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5 eS Marcos Pusow Natau ‘Unlveriade de to Palo Resueo Polawas-chove Se, pars Goethe, posta de ua erie sda erate {Sa sorgusés posuere de de erro sock ersten de ar spon paso tao lees & = Seertode Troceso de cicalsn que com acon pas ssp Inertor ‘Go. atuinds vor bra» chor sng ae pe, sn ‘ec nana lie de vee meta de Herat eee Cond: senda depts deere: Igor abo dk ‘Sra Tues unvenal edane uma lita doco“ dc manos toa turned Atos Can, exe igo tena gue ‘uses de aa expsa ds ere ‘as Hers ninoamercans de mado do sete Xt ‘eum rs pninas dh pts Ge dn pore, om tn conepio une cusi tes re doa deena ds onguaies dacs ns Asoc oywords 1, for Goethe, the possibilty of a world literanre was assured by ‘World thee of ees tera, Mant hgh pata Irae te ted fara tie peso nego ti hat eats he cnt fo compar esp a tert rec val tigre The pce err ami ice nthe case icra rea he ron ee Cos Aerie rats nt the bc language of wo ra. fron ihe. tare. Thogh a reading of Antonio Candids ay “The Right to ‘tert, hs pape argues that eens to narat the ean slo of rau mi venedcenary Latin Arian er ‘ary hares were ofen ler tthe a of thes tv postions, ih universasc en inclusive ex of eeratre cotating the Aine of cal deus formations ss a ee eta 31 oct soning recent erence Cie ieyemns aceme peepee Sune nracmnan ee * Giado por Stef HosslUhlig, “Changing Fields The Dieedons of Goethe Wellin, ‘ Chsogher Pendergast ong) Deng Word Lert, Lando, Vers, 2004 . 367. * Segundo Johann Peter cera, cao ext David Darrsch, What Word iterate? Pincton, Princeton Unvesty Pres, 200, p.- dm, de, p 1, 2 Lee Sie Tteratura j estariasendo produsida em todo o mundo antes mesmo que fosse in- vventada a expressio “literatura mundial" As diferengas entre as laguas e entre a5, tradigSes lierdrias ndo impediriam a traducio e o dislogo, pois no fando os idio- ‘mas as tradigdes ~ como as moedas, para Goethe ~ se releriam a0 mesmo objeto. Nao tem sido facil para a teora literdria moderna esquivar-se de visdes universalists como essa. Nao ¢ incomum, anal, ue as reflexes sobre a lteratu- ‘aenfatizem justamente sua supasta fala de contormos, ua aparente a-historicidade, sua maleabilidade, sua adaptabilidade, seu nao-Iugar, sua iimitada capacidade de assimilacio, sua propensio a ~ conforme escreveu recentemente a erica Gayatri, CChakravorty Spivak “escapar do sistema”.* Os exemplos se multiplica, reves- Lindo o conceito de literatura de uma aura difusa de naturalidade, inclusive quan- do passamos a discussdes de especialists que se dedicam justamente & andlise do {endmeno literati. Assim sendo, até Antonio Candido, um eritico to sensivel a especificdade historica, esereveria em um ensaio de 1988 que “a literatura apatece claramente ‘como manifestacio universal de todos os homens em tadas os tempos", insstindo ue “nio ha povo e nao ha homem que possaviver sem ela" "Manifestacdo unt- versal”, “todos os homens", “todos os tempos”: sto palavras inesperadas,vindas de um autor cuja obra se caracteriza em tantos momentos justamente pela historicizagao do lterario, © ensaio continua, definindo a literatura como today as eriagbes de toque poco, ion ou damsco em todos os nies de ua sae, em todos es pos de elt, dade o que charamos flr, lend, cise ata ors als compere dies da produto eset da grandes czas [esse ensaio sobre °O direto literatura", texto que servird de base para a teflexio critica exposta aqui, declaragdo da universalidade da literatura leva ime- diatamente a uma teivindicagio politica: se todas as pessoas tem uma disposicso literati, se todos os povos tém uma pritca lteriria, se “cada sociedade cria as suas manifestagdesficcionais, poétcas e dramdticas, Se, enfim, a experiencia lite rita responde a “necessidades profundas do ser human", entio a literatura deve ser considerada um direito fundamental, um “ber incomptessivel", “uma necessi- dade universal que precisa ser satisfeitae cuja satisfacio constitu um dire? © * Gaya Chakeavory Spivak, Dethof«Diciine, New Yer, Columbia Univer Press, 2003, 952, » Antonio Candido, "O det & Meat in Vales excror, Sho Polo, Dass Cidade, 1095, pan, * td, don, "Id, bon, 241-3. Huma formolatosenlante ds questo em ue ens do autor de 1872:°A produto ea fat dest [ds erat] s sian mama especie de neces te sale isto ede fai, que decero€coestensiv ay homer, pot aparece invaiavelmene oma ‘ia, oro vid e como grapo, ao ldo desig dat ntceséades ms elementars to ‘ceorte no primivo eno cvizado na cra ena ado, no istudoe wo anata" (Anions Mags sm io ‘Mi dot 33 gesto de Antonio Candido ¢, portanto, inclusivo ¢ democratizante,e iso em um ‘momento em que se discutia que tipo de pats e que espécie de democracia deveriam, surgir dos anos de dtadura, um periodo em que se tentava imaginar formas menos auloritarias de pensar a cultura ea nacio. 