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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA

Faculdade de Arquitectura e Artes


Doutoramento em Arquitectura

A evolução da arquitectura escolar portuguesa: as


escolas primárias desde finais do século XIX até à
contemporaneidade

Realizado por:
Carla Andreia Galvão de Carvalho
Orientado por:
Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria do Nascimento Xavier Diogo

Constituição do Júri:

Presidente: Prof. Doutor Eng. Diamantino Freitas Gomes Durão


Orientadora e Vogal: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria do Nascimento Xavier Diogo
Arguente e Vogal: Prof.ª Doutora Arqt.ª Ana Cristina Milheiro
Arguente e Vogal: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria Alexandra de Lacerda Nave Alegre
Vogal: Prof.ª Doutora Arqt.ª Andreia Maria Bianchi Aires Carvalho Gaivão
Vogal: Prof. Doutor Horácio Manuel Pereira Bonifácio
Vogal: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha
Vogal: Prof. Doutor Arqt. Victor Manuel Canedo Neves

Tese aprovada em: 27 de Maio de 2013

Lisboa
2012
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A

Faculdade de Arquitectura e Artes

Doutoramento em Arquitectura

A evolução da arquitectura escolar portuguesa:


as escolas primárias desde finais do século XIX até à
contemporaneidade

Carla Andreia Galvão de Carvalho

Lisboa

Julho 2012
Carla Andreia Galvão de Carvalho

A evolução da arquitectura escolar portuguesa:


as escolas primárias desde finais do século XIX até à
contemporaneidade

Tese apresentada à Faculdade de Arquitectura e Artes


da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do
grau de Doutor em Arquitectura.

Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria do Nascimento


Xavier Diogo

Lisboa

Julho 2012
Ficha Técnica
Autora Carla Andreia Galvão de Carvalho

Orientadora Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria do Nascimento Xavier Diogo

Título A evolução da arquitectura escolar portuguesa: as escolas primárias


desde finais do século XIX até à contemporaneidade

Local Lisboa
Ano 2012

Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação

CARVALHO, Carla Andreia Galvão de, 1975-

A evolução da arquitectura escolar portuguesa : as escolas primárias desde finais do século XIX
até à contemporaneidade / Carla Andreia Galvão de Carvalho ; orientado por Maria do Nascimento
Xavier Diogo. - Lisboa : [s.n.], 2012. - Tese de Doutoramento em Arquitectura, Faculdade de
Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.

I - DIOGO, Maria do Nascimento Xavier, 1957-


LCSH
1. Escolas (Edifício) - Portugal - História - Século 20
2. Sala de aula - Portugal - Século 20
3. Ensino primário - Portugal - Século 20
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
5. Teses – Portugal - Lisboa
1. School buildings - Portugal - History - 20th century
2. Classrooms - Portugal - 20th Century
3. Education, Primary - Portugal - 20th century
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
5. Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon
LCC
1. LB3219.P8 C37 2012
Aos meus filhos, João Maria e Sofia.

Aos meus pais, António José e Maria


Margarida, que me ensinaram o caminho.
AGRADECIMENTOS

No desenvolvimento da presente dissertação tive o apoio de várias pessoas e institui-


ções a quem desejo expressar os meus agradecimentos.

A primeira palavra de reconhecimento é dirigida à Professora Doutora Maria do Nas-


cimento  Xavier  Diogo,  pela  orientação  científica,  pela  sua  amizade  e  apoio  no  desen-
volvimento deste trabalho.

À Professora Doutora Teresa Valsassina Heitor pela sua disponibilidade e interesse


demonstrado pelo tema do trabalho, que resultaram na solução de alguns problemas
e inquietações, através das informações e auxílios prestados. À Professora Doutora
Maria  Alexandra  Alegre,   por   de   imediato   se   ter   disponibilizado   a   facultar-­me   a   sua  
tese, que em muito se revelou importante na estruturação deste trabalho.

Agradeço à Universidade Lusíada do Porto, na pessoa do Senhor Vice Chanceler das


Universidades Lusíada, o Professor Doutor António José Moreira, que prontamente
se  disponibilizou  a  dispensar-­me  de  praticamente  todo  o  serviço  docente  na  fase  de  
montagem  desta  dissertação,  tempo  que  se  revelou  crucial  à  concretização  deste  tra-
balho, bem como ao seu pronto apoio na superação de algumas questões de ordem
administrativa. Uma palavra especial ao Professor Doutor Peixoto Alves pela disponi-
bilidade manifestada.

Gostaria também de agradecer à Professora Doutora Edite Rosa, pelos conselhos e


sugestões que prontamente se prestou a dar, bem como à Professora Doutora Graça
Correia que, numa fase inicial, partilhou as preocupações e experiências que um tra-
balho  desta  natureza  acarreta.

Uma palavra especial para o colega e amigo, Professor Doutor Henrique Fabião, que
se mostrou sempre disponível para sugestões, correcções e partilha de informação, e
que não se absteve de palavras de incentivo e encorajamento.

Gostaria ainda de expressar uma palavra de agradecimento ao Professor Doutor Juan


Báez  Mezquita,  pela  sua  crítica  e  sábios  conselhos  em  torno  da  qualidade  da  repre-
sentação  gráfica  desenvolvida  neste  trabalho.

A todas as instituições e arquitectos, colegas e amigos, que gentilmente me cederam


o material necessário permitindo, assim, uma análise fundamentada.

É credor ainda de agradecimentos o arquitecto João Barbosa, pelo apoio que prestou
na construção desta dissertação. Um agradecimento especial a todos os que colabo-
raram nos levantamentos dos edifícios escolares da cidade do Porto, com particular
ressalva para a colaboração da arquitecta Sónia Bastos.

À Ema, pela competência na leitura e revisão dos textos, e a todos os outros meus
amigos que me acompanharam ao longo deste processo, com palavras de incentivo
e de coragem.

Agradeço aos meus Pais o permanente apoio, incentivo e preocupação demonstradas


no decorrer desta investigação, apoio que se estendeu à ajuda nas minhas obrigações
familiares  e  que  se  revelou  fundamental  para  a  finalização  do  trabalho.

Ao João, meu companheiro desta viagem que é a vida, agradeço a paciência e o dis-
cernimento perante as dúvidas, a crítica astuta e pragmática nos momentos cruciais,
e em particular a minha gratidão pela sua presença permanente e o seu auxílio cons-
tante na resolução de problemas operativos.
Architecture has unfailingly approached
the designing of schools from less than a
critical position. All the while, it seems, ar-
chitects meekly followed their briefs and
were mainly concerned with formal aspects
of the exterior without busying themselves
with spatial opportunities that might lead to
better education, and with the role they the-
mselves  might  fulfil  there.

There can be few building types that can


have so poorly evolved the past hundred
years as schools. (…) Only the form, parti-
cularly that of the exterior, move with the ti-
mes.  How  schools  were  organized  was  evi-
dently   unassailable.   (Hertezberger,   2008,  
p.11)
APRESENTAÇÃO

A evolução da arquitectura escolar portuguesa:


as escolas primárias desde finais do século XIX até à contemporaneidade

Carla Andreia Galvão de Carvalho

A presente dissertação tem como objectivo reconhecer os tipos da arquitectura das es-
colas primárias em Portugal e analisar em particular a realidade das escolas primárias
da  cidade  do  Porto,  projectadas  e  construídas  entre  finais  do  século  XIX  e  a  contempo-
raneidade. Estes edifícios escolares estão inseridos na rede pública, responsabilidade
do Estado. Ressalva-se o caso particular da cidade do Porto em que a responsabi-
lidade  passou  para  a  autarquia  a  partir  do  decreto-­lei  nº39  982,  de  21  de  Dezembro  
de 1954, delegando a gestão, dentro das suas possibilidades económicas e das suas
limitações na área da construção, dos processos relativos às escolas primárias.

Procuramos   enquadrar   e   identificar,     observando   a   realidade   internacional   e   a   con-


juntura nacional, a evolução tipológica das construções escolares em Portugal, os
modelos pedagógicos e os métodos e modos de ensino que as acompanham, bem
como  os  contextos  sociais  e  políticos,  que  resultam  nas  diferentes  formalizações  ar-
quitectónicas estudadas.

Pretendemos   sintetizar   a   informação   recolhida   sistematizando-­a   em   fichas   síntese,  


onde os objectos de estudos se encontram quer ordenados cronologicamente, quer
catalogados segundo tipos ou grupos, com o objectivo de tirar conclusões e exercer
comparações ao longo do período de tempo já referenciado.

