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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

ESTUDO E AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO DE


UM SISTEMA DE GERAÇÃO EÓLICA

MAURÍCIO NUNES SANTANA

2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA POLITÉCNICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

MAURÍCIO NUNES SANTANA

ESTUDO E AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO DE


UM SISTEMA DE GERAÇÃO EÓLICA

Trabalho apresentado ao Curso de


Graduação em Engenharia Elétrica da
Universidade Federal da Bahia como
parte dos requisitos para obtenção do
título de Engenheiro Eletricista.

Orientador: Profº. Caiuby Alves da Costa

SALVADOR
2009
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

MAURÍCIO NUNES SANTANA

ESTUDO E AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO DE


UM SISTEMA DE GERAÇÃO EÓLICA

Este Trabalho de Graduação foi julgado adequado para a obtenção do grau


de Engenheiro Eletricista e aprovado em sua forma final pela Comissão
Examinadora e pelo Colegiado do Curso de Graduação em Engenharia
Elétrica da Universidade Federal da Bahia.

_____________________________
Cristiane Corrêa Paim
Coordenadora do Colegiado do
Curso de Engenharia Elétrica

Comissão Examinadora

_____________________________
Profº. Dr º. Caiuby Alves da Costa (Orientador)

_____________________________
Prof. Bernardo Gustavo Paez Ortega

_____________________________
Prof. Francisco Lisboa

_____________________________
Eng º Antonio Bendocchi

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pela família, pela saúde e pelo dom do aprendizado.

À toda minha família, pelo incentivo, preocupação, confiança ao longo da


vida. Em especial a meus pais, pelas oportunidades oferecidas por toda a vida, pela
compreensão, afeto e companheirismo.

Á Tia Kátia, pelo auxílio na formação e empenho em todas as ocasiões.

Ao Prof. Dr. Caiuby Alves da Costa, pela orientação, apoio técnico e


paciência na solução dos problemas ao longo do Trabalho.

Ao Eng. Antônio Bendocchi, pela paciência, troca de informações e


disponibilidade em prol do Trabalho.

Aos colegas da Ecoluz, pelo incentivo, ajuda e troca de informações ao longo


deste período.

Ao colega Ramon Lago, pelo apoio durante a execução do Trabalho.

Aos demais colegas e amigos da UFBA que ajudaram a enfrentar e superar


as dificuldades até o fim do Trabalho.

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

“Pior que não terminar uma viagem é nunca partir”


Amyr Klink

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

RESUMO

Este trabalho trata-se de um estudo de um sistema de energia eólica de


pequeno porte, desde a sua instalação até a sua operação. Avalia-se o
dimensionamento do sistema, composto por um aerogerador de 1kW, um
controlador de carga, um banco de baterias de 24V e um inversor DC/AC, levando-
se em conta a carga a ser alimentada. É feito ainda um estudo da viabilidade
econômica do sistema diante do potencial eólico do local da instalação.

Palavras-Chave:

Energia eólica, aerogerador de pequeno porte, geração de energia

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

LISTA DE SÍMBOLOS

Fc: Força de Coriolis;

Ω: velocidade angular da terra;

v: velocidade da partícula;

α: latitude;

PH: gradiente de pressão;

ρ: massa específica do ar;

ΔP: diferença de pressão sobre o volume de ar;

ΔX: comprimento do volume de ar;

P: potência disponível no vento;


E: energia cinética do vento;
t: tempo;
𝑚: fluxo de massa de ar;
V1: velocidade do vento;
A: área da seção transversal;
Cp: coeficiente aerodinâmico de potência do rotor;
η: rendimento do conjunto gerador/trnasmissões mecânicas e elétricas;

R: constante do ar;

Pa: pressão atmosférica;

T: temperatura ambiente;

z: altitude do local;

Q: vazão de ar que atravessa a turbina eólica;

v: velocidade do vento livre, antes da turbina;

Ae: área da seção transversal do tubo de vazão do ar na entrada do rotor da turbina;

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

ve : velocidade do vento na seção do tubo de vazão na entrada na turbina;

As área da seção transversal do tubo de vazão do ar na saída do rotor da turbina;

vs : velocidade do vento na seção do tubo de vazão na saída da turbina;

vi : velocidade do vento registrada;

n: número de registros;

i: identificação do registro

f(v): função densidade de probabilidade

Fa: força de arraste aerodinâmico;

Ca: coeficiente de arasto;

Fs : força de sustentação aerodinâmica;

Fc: fator de capacidade;

k: fator de forma;

c: fator de escala;

Lmd: indutância de magnetização equivalente no eixo d

Lmq: indutância de magnetização equivalente no eixo q

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EPUFBA: Escola Politécnica da UFBA;

HP: Horse Power;

IVDN: Indice de vegetação por diferenças normalizadas ;

Rpm: Rotações por minuto;

W: oeste;

S: sul;

E: leste;

N: norte;

RN: Rio Grande do Norte;

K: Kelvin;

EAG: energia anual gerada;

DC: corrente contínua;

AC: corrente alternada;

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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 ....................................................................................................................................................... 1

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 1

1.1. Objetivos ............................................................................................................................................. 2


1.1.1. Objetivos específicos .................................................................................................................. 2
1.2. Justificativa........................................................................................................................................ 2
1.3. Metodologia ........................................................................................................................................ 3

CAPÍTULO 2 ....................................................................................................................................................... 4

2. ENERGIA EÓLICA .................................................................................................................................... 4

2.1. A evolução e aplicabilidades ......................................................................................................... 4


2.1.1. Os Aerogeradores no século XX ............................................................................................. 8
2.2. A energia eólica no Brasil ............................................................................................................ 10
2.2.1. Potencial eólico brasileiro ....................................................................................................... 11
2.2.2. Potencial eólico na Bahia ....................................................................................................... 12

CAPÍTULO 3 ..................................................................................................................................................... 15

3. O VENTO .................................................................................................................................................... 15

3.1. Causas do vento ............................................................................................................................. 16


3.2. Força de Coriolis ............................................................................................................................. 17
3.3. Tipos de Vento ................................................................................................................................. 18
3.3.1. Ventos globais ........................................................................................................................... 18
3.3.2. Ventos de superfície................................................................................................................. 20
3.3.3. Ventos Locais ............................................................................................................................. 20
3.4. A potência do vento ....................................................................................................................... 21
3.5. Fatores que influenciam a energia do vento .......................................................................... 23
3.5.1. A altitude e a temperatura ambiente .................................................................................. 23
3.5.2. A velocidade do vento ............................................................................................................. 26
3.5.3. Área de varrimento do rotor................................................................................................... 27
3.6. Extração da potência do vento e Máximo de Betz ............................................................... 27
3.7. Armazenamento de energia ......................................................................................................... 32

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

CAPÍTULO 4 ..................................................................................................................................................... 32

4. O COMPORTAMENTO PROBABILÍSTICO DO VENTO ............................................................. 32

4.1. A velocidade do vento.................................................................................................................... 33


4.1.1. Distribuição de frequência da velocidade do vento ........................................................ 33
4.1.2. Função densidade de probabilidade do vento ................................................................. 35

CAPÍTULO 5 ..................................................................................................................................................... 37

5. TURBINAS EÓLICAS ............................................................................................................................. 37

5.1. Tipos de turbinas ........................................................................................................................... 37


5.1.1. Turbinas de arraste ................................................................................................................. 37
5.1.2. Turbinas de sustentação ........................................................................................................ 38
5.2. Orientação do eixo de turbinas eólicas ................................................................................... 40
5.3. Número de pás em turbinas eólicas ......................................................................................... 41
5.4. Controle de potência e velocidade das turbinas eólicas .................................................... 42
5.4.1. Controle por estol ...................................................................................................................... 42
5.4.2. Controle de passo ..................................................................................................................... 43
5.4.3. Controle por estol ativo ........................................................................................................... 45

CAPÍTULO 6 ..................................................................................................................................................... 45

6. AEROGERADORES ................................................................................................................................ 45

6.1. O princípio da geração eólica ..................................................................................................... 46


6.2. Partes do aerogerador GERAR 246 ........................................................................................... 46
6.2.1. Pás/Captador Eólico................................................................................................................ 46
6.2.2. Alternador ................................................................................................................................... 47
6.2.3. Leme Direcionador .................................................................................................................... 47
6.2.4. Cabeça Rotativa ........................................................................................................................ 47
6.2.5. Controlador de Carga .............................................................................................................. 47
6.3. Características técnicas do aerogerador GERAR 246 ........................................................ 50
6.4. O sistema de segurança do aerogerador ................................................................................. 52
6.5. Aerogerador com gerador síncrono de ímãs permanentes ................................................ 53
6.5.1. Performance de um aerogerador .......................................................................................... 54
6.5.2. Fator de capacidade de um aerogerador ........................................................................... 55
6.6. O sistema eólico de geração de energia de pequeno ........................................................... 56
porte ................................................................................................................................................................. 56
6.6.1. As baterias ................................................................................................................................. 57
6.6.2. O inversor de frequência......................................................................................................... 58

CAPÍTULO 7 ..................................................................................................................................................... 60

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

7. MONTAGEM DE UM AEROGERADOR ............................................................................................ 60

7.1. A Montagem do Gerar 246 e do quadro elétrico ................................................................... 60

CAPÍTULO 8 ..................................................................................................................................................... 65

8. DIMENSIONAMENTO ............................................................................................................................ 65

9. ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA ..................................................................................... 66

TABELA 9.1 – CUSTOS PARA CARREGAMENTO DE BATERIAS ................................................ 69

10. CONCLUSÃO E DISCUSSÃO ............................................................................................................... 69

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 70

Maurício Nunes Santana


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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Capítulo 1

1. Introdução

O uso da energia é imprescindível para as necessidade da manutenção da


vida. A humanidade evoluiu de um consumo de cerca de 2000 Kcal/dia para um
consumo de cerca de 230.000 Kcal/dia. Se o consumo energético continuar
evoluindo neste ritmo, os recursos finitos disponíveis no planeta poderão se exaurir.

Além do consumo desenfreado de energia, a produção de energia a partir de


combustíveis fósseis revela uma dependência de recursos energéticos não
renováveis. A estrutura da matriz da oferta de energia entre os anos de 1973 e 2002
pouco se alterou, mostrando uma forte predominância de recursos não renováveis,
como o petróleo, o gás e outros.

Diante deste contexto, contudo, o Brasil encontra-se em posição favorável,


possuindo 44,5% da sua oferta interna de energia oriunda de fontes renováveis. O
Brasil dispõe de significativo potencial de energia renovável, o que torna possível
conseguir melhores condições de sustentabilidade na matriz energética brasileira. O
potencial eólico brasileiro, por exemplo, excluindo off-shore, é de 143 GW.

Na Bahia, conforme o BEN 2007, a demanda de energia evoluiu de 8


milhões de TEP em 1980 para 9 milhões em 2006. Durante este período, apesar do
crescimento significativo da participação de energia hidrelétrica, a participação da
energia renovável declinou de 55,4% para 37,9%. Essa evolução desfavorável se
deve ao crescimento significativo da participação do petróleo e do gás natural, bem
como do declínio da participação da biomassa na matriz energética baiana.[16]

Maurício Nunes Santana 1


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Estes dados revelam que em relação à participação de energia renovável a


evolução da matriz energética baiana se mostra mais desfavorável que a matriz
energética brasileira. A Bahia possui ainda potencial para geração de 14.500 MW de
energia eólica. As possibilidades de participação de fontes renováveis na matriz
energética são promissoras em curto e médio prazo. [16]

1.1. Objetivos

Este trabalho tem como objetivo o estudo da implantação de um sistema


eólico de pequeno porte, desde sua instalação, até a sua operação.

Será estudado o potencial da região, o processo de montagem, o


funcionamento e o aproveitamento do aerogerador, desta forma analisar-se-á a
geração de energia elétrica através da força do vento e o atendimento da carga que
será escolhida.

1.1.1.Objetivos específicos
Os objetivos específicos deste trabalho são a difusão dos conceitos inerentes
ao projeto de sistema eólico de pequeno porte, uma melhor compreensão da
metodologia para a instalação de um aerogerador, análise da geração do sistema e
do consumo de energia, estudo da viabilidade da integração do gerador à rede
elétrica.

1.2. Justificativa
A energia elétrica é um insumo essencial à vida humana. A geração de
energia elétrica, desta forma, faz-se primordial para o atendimento das
necessidades da sociedade que cada vez mais depende de energia. O grande desafio
da humanidade hoje é, contudo, buscar soluções que causem menos impactos
ambientais possíveis ao se gerar energia, uma vez que os padrões atuais de
produção e consumo energéticos baseiam-se em fontes fósseis, responsáveis pelas
emissões de poluentes locais e gases de efeito estufa.

Maurício Nunes Santana 2


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

A transformação dos padrões atuais devem vir com o estímulo e


investimentos na utilização de fontes renováveis de energia, as quais encontram no
Brasil, particularmente, condições favoráveis em relação ao resto do mundo. A
matriz energética brasileira é formada atualmente por 45% de fontes renováveis,
contra apenas 14% no mundo. Grande parte desta matriz energética, deve-se à
energia hidráulica, porém outras alternativas, como a energia eólica e solar, devem
ser incentivadas a fim de compensar os meses de baixa produção hidrelétrica,
compreendidos no chamado períoco seco (maio a novembro), quando os
reservatórios estão mais baixos devido à redução das chuvas.

1.3. Metodologia

Será realizada inicialmente uma revisão da literatura relacionada ao tema,


incluindo livros, artigos científicos, manuais de instalação, a fim de arraigar
conceitos e conhecer a história evolutiva da energia eólica e suas aplicações. Uma
visita a uma instalação semelhante deverá ser feita para que já se possa
familiarizar-se com o tipo e o funcionamento do equipamento a ser estudado.

Após esta fase, iniciar-se-á a fase de acompanhamento da montagem do


aerogerador, e, também, dos ensaios no equipamento. Em seguida, serão feitas
medições no sistema e seu acompanhamento, conforme seja necessário.