2 [Nio é fortito que, na extensa obra de Antonio Candido, essa concepeio luniversalista do literdrio surja de forma tdo marcante justamente nesse ensaio em defesa da expansio do acesso a literatura Seu aparente a-historicismo pode nos ensinar algo sobre a natureza das reivindicagoes poltieas na democracia, a ambivalencia do diseurso dos direitos humanos ¢a relagio entre cultura e politica progresista, pois nele convivem dus formas de pensar essas questoes interliga- das, Ha no texto, por um lado, um modelo pedagdgico de democracia, em que a ccltura, uma forca civilizadora impregnada de positividede, se encarrega de trans formar as pessoas em cidadaos modemas,sendo inclusive & base do sistem edu cacional. Ao mesmo tempo, por outro lado, € possivel notar no ensalo elementos ‘de um modelo performativo de democracia, em que as pessoas so sempre ja poli- ticas, antes de qualquer pedagogia, eo valor da diversidade culeural € de alguma forma reconhecido.? A tensto entre as duas formas de penser certamente nio se limita a0 ensaio de Antonio Candido, e na verdade ilustes um impasse que se manifesta de vitias formas em muita politica cultural de esquerda, Se 0 projeto progresssta tem sido, historicamente, um projeto pedagagico, como conciliamos hoje o espeito & diferenca cultural com a missio educacional da esquerda, que setia iresponstvel abandonar por completo? Nos debates sobre os direitos culturas,o impasse surge no momento em que 0 direto a cultura passa a ser visto nio apenas como um diteto ao acesso a bens cultusasprvilegiados ~Aala cultura, mas também como odieito& especificidade caltural, ou se, o diteito a propria producdo culcural. Desde entéo, o discurso dos Candid, "Aterarae foraaet do home’, n Vil Dantas org) Tens de eren, 80 Plo, Dias Cidade, £34, 2002, p80. A confanga na universal de slgumas obras indus, verde, a peesenga bem mais ‘onsante naar do eco, aparcendo nto em textot mais oie ceo em andes de obs ‘spectias. Em “Ltentuaesubdesenaliment”, por exempo, vise no romance Grande ser ered “a uivesadade da elo” (, 162), em La casa verde de Maro Vargas Llosa form como oplorscoe #denancia so elementos ees, ane o Ingato aman que st mails, na ‘eastrusto do exo, com nanéncia das obras univers” (158), em autores cote Jose Mia Argues, Gabriel Gascla Marques, Agu Ros Busts Gules Rost “limes unieralnente sigiicavos”(p. 159) ¢, na mesma geraio de extn, “uma Dorada novelties marae refinamento tenco, gracas 20 qual as teldes se analguram e 08 sus conormos homeo’ se subverem,levando o tragos antes plotescos 3 se dercrmarm eae universidade™ (TOD) (dos em A edacagto pl nue &outes esis, Sto Pau, Ate, 1989). A listing fl formulada pelo hstonador Dipesh Chakbarey em *Maseums in Late Democracies", Haman Resch, IX, ml, 2002 asin, 4 entow eSiae ireitos humanos precisa administrar a tensio entre 0 universalismo de suas pro- posts, baseadas em umm humanismo liberal, e 0 reconhecimento, cada vez mais Gificl de evitar, da diversidade cultural do mundo, No ensaio de Antonio Candido, a tensto interna ver do fo de ele partir de um modelo performativo todos tém literatura, tudo ¢ literatura e terminar em um modelo pedagogico. Conviver, assim. a insistencia na universalidade daquilo que € defendlido — 0 literdrio - ea defesa da necessidade de levar algo especfico — umm certo conceitoe tipo de liters- tara a todos os poves. Segundo estudos antropologicos, alguns dos quaiscitados pelo proprio Anto- nio Candido,” no esta deforma alguma claro quea primeira afirmacto universalista = todos tém literatura ~ sea de fato verdadeira. Em todo caso, a asseveracio € ‘necessia para que o segundo passo ~o projeto de levar (cert) literatura as cas- ses subalternas ~ sea apresentado como uma resposta ao desejo dos proprios su- baltersos, e nio como decorrencia de uma concepedo politica especifica, e para que a defesa da literatura possa ser feita sem uma discussio