A análise sobre o território particular da cidade do Porto procura em simultâneo enten-


der  os  aspectos  específicos  e  gerais  de  cada  edifício,  percebendo  o  que  está  na  sua  
génese, a sua relação com o tipo, mediante a percepção de quais as propriedades
estruturantes por este regradas que se mantêm ou que se transformam gerando um
modelo, tendo em conta a sua dimensão urbana, o seu programa funcional, e as suas
soluções construtivas.

Palavras-chave:  arquitectura  escolar,  escola  primária,  edifício  escolar,  caracterização


tipológica, sistema educativo, sala de aula.
PRESENTATION

The evolution of portuguese educational architecture:


primary schools since the late nineteenth century to the contemporaneity

Carla Andreia Galvão de Carvalho

This dissertation aims to identify different types of primary schools of architecture in


Portugal, and examine in particular the reality of primary schools in the city of Por-
to, designed and built between the late nineteenth century and the contemporaneity.
These  school  buildings  are  inserted  in  the  public,  state  responsibility.  It  is  emphasized  
particularly the case of Oporto, where the responsibility passed to the city hall from
the Decree Law No. 39982 of December 21, 1954, bequeathing to this entity the ma-
nagement and all the procedures relating to primary schools, within their economic
possibilities and its limitations in the area of construction.

We seek to identify and frame, noting the national and the international situation, the
typological evolution of school buildings in Portugal, the pedagogical models and me-
thods and ways of teaching that accompany them, as well as social and political con-
texts  that  result  in  different  architectural  formalization  of  our  study.

We  intend  to  synthesize  the  information  collected  to  chip  synthesis  of  studies  where  
objects are either ordered chronologically or second types or groups listed for the pur-
pose of drawing conclusions and exert comparisons over time already referenced.

The analysis on the private territory of Oporto seeks simultaneously to understand


the  general  and  specific  aspects  of  each  building,  realizing  what  is  in  its  genesis,  its  
relation with the type by which the perception of structural properties by this ruled that
stands or that become generating a model, taking into account its urban dimension its
functional program, and its constructive solutions.

Keywords: architecture school, primary school, school building, typological charac-


terization,  educational  system,  the  classroom.
SUMÁRIO

1. Introdução ........................................................................................................... 21

Parte I . Introdução à problemática do objecto de análise

2.    A  arquitectura  das  escolas  primárias  em  Portugal  (dos  finais  do  século  XIX  até  
à contemporaneidade) .......................................................................................... 35
2.1. Construir o problema para a arquitectura das escolas ............................. 35
2.1.1. O espaço que reside entre a arquitectura e a educação..................... 37
2.1.2. O modelo ambiente como cenário comportamental_ a sala de aula e
os métodos de ensino ................................................................................... 39
2.1.3.    O  espaço  como  elemento  fundamental,  essencial  à  realização  indi-
vidual e colectiva_articulação entre a arquitectura escolar e a educação ... 49
2.1.4. A percepção dos espaços como fenómeno cultural .......................... 54
2.1.5. Uma escola para o século XXI_a responsabilidade do arquitecto na
articulação entre a arquitectura e a educação ............................................ 58
2.2. Currículos educacionais, modelos pedagógicos e a morfologia das escolas 66
2.2.1. Escolas saudáveis para crianças saudáveis (higiene e saúde escolar) 68
2.2.1.1.     Edifícios   significativos   na   história   da   arquitectura   escolar   do  
século XX ................................................................................................ 68
2.2.1.2. As escolas abertas ao exterior_escolas ao Ar-Livre .................. 74
2.2.1.3. O exemplo da École de Plein Air de Suresnes_enquadramento
histórico e social da arquitectura escolar francesa_contextos para o
surgimento da École de Plein Air de Suresnes ...................................... 81
                         2.2.1.4.    As  escolas  primárias  francesas_os  projectos  normalizados    ...... 92
2.2.1.5.    As  escolas  primárias  normalizadas  francesas  versus  as  escolas  
primárias portuguesas do Estado Novo entre 1940 e 1960 .................... 95
2.2.1.5.1.    Esquemas  comparativos  entre  as  escolas  normalizadas  fran-
cesas e as escolas tipo portuguesas suas contemporâneas .............. 96
2.2.2. A reforma do sistema educativo e as pedagogias praticadas ............ 97
2.2.3. O caso português ............................................................................. 104
2.2.3.1. A perspectiva cultural e histórica do pedagogo e político António
Sérgio _ A cidade escolar e a procura da meritocracia ............................ 107

Parte II. Os diferentes tipos de Edifícios Escolares para o ensino primário


Português (inventário do Norte de Portugal)

3. O Histórico Português ...................................................................................... 112


3.1.    Identificação  e  contextualização  dos  diferentes  tipos  de  construção  nos  
últimos cem anos ............................................................................................. 112
3.1.1. Um olhar sobre a educação no século XIX. A casa-escola ............... 125
3.1.2. A Primeira República e as escolas Conde de Ferreira ...................... 127
3.1.3. As preocupações higienistas e a regulamentação dos espaços esco-
lares ............................................................................................................. 129
3.1.4.    A  primeira  normalização  para  a  construção  dos  edifícios  escolares    . 130
3.2. As estratégias da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses para
reduzir  o  analfabetismo    ............................................................................... 133
3.2.1. A transição do século XIX para o século XX. As escolas Adães Ber-
mudes ..................................................................................................... 136
3.3.    O  regime  de  Salazar  e  a  educação    .......................................................... 138
3.3.1.    A  homogeneização  das  construções  escolares  no  Estado  Novo    ...... 139
3.3.2. As escolas do Plano dos Centenários .............................................. 150
3.3.3. A efectiva implementação da escolaridade obrigatória para as crian-
ças do 1º ciclo de ensino ............................................................................. 160
3.4. As escolas de Área Aberta (P3) ............................................................... 163
4. Estudos comparativos entre os diferentes tipos de escolas primárias portugue-
sas ........................................................................................................................ 171
4.1.     Introdução   à   caracterização   dos   tipos   em   estudo_   evolução   tipológica,  
tectónica e formal ............................................................................................. 171
4.1.1. Tipo Conde de Ferreira ..................................................................... 173
4.1.1.1. Contexto e Implantação ............................................................ 173
4.1.1.2.    Expressão  formal  tipológica,  organização  funcional  e  materiali-
dade arquitectónica ................................................................................. 175
4.1.1.3. Soluções construtivas ............................................................... 177
4.1.1.4. Realidade actual das construções escolares ............................. 177
4.1.1.5. Esquemas comparativos entre as variações do mesmo tipo ..... 178
4.1.2. Tipo Adães Bermudes ....................................................................... 179
4.1.2.1. Contexto e Implantação ............................................................ 179
4.1.2.2.    Expressão  formal  tipológica,  organização  funcional  e  materiali-
dade arquitectónica ................................................................................. 181
4.1.2.3. Soluções construtivas ............................................................... 185
4.1.2.4. Realidade actual das construções escolares ............................. 185
4.1.2.5. Esquemas comparativos entre as variações do mesmo tipo ..... 186
4.1.3.    Tipo  Rogério  de  Azevedo    .................................................................. 187
4.1.3.1. Contexto e Implantação ............................................................. 187
4.1.3.2.   Expressão   formal   tipológica,   organização   funcional   e   materiali-
dade arquitectónica ................................................................................. 189
4.1.3.3. Soluções construtivas ............................................................... 191
4.1.3.4. Realidade actual das construções escolares ............................. 192
4.1.3.5. Esquemas comparativos entre as variações do mesmo tipo ..... 192
4.1.4. Tipo Fernandes de Sá ....................................................................... 193
4.1.4.1. Contexto e Implantação ............................................................. 193
4.1.4.2.    Expressão  formal  tipológica,  organização  funcional  e  materiali-
dade arquitectónica ................................................................................. 195
4.1.4.3. Soluções construtivas ................................................................ 199
4.1.4.4. Realidade actual das construções escolares ............................. 199
4.1.4.5. Esquemas comparativos entre as variações do mesmo tipo ..... 200
4.1.5. Tipo Fernando Peres ........................................................................ 200
4.1.5.1. Contexto e Implantação ............................................................. 201
4.1.5.2.    Expressão  formal  tipológica,  organização  funcional  e  materiali-
dade arquitectónica ................................................................................. 202
4.1.5.3. Soluções construtivas ................................................................ 204
4.1.5.4. Realidade actual das construções escolares ............................. 205
4.1.5.5. Esquemas comparativos entre as variações do mesmo tipo ..... 205
4.1.6. Tipo P3_Escola de Área Aberta ........................................................ 206
4.1.6.1. Contexto e Implantação ............................................................. 206
4.1.6.2.    Expressão  formal  tipológica,  organização  funcional  e  materiali-
dade arquitectónica ................................................................................. 208
4.1.6.3. Soluções construtivas ................................................................ 210
4.1.6.4. Realidade actual das construções escolares ............................. 210
4.1.6.5. Esquemas comparativos entre as variações do mesmo tipo ..... 211
4.2. A evolução tipológica, a evolução tectónica e a evolução formal .............. 212
4.2.1. Comparação da evolução entre os diferentes tipos ........................... 213
4.2.2. Comparação da evolução dos programas dos diferentes tipos ......... 214

