adultos e tem por
objetivo apresentar, numa breve reflexão, as origens da práxis político–pedagógica
de Paulo Freire que influenciaram a concepção do seu Método de Alfabetização de
Adultos e da assunção da educação como prática da liberdade. Destaca, também, a
influência marcante e contribuições da pedagogia freireana nos processos de
alfabetização de jovens e adultos até os dias atuais. Mostra a adesão do Programa
de Alfabetização de Jovens e Adultos do Banco do Brasil, BB Educar, às concepções
Paulo Freireanas e a adoção de seu Método e de sua pedagogia como um dos
pilares desse Programa, que vem formando educadoras e educadores, em todo o
Brasil, desde 1992. Discute a proposta de alfabetização de adultos de Freire, no
que tange ao aprendizado da escrita, a partir dos temas geradores e palavras
geradoras. Pretende–se contribuir para que os (as) alfabetizandos (as) se sintam
sujeitos no processo de aprendizagem da escrita ao optarem por aquilo que
desejam aprender a escrever e para que tenham autonomia de elaborar hipóteses
sobre o funcionamento do sistema de escrita. A convicção de que Paulo Freire foi
um de nossos educadores mais importantes, que com coerência norteou sua vida e
sua obra em favor dos oprimidos, marginalizados, miseráveis, espoliados, sem voz
e sem vez, é inerente à construção desse texto.

Palavras-chave:
Método Paulo Freire, alfabetização de jovens e adultos, escrita.

A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá

mas não pode medir seus encantos.

A ciência não pode calcular quantos cavalos de força

existem

nos encantos de um sabiá.

Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.

Os sabiás divinam.

(Manoel de Barros, Livro sobre nada, p. 53)

Introdução

Meu interesse fundamental pelo inacabamento do Ser Humano é um dos traços


marcantes que caracterizam minha formação acadêmica, meus anos de experiência
profissional como educadora e bancária, assim como minha própria trajetória de
vida. Surge daí meu envolvimento, desde 1993, com a alfabetização de pessoas
jovens e adultas e um diálogo constante com a obra Paulo Freireana, uma vez que
esse educador afirma que na medida em que somos capazes de nos perceber como
inconclusos, limitados, condicionados, históricos, "inventamos a possibilidade de
nos libertar. Percebendo, sobretudo, também, que a pura percepção da inconclusão
[...] não basta. É preciso juntar a ela a luta política pela transformação do mundo"
(Freire, 1994: 100).

Nos anos de 1980, por questões profissionais, mudei-me do interior do estado do


Rio de Janeiro para o Rio Grande do Norte, onde vivi por quatro anos num
município que fazia parte da Diocese de Mossoró.Engajei-me na ação
evangelizadora pastoral, que tinha uma tônica político-social significativa,
congregando: o MEB (Movimento de Educação de Base), a CPT (Comissão de
Pastoral da Terra), a Comissão de Justiça e Paz e as CEBs (comunidades eclesiais
de base), que buscavam fortalecer a vida comunitária, valorizando os saberes
populares. A Diocese de Mossoró recebia fortes influências vindas de Recife, terra
de Paulo Freire, que foi palco de diversos movimentos de cultura popular, onde a
arquidiocese esteve muitos anos sob o pastoreio de D. Hélder Câmara - uma figura
emblemática no Concílio Vaticano II, conferência que renovou o catolicismo e
possibilitou uma maior participação de leigos (as) e religiosos (as) na Igreja, povo
de Deus.

Ao ler De Kadt (2007), que fez um estudo sobre o MEB, de 1961 a 1966, pude
compreender a força da influência pernambucana em um contexto em que a
Conferência de Puebla, reeditou[1] nos católicos latino-americanos o compromisso
com as lutas populares e com a transformação da sociedade. Ações marcantes na
década de 1960.

O Método Paulo Freire, a Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas e o BB


Educar

Embora extensa, considero importante a citação a seguir, que evidencia influências


das condições históricas nas experiências vividas por Paulo Freire, em sua visão
pedagógica.