das caractristicas especificas da visio de mundo a que ela pertence. Dentro do imaginirio politico escrito pelo ensaio, nfo patece haver alternativa possvel a are ea lteratera 6 poderi ser consdeads bens ico mpresves segundo a orpnicaco jot da sacle se eresponderem 2 necesiadesprofundas do ser human [1A nossa queso bis, por. ‘ao, ser ses terstara uma nce deste tipo. ‘A opcto por uma definigao inchusiva de literatura, abarcando desde diferentes {formas de oralidade até cancées populares, ¢claramente o resultado de um anseio democratizante, Mas talvez jseja posstvel, hoje, refltirmos sobre o prego da in- clusio em sistemas que imaginam comportar a multplicidade da experiencia hu- mana, No caso dessa discussio, o que precisa ser suprimido para que a inclisio ‘ocorra€ a espeificdade historicae conceitual de praticas discursivas que passa ‘ser reunidas soba categoria literatura. A natureca dessa supressio, no entanto, s6 ficaré clara se tivermos uma idéia mais precisa do que se entende,afinal, por litera: ‘ura. (8 propria dificuldade em defini olterrio,e consequentemente em ident- ficar o que nao ¢ literatura, é um sinal de como estamos embrenhados neste siste- ‘ma epistémico.) Somente se pudermos esbagar um conceito mais concreto de literatura conseguiremos identificar os limites do literario, vislumbrando aquilo {gue est alem de suas fronteiras¢ entendend, finalmemte sua expansio como um processo conflituaso, Ne caso do ensaio de Antonio Candido que estivemos lendo até aqui, a cons- trugto do conceito de literatura repousa sobre dois pilaes principas: a fiogdo ea © favonio Candido, “A Urea ea vida soci, Literatura sce, Sto Palo, Ci. itor Nacional, 1965, asin "Antonio Candido, 0 dco a Meat" pct, p24 eos Pn Naw ‘om dows 35, Inumanizagao. Assim, define-se a experiencia Iiterdria como algo que inclu “desde ‘fdio que canta as suas proezas de caca ou evoca dancando a hua chia, até o mais requintado erudito que procura captar com siblasredes os sentdos flutuantes de ‘um poema hermético"" ¢afirma-se que em todos as casos ocoree"algumna espécle de fabulagao".” Os objetos literéios sto “manifesacoes flecionais", ou se, re= [presentagGes que tém uma relagao obliqua e peculiar com a relidade extra-repre- sentativa. Na propria obra de Antonio Candido aparecem varias formulas para descrever a relagdo entre literatura e realidade, mas aqui a Mteratara¢ claramente ‘uma pritica discursiva com uma certa gutonomia em relagao a realidade, uma autonomia diferente daquela permitida a outras praticas discursivas ~ como a his- toria, por exemplo, E essa relagao particular com a realidade, ¢ importante lem- brar, vale tanto para as obras de Castro Alves e Emile Zola como pata a “lends, 0 folclore” eo canto do india. [Nessa linha, embora ndo sefa incomum que se wea literatura como uma pri- tica que esteve sempre live das amarras das normas historiogrificas e escapa de seu dominio, tora-se claro que a idéia de ficgdo ~ uma representacio verbal desvinculada da obrigacio de objetividade ~ s6 funciona se existir seu avesso — ‘uma representagio discursiva objetiva. A mediagio feita pela imaginagio ou pela subjeividade 36 distingue a relacao da literatura com o veal se howrer, como contraponto, uma pratica em que essa mesma mediagio nao acorta, assim como so pode existr o fetiche ~ a ilusio ~ se houver 0 sou contrrio, o fato objetivo." Se essa formulagao estiver correta, entdo nao ha literatura antes da historiograia, nem pode haver literatura, eomo nds a entendemos, sem: historiografia™ ‘A categoria literatura € uma parte fundamental dessa estrutura intelectual mo- dderna, ancorada na histria e na idéia de objetividade, pois com ela cria-se wim recepliculo para abrigar tudo aquilo que ndo ¢ histria. A partir dessa invengto dupla ~ da historia e do resto ~, essa cartografia moderna pode sair pelo rondo iapeando as formas discursivas que encontrass, independentemente das genea- logias particulates e dos sistemas epistémicos especficos que aninhassem as pit cas locais. Dessa forma, podemos chamar de “literatura” nao apenas poems, 10° tances ott dramas, mas também priticas discursivas veligiosas ~ as “lendas”, 0 “folclore”e o canto do indio de Antonio Candido. Todos, anal, no sto historia, Ao contritio do que afirma a conhecida férmula, para ler esses discursos como © tte, p 248 ° Ide, p22 "Nas palvas de