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ELSEVIER TRANSFORNAND O IDEIAS EM NEGOCIOS © COMO BESENYOLVER UM PLANGIDE NEGOCIOS EFICAZ, EFETUAR UMA ANALISE DE MEREADO E OBTER INFORMACOES DOS GGMCORRENTES © COMGIBENTIFICAR E SELECIONAR AS MELHORES OPORTUNIDADES PARA INIGIAR UM NEGOCIO © COMO DESENVOLVER UMA ESTRATEGIA DE NEGOCIOS VENCEDORA, COM GGNSELHOs PRATICOS DE EMPREENDEDORES DE SUCESSO, INCLUINDO CASOS DE FRANCHISING ‘© INCEUTEXEMPLO COMPLETO DE PLANO DE NEGOCIOS PERFIL EMPREENDEDOR Material do Professor na WEB 1 Introdugao O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos ¢ tem uma visio futura da organizagio. José Dornetas, 2001 conceito de empreendedorismo tem sido muito difundido no Brasil, nos O tiltimos anos, intensificando-se no final da década de 1990. Existem varios fatores que talvez expliquem esse repentino interesse pelo assunto, jé que, prin- cipalmente nos Estados Unidos, pais onde 0 capitalismo tem sua principal carac- terizacio, o termo entrepreneurship & conhecido e referenciado hé muitos anos, nao sendo, portanto, algo novo ou desconhecido. No caso brasileiro, a preocu- pacdo com a criagao de pequenas empresas duradouras e a necessidade da dimi- mnicdo das altas taxas de mortalidade desses empreendimentos sio, sem diivida, jotivos para a popularidade do termo empreendedorismo, que tem recebido es- cial atengo por parte do governo e de entidades de classe. Isso porque nos tik 10s anos, apés varias tentativas de estabilizacao da economia e da imposicao ivinda do fendmeno da globalizacao, muitas grandes empresas brasileiras tive- m de procurar alternativas para aumentar a competitividade, reduzir os custos manter-se no mercado. Uma das conseqiiéncias imediatas foi o aumento do indice de desemprego, incipalmente nas grandes cidades, onde a concentracao de empresas é maior. m alternativas, os ex-funciondrios dessas empresas comecaram a criar novos 26cios, as vezes mesmo sem experiéncia no ramo, utilizando 0 pouco que finda Ihes restou de economias pessoais, fundo de garantia etc, Quando perce- jd estdo do outro lado. Agora sao patrées e nao mais em- im, esses profission: gados. Muitos ficam na economia informal, motivados pela falta de crédito, lo excesso de impostos e pelas altas taxas de juros. Houve ainda recentemente meles motivados pela nova economia, a Internet, que teve seu Apice de criagéo negdcios pontocom entre os anos de 1999 e 2000, Nessa época, muitos ten- im se tornar os novos jovens milionarios, independentes, donos do préprio 47 18 nariz. Devem ser considerados também os que herdam os negécios dos pais ou Parentes e que dao continuidade a empresas criadas ha décadas, Essa conjungio de fatores somados despertou discussdes a respeito do tema empreendedorismo no pafs, com crescente énfase para pesquisas relacionadas.a6 assunto no meio académico, ¢ também com a criagso de programas especificos yoltados ao piiblico empreendedor, como foi o caso do programa Brasil Empreendedor do Governo Federal, instituido em 1999, que teve como meta inicial a capacitacao de mais de um milhao de empreendedores brasileiros na ela~ boragao de planos de negécios, visando a captacao de recursos junto aos agentes financeiros do programa, Dados do Sebrae mostram ainda que no periodo de 1990 a 1999 foram constitufdas no Brasil 4,9 milhes de empresas, dentre as quais 2,7 milhdes sio microempresas. Ou seja, mais de 55% das empresas criae das nesse perfodo sfio microempresas. Pesquisas realizadas pelo IBGE e citadas no site do Sebrae (wiw.sebrae.com.br) mostram também que em 2001 o total de empresas formais em atividade no Brasil era de 4,63 milhdes, contemplando Os setores da indtistria, comércio e servigos. As microempresas representavam 93,9% do total de empresas. O conjunto das micro ¢ pequenas empresas alcan- sava 99,2% do total. Apenas 0,3% das empresas do pais é de grande porte (em- pregando mais de 500 pessoas na indistria on mais de 100 pessoas nos setores do comércio e servigos). E oportuno, portanto, um estudo mais profundo a respeito do conceito de empreendedorismo, tendo em vista que a maior parte dos negécios criados no pais € concebida por pequenos empresdrios. Esses nem sempre possuem concei- tos de gestio de negécios, atuando geralmente de forma empirica e sem planejac mento. Isso se reflete diretamente no alto indice de mortalidade dessas pequenas empresas que, em alguns casos, chega a 73% no terceiro ano de existéncia (Pesquisa Sebrac, 1999), Dados mais recentes do Sebrae-SP mostram que esses ntimeros melhoraram sensivelmente nos tiltimos anos, poréim o indice de mor- talidade dessas empresas continua alto, como se observa no grafico da pagina 19, referente a uma pesquisa de campo realizada no periodo de 1997 a 2001 ¢ pu- blicada no final de 2003. Entendendo melhor como ocorre o processo empreendedor, seus fatores criticos de sucesso ¢ o perfil de empreendedores de sucesso, espera-se que essa estatistica, ainda preocupante, seja gradativamente alterada, por meio da adocao de técnicas ¢ métodos comprovadamente eficientes e destinados a auxiliar o desenvolvimento ¢ a maturacao das pequenas empresas brasileiras. E com esse objetivo que este livro foi escrito, procurando prover educadores ¢ empreendedores com um guia pritico de empreendedorismo, podendo ser utilizado como livro-texto em cursos de em- Preendedorismo e também como referéncia para aqueles que pretendem criar um ovo negécio ou, ainda, planejar algum negécio jA existente. Mortalidade de Pequenas Empresas | || sae | o | | ae ce {funder 2009) fundem2000) —furd.em 1999) fund em 1958) funder 1987) fEmp.com ane Enp.com anos Emp.com3anes Empcomsanos Emp.com anos Deimpresssem avidade (mpretasencerads Fonte: Sebrae-S®,2003, Espera-se que, com este livro, sejam esclarecidas algumas diividas que ajuda- 140 0 leitor numa reflexao profunda a respeito de questées como: o que é em- preendedorismo? O que é ser empreendedor? Por que se fala tanto a respeito do assunto hoje em dia? O empreendedor nasce pronto, ou seja, s6 os predestina- dos podem ser empreendedores, ou ser que qualquer pessoa pode tornar-se um? Qual a diferenca entre o empreendedor e 0 administrador? O livro esté dividido em capftulos que tem uma seqiiéncia légica, seguindo o processo empreendedor, embora possam ser utilizados isoladamente, Varios en- sinamentos séo usados de forma rotineira por muitas empresas e diversos em- preendedores. Mas a necessidade de capacitar um ntimero cada vez maior de empreendedores justifica a compilacao de tais informagoes de maneira a facilitar © acesso, Inicialmente, analisa-se o surgimento do empreendedorismo e a aten- 40 que muitos pafses tém dado ao tema, para entéo chegar a algumas definicdes. Em seguida, discute-se o surgimento da idéia, 0 processo criativo de identifica- cao de uma oportunidade, tanto nos negécios chamados tradicionais, como na Internet, a chamada Nova Economia. A parte central do livro é dedicada ao en- tendimento ¢ & aplicagio da principal ferramenta do empreendedor: o plano de negécios. Na seqiiéncia, séo apresentadas as principais formas existentes no pais para o financiamento do negécio. Trata-se do capital de risco e dos varios pro- gramas disponibilizados as micro e pequenas empresas pelo governo brasileiro. Finalizando, é feita uma breve descricao das formas legais de constituicao de em- presas no Brasil, com énfase também no registro de marcas e na obténgao de pa- tentes. O tiltimo capitulo é destinado a uma reflexio profunda por parte do em- 19 20 preendedor, com alguns conselhos importantes para serem lidos e relidos no dia- a-dia do negécio ja constitufdo. Além disso, o livro também esta recheado de estudos de casos reais de em- preendedores brasileiros que venceram as barreiras iniciais e conquistaram o su- cesso. Para alguns, essa conquista é uma tarefa didria e continua, com muitas der- rotas no meio do caminho. A idéia é que o leitor extraia dos estudos de casos a esséncia de ser empreendedor, as caracteristicas pessoais do empreendedor de sucesso, os fatores ambientais e circunstanciais, além de outros aspectos. Quando utilizado como livro-texto em cursos de empreendedorismo, a prin= cipal sugestdo ao professor da disciplina é a divisio da