Segundo De Kadt (2007):

Para todos que participaram de um ou de outro movimento progressista de


inspiração cristã, a ação era da maior importância. Seus militantes se reuniam e
debatiam sobre os males gerais do capitalismo ou sobre a perversidade do
imperialismo. Os marxistas reconhecem a "unidade de teoria e prática"; os
progressistas católicos compartilhavam esse princípio, não apenas como resultado
das raízes comuns de suas respectivas filosofias na dialética hegeliana, mas
também como resultado da preocupação com "engajamento" no pensamento
existencialista. O princípio tinha vários corolários importantes, além da idéia
psicologicamente fundamentada de que a conscientização não seria possível a não
ser que fosse acompanhada do uso prático do conhecimento recentemente
adquirido (a conquista de resultados sociopolíticos práticos). Mas, mesmo em
circunstâncias pré-revolucionárias, este processo era lento. Somente em algumas
áreas, especialmente em Pernambuco (grifo nosso), essa experiência avançou a
ponto de conduzir a resultados permanentes de conscientização, antes que o golpe
pusesse fim a quase todas as práticas progressistas (p. 129).

Conforme Saviani (2007), na primeira metade dos anos de 1960 "a educação passa
a ser vista como instrumento de conscientização". A partir daí, a expressão
"educação popular" assume o sentido de uma "educação do povo, pelo povo e para
o povo". E segue afirmando:

O clima favorável a essa mobilização e a essa metamorfose conceitual foi


propiciado pelas discussões e análises da realidade brasileira efetuadas no âmbito
do ISEB e do CBPE, pelas reflexões desenvolvidas por pensadores cristãos e
marxistas no pós-guerra europeu; e pelas mudanças que o espírito do Concílio
Vaticano II tendia a introduzir na doutrina social da Igreja. As principais iniciativas
que medraram nesse clima foram os Centros Populares de Cultura (CPCs), os
Movimentos de Cultura Popular (MCPs) e o MEB [...] Os MCPs tiveram origem no
MCP criado em maio de 1960 junto à prefeitura de Recife [...] o MCP de
Pernambuco, cuja experiência serviu de base às idéias desenvolvidas por Paulo
Freire [...] (grifo nosso) (p. 315/316).

Concordo, pois, com Saviani (2007), que a concepção Paulo Freireana foi a
expressão mais acabada da orientação que esses movimentos seguiram e que teve
maior repercussão no Brasil e no exterior.

Como bem afirma Paulo Freire, que como todo intelectual traz as marcas do seu
tempo e de sua história em sua produção, esta concepção não esteve descolada da
realidade.

Freire (1977, apud Oliveira, 1988) afirma:

A compreensão crítica de minha prática no Brasil, até março de 1964, por exemplo,
exige a compreensão daquele contexto. Minha prática, enquanto social, não me
pertencia. Daí que não seja possível entender a prática que tive, em toda a sua
extensão, sem a inteligência do clima histórico em que se deu (p. 34).

Embora tenha ouvido falar de Paulo Freire e de uma pedagogia libertadora em


meados dos anos de 1980, somente no ano de 1991 me aproximei, concretamente,
de suas obras, quando me candidatei à vaga de alfabetizadora voluntária no
Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos do Banco do Brasil, junto à empresa
em que trabalhava.

Contudo, somente em 1993, em São Paulo, fiz o curso de formação de


alfabetizadores (as) do BB Educar. Inicialmente desenvolvido pela PUC-SP- Núcleo
de Trabalhos Comunitários, o Programa contou com a assistência, até 1997, do
Professor Paulo Freire, que afirmava: "Hoje, eu tenho uma certa autoridade como
educador em dizer, em fazer discurso em beira de estrada que esse é um programa
pelo qual vale a pena lutar, pelo qual vale a pena brigar"[2]

Ao participar do curso e tomar conhecimento do Método Paulo Freire de


Alfabetização de Adultos comecei a me dar conta de que nosso trabalho pastoral
seguia aquela mesma metodologia. Livros e todo material didático utilizado no
curso me deixavam extasiada, sentia-me em terreno conhecido.