Serão feitas as devidas análises das medições e de aplicações do sistema


para se definir a carga que será alimentada. Por fim, pretende-se fazer um estudo
da geração e consumo do período das medições, uma análise da possibilidade de
conexão do gerador à rede elétrica e um estudo da aplicabilidade desse tipo de
sistema para alguns tipos de consumidores.

Maurício Nunes Santana 3


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Capítulo 2

2. Energia Eólica

A energia eólica é a energia cinética do ar em movimento. O vento


varia tanto em velocidade de escoamento como na direção do
deslocamento e para o seu aproveitamento energético, precisa-se do
estudo do seu comportamento espacial e temporal. Neste capítulo,
será mostrada a evolução das aplicações da energia eólica e os
potenciais eólicos no Brasil e na Bahia.

2.1. A evolução e aplicabilidades

O desenvolvimento das formas mais primitivas de moinho de vento veio com


a dificuldade encontrada pelo homem para realizar tarefas como a moagem dos
grãos e o bombeamento de água. Tais tarefas exigiam cada vez mais esforço braçal e
manual e, com o avanço da agricultura, eram cada vez mais demandadas. O modelo
mais primitivo de moinho de vento foi utilizado, portanto, para beneficiamento de
produtos agrícolas e era composto por um eixo vertical acionado por uma longa
haste presa a ele. Esta haste era movida por homens ou animais que caminhavam
em círculos numa gaiola. Outra tecnologia existente e que também era utilizada
para beneficiamento da agricultura consistia em uma gaiola cilíndrica conectada a
um eixo horizontal, dentro da qual era exercida a força motriz por homens ou
animais que caminhavam.
Estes tipos de sistemas foram aperfeiçoados com a substituição da força de
homens ou de animais pela força motriz de cursos d’água, o que resultou no
surgimento das rodas d’água. Historicamente, o uso das rodas d’água precede a
utilização dos moinhos de ventos devido a sua concepção mais simplista de
utilização de cursos naturais de rios como força motriz. Como não se dispunha de
rios em todos os lugares para o aproveitamento em rodas d’água, a percepção do
vento como fonte natural de energia possibilitou o surgimento de moinhos de ventos
substituindo a força motriz humana ou animal nas atividades agrícolas. [5].

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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Data-se de 200 A.C na Pérsia o primeiro registro histórico da utilização da


energia eólica para bombeamento de água e moagem de grãos. Este tipo de moinho
de vento de eixo vertical difundiu-se pelo mundo islâmico, tendo sido utilizado por
vários séculos. Acredita-se que antes da invenção dos cata-ventos na Pérsia, a
China (por volta de 2000 A.C.) e o Império Babilônico (por volta 1700 A.C) também
utilizavam cata-ventos rústicos para irrigação [5]).

Os cata-ventos primitivos apresentavam vantagens importantes para o


desenvolvimento das necessidades básicas de bombeamento d’água ou moagem de
grãos, mesmo possuindo baixa eficiência devido a suas características
rudimentares.

Pouco se sabe sobre o desenvolvimento e uso dos cata-ventos primitivos da


China e Oriente Médio como também dos cata-ventos surgidos no Mediterrâneo.
Um importante desenvolvimento da tecnologia primitiva foram os primeiros modelos
a utilizarem velas de sustentação em eixo horizontal encontrados nas ilhas gregas
do Mediterrâneo. [5]

A introdução dos cata-ventos na Europa deu-se, principalmente, no retorno


das Cruzadas há 900 anos. Os cata-ventos foram largamente utilizados e seu
desenvolvimento bem documentado. As máquinas primitivas persistiram até o
século XII quando começaram a ser utilizados moinhos de eixo horizontal na
Inglaterra, França e Holanda, entre outros países. Os moinhos de vento de eixo
horizontal do tipo “holandês” foram rapidamente disseminados em vários países da
Europa. Durante a Idade Média, na Europa, a maioria das leis feudais incluía o
direito de recusar a permissão à construção de moinhos de vento pelos
camponeses, o que os obrigava a usar os moinhos dos senhores feudais para a
moagem dos seus grãos. [5]

Dentro das leis de concessão de moinhos também se estabeleceram leis que


proibiam a plantação de árvores próximas ao moinho assegurando, assim, o “direito
ao vento”. Os moinhos de vento na Europa tiveram, sem dúvida, uma forte e
decisiva influência na economia agrícola por vários séculos. Com o desenvolvimento
tecnológico das pás, sistema de controle, eixos etc, o uso dos moinhos de vento
propiciou a otimização de várias atividades utilizando-se a força motriz do vento. [5]

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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 1. Principais marcos do desenvolvimento da energia eólica entre os séculos XI e XIX


[5]

O uso de moinhos de vento em larga escala esteve intimamente ligado com


a drenagem de terras cobertas pelas águas na Holanda entre os séculos XVII e XIX.
A área de Beemster Polder, que ficava três metros abaixo do nível do mar, foi
drenada, entre os anos de 1608 e 1612, por 26 moinhos de vento de até 50 HP.
Posteriormente, a região de Schermer Polder também foi drenada por 36 moinhos
de vento a uma vazão total de 1.000 m³/min durante 4 anos.

Os moinhos de vento na Holanda tiveram uma grande variedade de


aplicações. O primeiro moinho de vento utilizado para a produção de óleos vegetais
foi construído em 1582. Com o surgimento da imprensa e o rápido crescimento da
demanda por papel, foi construído, em 1586, o primeiro moinho de vento para
fabricação de papel. Ao fim do século XVI, surgiram moinhos de vento para acionar
serrarias para processar madeiras provenientes do Mar Báltico. Em meados do
século XIX, aproximadamente 9.000 moinhos de vento existiam em pleno
funcionamento na Holanda. O número de moinhos de vento na Europa nesse
período mostra a importância do seu uso em diversos países como a Bélgica (3.000
moinhos de vento), Inglaterra (10.000 moinhos de vento) e França (650 moinhos de
vento na região de Anjou) [5].

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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 2.2 – Moinho de vento da Holanda

Um marco importante para a energia eólica na Europa foi a Revolução


Industrial no final do século XIX. Neste período, deu-se início o declínio do uso da
energia eólica na Holanda com o surgimento da máquina a vapor. No início do
século XX, havia apenas 2.500 moinhos de vento em funcionamento, sendo
reduzidos para menos de 1.000 no ano de 1960. Criou-se, então, em 1923, uma
sociedade holandesa para conservação, melhoria do desempenho e utilização mais
efetiva dos moinhos holandeses, já que havia grande preocupação com a extinção
dos moinhos de vento devido ao advento da Revolução Industrial.

A utilização de cata-ventos de múltiplas pás destinados ao bombeamento


d’água desenvolveu-se de forma efetiva, em diversos países, principalmente nas
suas áreas rurais. Acredita-se que, desde a segunda metade do século XIX, mais de
6 milhões de cata-ventos já teriam sido fabricados e instalados somente nos
Estados Unidos para o bombeamento d’água em sedes de fazendas isoladas e para
abastecimento de bebedouros para o gado em pastagens extensas. Os cata-ventos
de múltiplas pás foram usados também em outras regiões como a Austrália, Rússia,
África e América Latina. O sistema se adaptou muito bem às condições rurais tendo
em vista suas características de fácil operação e manutenção. Toda a estrutura era
feita de metal e o sistema de bombeamento era feito por meio de bombas e pistões,
favorecidos pelo alto torque fornecido pela grande número de pás. Até hoje esse
sistema é largamente usado em várias partes do mundo para bombeamento d’água.
[5].
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2.1.1.Os Aerogeradores no século XX

Várias pesquisas foram desenvolvidas para o aproveitamento da energia


eólica na geração de grandes quantidades de energia. Isto foi possibilitado pelo
avanço da rede elétrica que foi, sem dúvida, consequência direta da revolução
industrial do século anterior. Nesta época, os russos já investiam na conexão de
aerogeradores de médio e grande porte à rede, enquanto os americanos difundiam o
uso de aerogearadores de pequeno porte nas fazendas e residências rurais isoladas.

O início da adaptação dos cata-ventos para geração de energia elétrica teve


início no final do século XIX, mais precisamente no ano de 1888. Charles F. Bruch,
industrial formado para eletrificação em campo, construiu em Cleveland, Ohio, o
primeiro cata-vento destinado à produção de energia elétrica. O equipamento
fornecia 12 kW para um banco de baterias que alimentavam 350 lâmpadas
incadescentes. O industrial inspirou-se em um moinho para a construção do cata-
vento. A roda principal possuia 144 pás e 17m de diâmetro em uma torre de 18m
de altura. O sistema completo era sustentado por um tubo metálico central de 36
cm que permitia que todo o sistema girasse, acompanhando, desta forma, o vento
predominante. Este sistema operou durante 20 anos e foi desativado em 1908. O
cata-vento de Bruch foi, inubitavelmente, um marco na utilização deste aparato
para a geração de energia elétrica.

O invento de Bruch apresentava três importantes inovações para o


desenvolvimento do uso da energia eólica para geração de energia elétrica. Em
primeiro lugar, a altura utilizada pelo invento estava dentro das categorias dos
moinhos de ventos utilizados para beneficiamento de grãos e bombeamento d’água.
Em segundo lugar, foi introduzido um mecanismo de grande fator de multiplicação
da rotação das pás (50:1) que funcionava em dois estágios, possibilitando um
máximo aproveitamento do dínamo cujo funcionamento estava em 500 rpm. Em
terceiro lugar, esse invento foi a primeira e mais ambiciosa tentativa de se combinar
a aerodinâmica e a estrutura dos moinhos de vento com as recentes inovações
tecnológicas na produção de energia elétrica. [5]

A Rússia deu um dos primeiros passos no desenvolvimento de


aerogeradores de grande porte para aplicações elétricas em 1931. O aerogerador
Balaclava era um modelo de 100kW, conectado a uma usina termelétrica de 20MW
por uma linha de transimissão de 6,3kV. A energia gerada no ano chegou a 280.000
kWh.ano, o que equivaleu a um fator médio de utilização de 32%.

Maurício Nunes Santana 8


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi também um grande marco para


o desenvolvimento dos aerogeradores de médio e grande porte, pois os países em
geral, nesta época, visavam à economia de combustíveis fósseis. Após a guerra, os
combustíveis fósseis, contudo, voltaram a predominar mundialmente. Eles
enfrentavam agora a concorrência das grandes usinas hidrelétricas, que se
tornaram bastante competitivas economicamente e os aerogeradores passavam a
ser construídos, em grande parte, para fins de pesquisa, visando aprimoramento
das técnicas aeronáuticas, no desenvolvimento de pás e aperfeiçoamentos nos
sistemas de geração.

Países como Inglaterra, Dinamarca, França e Alemanha realizaram grandes


estudos e experimentos nesse período e foram pioneiros no desenvolvimento de
alguns tipos de aerogeradores. Na Inglaterra, por exemplo, desenvolveu-se um raro
modelo de aerogerador de 100kW com pás ocas e com a turbina e o gerador na base
da torre. A Dinamarca apresentou um dos crescimentos na geração de energia
eólica mais significativos na Europa, o que ainda é notado até hoje, sendo que 20%
da energia produzida no país advém da força dos ventos. Com o sucesso da
produção de aerogeradores de pequeno porte, na faixa de 45kW na Dinamarca,
Johannes Juul ousou no projeto de um aerogerador de 200kW com 24m de
diâmetro de rotor, instalado nos anos de 1956 e 1957 na ilha de Gedser. A França
empenhou-se nas pesquisas de aerogeradores conectados à rede elétrica e também
foi responsável por diversos aerogeradores de grande porte, como um equipamento
que operava com potência de 1.085kW a vento de 16,5m/s, apresentava três pás
com um rotor de 35m. Além da robustez, estes aerogeradores provavam a
possibilidade da sua inteligação à rede de distribuição elétrica. Na Alemanha, foi
construído um aerogerador que operou com o maior número de inovações
tecnológicas na época. O aerogerador de 34m de diâmetro operava com potência de
100kW, a ventos de 8m/s. Possuía rotor leve em materias compostos, duas pás a
jusante da torre, sistema de orientação amortecida por rotores laterais e torre de
tubos estaida. Ele operou por mais de 4.000 horas entre 1957 e 1968 e teve
problemas de fadiga atenuados devido à composição das pás. Quando o modelo foi
desmontado em 1968 por falta de verbo para prosseguimento do projeto, verificou-
se que suas pás ainda apresentavam perfeitas condições de uso.

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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 2.3 – Marcos no desenvolvimento da energia energia eólica no século XX [5]

2.2. A energia eólica no Brasil

A utilização da energia eólica no Brasil atualmente é voltada


majoritariamente para a geração de energia elétrica para bombeamento de água,
aquecimento de ambientes, operação de máquinas e equipamentos diversos,
moagem de grãos, usos domésticos ou de pequenas empresas, etc.

Embora a utilização de recursos eólicos tenha sido historicamente


destinada à movimentação de cata-ventos para o bombeamento de água, estudos
recentes indicam um potencial eólico ainda não explorado de 143 GW (CEPEL,
2005). O Brasil possui atualmente potência instalada de 547 MW, o que não chega
a 1% da capacidade instalada mundial, que é de aproximadamente 121.000 MW.
Apesar da ínfima contribuição, quando comparado ao cenário mundial, o país tem
apresentado um crescimento significativo, passando de aproximadamente 30 MW
em 2004 para os atuais 547 MW. O próximo leilão de energia eólica, marcado para
14 de Dezembro de 2009, irá determinar se este crescimento vai se manter.

No Brasil as áreas de maior potencial eólico são o litoral do Nordeste e a


Chapada Diamantina na Bahia. Além dessas localidades, algumas regiões de Minas,
do Paraná, Rio Grande do Sul e do nordeste do Rio de Janeiro também possuem
potencial eólico. O Nordeste, região de maior capacidade de aproveitamento eólico,
possui um potencial eólico estimado de 75 GW o que corresponde a uma
capacidade de geração de 144,3 TWh. [2] [5]
Maurício Nunes Santana 10
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

2.2.1.Potencial eólico brasileiro

A distribuição dos ventos sobre o Brasil é controlada pelos aspectos da


circulação geral planetária de atmosfera próxima, conforme a figura abaixo. [2]

Os sistemas de alta pressão Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul e do


Atlântico Norte e a faixa de baixas pressões da Depressão Equatorial são os que
influenciam mais.