Parte III. O Panorama das Escolas Primárias Portuenses

5. A análise morfológica da escola primária num contexto urbano (Porto) ........... 216
5.1. A tipologia Escola_o Tipo e o Modelo ....................................................... 217
5.2. A arquitectura pública das escolas primárias como elemento de com-
posição e sedimentação da malha urbana do Porto ......................................... 220
5.2.1. Síntese do aparecimento das escolas primárias no Porto ................. 221
5.2.2. O período modernista e a arquitectura portuense_a arquitectura das
escolas primárias ......................................................................................... 226
5.2.3. As escolas primárias projectadas e construídas pela Câmara Munici-
pal do Porto ................................................................................................. 232
5.3. Obras seleccionadas _cidade do Porto .................................................... 235
5.3.1. Os diferentes grupos de edifícios de escolas primárias no Porto_
Histórico, Estado Novo, Movimento Moderno (C.M.P.), Casos Especiais
C.M.P., Contemporâneos ............................................................................. 236
5.3.1.1. Grupo Histórico (1890-1929) ..................................................... 238
5.3.1.2. Grupo Estado Novo (1938-1955) .............................................. 241
5.3.1.3. Grupo Movimento Moderno (C.M.P.) (1954-1965) ..................... 245
5.3.1.4. Grupo Casos Especiais C.M.P. (1965-1974) .............................. 248
5.3.1.5. Grupo Contemporâneos (1975-1990) ........................................ 251
5.4. A evolução tipológica, a evolução da tectónica e a evolução formal ........ 254
5.4.1. Comparação da evolução entre os edifícios mais representativos dos
grupos ......................................................................................................... 254
5.4.2. Comparação da evolução dos programas dos edifícios mais repre-
sentativos dos grupos .................................................................................. 256
6. Conclusão ........................................................................................................ 258
Referências .......................................................................................................... 271
Bibliografia    ............................................................................................................ 283
Apêndices ............................................................................................................. 293
Lista de Apêndices ........................................................................................... 294
Apêndice A. Fichas síntese com análise tipológica, tectónica e formal dos
Tipos de Escola Primária do Norte de Portugal ........................................... 295
a1. Tipo Conde de Ferreira .................................................................... 297
a2. Tipo Adães Bermudes ...................................................................... 303
a3.    Tipo  Rogério  de  Azevedo    ................................................................. 309
a4. Tipo Fernandes de Sá ...................................................................... 315
a5. Tipo Fernando Peres ........................................................................ 321
a6. Tipo P3 (Área Aberta) ....................................................................... 327
Apêndice B. Fichas síntese com análise tipológica, tectónica e formal das
Escolas Primárias do Porto ......................................................................... 333
01. Escola Básica do 1º Ciclo do campo 24 de Agosto ........................... 335
02. Escola Básica do 1º Ciclo das Florinhas ......................................... 339
03. Escola Básica do 1º Ciclo de Carlos Alberto .................................... 343
04. Escola Básica do 1º Ciclo da Ponte ................................................. 347
05. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Bandeirinha ............................. 351
06. Escola Básica do 1º Ciclo de S. Miguel de Nevogilde ...................... 355
07.    Escola  Básica  do  1º  Ciclo  com  JI  das  Cruzes    .................................. 359
08. Escola Básica do 1º Ciclo da Gólgota .............................................. 363
09.    Escola  Básica  do  1º  Ciclo  do  Pinheiro  (não  existe  informação  sufi-
ciente para se poder construir uma análise rigorosa) .............................. 367
10.    Escola  Básica  do  1º  Ciclo  de  S.  Miguel  (não  existe  informação  sufi-
ciente para se poder construir uma análise rigorosa) .............................. 369
11. Escola Básica do 1º Ciclo dos Miosótis ............................................ 371
12. Escola Básica do 1º Ciclo das Condominhas ................................... 375
13. Escola Básica do 1º Ciclo com JI Nª Sª de Campanhã ..................... 379
14.    Escola  Básica  do  1º  Ciclo  comJI  Nº  Sª  da  Azenha    ........................... 383
15. Escola Básica do 1º Ciclo com JI dos Correios ................................ 387
16. Escola Básica do 1º Ciclo com JI S. Roque da Lameira ................... 391
17. Escola Básica do 1º Ciclo de Montebello ......................................... 395
18. Escola Básica do 1º Ciclo de S. João de Deus ................................ 399
19.    Escola  Básica  do  1º  Ciclo  de  S.  João  da  Foz    ................................... 403
20. Escola Básica do 1º Ciclo de S. Martinho de Aldoar ......................... 407
21. Escola Básica do 1º Ciclo da Sé ...................................................... 411
22. Escola Básica do 1º Ciclo do Bom Sucesso ..................................... 415
23. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Lomba .................................... 419
24. Escola Básica do 1º Ciclo da Constituição ....................................... 423
25. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Corujeira ................................. 427
26. Escola Básica do 1º Ciclo com JI de Lordelo ................................... 431
27. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Pasteleira ............................... 435
28. Escola Básica do 1º Ciclo com JI Ribeiro de Sousa ......................... 439
29. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Lagarteiro ............................... 443
30. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Covelo .................................... 447
31. Escola Básica do 1º Ciclo com JI dos Castelos ................................ 451
32. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Monte Aventino ....................... 455
33. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Caramila ................................. 459
34. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Alegria .................................... 463
35. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Agra ........................................ 467
36. Escola Básica do 1º Ciclo com JI da Vilarinha ................................. 471
37. Escola Básica do 1º Ciclo de Costa Cabral ...................................... 475
38. Escola Básica do 1º Ciclo Fernão de Magalhães .............................. 479
39. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Padre Américo ....................... 483
40. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Cerco do Porto ........................ 487
41. Escola Básica do 1º Ciclo da Fonte da Moura .................................. 491
42. Escola Básica do 1º Ciclo com JI de Noeda ..................................... 495
43. Escola Básica do 1º Ciclo com JI António Aroso ............................... 499
44. Escola Básica do 1º Ciclo da Fontinha ............................................. 503
45. Escola Básica do 1º Ciclo da Torrinha .............................................. 507
46. Escola Básica do 1º Ciclo com JI das Campinas .............................. 511
47. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Aleixo ...................................... 515
48. Escola Básica do 1º Ciclo do Bom Pastor ........................................ 519
49. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Falcão ..................................... 523
50. Escola Básica do 1º Ciclo com JI Paulo da Gama ............................ 527
51. Escola Básica do 1º Ciclo José Gomes Ferreira ............................... 531
52. Escola Básica do 1º Ciclo com JI do Viso ........................................ 535
53. Escola Básica do 1º Ciclo com JI de S. Tomé .................................. 539
54. Escola Básica do 1º Ciclo com JI das Flores ................................... 543
55. Escola Básica do 1º Ciclo João de Deus .......................................... 547
56. Escola Básica do 1º Ciclo Augusto Lessa ........................................ 551
57. Escola Básica do 1º Ciclo com JI de S. Nicolau ............................... 555
Anexos ................................................................................................................. 559
Lista de anexos ................................................................................................ 560
Anexo A. Levantamento das variantes dos Tipos de Escolas Primárias no
Norte de Portugal_ Plantas, Cortes e Alçados ............................................. 561
Variantes do Tipo Conde de Ferreira ....................................................... 562
Variantes do Tipo Adães Bermudes ........................................................ 564
Variantes  do  Tipo  Rogério  de  Azevedo    ................................................... 570
Variantes do Tipo Fernandes de Sá ........................................................ 577
Variantes do Tipo Fernando Peres .......................................................... 583
Variantes do Tipo P3 (Área Aberta) ......................................................... 591
Anexo B. Legislação ................................................................................... 603
A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

1. INTRODUÇÃO

Os espaços educativos, como lugares que abrigam a liturgia acadêmica, estão dota-
dos  de  significados  e  transmitem  uma  importante  quantidade  de  estímulos,  conteúdos  
e  valores  do  chamado  currículo  oculto.[...]a  arquitetura  escolar  pode  ser  vista  como  um  
programa  educador,  ou  seja,  como  um  elemento  do  currículo  invisível  ou  silencioso,  ain-
da  que  ela  seja,  por  si  mesma,  bem  explicita  ou  manifesta.[...].  (Escolano,  1998,  p.45)

Enquadramento

 O  séc.  XIX  é  palco  de  um  interesse  crescente  pelo  ensino,  denunciando  uma  espécie  
de  tomada  de  consciência  por  parte  dos  Estados,  sobre  a  importância  da  educação  na  
evolução  e  projecção  das  sociedades.