turma em grupos de até seis pessoas. Esses grupos deverdo desenvolver um plano de negocios durante todo 0 curso, devendo ser o projeto final do mesmo. E 0 plano de negécios nao deve ser apenas tedrico. O importante é que seja feito com a intengao de ser usado depois, Isso pode incentivar os alunos na criagdo de novas empresas no pais, com reais possibilidades de sucesso. Um plano de negécios completo é co- Jocado em anexo como exemplo. No final da maioria dos capitulos, sao apresen- tadas algumas questdes com o intuito de levar 0 grupo a pesquisar sobre o as- sunto e nao se limitar ao que esta descrito neste livro. O tema é relevante, atual ¢ importante para o pais. Independentemente de 0 leitor ser um estudante ou um empreendedor, este livro servird para a quebra de alguns paradigmas administrativos do empresariado brasileiro, Se o surgimento de novos negécios de sucesso e o despertar do empreendedorismo em muitos es- tudantes ocorrerem apés a leitura deste livro, seu papel social estara cumprido. Finalmente, em todo 0 livro se usou a palavra empreendedor; no entanto, en= tenda-se que isso se aplica tanto ao individuo do sexo masculino como do sexo feminino, pois as mulheres empreendedoras também tém sido importantes para o desenvolvimento do pats. Boa leitura e bons negocios! 2 O Processo Empreendedor “O empreendedorismo é uma revolucéo silenciosa, que seré para o século XXI mais do que a Revolugao Industrial foi para o século XX.” Jerery Timmons, 1990 A REVOLUCAO DO EMPREENDEDORISMO- mundo tem passado por varias transformagdes em curtos periodos de tempo, principalmente no século XX, quando foi criada a maioria das in- vengées que revolucionaram o estilo de vida das pessoas. Geralmente, essas inven- Ges so frutos de inovagao, de algo inédito ou de uma nova viséo de como utili- zar coisas jf existentes, mas que ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trds dessas invengSes, existem pessoas ou equipes de pessoas com caracterfsticas especiais que sio visiondrias, questionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e empreendem. Os empreendedores sio pessoas diferenciadas, que possuem motivacao singular, apaixonadas pelo que fazem, nao se contentam em ser mais um na multidao, querem ser reconhecidas ¢ admiradas, referenciadas € imitadas, querem deixar um legado. Uma vez que os empreendedores esto revo- lucionando 0 mundo, seu comportamento e o prdprio processo empreendedor devem ser estudados ¢ entendidos Alguns conceitos administrativos predominaram em determinados perfodos do século XX, em virtude de contextos sociopoliticos, culturais, de desenvolvi- mento tecnoldgico, de desenvolvimento e consolidagao do capitalismo, entre outros. A Figura 2.1 mostra quais desses conceitos foram mais determinantes: no inicio do século, foi o movimento da racionalizagao do trabalho; na década de 1930, 0 movimento das relagdes humanas; nas décadas de 1940 e 1950, 0 mo- vimento do funcionalismo estrutural; na década de 1960, 0 movimento dos sis 24 Quadro 2.1 Algumas invengdes e conquistas do século XX — 1903: Avido motorizado 1915: Teoria geral da relatividade de Einstein 1923: Aparelho televisor 1928: Penicilina 1997: Nailon 1943: Computador 1945; Bomba atomica 1947: Descoberta da estrutura do DNA abre caminho para a engenharia genética 1957: Sputnik, o primeiro satélite 1958: Laser 1961: O homem vai ao espago 1967: Transplante de coraci 1969: © homem chega & Lua; inicio da Internet, Boeing 747 1970: Microprocessador 1989: World Wide Web 1993: Clonagem de embrides humanos 1997: Primeiro animal clonado: a ovelha Dolly 2000: Seqilenciamento do genoma humano temas abertos; nos anos 70, o movimento das contingéncias ambientais. No mo- mento presente, nao se tem um movimento predominante, mas acredita-se que o empreendedorismo ira, cada vez mais, mudar a forma de se fazer negécios no mundo. O papel do empreendedor foi sempre fundamental na sociedade. Entio, por que o ensino do empreendedorismo esta se intensificando agora? O que € di- ferente do pasado? Ora, o que é diferente é que o avango tecnolégico tem sido de tal ordem, que requer um nimero muito maior de empreendedores. A eco- nomia e os meios de produgdo e servicos também se sofisticaram, de forma que hoje existe a necessidade de se formalizar conhecimentos, que eram apenas ob- tidos empiricamente no pasado. Portanto, a énfase em empreendedorismo surge muito mais como conseqiténcia das mudangas tecnoldgicas e sua rapidez, ¢ nao é apenas um modismo. A competi¢ao na economia também forga novos empresitios a adotar paradigmas diferentes. Por isso, 0 momento atual pode ser chamado de a era do empreendedorismo, pois sao os empreendedores que esto eliminando barreiras comerciais ¢ cultu- rais, encurtando distancias, globalizando e renovando os con criando novas relagées de trabalho e novos empregos, quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade. A chamada nova economia, a era da Internet, mostrou recentemente e ainda tem mostrado que boas idéias inovadoras, know- how, um bom planejamento ¢, principalmente, uma equipe competente e moti- vada sao ingredientes poderosos que, quando somados no momento adequado, acrescidos do combustivel indispens ~ podem gerar negécios grandiosos em curto espaco de tempo. Isso era algo in- citos econdmicos, vel A criagio de novos negécios ~ 0 capital [1900 | 1910 | 1920 | 1930 |1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1980 | 1990 | 2000 [Onsenvagaa: | Movimento: retere-se 20 movimento que predominou no period, | Foco: refere-se aos conceitos |administrativos predominantes. Figura 2.1 Evolugao historica das teorias administrativas (adaptado de Escrivao Filho, 1995) concebivel hé alguns anos. O contexto atual é propicio para o surgimento de um niimero cada vez maior de empreendedores. Por esse motivo, a capacitacao dos candidatos a empreendedor esta sendo prioridade em muitos paises, inclusive no Brasil, haja vista a crescente preocupagio das escolas ¢ universidades a respeito do assunto, por meio da criacao de cursos e matérias especificas de empreende- dorismo, como uma alternativa aos jovens profissionais que se graduam anual- mente nos ensinos técnico e universitario brasileiros. Ha 15 anos era considerado loucura um jovem recém-formado aventurar-se na criagéo de um negécio préprio, pois os empregos oferecidos pelas grandes empresas nacionais e multinacionais, bem como a estabilidade que se conseguia nos empregos em repartigdes puiblicas, eram muito convidativos, com bons sal rios, status e possibilidade de crescimento dentro da organizacao. O ensino de administracao era voltado a este foco: formar profissionais para administrar grandes empresas e nao para criar empresas. Quando esse cenario mudou, nem 0s profissionais experientes, nem os jovens 4 procura de uma oportunidade no mercado de trabalho, nem as escolas de ensino de administragao estavam prep: rados para o novo contexto. E mudar a visio a respeito de determinado assunto, redirecionar ac6es e repensar conceitos levam algum tempo até que gerem resul- tados praticos. O fato é que o empreendedorismo finalmente comega a ser tra- tado no Brasil com o grau de importancia que lhe é devido, seguindo o exemplo do que ocorreu em paises desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde os em- preendedores sao os grandes propulsores da economia. 