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JOHN LOCKE ENSAIO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO Tradugio de Anoar Alex Fundador VICTOR CIVITA, (1907-1990) (el Eaitora Nova Cultural Lida. Copyright © desta edisto 1999, Editora Nova Cultural Lida Rua Paes Leme, 524-10" andar CEP 05424-010” Sto Paulo = SP. Coordenagio Editorial: Janice Forde ‘Chefe de Arte: Ana Suely Dob Pagina: Nate Fernandes da Siva Dirctos exclusives sobre as tradugies deste volume: aitora Nova Cultural Ltda, S80 Paulo Diretos exclusivos sobre “Locke - Vida ¢ Obra” Eaitora Nova Cultural Lida Impressfo e acatamento: Gréfca Ciculo ISBN 85-13-00906-7 Vena permit somente em conn comm sie de jos VIDA E OBRA CConsultora de Carlos Estevam Martins ¢JoB0 Paulo Monteito ‘A ttsr0tia poli datngltre do séalo XVI tem como mat: cot tem nds on ano de 108 109 Em Te, faeces abet {ise 160) ea coon colada na ceva cde ame Sto (866129, Em 6, Revolugio Clon fer sper ao tomo cel Gutherne fc nange (6504709 sun esposa Mana 602 eh, Ente aul dus orrram os conftesdetremes do abuso do pode: pr pate Gee tants do innatin ds Stunt a tenttvas Le console des inser do fungus reas poe sus epesenaner a Glinara dos Comers No cul ation, o abate dos Tudor constiua expresso dos terse ta teen a cs spins eps do sb dene prod Henge Vil 1-34) Heabeth fo ‘Bn muitobesem martrscu poder com dasa aprtncan degoverno opua. Quad desea Gestear didn Ge poplar vidos, ‘oriam fomaldae de ober provera paramentar guano mses “Siva ris dni, ablam somo fae ara que ts eprops pric dna vlutnie dos epesetants do pore Nowtclo XV, conto aatuaiastrouse-A brgucsa eta sufcentemente orld fora prendre governs fons pa. SStcarseu domino sores rats Acrorertvete 0 ate de {eo shears Sar ado tno a mesma hblidde qu sup ae ue nine | por velar Henge Vda Fang 58610) SRimava“oimbeal mas tere da randade’ pecedia fad Irena a autre rl ho poder divin. Sus suceores cambiar pte mess vise edo 9 elo XVI cot marendo pls constants Polio ene a atoidade veal e autosdade do Parlannte. Eases com tor ses spc lose, envolvendo poets conta cat icon mu snretado eam eepesto de inter een veer tes, Am das oposigdes entre a aristocracia medieval e a burguesia,con- trapunhamse os intereses da burguesa metcanti,protegida por priv legios de monopélio,e de novos stores que procuravam quebrar esses rmonopélios, alteando as relagesexistentes no comércio internacional ‘Ao lado dessas fora, havia ainda uma nova classe de empresirios age cols e novas camadas urbanas,interessadas na expansio da indstria de transformagio, 0 resultado dos conftes fi a derrota final do absolutismo com a Revolugfe Gloriosa. Em 1689, a Cdmara dos Comuns triunfou, mandando chamar Guilherme de Orange e sua esposa Maria, que se encontravarn refugiados na Holanda, Outorgando-Ihes o poder real, o Parlamento bur- gus deiava claro que esse poder era derivado do seu ¢ nele deveria fundamentarse, Méoico, FLdsoro & Potirico "No navio que tansportava Guilherme de Orange esta esposa Matia encontava-se ofilésofo John Locke e sso ao era ola de simples aaso. Locke participosativamente do processorevolucionsrio realizado em set pals e essa paticipagao podera er remontada até suas orgens fanvliares John Locke nascou a 29 de agosto de 1621, no seio de wma fama de burgueses comercianies da cidade de Bristol. Quando estourow are volugio de 1688, seu pai adotou a causa dos purtancs e alistou-se 10 cexército do Parlamento. [Na mesma época, Locke estudava na Westminster School, e, em 1652, tansferiuse para 0 Crist Charch College de Oxford, instituigio & qual estaria ligado até 1684, primeiro como aluno, depois como fellow’ Em Oxford, Lacke deseneantow-se com oaristtelsmo escolistio all en- sinado, mas recebeu também duasinfluéneias fundamentals para 0 curso posterior de seu pensamento: ade Jon Owen (1616-1689), que enfatizava 3 importncia da tolerinca religiosa,e a de Descartes (1596-1650), que 0 ibertou "do inintlgivel modo de falae” dos escolisticos. Ses interesees como estudante foram bastante diversiicados, abrangendo desde a qu mica © 2 meteoroloia até a telogi. Finalmente, optou pela medicina ‘comoatividade pofissional. Datam dessa época sua aizades com Robert ‘Boyle (1627-1681) e Thomas Sydenham. Boyle repudiando a teora ais totlia dos quatro elementos (jgua, at, terra ¢ fogo), foi o primeio a formula 0 maderno coneeito de elementos quimicos.O segusto revol cionou a medicin clinica, abandonando os dogmas de Galeno (130-200) ulashipotesesespeculativase baseando o tatamento das daencas a cobservagio empiria des pacientes. Locke integrava, assim, 0 circulo da _queles que valorizavam a experiéncia come fonte de conhecimento,« a ‘bra posterior sistematizaria a filsofia empinsta. Nesses anos, redigis fama pequena obra em Iatim, Ensis sobre Let ds Natures, Emborafortuitament, sua dedicagio & medicna experimental tam- bbém servi para fazé-loingressar nos ctculs politicos da Inglaterea. En 1666, Locke tornou-se méico de Anthony Ashley Cooper (1621-168), posteriormente lorde eprimeiro conde de Shaftesbury. Como obteve si ‘cess no tratamento, Ashley © empregou como médico particular e acabou por atribuirlhe outs fungdes, como a de seu assessor Locke paticipou, assim, da elaboragio de uma consttugio para a coldnia de Carolina, s tad na América do Norte. Em Exoter House, esidéncia de lore Ashley tem Londres, Locke convivia com os mais altos ezculos intelecuaise po Iiticos da época. Nesse periodo comesou a ecrever um de sas obras principais, © Enso sole o Entendimento Humano,na qual trsbalhasia du ante quase Vinte anos. Com a rpida ascensto de lorde Ashley, multpicaram se suas oct pagdes politat. Em 1672, lorde Ashley recebeu o titulo de conde de Sha tesbury e tornou-se Presidente do Consetho de Colonizagio + Comérco; logo depois, scene 20 cargo de chanceler. Acompankando-o, Locke tomnou-se Secretirio para a Apresentagio de Benefcios, devendo cvidar de todos os problemas elesisticos. ‘Shaftesbury representava, na politics britinica os interesses do Par- lamento ¢ cada vez mais opunhs-se as medidas do soberano Carlos Il (6530-1685), corueaias a estes interessese que tentavam fortalacer 0 ab- solutisma, Em 1675, Shaftesbury fot destituido de todos 08 seus cargos © Locke foi também obrigado a abavdonar a8 atvidades politica, Visjou entdo para a Franca onde permanecera durant és anos ese relaconaria com of citculos intelectuais de Montpellier e Paris. Em 1679, voltou & Inglaterra encontrando-a em grande agitacio poltica. Shaftesbury, lider dda oposigio a Carlos estivera pees, mas voltaraa fazer parte do govero, «em 1678, desempenhando as fungGes de Presidente do Corslho Pivado. Os servis de Locke foram novamentesequsitades, mat sins teases com govern do monarea Carlos Il no durariam muito tempo, Ea 168, Shak tesbury,acusado de cher uma rebcio para depor 0 saberano foi peso © compelido a trocar a Inlatra pela Holanda, one falece em 1683. Locke pasowa ser vigido pelo partido do ree também acabou procurando refigio ‘ma Holanda, onde eustaliberdade de pensamento (Os Princinios Dx ToLERANe “Meseo na Honda os agentes de Carlos I peseguiam Loeke, que se stag, em Amsterdam, sob 0 ome de dr Van der Linden. Apesar de por ‘gio, coreeguapelasnare com Jean Lelers (1657173), eice de um pe ‘ico Iter inulado Bédotar Unoosal « Mitren. Para esa publica, ck continua com vrios aig, Conta eno 54 ans de dade ‘Saas principais obras, contudo, s6 seriam publicadas entre 1689 & 1690, a0 voltar Inglaterra, depois da vitria do Parlamento ra Revolusso Gloriosa e consequent ascensio ao tone de Guilherme de Orange e Maris [esses anos, Locke publicou a Cart sobre a Tolertnia, 0s Dois Tratados sobre 0 Gover Civile 0 Ensio sobre 0 Entendimento Humano. A primeira Carta sobre @ Tlerdnciacausou muita polemica e Locke escreveu outras nes, Nelas,advoga