De oeste a leste do Norte do Brasil e sobre o oceano Atlântico adjacente,


estende-se a posição média da Depressão Equatorial. A localização e orientação da
Bacia Amazônica coincidem com esta Depressão que é geralmente uma zona de
pequenos gradientes de pressão e ventos fracos. O perfil geral de circulação
atmosférica induz ventos de leste ou nordeste sobre o território nacional ao norte da
Bacia Amazônica e no litoral do nordeste. Os ventos alísios de leste a sudeste
predominam entre a Depressão Equatorial e a latitude de 10º S. Ao sul desta
latitude até o extremo sul do Brasil, atual o centro de alta pressão Anticiclone
Subtropical Atlântico, os deslocamentos de massa polares e a Depressão do
nordeste da Argentina.

Este perfil geral de circulação varia de acordo com a geometria, altitude de


terreno, vegetação e distribuição de superfícies de terra e água. Tais fatores que
atuam em escala menor podem alterar as condições de vento locais que se afastam
consideravelmente do perfil geral da larga escala da circulação atmosférica.

A região geográfica em que está inserido o sistema eólico a ser estudado é a


Zona Litorânea Nordeste – Sudeste. Esta zona está compreendida entre o Cabo de
São Roque (RN) e o estado do Rio de Janeiro e tem aproximadamente 100km de
largura. As velocidades médias anuais variam de 8-9 m/s na porção norte a uma
faixa de 3,5 – 6 m/s sobre grande parte da costa que se extende até o Sudeste. No
sul do Espírito Santo e nordeste do Rio de Janeiro, contudo, a velocidade dos
ventos atinge 7,5 m/s. Isso é efeito do bloqueio de escoamento leste – nordeste feito
pelas montanhas imediatamente a oeste da costa. Acontece, dessa forma, uma
aceleração por obstáculo, já que o ar acelera-se para o sul para aliviar o acúmulo de
massa causado pelo bloqueio das formações montanhosas.

Maurício Nunes Santana 11


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

2.2.2.Potencial eólico na Bahia

A Bahia possui um potencial eólico de 5,6 GW, ocupando uma área de


2.798 km², o que possibilita uma geração anual estimada de 12,32 TWh/ano para
ventos com velocidade média anual de 7 m/s a uma altura de cinquenta metros.
Para uma altura de setenta metros, o potencial eólico eleva-se para 14,46 GW,
ocupando uma área de 7.231 km², o que possibilita uma geração anual de 31,9
TWh/ano para ventos com velocideade mpedia anual de 7 m/s. [16]

2.2.2.1. Aspectos geofísicos do estado da Bahia

A Bahia ocupa a região mais meridional do nordeste do Brasil. No estado


vivem mais de 14 milhões de pessoas distribuídas numa área de 567.692,669 km²,
a 5ª maior extensão territorial entre os estados brasileiros de acordo com o IBGE
2005. O território baiano se situa entre as latitudes 18º 20’ 07’’S e 8º 32’ 00’’S, e
entre as longitudes 46º36’ 59’’W e 37º 20’ 37’’W.

A Bahia se situa na região de transição de regimes de ventos distintos. Mais


ao norte circulam os ventos alísios que convergem para a Depressão Equatorial e
mais ao sul predomina a dinâmica da interação entre o centro de altas pressões
Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul e as incursões de massas polares. [3]

A faixa atlântica da Bahia possui uma área extensa, sem grandes elevações
e aerodinamicamente rugosa pela densa cobertura vegetal. Na parte central do
estado, surgem chapadões de orientação norte-sul, com grandes elevações e onde
ocorrem algumas áreas importantes de baixa rugosidade. Das chapadas até o vale
do Rio São Francisco, o relevo desce e sobe suavemente, em seguida, para o
extremo oeste, onde há uma extensa área plana com altitudes próximas a 1000m,
recoberta por agricultura intensiva e pouco rugosa. [3]

Ao longo da extensão litorânea da Bahia, o relevo não constitui obstáculo à


progressão dos ventos e brisas marinhas, pois predominam altitudes inferiores à
centena de metros e em raros locais a altitude ultrapassa 300m. No entanto, ao
longo de uma ampla faixa junto à costa, predomina uma vegetação adensada e
relativamente alta – floresta tropical pluvial e vegetação secundária, cuja
rugosidade reduz a intensidade dos ventos médios de superfície. [3]

A figura abaixo apresenta a sazonalidade dos índices de precipitação,


temperatura média e índice de vegetação por diferenças normalizadas (IVDN). Os
dados de precipitação e temperaturas médias são oriundos de séries climatológicas

Maurício Nunes Santana 12


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

de 60 anos, enquanto os índices de vegetação se referem ao período entre 1985 e


1988. [3]

Figura 2.4 - Sazonalidade dos índices de precipitação, temperatura média e índices de


vegetação
É importante ressaltar a distribuição pluviométrica homogênea ao longo do
ano para a faixa atlântica da Bahia, principalmente na parte sul, o que resulta
também em índices de vegetação mais estáveis nesta região. Esta região apresenta
os maiores índices pluviométricos do Estado, superiores a 1.200 mm anuais. [3]

A distribuição das temperaturas médias apresentam, naturalmente,


correlação com o relevo, mas são dominadas por outros fatores regionais. As
temperaturas mais elevadas da Bahia se encontram no vale do Rio São Francisco,
região de menor altitude e ao abrigo dos chapadões centrais. [3]

Maurício Nunes Santana 13


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

2.2.2.2. Regime de ventos na Bahia

Os regimes de ventos resultam da sobreposição de mecanismos


atmosféricos sinóticos e de mesoescala, globais e regionais, respectivamente.
Quanto aos regimes globais, a Bahia se encontra na latitude de transição entre dois
mecanismos importantes: ao Sul, o Anticiclone Subtropical do Atlântico influencia
predominantemente perturbado pela dinâmica das ondas de massa polares que é
intermitente. Ao norte, os ventos alísios exercem uma maior influência de forma
mais constante. Estas dinâmicas convergem quanto à direção, predominante entre
Nordeste e Sudeste, como mostrado abaixo.

Figura 2.5 - Principais mecanismos sinóticos de influência nos regimes de vento na Bahia

O território da Bahia, por ser extenso, alterna diferentes mecanismos


regionais, especialmente brisas marinhas/terrestres e brisas montanha/vale. Estas
brisas, com ciclos tipicamente diurnos, são perceptíveis nas velocidades e direções
de vento. O Estado da Bahia apresenta ventos máximos no segundo semestre, nas
estações do inverno e primavera como pode-se ver a seguir na figura.

Maurício Nunes Santana 14


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 2.6 - Potencial eólico sazonal [3]

Capítulo 3

3. O Vento

O vento é o ar em movimento, provocado pelo aquecimento desigual da


terra. Neste capítulo serão mostrados os tipos de vento, a potência do vento,
fatores que influenciam a energia eólica e formas de armazenamento.

Maurício Nunes Santana 15


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

3.1. Causas do vento

O vento é a principal característica da movimentação das massas de ar


existentes na atmosfera e o seu surgimento está diretamente relacionado às
variações das pressões de ar. Estas variações são originadas termicamente através
da radiação solar e das fases de aquecimento das massas de ar.
Nos locais mais quentes, o ar dilata-se, ficando mais leve e rarefeito, e sobe
resultando numa queda de pressão atmosférica no local. Já nos locais mais frios, o
ar se condensa ficando mais pesado, com maior pressão, tendendo a escapar para
as áreas mais vazias, como os locais mais quentes, dando origem aos
deslocamentos na forma de ventos.
Em torno de 1 a 2% da energia solar é convertida em energia dos ventos.
As regiões onde esse tipo de conversão de energia inicia-se são nas regiões
existentes na linha do Equador, onde a latitude é 0º e ocorre um maior
aquecimento nas massas de ar e posteriormente é estendida para as regiões norte e
sul do planeta. [1]
O sol aquece a superfície da terra de forma desigual, provocando os fluxos
de vento. O sol tem uma temperatura na superfícies em torno de 5.600 K e fornece
energia em forma de radiação. A energia recebida pela terra é em torno de 1,39
kW/m².
Os gases da atmosfera são quase transparentes para os comprimentos da
onda da radiação solar, que variam de 0,15 a 4 µm e, assim, grande parte da
energia do sol penetra até a superfície da terra. Parte da radiação solar é difundida
pela atmosfera devido à presença de poeira, gotículas de água, além das nuvens.
Pouco menos da metade da radiação incidente é absorvida e outra parte é
refletida, através da emissão de uma radiação para a atmosfera, chamada de
radiação terrestre. Esta radiação tem comprimento de onda na faixa de 5 a 20 µm,
cuja variação depende da superfície, ou seja, algumas superfícies têm uma maior
absorção de energia que outras. O índice de absorção é definido como albedo,
relação entre a radiação refletida pela superfície e o fluxo incidente.
A parte da energia absorvida pela superfície é ainda parcialmente
transferida à atmosfera na forma de calor, seja por condução ou por convecção. A
condução, no entanto, é limitada somente à camada muito superficial de ar, com
cerca de um milímetro de espessura, que se adere à superfície da terra. Acima desta
camada o efeito da condução é desprezível comparado aos processos de radiação e
convecção. A convecção envolve o intercâmbio vertical de massa de ar, que pode ser

Maurício Nunes Santana 16


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

livre, ou natural, como quando a densidade da massa de ar é diferente ao seu


circunvizinho e é movida pela força de empuxo, ou ainda pode ser forçada, como
pela passagem de ar sobre o solo rugoso. Normalmente o movimento é pela
combinação de ambos. Este movimento é manifestado como movimento de
discretas massas de ar. [1]

3.2. Força de Coriolis

O efeito de Coriolis, também chamado de força de Coriolis, é a aceleração


aparente provocada pela rotação da terra e que tende a desviar todo objeto
movendo-se livremente. Esta força é muito importante, pois afeta o movimento do
vento, alterando sua velocidade e, principalmente, sua direção.

A terra é uma esfera que gira em torno de seu próprio eixo a uma velocidade
tangencial de 1.600 km/h, no equador. Logo, um objeto situado na latitude 0º tem
uma velocidade tangencial maior que outro objeto situado mais próximo a um dos
pólos. A rotação dos objetos é, contudo, a mesma, alterando-se o raio de giro, já que
ao aproximar-se de um dos pólos, um objeto aproxima-se do eixo de giro.

Assim, uma massa que se desloque no sentido do pólo ao equador, ou vice-


versa, terá seu momento angular alterado. Porém, de acordo com a lei da
conservação da quantidade de movimento, esta massa ao sofrer alteração em uma
direção, irá variar também em outra direção. Esta variação será na proporção
inversa o que resultará em uma quantidade de movimento transversal ao seu
deslocamento. Em resumo, uma massa que se desloque no sentido do pólo ao
equador terá um movimento circular com rotação no sentido oposto ao da terra,
enquanto que uma massa se deslocando no sentido inverso, movimentar-se-á
circularmente no mesmo sentido de rotação da terra.

A força de Coriolis, por unidade de massa é calculada pela expressão


abaixo:

𝐹𝑐 = 2. Ω. 𝑣. 𝑠𝑒𝑛 α (3.1)

Onde: Ω = velocidade angular da terra [7,29. 10−5 rad/s]

v = velocidade da partícula [m/s]

α = latitude [º]

Maurício Nunes Santana 17


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

O efeito da força de Coriolis sobre o vento é fazer com que este apresente
movimentos tipicamente circulares, ou em espirais, em torno dos centros de
pressão, que tendem a provocar deslocamentos de massas de ar entre o equador e
os pólos. A força de Coriolis foi calculada para o local em que o aerogerador foi
instalado. Sabendo-se que a latitude do local é 12º59’, a força é de
aproximadamente 3,28.10-5 N. Uma força baixa tendo em vista a baixa latitude em
que o estamos localizados.

3.3. Tipos de Vento

3.3.1.Ventos globais

No equador a força de Coriolis é zero, visto que a latitude é zero (α = 0).


Sendo assim, qualquer gradiente de pressão horizontal moverá as partículas de ar
em direção à baixa pressão. Como não há força de oposição ao movimento, exceto o
atrito, as partículas se moverão da região de alta pressão para a de baixa pressão.
Eventualmente, o fluxo reduzirá o gradiente de pressão a zero. Centros de alta ou
baixa pressão, contudo, não se mantém próximos ao equador.

Figura 3.1 - Movimento de uma partícula de ar devido às forças de gradientes de pressão


(PH) e às forças de Coriolis (FC) [1]

A figura acima ilustra o movimento de uma partícula de ar estacionada no


ponto A, que encontra-se numa região de alta pressão atmosférica no hemisfério
Maurício Nunes Santana 18
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Norte. Devido à força de gradiente de pressão PH, dada pela equação abaixo, o ar é
movimentado em direção à zona de baixa pressão atmosférica. No entanto, o
movimento do ar faz que a força de Coriolis FC (equação 3.1) aja no sentido do
movimento de rotação da terra e, assim, o ar gira nesta direção até que o equilíbrio
de forças se estabeleça.

1 𝛥𝑃
𝑃𝐻= − . (3.2)
𝜌 𝛥𝑋

Quando o equilíbrio é estabelecido, tem-se:

P H = FC (3.3)

Igualando-se as equações 3.1 e 3.3, obtem-se:

1 𝛥𝑃
. = 2. Ω. 𝑣. 𝑠𝑒𝑛 α (3.4)
𝜌 𝛥𝑋

Onde: ρ = massa específica do ar [kg/m³];

ΔP = diferença de pressão sobre o volume de ar [N/m²];

ΔX = comprimento do volume de ar [m];

Ω = velocidade angular da terra [7,29. 10−5 rad/s];

v = velocidade de uma partícula [m/s]

α = latitude [º]

O vento que satisfaz a equação acima é chamado de vento geostrófico. Este


vento ocorre somente na atmosfera superior, quando não há atrito do solo e apenas
aparecem as forças de Coriolis e de gradiente de pressão.