23 O empreendedorismo tem sido o centro das politicas piblicas na maioria dos pafses. O crescimento do empreendedorismo no mundo na década de 1990 pode ser observado nas agées desenvolvidas relacionadas ao tema. Um dos pri- meiros estudos do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 1999), projeto que sera explicado adiante, jé mostrava alguns exemplos nesse sentido: # No final de 1998, 0 Reino Unido publicou um relatorio a respeito do seu futuro competitivo, 0 qual enfati série de iniciativas para intensificar 0 empreendedorismo na regio. a a necessidade de se desenvolver uma ¢ A Alemanha tem implementado um ntimero crescente de programas que destinam recursos financeiros ¢ apoio para a criagdo de novas empresas. Para se ter uma idéia, na década de 1990, aproximadamente 200 centros de inovacao foram estabelecidos, provendo espaco e outros recursos para empresas start-ups (iniciantes). # Em 1995, 0 decénio do empreendedorismo foi langado na Finlandia. Coordenado pelo Ministério de Comércio e Indastria, 0 objetivo era dar suporte as iniciativas de criagdo de novas empresas, com agdes em tr grandes dreas: criar uma sociedade empreendedora, promover o empreen- dedorismo como uma fonte de geragio de emprego e incentivar a criagio de novas empresas. de assimilar um nimero crescente de ¢ Em Israel, como resposta ao desafi imigrantes, uma gama de iniciativas tem sido implementada por meio do Programa de Incubadoras Tecnol6gicas, com o qual mais de quinhentos ne- inda uma g6cios ja se estabeleceram nas 26 incubadoras do projeto. Houve avalanche de investimento de capital de risco nas empresas israelenses, sendo que mais de cem empresas criadas em Israel encontram-se com suas acdes na Nasdaq (Bolsa de aces de empresas de tecnologia nos Estados Unidos). # Na Franca, ha iniciativas para promover o ensino de empreendedorismo nas universidades, particularmente para engajar os estudantes. Incubadoras com sede nas universidades esto sendo criadas. Uma competi para novas empresas de tecnologia foi langada e uma fundacao de ensino do empreendedorismo foi estabelecida. 0 nacional Em todo o mundo, o-interesse pelo empreendedorismo se estende além das ages dos governos nacionais, atraindo também a atencao de muitas organizagées multinacionais. Em 1998, a Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) publicou o informe “Fostering the Entrepreneurship: A ‘Thematic Review”, com o objetivo explicito de compreender 0 estagio de desen- volvimento do empreendedorismo em todos os paises da OECD e identificar quais politicas poderiam ser mais présperas para intensificar desenvolvimento do em- preendedorismo naqueles paises. Ainda em 1998, a Comisso Européia apresen- 24 | tou um relatério para seu Conselho de Ministros, “Fostering Entrepreneurship: Priorities for the Future”. Entre as propostas estava um compromisso para simpli- ficar a abertura de novas empresas, facilitando 0 acesso ao crédito, ¢ desenvol- vendo um espirito de empreendedorismo na comunidade. Ha uma conviccao de que o poder econémico da Europa depende de seus futuros empresdirios e da com- petitividade de seus empreendimentos. Pode-se observar ainda o interesse do Forum Econémico Mundial, que patrocina a conferéncia anual de Davos, no qual recentemente o tema empreendedorismo foi discutido como de interesse global. A explicacao para a focalizacao desses paises no empreendedorismo pode ser obtida ao se analisar 0 que ocorre nos Estados Unidos. Trata-se do maior exem- plo de compromisso nacional com 0 empreendedorismo e o progresso econd- mico. Além de centenas de iniciativas dos governos locais e de organizagées pri- vadas para encorajar e apoiar o empreendedo1 governo americano gasta centenas de milhdes de délares anualmente em progra- mas de apoio ao empreendedorismo. Por causa do sucesso relativo desses pro- gramas, 0s mesmos so vistos como modelos por outros paises que visam a au- mentar o nivel de sua atividade empresarial. Isto tem ocorrido com 0 Reino Unido, que criou em 1999 a Agencia de Servicos para Pequenas Empresas, nos moldes do SBA (Small Business Administration) americano. A conjungao de um intenso dinamismo empresarial e rapido crescimento eco- nomico, somados aos baixos indices de desemprego e as baixas taxas de inflagao ocorridos, por exemplo, na década de 1990 nos Estados Unidos, aparentemente aponta para uma tinica conclusao: 0 empreendedorismo € 0 combustivel para 0 crescimento econdmico, criando emprego e prosperidade. ‘Todos estes fatores levaram um grupo de pesquisadores a organizar, em 1998, © projeto GEM ~ Global Entrepreneurship Monitor, uma iniciativa conjunta do Babson College, nos Estados Unidos, e da London Business School, na In- glaterra, com o objetivo de se medir a atividade empreendedora dos paises e se observar seu relacionamento com o crescimento econémico. Este pode ser con- siderado 0 projeto mais ambicioso e de maior impacto até o momento no que se refere ao acompanhamento do empreendedorismo nos paises. Trata-se de uma iniciativa pioneira, sem precedentes ¢ que tem trazido novas informagGes a cada ano sobre o empreendedorismo mundial ¢ também em nivel local para os paises participantes. O ntimero de paises participantes do GEM cresceu de 10, em 1999, para mais de 30, em 2000, chegando a 41, em 2003. Uma das medidas efetuadas pelo estudo do GEM refere-se ao indice de criagéo de novos negécios, denominado Atividade Empreendedora Total. Este indice mede a dinamica em- preendedora dos paises e acaba por definir um ranking mundial de empreende- dorismo. Este ranking tem mudado a cada ano e 0 leitor poder ter ace dados mais recentes ao pesquisar no site do GEM: www.genconsortium.org. Em 2003 a Atividade Empreendedora Total, AET, de cada pafs participante € apre~ mo nos Estados Unidos, o so aos sentada no grafico a seguir. O valor de AET no eixo das ordenadas representa o 25 ATIVIDADE EMPREENDEDORA TOTAL POR PAIS percentual da populagio adulta dos pafses (18 a 64 anos) envolvida na criacao de novos negécios. As barras verticais indicam a margem de erro da pesquisa, com intervalo de confianga de 95% O EMPREENDEDORISMO NO BRASIL © movimento do empreendedorismo no Brasil comegou a tomar forma na dé- cada de 1990, quando entidades como Sebrae (Servi¢o Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas) e Softex (Sociedade Brasileira para Exportagao de Software) foram criadas. Antes disso, praticamente nao se falava em empreen- dedorismo e em criacdo de pequenas empresas. Os ambientes politico e econd- mico do pafs nao eram propicios, e o empreendedor praticamente nao encon- trava informagoes para auxilié-lo na jornada empreendedora. © Sebrae é um dos 6rgios mais conhecidos do pequeno empresirio brasileiro, que busca junto a essa entidade todo suporte de que precisa para iniciar sua empresa, bem como consultorias para resolver pequenos problemas pontuais de seu negécio. O hi t6rico da entidade Softex pode ser confundido com o histérico do empreende- dorismo no Brasil na década de 1990. A entidade foi criada com o intuito de levar as empresas de software do pais ao mercado externo, por meio de varias ages que proporcionavam ao empresdrio de informatica a capacitacdo em ges- to e tecnologia. Foi com os programas criados no ambito da Softex em todo pais, junto a in- cubadoras de empresas ¢ a universidades/cursos de ciéncias da computacac formatica, que o tema empreendedorismo comecou a despertar na sociedade in- brasileira. Até entio, palavras como plano de negécios (business plan) eram pr: ticamente desconhecidas ¢ até ridicularizadas pelos pequenos empresirios. Passados 15 anos, pode-se dizer que o Brasil entra neste novo milénio com todo maiores programas de ensino de empreen- dedorismo de todo o mundo, comparavel apenas aos Estados Unidos, onde mais de 1.500 escolas ensinam empreendedorismo. Seria apenas ousadia se nao fosse possivel. Ades histéricas ¢ algumas mais recentes desenvolvidas comegam a apontar para essa direcao. Seguem alguns exemplos © potencial para desenvolver um de 1. Os programas Softex e GENESIS (Geragao de Novas Empresas de Software, Informacio e Servigos), criados na década de 1990 e que até ha pouco tempo apoiavam atividades de empreendedorismo em software, estimu- lando o ensino da disciplina em universidades e a geragio de novas empre- sas de software (start-ups). ividade. Informagées podem ser obtidas em wiwwsoftex.br. O programa Softex foi reformulado e continua ema O programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal, que foi dirigido a capacitagao de mais de 6 milhdes de empreendedores em todo o pais, destinando recursos financeiros a esses empreendedores, totalizando um investimento de RS8 bilhdes. Este programa vigorou de 1999 até 2002 realizou mais de 5 milhoes de operagdes de crédito. 3. Ages voltadas a capacitagao do empreendedor, como os programas EMPRETEC e Jovem Empreendedor do Sebrae, que sao lideres em pro- cura por parte dos empreendedores e com 6tima avaliagio. 