Particularmente neste texto tenho o objetivo de refletir sobre os processos de


alfabetização de pessoas jovens e adultas no Brasil, a partir do Método Paulo Freire,
no que tange ao aprendizado da escrita.

Os caminhos da EJA no Brasil de hoje

Segundo Haddad (2002), falta, ainda, um balanço geral da influência da matriz


freireana na EJA. Entretanto, esse mesmo autor afirma:

No que concerne às concepções de EJA, o pensamento freireano continua a ser a


referência a partir da qual os pesquisadores aderem, tecem críticas ou incorporam
novos aportes (seja Celestin Freinet, Emília Ferreiro, Lev Vygotsky ou Luria). A
matriz da alfabetização conscientizadora/educação transformadora de Freire é o
ponto de partida de uma série de experiências curriculares, metodológicas ou
organizacionais (p. 16)

Considerando, pois, a influência marcante de Freire[3] na alfabetização de pessoas


jovens e adultas, empreendi pesquisa bibliográfica em busca de trabalhos que
apresentem alguma crítica à pedagogia freireana. Detive-me em três dissertações
de Mestrado: Bortolozo (1993), Cruz (1987) e Oliveira (1988)[4], que teve em sua
banca de defesa o próprio Paulo Freire e no trabalho de Paiva (2000). Os demais
trabalhos pesquisados, dezenas de artigos, tratam do legado de Paulo Freire, mas
não apontam críticas às suas concepções, abordam revisões, complementações,
explicitações que esse educador faz em seus escritos, as influências teóricas que
recebeu e sua contribuição à educação, tratam, enfim, como afirma Scocuglia[5]
(1999), da existência de "vários" Paulo Freire.

Segundo Rossi (1982: 90-91 apud Scocuglia,1999)

[...] um erro comum na análise do trabalho de Freire é exatamente ignorar-se a


clara evolução das suas concepções, que começa por um idealismo moldado por
sua vinculação ao pensamento católico moderno, chegando até seu crescimento em
direção à abordagem dialética da realidade, que caracteriza seus últimos escritos.
Se sua Educação como prática da liberdade é influenciada por concepções de
Jaspers e Marcel no filosófico, a Pedagogia do oprimido já mostra uma clara
aproximação da melhor tradição radical, de Marx e Engels aos modernos
revolucionários [...] e de outras linhas de análise crítica contemporânea [...}(p.
27).

Concordamos com Scocuglia (1999), pois também para nós está bem claro que a
obra de Paulo Freire sempre seguiu um caminho coerente, num movimento em
espiral, em que o autor aborda temas recorrentes, sempre num movimento de
revisar, ampliar, recriar, complementar seus escritos, como afirma Fávero (2007).

Freire (1999), ao conceber Educação como Prática da Liberdade, obra em que


apresenta seu método para alfabetização de adultos, o faz num contexto em que
era alarmante o nível de analfabetismo no Brasil: 16 milhões de brasileiros (as)
analfabetos (as) excluídos da escola.

Di Pierro (2008) afirma que a categoria para melhor definir os sujeitos da EPJA é a
da exclusão pelo fato de contemplar o conjunto de processos socioeconômicos e
culturais que possibilitam explicar a distribuição desigual do analfabetismo e do
atraso escolar nas sociedades, levando em conta gênero, geração, etnia, além da
distribuição geográfica da pobreza, zonas rurais e urbanas.

Vale ressaltar que a Educação de Pessoas Jovens e Adultas (EPJA), regida pelo
paradigma compensatório, centrado em programas escolarizados e recuperação do
atraso escolar, ocupa posição marginal no Brasil, tanto nas políticas, quanto nos
sistemas educacionais.