Bruno Latour, “Por ws de extenaco do antics, esconde-se uma \eologi da eric (in Rel sate clo modem dos das fchs, ad, Sanda Mora, Bar, Ese, 2002p. 10), 1H wm relat escarecedor do process gradual que leva distin ene nto fsto na ‘storia da formagto do romance ings em Sandra Gata aseoncson (De le seo romance ingles do seo XV, to Palo Boerpo, 2002) Alem de esata contingtnsa eagle do ‘concen de ipo, o eto afr que dating ent aoe fio surgi em pte de ea neces sidade do stra legs, 6 Wao Siebale liceratura ¢ necesséia justamente a suspensto da crenca-—crenea na palaves sagra- dla, na indissociabilidade de significadose significant, na epresentagéo sem me- incl. Talver nto estejamar aqui muita diseantes da cena imaginada por Terry Eagleton: colontalistas ingleses, ao encontratem nativos de uma tera dstante, pen- ‘sim que esses estio entretidos em algum jogo come o criquete, quando na verdade estio tentando fazer chover* Em ambos os relatos, vislumbramos 0 mecanismo interno da expansao ce uma hegemonia simbolicae o imperialism de suas cate- gorias. A “literatura universal” e a “literatura comparada” funcionam, nesse siste ‘ma, como maquinas de tradusio. 4 ( segundo elemento em que se bascia 0 conceito de literariedade no enssio “O direto Iteratura” € a nogio de humanizacio. Do canto do tndto até a interatura cerudita: em “todos esses casos ocorre hummaniza¢io”. A literatura € “far indispen- sivel de humanizagioe, sendo assim, confirma o homem em sua humanidade”, A definigao de hutanizagio forneeida pelo texto esclarece que se waa de um rocesso que inclu o “exereicio da reflexio”, a “aquisicdo do saber” e o desenvol- vvimento da "percepcio da complexidade do mundo’. E por causa da centralidade concedida a razdo na experiénca lieraria que a literatura poder entio ser defini- 44a como uma priticadiscursiva com uma functo “ordenacdora” “Toda obra literé- ra pressupae esta superaczo do caos, determinada por uum arranjo especial das palavras ¢fazendo uma proposta de sentido”. ‘A énlase na capacidade que a literatura teria de dar sentido a0 mundo também 4 ressaltada em um texto bem mais recente, esse também escrito por urn exitieo conhecido por sua atengao a especificidade cultural. Ao defender o diteito a esere- ‘ver ¢ narrar, Homi Bhabha também eonvocard um vocabulario universalist ‘Cuando habo de “doch a nara me fr aed es format de comporaent aio uc ns permten representa las vias que Uevamos, carton la cenvencones as ota fue heres, disputorypropager ls es ees que nos Regan la forma me nara y ‘Srevernosa mantener Las eperancsyo tonres ms andes cre far] De prot ted edsube 5 senso le pnt, danse elie yen exe race air unacompresin rf sore st sma su omens hrc I que ed lar awn avd nn cada ‘Ecamina ex momens cna, ev was cna Sates y pons detrnas = "Teny Eagleton, As tsses do posmodemo, wad, EcabethBarbost, Ro de anc, Zabar, 1988, pH, Cliado em Vert Fell de Figoriredo, "A novtalga dos univers, in Eduardo F Coutisho (or) Fromeiras mapinadas: esltra mcionaVtesra internacional, Rio de Jneio, ‘Aeroplano, 201, p. 208 "Antonio Candid, “0 dit & erat" oc, p. 248,28 2 dem tion, 248. 2 idem tom 246 ® Mom Bhatt, “Del derecho a xii ta, Helena Recasens Pons, in Mathew J. Gitmey (org) La lobar dels derechos amas, Barcelona ria, 204, p. 188 as a a en dae 37 ‘Apesar das distincias de diversos tipos entre os dots critcos, 0 paraelo de- ‘monstra como estio proximas as suas concepgdes de literatura, ambas devedoras de um certo modemizma, Se até 0 titulo do enaaio de Bhabha ocoa 0 de Antonio Candido ~ embora nio sya insigeificante a passagem do substantivo “literatur a0 verbo “escrever"~,argumento do critic indo-britinico também serd democra- tisante e inclusive: El derecho nanar some gu exit wn crpromic ara crear “emule” ever ele ‘ray reinah pues tla repro estar rcs cultarales cme un “bien comin” pos separ qu musa demure se as en el ilogs yen la conversa O destaque dado @ inlusio no sistema dominante ea um espaco comum onde 5 diferencas possam conriver de forma harmoniosa pode ser, afnal, 0 pomto em. que se encontram o humanismo universlista ea tolerancia superficial do multicul- tutalismo, Falando em nome dos direitos humanos e em defesa da diferenca, am- 'bos os criticos contornam a questio da especificidade da literatura moderna Em todo caso, ¢ a tradugdo do canto do indio ~ e das “lendas", do “folclore” ¢ do