Como  marco  histórico  relevante,  que  precede  o  referido  interesse,  está  a  Revolução  
Francesa  (séc.  XVIII),  por  ter  reconhecidas  repercussões  sobre  a  percepção  da  im-
portância  do  ensino.  Com  efeito,  a  correlação  entre  a  educação  e  a  constituição  da  
sociedade,  a  partir  deste  momento,  passa  a  ser  entendida    como    factor  essencial  na  
construção  de  uma  identidade  cultural  colectiva.

A  instituição  escolar  europeia  só  se  instala  em  edifício  próprio  no  séc.  XIX,    período  em  
que  se  começa  a  fomentar  e  a  pôr  em  prática  o  ensino  obrigatório.  É  nesta  altura  que  
a   sua   tipologia   enquanto   edifício   público   passa   a   ser   reconhecida,   juntamente   com  
outros  programas  de  carácter  colectivo.  (Alegre,  2009,  p.2)

Assim   a   valorização   da   arquitectura   dos   espaços   escolares   vai   conquistando   maior  


importância.  Assumem-­se  morfologias  específicas,  configurações  espaciais  e  funcio-
nais   próprias,   que   reportam   para   a   legibilidade   da   autonomia   arquitectónica   destes  
programas,   muitas   das   vezes,   já   com   inquietações   de   ordem   urbana   subjacentes   a  
uma   reforma   social   preocupada   em   colmatar   necessidades   de   aprendizagem   das  
crianças  da  população  trabalhadora  e  menos  favorecida.  

A   realidade   portuguesa   foi   pautada   no   campo   das   reformas   educativas     e   da   cons-


trução   dos   edifícios   escolares,   por   um   desenrolar   lento   e   custoso,   apesar   de   já   se  
adivinhar   um   crescente   interesse   pelo   tema   da   instrução   pública   desde   meados   do  
séc.  XVIII,  reiterado  com  a  eclosão  dos  ideais  liberalistas  no  início  do  séc.  XIX  (1820)  

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e  a  formalização  da  Carta  Constitucional  de  1826,  que  previa  a  gratuitidade  do  ensino  
público  (ou  de  ensino  Mútuo).  De  seguida  legisla-­se  a  obrigatoriedade  da  frequência  
das   escolas   primárias   para   crianças   com   mais   de   7   anos   no   regulamento   Geral   da  
Instrução  Primária  de  7  de  Setembro  de  1835.

 É  nas  últimas  décadas  do  séc.  XIX  que,  em  Portugal,  se  começam  a  construir  os  edi-
fícios  das  escolas  primárias.  Até  aqui  o  ensino,  acontecia  em  edifícios  que  já  existiam,  
originários  dos  mais  diversos  programas,  de  enorme  diversidade  morfológica  que  iam  
desde  as  construções  de  pequena  escala,  como  é  exemplo  a  habitação  do  professor,  
até  antigos  conventos  ou  colégios  dos  Jesuítas  abandonados  e  prontamente  reutiliza-
dos,  por  altura  das  reformas  pombalinas.  Já  o  séc.  XX  é  o  século  da  sedimentação  da  
autonomia  das  escolas  como  equipamentos  públicos  de  interesse  colectivo.  Abre-­se  
o  caminho  para  estudos  sobre  as  valências  dos  edifícios  dedicados  ao  conhecimento,  
enquanto  condutores  expressos  das  pedagogias,  e  estudos  sobre  as  especificidades  
das  estruturas  escolares  dos  diferentes  graus  de  ensino.  É  de  incontornável  importân-
cia  referir  as  publicações  de  Henry  Baudin  (1907)  e  de  Alfred  Roth  (1957),  pioneiras  
na  abordagem  ao  tema,  sobre  a  perspectiva  da  forma,  das  questões  higiénicas,  entre  
outras,  bem  como  do  arrolar  das    possíveis  metodologias  a  utilizar,  usando  exemplos  
de  edifícios  considerados  como  referência,  na  conceptualização  e  materialização  das  
escolas  primárias.

Os  edifícios  escolares,  reflexo  das  estruturas  sociais  e  da  faixa  etária  a  que  se  des-
tinam,   perpetuam   as   hierarquias   que   delineiam   a   cultura   em   que   se   implementam,  
mantendo   um   ponto   em   comum,   a   sala   de   aula,   célula   base   para   as   suas   diversas  
combinações.   Apesar   de   se   apresentar   de   diferentes   formas   e   com   variações   nas  
suas  composições  espaciais  internas,  conclusão  advinda  das  premissas  das  teorias  
pedagógico  /  espaciais,  não  deixou  nunca  de  ser  a  variável  sempre  presente  no  sis-
tema.  Ainda  hoje  o  sistema  de  ensino  público  que  vigora  está  organizado  com  base  
na  classe,  um  modelo  que  tem  a  virtude  de  tornar  efectivo  o  ensino  em  torno  de  uma  
pedagogia  colectiva.

Realizaram-­se  internacionalmente  (em  Inglaterra,  em  França,  na  Alemanha,  na  Suíça,  
entre   outros   países),   durante   o   séc.   XX   um   conjunto   de   experiências   pedagógicas  
com  a  perspectiva  de  encontrar  alternativas  a  este  sistema,  nas  quais  a  arquitectura  
escolar   representa   um   papel   determinante   na   praticabilidade   dos   recentes   modelos  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

de  organização  escolar,  através  da  evolução  dos  programas  funcionais.  Observa-­se  


uma  progressiva  integração  nestes  de  novas  funções  complementares,  determinando  
espaços  lectivos  e  não  lectivos  de  diferentes  estirpes,  onde  também  se  consideram  
os   espaços   exteriores   não   edificados.   Com   efeito,   verifica-­se   um   aumento   da   com-
plexidade   destes   objectos   arquitectónicos,   que   se   reflecte   também   na   forma   como  
interagem  com  o  ambiente    onde  se  implantam.

O  presente  trabalho  procura  reconhecer  os  tipos  da  arquitectura  das  escolas  primárias  
em  Portugal,  e  analisar  em  particular  a  realidade  destas  escolas  na  cidade  do  Porto,  
desde  os  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade.

Para   isso,   propusemo-­nos   a   reflectir   sobre   as   diferentes   variações   dentro   de   cada  


tipo   e   as   permanências   e   transformações   morfológicas   nas   passagens   de   tipo   para  
tipo,  percebendo  quais  os  factores  determinantes  para  o  seu  surgimento,  para  o  seu  
desdobramento  e  multiplicação  contextualizando-­os  e  organizando-­os  segundo  o  prin-
cípio  cronológico.

Para  elaborar  uma  análise  fidedigna,  designamos  seis  tipos  de  escolas,  construídos  
no  Norte  de  Portugal,  por  considerar  que  os  seus  edifícios  são  representativos  e  de-
terminantes  na  caracterização  da  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa.  Estes  
exemplos,  que  referenciamos  e  distinguimos  por  tipos,  constituíram  a  base  da  nossa  
amostra.   Referimo-­nos   ao   Tipo   Conde   de   Ferreira   (séc.   XIX-­1866),   ao   Tipo   Adães  
Bermudes   (séc.   XX-­1900),   ao  Tipo   Rogério   de  Azevedo   (séc.   XX-­1935/40),   ao  Tipo  
Fernandes  de  Sá  (séc.  XX-­1940/50),  ao  Tipo  Fernando  Peres  (séc.  XX-­1960/70)  e  ao  
Tipo  P3  -­  Área  Aberta  (séc.  XX-­1970/80).  

Reconhecemos  nos  objectos  de  estudo,  exemplos  mais  abertos,  que  promovem  o  en-
contro  físico  e  intelectual,  e  outros  que  se  encerram  sobre  si  próprios  contendo  mais  
as  experiências  e  moldando-­as  de  forma  mais  vincada.  Procuramos  perceber  quais  as  
características  tipológicas  que  sustentaram  as  metodologias  de  ensino  e  consequen-
temente  as  aprendizagens.

