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Presidenta mãe ou mulher, feminina ou feminista?

José Eustáquio Diniz Alves1

“Deixo em tuas mãos o meu povo e tudo o que mais amei/ mas só
deixo porque sei que vais continuar o que fiz/ o país será melhor e meu
povo mais feliz/ do jeito que sonhei e sempre quis/ As mãos de uma mulher
vai nos conduzir/ O meu povo ganhou uma mãe que tem um coração que
vai do Oiapoque ao Chuí/ deixo em tuas mãos o meu povo” (Jingle eleitoral
de Dilma Roussef).

"Estão querendo infantilizar o Brasil com essa história de pai e de


mãe" (Marina Silva, do PV).

As pesquisas indicam que a eleição presidencial de 2010 vai ficar marcada pela alternância de
gênero. Pela primeira vez na história uma mulher pode chegar ao cargo máximo de Poder
Executivo do Brasil. Tudo isto, provavelmente, com uma votação consagradora, já no primeiro
turno, indicando que o eleitorado não discrimina o sexo feminino. As pesquisas indicam que
tanto homens, quanto mulheres votam em mulheres, pois Dilma e Marina superam em muito os
outros sete candidatos masculinos à presidência. Mas o que este processo eleitoral representa para
as mulheres e para a equidade de gênero no país?

Não resta dúvida que as eleições de 2010 têm sido as eleições mais femininas na história do
Brasil. Mas, certamente, não foi uma eleição feminista em seu conteúdo. Dilma Rousseff tem
uma trajetória de vida que pode ser classificada como feminista, pois participou da luta contra a
ditadura, casou e se separou, nunca seguiu o modelo patriarcal de dona de casa, construiu uma
carreira profissional no Rio Grande do Sul e, no governo Lula, disputou influência nos espaços
do Poder Executivo, tornando-se a candidata à sucessão de um governo que, durante 8 anos, teve
baixa participação feminina em seus quadros.

Mas a campanha de Dilma não tem tido um contéudo feminista. Ao contrário, usou e abusou de
discursos que reforçam o papel tradicional da mulher, especialmente no papel de mãe, expresso
no slogan: “Pátria Livre, Pátria Mãe”. Por que não falar unicamente em Mátria Livre? Segundo
Terezinha Vicente, militante feminista histórica do PT, em crítica apresentada no artigo “Não
basta ser mulher”, cabe às candidatas à Presidência defender a plataforma histórica do
movimento feminista: liberdade, autonomia, igualdade, luta contra a subestimação do trabalho da
mulher, contra a violência doméstica, contra a exploração de seus saberes e fazeres e de seu
corpo coisificado, etc. Segundo a autora:

“Quando Dilma diz: ‘Nós, mulheres, nascemos com o sentimento de cuidar, amparar e proteger.
Somos imbatíveis na defesa de nossos filhos e de nossa família’, valorizando estas funções como

1
Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Expressa seus pontos de vista em
caráter pessoal Tel: (21) 2142 4696 ou 2142 4689 E-mail: jed_alves@yahoo.com.br. Artigo publicado em
28/08/2010.

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grande qualidade das mulheres, ela colabora com os valores do patriarcado e dos
fundamentalistas na defesa de que lugar de mulher é na casa, no lar e na família. E o
capitalismo agradece pela continuada escravidão da mulher na gloriosa produção e reprodução
da vida, e fornecimento de mão de obra farta, e barata”.

Ainda segundo Terezinha Vicente, quando Dilma fica à sombra de Lula isto reforça o estereótipo
da mulher “dependente e submissa - a que não protagoniza, assessora; não trabalha, apenas
ajuda o homem; acompanha, enfeita”. De acordo com a autora:

“Quando Lula diz que a cédula terá um vazio, ‘e para que esse vazio seja preenchido, eu mudei
de nome e vou colocar Dilma’, brincando, ele reforça a velha crença na mulher inferior, que
precisa do homem, afinal ela foi saída da sua costela. As feministas petistas estão preocupadas,
pois sabem que o cenário destas eleições dará a oportunidade de difundir propostas históricas
das mulheres, sua visão mais horizontalizada e colaborativa da política”

Sandra Starling, outra feminista histórica do PT (e que foi deputada federal petista por Minas
Gerais), também critica a forma como as questões de gênero têm sido tratadas na campanha de
Dilma Rousseff:

“A julgar pelas declarações do mais credenciado eleitor do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a
mulher está mais que pronta para ser presidente porque foi ela quem carregou o filho no ventre,
trocou-lhe as fraldas, deu papinha, curou a gripe, levou à escola, até o entregar a outra mulher -
a sua, isto é, a dele, seu filho. Segundo Lula, a mulher é também mais corajosa que qualquer
marido, pois não hesita em partir para a briga com o vizinho que ‘enche o saco’, e o homem
ainda quer conversar. ‘As nossas mulheres têm coragem de fazer brigas que nós não fazemos’, e
por aí afora, um verdadeiro rol de frases feitas machistas que revelam o papel que Lula tem
reservado às mulheres: o de mãe de família e esposa”.