4. Os diversos cursos ¢ programas sendo criados nas universidades brasileiras para o ensino do empreendedorismo. E 0 caso de Santa Catarina, com 0 pro- grama Engenheiro Empreendedor, que tinha como objetivo capacitar alunos de graduagio em engenharia de todo pais. Destaca-se também o programa Ensino Universitario de Empreendedorismo, da CNI (Confederagio Na- cional das Indtistrias) e IEL (Instituto Euvaldo Lodi), de difusio do empreen- dedorismo nas escolas de ensino superior do pais, presente em mais de duzen- tas instituigées brasileiras, envolvendo mais de 1.000 professores em 22 estados do pais. Exist las de administracao de empresas e de tecnologia para formacio de empreen- dedores, incluindo cursos de MBA (Master of Business Administration), e também cursos de curta e média duracdo. em ainda programas especificos sendo criados por esco- Houve ainda um evento pontual que depois se dissipou, mas que também contribuiu para a disseminagio do empreendedorismo. Trata-se da explo- sio do movimento de criagao de empresas pontocom no pais nos anos de 1999 e 2000, motivando o surgimento de varias entidades como 0 Instituto E-cobra, de apoio aos empreendedores, com cursos, palestras e até prémios aos melhores planos de negécios de empresas start-up de Internet, desen- volvidos por jovens empreendedores 27 6. Finalmente, mas ndo menos importante, o enorme crescimento do movi- mento de incubadoras de empresas no Brasil. Dados da Anprotec (Asso- ciagio Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de ‘Tecnologias Avancadas) mostram que, em 2004, havia 280 incubadoras de empresas no pais, totalizando mais de 1.700 empresas incubadas, que geram mais de 28 mil postos de trabalho. Um fato que chamou a atengio dos envolvidos com 0 movimento de em- preendedorismo no mundo e, principalmente, no Brasil foi o resultado do rela- trio executivo de 2000 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2000), onde o Brasil apareceu como 0 pais que possufa a melhor relacio entre o nti- mero de habitantes adultos que comegam um novo negécio € o total dessa’ po- pulagio: 1 em cada 8 adultos. Como se sabe, este estudo tem sido realizado anualmente e no grafico apresentado anteriormente o Brasil aparece em 2003 na sexta posigio, com um indice de criagao de empresas de 13,2% da populacio adulta (cerca de 112 milhGes de pessoas), correspondendo a mais de 14 milhdes de pessoas envolvidas em novos negécios. Ainda assim, uma posi que, com niimeros expressivos. Mas, o que significa ficar em primeiro, sexto ou vigésimo lugar nesse ran- king? A criagio de empresas por si s6 nao leva ao desenvolvimento econé- mico, a nao ser que esses negécios estejam focando oportunidades no mer- cado. Isso passou a ficar claro a partir do estudo anual do GEM, do qual originaram-se duas definigdes de empreendedorismo. A primeira seria o em- preendedorismo de oportunidade, em que o empreendedor visiondrio sabe onde quer chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em mente © crescimento que quer buscar para a empresa ¢ visa a geracio de lucros, em- pregos e riqueza. Est totalmente ligado ao desenvolvimento econdmico, com forte correlagao entre os dois fatores. A segunda definicao seria o empreende- dorismo de necessidade, em que 0 candidato a empreendedor se aventura na jornada empreendedora mais por falta de opgao, por estar desempregado e no ter alternativas de trabalho. Nesse caso, esses negécios costumam ser ci dos informalmente, nao séo planejados de forma adequada e muitos fracassam bastante rapido, nao gerando desenvolvimento econdmico e agravando as esta- tisticas de criagao e mortalidade dos negécios. Esse tipo de empreendedorismo € mais comum em paises em desenvolvimento, como ocorre com o Brasil, € também influencia na Atividade Empreendedora Total desses paises. Assim, nao basta o pais estar ranqueado nas primeiras posigdes do GEM. O que o pais precisa buscar é a otimizagao do seu empreendedorismo de oportunidade. No Brasil, historicamente o indice de empreendedorismo de oportunidade tem es- tado abaixo do indice de empreendedorismo de necessidade, mas nos tiltimos fe ae cate st pereciie asea melhores aes relagao, ¢ espera-se que para os pré- ximos anos cada vez mais empreendedores focados em oportunidades surjam, promovendo o desenvolvimento do pa No entanto, ainda faltam politicas paiblicas duradouras dirigidas & consolida- 40 do empreendedorismo no pais, como alternativa falta de emprego, € vi- sando a respaldar todo esse movimento proveniente da iniciativa privada e de entidades nao-governamentais, que estao fazendo a sua parte, A consolidagio do capital de risco e © papel do angel (“anjo” — investidor pessoa fisica) também esto se tornando realidade, motivando o estabelecimento de cenarios otimistas q para os préximos anos. Um tiltimo fator, que dependera apenas dos brasileiros para ser desmitificado, 6a quebra de um paradigma cultural de nao valorizagdo de homens e mulheres de sucesso que tém construido esse pais e gerado riquezas, sendo eles os grandes empreendedores, que dificilmente sao reconhe muitas vezes sio vistos como pes alheios A sua competéncia. Isso deverd levar ainda alguns anos, mas a semente inicial foi plantada. E necessario agora regé-la com zelo, visando a obtengao de um pomar com muitos frutos no futuro. los e admirados. Pelo contra io, ‘oas de sorte ou que venceram por outros meios ANALISE HISTORICA DO SURGIMENTO DO EMPREENDEDORISMO A palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer aquele gue assume riscos ¢ comega algo novo, Antes de partir para definigdes mais uti- lizadas € aceitas, é importante fazer uma analise hist6rica do desenvolvimento da teoria do empreendedorismo (Hisrish, 1986). Primeiro us o do termo empreendedorismo Um primeiro exemplo de definigo de empreendedorismo pode ser creditado a Marco Polo, que tentou estabelecer uma rota comercial para o Oriente. Como em- preendedor, Marco Polo assinou um contrato com um homem que possuia dinheiro (hoje mais conhecido como capitalista) para vender as mercadorias deste. Enquanto -os de forma passiva, 0 aventureiro em- preendedor assumia papel ativo, correndo todos os riscos fisicos e emocionais. © capitalista era alguém que assumia ris Idade Média Na [dade Média, 0 termo empreendedor foi utilizado para definir aquele que ge- renciava grandes projetos de produgio. Esse individuo nao assumia grandes ris- cos, € apenas gerenciava os projetos, utilizando os recursos disponiveis, geral- mente provenientes do governo do pais Século XVII Os primeiros indicios de relacao entre assumir riscos e empreendedorismo ocor- reram nessa época, em que 0 empreendedor estabelecia um acordo contratual | 29 com 0 governo para reali mente os precos eram prefixados, qualquer lucro ou prejuizo era exclusivo do empreendedor. Richard Cantillon, importante escritor e economista do século XVII, € considerado por muitos como um dos criadores do termo empreende- dorismo, tendo sido um dos primeiros a diferenciar 0 empreendedor ~ aquele ar algum servico ou fornecer produtos. Como geral- que assumia riscos ~, do capitalista ~ aquele que fornecia o capital. Século XVII Nesse século, 0 capitalista e 0 empreendedor foram finalmente diferenciados, provavelmente devido ao ini exemplo foi 0 Edison, que s6 foram possiveis com o auxilio de investidores que financiaram os io da industrializagio que ocorria no mundo. Um aso das pesquisas referentes a eletricidade e quimica, de Thomas experimentos. s XIX e XX do século XIX ¢ inicio do século XX, os empreendedores foram fr rentes ou administradores (0 que ocorre até qlientemente confundidos com os 05 dias atuais), sendo analisados meramente de um ponto de vista econdmico, como aqueles que organizam a empresa, pagam os empregados, planejam, diri- gem e controlam as agdes desenvolvidas na organizag4o, mas sempre a servigo do capitalista. Aqui cabe uma breve andlise das diferencas e similaridades entre administra- dores e empreendedores, pois muito se discute a respeito desse assunto. Todo empreendedor necessariamente deve ser um bom administrador para obter o su- cesso, no entanto, nem todo bom administrador é um empreendedor. O em- preendedor tem algo mais, algumas caracteristicas ¢ atitudes que o diferenciam do administrador tradicional. Mas para entender quais sao estas caracteristicas