Na figura 3.1 está representada uma situação de equilíbrio entre as forças


de gradiente de pressão PH e de Coriolis FC. Esta situação ocorre com o vento
movendo-se em sentido paralelo às linhas isóbaras, que são linhas de pressão
constante e, desta forma, o vento seguirá o sentido indicado na figura até que o
equilíbrio de forças termine. O ingresso de massa de ar em outra zona de pressão
atmosférica pode alterar o equilíbrio, assim como a mudança da força de Coriolis
alteraria o equilíbrio, pela alteração da latitude (α) ou da velocidade do ar. [1]

Maurício Nunes Santana 19


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

3.3.2.Ventos de superfície
Os ventos são muito influenciados pela superfície terrestre até altitudes de
100 metros. A intensidade do vento é reduzida pela rugosidade da superfície da
terra e pelos obstáculos. As direções perto da superfície são diferentes das dos
ventos geostróficos, devido à rotação da terra. [1]

3.3.3.Ventos Locais

As circulações terciárias de vento são em pequena escala caracterizadas por


ventos locais. Alguns exemplos de circulações terciárias são: brisas marítima e
terrestre, ventos em vales e montanhas, nevoeiros, temporais e tornados. Vamos
nos ater aqui aos dois primeiros exemplos por serem mais atuantes na região em
estudo.

A direção do vento é influenciada pela soma dos efeitos globais e locais.


Quando os ventos globais são suaves, os locais podem dominar o regime de ventos.

As brisas marítimas e terrestres são circulações de ar que ocorrem em áreas


costeiras quando as diferenças térmicas entre a terra e a água são suficientemente
grandes. Durante o dia, o ar sobre a terra reflete mais energia para a atmosfera do
que o ar sobre a água. Assim a pressão do ar sobre a superfície da água é
relativamente maior que sobre a terra. Desta forma, o ar movimenta-se da região de
alta para a de baixa pressão, resultando na brisa marítima, como mostrado na
figura abaixo.

Figura 3.2 - Brisa marítima durante o dia [4]

À noite, o fenômeno inverte-se, e o movimento do ar é no sentido da terra


para a água, conhecido como brisa terrestre. Este movimento se deve ao fato de à
noite a terra esfriar-se rapidamente, tornando-se mais fria que a água. Assim, a

Maurício Nunes Santana 20


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

diferença de pressão entre a terra e a água inverte-se, invertendo-se também o fluxo


de ar. Como as diferenças de temperatura à noite são menores, a brisa terrestre
geralmente é mais fraca. A seguir, a figura ilustra a brisa terrestre.

Figura 3.3 - Brisa terrestre durante a noite

As brisas marítimas e terrestres também podem ocorrer nas costas de


grandes lagos. Os ventos em vales e montanhas são causados por diferenças de
pressão e relevos. Durante o dia, o ar morno aquecido pela terra sobe a montanha,
devido à troca com o ar frio, mais pesado, que desce até o fundo do vale. À noite o
processo é invertido, pois agora a terra e rocha das montanhas são esfriadas, mas a
pressão é maior no vale. [4]

3.4. A potência do vento


Uma turbina eólica capta uma parte da energia cinética do vento, que passa
através da área varrida pelo rotor, e a transforma em energia elétrica.
Considerando-se um fluxo de ar, movendo-se a velocidade V1, perpendicular à seção
transversal de um cilindro, a energia cinética da massa de ar m à velocidade V1 é:

𝑚 .𝑉1 2
𝐸= (3.5)
2

Maurício Nunes Santana 21


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 3.4 - Fluxo de ar através de uma área transversal A [1]

A potência P disponível no vento é definida como a derivada da energia no


tempo:

𝑑𝐸 𝑚 𝑉1 2
𝑃= = (3.6)
𝑑𝑡 2
Onde:
P = potência disponível no vento [W];
E = energia cinética do vento [J];
t = tempo [s];
𝑚 = fluxo de massa de ar [kg/s];
V1 = velocidade do vento [m/s];

O fluxo de massa de ar é dado por:

𝑚 = 𝜌 V1 A (3.7)

Onde:

𝑚 = fluxo de massa de ar [kg/s];


ρ = massa específica do ar [kg/m³];
V1 = velocidade do vento [m/s];
A = Área da seção transversal [m²];

Logo, quando substitui-se a equação (3.7) na (3.5), temos que a potência


disponível no vento que passa pela seção A é dada por:
Maurício Nunes Santana 22
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

1
𝑃= 2
𝜌 𝐴 𝑉1 3 (3.8)

Onde:
P = potência do vento [W];
ρ = massa específica do ar [kg/m³];
A = Área da seção transversal [m²];
V1 = velocidade do vento [m/s];

Quando analisamos, contudo, o vento que passa pela área varrida pelo
rotor de uma turbina, devemos considerar o coeficiente aerodinâmico de potência
do rotor (CP) e o rendimento do conjunto gerador /transmissões mecânicas e
elétricas (η). O coeficiente aerodinâmico de potência do rotor tem seu valor máximo
teórico, de acordo com a lei de Betz, de 59,3% e varia com o vento, rotação e
parâmetros de controle da turbina. Assim, a potência útil produzida pela turbina
eólica deve ser escrita da seguinte forma:

1
𝑃= 2
. 𝜌. 𝐴. 𝑉1 3 . 𝐶𝑝 . 𝜂 (3.9)

3.5. Fatores que influenciam a energia do vento


Alguns fatores influem diretamente na energia que provém do vento. A
escolha do local em que será feita a instalação de um aerogerador deve sempre levar
em consideração a influência desses fatores de modo a otimizar o aproveitamento
do recurso eólico para produção de energia elétrica.

3.5.1.A altitude e a temperatura ambiente

A partir da expressão (3.9), constata-se uma relação direta entre a potência


disponível no vento e a massa específica do ar. A energia cinética de um corpo em
movimento é proporcional a sua massa, sendo assim, a energia cinética do vento
depende da densidade do ar. A densidade do ar, por sua vez, varia com a
temperatura e a pressão atmosférica, conforme a expressão abaixo:
𝑃
𝜌= (3.10)
𝑅𝑇

onde:

Maurício Nunes Santana 23


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

ρ = massa específica do ar [kg/m³];

R = constante do ar [287 J/kg.K];

Pa = pressão atmosférica [Pa];

T = temperatura ambiente [K];

A massa específica do ar depende também da altitude e da temperatura


ambiente, já que a altitude afeta a própria temperatura e a pressão atmosférica do
local. A expressão abaixo estima a massa específica do ar ρ em função da altitude
do local e da temperatura ambiente:

𝑧
353,4 (1− )5,2624
𝜌= 45271
(3.11)
273,15+𝑇

onde:

ρ = massa específica do ar [kg/m³];

z = altitude do local [m];

T = tempertatura ambiente [ºC].

Em condições metereológicas padrão, isto é: 15ºC e 1.013 hPa, a massa


específica do ar ρ é 1,225 kg/m³.

A extensão pela qual a velocidade do vento aumenta com a altura é


governado por um fenômeno chamdo “wind shear”. A fricção entre ventos mais
lentos e mais rápidos leva ao aquecimento, velocidade do vento mais baixa e muito
menos energia disponível do vento perto do solo.

A seguir, a figura ilustra a relação de altura e velocidade em diferentes


áreas.

Maurício Nunes Santana 24


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 3.5 - Diferentes áreas e suas relações entre velocidade do vento e altura [4]

Percebe-se que em regiões com grande concentração de construções


elevadas, como prédios, o vento só atinge velocidades razoáveis a uma determinada
altura. Já em áreas em que só há casas e pequenas construções, o vento atinge
velocidades satisfatórias em alturas menores. No caso do litoral, o vento atinge
velocidades maiores do que os outros exemplos em alturas bem menores.

A conversão de energia em regiões com muitos obstáculos fica prejudicada,


mesmo assim, ainda é possível o aproveitamento nestas regiões. É necessário,
todavia, um estudo de viabilidade para a instalação de equipamentos que
convertam a energia eólica em eletricidade.

Há uma regra prática que permite a utilização de cata-ventos em locais com


obstáculos naturais, como árvores ou elevações no solo. A regra diz que o catavento
tem que ficar a uma distância mínima de 7 vezes a altura que o obstáculo tem.

O comportamento logarítmico da velocidade do vento pode ser usado para


determinar a velocidade do vento em uma determinada altura, sabendo-se sua
velocidade em outra altura. A equação abaixo foi utilizada para que se pudesse
estimar a velocidade do vento no local da instalação do gerador na EPUFBA, tendo
como base as medições de vento da estação coletora.

𝑕
𝑣2 = 𝑣1 ( 2 )𝛼 (3.12)
𝑕1

onde:

h1 = altura do solo do ponto 1 [m];

h2 = altura do solo do ponto 2 [m];

Maurício Nunes Santana 25


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

v1 = velocidade do vento no ponto 1 [m/s];

v2 = velocidade do vento no ponto 2 [m/s];

α = expoente de camada limite [adimensional];

𝑉2
𝑙𝑛
𝑉1
𝛼= 𝑍2 (3.13)
𝑙𝑛
𝑍1

Onde:

V1 = velocidade do vento no ponto 1 [m/s];

V2 = velocidade do vento no ponto 2 [m/s];

Z1 = altura no ponto 1 [m];

Z2 = altura no ponto 2 [m];

A partir da razão entre as alturas no rotor do aerogerador e do local de


coleta de dados de vento que é de 2,5 e do expoente de camada limite de 0,4, para
locais com rugosidade considerável, como cidades, calculou-se um fator de
aproximadamente 1,4 para se estimar as velocidades do vento na altura do rotor do
GERAR 246, tendo como base as velocidades medidas pela estação anemométrica.

3.5.2.A velocidade do vento

A partir da expressão (3.9), percebe-se que a potência disponível no vento é


proporcional ao cubo da velocidade que ele apresenta. Este aspecto é muito
importante e quer dizer que um vento com velocidade 10% superior, por exemplo,
apresenta 33% mais potência disponível, mantidas as demais condições. No caso
estudado, por exemplo, considerando-se velocidades 1,4 vezes maiores na altura do
rotor do aerogerador, dispõe-se de potências aproximadamente 2,8 vezes maiores.

O gráfico a seguir mostra a variação da potência disponível no vento em


função da velocidade do mesmo, considerando-se a massa específica do ar
constante.

Maurício Nunes Santana 26


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 3.6 - Variação da potência disponível no vento com a velocidade do vento [1]

3.5.3.Área de varrimento do rotor

A área de varrimento do rotor ou, a circunferência que o rotor abrange


fisicamente é o que determina quanta energia do vento a turbina eólica é capaz de
captar. Como a área do rotor aumenta com o quadrado do raio, por exemplo, uma
turbina duas vezes maior recebe quatro vezes mais energia.

3.6. Extração da potência do vento e Máximo de Betz

O fluxo de ar através de uma turbina eólica de eixo horizontal é ilustrado na


figura a seguir.

Maurício Nunes Santana 27


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 3.7 - Fluxo de vento através de uma turbina eólica [1]

A equação da continuidade de Bernouilli define a vazão de fluido como


sendo constante para diferentes localizações ao longo do tubo de vazão. Assumindo-
se que não haja fluxo de massa através dos limites do tubo de vazões e
considerando-se a massa específica do ar constante, válido para velocidades de
vento menores que 100 m/s, tem-se:

𝑄 = 𝐴 𝑣 = 𝐴𝑒 𝑣𝑒 = 𝐴𝑠 𝑣𝑠 (3.12)

onde:

Q = vazão de ar que atravessa a turbina eólica [m³/s];

A = área da seção transversal do tubo de vazão que o ar atravessa a


turbina, antes da turbina, onde o vento é livre [m²];

v = velocidade do vento livre, antes da turbina [m/s];

Ae = área da seção transversal do tubo de vazão do ar na entrada do rotor da


turbina;

ve = velocidade do vento na seção do tubo de vazão na entrada na turbina


[m/s];

As = área da seção transversal do tubo de vazão do ar na saída do rotor da


turbina [m²];

vs = velocidade do vento na seção do tubo de vazão na saída da turbina


[m/s];

Maurício Nunes Santana 28


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

A turbina eólica provocará a redução da velocidade do vento na saída do


rotor ao converter a energia cinética do vento, o que resultará no aumento do
diâmetro do tubo de vazões da figura (3.6), conforme a expressão (3.12).