Sandra Starling também critica a forma como a candidata foi escolhida dentro do PT e como tem
sido tratada no pleito de 2010:

“Essa convicção, a convicção de Lula acerca da ‘importância’ da mulher, explica por que foi ele
quem decidiu em primeira e última instância que uma mulher seria sua sucessora. Sem ouvir
ninguém, muito menos a própria candidata, que mostrou orgulho de ter sido por ele ‘três vezes
escolhida’: ministra das Minas e Energia, da Casa Civil e, por fim, candidata do PT. Tudo isso
reunido, talvez seja bom colocar nossa cabeça no lugar e constatar que, outra vez, a julgar pelo
que pensa o mais alto mandatário deste país, a mulher continua sendo considerada apenas
objeto de manipulação eleitoral”.

Evidentemente este discurso que trata a polis com se fosse o oikos, ou seja, substitui a disputa no
espaço público da política pelo discurso do cuidado e do acolhimento familiar, tendo bons
resultados eleitoriais, especialmente entre a população mais necessitada. Porém, pode reforçar a
idéia dos donatários, dos coróneis e dos monarcas que deixam suas “Terras” para herdeiro/as que
vão cuidar de seus súditos. Não deixa de ser uma renovação do velho paternalismo. Dilma tem
sido tratada quase como uma “Princesa Isabel” que vai herdar uma “caneta” e assinar uma lei de
libertação do povo pobre e oprimido, povo este que ainda não teria atingido a sua maioridade e
precisa ser tutelado por uma mãezona.

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Neste sentido, é apropriada a crítica formulada pela candidata Marina Silva (PV), durante o
debate Folha/UOL no dia 18/08/2010: "Estão querendo infantilizar o Brasil com essa história de
pai e de mãe".

Sabemos que, em geral, os marqueteiros (os profissionais do marketing especializados em criar


imagens com base em pesquisas qualitativas) são aqueles que dão o tom da campanha eleitoral e
estão mais preocupados em conquistar votos do que em defender as idéias de liberdade,
autonomia feminina e equidade de gênero. Contudo a idéia de transformar Dilma em “Mãe do
PAC” ou “Mãe dos pobres” pode, diante das primeiras dificuldades do futuro, transformá-la em
Madrastra do povo brasileiro, ou como nos estereótipos das histórias da carochinha, em Má-
drastra.

Todavia, a candidatura de Dilma Rousseff já atingiu uma dianteira tão grande nos percentuais de
intenção de voto, desde o final de agosto, que já é hora de aprofundar o debate das bandeiras
históricas do que interessam ao conjunto das mulheres brasileiras e não somenta às mães e donas
de casa. Por exemplo, a “Plataforma Eleitoral 2010 pela igualdade de gênero, racial e étnica”,
elaborada pelo Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres dos Partidos Políticos, Conselho
Nacional dos Direitos da Mulher e com apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres, traz
importantes sugestões de políticas públicas, baseadas no II Plano Nacional de Políticas para as
Mulheres.

Seria importante que as candidaturas 2010 discutissem os temas sistematizados pelo movimento
feminista. A Plataforma Eleitoral pela igualdade de gênero é um documento que pode fornecer
subsídios para compromissos de políticas públicas com o eleitorado brasileiro nas eleições de
2010, trazendo prioridades em 11 itens, citados abaixo, com base nos 11 capítulos do II Plano
Nacional de Políticas para as Mulheres, conforme resumido abaixo:

I. Autonomia Econômica e Igualdade no Mundo do Trabalho com Inclusão Social

Combater a discriminação salarial, de sexo, raça, etnia, idade, orientação sexual, coibindo assédio
moral e sexual, e estimulando o acesso a cargos de direção. Defender a licença-maternidade de
180 dias, estimular salas de aleitamento materno nas empresas, assim como a criação de creches e
pré-escolas públicas. Promover a incorporação de mulheres de segmentos mais marginalizados ao
mercado de trabalho, com assistência técnica e qualificação profissional a vítimas de violência e
presidi e;rias.

II. Educação Inclusiva, Não-Sexista, Não-Racista, Não-Homofóbica e Não-Lesbofóbica

Aprimorar o tratamento de gênero, raça/etnia, orientação sexual e direitos humanos nas


orientações curriculares em todos os níveis da Educação Básica. Promover formação continuada
de profissionais de educação sobre relações de gênero, enfrentamento da violência de gênero e
orientação sexual e a situação de pessoas com deficiência nos sistemas público e privado,
elaborando e distribuindo material sobre promoção à saúde, direitos sexuais e reprodutivos. Criar
mecanismos para o acesso e permanência de mulheres de baixa renda na escola. Induzir estudos e
pesquisas na área de gênero, mulher e violência.

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III. Saúde das Mulheres, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos

Consolidar a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, assim


como outros Planos específicos sobre Enfrentamento à AIDS e DSTs, no âmbito penitenciário,
para população negra, LGBT. Assegurar métodos contraceptivos reversíveis e irreversíveis,
respeitando a autonomia feminina, e planejamento familiar adequado. Promover a assistência
obstetrícia qualificada e humanizada ao abortamento, parto, nascimento e às urgências e
emergências de forma a reduzir a morbimortalidade materna.