Este  estudo  procura  também  analisar,  as  propriedades  estruturantes  dos  tipos  que  se  
concretizam  no  conjunto  das  escolas  primárias  da  cidade  do  Porto,  ou  porque  factores,  
alguns  destes  edifícios  escolares  se  transformam  em  modelos  dentro  do  contexto  ur-
bano.  Agrupamos  as  escolas  primárias  em  observação,  segundo  critérios  que  passam  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

pela   afinidade   tipológica   e   pelas   semelhanças   ao   nível   da   estrutura   funcional,   para  


desenvolver  a  sua  análise.  A  estes  grupos,  ordenados  cronologicamente,  atribuímos  
a  designação  de  Grupo  Histórico  (1890-­1929),  Grupo  Estado  Novo  (1938-­1955),  Gru-
po  Movimento  Moderno  (C.M.P.)  (1954-­1965),  Grupo  Casos  Especiais  C.M.P.  (1965-­
1974)  e  Grupo  Contemporâneos  (1975-­1990).

Para  melhorar  o  entendimento  de  todo  este  processo,  procura-­se  aferir  sobre  os  cur-
rículos  educacionais,  os  modelos  pedagógicos  e  as  políticas  vigentes,  bem  como  os  
contextos  históricos,  teórico  /  conceptuais  onde  surgem,  ao  longo  do  período  em  es-
tudo.

Âmbito

Este  estudo  procura  focar-­se  sobre  a  evolução  tipológica  do  edifício  da  escola  primá-
ria,   reconhecendo   as   suas   metamorfoses,   e   referenciando   as   diferentes   estruturas  
espaciais  que  foi  assumindo.

É   também   nosso   propósito   aferir   as   relações   da   tipologia   escola   primária,   com   os  


programas   resultantes   das   diversas   experiências   pedagógicas   internacionais   e   dos  
diferentes  métodos  e  modos  de  ensino,  reconstruindo  a  sua  seriação,  caracterizando  
as  suas  estruturas  espaciais  ao  nível  da  evolução  tipológica,  tectónica  e  formal,  assim  
como  identificando  as  variantes  que  daí  advém.  

O  discurso,  depois  de  feito  o  necessário  enquadramento  internacional,  será  em  torno  
dos  tipos  de  escolas  primárias  que  foram  sendo  edificados  em  Portugal  entre  o  final  
do  século  XIX  e  a  contemporaneidade,  período  que  consideramos  determinante  para  
enquadrar  a  nossa  análise  por  ser  o  momento  do  aparecimento,  difusão  e  desenvolvi-
mento  destas  construções  em  Portugal.  

Pretendemos  enquadrar  a  evolução  dos  espaços  construídos  para  aprendizagem  do  


primeiro  ciclo,  segundo  tipos  utilizando  o  Norte  do  país  como  amostra  para  uma  aná-
lise  mais  genérica.  Em  seguida  pretendemos  reduzir  o  campo  de  observação  a  uma  
realidade  urbana  singular,  como  é  caso  a  cidade  do  Porto  e  a  todas  as  escolas  primá-
rias  que  aqui  se  encontram  em  funcionamento,  aferindo  e  caracterizando  a  introdu-
ção  dos  tipos  neste  ambiente,  apreciando  quais  as  propriedades  estruturantes  que  se  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

concretizaram,  observando  o  surgimento  de  novos  modelos  em  função  dos  contextos,  
políticos,  sociais  e  económicos,  e  observando  a  sua  importância  nas  diferentes  fases  
de  desenvolvimento  e  crescimento  da  urbe.

Circunscrever,  numa  segunda  fase,  a  análise  a  um  contexto  urbano  particular,  utilizan-
do  o  mesmo  intervalo  de  tempo  (finais  do  séc.  XIX  até  à  contemporaneidade)  prende-­
se  com  a  caracterização  destas  estruturas  na  sua  dimensão  urbana,  com  o  intuito  de  
aferir   sobre   as   áreas   dos   lotes   das   suas   implantações,   as   relações   entre   o   espaço  
construído  e  o  espaço  exterior  adjacente,  bem  como  o  modo  de  relacionamento  das  
construções  escolares  com  a  envolvente  (graus  de  transparência).  Para  além  da  per-
cepção   da   sua   dimensão   urbana,   pretendemos   caracterizar   o   programa   funcional,  
que  inclui  os  modos  de  associação  dos  espaços  lectivos  e  não  lectivos,  as  relações  
entre  o  interior  destes  edifícios  e  o  seu  espaço  exterior,  bem  como  com  a  envolvente  
imediata.  

O  processo  de  análise  a  utilizar,  basear-­se-­á  na  operatividade  dos  conceitos  de  tipolo-
gia,  série  tipológica,  de  tipo  e  de  modelo,  que  permitirão  agrupar  os  casos  de  estudo.  
Tal  como  afirma  Barata  Fernandes  (1999)  tipo  em  arquitectura  é  a  estrutura  conceptu-
al,  a  matriz  de  organização  espacial  que  está  presente,  mesmo  com  distintas  soluções  
formais,  num  determinado  conjunto  de  obras  que  se  seleccionaram  com  um  objectivo  
específico,  modelo  é  um  objecto  acabado,  uma  obra  que  se  pode  repetir  e  tipologia  é  
o  estudo,  o  processo  que  permite  identificar,  descrever  e  relacionar  artefactos,  objec-
tos,  obras  agrupáveis  segundo  determinado  tipo.  O  mesmo  autor,  na  sua  dissertação  
“Transformação  e  Permanência  na  Habitação  Portuense.  As  formas  da  casa  na  forma  
da   cidade”,   defende   que   um   estudo   como   este   carácter,   só   pode   ser   sustentado   a  
partir  do  momento  em  que  o  conceito  de  tipo  inclui  a  noção  de  transformação  e  a  de  
variação  de  identidade,  sendo  que  o  objectivo  não  é  o  de  definir  tipo  como  categorias  
ou  classes  imutáveis,  mas  estudar  os  seus  processos  de  transformação.  Daqui  resulta  
a   necessidade   de,   depois   de   observar   a   tipologia   em   estudo,   escolas   primárias,   no  
Norte  do  país,  ter  o  Porto  como  lugar  de  síntese,  pela  necessidade  implícita  ao  tipo  
arquitectónico  de  se  definir  na  sua  relação  com  a  forma  da  cidade.  (Fernandes,  1999,  
p.54)  

Note-­se  que  a  elaboração  deste  trabalho  presume  a  identificação,  dos  edifícios  das  
escolas   primárias   que   se   inserem   no   período   em   estudo   e   a   identificação   no   plano  

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nacional   e   internacional,   do   conjunto   de   escolas   primárias   que   influenciaram   a   sua  


evolução.   O   intuito   de   uma   abordagem   mais   genérica,   da   produção   de   edifícios   de  
escolas   primárias   a   nível   internacional,   advém   da   necessidade   de   perceber,   se  
a  realidade    da  arquitectura  escolar  portuguesa  é,  tal  como  em  muitas  outras  áreas,  
mais  contida  nas  suas  evoluções,  quer  ao  nível  das  teorias  de  educação,  espelhadas  
nos  modelos  arquitectónicos  e  nos  métodos  e  modos  de  ensino  adoptados,  quer  ao  
nível  do  desenvolvimento  dos  métodos  construtivos,  com  o  uso  de  diferentes  tecno-
logias  e  materiais.  Com  efeito,  verifica-­se  a  necessidade  de  perceber  de  que  forma  
fomos  influenciados  ao  nível  conceptual  pela  produção  de  edifícios  escolares  noutros  
países,  e  de  que  forma  se  dá  a  aplicabilidade  dos  pressupostos  que  lhes  estão  subja-
centes,  consequência  das  semelhanças  ou  diferenças    políticas,  culturais  e  geográfi-
cas  com  o  nosso  país.

Motivações

A  imagem  da  escola  primária,  sendo  algo  que  nos  é  muito  familiar,  por  identificarmos  
as  construções  escolares  em  diferentes  contextos,  vai  para  além  do  que  as  nossas  
memórias  contém,  em  que  o  professor  e  os  cadernos  de  linhas  se  apresentam  a  par  
das  arquitecturas  que  nos  protegiam.