a liberdade de conscigncareligiosa (um dos principals temas polticos da epoca), sustentando a tese de que o Estado deveria ‘apenas cuidar do bemvestar material dos cidadios e nio tomar partido ‘de uma religio. O Princio Trtado sobre 0 Coro Ciil combate ironica- rent, a tere desir Robert Filmer (1588-1653), defensor do absolutismo dos Stuart segundo a qual os monarcasreinantes remontavam seu poder ' Adio « Eva. O Segundo Tratada do Govern Ci desenvolve a8 tees pollicas bernie de Locke, O Ensaio Sobre o Eniondimento Huomono seria fu obra mais important do ponto de vista estitamente os6fico. Alem dessas obras, Locke public Aluns Pensamentos Referens Esso, em 163 e Racionaidade do Crastinismo, em 1695. prima & expecamente importante por consttuir wma aplicagio de sua teoria empiista do conhecimento acs problemas do ensino. Locke sustentava que "pode-se levar,faclmente, & alma das eviangas numa ou neuta dizes30, como «8 prbpria égua’ (Os itimos anos da via de Locke foram relaivamente calms den tro da nova stuagio politica criada pela Revoluio Glriosa. Depois de ‘iver dois anos com o modesto cargo de Comissério de Recursos erecusat ‘oferta para desempenhar as fungdes de embaiador em Brandenbutgo, pssous esiie nas tertae desir Francis Mashan. Naresiddncia de Mashan, fm Oates, recebia& visita de seus amigas, entre os quas Isaac Newton (0642-1727, um dos eriadores da fisiea moderns. Ein 1636, Leckeassumi ocargode Comissro da Chmarade Comérco, sendo obrigadoa desleca-sfequentemente ate Londres. Quatroanos dep, fo a snide jf debltads, renunsiou a0 cargo, dodicandose a uma vida de ‘meditagio e contemplago, Morr no dia 27 de outubro de 174, |A Caines 40 Iariswo Durante toda a vida, Locke partcipou ds tutas pela entregs do poder 8 bunguesi, classe a que petencia. Na época, isso signifieav tar contra a teocrciaanglicana e sua tesesleitimadoras a de que o poder do re seria absoluo ea de que esse poder dina respeito tanto 20 plano spiritual quanto 20 temporal soberano tendo diteta de impor a nas80 deterinada crengae determinada forma de culo ‘Locke insurga-se conta esas tess poitias,vinculando-as a teses {ilos6fieas mais eral, fandamentadas, em sitima isténeia, numa certa {ecoria do conhecimenta. As palavrasinicias do Ensaio sobre o Eniend ‘mento Humano si0 muito mais claras nesee sentido. Relatando as cir ‘Gunstancas da origem da obra, o autor diz que o Ensaio resultou das ‘ifculdades surgidas para resclucdo de um problem files6fico,abor ‘dado em discussso fortita entre amigos: diame da dificuldade, Locke sugeriu uma previa indagagio solve a extensdo eo limite do entendi- mento humano. A indagacio proposta acabow por se transformar na ‘obra com a qual 0 pensador pretendia “fundomentat a tolerineia rel Bios filosstics Papel fundamental no Enso é desompenhado pela andl cits da doutrina das ideas nats. O problema surgi na mente de Locke pela Jeitra da obra O Verdadsro Sista Tutslechual do Univers, de autora de ‘um dos prncipaisanimadores da escola patna de Cambridge, soo Ralph Cudwerth (1617-1688). Esse pensadorsustentava que a demonstra. ‘oda verdade da existancia de Deus exige o pressuposto de que o homem ossul ideas inatas, ito € dias que se encontram na alma desde o nas clmento, que, portant, nao derivam de qualquer experénca, Para Cud- worth, « doutrna empirsta, segundo a qual "nada esté no ineecto que antes no tenha estado nos sentido’, conduz diretamente a0 atesmo © por isso deve se combatda. © livto I do Ensaio de Locke & desicado & critica do inatismo de- fersido por Cudivorth Locke procura demonstra que inatismo & uma ddoutrina do preconcito,levando dirctamente 20 dogmatimo individvia. ‘Se os principios fossem verdadeiramenteinatos, consttuiiam uma cer teza iredutive, som nenhum outto fundamento a nfo sera afirmagd0 o individuo, Critiea ainda o inatismo, afirmanda que os principios chamados inatos deveriam encontar-se em