adicionais é preciso entender o que faz o administrador. DIFERENCAS E SIMILARIDADES ENTRE © ADMINISTRADOR E O EMPREENDEDOR © administrador tem sido objeto de estudo ha muito mais tempo que o em- preendedor e, mesmo assim, ainda persistem diividas sobre o que o administra dor realmente faz. Na verdade, nao se propée aqui encontrar respostas detalha- das para o tema, mas sim fornecer evidéncias ao leitor para um melhor entendimento dos papéis do administrador e do empreendedor. As andlises efe tuadas por Hampton (1991) sobre o trabalho do administrador e a proposigao desse autor de um modelo geral para interpretar esse trabalho talvez resumam as principais abordagens existentes para se entender 0 trabalho do administrador 30 | a0 longo dos iltimos anos. ‘A abordagem classica ou processual, com foco na impessoalidade, na organi zacdo e na hierarquia, propde que o trabalho do administrador ou a arte de ad- ministrar concentre-se nos atos de planejar, organizar, dirigir e controlar. O prin- cipal divulgador desse principio foi Henry Fayol, no inicio do século XX, varios outros autores reformularam ou complementaram seus conceitos com 0 passar dos anos. Outra abordagem sobre o trabalho do administrador foi feita por Rosemary Stewart (1982), do Oxford Center Management Studies, que acreditava que 0 trabalho dos administradores é semelhante ao dos empreendedores, ja que com- partilham de trés caracteristicas principais: demandas, restrigdes ¢ alternativas. Nesse método de Stewart nao hé a preocupacio de estudar 0 contetido do tra- balho do administrador. As demandas especificam 0 que tem de ser feito. RestrigGes sao os fatores internos e externos da organizacao que limitam 0 que 0 responsvel pelo trabalho administrativo pode fazer. Alternativas identificam as opgGes que o responsavel tem na determinagao do que e de como fi Hampton (1991) diz ainda que os administradores diferem em dois aspectos: o nivel que eles ocupam na hierarquia, que define como os processos adminis- trativos sio alcangados, ¢ 0 conhecimento que detém, segundo o qu cionais ou gerais. Em relagao aos niveis, o trabalho administrativo pode ser iden- tificado como: de supervisio, médio e alto. Os supervisores tratam comumente de operagdes de uma unidade especifica, como uma segio ou departamento. Os administradores médios ficam entre os mais baixos ¢ os mais altos niveis na hi acio. E os administradores de alto nivel sio aqueles que tém a mais alta responsabilidade e a mais abrangente rede de interac6es. Outro aspecto estudado é a diferenciagao dos gerentes em funcionais e gerais, indepen- dentemente do nivel que ocupam na organizagio. Os funcionais sao os encarre- gados de partes especificas de uma organizagao, e 0s gerais aqueles que assumem responsabilidades amplas e multifuncionais. Outra abordagem relevante refere-se ao estudo de Kotter (1982) das caracte- risticas dos gerentes gerais, que procura mostrar 0 que os gerentes eficientes real- mente fazem. Segundo Kotter, esses administradores criam e modificam agen- das, incluindo metas e planos para sua organizagao ¢ desenvolvem redes de relacionamentos cooperatives para implementé-los. Em sua maioria, esses geren- 10 ambiciosos, buscam o poder, sao especializados, tém temperamento im- parcial e muito otimismo. Mintzberg (1986) propés uma abordagem que trata da atividade do trabalho gerencial, focando os papéis dos gerentes: interpessoais (representante, lider ¢ li- gacdo), informacionais (monitor, disseminador e interlocutor) e decisérios (em- preendedor,' solucionador de distirbios, “alocador” de recursos e negociador). | so fun- rarquia em uma organi: tess | Mintzberg identifica o empreendedor como um possivel papel do administrador nesse caso. rg P Neste livro, a abordagem do empreendedorismo é mais ampla, 31 Esses papéis dos gerentes podem vatiar dependendo de seu nivel na organizacio, sendo mais ou menos evidente um ou outro papel. E mais: 0 administrador as- sume papéis em grupos sociais para efetivar as quatro ages processuais da abor- dagem classica dos processos. : relevante ressaltar que o perfeito controle (hierarquia) nem sempre garante que as agées planejadas sejam executadas conforme o planejado, po! ridveis interferem no processo administrativo. E neste ponto que as varias abor- dagens se complementam para explicar o trabalho do administrador. O Quadro 9.2 resume as abordagens citadas e o grau de influéncia de algumas caracteristi- cas em relacio a cada abordagem. (© empreendedor de sucesso possui caracteristicas extras, além dos atributos do administrador, ¢ alguns atributos pessoais que, somados a caracteristicas so- ciol6gicas e ambientais, permitem 0 nascimento de uma nova empresa (Quadro 2.3), De uma idéia, surge uma inovacdo, ¢ desta, uma empresa. Quando se analisam 0s estudos sobre o papel ¢ as fungdes do administrador, efetuados por Mintzberg, Kotter, Stewart, e ainda sobre a abordagem processual do trabalho do administrador, pode-se dizer que existem muitos pontos em comum entre o administrador e 0 empreendedor. Ou seja, o empreendedor é um administrador, mas com diferencas consideraveis em relagdo aos gerentes ou exe- cutivos de organizagées tradicionais, pois 0s empreendedores sio mais visiondrios que os gerentes. coutras va- Quadro 2.2 Comparac&o das quatro abordagens do papel do administrador ABORDAGENS Restricées, demandas e escolhas PAPEIS AGENDA PROCESSO (STEWART) —_(MINTZBERG) (KOTTER) Pessoalidade Fraco Forte Forte Forte Uso do Fraco ~ Forte Forte relacionamento interpessoal Foco nas Forte Fraco Médio: Médio: organizacoes e acces conjuntas Utilizagao Forte Forte Média Forte da hierarquia 0s 0 " m m os Quadro 2.3 Caracteristicas dos empreendedores de sucesso Sao visionarios Sabem tomar decisées Sao individuos que fazem adiferenca Sabem explorar a0 maximo as oportunidades Sao determinados edinamicos Sao dedicados Sao otimistas e apaixonados pelo que fazem ‘Sao independentes e constroem © proprio destino Ficam ricos Eles tém a visdo de como serd 0 futuro para seu negécio e sua vida, € ‘© mais importante: eles tém a habilidade de implementar seus sonhos Eles no se sentem inseguros, sabem tomar as decisdes corretas na hora certa, principalmente nos momentos de adversidade, sendo isso um fator-chave para 0 seu sucesso. E mais: além de tomar decisbes, implementam suas agdes rapidamente. Os empreendedores transformam algo de dificil definigaio, uma idéia abstrata, em algo conereto, que funciona, transformando o que é possi- vel em realidade (Kao, 1989; Kets de Vries, 1997). Sabem agregar valor aos servigos e produtos que colocam no mercado. Para a maioria das pessoas, as boas idéias sao daqueles que as veem véem primeiro, por sorte ou acaso. Para os visiondrios (os empreende- dores), as boas idéias sao geradas daquilo que todos consequem ver, mas nao identificaram algo pratico para transformd-las em oportuni- dade, por meio de dados e informagao. Para Schumpeter (1949), 0 empreendedor é aquele que quebra a ordem corrente ¢ inova, criando mercado com uma oportunidade identificada. Para Kirzner (1973), 0 empreendedor é aquele que cria um equilibrio, encon trando uma posigao clara e positiva em um ambiente de caos € turbuléncia, ou seja, identifica oportunidades na ordem presente Porém, ambos sao enfaticos em afirmar que o empreendedor é um eximio identificador de oportunidades, sendo um individuo curioso e atento a informagées, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta Eles implementam suas agSes com total comprometimento. Atropelam as adversidades, ullrapassando os obstaculos, com uma vontade impar de “azer acontecer’. Mantém-se sempre dinamicos e cultivam um certo inconformismo diante da rotina. Eles se dedicam 24h por dia, 7 dias por semana, ao seu negécio. Comprometem o relacionamento com amigos, com a familia, e até mesmo com a propria satide. Sao trabalhadores exemplares, encon- trando energia para continuar, mesmo quando encontram problemas pela frente. Sao incansaveis e loucos pelo trabalho. Eles adoram 0 trabalho que realizam. E & esse amor ao que fazem o principal combustivel que os mantém cada vez mais animados e auto- determinados, tornando-os os melhores vendedores de seus produtos € servigos, pois sabem, como ninguém, como fazé-lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem o sucesso, em vez de imaginar 0 fracasso, Eles querem estar & frente das mudangas e ser donos do préprio desti- no. Querem ser independentes, em vez de empregados; querem criar algo novo e determinar os préprios passos, abrir os proprios caminhos, ser 0 proprio patrao e gerar empregos. Ficar rico nao é 0 principal objetivo dos empreendedores. Eles acre- ditam que o dinheiro 6 conseqiiéncia do sucesso dos negécios. 