O  tema  deste  estudo,  resulta  de  uma  observação  continuada  e  vivencial  das  escolas  
das  nossas  crianças  que  são,  na  sua  maioria,  as  mesmas  que  experimentamos  umas  
dezenas  de  anos  atrás,  e  de  um  conjunto  de  memórias,  fruto  do  convívio  de  perto  com  
a   realidade   construída   dos   espaços   escolares,   e   da   experiência   pedagógica   desde  
sempre  presente  na  nossa  vivência  familiar.  Esta  vivência,  foi  estendida  a  várias  esco-
las  do  Norte  de  Portugal,  área  a  que  nos  referenciamos  e  que  identificamos  como  ter-
ritório  próximo,  e  em  particular  às  escolas  primárias  da  cidade  do  Porto,  nossa  cidade  
natal,  com  a  qual  nos  confundimos,  que  é  presencial  nas  nossas  rotinas  e  que  também  
por  isso  escolhemos  para  contextualizar  geograficamente  o  nosso  estudo.

Existe  ainda  uma  espécie  de  consternação  maternal,  que  se  confunde  com  o  papel  
social   do   arquitecto,   inerente   às   premissas   da   nossa   formação,   gerando   curiosida-
des  e  preocupações  com  o  futuro  dos  nossos  filhos,  enquanto  seres  integrados  num  
sistema   que   deverá,   no   nosso   entender,   preocupar-­se   com     os   espaços   escolares,  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

contextos  em  que  as  crianças  crescem  e  se  desenvolvem  física  e  intelectualmente.  É  
uma   reflexão   que   tem   subjacente   a   preocupação   com   um   património   arquitectónico  
que  é  representativo  da  nossa  história  e  que,  cada  vez  mais  envelhecido,  se  remete  
ao  esquecimento  por  parte  das  entidades  responsáveis  no  que  diz  respeito  à  sua  ma-
nutenção  e  recuperação,  com  todas  as  consequências  que  daí  advém  para  as  crian-
ças   e   para   os   outros   agentes   que   as   vivenciam   diariamente   Entendemos   que   esta  
investigação  poderá  ser  útil  enquanto  documento  de  consulta  em  possíveis  acções  de  
reabilitação  sobre  estes  edifícios  no  futuro,  sensibilizando  todos  os  intervenientes  no  
âmbito  da  construção  escolar.

Objectivos

O  objectivo  principal  desta  investigação  é  o  estudo  dos  edifícios  das  escolas  primárias  
portuguesas  conceptualizados  e  construídos  no  período  entre  o  final  do  séc.  XIX  e  a  
contemporaneidade,  abordando  as  opções  tomadas  nos  últimos  cem  anos  ao  nível  da  
resolução  destes  espaços.  Entendemos  que,  enquadrar  o  tema  numa  análise  que  se  
prenda   a   um   século,   é   suficientemente   abrangente   para   as   conclusões   que   se   pro-
curam  estabelecer,  visto,  neste  intervalo  de  tempo,  se  encontrarem  diferentes  mod-
elos   sociais   na   nossa   sociedade,   com   vigências   políticas   distintas,   e   acontecerem  
evoluções  pedagógicas  e  tecnológicas  consideráveis.  
Prende-­se  com  perceber  o  que  motiva  a  formalização,  o  desenvolvimento  e  a  evolução  
destes  edifícios,  lugares  de  aprendizagem  e  crescimento,  e  em  que  medida  interferiram  
os  factores  de  ordem  civilizacional.  Pretendem-­se  identificar  e  analisar  os  tipos  e  os  
modelos   arquitectónicos   utilizados   no   nosso   país,   com   o   propósito   de   registar,   de  
comparar   e   de   caracterizar   a   arquitectura   das   escolas   portuguesas   enquanto   parte  
integrante  do  património  edificado  escolar  português.  
Outro  objectivo  passa    por    perceber  de  que  forma,  o  regime  político,  usou  a  arqui-
tectura  das  escolas  para  implementar  as  suas  politicas.  Perceber  também,  quais  as  
consequências  do  uso  de  modelos  importados  de  outros  países,  se  existem  tentativas  
nacionais  de  encontrar  modelos  próprios.  Entender  quais  os  reflexos  da  arquitectura  
das   escolas   na   composição   das   nossas   cidades,   em   particular   na   cidade   do   Porto,  
através  da  análise  de  todas  as  escolas  primárias  que  se  encontram  em  funcionamento  
nesta  cidade.

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Temos  presente  a  necessidade  de  compreender  o  espaço  que  reside  entre  a  arquitec-
tura  das  escolas  portuguesas  e  os  modelos  de  educação  instituídos.  Será  outro  as-
pecto  a  analisar,  enquadrado  mediante  variantes  distintas,  a  influência  que  exerceram  
de  parte  a  parte.
Procuramos  identificar  os  tipos  de  construções  escolares  em  Portugal,  os  modelos  ped-
agógicos  e  os  métodos  e  modos  de  ensino  que  acompanham  as  construções  escolares,  
bem   como   os   contextos   sociais   e   políticos,   para   explicar   as   diferentes   formalizações  
arquitectónicas  desde  finais  do  século  XIX  até  ao  século  XXI.                                      
Pretendemos   sintetizar   a   informação   recolhida   e   sistematizá-­la,   com   o   objectivo   de  
tirar  conclusões  e  exercer  comparações  entre  elementos  do  mesmo  tipo  ao  longo  do  
período  de  tempo  já  referenciado.  
A  análise  sobre  o  território  particular  da  cidade  do  Porto  procura  em  simultâneo  en-
tender  os  aspectos  específicos  e  gerais  de  cada  edifício,  percebendo  o  que  está  na  
sua  génese,  a  sua  relação  com  o  tipo  mediante  a  percepção  de  quais  as  propriedades  
estruturantes  por  este  regradas  que  se  mantém  ou  que  se  transformam  em  modelo,
não  descurando  a  análise  da  sua  dimensão  urbana  e  do  seu  programa  funcional.  
Por  outro  lado,  não  podemos  descurar  que,  a  arquitectura  está  intimamente  relaciona-
da  com  a  sociedade  onde  se  insere,  que  por  si    acolhe  um  conjunto  complexo  e  infinito  
de  elementos,  fruto  das  relações  e  das  práticas  sociais,  onde  se  apresenta  essencial  a  
percepção  dos  contrastes,  produzindo  espaços  de  inteligibilidade  e  de  nova  reflexão,  
e  fazendo  a  clivagem  entre  uma  série  de  possibilidades.
Assim   sendo,   os   critérios   para   complementar   e   fundamentar   a   análise   procurarão  
abordar:   a   geografia   dos   lugares   em   estudo,   o   estado   da   sociedade   reflexo   dos   re-
gimes  políticos  implementados  em  Portugal,  quais  as  influências  das  experiências  in-
ternacionais  ao  nível  das  metodologias  e  dos  modos  de  ensino,  nas  estruturas  funcio-
nais  das  escolas  primárias  portuguesas,  e  se  existiram  edifícios  escolares,  no  âmbito  
internacional    que    serviram  de  referência  á  sua  evolução  tipológica.
Em  suma,  serão  estas  e  outras  questões  que  iremos  desenvolver  ao  longo  deste  tra-
balho,  enquadradas  nos  seguintes  pontos:  identificar  os  factores  que  estão  por  trás  da  
concepção  arquitectónica  das  escolas  primárias  portuguesas;;  perceber  de  que  forma  
os  modelos  pedagógicos  e  os  métodos  de  ensino  internacionais  interferiram  nas  suas  
tipologias,  morfologias  e  distribuições  funcionais;;  entender  a  importância  do  Higien-
ismo   na   evolução   dos   tipos   da   arquitectura   das   escolas   primárias;;   compreender   de  
que  modo  interferem  na  concepção  destes  edifícios  escolares  os  contextos  políticos,  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 28


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

económicos  e  sociais  do  período  em  estudo;;  aferir  de  que  forma  o  Movimento  Moderno,  
com   os   princípios   universalizantes   que   introduz,   contribui   para   a   formalização   dos  
pressupostos  pedagógicos  da  arquitectura  das  escolas  primárias  portuguesas;;  perce-
ber  se  estas  escolas  correspondem  às  necessidades  actuais,  uma  vez  que  se  mantêm  
a  funcionar  como  escolas  básicas  do  1º  ciclo.

Estado da Arte

Para  que  a  investigação  se  focalize  na  problemática,  sentimos  a  necessidade  de  abor-
dar  cinco  grandes  temas:  a  entidade  escola,  o  enquadramento  histórico  da  arquitec-
tura   escolar,   a   caracterização   e   a   importância   do   edifício   escolar   nos   processos   de  
ensino  e  aprendizagem,  o  levantamento  da  realidade  escolar  portuguesa,  e  a  contex-
tualização  urbana  dos  edifícios  escolares.