A potência do vento extraída pela turbina eólica é a diferença de potência


entre o fluxo de ar na entrada e na saída do rotor eólico. Pode-se então escrever:

Pt=Pe-Ps (3.13)

onde:

Pt = potência extraída do vento pela turbina eólica [W];

Pe = potência disponível no vento na entrada do rotor eólico [W];

Ps = potência disponível no vento na saída do rotor eólico [W];

Quando o vento perde muita velocidade atrás do rotor, o ar flui em volta da


área do rotor ao invés de atravessá-lo. Logo, a máxima potência que pode ser
extraída do vento por uma turbina eólica apresenta uma limitação que é referente a
1
uma velocidade do vento na saída do rotor eólico que não pode ser inferior a 3
da

velocidade do vento incidente. Sendo assim, o rotor absorve a energia equivalente a


2
3
da energia disponível no vento livre antes da turbina. Logo, para a máxima

transferência de potência:
2
𝑣𝑒 = 𝑣 (3.14)
3

e
1
𝑣𝑠 = 3
𝑣 (3.15)

onde:

v = velocidade do vento livre, antes da turbina [m/s];

ve = velocidade do vento na seção do tubo de vazão na entrada da turbina


[m/s];

vs = velocidade do vento na seção do tubo de vazão na saída da turbina


[m/s];

A potência do vento na entrada da turbina eólica é dada por:


1
𝑃𝑒 = 2
𝑚𝑣 2 (3.16)

onde:

Maurício Nunes Santana 29


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Pe = potência disponível no vento na entrada do rotor eólico [W];

𝑚 = fluxo de massa de ar [kg/s];

v = velocidade do vento livre [m/s];

Sabendo-se que:

𝑚 = 𝜌 𝐴 𝑣𝑒 (3.17)

Onde:

𝑚 = fluxo de massa de ar [kg/s];

ρ = massa específica do ar [kg/m³];

A = área da seção transversal [m²];

ve = velocidade do vento na entrada da turbina [m/s];

Substituindo-se as expressões (3.17) e (3.14) em (3.16), a potência do vento


na entrada da turbina eólica pode ser escrita como:

1 2
𝑃𝑒 = 𝜌 𝐴 𝑣 𝑣² (3.18)
2 3

𝑣
Similarmente, considerando-se 𝑣𝑠 = 3, pode-se determinar a potência do

vento na saída da turbina:

1 2 1
𝑃𝑠 = 𝜌𝐴 𝑣 ( 𝑣)² (3.19)
2 3 3

Voltando à expressão (3.13), da potência extraída pela turbina eólica, e


substituindo-se as equações (3.18) e (3.19) na mesma, chega-se à máxima potência
que pode ser extraída por uma turbina eólica:

1 2 1 2 1
𝑃𝑡𝑚𝑎𝑥 = 𝜌𝐴 𝑣 𝑣2 − (𝜌 𝐴 𝑣)( 𝑣)² (3.20)
2 3 2 3 3

Ou:

Maurício Nunes Santana 30


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

16 1 16
𝑃𝑡𝑚𝑎𝑥 = 27 2
𝜌 𝐴 𝑣³ = 27
𝑃 (3.21)

onde:

𝑃𝑡𝑚𝑎𝑥 = máxima potência que pode ser extraída do vento por uma turbina
ideal [W];

ρ = massa específica do ar [kg/m³];

A = área da seção transversal varrida pelo rotor da turbina [m²];

v = velocidade do vento livre [m/s];

P = potência disponível no vento [W];

A expressão (3.21) traz uma informação muito importante em relação à


16
potência extraída do vento por uma turbina. O valor de 27
ou 59,3% é a máxima

potência que uma turbina eólica pode extrair da potência disponível no vento. Este
valor, conhecido como Máximo de Betz, é referente a uma formulação realizada pelo
físico Albert Betz em 1919.

Como a potência varia com o cubo da velocidade do vento, e


proporcionalmente à densidade do ar, a maior parte da energia eólica está
localizada acima da velocidade média do vento de projeto. Para a produção de
energia elétrica em grande escala só locais com valores de velocidades médias
anuais superiores a 6 m/s são interessantes; abaixo deste valor já não existe
viabilidade para este tipo de aplicações. De fato a velocidade à qual os
aerogeradores começam a rodar situa-se entre 3 e 5 m/s, no entanto abaixo de 5
m/s a quantidade de energia no vento é muito baixa, e a turbina apenas começa a
funcionar por volta dos 5 m/s.

Os valores ideais de aproveitamento estão em torno dos 9 ou 10 m/s, porém


as turbinas podem ser projetadas para uma eficiência máxima dependendo da zona
de velocidade de vento onde esteja a maior parte da energia. [12]

Maurício Nunes Santana 31


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

3.7. Armazenamento de energia


Como o comportamento do vento muda ao longo do tempo, pode ser
necessária a utilização de um sistema de armazenamento de energia que garanta o
fornecimento adequado à demanda. Nos casos em que a energia eólica é utilizada
para complementar a produção de energia convencional, a energia gerada é injetada
diretamente na rede elétrica, não sendo necessário o armazenamento de energia,
bastando que o sistema elétrico convencional de base esteja dimensionado para
atender à demanda durante os períodos de ventos insuficientes.
Quando a energia eólica é utilizada como fonte primária de energia, uma
forma de armazenamento é necessária para adaptar e “racionalizar” o perfil
aleatório de produção energética ao perfil de consumo. Para isso, é necessário
armazenar o excesso de energia durante os períodos de ventos de alta velocidade,
para usá-la quando o consumo não puder ser atendido por insuficiência de vento,
esse excesso de energia pode ser armazenada em baterias, deixando as carregadas
para utilizar as mesmas mais tarde quando tiver insuficiência de vento.

Capítulo 4

4. O comportamento probabilístico do
vento

O vento apresenta variações importantes e não determinísticas, fazendo-se


necessário seu estudo por meio de análise probabilística.

Maurício Nunes Santana 32


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

4.1. A velocidade do vento

A velocidade do vento varia ao longo do dia, do mês, do ano e a longo prazo


também. Na maioria dos casos, pode haver uma variação de até 10% entre o valor
médio anual e a média de longo prazo da velocidade do vento. Tem-se registros de
diferenças de até 18% entre as médias anuais e a média de longo prazo em estações
colocadas em regiões com significativas variações de vento.

Ao longo de um ano o vento também varia. Esta variação é, contudo,


sazonal, apresentando o mesmo comportamento para períodos iguais de anos
diferentes. Até mesmo ao longo do dia, a velocidade do vento experimenta variações
significativas como é verificado abaixo nos dados medidos no dia 07/09/2009 na
estação anemométrica da Escola Politécnica da UFBA.

Figura 4.1 - Variação da velocidade instantânea durante o dia 07/09/2009

4.1.1.Distribuição de frequência da velocidade do vento

O vento tem uma característica estocástica e sua velocidade é uma variável


aleatória contínua. Sendo assim, faz-se necessário sua discretização, de forma a
facilitar a análise. Na tabela a seguir é mostrada a discretização que deve ser feita.
Estes dados foram coletados a partir das medições do meses de agosto, setembro e
outubro de 2009 da estação anemométrica da escola Politécnica da UFBA. Os dados
de velocidade do vento são divididos em faixas de 1 m/s, padrão atualmente usado
em geral nos estudos relacionados à energia eólica.

Maurício Nunes Santana 33


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Velocidade do vento (m/s) Número de ocorrências Frequência relativa (%)


0-1 368 17,78
1-2 804 38,84
2-3 610 29,47
3-4 221 10,68
4-5 64 3,09
5-6 3 0,14
6-7 0 -
7-8 0 -
8-9 0 -
9-10 0 -

Total 2070 100

Tabela 4.1 - Dados de vento na forma de frequência de distribuição

Na figura 4.2 é apresentado o gráfico referente à tabela acima com os


histogramas das frequências de distribuição da velocidade do vento.

Frequência de Distribuição da Velocidade do Vento


45

40

35

30
Frequência (%)
25
Frequência
20

15

10

-
0-1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10

Figura 4.2 – Frequência de distribuição de velocidade do vento

Os dados tabulados e representados graficamente foram obtidos por meio


de medições de vento realizadas na estação anemométrica da EPUFBA que mede
continuamente e registra a velocidade média do vento em períodos discretos de 5
minutos.

Maurício Nunes Santana 34


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

A velocidade média do vento no período em estudo é facilmente obtida,


através da expressão:
1 𝑛
𝑉= 𝑛 𝑖=1 𝑣𝑖 (4.1)

onde:

vi = velocidade do vento registrada [m/s]

n = número de registros [adimensional]

i = identificação do registro

Como não foi possível obter todos os registros a cada 5 minutos nos meses
estudados, calculou-se a média ponderada dos três meses da seguinte forma:
𝑣𝑚𝑖 ∗𝑁𝑂
𝑉= (4.2)
𝑇𝑁𝑂

onde:

vmi = velocidade média do intervalo

NO = número de ocorrências

TNO = total do número de ocorrências

A média da velocidade no trimestre foi 1,93 m/s.

4.1.2. Função densidade de probabilidade do vento

A função de densidade de probabilidade f(v) é uma forma de representação


da distribuição da velocidade do vento. A velocidade média é dada neste caso por:


𝑉= 0
𝑣 𝑓 𝑣 𝑑𝑣 (4.3)

onde v é a velocidade do vento [m/s].

A função de Weibull é, no entanto, a função de densidade de probabilidade


mais adequada à distribuição do vento. Esta função é dada pela seguinte expressão:

Maurício Nunes Santana 35


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

𝑘 𝑣 𝑘−1 −(𝑣)𝑘
𝑓 𝑣 = ( ) 𝑒 𝑐
𝑐 𝑐
(4.4)

onde:

v = velocidade do vento [m/s];

c = fator de escala [m/s];

k = fator de forma [adimensional].

O fator de escala c é expresso em unidades de velocidade e está relacionado


com a velocidade média do vento no local. O fator de forma k, por sua vez, está
relacionado com a variância da velocidade do vento em torno da velocidade média,
ou seja, representa a forma da função de distribuição da velocidade do vento.
Algumas curvas de Weibull para diferentes valores de k são mostradas na figura a
seguir. Observa-se que a variação do fator de forma altera a forma gráfica da
função. Para alguns valores específicos de k, a função de Weibull passa a
representar outra função conhecida de densidade de probabilidade, como:
distribuição exponencial (k = 1), distribuição de Rayleigh (k = 2), distribuição
normal (k = 3,5).

Figura 4.2 - Função de distribuição de Weibull para alguns valores do parâmetro de forma k
Fonte: Energia Eólica para Produção de Energia Elétrica

A função de Rayleigh é uma boa representação de casos de distribuição da


velocidade do vento. É usada normalmente em estudos preliminares, quando não se

Maurício Nunes Santana 36


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

conhece o perfil do vento, visto que apenas o conhecimento da velocidade média do


vento é suficiente para a determinação da sua frequência de distribuição. A
distribuição de Rayleigh é dada pela expressão:

𝜋 𝑣 − 𝜋 ( 𝑣 )²
𝑓 𝑣 = 𝑒 4 𝑉 (4.5)
2 𝑉

onde:

v = velocidade do vento [m/s];

V = velocidade média do vento [m/s].

Capítulo 5

5. Turbinas eólicas

As turbinas eólicas realizam a extração da energia cinética do vento. A


potência do vento é convertida em potência mecânica para a realização de trabalho
ou conversão em energia elétrica por meio das turbinas eólicas.

Neste capítulo serão mostradas turbinas eólicas usadas para a produção de


energia elétrica.

5.1. Tipos de turbinas

5.1.1.Turbinas de arraste

As turbinas de arraste têm suas pás empurradas pelo vento, fazendo o rotor
girar. Três tipos de pás de turbinas de arraste são mostradas na figura a seguir: a
plana, tipo cálice e Panemone.
Maurício Nunes Santana 37
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

A força de arraste provocada pelo vento que flui sobre as pás é expresso
por:

1
𝐹𝑎 = 2
𝜌 𝐶𝑎 𝐴 𝑣² (5.1)

onde:

Fa = força de arraste aerodinâmico [N];

ρ = passa específica do ar [kg/m³];

v = velocidade do vento [m/s];

Ca = coeficiente de arasto [adimensional];

A = área da pá [m²];

O coeficiente de arrasto Ca depende da forma da pá e varia de acordo com o


seu desenho e dimensões, apresentando valores inferiores a 2.

A velocidade das pás em turbinas de arraste não pode ser maior que a
velocidade do vento, fator que limita sua eficiência. Estas turbinas são
frequentemente usadas para bombeamento de pequenos volumes de água com
ventos de baixa velocidade. Apresentam potência de 0,5 kW para um rotor com
diâmetro da ordem de 5m.

5.1.2.Turbinas de sustentação

As turbinas de sustentação usam aerofólios, similares a de aviões, como


pás. Na figura abaixo representa-se o fluxo de ar na seção de uma pá de um rotor
de uma turbina eólica de sustentação. O vento v incide sobre a pá com um ângulo
α em relação ao eixo da pá. O fluxo de ar, então, é forçado a mudar sua direção na
pá, o que faz também mudar sua velocidade. Isto resulta, pela segunda lei de
Newton, no surgimento de uma força de empuxo Fe .

Maurício Nunes Santana 38


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 5.1 - Fluxo na seção da pá de um rotor de uma turbina eólica de sustentação [1]

A força de empuxo pode ser decomposta em 2 parcelas, a força de


sustentação FS, responsável pela sustentação aerodinâmica da pá e a força de
arraste 𝑭𝒂 , provocada pela pressão do vento sobre a superfície da pá, empurrando
de forma semelhante à turbinas de arraste.

A força de sustentação sobre uma seção da pá do rotor é expressa por:


1
𝐹𝑠 = 𝜌 𝑣² 𝐶𝑠 𝐴 (5.2)
2

onde:

FS = força de sustentação [N];

Ρ = massa específica do ar [kg/m²];

V = velocidade do vento [m/s];

CS = coeficiente de sustentação [adimensional];

A = área da superfície superior da pá [m²];

O coeficiente de sustentação CS, muitas vezes chamado de coeficiente de


empuxo, depende das dimensões e características aerodinâmicas da seção da pá.
Este coeficiente poderá variar ao longo do comprimento longitudinal da pá, devido à
mudança dimensional da desta nesse sentido.

O desenho da pá e sua inclinação com relação à direção do vento incidente


deve ser feitos de forma a direcionar a força de empuxo resultante da Fe sobre a pá
de forma conveniente, no sentido da rotação do rotor da turbina, fazendo com que
este realize um trabalho ou torque (força x deslocamento).

Maurício Nunes Santana 39


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

A incidência do vento sobre as pás de uma turbina eólica poderá provocar


um deslocamento do fluxo de ar de parte da superfície da pá, dependendo do
ângulo de incidência do fluxo de ar, das dimensões e perfil da pá e da velocidade do
vento incidente. A figura a seguir demonstra esse deslocamento, mostrando duas
situações.

Figura 5.2 - Fluxos de ar no perfil de uma pá [1]

Na primeira situação, o fluxo de ar é laminar e aderente à superfície da pá


na primeira região. Neste caso a força de sustentação é maior, logo a sustentação
aerodinâmica da pá também é maior e há maior transferência de potência do vento.

Na segunda região o fluxo de ar sobre a pá é turbulento, o que resulta em


um deslocamento entre o fluxo laminar do ar e a superfície da pá. Nesta região, não
haverá força de sustentação aerodinâmica, ou seja, FS = 0 e não haverá
transferência de potência. Esta região é chamada de região de perda, já que há
perda de sustentação aerodinâmica. Logo, quanto maior for a região de perda numa
pá em relação à região de sustentação, menor será a transferência de potência do
vento realizada pela pá.