33 Quadro 2.3 Caracteristicas dos empreendedores de sucesso (Continuagao) Séo lideres e Os empreendedores tém um senso de lideranga incomum. E sao res- formadores Peitados adorados por seus funcionérios, pois sabem valorizé-los, de equipes estimula-los @ recompensé-los, formando um time em torno de si ‘Sabem que, para obter éxito e sucesso, dependem de uma equipe de Profissionais competentes. Sabem ainda recrutar as melhores cabecas Para assessord-los nos campos onde nao detém o melhor conheci- mento. ‘Sao bem (Os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que os au- relacionados —_xiliam no ambiente externo da empresa, junto a clientes, fornecedores (networking) © entidades de classe, ‘Sao organizados Os empreendedores saber obter e alocar os recursos materiais, hu- manos, tecnolégicos e financeiros, de forma racional, procurando o ‘melhor desempenho para o negécio. Planejam, Os empreendedores de sucesso planejam cada passo de seu negécio Planejam, negécio, desde o primeiro rascunho do plano de negécios, até a apre- Planejam Sentagao do plano a investidores, definigdo das estratégias de marke- ting do negocio ete., sempre tendo como base a forte visao de negécio que possuem. Possuem Sao sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que conhecimento quanto maior © dominio sobre um ramo de negécio, maior 6 sua chance de éxito. Esse conhecimento pode vir da experiéncia pratica, de informagoes obtidas em publicagdes especializadas, em cursos, ou mesmo de conselhos de pessoas que montaram empreendimentos semelhantes. Assumem riscos Talvez essa seja a caracteristica mais conhecida dos empreendedores. calculados Mas 0 verdadeiro empreendedor é aquele que assume riscos calcu- lados e sabe gerenciar 0 risco, avaliando as reais chances de sucesso. Assumir riscos tem relagdo com desafios. E para 0 empreendedor. Quanto maior 0 desafio, mais estimulante sera a jomada empreende. dora, Criam valor para Os empreendedores utilizam seu capital intelectual para criar valor a sociedade Para a sociedade, com a geracao de empregos, dinamizando a economia e inovando, sempre usando sua criatividade em busca de solugdes para melhorar a vida das pessoas. Assim, quando a organizagio cresce, os empreendedores geralmente tém difi- culdades de tomar as decis6es do dia-a-dia dos negécios, pois se preocupam mais com os aspectos estratégicos, com os quais se sentem mais 4 vontade. As diferen- sas entre os dominios empreendedor e administrativo podem ser comparadas em cinco dimens6es distintas de negécio: orientagao estratégica, andlise das oportunidades, comprometimento dos recursos, controle dos recursos e estru- M Re, tura gerencial (Quadro 2.4). No Quadro 2.5 pode ser observada também uma comparagio entre os empreendedores e os gerentes tradicionais, em relacao a al- guns temas relevantes. Filion (1997) observa ainda que “o gerente é voltado para 2 organizagao de recursos, enquanto 0 empreendedor € voltado para a definicao de contextos”. f interessante observar que 0 empreendedor de sucesso leva consigo ainda uma caracteristica singular, que € o fato de conhecer como poucos o negécio em que atua, 0 que leva tempo e requer experiencia. Talvez esse seja um dos moti- as criadas por jovens entusiasmados, mas sem 0 vos que levam a faléncia empre devido preparo. Outro fator que diferencia o empreendedor de sucesso do administrador vez comum € 0 constante planejamento a partir de uma visio de futuro. Esse t seja o grande paradoxo a ser analisado ja que o ato de planejar é considerado uma das fungdes basicas do administrador desde os tempos de Fayol, como jé foi abordado na visdo processual das atividades do administrador. Entéo, nao seria © empreendedor aquele que assume as func6es, os papéis e as atividades do ad- ministrador de forma complementar a ponto de saber utilizé-los no momento adequado para atingir seus objetivos? Nesse caso, 0 empreendedor estaria sendo um administrador completo, que incorpora as varias abordagens existentes sem se restringir a apenas uma delas e interage com seu ambiente para tomar as me- Ihores decis6e: E interessante ainda destacar alguns mitos sobre os empreendedores, Existem varios, mas trés em especial devem ser analisados com mais atengio. Mito 1: Empreendedores sio natos, nascem para o sucesso Realidade: * Enquanto a maioria dos empreendedores nasce com um certo nivel de inteligéncia, empreendedores de sucesso acumulam habilidades relevantes, experiéncias e conta- tos com 0 passar dos anos. * A capacidade de ter visio e perseguir oportunidades aprimora-se com o tempo. Mito 2: Empreendedores sio Realidade: © Tomam riscos calculados jogadores” que assumem riscos altissimos © Evitam riscos desnecessarios © Compartilham o risco com outros * Dividem o risco em “partes menores” Mito 3: Os empreendedores sio “lobos solité Realidade: ios” e nao conseguem trabalhar em equipe © Sio étimos lideres © Criam times/equipes 35 Jeuuo} oysourefoueyd ep 2 rpudeo ap ovSeoore ap sewiisis ap opdeziInn ‘sieossed soosu sop oBdNpeH, cosy op ogdnpas ‘eiGaie1s9 ep opdei06ou ‘senqeweye SPUEA ap C|UAWIOSYUODeY owuaweleued ap SojoI0 & sewoisis ‘oyveduiesep 9p oedipow ap souaO ojuewreduo wn we ‘aseq wo ‘ossed B ossed epewioy opsi0eq ‘ogdeinp e6u0| ‘ap oupUoron}oney ajoxquco gos sienne sosinoai sojad opi6isia sosinoai Sop oyawjauiosduicg ‘sopepjunyodo eoiGeyeyso opdequaio oiBeIse epeo We oedeziyn eu WoO sooipgued soibeise Ww opdeinp eno woo ouguoron|oney sepepiunyiodo ap ceddeaied ejed opi6uig prougioye Siew! sod opssaid !sepeplunyodo srew seyanoude ap apepisseoeu sojex9 @jo.U0D Op ye} ‘sepepisseoau sep ‘epepliqysinaid ep eye 4 cosy ap oueweoue!eB ‘sepides segsioap copde Bred OBdEIUGUO seojod seibay SIRIOOS SELOIEA seoiBoiou0a] + -sepides seSuepnyy opdaup e1S2U SB0ssald ‘o19980u op aneyo-saosual opdaup BIS0U S20SSld oAneas|upy o1uWwog sopapuseid3, 100 (861 ‘YousiH ep opeydepe) onyeNSIUUPE @iopepusesdiue SoUwop sop opberedWCO #°Z APE sonesisiuiuupe soys0u00 sop eipi9ul ‘esueduioes ep sewiajsis ‘jeuo1seziue6.0 anyino ‘epepiiqesuodsa: @ epepuoine op einbievoly e1ejo oBSIUYap ep epepissedony oyedses woo ‘jeuo eseidu ep inna ‘seduepnuu sep ojsno ojje © BIai9UI ‘eroUerOya ep ovdipeu Seujooueuy sosinge1 sop esuaduiooe asnieis sepog Bade ou epepilqeH opdaup onnensiunupy oujwog SIH ap opeidepe) ony! refouese6 esmnysy sosungea Sop ajou09 o199Bau op aneyo-seosuawig Ipe © 1opeput eossed ouaWeuo}oR|a1 oy WoD ‘Feu soupsseoou se1x8 sosinoal ‘sop janfinje no sejuaisixe 'S0Sun9@1 SOP OUUIUJLU OS, wop sop opdeied 37 sequepuadeput wares ep SouPuo!oUny Sop ofesap ‘apepoudoid ep ajonuoo 0 seuun)60| ep oyesep |0.]UCO 91) ap aneyp-seale sep oBseuspi00g epepiiqrxey ap ‘epepisseoeu ‘BloUgoseosqo Bp COSI} opdaulp esau Sa0sseld sopepusaidwry ojujwiog 0 b'z Orpen ‘oawWeUOIDe|s! 