mito, ou sej, da religito ~20 conceito de literatura o que permitica sua defesa em nome do bem comum de um patrimonio cultural universal, revelando os limites da proposta liberal de inclusto. Da mesma forma, segundo argumento re- cente de Slavo} Zizek, 0 Ocidente precisou primeiro traduzir as estatuas budistas do Afeganistio a0 vocabvltio da cultura universal pars s0 ento poder defender seu direito a existéncia, Para Zizek, o Taleha, em seu desejo de destrutr as estas, {oj capaz de reconhecer 0 que elas eram — imagens rligiosas - algo que o Ociden- te precsou slenciar em sua defesa. Assim, o esquema que fez “cultura” se tomnar categoria central do nosso pensamento “retira toda a diversidade do outro para {que possamos experimenti-lo”* Seria possivel alias imaginar a tentativa de pre= servar as esttuas colocando-as em um muse, assim como um criti humanista Juntaria textos sagrados e seculares em uma mesma bibliotec, esquecendo que o ‘museu ea biblioteca seriam, de cera forma, a morte daqueles mesmos objetos.> en, biden, p. 189. Un ersio exemplo de uma reindeagio poles que leva a una defini ncaa de teria aparee emt Gord Brotherton eLaca de, "ist Peoples of he ‘Aeris aod Thr Literatu’ in Sophia A’ MeClennen ie E. Fi (en) Conparatve Caltaral Suites nd Lani America, Wes aay, Purdue Unversity Pes, 209%, . 8, Segundo oe wor, “assert ovasiming as any cert acai hat done that tection was dd of trate before Colas pea hs og he syig tere wasn zap ether propo, enti que h ‘hee crameanes,simly ew dewonstate he pir ese fran America antennas Becomes a proity nl 2A puido wx cra da crenga dseafiads" ed, Aletandte Hubner, Fike de Pal, 14 de mayo de 200%, Cadero Mai! 2 Para uma discuss semelhane dos times ncusto Uber, vr Michael Rysn, Manin and Decors: A Cail Aviation, Eaimore, Te Johns Hoplins University Fre, 108, 122 Aerostar que posite que o liberals ns pode incur e aga que nes validate do 8 When Sie Por ora posso apenas registrar a impossibilidade de concilia a definigdo iberal ‘e humanista de literatura com aquelas priticas discursivas ~deateoe fora da insti- tuigio literria ~ que ndo tém como objetivo a valorizagao do humano e nao tém 0 hhumano como tinico produtor e receptor da palavra.F se o {ndio hipotético, 20 ‘cantar alua, entendesce cua aividade nio como uma valorizagto do hiiman, mae, a0 contrério, como a celebragio da lua ou de urna divindade? E se ele nem sequer pensasse através do conceito de ficg40, como, para mencionar apenas tum exem- plo, aparentemente acontece com os teltales do sul do México?" E 0 que fxzemos ‘com escritores modemos como Flannery O'Connor, José Lezama Lima au Adélia Prado, escritores que de alguma forma descreveram suas eriajdes verbais como ‘um dilogo com o sobre-humano e consideraram que o objet> final poderia ter como co-autor 0 divino? 5 ‘As descrigses da experitncialterdria nesses textos rtieas de Candido ¢ Bhabha slo eminentemente modemas. Flas ocorrer dentro dos limites da racionalidade {instrumental esio vistas como desencantadas, em um espago.em que os sereshuma- ‘nosso 0s tnicos sujeitos atuantes.Talvez agora sja possve ley, nessas defesas do Gireito literatura ea escrta, oadjetivo “universal” como tm ewlemismo para “mo- demo", ¢ a defesa da "hurmanizacao" como uma convacagéo a tiodemizacto. Em exemplos como os desses ensais, o poder do discurso modemo vem do fato de ele st apresentar no coma,urna nova cultura, mas justamente comoa auséneia de uma cultura especies © de intereses particulares, como jé foi assitalado por Charles Taylor A prova maior de sua forca é precisamente sua invisibilidade, ou sla, 0 ‘momento da confirmacio de sua hegemonia € 0 momento em que nfo recomhece- ‘mos seus limites, © que torna possivel esse deslizamento quase imperceptivel da ‘modemidade esuaespecticidade historia econceitual paraa humanidade univers. Sc essa interpreta estver correta, e se pudermos entio descrevero gesto de Inclusio de Antonio Candido como a tentativa de incorporacio do ndo-moderno pelo arcabougo conceitual da modernidade, poderemos entao entender o impulso do eritico como caracteristico de uma forma de pensat @ cultura, a politica e @ _justica social em uma geracao de incelectuals latino-americanos, Nao ¢ dificil en- ‘contra, em historia literarias latino-americanas de meados de século XX, argu- ‘mentos semelhantes celebrando‘ incluso e, implicitamente,a moderntzagao, em relatos frequentemente construidos base de vocabulirios universalist, Como nas melhores doutrinas nacionalistas, acreita-se na existencia de um sistema glo- proprio plural Liber] ~ to, a posigto nobel -, Ryan reel cro a tansendencie ‘bea da iferenga asa.