Levando em conta os sujeitos da alfabetização de pessoas jovens e adultas, o BB


Educar[6], programa de que participo há 16 anos, tem como lema: "Ler, escrever,
libertar..." Entretanto, a palavra libertar, de inspiração freireana, uma vez que
libertação é um princípio fundamental da concepção de educação de Freire, sempre
me causou certo desconforto, especificamente neste caso, pelo sentido polissêmico
que pode adquirir ou até mesmo pela dubiedade que sugere, pois muitos
acreditam, ao contrário daquilo que foi discutido por Freire ao longo de suas obras,
que apenas o aprendizado da leitura e da escrita é suficiente para trazer a
libertação a um indivíduo.
Vale ressaltar que na concepção freireana esse libertar pressupõe uma práxis
pedagógica com a participação livre e crítica dos (as) alfabetizandos (as). Freire
(1999) afirma explicitamente: educação como prática da liberdade. Essa liberdade
pressupõe sujeitos históricos, indivíduos que se deixam afetar pelos desafios de seu
tempo, que não são meros espectadores, mas que interferem em seu meio, e lutam
pelo inédito viável, como nos diz Freire (1987). Não é nossa intenção discorrer
sobre libertação/liberdade, mas entendemos como algo que se dá não apenas na
interioridade do ser humano (consciência e desejo), mas também no âmbito
sociopolítico.

A partir da minha experiência com o Programa BB Educar, concebido com base nos
princípios de uma educação libertadora, que tem como objetivo contribuir para a
superação do analfabetismo no Brasil, por meio de atividades educacionais voltadas
para a alfabetização e a promoção da cidadania entre pessoas jovens e adultas,
elegi, para dialogar com este texto, Oliveira (1988), que em sua análise focaliza
principalmente a escrita no Método Paulo Freire. Assim como essa autora, venho
estudando os modos de constituição da escrita em pessoas jovens e adultas em
processo de alfabetização.

Com base na referida autora, busco ressaltar suas críticas às concepções de Freire
no sentido de contribuir para Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas do Brasil
de hoje, mais especificamente no âmbito do Programa BB Educar, que mantém
convênios com entidades diversas localizadas em todos os estados brasileiros.

Para subsidiar minha análise, recorri a uma experiência que tive, em que uma das
maiores dificuldades que alfabetizadores (as) e supervisores (as) apresentavam era
a compreensão de como escolher/trabalhar temas geradores e palavras geradoras.
Essa experiência se deu quando realizei um trabalho de acompanhamento
pedagógico a um programa de alfabetização de pessoas jovens e adultas, Lendo e
Aprendendo, da Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte, em parceria com
os programas Brasil Alfabetizado, do Governo Federal e BB Educar, da Fundação
Banco do Brasil. O acompanhamento, que durou 15 meses (de outubro/2005 a
dezembro/2006), aconteceu em nove municípios, situados em diferentes regiões
daquele estado, com turmas de alfabetização localizadas na capital e região
metropolitana, em municípios de portes médio e pequeno, nas zonas rural e urbana
e em comunidades quilombolas e pesqueiras.

É importante esclarecer que as entidades que estabelecem parceria com o


Programa BB Educar assinam um termo de convênio em que se comprometem a
adotar a metodologia do Programa nas turmas de alfabetização de jovens e
adultos, ou seja, o Método Paulo Freire, articulado às contribuições de Emilia
Ferreiro e Vygotsky, de maneira que assume um enfoque sócio-histórico-cultural
sobre o processo de ensino e de aprendizagem da leitura e da escrita.