todos os individ, come aspectos constants e universals, Mas iso, entretanto, nfo ocorre. Exa- rminando-se os individuos — diz Locke —,vetfica-se que apenas uns ppoucos conhecem, por exemplo, os princpios de identidade e contra Aigio lgicas. Da mesma forma, nem todos conheceriam os principios da vida pritica, como “age com relagd0 20s outs coma gostaias que agissom com relagdo af ‘Alem de negar que os principios supostamente chamados inatos Sejm uraversais, Locke afirma que eles nto tee maior ublidade, pois seria possvelchogar mals a0 exato conhecimento sem nenbuma necessi- ade de ee recotre a ees, Para jelgar que o doce nio € amaego, por ‘exemplo,bastariapereeber o doce eo amargo em separado; imediatamente Sse concluiria que sio diferentes. Nesse caso, no haveria a menor neces sidade de se utilizar o principio de identidade Iigice, segundo a qual & limpossivel que uma coisa sejadistnia dest mesma, Analogamente seria potsivel, segundo Locke, provar a existéncia de Deus sem nenhura fa damentaclo numa suposta ida inata de Deus; ou sea, 0 chamado “ar ‘gomento ontoldgico” nio teria nem validade nem ullidade, Santo Agos tino (354-430), Santo Anselzs (1035-109), Descartes (1596-1650, defen- sores do inatsm, afirmavam a existncia no espirito humano, antes de ‘qualquer experiencia, da iia de um ser perfeito: dai concluam sua exis- téncia autdnoma. Ao contri, segundo Lock, a existanca de Deus po ‘dera ser demonstrada por uma variante da prova "por conlingéncia do ‘mundo’ a existencia do ser contingente, que € 0 homem (conhecimento ‘dquirido pela experiéncia),supoe a existéncia de um ser eterno, todo- poderosoe intligente. Alem disso, ano universalidade da ideia de Deus ficariacomprovada pelo fate de que i selvagens que seriam intiramente desttuds dessa idea ‘A ctica ao inatsmo, realizada por Locke, evowo a conceber @ alma humana, no momento do masciment, como uma "tabula rasa, una ‘spécie de papel em branco, no qual iniclalmente nada se encontea escrito ‘Chega, enti, &conclas3o de que, seo homem adulto poss conhcianent, ‘esta alma é um "papel impress’, outros deverdo ser os seus confess: sas idéias provenientes — todas — da experiénca. ‘Locke procurou, ent, descobre quas seriam os elementos corti- tutivos do conhecimento, quais as suas origens e processo de formacio, equal a amplitude de sua aphiabiidade. Em outra pslavras, se homer ‘io possul idéasinatas — 20 eontririo do que afiemavam Piato (428/7- 5318/7 aC), Agostinho, Descartes e outros —, perguntase: como pode 0 bhomem consituir um conhecimento certo e indubitavel e em que casos isso € possvel? ‘Que Stcasrica Pensan? No livro Hl do Enso sobre 0 Entndimento Humans, Locke eomaga por afizmar que as fonts de todo conhecimento so a experiencia senvel fa refleo, Em si mesmas, a experiéncia sensivel ea relleso nio cons ‘stuiram propriamenteconheciment;seriam, ante, process que suprem 2 mente com os materiais do conhecimento. A estes materas, Locke dé ‘nome de ideas, expressto que adie, asim, o sentido de tod e qual: quer contedido do processo cognitivo. "dei é, para Locke, 0 objeto do Ghtendimento, quando qualquer pessoa pers; a expresso "pensa”é as fm tomada no mais amplo sentido, englabando todas as possveis av ades cogritivas.Incuem-se no significado da expresso ida” os "Tan tasmas (entendidos, por Locke, como dads imediatamente proverientes dos senidos), leabrangas, imagens, nogSes,conceltesabstats. ‘Asidlas de sensagio proviiam do exterior, enquanto as de reflexio teria origem no prdprio interior do individuo, Ness sentido, expresses ‘como "amatelo’ “bance”, “quent” designam idias de sersagao;enquanto ts palavras “pensar "duvidar’, "rer" nomeiam ine de reflexio. Estat dune categoris de ideias seriam recebidas passivamente pelo entendi mento e Locke Ihes di © nome de “ideas simples ‘A simplicidade da dia no decorreria de enum carser interior 1 ela mesmas: seriam simples as