“ aqu' cond o auto, gue o ere coecino da genetaidde I erase a sent * Segundo Pedro Patch Ramon, CRU wna nora ls las tides, Mic, Fondo de ‘CulareEeonimico, 1996p. 170, entre os elas “a se eplice quem ela pose exten se ‘au de feo, de sentecaotn agin Chats Tayo, “Two Theos of Medernin”, Publ Cal, 11,1 13-74, 1990, res Ps es Me oes 9 bal que permita a expresso do lca e sua contrbaigo, com seu esprit crate eo, colars univers Notese, por exemplo, como Angel Rama define «tansculturagio Iria, 0 proceso que ele identifica na narativaltino-aoericana de meados do séeulo XX Fara Raa, « uonseularayo seria tena de recompor sobre aqueleselemen- tos learentes de valorizacio artista] um discurso superior que se confrmava ¢ enfentava os prodats mais hirarquizades de ma iteratura universal" Agu, 2& possibildade de comparaco jee vss como um tivo, Para Rama, ance fo de prices dscursias leas na erator ser vista inclsive como sua tinea forma de sobrevivéncs ese hibridismo “ex nix op ques impo para poder solucionar uo choquede frcas eulturas muito dsperes, uma das qual vii aser Drevisivelmentedestrufda no confronto" "Alm dss. na desctgae da incorpons Gao daguilo que Rama denorina a “cosmovsdo” lcd, s operaciesnaratvns dt transulturacto serto pintadas em tons eufrios como algo capaz de “soperat amplamente 2s propostas modemizadorss”® Nos autores transuttoradores~ Gabriel Garcia Marquez, Juan Rulfo, Jose Maia Arguedss, Joto Guaries Rosa ~ Rama enxetgaraa “reconstracao" do univers local e sua forma de vero mundo ¢ 2 fideidade a cosmovisio cotural’® como eo fat de tado iso estar sendo feito eum genero como o romance fosseirelevant, como sea cosmovisio local mio inchubse suas propras formas narrates, como se o contr literti em sino fosse indicatvo de uma cera fora de estar no mundo ‘Na mesma linha, a nogdo de super replonalismo de Antonio Candid exata auels textos qu superam a miopia do regionlismoe sto capazes de enconta sm materi local substinca para a prod de livros universlment signa vos" em que a reid ¢ transfguradae adquiteunivesalidade, aleangando uma csfera alm do local” Em ua serie de textos do ator, € aspera do lca, + Subseqente entrada na generalidae,o que se celerad (© que acontce¢ que ele fo elon) st val modifcande ¢adaptando, supetando ss formas as grosses at das tnpressio de qo se olen na generalidade dos tera unt ‘vei, como € noma toa obs ba eta Gimares Ros tomo um tipo buna trata em noes igo esas os seus demenos contingents, ansportou-, ale de document, ata ester ode os pes ies ptosm a representa o problemas comuns da nossa humsnidade, desprendendose do mee eco socal de que prc 2 Angel Rama, “Os process de eanscultrgto na atalino american vio Agia, « Sandra Guard Vsconcelos (np) ngs Rama Herta cultura na Amica Late, ta. Race Come dos sents Eka Gaspar, Sao Paul, Fas, 200, 237 dom dd, p 212. 2 dem ide, p22. iden. bid, 232. antonio Candide, “Ltr esubdeenvolsaent”, pc, p19, 161 2 Antonio Caddo, “A Meratura ea fomagdo do homie op tp 87 * Aevoin Condo, Junge nines de Clube a Guimaras Rs n roe cco, op isp 174, Ko mesno text, afta Ue “Todor née sons ical, que tascebe 0 eae parca do documento para encana os pecblerascombne ds nasa humane” (168). 49 oe Seiad [Nessasforrmulagdes, @ tanscendéncia do local & vist: de forma favoravel, ex proponho, porque & literatura, € nio a cultura local, o objetivo final nue parenteses, deve ser dito que é possivel que Rana estivesse certo, ¢ que ‘ejetar a modernidade seja de fato suicida, como ele 0 cloca.