A figura a seguir mostra dois casos, um com fluxo aderente à pá e outro


com o fluxo separado, com perda de sustentação.

5.2. Orientação do eixo de turbinas eólicas


As turbinas eólicas podem ser construídas com o eixo horizontal ou vertical.

Os rotores de eixo horizontal precisam se manter perpendiculares à direção


do vento para capturarem o máximo de energia. Este é o tipo de turbina mais usado
Maurício Nunes Santana 40
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

atualmente. As turbinas de eixo vertical não necessitam de mecanismos rotacionais


e têm a vantagem do gerador e transmissão serem instalados no solo. As turbinas
Darrieus e Savonius são exemplos. A seguir a figura mostra um rotor Savonius:

Figura 5.3 - Rotor Savonius


A turbina Savonius possui um torque de partida médio ou alto. É usada
para bombeamento e moagem devido à baixa velocidade do rotor. Por meio da
regulação da passagem de ar entre as pás, possibilita-se o controle de torque destas
máquinas. Usa-se um rotor que não é estritamente de arraste, mas tem a
característica de pá com grande área para interceptar o vento. Sendo assim, há
mais material e, consequentemente, mais problemas com a força do vento para
grandes velocidades, o que provoca um momento que deve ser suportado pela pá e
que deve ser absorvido na base da torre, mesmo com o rotor parado. A grande
vantagem da turbina Savonius é sua facilidade de construção.

A turbina Darrieus, por sua vez, é utilizada na geração de energia elétrica,


por isto a velocidade do rotor é alta, movendo-se mais rápido que o vento. Nesta
máquina o aerogerador é instalado no solo, o que facilita sua montagem e
manutenção.

5.3. Número de pás em turbinas eólicas

As turbinas eólicas de eixo horizontal podem ser fabricadas com diferentes


números de pás no seu rotor. Uma pá girando no espaço que já foi ocupado por
outra, corta um ar perturbado, o que reduz a velocidade do rotor. Por outro lado,
um maior número de pás aumenta o torque sobre o eixo do rotor. Como torque e
velocidade são inversamente proporcionais, quanto menor for o número de pás,
mais rápida será a rotação do rotor.

Maurício Nunes Santana 41


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

A geração elétrica exige alta velocidade e baixo torque, portanto, turbinas


com poucas pás. O bombeamento de água e os processos de moagem, por sua vez,
requerem altos torques e baixas velocidades. Para essa aplicação são, então, usadas
turbinas com várias pás.

O menor número de pás possível é um. O movimento do rotor, neste caso, é


muito irregular, já que a incidência do vento é maior na pá que no contrapeso. O
rotor sofre grandes vibrações, produz mais ruídos e apresenta dificuldades de
balanceamento, devido à alta velocidade e à vibração.

O rotor de 3 pás tem movimento suave e estável, resultando em impacto


visual menor. O balanceamento destes rotores é mais fácil e apresenta vibrações e
emissões de ruídos menores. O rotor da turbina que será o objeto deste estudo
possui 3 pás.

5.4. Controle de potência e velocidade das turbinas


eólicas

A pá do rotor de uma turbina eólica tem um perfil especialmente projetado e


que é similar aos usados para asas de aviões, de forma que as forças aerodinâmicas
geradas ao longo do perfil convertam a energia cinética do vento em energia
mecânica rotacional. Com a velocidade do fluxo de ar aumentando, as forças de
sustentação aerodinâmicas aumentam com a segunda potência, conforme a
expressão (5.2) e a potência extraída do vento, com a terceira potência de velocidade
do vento, conforme a expressão (3.9). Sendo assim, necessita-se de um controle de
potência do rotor efetivo e rápido para que se evite danos no rotor em virtude de
ventos altos.

Dois princípios de controle aerodinâmico são usados em turbinas. Um


passivo, chamado de controle por estol (stall control) e outro ativo, chamado de
controle de passo (pitch control).

5.4.1.Controle por estol

Este tipo de controle é passivo e reage à velocidade do vento. As pás do


rotor são fixas e não podem ser giradas em torno do seu eixo longitudinal. O ângulo
de passo é escolhido de forma que para velocidades de ventos maiores que a
Maurício Nunes Santana 42
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

nominal, o fluxo em torno do perfil da pá do rotor se descola da superfície (estol). O


fluxo se afasta da superfície da pá, surgindo regiões de turbulência entre esse fluxo
e a superfície. Na situação de estol, a força de sustentação é reduzida, enquanto a
força de arrasto aumentada. Esta dinâmica permite o controle da potência de saída
da turbina.

Para evitar que o estol ocorra em todas as posições radiais das pás ao
mesmo tempo, o que reduziria consideravelmente a potência do rotor, as pás
possuem uma torção longitudinal que as levam a um suave desenvolvimento do
estol. O fluxo em torno dos perfis das pás do rotor é deslocado da superfície,
produzindo sustentações menores e forças de arrasto mais elevadas.

As turbinas com controle por estol são mais simples que as com controle de
passo e apresentam certas vantagens, como: a inexistência de sistemas de controle
de passo, estrutura de cubo do rotor simples, requerem menos manutenção devido
a um número menor de peças móveis, permitem um auto-controle da potência.

A curva de potência típica de uma turbina com controle por estol é


mostrada na figura a seguir.

Figura 5.4 - Curva de potência típica de uma turbina com controle por estol [1]

5.4.2.Controle de passo

Este tipo de controle é ativo, fazendo-se necessário um sinal do gerador de


potência. Quando a potência nominal do gerador é ultrapassada, devido ao
aumento das velocidades do vento, as pás do rotor serão giradas em torno do seu
Maurício Nunes Santana 43
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

eixo longitudinal, mudando o ângulo de passo para aumentar o ângulo de ataque


do fluxo de ar. Este recurso faz que as forças aerodinâmicas atuantes e a extração
de potência de vento pela turbina diminuam.

Figura 5.5 - Representação do movimento de uma pá de uma turbina com controle


de passo
Fonte: Energia Eólica para Produção de Energia Elétrica

O controle de passo determina um ângulo de passo de tal maneira que a


turbina produza apenas a potência nominal para todas as velocidades do vento que
superam a nominal. Até atingir a potência nominal, o fluxo em torno dos perfis da
pá do rotor é bem aderente à superfície, resultando em sustentação aerodinâmica e
pequenas forças de arrasto. Para que a potência permaneça constante, o ângulo de
ataque deve ser alterado de forma a produzir o estol e, assim, a perda de
sustentação suficiente para a manutenção da potência transferida pelo rotor.

A curva de potência típica de uma turbina com controle de passo é


mostrada na figura a seguir.

Maurício Nunes Santana 44


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 5.6 - Curva de potência típica de uma turbina com controle de passo [1]

As turbinas com controle de passo, apesar de serem mais sofisticadas do


que as de passo fixo, controladas por estol, possuem algumas vantagens, como:
controle de potência ativa sob todas as condições de vento, possibilidade de atingir
a potência nominal mesmo sob condições de baixa densidade do ar, maior produção
de energia sob as mesmas condições, partida simples do rotor pela mudança de
passo, pás dos rotores mais leves, etc.

5.4.3.Controle por estol ativo

O sistema de controle por estol ativo é um controle de potência e velocidade


híbrido. Mistura-se os controles por estol e de passo. O aerogerador GERAR 246,
objeto de estudo do trabalho, possui este tipo de controle.

Como maiores vantagens deste tipo de sistema estão a necessidade de


pequenas mudanças no ângulo de passo para se controlar a potência, a
possibilidade de controle de potência sob condições de potência parcial, no caso de
ventos baixos e maior simplicidade na construção, em comparação com turbinas
com controle de passo.

Capítulo 6

6. Aerogeradores

Os aerogeradores são equipamentos para produção de energia elétrica a


partir da energia cinética do vento. A turbina eólica e o gerador são os principais
componentes de um aerogerador. Neste capítulo serão mostrados, o princípio da

Maurício Nunes Santana 45


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

geração de energia elétrica por meio de um aerogerador, os componentes, sistemas


e características do GERAR 246, objeto de estudo do presente trabalho.

6.1. O princípio da geração eólica

A turbina eólica movida pelo vento produz energia mecânica, que é


transmitida ao gerador pelo eixo e convertida em energia elétrica posteriormente.

A conversão de energia mecânica em energia elétrica pelo gerador elétrico é


feita por meio de conversão eletromagnética. O acoplamento entre a turbina e o
gerador é feito por meio de caixas multiplicadoras na maioria dos grandes
aerogeradores, devido às diferentes rotações das duas máquinas. Há, contudo,
alguns casos de acoplamentos diretos, que não requerem o uso de caixas
multiplicadoras. O GERAR 246 permite o acoplamento direto ao captador eólico,
sendo o alternador uma máquina própria para uso em baixa velocidade. O gerador
elétrico pode ser síncrono ou assíncrono.

6.2. Partes do aerogerador GERAR 246


Um aerogerador é formado por diversas parte e sistemas. O GERAR 246 é
formado pelas seguintes: Pás/captador eólico, alternador (gerador de magnetos
permanentes), leme direcionador, cabeça rotativa e controlador de carga. Os
componentes serão detalhados a seguir.

6.2.1.Pás/Captador Eólico

O rotor do GERAR 246 é composto de três pás feitas de fibra de vidro


fixadas na própria carcaça do alternador por meio de uma raiz tubular de aço inox
que permite a sua modulação, ajustando o ângulo de ataque em função da
velocidade do vento. Há ainda para a fixação das hélices uma mola central que deve
ser comprimida sobre as bases das hélices garantindo que estas atuem de acordo
com a regulagem determinada e também para que haja a sincronização do sistema.

As pás do GERAR 246 têm formato torcido estreitando da raiz até a ponta, o
que facilita a partida com vento de baixa velocidade e oferece alto desempenho nas
maiores velocidades, além de baixo nível de ruído.

Maurício Nunes Santana 46


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

6.2.2.Alternador

O GERAR 246 tem um alternador do tipo axial com duplo rotor, o que
permite ter uma máquina potente, compacta e resistente. O alternador utiliza
magnetos permanentes feitos com base de neodímio. O alternador do GERAR 246 é
uma máquina para uso em baixa velocidade, permitindo o acoplamento direto ao
catador eólico, o que dispensa o uso de sistemas multiplicadores de velocidade.

O alternador produz corrente alternada trifásica que flui por mei de três
cabos para a base da torre e daí ao controlador de carga.

6.2.3.Leme Direcionador

O leme direcionador é fabricado em fibra de vidro e é acoplado ao corpo da


cabeça rotativa. Ele é composto do leme propriamente dito. O leme direcionador tem
como função a orientação do captador eólico no sentido da direção do vento e
responde às mínimas alterações nesta direção.

6.2.4.Cabeça Rotativa

A cabeça rotativa ajuda na fixação no tubo padrão que sempre deve existir
no topo da torre. Os seus rolamentos internos permitem o giro completo, facilitando
o alinhamento do aerogerador com a direção do vento. No interior da cabeça
rotativa é feita a fixação do cabo elétrico que transmite a corrente elétrica do
gerador que gira acompanhando a direção do vento para o controlador de carga.
Para que não haja a torção no cabo elétrico durante a mudança de direção do
gerador, o GERAR 246 dispõe de um jogo de escovas que fazem a transferência da
energia do aerogerador para o cabo elétrico.

6.2.5.Controlador de Carga

A energia gerada pelo alternador chega ao controlador de carga na forma


alternada e trifásica. O nível de tensão e a freqüência, no entanto, variam
extremamente com a velocidade do vento. Para algumas aplicações, como
bombeamento e aquecimento, é possível que se utilize a energia como ela é gerada,
mas para aplicações mais usuais da energia, é necessário acumular e estabilizar a
energia.

O controlador de carga transforma a energia recebida do alternador para a


forma de corrente contínua disponível para sistemas de 24/48 V. Através dele,
pode-se aplicar o freio magnético, acionando-se uma chave no painel do
Maurício Nunes Santana 47
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

controlador. Ao ser acionada a chave, aplica-se uma corrente elétrica que flui em
sentido contrário, oriunda do banco de baterias, e através da indução magnética
dos rolamentos do gerador elétrico para-se o aerogerador.

Além do condicionamento da energia, o controlador de carga executa


funções de proteção das baterias, tanto em situações de excesso de carga gerada,
quanto para consumo exagerado das baterias. Desta forma, o controlador de carga
ajuda no aumento da vida útil do sistema e ainda possui indicações do estado de
carga e descarga das baterias.

Dependendo das características da energia gerada por cada alternador é


necessário maior ou menor complexidade no acoplamento do aerogerador com as
baterias, uma vez que se gera em corrente alternada (AC) e armazena-se em
corrente contínua (DC).

A interação com o usuário é feita por meio de sinais luminosos que indicam
o estado de carga das baterias e componentes que indicam a geração do
equipamento. Abaixo a figura mostra um esquema do controlador de carga. [8]

Maurício Nunes Santana 48


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 6.1 - Controlador de carga do GERAR 246 [8]

Figura 6.2 – Painel elétrico aberto. Controlador de carga abaixo ao lado esquerdo

Maurício Nunes Santana 49


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

6.3. Características técnicas do aerogerador GERAR 246


O GERAR 246 possui alto rendimento aerodinâmico, pesa 25 kg e seu
rotor tem 2,46 m de diâmetro. Este aerogerador foi projetado para captar energia a
baixíssimas velocidades de vento, a partir de 3 m/s. Ele atinge a potência nominal,
de 1000 Watts a uma velocidade do vento de 12,5 m/s e seu rotor possui 3 pás. As
pás do rotor são torcidas e possuem 5 aerofólios. A velocidade de partida do GERAR
246 é 2 m/s e seu toque de partida, 0,3 N/m. O controle de potência utilizado é o
estol ativo (Active Stall), havendo, portanto, controle por estol e controle de passo
sincronizado para proteção contra altas velocidades. Este sistema de controle de
potência consiste no giro das hélices sincronizadamente de acordo com a velocidade
do vento. O sistema magnético do alternador utiliza magnetos permanentes com

base de neodímio.