Todo o curso do BB Educar está estruturado numa concepção dialógica de


educação, que pressupõe interação, diálogo entre quem aprende e quem ensina,
em que educador (a) e educandos (as) se colocam nos círculos de cultura. Isso
significa que o próprio desenrolar do curso se dá nos moldes do Método Paulo
Freire, pois a prática é uma das exigências fundamentais da pedagogia freireana, e
se espera que os (as) alfabetizadores (as) ao vivenciarem essa metodologia no
curso de formação, levem-na para suas salas de aula. O espaço do dialógico e
dialético, muitas vezes novo para os (as) participantes, é uma oportunidade para
que todos (as) se expressem, argumentem e discutam. É a possibilidade do diálogo
como pronúncia do mundo, como afirma Freire (1987), que não é tarefa de homens
seletos, donos da verdade, mas direito de todos (as).
O curso se organiza em unidades temáticas, temas geradores, pois também se
espera que os (as) alfabetizadores (as), em suas turmas de alfabetização, tenham
como ponto de partida o tema gerador, a partir das discussões nos círculos de
cultura sobre a visão de mundo de alfabetizandos (as), para que se sintam sujeitos
de seu próprio pensar, uma vez que, como afirma Freire (1987: 98): "investigar o
tema gerador é investigar, repitamos, o pensar dos homens referido à realidade, é
investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis."

Dos temas geradores que surgem dos círculos de cultura nas turmas de
alfabetização, o (a) alfabetizador (a) deverá escolher as palavras geradoras a
serem trabalhadas na sala de aula. Surge aqui um ponto contraditório na proposta
de alfabetização de Freire, segundo Oliveira (1988: 9), com quem concordamos:
"se no momento de decodificação da realidade, alfabetizandos/alfabetizadores se
assumem como sujeitos no desvelamento dessa realidade, o mesmo não acontece
em relação ao processo de criação do conhecimento sobre a escrita".

Contradição por quê? Parto do princípio de que a linguagem é constituidora e


constituída na/pela atividade humana. Numa perspectiva bakhtiniana
(Bakthtin,1988), todo o dizer está carregado de valores, não existem enunciados
neutros.

Esse mesmo autor afirma que a palavra está sempre relacionada às estruturas
sociais, posto que, penetrando em todas as relações entre os indivíduos, é tecida
por uma multidão de fios ideológicos, enredando todas as relações sociais, nem
sempre harmônicas, são também relações de conflito, relações de poder.

Se discutimos idéias, como impor aos (às) alunos (as) que comecem a aprender a
ler e a escrever a partir das palavras que nós, enquanto alfabetizadores (as),
selecionamos? Por que negamos a eles (elas) o direito de escolher as palavras que
querem aprender a escrever, da maneira que sabem/podem escrever? Se
entendermos o diálogo enquanto pronúncia do mundo, como afirma Freire (1987),
essa pronúncia não pode se restringir à fala, às opiniões e visões de mundo que são
verbalizadas. O (a) alfabetizando (a) também tem o direito de poder pronunciar seu
mundo através de sua escrita.

Sendo assim, a linguagem, não somente oral, mas também escrita, deve assumir
um papel preponderante nos contextos de ensino e de aprendizagem, para que os
(as) alunos (as) possam expressar seus pensamentos, suas palavras, seus mundos,
para que se sintam sujeitos dessa prática social. Se o (a) aluno (a) pode dizer sua
vida, deve também poder escrever a sua vida.

Compreende-se, então, a linguagem como uma prática social. Ao desenvolver a


linguagem oral, que não pode ser vista como algo que não se relaciona com a
escrita, o aluno desenvolve também a língua escrita, pois a língua escrita influencia
a fala de quem aprende a escrever.

Nesse processo, a linguagem não está "solta no ar", ela está diretamente
interligada à realidade, pois entre a leitura de mundo e a leitura da palavra há um
ir e vir constante, e isso nos afirma o próprio Freire (1987).

Dessa maneira, segundo Mortatti (2007: 166): "ensinar a ler e a escrever é ensinar
a ler e produzir textos (orais e escritos) que permitam ao sujeito se constituir como
tal no âmbito de uma sociedade letrada".

Considerando-se essa afirmação acima, pode-se questionar: o que se deve ensinar


a escrever? Deve-se buscar ampliar as possibilidades de usos e funções sociais da
língua escrita para que nos processos de alfabetização de pessoas jovens e adultas,
os (a) alfabetizandos (as) possam se constituir, através dos textos escritos que
produzem, como sujeitos que buscam atribuir sentidos para suas vidas.