® De qualquer for- ‘ma, mesmo se fosse 0 caso, € dificil entender por que o processo ~ empreendido sob ameaga de morte ~ deve ser celebrado (a nto ser, isto €, que se veja 2 moderni- _zagdo como necessariamente emancipadora). Como lembrou Alberto Moreias, no livto A exaustao da diferenca, (Que ua inseriid na cltura dominance posse sr consideada como constiuinds sucesso (e, pers, do acre um fact) suger um fore posconamentsieagico om regio & ansuloragio como ur Fentmeno antropolipic(-] na vedade em dure snus, sugee a acetaci da moverszaco como verdad dele « destino do manda” Dado esse contexto epistémico, nao ¢surpreendente que nas histria litera latino-americanas proliferem as metiforasarbdreas. No caso da critica brasileira, a formulagio mais conhecida € de Antonio Candido, que declarou famosamente, fem mais de uma ocasiao, que "As nossas literatura latino-americanas, como tam bémas da América do Norte, sio basicamente galhos das metropolitanas”.” Angel Rama ndo afirmaria algo muito diferent, ao descrever “el roncolingistic de don- de parten las tes lenguas que definen la literatura latinoamericana” © sustentar que “Venimos de a gran vena cultural occidental” Antes des dois, Emir Rodriguez Monegal ¢ Pedro Henriquez Urena ja se valiam de troneas, rates e galhos para retraar a evolugdo das literatura latino-mericanas, Para a histéria Inerdria, a consequéncia de se pensar 0 desenvolvimento em termos de uma drvore genealogica é que se dificultao reconhecimento da existén- cia de algo exterior ou anterior 8 litertura. O tronco nasce de uma ralz, seus galhos crescem em direcio ao vari; passase de uma undadeinical a uma diver sidade secundaria, em que a dependéncia ndo pode sendo set inevitével. Como contraste, pensemios na imagem de uma onda, usada em outras historias literérias « analisada por Franco Moretti: forcas contritias se encoattam e a uniformidade ‘enta encobrir uma diversidade inicial™ F 9 modelo da érvore, no entanto, que 2 Angel Raa, “Os pocesos de tanscuturato ma arava Inino-amerieana, op P21. > alero Motes, A cat de dfn: a polis dos eso utr tin ames, sad Elana Loorengo de Lima Rls e Glaus Renate Goncalves, elo Horizonte, Elora UPMCG, 2001, p. 225. Na propria adic cia hispano-ercana ha eres menos tftas dese Ist, como a quest vn obra do peruano Antonio Core Plan Antonio Candid, “Literatura esubdeeaolvent pet p 151 » Angel Rama, "Un proceso autonomica: de las litratraenacionles la literatura leinorercans, in Homense «Ange Roverblat eu TO aes, Caracs Instat Pease, LT 2 CL Franco Mora, “Conjeaures on World Litrau”, in Chester Prendergast fre) abating Word Lier, Lnedon, Verso, 204, p. 160-1, as Pas aw Ns dao 41 permitira que se afieme que “Nunca se viu os diversos nativismos contestarem 0 so das formas importadas, pots seria 0 mesmo que se oporem ao uso dos idiomas ‘europeus que falamos” * raciocinio possivel apenas se nosso pensamento nao sa da esferalterria. A partir de uma perspectiva cultural mais ampla, nfo s6 seria possivelidentificar momentos de oposigio aos idiomas e formas europeus, como até 0 conceito de literatura ficaria comprometido, 7 Este ensaio comecou com a reeréncia de Goethe as moeds que, como as lin: _guas, omariam possivel a ttoca ea comparagio, uma analogia ilustativa que nos leva outro pensador alemao que, alguns anos mais tarde, eambem estaria avalian- do a fungio de moedas, sistemas de roca e mercados globais, Vejamos: Em ugar do antigo tsolament lc eda suo-sufeta das mages, desnvolvenh, em todas dts, um intrcdmbin wma interdependence une Eo ano na predate ‘materia quoao as intelectual. AS crags tntelectans de ma nag toate Propreade coma rods A esteteza eo exclusesino acini tormum se cada we ae poe € das mers Ltertare maori locale sarge «heatra universal” Embora a referencia literatura sea reve, eaparesa em melo uma descrigdo 4a criagto de um mercado global, esse trecho do Manifesto Comunista,aliado a uma forma de pensar comum na obra de Mars, pode nos impelir a pensar 2 abstr ‘lo, a universalidade e a diferenca de outra forma, ajudando-nos a desenvalver uuma outra maneira de entender a literatura comparada ‘A Welditeratur de Goethe contrasta com 0 mereado mundial de Marx, pois, esse, a abstragio ndo € natural e nao depende da natureza comum dos objetos ‘omparados. A abstracio — que inclusive tem um sujeito histérico espectfico: a Dburguesia~¢ 0 resultado direto da circulagt de bens propiciada pela modernidade capitalists. Ea troca de mercadorias que vai aribut valor abstrat a objeto singu- lates tomando abstrato também o trabalho rel, em um processo que sempre tera ‘que enfrentar a diferencairredutivel presente no corpo do operirio, A abstragdo ~ € portanto, a trocae a comparagio ~ acontece aqui com a circulacdo,¢ no antes dela; 6 ctculagt, endo o produto, que possbilitaaabstacio, a equivalenca e ‘4 comparaco, Para que um sapato e uma cadeira tenham o mesino valor de roca, les no precisam ter uma natureza