No  que  diz  respeito  à  entidade  escola,  enquanto  reguladora  de  desenvolvimento  in-
telectual  e  físico  e  das  crianças,  responsável  pela  aplicabilidade  dos  currículos  e  dos  
métodos  de  ensino  característicos  das  diferentes  abordagens  pedagógicas,  revelam-­se  
fundamentais  as    leituras  de  Barroso  (2001)  na  sua  publicação  “O  século  da  escola:  
do  mito  da  reforma  à  reforma  de  um  mito”,  de  Bolívar  (2006)  em  “Um  Olhar  sobre  a  
mudança  educativa:  onde  situar  os  esforços  da  melhoria?”,  de  Buffa  (2008)  com  as  
suas  “Pesquisas  sobre  Arquitectura  e  Educação:  Aspectos  Teórico-­Metodológicos”  e  
de  Escolano  &  Viñao  (1998)  no  livro  “Currículo,  espaço  e  subjectividade.  A  arquitec-
tura  como  programa”.  Ainda  Fernandez  (1978)  com  “O  pensamento  Pedagógico  em  
Portugal”,  Ferreira  (1971)  no  volume  1  da  “Antologia  de  textos  pedagógicos  do  século  
XIX  Português”,  de    Leite  (2006)  com  “Um  olhar  sobre  a  reorganização  curricular  do  
ensino  básico”  e  sobre  as  ”Políticas  de  currículo  em  Portugal  e  (im)possibilidades  da  
escola  se  assumir  como  uma  instituição  curricular  inteligente”.  Não  queremos  deixar  
de   referir   as   publicações   de   Vieira   (1999)   intitulada   “Modelos   Científicos   e   Práticas  
Educativas  (breve  incursão  no  século  XX)”,  de  Romanini  (1963)  em  “Exigências  peda-
gógicas  da  construção  escolar”,  bem  como  a  tese  de  Teodoro  (1999)  sobre  “A  constru-
ção  Social  das  Políticas  Educativas.  Estado,  Educação  e  Mudança  Social  no  Portugal  
Contemporâneo”  e  ainda  Nóvoa  (2005)  com  “Evidentemente,  Histórias  da  Educação”,  
Proença   (1995),   Pulido   valente   (1973),   Teodoro   (2001)   e   Reis,   Grácio   &   Ambrósio  
(1990).

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 29


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Com  efeito  após  aferir  sobre  as  pedagogias  torna-­se  fundamental  realizar  o  enquadra-
mento  histórico  sobre  a  arquitectura  escolar,  e  para  tal  existem  os  estudos  do  historia-
dor  Carlos  Manique  da  Silva  (2002  e  2005)  com  “  Escolas  Belas  ou  espaços  sãos:  uma  
análise  histórica  sobre  a  arquitectura  escolar  portuguesa  (1860-­1920)“  e  “A  ideia  de  
casa  escola  no  século  XIX  português”,  a  perspectiva  de  Rómulo  de  Carvalho  (2001)  
na  “História  do  ensino  em  Portugal,  desde  a  fundação  da  nacionalidade  até  ao  fim  do  
regime  de  Salazar-­Caetano”e  os  livros  de  Gomes  (1980  e  1988)  “Estudos  para  a  his-
tória  da  educação  no  século  XIX  “  e  “História  da  Educação  em  Portugal”  e  o  “Ideário  
da  Escola  Pública  Portuguesa  entre  os  séculos  XIX  e  XX”  de  Martins  (2008).

Para  construir  um  discurso  em  torno  da  caracterização  e  da  importância  do  edifício  es-
colar  nos  processos  de  ensino  e  aprendizagem,  mostra-­se  de  maior  importância  per-
correr  uma  vasta  bibliografia  de  onde  ressalvamos  primeiro  no  contexto  internacional,  
Baudin  (1907)  com  “Les  construtions  Scolaires  en  Suisse”,  Roth  (1957)  com  “The  new  
School,  Das  Neue  Schulhaus,  La  nouvelle  École”,  no  estudo  sobre  as  arquitecturas  das  
escolas  ao  ar  livre  Anne  -­  Marie  Châtelet  (1999,  2003  e  2004),  Mark  Dudek  (2000),  no  
seu  livro  “  Architecture  of  Schools  -­  The  new  learning  environments”,  e  outros  estudos,  
de  carácter  académico  em  áreas  complementares  como  a  Psicologia,  a  Educação,  a  
Pedagogia,  que  também  analisam  os  conteúdos  da  aprendizagem  e  as  diferentes  re-
lações  que  se  subentendem  entre  as  crianças  e  a  escola.  Argan  (1969)  em  “Tipologia,  
Simbolismo,  Allegorismo  delle  Forme  Architecttonique”,  Brogden  (2007)  com  “Plowden  
and  Primary  School  Buildings”,  Burgos  (2000)  em  “Las  nuevas  escuelas  madrileñas.  
Fundamento,  desarrollo  y  modernización  del  espacio  escolar  en  Madrid”,  Loyer  (1993)  
com  “Prélude:  de  l´architecture  scolaire”,  Ludwing  (2003)  com  “Les  écoles  de  plein  air  
en  Allemagne,   une   forme   de   éducation   nouvelle”.   Os   estudos   do   arquitecto   Charles  
Rambert  (1954),  mais  concretamente  no  seu  livro  “Constructions  Scolaires  et  Univer-
sitaires”,  ressalvando  a  experiência  da  École  de  Plein  Air  de  Suresnes,  dos  arquitectos  
Eugene   Beaudoin   e   Marcel   Lods,   pela   experimentação   que   lhe   está   subjacente   ao  
nível  da  composição  e  da  conceptualização  espacial  e  pela  importância  que  adquire  
internacionalmente.  Existe  um  autor  que  nos  sensibilizou  particularmente,  quer  pela  
abrangência  dos  seus  estudos,  análise  de  casos  em  diferentes  países,  quer  pela  sua  
experiência   enquanto   arquitecto   e   projectista   de   algumas   escolas.   Referimo-­nos   a  
Herman  Hertzberger  (2001  e  2008),  e  às  suas  explanações  teóricas,  sublinhando  o  li-
vro  “Space  and  learning”  que  fundamenta  o  seu  vasto  trabalho,  no  campo  da  arquitec-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tura  das  escolas.  Ainda  dentro  do  plano  internacional  apontamos  alguns  clássicos  que  
reforçaram  o  discurso  desta  dissertação  como  Lynch  (1960),  Norberg-­Schulz  (1980  e  
2010),  Montaner  (2001),  Rousseau  (1979),  Prost  (2004),  Consiglieri  (2000),  Thornberg  
(1973),  Bachelard  (1957),  Frampton  (2003),  Rossi  (1982)  e  Benévolo  (2001).

No  âmbito  das  publicações  nacionais,  são  de  maior  importância  pelo  significativo  le-
vantamento  da  realidade  escolar  portuguesa  os  três  volumes  publicados  pelo  Ministé-
rio  da  Educação  de  Beja  et.al  (1990  e  2010)  com  particular  interesse  para  este  estudo  
sobre  o  volume  III  “Muitos  Anos  de  Escolas-­Edifícios  para  o  Ensino  Infantil  e  Primário.  
Da   Escola   piloto   à   Área   Aberta.   Casos   Especiais”.   Com   incontornável   importância  
para   o   desenvolvimento   deste   trabalho,   está   a   dissertação   da   arquitecta   Maria  Ale-
xandra  Alegre   (2009)   intitulada   “A   arquitectura   Escolar:   o   edifício   liceu   em   Portugal  
(1882-­1978).   Para   definir   tipologia,   tipo   e   modelo,   não   podemos   deixar   de   referir   a  
tese  de  doutoramento  do  arquitecto  Francisco  Barata  Fernandes  (1996)  “Transforma-
ção  e  Permanência  na  Habitação  Portuense.  As  formas  da  casa  na  forma  da  cidade”.  
Para  aferir  o  levantamento  das  escolas  primárias  da  cidade  do  Porto,  é  importante  a  
investigação   de   Gaspar   (2006)   “Escolas   Primárias   do   Porto.   Uma   reflexão   sobre   o  
Moderno”.  Registam-­se  ainda  como  leituras  complementares  deste  tema,  Fernandez  
(1985),  Figueiredo,  (1922),  Heitor  (2011  e  2012)  e  ainda  os  textos  do  arquitecto  Gon-
çalo  Canto  Moniz  (2005)  sobre  “Arquitectos  e  Políticos.  A  arquitectura  institucional  em  
Portugal  nos  anos  30”,  Oliveira  (2009),  Rosa  (2005),  Salles  (2006),  Rodrigues  (2010)  
e    Tostões  (2004).

