E STA D O D E M I N A S
4 BEMVIVER
MATÉRIA DE CAPA
Cirurgiões plásticos
alertam para
excessos,
especialmente na
implantação de
próteses de silicone,
que devem combinar
com a altura, peso e
largura dos ombros
As adolescentes pedem
até 300 mililitros.
A gente esclarece,
conversa, fica segurando
para não virar nenhuma
aberração
■ Fernando Campos Batista, cirurgião plástico
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O cirurgião plástico Ronan Horta ressalta que a adolescente precisa ter maturidade sexual para fazer, por exemplo, plástica nas mamas
Não aos
modismos!
Encontrar uma adolescente
que aumentou as mamas com si-
licone é praticamente impossível.
Uma delas, de 17 anos, aceitou ser
entrevistada e tirar fotos, mas ao
chegar em casa a mãe interferiu e
ela alegou que colocar ou não pró-
tese é um assunto íntimo e que
não gostaria de se expor.
A realidade, porém, revela que
de cada 100 mulheres que procu-
ram o procedimento, 20 são ado-
lescentes de 13 a 18 anos. A redu-
ção da idade e o aumento do ta-
manho das próteses têm preocu-
pado os cirurgiões plásticos. Há 10
anos, os implantes de silicone nos
seios variavam de 195 a 215 milili-
tros. Hoje, o tamanho vai de 255 a
285 mililitros. Há registros de ado-
lescentes de 13 a 15 anos que já
realizaram a cirurgia.
Para o cirurgião plástico Ro-
nan Horta, de Belo Horizonte, “o
implante mamário em jovens
pode ocorrer depois dos quatro
anos da primeira menstruação
(menarca), além da constatação
da maturidade sexual da pacien-
te. As mamas devem ter atingido
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o nível quatro – tamanho dos
seios de uma mulher adulta.
“As meninas estão menstruan-
do cada vez mais cedo. Entre as
brasileiras, a menarca ocorre por
volta dos 11 anos. Portanto, entre
15 e 18 anos elas já podem se sub-
meter à cirurgia. Se o corpo das jo-
vens desenvolve muito cedo, tam-
bém cai prematuramente e, mui-
tas vezes, a cirurgia é o caminho.”
Por outro lado, a evolução da
tecnologia e a alta qualidade dos
materiais utilizados na confecção
dos implantes tranquilizam o mé-
dico.Masaansiedadedasmeninas
que chegam ao consultório com a
ideia fixa e desejo de próteses
grandes, de 320ml, 360ml, não
dando importância à proporção
corporaleàharmonia,sãopreocu-
pantes. “Um implante em desa-
cordo com a estrutura física traz
prejuízo a curto e a longo prazo.
Altura, peso e largura dos ombros
devem ser levados em considera-
ção. Na adolescência, há uma
maior propensão a alterações dos
tecidos corporais. Implantes mui-
to grandes provocam em 28% dos
casos aparecimento de estrias in-
tensidade e atrofia da glândula
mamária. Na vida adulta poderá
interferir na amamentação. As
brasileiras possuem estrutura ós-
sea pequena, na maioria dos casos,
o tamanho ideal e mais harmôni-
co, após criteriosa avaliação, costu-
ma ser de 160 a 220ml”, revela.
Os anticoncepcionais e o mo-
dismo das calças baixas também
tem levado adolescentes em
busca de correções cirúrgicas por
meio da lipoaspiração. “Aos 18
anos, por exemplo, as alterações
de depósito adiposo no contor-
no do corpo estão sujeitas aos
efeitos dos anticoncepcionais. Já
o uso frequente das calças baixas
cria um volume acentuado de
gordura entre o umbigo e o pú-
bis: 80% das pacientes jovens
apresentam essa modificação
em função da calça baixa”
Ele alerta que em todos os ca-
sos o que conta é a relação de con-
fiança e cumplicidade entre o pa-
ciente e o médico. “O cirurgião de-
ve informar por escrito, em lin-
guagemdefácilacesso,todoopro-
cesso da intervenção para que não
seja possível ocultar possíveis fa-
lhas, bem como deixar explícito o
resultado de acordo com a escolha
da paciente”, explica.
O corpo humano é único e as
reações do organismo podem va-
riarcasoacaso.“Acreditoqueode-
ver de todo médico é preservar a
integridade de seus pacientes. Se a
joveminsistirnacolocaçãodeuma
prótesequenãoconsiderocompa-
tível com seu perfil, não opero. O
maior patrimônio que temos é o
nossocorpo,quedeveserrespeita-
do acima de qualquer vontade.”
Outro cirurgião plástico de Be-
lo Horizonte, Fernando Campos
Batista, acha que os jovens hoje es-
tão tão atualizados que já chegam
aoconsultóriomuitomaisbemin-
formadosdoqueasprópriasmães,
por causa da internet. Diz que o
mundo virtual também é respon-
sável pelo procura das adolescen-
tes em aumentar demais as ma-
mas.“Estãopedindoprótesescada
vez maiores.” Como Ronan Horta,
ele confirma que, há 15 anos, as
prótesesdesiliconenãopassavam
de cento e poucos mililitros e que,
hoje, as adolescentes pedem até
300. A gente, então, esclarece, con-
versa, fica segurando para não vi-
rar nenhuma aberração.”
Ele lembra também que a mu-
lher brasileira tem um quadril lar-
go, muito diferente das america-
nas, das quais estão copiando o ta-
manho dos seios. “Se põem ma-
mas muito grandes pode parecer
que estão gordas.”
NODIVÃ Apsiquiatraepsicanalista
Gilda Paoliello lembra que adoles-
cência significa passagem. Portan-
to, nem o corpo, o psiquismo ou a
própriaidentidadeestãoformados
e “ intervenções mais drásticas, co-
mopróteses,mudançadetraçosou
lipoaspiração,devemserevitadas”.
A adolescência é uma época de
mudanças hormonais, o corpo in-
cha, desincha. “Se o jovem tivesse
um pouco mais de paciência e os
pais mais capacidade de pôr limi-
tes, essas intervenções cirúrgicas
seriam realizadas alguns anos
mais tarde”, diz.
Ela, por exemplo, não se con-
vence de que uma jovem mais
gordinha, em torno dos 19, 20
anos, precise de lipoaspiração.
“Acho que uma dieta alimentar,
atividade física ou até uma boa
terapia poderiam ajudar mais e
com muito menos riscos.”
Para ela, a interferência da mí-
dia, com imagens idealizadas e o
culto ao corpo, está invadindo os
ideais dos adolescentes, que que-
rem uma beleza globalizada que
impõe valores, às vezes, questio-
náveis. “Por outro lado, se o jovem
tem alguma questão estética im-
portante, como orelhas de abano,
uma cirurgia plástica pode ser be-
néfica para sua inclusão no grupo
social e da própria identidade.”
Mas também acredita que até es-
ses casos são questionáveis. “Qual
cirurgião plástico teria o mau gos-
to de corrigir o nariz avantajado e
o estrabismo charmosíssimo da
atriz Barbara Streisand?” A respos-
ta fica com vocês. (DJ)
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