cornu, Aaspracio do capital €criar um sistema aplicave a todos os casos possveis € Amaginseis, mas o ansio permanece apenas um desejo, pois &abstragto nunca & absolutamentevitoriosa e munca esa live de tensto, A abstragio fantasmnagérica ‘corre apenas em aparéncia, o que levaréo histortador Dipesh Chakrabarty a afc. > Antonio Candido, “Literatura e sibdesenvcsimento, op. cit, p. 1512 » Kal Mang, Fredrick Engels, “Manifest do Puido Comunit" in 150 ans de Manso Comune, So Pl, Xam, 1998, p. 147, 42 etm Sine tar que “nenhuma forma histria do capt, independenterente da gloalidade de seu acance, poder ser um universal” (sugerindoentio que pode ser produtivo pensar a resistencia fredutivel que Marx enxergou no corpo do operério também em termos cultura) Da mesma forma, nenuma literatura poder ser univer sal, embora a abstraco exja a tradugto constante de pratias discursvassingula- res ao coneito universal de literatura ‘Chamar de literatura ou fcr20 0 que € outa coisa seria, portant, wma forma dessa violencia tradutora que abafa a diferenca contida naqueles horizontes cconcettais que incluem outras formas de entender a relagdo com os objets ver bai, a representagio da realidade eo ugar do suet humano na ciagio e recep ‘io de textos. Todas esas praticas iscunsivas, no entanto, exstiro sempre ern tensio com o impulso universalizante, como 0 opedri na fabrica em sua reagio como tabalho abstrato, Cabe literatura comparada, com sua atengio compulss- ria A miterialidade de textos discusos,desempenhar essa rellexao ctca sobre 0 conceit de lteratarae econhecer as ruinasdetxadas pela comparago entre lin- suas, radigoes e obras Se esta reflex permite que comecemosa eshogar uma cartografia do terri, talver eit também nos permitaimaginar um espago além das froneiasdaieato- a. Ess afinal, o que leitura de Marx pode ns estimulara fazer, quando encon- tsamos, na ldeolgiaalema, a afirmacao de que nossa forma de entender a ate 6 pode existir em uma sociedad com uma divsfo de wabalho como a capitalist, © tacicinio € concuido com a talvez surpreendente afirmagio de que na socedade ‘communis nio haven pntores, que a concentragdo de talent aristco em deter ‘minadosindviduos €andlogaa concentrago de riquezano capitalism, Esve exer clcio de esbogar um além da literatura pode ainda nos levar @ uma pergunta um ouco mas pervers, que espero nf estar fora de lgar aqui. Aexpansto da itera “ bigesh Chalusbary, "Unies and Belonging in the Logi of Capt, Public Cala, 32, 675, 2000. ‘Es letra dows do coneto de Weller no Maisto Comune stg dat: pret co tet de Manc Engels eta por Hal de Camp el etd del tort eras 4 de bs Keratuacomparada en as altos denomunadas peice” (lpia, x XXX m 12, 101 107-9, 1997. Harodo de Campos enxerga no tet de Marg, dia de ina erat dia que eee da sepuraso ence as lingua da dso do trabalho, la det paradise dwn eraser homoge, prion dew amanda debe” omc da de opie marta que once] aspects de wep milan, furtement impregas de ‘epg lk’, lem deur “eptimismo meso”. No ena, pee cao que a Weldcratir esr plo Manifesonio ira surg com o fim da iris de tho e do conto sca 30 ‘conti, um stems tic do eaptismo, becom contigo ma abapo forad, em ‘modelo que incase parece permit maior tenso ttre d quo exqoema aleratio pepo or Harldode Campos seu apelo uma “conc prado alc dees djerenlas eel (aber combina dee univers sua defess da reczacinde um sur ein malidireconl ‘end sentido de promod plural y del vero cma fgwras den dace mil sempre cap de crs eonfpracns donde lo ero, xen, le dicen, anc eae ce ‘ee 1 combatra de psldad so Na Hin daioowa 43 tra € exaltada, por muitos citicos, pela sua fungao politica sua conteibuigdo para justia sociale seu papel na formacao do cidadio, porém certas celebracOes pare- ‘cem justficadss hoje apenas desde a perspectiva do interesse da propria literatura, (© que aconteceria se, em um censrio hipotético, aquém ou além do lterrio, a literavara nao coincidisse com a justiga? Em outras palavra, se tivéssemos que cescolher entre a literatura ea justia, onde fcaria nossa fidelidade? Agradeco a Jaime Ginzburg, Roberto Zular © Ana Cecilia Olmos, bem como aos colegas que participaram de seminirio do Departamento de Teoria Literitia € Literatura Comparada da Universidade de Sao Paulo, os comentirios a uma versio anterior deste trabalho.

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