idas que no se pode ter a nso ser ‘mediante experincias bem concretas, com fro e quene, doce e amargo ‘te. Estas experiéncias coneretas forneceriam idias simples de tr por: de sensagio, de relledo e de ambas 20 mesmo tempo. Exemplos das, primeiras sio 0 quente,o slide, o duro, 0 amargo, a extensio, 0 mov ‘mento; entre a segundas,encontiam-se a atengo, a meméria, a vontade, finalment,idéias simaltaneamente de sensagio e reflexso seriam as de cexisténcia, duracio, némero. ‘A nogio de idéias simples coloca de Smediatoo problema de saber se elas sdo mesmo representatvas, isto é imagens das coisas exteriores 430 sujet que as percebe. Para melhor solacionar a questio, Locke ‘separa as idéias simples em dois grupos. O primeiro ¢ formado por {déias “enquanto percepsdes em nosio esprit o segundo, “enguanto ‘modifcagdes da matéria nos corpos causadores de tais percepcies Estas iltimas seriam efeitos de poderes ou poténcias capazes de afetar 0s sentidos humane ‘Tal distingio conduz Locke a wma outra entre quaidades primsrias ‘© qualidades secundaria dos corpos extrires 2 mente. Assim, Locke transite da teoria do conhecimento para a teria do mundo fisio, As (qualidades primévas seriam insepardveis dos corpos, tis como a soldez, 2 extensio, a figura eo movimento; mesmo que um cero corpo se Vidido em dois, 3835 qualidades pesistriam nas partes resultanes. AS ‘ualidades secundaris, 20 contraro,ndo persistram e no estariam nos ‘objeos senio como poderes para produzir vias sersagdes nos suetos percents; assim ocorre com os Sons, os gostose as cores. ‘As idéias simples constitiriam os elementos com oF quais se formam as ideias compostas, que se dividem em dois grupos. O pri- 1meito & constituido por idéias simples combinadas na ideia de uma coisa nica, como por exemplo 2 idéa de homem ou de ouro. O segundo ‘formado por iddias que se retinem para formar uma idéia compost, ‘mas que continuam representando coisas distntas; &o que ocorze com todas as ideias de relagto, como a de filiaglo, que une, sem alters, as ‘das de pat filbo (© primeiro grupo, por sua vez, subdivide-se em duas classes: das de modo das coisas que no podem subsstir por si mesmas (am trlingulo ‘ou um niimero, por exemplo) eas substincas que, como diz a propria palavea, subsistem por si seria o caso da idéia de homem, entre ouras Os proprios modos dividemese em simples e compostos, ou mistes. Nos primeros a idéia simples combina-se corsigo mesma, como a idéia de ‘imeros, que resulta da combinagio das ideias de unidades; ou a de ‘xpago, proveniente da combinasio das ides de partes homogeneas. Os ‘mode compostos, 4 mists, derivam da comunicacio de dels simples heterogdneas, como a iddia de beleza ou de assassinate [A SuasrAneta IncocNoscivet Segundo 0 projeto de Locke, a tooriselaborada no Ensaio sobre 0 Eentendimento Haneano possbiitasa encaminhar de ovtra forma a sou: ‘lo de muitos problemas filossticos, que 26 as teorias inatstas se jul Gavam eapazes de resolver, Dentre esses problemas, of mais impor Tantes, a seu ver, eram os referentes is nogbes de Infinit, de poténcia fede substinca ( infinite ¢ concebide por Locke como um modo simples, resultante dda repetisio da unidade homogénea de nmero, duracso e espago,dis- tinguindo-se do finitota-somente pelo fato de que tal repetigSo no ter limite, Prtanto, also — diz Locke — consideraro infinite como anterior 230 frto e que frit sea uma limita do infinito, Plas mesmas raze, € falso também conceber tum infinito de peroiio, diferente do into de quantdade. A ideia de poder & concebida pelo autor do Enso como um modo simples, formado pela repetida experiéncia de certas mol provadas nas coisas seetveis eno proprio homem. Este chega ppovler, quando nots que suas idéis se modificam sob influgecia das im [presses dos sentidos ou por esclha de sia propria vontade. A ideia de poder formarse‘ia também quando o homem imagina a posibilidade