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Empreen- dedorismo é 0 envolvimento de pessoas € processos que, em conjunto, levam a transformagao de idéias em oportunidades. E a perfeita implementagio destas oportunidades leva & criacao de negécios de sucesso. Para o termo “empreende- dor” existem muitas definigées, mas uma das mais antigas e que talvez melhor reflita o espirito empreendedor seja a de Joseph Schumpeter (1949): “O empreendedor é aquele que destréi a ordem econ6mica existente pela intro- ducao de novos produtos e servicos, pela criacao de novas formas de organizacao ou pela exploragao de novos recursos e materiais.” Kirzner (1973) tem uma abordagem diferente. Para esse autor, o empreendedor € aquele que cria um equilibrio, encontrando uma posicao clara e positiva em um ambiente de caos ¢ turbuléncia, ou seja, identifica oportunidades na ordem pre- sente. Ambos, porém, sao enfitticos em afirmar que o empreendedor é um éX{mio identificador de oportunidades, sendo um individuo curioso e atento as informa- ges, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. De acordo com Schumpeter, o empreendedor é mais conhecido como aquele que cria novos negécios, mas pode também inovar dentro de negécios jé existen- tes; ou seja, é possivel ser empreendedor dentro de empresas jé constitufdas. Neste caso 0 termo que se aplica é o empreendedorismo corporativo.? No en- tanto, este livro destina-se principalmente aqueles interessados em criar novos negécios de sucesso, visando a diminuigio da mortalidade das pequenas empre- sas brasileiras e buscando contribuir para a consolidacdo do espirito empreende- dor dos brasileiros. Entdo, o empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um ne- g6cio para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados. Em qualquer defi- nigdo de empreendedorismo encontram-se, pelo menos, os seguintes aspectos re- ferentes ao empreendedor: 1, Iniciativa para criar um novo negécio € paixdo pelo que faz. 2. Utiliza os recursos dispontveis de forma criativa transformando 0 ambiente social e econdmico onde vive. 3. Aceita assumir 0s riscos calculados ¢ a possibilidade de fracassar. ste assunto, aconselha-se ao leitor conhecer o livro Empreendedorismo wvier/Campus 2 Para saber mais sobre Corporativo, de José Carlos Assis Dornelas, também publicado pela 39 40 O processo empreendedor envolve todas as fungdes, atividades e ages asso- ciadas com a criagiio de novas empresas. Em primeiro lugar, o empreendedo- rismo envolve 0 proceso de criagao de algo novo, de valor. Em segundo, requer a devogio, o comprometimento de tempo ¢ 0 esforgo necessé rio para fazer a em- presa crescer. E em terceiro, que riscos calculados sejam assumidos e decisoes cri- ticas tomadas; € preciso ousadia ¢ animo apesar de falhas e erros. O empreendedor revolucionario é aquele que cria novos mercados, ou seja, 0 individuo que cria algo tinico, como foi 0 caso de Bill Gates, criador da Microsoft, que revolucionou 0 mundo com 0 sistema operacional Windows®. No entanto, a maioria dos empreendedores cria negécios em mercados ja exis- tentes, nao deixando de ser bem-sucedidos por isso. £ POSSIVEL ENSINAR EMPREENDEDORISMO: A préxima questo é se 0 empreendedorismo pode ser ensinado. Até alguns anos atras, acreditava-se que o empreendedor era inato, que nascia com um diferen- vakggr predestinado ao sucesso nos negécios. Pessoas sem essas caracteristicas eram desencorajadas a empreender. Como ja se viu, isto é um mito. Hoje em dia, ¢ discurso mudou e, cada vez mais, acredita-se que o processo empreendedor pode ser ensinado entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama de fatores internos ¢ externos ao negécio, do perfil do empreen- dedor ¢ de como ele administra as adversidades que encontra no dia-a-dia de seu empreendimento. Os empreendedores inatos continuam existindo, e continuam sendo referéncias de sucesso, mas muitos outros podem ser capacitados para a criagdo de empresas duradouras. Isso no garante que apenas pelo ensino do em- preendedorismo sero gerados novos mitos como Bill Gates, Silvio Santos, Olavo Setibal ¢ Antonio Ermirio de Moraes. No entanto, com certeza 0 ensino de empreendedorismo ajudaré na formacao de melhores empresarios, melhores es empresas e na maior geraco de riqueza ao pais. Deve-se entender quais sio os objetivos do ensino de empreendedorismo, pois os cursos podem diferir de universidade para universidade ou escola téc nica, Qualquer curso dg empreendedorismo deveria focar: na identificacao no entendimento das habilidades do empreendedor; na identificagao e andlise de oportunidades; em como ocorre a inovacio ¢ o proceso empreendedor; na importancia do empreendedorismo para o desenvolvimento econémico; em como preparar e utilizar um plano de negécios; em como identificar fontes € obter financiamento para 0 novo negécios ¢ em como gerenciar e fazer a em- presa cresc As habilidades requeridas de um empreendedor podem ser classificadas em trés dreas: técnicas, gerenciais e caracteristicas pessoais. As habilidades técnicas Bu m as envolvem saber escrever, saber ouvir as pessoas ¢ captar informagées, ser um bom orador, ser organizado, saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know- how técnico na sua area de atuacao. As habilidades gerenciais incluem as areas envolvidas na criagéo, desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa: marketing, administracio, finangas, operacional, produgao, tomada de decisio, controle das agdes da empresa e ser um bom negociador. Algumas caracteristicas pessoais jé foram abordadas anteriormente ¢ incluem: ser disciplinado, assumir riscos, ser inovador, ser orientado a mudangas, ser persistente e ser um lider vi- siondrio. As habilidades mencionadas e os objetivos gerais jé expostos formam a base para a ementa de um curso de empreendedorismo. © PROCESSO EMPREENDEDOR A decisio de tornar-se empreendedor pode ocorrer aparentemente por acaso. Isso pode ser testado fazendo-se uma pergunta basica a qualquer empreendedor 2 Nao se surpreenda se a verdade, essa decisio que vocé conhece: 0 que o levou a criar sua empre maioria das respostas for: nao sei, foi por acasc ocorre devido a fatores externos, ambientais e sociais, a aptiddes pessoais ou a Jo eriticos para o surgimento € 0 cres- um somatdrio de todos esses fatores, que cimento de uma nova empresa. © proceso empreendedor inicia-se quando um evento gerador desses fatores possibilita 0 inicio de um novo negécio. A Figura 2.2 exemplifica alguns fatores que mais influenciam esse proceso durante cada fase da aventura empreendedora. foores Pesca ‘Flows Pssona Fates Foire Pesci ~ « ' ‘ > implementagdo > crescimento } - Z Ant sete Ant palteas pablicas igura 2.2 Fatores que influenciam no processo empreendedor (adaptado de Moore, 1986). at 42 Quando se fala em inovacao, a semente do proceso empreendedor, remete- se naturalmente ao termo inovagio tecnol6gica. Nesse caso, existem algumas pe- culiaridades que devem ser entendidas para que se interprete o processo em- Preendedor ligado a empresas de base tecnoldgica. As inovagées tecnolégicas tém sido o diferencial do desenvolvimento econémico mundial. Eo desenvolvi- mento econdmico é dependente de quatro fatores criticos, que devem ser anali- sados, para entio se entender o processo empreendedor (Figura 2.3). O talento empreendedor resulta da percepgio, direcao, dedicagio ¢ muito tra- balho dessas pessoas especiais, que fazem acontecer. Onde existe este talento, ha 2 oportunidade de crescer, diversificar e desenvolver novos negécios. Mas ta- lento sem idéias € como uma semente sem gua. Quando 0 talento é somado 4 tecnologia e as pessoas tém boas idéias viaveis, o processo empreendedor esté na iminéncia de ocorrer. Mas, existe ainda a necessidade de um combustivel essen- cial para que finalmente 0 negécio saia do papel: o capital. O componente final € 0 know-how, ou seja, 0 conhecimento e a habilidade de conseguir convergir em um mesmo ambiente o talento, a tecnologia e o capital que fazem a empresa crescer (Tornatzky et al., 1996), Segundo Dertouzos (1999), a inovagio tecnolégica possui quatro pilares, os uais estio de acordo com os fatores anteriormente apresentados: 1. Investimento de capital de risco. 