Desafios

A breve discussão que fizemos sobre a aprendizagem da escrita na alfabetização de


pessoas jovens e adultas, a partir das palavras geradoras, tem o intuito de
contribuir para que os (as) alfabetizandos (as) se sintam sujeitos nesse processo ao
optarem por aquilo que desejam aprender a escrever e para que tenham autonomia
de elaborar hipóteses sobre o funcionamento do sistema de escrita, pois não basta
apenas dizerem suas vidas através das palavras, mas escreverem suas vidas com
suas próprias palavras.

Sempre é oportuno lembrar que se a realidade constitui um grande desafio para a


práxis pedagógica, é fundamental que se busque a visão do sentido da
alfabetização e da educação de pessoas jovens e adultas e da prática docente.
Nesse movimento, não se pode esquecer a situação desumana, de exploração e
miséria em que vivem milhões de brasileiros (as). Paulo Freire foi, com certeza, um
de nossos maiores educadores, que com coerência norteou sua vida e sua obra em
favor dos oprimidos, marginalizados, miseráveis, espoliados, sem voz e sem vez.
Para que o inédito viável aconteça é necessário que construamos o amanhã a partir
da transformação do hoje. Para isso, precisamos assumir-nos como sujeitos
históricos na luta pela construção de uma sociedade justa. Esse é o desafio: de
ontem, de hoje e de enquanto houver injustiças sociais e direitos humanos negados
e violados.

BIBLIOGRAFIA:

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 4. ed. São Paulo: HUCITEC,


1988.

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Campinas. 1993.

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Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade
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DE KADT, E. Católicos Radicais no Brasil. Brasília: UNESCO, MEC, 2007.

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[1] A Conferência de Puebla, de 1979, renovou compromissos assumidos na
Conferência de Medellín (1968), fortemente marcada pelo Concílio Vaticano II, pelo
"ar novo" que trouxe à Igreja. As linhas pastorais que foram tão marcantes na
década de 1960, começam a brotar novamente.

[2] Entrevista concedida, em 1993, aos educadores do BB Educar. Gravada em fita


VHS, a entrevista é usada no vídeo institucional do Programa BB Educar.

[3] Vide a notícia a seguir, publicada em uma revista de circulação nacional voltada
para a educação: "Pernambuco organiza aulas contra o analfabetismo - O método
Paulo Freire é o alicerce da nova iniciativa para Educação de Jovens e Adultos de
Pernambuco: ensinar 300 mil pessoas entre 15 e 29 anos a ler e escrever até 2010.
O programa, que recebeu o nome do educador, é composto de ciclos de dez meses,
sendo que os dois últimos são dedicados à iniciação profissional das turmas. Em
2009, a meta é alfabetizar 120 mil pessoas." (EJA. Pernambuco organiza aulas
contra o analfabetismo. Nova Escola, São Paulo, Ano XXIV, n.219, jan/fev 2009).

[4] Essa dissertação me foi indicada por Osmar Fávero, professor do Programa de
Pós-graduação em Educação da UFF, estudioso e contemporâneo de Freire, que foi
orientador da autora no período em que fez seu curso de Doutorado. Segundo o
professor, é o único trabalho que conhece que faz uma crítica consistente (grifo
nosso) ao Método Paulo Freire.

[5] Segundo Scocuglia (1999: 27), a maioria dos trabalhos sobre Paulo Freire,
publicados até o final dos anos oitenta, no Brasil, leva em consideração apenas
seus escritos iniciais. A desconsideração da continuidade de sua obra, na qual
vários conceitos, categorias e relações são revistos sob outras óticas, constitui
obstáculo intransponível à compreensão do pensamento político-pedagógico do
autor, como um todo.

[6] De acordo com dados disponíveis em: <http://www.fbb.org.br/bbeducar>,


atualização em 30/05/2008, o BB Educar conta com: 366.526 alfabetizados (as);
55.930 alfabetizandos (as) e 35.027 alfabetizadores (as) formados (as) pelo
programa, dados relativos a todos os estados da federação e distrito federal.

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