de fais modifiapbes vem a ocorrer no futur; nesse caso produzem-se as idias de poténcia ava, referent Aquilo que causou a modificagto,e de potéreia pasiva, que diz respeito aquilo que sofre a modificagao. Mas, ‘em geral, iia de poténcia atva sera uma idéia de reflexdo, proveniente das modificages produzidas pela vontade do homem as coisas externas; fesse sentido, a vontade & uma poténcia ativ O terceiro problems sbordado por Locke foi 6 da natureza da substincia. A substincia sempre fot entendida como realidade prim tiva, mas filésofo algum — pensa Locke — foi capaz de dizer claramente ‘que entendia por esse substato de todos os atributos. No Ensaio sabre 1 Enlendimento Humaro encontra-se a tese de que as insufiiéncias das dloutrnastradicionaisdecorrem de terem os filésofoserradamente con- fxbido a substincia como uma ida simples, quando, na verdade, se trata de idéiacomposta. Tomando-e como exemplo 0 auto, de acordo coma tese de Locke, sua substancia no seria mais do que tm conjunto Ge ideias simples, que a experiéncia mostra sempre agrupadas: amarelo, ‘dict, denso ete. Nesse caso a substincia no seria mais do que um modo misto, que & também tim grapo constante de idias simples deno- ‘inadas por uma 6 palavra, saa tee de Locke sobre a substincia nfo significa, contudo, que cle aimasie a realidade como formada excusivamente elas ideas sim- ples; Locke admute a existénca real dae subetincias, mas acha que elas ‘nia podem ser conhecidas em si mesmas. A tese de Locke €, assim, ferente ao conhecimento nio tem, propriamente, um significado meta fisca. A subetincia reduci-se-ia a wma espécie de infinito em ao; existe ‘mas nko se pode saber 0 que sea, e a tinica inwestgacio possvel € 2 pesquisa experimental das qualidades que nea coenstem. Dessa forma, pra conhecer os corpos que compoem 3 ealdade exterior ao homem, & ‘tuficiente considera a substincia um conjunto de ideas simples de sen- sacdo. Analogamente, deve-se entender a realidade interior alma, na me- tafsca medieval) como conjunto de idlas de relexdo, (Os FUNDAMENTOS DA CeRTezA Depois de analisar 0s materiais constiuintes do entendimento hu- ‘mano, 0 Frstio aborda o problema dos limites do conhecimento © suas formas egitimas, ou sj, a verdade. Para oauter,oconhecimento constitui percepeio de conveniéncia ou discordancia entre 3: ides © xprese-se través dos juios. rata, portano, da percepciode vncules, que podem ‘ser de tes pos identdade (ou diferenga), quando se diz que A é Bou A ‘fo By reli, como a expressa na fase “Toso & filho de Paulo”, ou ‘qualquer outa referent a semelhanca e dessemelhanga, maior € menor fe, e de coexstecia ‘Além desses tis tipos de vinculos entre as ids, exitria uma ‘quarta classe de conveniéncia,referente no as relagdes possiveis entre as proprias ins, mas & corespondéncia que uma ida poss ter com a realidad exterior ao expt amano. Nos termos do proprio Locke a quarta Classe de conveniénca €"a de uma exstneia real eatual que convém algo fj iia temos em mente’, A percepyso da exiténeia — diz Lake — € lnvedutivel a percepsio de uma relago entre dus iia, em vitude de a festincs nio ser uma iia como a de doce ow amargo, quente ou fa [Exisem vin epics de certeza com relagio existncia das coisas. Uma primeira espéce a certeza intuit, proveniente da rellexao, ue o homer tem de ss prpriaexisinia, Uma segunda expe seria a certeza demons trativa da exstnca de Deus. Finalmente, uma trcira epic € a “eteza por seneagio’,referente aoe corposexteriores 30 homer. 