IV. Enfrentamento à Violência contra as Mulheres

Garantir a implementação da Lei Maria da Penha, assegurando recursos orçamentários.


Implementar nos estados o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, que
visa o enfrentamento a todas as formas de violência, com atenção especial às mulheres negras,
indígenas, do campo e da floresta. Incentivar a criação de Defensorias Públicas das Mulheres ou
Núcleos de Defesa da Mulher nas Defensorias Públicas e Promotorias Especializadas no
atendimento à Mulher ou Núcleo de Gênero nos Ministérios Públicos. Criar, reaparelhar,
reformar e fortalecer os serviços especializados no atendimento às mulheres em situação de
violência, como Centros de Referência, Casas-Abrigo, Delegacias Especializadas. Promover
campanhas educativas e culturais de prevenção da violência doméstica e familiar. Realizar
trabalho específico com mulheres em situação de prisão, reformando estabelecimentos penais,
garantindo assistência jurídica, cultura e lazer.

V. Participação das Mulheres nos Espaços de Poder

Criar e fortalecer coordenadorias e secretarias de mulheres para articular, coordenar e propor


políticas públicas para as mulheres. Criar e fortalecer também os conselhos estaduais/distritais
com função de elaborar, assessorar, fiscalizar e realizar controle social de políticas públicas para
as mulheres. Ampliar a participação feminina nos cargos decisórios no Poder Executivo e
Legislativo e defender uma reforma política democrática e com participação popular, com
financiamento público de campanha, eleições com listas fechadas com alternância de sexo e a
aplicação da Lei de Cotas com punição para os partidos que não cumprem.

VI. Desenvolvimento Sustentável no Meio Rural, na Cidade e na Floresta, com Garantia de


Justiça Ambiental, Soberania e Segurança Ambiental

Promover a incorporação da perspectiva de gênero e raça nas políticas ambientais e de segurança


alimentar, favorecendo o desenvolvimento sustentável. Promover acesso a mulheres urbanas,
rurais e indígenas a programas de microcrédito e de apoio à produção de bens e prestação de
serviços. Garantir a valorização e preservação dos conhecimentos tradicionais das mulheres
associados à biodiversidade.

VII. Direito a Terra, Moradia Digna e Infra-Estrutura Social nos Meios Rurais e Urbano
Considerando as Comunidades Tradicionais

Divulgar e aplicar normas referentes ao direito de acesso a terra para mulheres nos assentamentos
de reforma agrária. Implementar e ampliar os sistemas de distribuição de água potável e

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saneamento básico nas áreas urbanas. Promover a construção de cisternas para garantir acesso à
água nas áreas rurais e do semi-árido.

VIII. Cultura e Mídia Não-Discriminatórias

Estimular e garantir que os programas fomento, produção e difusão cultural valorizem a


expressão das mulheres e sua contribuição social, política e econômica, nas áreas rural e urbana.
Incentivar comportamentos e atitudes nos veículos de comunicação que não reproduzam
conteúdos discriminatórios e que valorizem as mulheres em toda a sua diversidade. Promover
campanhas que combatam discriminação e promovam novas relações de gênero.

IX. Enfrentamento ao Racismo, Sexismo e Lesbofobia

Promover ações afirmativas que possibilitem a inserção das mulheres negras, indígenas e lésbicas
na produção, gestão e execução de políticas públicas. Apoiar a aplicação de medidas punitivas
para os casos de discriminação e preconceito. Promover políticas que visem proteger as mulheres
lésbicas da violência em decorrência de represália a sua sexualidade. Apoiar pesquisa sobre
questões de mulheres negras e lésbicas no Brasil.

X. Enfrentamento das Desigualdades Geracionais que Atingem as Mulheres, com Especial


Atenção às Jovens e Idosas.

Promover a incorporação da perspectiva geracional nas políticas públicas direcionadas às


mulheres. Apoiar a implementação do Estatuto do Idoso e do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Assegurar o acesso das mulheres à previdência social, buscando universalização da
cobertura previdenciária. Desenvolver programas de incentivo ao primeiro emprego para jovens,
com compatibilidade entre o estudo e o trabalho.

XI. Gestão e Monitoramento do Plano

Assumir uma gestão governamental transpassada pelas perspectivas de gênero, raça/etnia,


orientação sexual, geração e direitos humanos, baseando-se, principalmente, no II Plano Nacional
de Políticas para as Mulheres. Garantir o controle social sobre a implementação dos planos de
políticas para as mulheres e das políticas públicas.

Referencias:
Terezinha Vicente, Nao basta ser mulher, Caros Amigos, 18/06/2010. Disponível em:
http://carosamigos.terra.com.br/index_site.php?pag=materia&id=219
Sandra Starling, Elas continuam sendo objeto de manipulação eleitoral, O Tempo, 18/08/2010.
Disponível em: http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=12601
Plataforma Eleitoral 2010, pela igualdade de gênero, racial e étnica. Disponível em:
http://www.maismulheresnopoderbrasil.com.br/pdf/SPM_Plataforma2010.pdf

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