O sistema elétrico é trifásico, possui tensão de saída de 24/48 V. O gerador


é de imã permanente com fluxo axial, o que facilita o início da geração, devido à
baixa resistência de partida. O peso total, incluindo-se alternador, hélices e cabeça
rotativa é 32 kg e o material anti corrosão usado é o alumínio. [8]

A seguir, as curvas de potência e de produção mensal fornecidas pelo


fabricante do aerogerador:

Figura 6.3 - Curva de Potência do GERAR 246 [6]

Maurício Nunes Santana 50


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 6.4 - Produção mensal de energia em função da velocidade média anual [6]

Utilizando-se o RETscreen, software de análise de projetos de energias


limpas, plotou-se as curvas abaixo com base nos dados da curva de potência do
aerogerador. Abaixo seguem os gráficos encontrados e a tabela com os dados que
geraram os gráficos:

Power curve Energy curve


Wind speed data data
m/s kW MWh
0
1
2
3 0,0 0,5
4 0,1 1,1
5 0,2 1,8
6 0,3 2,7
7 0,4 3,5
8 0,5 4,1
9 0,6 4,5
10 0,8 4,7
11 0,9 4,7
12 1,1 4,6
13 1,2 4,4
14 1,3 4,2
15 1,1 4,0
16 0,7
17 0,7
18
19
20
21
22
23
24
25 - 30

Maurício Nunes Santana 51


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 6.5 - Dados para as curvas de potência e energia do aerogerador

Figura 6.6: Curvas de potência e energia gerados no RETscreen

O software apresentou algumas limitações na entrada de dados não


permitindo a entrada de valores de potência da curva para velocidades acima de 15
m/s. Além disso, a escala do eixo da energia está indicando uma geração de energia
10 vezes maior. Ao comparar-se com o gráfico de produção mensal fornecido pelo
fabricante, chega-se a essa conclusão. A inclinação da reta, contudo, no intervalo
entre 3,5 e 7,5 m/s, é bem semelhante à fornecida pelo fabricante.

6.4. O sistema de segurança do aerogerador

O sistema de controle de passo sincronizado desenvolvido para este


aerogerador possui o mesmo nível de eficiência e confiabilidade das máquinas de
grande porte.

Este sistema é simples e possui um arranjo mecânico robusto, tornando-o


extremamente confiável, viável economicamente e sem a necessidade de
manutenção.

O sistema atua mantendo as pás fixas até a velocidade de 12,5 m/s do


vento. A partir desta velocidade, o controle de passo é acionado mecanicamente,
regulando o aumento da rotação. A velocidade de rotação, na verdade, continua
aumentando, mas sob o controle do sistema, o que permite o aproveitamento de
grande parte da energia disponível no vento. Este aproveitamento ocorre entre 12,5
m/s e 16 m/s. A partir desta velocidade, a rotação é reduzida em dois terços,

Maurício Nunes Santana 52


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

deixando o aerogerador em segurança, mesmo com o aumento da velocidade do


vento. A geração continua, mas em nível menor.

Este sistema é ainda responsável pelo baixo nível de ruído que apresentam
os equipamentos deste fabricante, mesmo em velocidades de vento muito elevadas.

6.5. Aerogerador com gerador síncrono de ímãs permanentes


O GERAR 246 possui um gerador síncrono de ímas permanentes. Este tipo
de gerador é normalmente utilizado em geração isolada (autônoma) ou em conjunto
com outras fontes de energia em sistemas híbridos, para bombeamento ou em
sistemas híbridos.

Em geradores eólicos de pequeno porte operando de forma autônoma


utiliza-se normalmente geradores síncronos, em especial o de ímãs permanentes
para unidades de até 50 kW.

Estes geradores possuem alta eficiência, pois não possuem enrolamentos


rotóricos, causadores das perdas por excitação, que correspondem entre 20 e 30%
de todas as perdas da máquina. Além disso, possuem fáceis sistemas de
resfriamento, tamanho reduzido e o uso do Neodímio Ferro Boro como material
magnético, que permite a produção de altas densidades de fluxos magnéticos da
ordem de 0,5 a 0,6 T.

Estas máquinas não possuem escovas ou fonte de tensão contínua,


reduzindo as manutenções, aumentando o rendimento e a relação torque/volume.

O circuito equivalente de um gerador de imã permanente é apresentado na


figura abaixo. Lmd e Lmq são as indutâncias de magnetização equivalentes no eixo
d e q. Lls é a indutância de dispersão e Rs é a resistência dos enrolamentos do
estator. A corrente i´m é a corrente de magnetização equivalente dos imãs
permanentes referida ao estator.

Maurício Nunes Santana 53


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 6.7 – Circuito equivalente de um gerador de ímãs permanentes [9]

6.5.1.Performance de um aerogerador

Um aerogerador comercial não produz energia a todo tempo a plena


capacidade. Isto ocorre devido a perdas que reduzem o rendimento,
indisponibilidades e variações da velocidade do vento nos locais da instalação.

Os aerogeradores apresentam perdas em seus componentes que


influenciam no seu rendimento. As perdas normalmente concentram-se no
multiplicador, no gerador, no transformador e nos sistemas elétricos associados ao
aerogerador.

O aerogerador GERAR 246 por não possui multiplicador de velocidades, não


sofre perda em seu rendimento devido ao atrito nas engrenagens, que gera perdas
em forma de calor. Os geradores apresentam perdas mecânicas, elétricas e
magnéticas.

As perdas mecânicas são causadas pelo atrito das partes móveis, como
mancais e ventilação. Devido ao efeito Joule, ocorrem as perdas elétricas causadas
pela circulação de corrente nos enrolamentos, transformando-se energia em calor.
Os fluxos magnéticos no núcleo do gerador provocam perdas por histerese, por
correntes parasitas e por saturação magnética, produzindo calor também.

O rendimento total do aerogerador leva em conta todas as perdas, portanto


os rendimentos individuais de cada componente, incluindo a turbina eólica. A
potência elétrica gerada por um aerogerador pode ser escrita como:
1
𝑃= 𝐶𝑃 𝜂 𝜌 𝐴 𝑉³ (6.1)
2

Maurício Nunes Santana 54


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

onde:

P = potência do aerogerador [W];

Cp = coeficiente de potência [adimensional];

η = rendimento do aerogerador [adimensional];

ρ = massa específica do ar [kg/m³];

A = área da seção transversal do rotor da turbina eólica [m²];

V = velocidade do vento que incide na turbina eólica [m/s];

As curvas de potência fornecidas pelos fabricantes já levam em


consideração as potências de saída do gerador elétrico, portanto já incluem o
rendimento total do aerogerador. [1]

6.5.2.Fator de capacidade de um aerogerador

A relação entre a energia gerada e sua capacidade de produção é


denominada fator de capacidade de um aerogerador. Este fator pode ser calculado
para qualquer período de tempo, mas sua verificação anual é mais usual, sendo
expresso por:

𝐸𝐴𝐺
𝐹𝑐 = (6.2)
8760 ∗𝑃

onde:

Fc = fator de capacidade [adimensional ou %, se multiplicado por 100];

EAG = energia anual gerada [kWh];

P = potência nominal [kW].

O fator de capacidade está intimamente ligado ao perfil do vento no local


onde o aerogerador é instalado, pois o perfil de vento afeta a energia anual gerada.
Na tabela seguinte, são dados os fatores de capacidade do aerogerador GERAR 246
para diferentes velocidades médias de vento.

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Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Velocidade Média do Vento(m/s) Energia anual gerada (kWh) Fator de capacidade(%)


3 263 3,0
4 438 5,0
5 1.314 15,0
6 2190 25,0
7 3329 38,0
8 4380 50,0
9 5256 60,0
10 6833 78,0

Tabela 6.5 - Fatores de capacidade do GERAR 246 em função da velocidade média do vento
no local

6.6. O sistema eólico de geração de energia de pequeno

porte

O sistema eólico de geração de energia de pequeno porte é constituído por


aerogerador, torre, controlador de carga, bateria e inversor. Neste tópico, a torre, a
bateria e o inversor serão mais detalhados.

A torre é um componente que pode ter grande variabilidade, devido às


condições locais, de terreno, obstáculos ao vento e disponibilidade da área para
instalação.

A altura da torre do aerogerador da EPUFBA é de 5,20 m. Há dois tipos de


torres que são mais usadas:

Estaiada – Possui uma haste central de sustentação onde se lançam cabos


de aço que são ancorados por bases que suportam toda a carga de força lateral.
Normalmente as torres estaiadas são as mais viáveis economicamente para
pequenos aerogeradores, mas necessitam de espaço para sua instalação. A torre do
aerogerador da EPUFBA é deste tipo.

Autoportante – Pode ser treliçada ou tubular e não há necessidade de


estais. Requerem estruturas mais robustas e caras.

As baterias desempenham um papel importante num sistema de geração de


energia de pequeno porte. Elas são importantes para o armazenamento da energia
quando a geração for maior que o consumo. A energia que é armazenada é utilizada
quando não há vento apropriado, o que possibilita um maior aproveitamento do
sistema. Aconselha-se a utilização de baterias específicas para este tipo de energia.
Maurício Nunes Santana 56
Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

São as baterias estacionárias ou de descarga profunda, pois como a produção de


energia eólica é irregular, necessita-se de uma bateria que suporte uma descarga
maior sem afetar sua durabilidade.

O inversor funciona como um filtro que compatibilizará a energia


disponibilizada nas baterias (DC) com a energia da rede (AC). Há basicamente dois
tipos de inversor:

Onda senoidal modificada – São em geral mais baratos e possuem certas


restrições em aparelhos eletrônicos mais sensíveis.

Onda senoidal perfeita – Tem qualidade muitas vezes superior a energia


disponibilizada pela rede pública e não tem restrições de uso.

6.6.1.As baterias

As baterias utilizadas no sistema em estudo são baterias Tudor de 12 V,


cuja capacidade é 115 Ah. As baterias foram ligadas em série, já que uma tensão de
24V é requerida. A capacidade de corrente da associação é 115 Ah. Estas baterias
utilizam tecnologia Ventilada com Sistema de Retenção de Partículas Ácida (V-
SRPA) e filtro A.G.A. Este filtro é composto por duas camadas de filtros com
porosidades e funções diferentes. Ele retém as partículas ácidas que são arrastadas
pelas moléculas de oxigênio e hidrogênio emitidas no processo de eletrólise, além de
impedir a passagem de centelhas que podem provocar a explosão das baterias.
Graças ao filtro A.G.A, a bateria Tudor estacionária pode ser utilizada no mesmo
ambiente de pessoas e equipamentos eletrônicos.

Esta bateria utiliza na placa positiva a liga Chumbo – Calcio - Estanho


(PbCaSn), com alto teor de estanho e Chumbo – Cálcio (PbCa) na placa negativa.
Esta liga permite bons desempenhos em uma ampla faixa de variação de
temperatura e em diferentes regimes de operação, como ciclagem e flutuação. Esta
liga permite ainda que a tensão de equalização seja reduzida em comparação a liga
Cálcio - Cálcio com baixo teor de estanho, o que resulta em um mínimo consumo
do eletrólito, maximizando a vida útil das baterias Tudor Estacionária. [10]

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Figura 6.8 – Baterias Tudor de 12V ligadas em série

6.6.2. O inversor de frequência

6.6.2.1. Studer AJ 400

O inversor de tensão (CC/CA) utilizado no sistema eólico em estudo é o


Studer AJ 400. É um inversor de onda senoidal pura, capaz de operar sem
dificuldades em instalações em que se requer boa qualidade de onda. A linha AJ da
Studer foi desenvolvida usando-se um sofisticado controle digital por meio de
microprocessadores.

A potência nominal do inversor é de 400W, o que corresponde a 40% da


capacidade nominal no aerogerador. A tensão de entrada CC é de 24V. A tensão de
saída é 220 V com frequência de 60 Hz. Sua potência máxima atinge 1400W e sua
eficiência máxima é 94%. O inversor pesa 4,5 kg e tem garantia de 2 anos. [13]

A forma de onda senoidal pura é a melhor opção para utilização das cargas
que serão alimentadas, lâmpadas incandescentes. O tipo de carga a ser atendida e
a forma de onda de saída do inversor devem ser compatibilizadas para evitar
problemas no acionamento destas cargas.

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Figura 6.9 – Inversor Studer AJ 400

6.6.2.2. xPower 400

Como houve alguns problemas na qualidade da energia obtida ao se utilizar


o inversor Studer, devido ao reator eletrônico das lâmpadas fluorescentes, o
inversor xPower 400 foi utilizado provisoriamente.

Este é um inversor de onda senoidal modificada que possui alto rendimento


na conversão da energia e proteções contra sobreaquecimento e sobrecarga. O
inversor desliga automaticamente em caso de sobrecarga, desativando a saída e
voltando a trabalhar normalmente, quando a condição de sobrecarga é corrigida.

A potência nominal do inversor é de 400W, o que corresponde a 40% da


capacidade nominal no aerogerador. A tensão de entrada é 12V e a de saída, 115
Vca com frequência de 60 Hz. Sua potência de surto atinge 600W em 5 segundos e
sua eficiência calculada foi de 84%, porém acredita-se que quando operando mais
próximo de sua potência nominal esse valor atinja 90%. A corrente medida na
entrada do inversor foi de 5,2 A e a tensão de entrada 12,5 V, resultando numa
potência de entrada de 65 W. Na saída a potência medida foi de 54,6 W, para uma
corrente de saída de 0,47 A, tensão de 119 Vca e fator de potência de 0,97.

Maurício Nunes Santana 59


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Capítulo 7

7. Montagem de um aerogerador

A montagem de um aerogerador é feita no local de operação do mesmo,


requer infra-estrutura adequada e um planejamento rigoroso. Para a montagem de
grandes máquinas são necessários guinchos de alta capacidade e com lanças de
elevado comprimento, sempre superior à altura do aerogerador, que pode ser de
100 metros ou mais. [1]

O transporte de componentes de grandes dimensões, como as pás, até o


local da instalação requer cuidados especiais e, muitas vezes, exige a preparação de
estradas e acessos, como alargamentos e ajustes nos raios das curvas. A torre
geralmente é dividida em partes, na fabricação, para facilitar o transporte, sendo
montada no local.