'A duslidade dos juzos,separando de um lado as relagoes que se poctem estabelacer entre ae préprias ids e, de outro, aquelas que se ‘eforem a exsténia real dos correspondents as dias, coloca-se também ‘quanto ao problema da verdade ede sua contraparte, a falsidade, Segundo Locke, hi ds eategoras de juizos falss. Na primeira categoria, a elaclo ‘expresa pela linguagem no corresponde a relagio percebidaintutiva: mente entre as ins. Na segunda, 0 erro no corsste em perceber mal ‘uma relago, mas em percebé-la ene ideias rio correspondent a qual- «quer realidad. No primeio caso € possivel,evtando ero, formular-se ‘um juizo verdadeiro que, no enfant, nada diz rspeito& realidade; é 0 {que ocore quand, por exemplo, se diz que cavalo alado no € centauro, Somente no segundo caso se pode ter conbecimento rea. Este, contudo, supe os dois elementos da verdade: conveniéncia dae idsias entre sie as idias em roagio a reaidade. Da distngio entre dois pos de verdade deduzemse dois ipos de dlisciplinas cientifias, O primeira tipo — pensa Locke — & constituido ‘plas matemticase peas cgncias moras; elas todo 0 conhecimento é Absolutamente certo porque seu contetdo io ideias produzidas pela pro ria mente humana, Locke afi, por exemplo, que € peretamente de- ‘monstravel que o homieidio deva ser casigado; a certeza dessa demons- tracio seria to segura quanto a de um teorema matemstico. O segundo ‘ipo € 0 das céncas experimentas, que formariam uma drea de conhe- cimento a qual acereza das cncias ieais(matemticas © moras) no ‘sta presente A cereza, no dominio das cincias experimentais, depen: daria do critrio de verfiacSo da conveniénca enze as ideias que estdo za mente humana ea reaidade exterior a ela, [EsrADO NATURAL E LineRDADE. ‘A teora do conheciment exposta no Enso sobre o Entenimento Humane corett uma longa, pormenorzada e hal demonstraio de uma tise: a de ge © conbecimert ¢ furdamentalmente derivado da experincia serve. Fora de seus Limits, a mente humana produzit, por si mes, iin ca valde residiria aperas em sua compatbilidade inera, sem que poss ‘onsieréas expresso de uma ralidade exterior 8 propria mente ‘As teses soca politica de Locke camiaham em sentido parle, [Assim como mio exstem idéias intas no espisito human, também m0 teste poder que possa ser considerado inatoe de origem divina, come ‘queriam os tebricos do absolutism. Antes, Robert Filmer (1588-1653), 0 Autor de O Parizrr,e um dos defensores do absolutismo, procurara de ‘monstrar que o povo nao ¢ livre para escolher sua forma de governo € ‘que os monarcas possuem um poder inate. Contra O Patra, Locked rigia seu Prineiro Tratado sobre © Gaverno Cio: depois desenvolven sas {das no Segundo Tratado, Nele, Locke sustenta que o estado de sociedad «,conseqientemente, © poder polco nascem de um pacto entre os ho- ‘mens. Antes desseacordo, os homens viveriam em estado natal ‘Atese do estado e do pacto social tami fra defendida por Tho: mas Hobbes (1588-1679), mas 0 autor de O Levat nha obetivos intel ramente opostos aos de Locke, pois preteaiajustifiar 0 absolutismo. A diferensa entre os dois resultavabasicamente do que entendiam por estado natural, acarretando diferentes concepes sobre a natueza do acto socal fa estrutura do governo politico, Para Locke, no estado natural "ascemos livres a mesma mestida em aque rascemos racionais’. Os homers, por onseguinte, seriam guns inde- percents © governados pela razlo. O estado natural sera @ codigo na qual o peder exeutivo da lei da natureza permanece exclasivamente nas :maes dos individu, sem se tomar compa Tos os homens partciparam dessa socedade singular que €2 hurankdade,ligarwo-se pelo ame coma da razio. No estado ratural toes os homens team o destin de preservat a paz e a humanidade e eviar fre os dirites dos outes. Entre os dietos que Locke considera ratras, esti o de propiedad, 4 qual os Das Trikes o Gaver Ci concedem especial destague. Aleit 8 propriedade seria natural e anterior &sociedade civil, mas no inate Sua orgem resiiria na relaio concreta enze © homem e a5 cosas, ara o process de tabalho. Se, grasa este, o homer tasiorma as coisas — pens Locke —, 0 homem adgureo dieto de proprisdade: "Todo homer possui uma propriedade em sua peépria pessoa, de ta fema que a fadiga de seu enepo eo wabalho de suas mos io seus’ Assim, em haga de opoe ‘trabalho & propredade, Locke sustentaatese de que o trabalho & a origern ‘© ofundamento da propriedade. As coisas sem wabalho teriam pouco valor, «seria mediante o trabalho que elas devariam o estado em que se en- ‘ontram na naturers,tomando-se propriedades, “Vivendo em perfeta iberdadee iguakdade no estado natural, o ho mem, contudo, esara exposto a certs inconvenientes. O principal seria 2 possivel inclinagio no sentido de beneficiar-se a si proprio ou a seus amigos. Como conseqiéncia, 0 gozo da propriedade ¢ a conservagae da Uiberdade e da igualdade fata seriamente ameagados. Tstamente para eit a concretzagio dessa ameacas,o homem teria ahandonado 0 estado natural e crado # sociedade politica, através de um ontato no entre governs e governades, mas entre homens igualmente livres palo socal no ciara nehum dieto novo, que viese ase acres ‘cenlado aos diets naturais © pacto Seria apenas um acordo entre indi ‘os reunidos pata empregar sua for coletiva ma execu das les naturals, renunciando a executslas pela mos de cada um. Seu objetivo seria a pre servacio da vida, da liberdade e da propredade, been como reprimir a vio~ Iagiesdesses dries natuais. Em opesgio sida de Hobbes, Locke acre cla que, através do pot social,os homens ro renurciam aos seus proprios direitos naturas, em favor do poder dos governantes. 'Na sociedad politics formada pelo contrato, as leis aprovadas por matuo consentimento de seus membros ¢ aplicadas por juizes imparciais tmanteriam a harmonia geal entee os homens. miituo consentimento Colocaria os individaos, ques incoeporam através do paco, em condigdes Ge instar a forma de governo que julguem convenient". Conseqiente- mente, 0 poder dos governantes sera eutorgade polos participantes do pocto sociale, portanto, revagsvel. Hobbes achava que a rebelizo dos Sidadios contra ae autoridades constituas 56 se usin quarto os go- ‘Vernantes renunciam a wsar pleamenteo poster absolute do Estado. Con- tra ess tse, Locke justice o direito de ressténeia einsureigio, no pelo {desuso, mas pelo abuso do poder por parte das autoridades. Quando um [governante se torn tirano,coloc-se em estado de guerra contra 0 povo, Fst, se nto encontrar qualquer reparacio, pode revolae see esse dieito ‘uma extensio do dreto natural que cada um teria de pun seu agressor Para. o homem, a razio de sua pariipagso no contato social evitar © cstado de guetta, © esse contrato & quebrado quando o governante se toloca contra o povo. Madiante o pacto socal dieto legislative e exe- tivo dow individuos em estado de natareza & transferido para a soce ade, Esta, devido a0 proprio cariter do contrato seca, limita © poder politico, © soberano sera, assim, o agente © executor da soberaria do povo. Fate ¢ que estabelace os paderes legislatva, exeestivo ejadicitio {nck distingue © processo de contrat socal — criador da comunidade — io subseqiente proceso pel qual» comunidad confia poder plico sum govero, Esses processos podem ocorrer ao mesmo tempo, mas so ‘aramentedistintos; embora contratualmente relacionados ents 0s In- tegrantes do povo mio esto contratualmente submetidos ao govermo. E 10 povo que decide quando ccorre uma qucbra de confiang, pois 56 0 homem que confia poder ¢ capaz de dizer quando se abusa do poder Com suns iis poitias, Locke execet a mais profunda influéncla sobee © pensamento ocidental Sass tesesencontrantse na base das de smocracis liberais. Seus Dos Tatas sre 0 Govern Cit ustiicaam a revolugio burguesa ra Inglaterra, No século XVII os saminsts franceses foram buscar em suas obras as principaisidins responses pela Revo gio Francesa. Montesquiew (1689-1755) insprou-se em Locke para for smular a teora da separacto dos trés poderes. A mesa inflagnela encor- trae nos pensadores americanos que colaboraram para a deciaragho da Independencia Americana, em 1776

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