2. Infra-estrutura de alta tecnologia 3. Idéias criativas, 4. Cultura empreendedora focada na paixao pelo nego: OOOO | 1. Talento ~ Pessoas | 2. Tecnologia ~ Idéias 3. Capital — Recursos | 4. Know-how — Conhecimento —————— Figura 2.3 Fatores criicos para o desenvolvimento econémico (Smilor & Gill, 1986), FRET RTE eT [Ainda segundo Dertouzos, esses quatro ingredientes sio raros, pois, em sua con- cepcao, primeiro vem a paixao pelo negécio e depois o dinheiro, o que contradiz a corrente de analise econémica, a qual pressupde que deve haver um mercado consumidor € conseqiientemente possibilidades de lucro com o negécio. Der- tecnol6gicas nao ocorrem assim. Na as buscam nos centros de touzos conclui afirmando que as invengGes verdade, o que ocorre é um meio-termo: tanto as empre pesquisa tecnologias inovadoras que, agregadas ao seu proceso ou produto, pro- movam uma inovacao tecnolégica, como os centros de pesquisa desenvolvem tec- nologias sem 0 comprometimento econémico, mas que posteriormente poderao ser aplicadas nas empresas. Feitas as devidas consideracdes a respeito do processo de inovagio tecnolé- gica ¢ sua importancia para o desenvolvimento econdmico, pode-se entao enten- der as fases do proceso empreendedor: 1. identificar e avaliar a oportunidad 2, desenvolver o plano de negécios; 3. determinar e captar 0s recursos necessé- rios; e 4. gerenciar a empresa criada (veja a Figura 2.4), Embora as fases sejam apresentadas de forma seqiiencial, nenhuma delas pre- cisa ser completamente concluida para que se inicie a seguinte. Por exemplo, a0 se identificar e avaliar uma oportunidade (fase 1), 0 empreendedor deve ter em seja criar (fase 4), Muitas vezes ocorre ainda um mente o tipo de negécio que d outro ciclo de fases antes de se concluir o proceso completo. £0 caso em que 0 empreendedor elabora o seu primeiro plano de negécios e, em seguida, apre- senta-o para um capitalista de risco, que faz varias eriticas e sugere ao empreen- dedor mudar toda a concepgio da empresa antes de vir procurd-lo de novo. Nesse caso, o proceso chegow até a fase 3, ¢ voltou novamente para a fase 1, re- comecando um novo ciclo sem ter concluido o anterior. © empreendedor no io, que € muito freqiiente. deve desanimar diante dessa situaga Identticar Desenvotver 0 Determinare capar Ccerencara avaliara plano de negécios 08 recursos empresa criada oportunidade | 4. Sumario exeuto necessérios estilo de pesto criagao.e abrangéncia || 2. Oconee donegécio routs pessoais feos crc de da oporuriade || 3. Equipe de gestao recursos de aigos sveess0 valores perceidose || 4. Mercadoe paentes \ cerca problemas reais da oporurizade || competidores | angels | atuaisepotencias fscaseretomos da 5. Nartatng everdas |} _captastas de rsco mmpementr um copotunidade Besa eoperagio || bancos sistema decontole ‘oportunidade versus 7. Andlise estratégica | governo profissionalizar a abides metas @.Phnotnancer || —icibasoras i pessoais 9. Anexos: if lf ‘entrar em novos situagao dos } 1 ‘mercados compatdres | | Figura 2.4 O processo empreendedor (adaptado de Hisrich, 1998) 43 44 is dificil... Existe uma Identificar ¢ avaliar uma oportunidade é a parte ma lenda segundo a qual a oportunidade é como um velbo sdbio barbudo, baixinho e careca, que passa ao seu lado. Normalmente vocé nao 0 nota pasando... Quando percebe que ele pode Ibe ajudar, tenta desesperadamente correr atras do velho e, com as maos, tenta tocd-lo na cabega para abordd-lo. Mas quando final- mente vocé toca na cabeca do velo, ela estd toda cheia de dleo e seus dedos es- corregam, sem conseguir segurar o velho, que vai embora... Quantas vezes vocé nao sentiu que deixou o velho p: facil, mas os empreendedores de sucesso “agarram o velho” com as duas maos logo no primeiro instante, usufruindo o maximo que podem de sua sabedoria. Mas como se distingue o velho sabio daquele que nao traz algo de valor? Af entra o talento, o conhecimento, a percepgao e 0 feeling do empreendedor. Muitos dizem que isso ocorre por sorte. No entanto, muitos também dizem que sorte é © encontro da competéncia com a oportunidade! No préximo capitulo, sera dado destaque especial para a identificacao € a avaliacao de oportunidades. A segunda fase do proceso empreendedor — desenvolver o plano de negécios -talve: ir? Realmente nao é ja a que mais dé trabalho para os empreendedores de primeira viagem. Fla envolve varios conceitos que devem ser entendidos e expressos de forma es- crita, em poucas paginas, dando forma a um documento que sintetiza toda a es- séncia da empre vai gerar receitas e crescer etc, Nos Capitulos 5 ¢ 6, serao apresentados todos os aspectos que envolvem a elaboracao de um bom plano de negécios, suas arma- dilhas, dicas e ferramentas que podem auxiliar o empreendedor nessa tarefa Determinar os recursos necessdrios € conseqiiéncia do que foi feito ¢ plane- jado no plano de negécios. Jé a captacao dos recursos pode ser feita de varias formas e por meio de varias fontes distintas. Hé alguns anos, as tinicas possibil dades de se obter financiamento ou recursos, no Brasil, eram recorrer aos ban- cos € a economias pessoais, a familia ¢ aos amigos. Atualmente, com a globaliza- suia estratégia de negécio, seu mercado ¢ competidores, como cio das economias e os mercados mundiais, ¢ com a recente estabilizacio econdmica do pais, o Brasil passou a ser visto como um celeiro de oportunida- des a serem exploradas pelos capitalistas, Esses mesmos capitalistas que prefe- riam aplicar suas divisas no mercado financeiro, que lhes proporcionava retor- nos imbativeis. Comeca a ser comum encontrar a figura do capitalista de risco no pais e, principalmente, do angel, ou anjo ~ investidor pessoa fisica -, que prefere arriscar em novos negocios a deixar todo seu dinheiro aplicado nos bancos. Isso vem ocorrendo nos setores onde as empresas podem crescer rapidamente, como o de empresas de tecnologia, e jé esti mudando todo um paradigma de investi- mentos no Brasil, o que é saudavel para o pais e para os novos empreendedores que esto surgindo. Gerenciar a empresa pare feitas. Mas nao é bem assim, ¢ ser a parte mais facil, pois as outras ja foram do processo empreendedor tem seus ada fas ta desafios e aprendizados. As vezes, 0 empreendedor identifica uma excelente 10 oportunidade, elabora um bom plano de negécios ¢ “vende” a sua idéia s para investidores que acreditam nela e concordam em financiar 0 novo em- fo preendimento. Quando é hora de colocar as ag6es em pratica, comecam a L surgir os problemas. Os clientes nao aceitam tao bem o produto, surge um = concorrente forte, um funciondrio-chave pede demissao, uma maquina que- bra e nao existe outra para repor, enfim, problemas vao existir e precisarao é ser solucionados. Ai é que entra o estilo de gestio do empreendedor na pra- Ds tica, que deve reconhecer suas limitages e saber, antes de qualquer coisa, » recrutar uma excelente equipe de profissionais para ajudé-lo a gerenciar a a empresa, implementando aces que visem a minimizar os problemas, ¢ s identificando 0 que é prioridade e 0 que € critico para o sucesso do em- é preendimento. 4 Existe uma outra forma de se analisar os aspectos criticos do processo em- preendedor. Proposta por Timmons (1994), professor do Babson College, s Estados Unidos, leva 0 empreendedor a priorizar a andlise de trés fatores u fundamentais. O primeiro fator é a oportunidade, que deve ser avaliada para * que se tome a decisao de continuar ou nao com o projeto. O segundo fator é a equipe empreendedora, ou seja, quem; além do empreendedor, estar > atuando em conjunto neste projeto. E mais, estas pessoas que formam a s equipe empreendedora tém perfil complementar? Finalmente, quais sio os 77 recursos, como e aonde esta equipe ird consegui-los? £ muito importante que a questao relativa a andlise dos recursos necessarios para o inicio do ne- Scio seja a tiltima a ser feita, para evitar que o empreendedor e sua equipe s restrinjam a andlise da oportunidade, a primeira das tarefas a ser realizada. - Na verdade, as vezes a formagao da equipe ocorre até antes da identificagao : de uma boa oportunidade, porém 0 mais comum nos casos de sugesso é a : dentificagao da oportunidade, formagio da equipe e captagao dos recursos. > O empreendedor deve ter em mente ainda que nem sempre a equipe inicial dirios esta pode e ard completa € que apés a captagio dos recursos nec deverd ser complementada. Figura 2.5 apresenta estes trés fatores essenciais para a existéncia do pro- cesso empreendedor, agrupados como proposto por Timmons (1994). O pla- nejamento, por meio de um plano de negécios (business plan), € a ferramenta do empreendedor, com a qual sua equipe avalia oportunidades, identifica, busca e aloca os recursos necessarios ao negécio, planeja as agdes a serem to- cio. Obviamente, muitas incerte- madas, implementa e gerencia 0 novo neg6 zas estarao presentes ao longo de todo processo, ¢ a equipe empreendedora devera saber como lidar com os riscos de forma calculada, analisando as va- rias possibilidades existentes ¢ as possiveis conseqiiéncias para o negécio e para cles mesmos. 45

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