7.1. A Montagem do Gerar 246 e do quadro elétrico


No dia 28/09/09 foram iniciados os trabalhos para a montagem do
aerogerador na EPUFBA. Inicialmente foram colocados os tubos de PVC
galvanizados por dentro, eletrodutos roscáveis de PVC rígido antichamas ¾’’,
braçadeiras e conduletes para se levar a fiação do terraço da Escola, local da
instalação, até o seu 8º andar, onde fica o quadro elétrico.

Depois foi providenciada a construção de uma base, sobre a qual o mastro


foi fincado por meio de 4 parafusos.

Maurício Nunes Santana 60


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 7.1 - Base do aerogerador

Figura 7.2 - Tubos de PVC instalados no terraço da EPUFBA

No dia 21/10/09 o aerogerador foi montado. Conectou-se, primeiramente, o


cabo elétrico. Ele foi passado por dentro do tubo (2 ´’’) de sustentação da torre e
conectado nos terminais que se encontram na base do aerogerador.

Maurício Nunes Santana 61


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 7.3 - Cabo elétrico que passa por dentro da torre conectado aos terminais da base.
O aerogerador já vem pré-montado, com os parafusos para a fixação na
torre. Foi feito, então, o encaixe das hélices e aperto da mola central. Passou-se
uma arruela clara no eixo frontal até o final do curso do eixo e colocou-se as hélices
e pinos de fixação. Depois foi passada outra arruela pelo eixo frontal, até que esta
fosse encostada nas bases das hélices.

Em seguida foi colocada a mola e passada outra arruela clara pelo eixo
frontal até que ela encostasse no batente da mola. Depois da mola, fixou-se a nacele
frontal, que possui uma numeração indicando o posicionamento correto. Esta
numeração garante o perfeito encaixe da nacele, facilitando a colocação dos
parafusos de fixação.

Maurício Nunes Santana 62


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Figura 7.4 - Hélices e mola central do rotor do GERAR 246

Para que se facilite a instalação, o fabricante numera as hélices


determinando o local de instalação. Esta numeração deve ser respeitada, pois o
GERAR 246 é previamente balanceado, garantindo uma operação mais serena do
equipamento.

No dia 22/10/09, elevou-se o mastro sobre a base e em seguida, com o


auxílio de um andaime fixou-se o GERAR 246 sobre a torre de 5,20m. Por fim,
instalou-se o leme direcionador. Ele foi posicionado na parte traseira do
equipamento, fixando-se os 4 parafusos pré-determinados.

Figura 7.5 - Aerogerador fixado sobre o mastro


Maurício Nunes Santana 63
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No dia 27/10/09, foi instalado o quadro elétrico no 8º andar da EPUFBA. O


quadro permite a ligação de duas cargas de forma comutável. Ou utilizando-se a
energia do aerogerador, armazenada em baterias, ou da COELBA.

Figura 7.6 – Quadro elétrico com chave na posição 1 (aerogerador)

Maurício Nunes Santana 64


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Capítulo 8

8. Dimensionamento

As cargas atendidas pelo aerogerador são lâmpadas fluorescentes.


Inicialmente alimentou-se apenas um ponto de luz, totalizando 2 lâmpadas de 32W,
localizadas no 8º andar da EPUFBA. Com uma potência instalada de 64W e um
regime de funcionamento de 5h diárias, o consumo diário desta carga é de 320 Wh.
Considerando-se as perdas nas baterias, de 15%, e no inversor, de 10%, tem-se que
a energia que deve ser gerada para atender a esta carga é de 400Wh. Este consumo
diário, equivale a um consumo mensal de 8,8 kWh, considerando-se funcionamento
das lâmpadas durante 22 dias úteis no mês. Levando-se em conta que, dentre os
meses estudados, aquele em que a geração de energia estimada mais baixa foi de
9,56 kWh, conclui-se que o aerogerador atenderia a esta carga no período estudado.

A corrente nominal destas cargas é de aproximadamente 0,30 A. Sabendo-


se que a capacidade da associação das baterias é 115 Ah, a profundidade máxima
de descarga de baterias estacionárias tem valor típico de 0,60 p.u e a autonomia de
20h, o sistema atenderia uma carga que consumisse até 82,8 Ah/dia, pela
expressão abaixo.
𝐴𝑕
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑥𝐴𝑢𝑡𝑜𝑛 𝑜𝑚𝑖𝑎 (𝑑𝑖𝑎𝑠 )
𝑑𝑖𝑎
𝐶𝑎𝑝𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐴𝑕 = (8.1)
𝑃𝑟𝑜𝑓𝑢𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑎 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑛𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑎𝑢𝑡𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑎 (𝑝𝑢 )

Como o tempo de funcionamento diário das cargas é de 5h, pela expressão


a seguir o consumo da carga seria de 13,75 Ah/dia. Admitindo-se o consumo no
inversor como 20% do consumo total das cargas, tem-se um consumo de 16,5
Ah/dia. Seria possível, portanto, a alimentação de 5 pontos de luz com duas
lâmpadas de 32W. A carga total seria também adequada do ponto de vista do
inversor, pois este tem 400W de potência e como recomenda-se que a potência do

Maurício Nunes Santana 65


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

inversor seja a da carga mais 20%, logo 320W estaria dentro do limite. Vale frisar
que desprezou-se as perdas no reator eletrônico por serem muitos baixas, porém no
caso de reatores eletromagnéticos serem usados, o cálculo deve ser refeito para um
melhor ajuste.

𝐴𝑕 𝑕 𝑉𝑐𝑎
𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑖𝑎
= 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝐴 𝑥 𝑈𝑠𝑜 𝑑𝑖𝑎
𝑥 𝑉𝑐𝑐 (8.2)

Se for considerado o consumo de 400 Wh/dia durante um mês, tem-se um


consumo mensal relativo à carga escolhida de 12 kWh, assumindo-se que a carga
funcione durante todos os dias do mês. Por meio do gráfico de produção de mensal
do GERAR 246 e considerando-se uma velocidade média anual de
aproximadamente 4 m/s no local da instalação, acredita-se que esta carga possa
ser alimentada pelo aerogerador sem maiores problemas. Para a velocidade citada a
cima, a produção mensal de energia é de aproximadamente 70 kWh, o que significa
que mais alguma carga, de fato, pode ser contemplada.

Capítulo 9

9. Estudo da viabilidade econômica

O estudo da viabilidade econômica é fundamental para toda instalação


eólica e deve contemplar os custos iniciais e custos anuais de operação e
manutenção.

Os gastos iniciais para a instalação do GERAR 246 na EPUFBA foram


reduzidos ao custo do equipamento e da sua instalação, já que nao houve ônus
para se avaliar o potencial eólico do local. Os custos de operação e manuenteção
são devido a manuntenções preventivas e reposições ocasionais, como em baterias
que tem vida útil de 3 anos, segundo o seu fabricante.

Maurício Nunes Santana 66


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Para uma estimativa do potencial do local foram utilizadas informações


encontradas no software RETscreen International que apresenta dados
climatológicos, anemométricos, de humidade relativa, radiação solar, como
mostrado abaixo na figura:

Figura 9.1 – Dados de referência do local

Foi calculado o custo para o carregamento de baterias, utilizando-se dados


da curva de potência fornecida pelo fabricante. O cálculo da produção de
eletricidade do gerador eólico foi feita com base nas velocidades de vento
encontradas no software RETscreen, mas estimadas para uma altura diferente,
visto que o aerogerador foi instalado em um local diferente de onde se encontra a
estação anemométrica da UFBA.

A velocidade média do vento de acordo com as informações encontradas no


software RETscreen International é 2,96 m/s. Calculando esta média para o local
onde o aerogerador foi instalado, encontrou-se 4.14 m/s.

As informações necessárias em relação aos custos do gerador eólico e toda


infra-estrutura necessária para sua instalação foram obtidas com o engenheiro
responsável pela instalação do sistema. A partir dos custos iniciais e anuais de
operação e manutenção, calculou-se o custo anual da energia gerada.

Foi utilizado o método do fator de recuperação de capital [14]:

Maurício Nunes Santana 67


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

𝑖. 1+𝑖 𝑛
𝑅 = 𝑃. [ ] (9.1)
1+𝑖 𝑛 −1

onde:

P = investimento total;

R = retirada anual para que se recupere o investimento P;

i = taxa mínima de atratividade financeira atual;

n = vida útil da turbina;

Com o custo anual necessário para recuperação do capital investido e a


geração anual de energia, foi calculado o custo do kWh.

Os custos iniciais para aplicação de carregamento de baterias são


compostos pelos gastos com aquisição do gerador, controlador de carga, da torre,
do inversor de freqüência, 400W, onda senoidal pura, de duas baterias 115 Ah
cada, dos acessórios de instalação e do frete. Na tabela abaixo são mostrados os
custos para carregamento de baterias.

Carregamento de
baterias (R$)

Custo Inicial 14.000

Operação e 13.500
manutenção total

Baterias 4.500
sobressalentes

Maurício Nunes Santana 68


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

Tabela 9.1 – Custos para carregamento de baterias

Estimou-se uma taxa mínima de atratividade financeira de 10%.


Considerando-se a vida útil das baterias de aproximadamente três anos e a do
aerogerador, quinze anos, calculou-se o uso de 10 baterias durante a vida útil do
aerogerador.

Com as premissas até então apresentadas, chegou-se a uma retirada anual


R de R$ 4.207,16. Estimou-se uma produção de energia anual no local da
instalação do GERAR 246 de 648 kWh, o que corresponde a um fator de capacidade
Fc de 7,4%. Com a retirada anual R e a energia anual gerada tem-se um custo da
energia elétrica gerada de 6,49 R$/kWh. Este valor, comparado com o preço da
energia pago por consumidores A4 Poder Público Federal inseridos na Tarifa
Horosazonal Verde de R$ 1,84 no horário de ponta e R$1,81, fora da ponta, é
inviável.

Capítulo 10

10. Conclusão e discussão

Foi verificado que o custo dos geradores eólicos sofre a influência de fatores
como a característica do sistema e do potencial eólico do local da instalação.

Na análise econômica do projeto, constatou-se a inviabilidade econômica na


implantação do sistema eólico da EPUFBA, o que não causou grande surpresa, visto
que o aerogerador foi instalado sem maiores preocupações em relação ao potencial
eólico do local e dimensionamentos do sistema. Além disso, o aerogerador tem fins
didáticos e deverá, sobretudo, motivar corpos docente e discente da escola,
principalmente de Engenharia Elétrica, a montar grupos de pesquisa com foco em
energias renováveis e criar disciplinas voltadas para esta área de estudo.

Maurício Nunes Santana 69


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

O estudo do perfil do vento da região é também um passo fundamental para


que se possa estimar cada vez melhor o potencial de geração do sistema. Os ventos
que incidem na EPUFBA e são medidos pela estação anemométrica não apresentam
grande potencial para a produção de energia elétrica, já que ocorrem mais
frequentemente a velocidades entre 1 e 2 m/s, aquém da velocidade de início de
geração que é de 3 m/s. O fato de o gerador estar instalado em um local mais alto
que a estação coletora, contudo, pode significar um maior potencial de geração de
energia elétrica. Pela lei de potência, é possível determinar a velocidade do vento em
alturas diferentes. A velocidade do vento em um ponto mais alto é proporcional à
razão entre as alturas deste ponto e do ponto onde se sabe a velocidade do vento.
Além da relação com as alturas, a determinação da velocidade em um ponto de
maior altura deve levar em consideração a rugosidade dos terrenos.

Foi estimado um fator de 1,4 pelo qual as velocidades de vento medidas


devem ser multiplicadas para se atingir a velocidade no local da instalação do
aerogerador. Com esse incremento de velocidade, projeta-se uma geração de energia
anual de 648 kWh, contra 262,8 kWh, no caso de o aerogerador estar instalado no
local da coleta de dados de vento. O fator de capacidade do aerogerador é de
apenas 7,4%.

REFERÊNCIAS

[1] CUSTÓDIO, RONALDO DOS SANTOS, Energia Eólica para Produção de


Energia Elétrica. Rio de Janeiro, 2007

[2] MME - Ministério de Minas de Energia, Atlas do Potencial Eólico Brasileiro,


Eletrobrás, Governo Federal, CEPEL – centro de pesquisas de energia elétrica,
CRESESB. Brasília, 2001.

[3] COELBA - Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia. Estado da Bahia -


Atlas Eólico do Estado da Bahia, Salvador, 2002.

Maurício Nunes Santana 70


Estudo e avaliação da operação de um sistema de geração eólica

[4] ALVES DOS SANTOS, ALISON, Projeto de Geração de Energia Eólica, Projeto
de Graduação, Universidade Santa Cecília, Santos, 2006.

[5] CRESESB - Centro de Referência para Energia Solar e Eólica.


www.cresesb.cepel.br

[6] Enersud. www.enersud.com.br, acessado em 08/10/2009

[7] FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY, C.; KUSKO, A. Máquinas elétricas:


conversão eletromecânica da energia, processos, dispositivos e sistemas. São
Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975.
[8] Enersud. Manual de Instalação/Garantia GERAR 246. Rio de Janeiro

[9] SAMUEL DE BONA, FELIPE, Modelo para a simulação de uma microturbina

[10] Tudor. www.tudor.com.br

[11] M.M Reis, Estudo de Viabilidade Econômica de Geradores Eólicos de


Pequeno Porte no Modo Autônomo

[12] www.energiasrenovaveis.com, acessado em 27/09/2009

[13]http://www.soltecsolar.es/uploads/media/SOLTEC_Inversors_Studer_02.p
df, acessado em 29/10/2009

[14] Hess et all, Engenharia Econômica, São Paulo: Editora Bertrand, 1992.

[15] www.geotecnia.ufba.br

[16] Araújo, Rafael Gonçalves Bezerra de, Flexibilização do Arcabouço


Regulatório vigente a partir do estudo e projeto de sistema híbrido eólico –
fotovoltaico isolado. Salvador, 2008

Maurício Nunes Santana 71

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