Como  nota,  e  ainda  dentro  da  arquitectura  escolar,  existem  publicações  de  diversos  
artigos  que  convergem  na  maior  parte  das  vezes  para  o  Plano  dos  Centenários,  talvez  
pela  visibilidade  notória  deste  tipo  de  construções,  enquanto  intervenção  generalizada  
a  todo  o  país,  nos  anos  do  regime  de  Salazar  e  pelo  facto  de  ter  como  intervenientes  
arquitectos  referenciados  na  arquitectura  do  Estado  Novo.  Referimo-­nos  ao  arquitecto  
Raul   Lino   e   ao   arquitecto   Rogério   de  Azevedo   que   inclusivamente   teorizou   sobre   a  
arquitectura  no  plano  social.  

Será   para   nós   importante   referenciar   outros   intervenientes   activos,   pela   obra   mani-
festa   neste   processo   evolutivo,   como   o   arquitecto  Adães   Bermudes   que   no   ano   de  
1900  em  Paris,  nos  representou  com  um  projecto  tipo  para  escola  primária  e  obteve  
a  Medalha  de  Ouro  da  Secção  de  Arquitectura  Escolar,  o  arquitecto  Manuel  Fernan-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 31


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

des  de  Sá  e  o  arquitecto  Fernando  Peres,  presentes  nas  entidades  que  regulavam  as  
construções  escolares  e  projectistas  de  modelos  de  escolas  que  se  construíram  em  
Portugal,  mais  concretamente  no  Norte  de  Portugal.  

No  plano  da  contextualização  urbana  dos  edifícios  escolares  e  da  sua  importância  no  
desenho  da  cidade  foram  fundamentais  as  publicações  de  Nuno  Portas  (1973),  Fer-
nandez  (1988),  França  (1984),  Tostões  (1995,  1998  e  2002  ),  Vieira  de  Almeida  (1965  
e  1986)  e  novamente,  mas  agora  citada  pela  explanação  e  caracterização  do  contexto  
urbano  do  Porto  e  suas  diferentes  fases  de  desenvolvimento,  a  dissertação  de  Fran-
cisco  Barata  Fernandes  (1996).

Metodologia

Como  primeira  abordagem  efectuou-­se  uma  pesquisa  bibliográfica  e  uma  recolha  de  
elementos  desenhados  sobre  a  temática,  incidindo  em  bibliotecas  nacionais  e  estran-
geiras,   de   onde   destacamos   a   Biblioteca   da   Faculdade   de   Letras   e   a   Biblioteca   da  
Faculdade  de  Arquitectura  da  Universidade  do  Porto,  a  Biblioteca  Municipal  do  Porto,  
e  a  DREN,  Direcção  Regional  de  Educação  do  Norte  

Seguiu-­se   uma   observação   in   loco   na   área   de   estudo   -­   Norte   de   Portugal,   sobre   o  


estado  de  conservação  e  o  tipo  de  construção  dos  edifícios  escolares  escolhidos  para  
análise,  seguida  do  levantamento  desenhado  e  fotográfico  de  algumas  das  unidades  
de   amostra   -­   escolas   primárias,   que   pelas   suas   características   consideramos   mais  
representativas  das  tipologias  em  estudo,  segundo  as  premissas  de  uma  análise  qua-
litativa.  Os  mesmos  procedimentos  repetiram-­se  sobre  todas  as  escolas  primárias  em  
funcionamento  na  cidade  do  Porto.  Este  tipo  de  abordagem  permitiu  o  reconhecimento  
tridimensional  da  realidade  destes  edifícios,  e  do  seu  contexto,  corroborado,  nalguns  
casos,  por  elementos  complementares  disponibilizados  pelas  instituições  locais  (es-
pólios  existentes  nas  próprias  escolas  e  arquivos  municipais).

Como  consolidação  à  investigação  entretanto  desenvolvida,  sentimos  a  necessidade  


de  revisitar  as  bibliotecas  anteriormente  referidas  e  para  além  disso  estender  a  nossa  
consulta  à  Biblioteca  do  Ministério  de  Educação,  à  Biblioteca  da  Faculdade  de  Arqui-
tectura  da  Universidade  Técnica  de  Lisboa,  e  à  recolha  de  dados  no  IHRU,  Instituto  da  
Habitação  e  da  Reabilitação  Urbana,  no  IGESPAR,  no  Instituto  de  Gestão  do  Patrimó-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

nio  Arquitectónico  e  Arqueológico  e  junto  dos  municípios  das  regiões  em  estudo  e  dos  
seus  respectivos  arquivos.

Foram   ainda   estabelecidos   contactos   com   investigadores   da   área   cientifica   com   o  


intuito  de  recolher  elementos  sobre  o  tema  da  dissertação.

Realizaram-­se  novos  desenhos  infográficos  de  todos  os  edifícios  escolares,  comple-
mentares  da  informação  previamente  recolhida,  que  serviram  de  base  à  análise  tipo-
lógica,   tectónica   e   funcional   de   cada   uma   das   escolas   primárias,   seguindo-­se   uma  
análise  comparativa  entre  os  diferentes  tipos  relativos  ao  Norte  de  Portugal,  e  entre  
os  diferentes  grupos  relativos  à  cidade  do  Porto.

Para   a   análise   comparativa,   procedeu-­se   à   sistematização   de   todos   os   elementos  


compilados:  construíram-­se  fichas  síntese  para  cada  tipo,  quadros  de  análise  compa-
rativa  entre  tipos,  fichas  síntese  para  cada  uma  das  escolas  primárias  do  Porto.  Esta  
sistematização  constitui  o  Apêndice  desta  dissertação,  estando  os  quadros  de  análi-
se  comparativa  entre  os  tipos  e  as  suas  variantes,  bem  como  os  quadros  de  análise  
comparativa  entre  os  elementos  que  consideramos  mais  significativos  dos  grupos  na  
cidade  do  Porto,  integrados  no  corpo  do  texto  como  síntese  das  diferentes  alíneas  do  
ponto  4  e  do  ponto  5.

Constituem  parte  dos  Anexos  os  levantamentos  das  variantes  dos  tipos  que  não  se  
consideraram  nas  fichas  síntese.

No   que   diz   respeito   à   estrutura   do   corpo   do   texto,   para   a   sustentação   do   discurso,  


tivemos  em  consideração  uma  abordagem  mais  fenomenológica.  Nesse  sentido    con-
sideramos  correntes  de  pensamento   como   o   Modernismo   e   o   Pós-­Modernismo   que  
o  contextualizam  teoricamente,  ponderando  também  as  questões  inerentes  ao  Higie-
nismo.  Entendemos  que,  para  esta  investigação,  o  universo  da  arquitectura,  é  com-
plementado  com  outras  áreas  cientificas  que  nos  levaram  a  um  melhor  entendimento  
das  correlações  entre  as  diferentes  formalizações  dos  espaços  escolares  e  os  seus  
utilizadores.  Como  tal,  a  nossa  investigação  não  descurou  áreas  como  a  Ergonomia  
e  a  Pedagogia,  factor  determinante  no  modo  de  utilização  dos  espaços  e  na  sua  con-
cepção   bem   como   a   História,   que   a   vinculou   a   uma   estrutura   económica,   política   e  
social.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 33


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Para   construir   e   sustentar   a   estrutura   base   do   desenvolvimento   desta   dissertação,  


apoiamo-­nos  na  tese  de  doutoramento  da  arquitecta  Maria  Alexandra  Alegre  (2009)  
intitulada   “A   arquitectura   Escolar:   o   edifício   liceu   em   Portugal   (1882-­1978)   e   da   ar-
quitecta   Rosa   Maria  Añon  Abajas   (2005)   intitulada   “La  Arquitectura   de   las   Escuelas  
Primarias  Municipales  de  Sevilla  hasta  1937”.

O  discurso  não  foi  só  descritivo  mas  também  explicativo,  para  possibilitar  um  controle  
efectivo   sobre   as   diferentes   hipóteses   e   generalizações,   eliminando   as   que   não   se  
comprovam,  esboçando  mais  explicações  e  novas  problemáticas.  Cada  objecto  tem  
as   suas   particularidades,   que   aparecem   referenciadas,   contextualizando-­o   num   de-
terminado  tipo  e  descartando  possíveis  traços  comuns,  incidentais  entre  os  objectos  
comparados.  

Estas  acções  resultam  da  consciência  de  que  a  arquitectura  dá  forma  ao  próprio  tem-
po,  tendo  a  capacidade  de  construir  o  lugar  e  de  se  erguer,  fruto  das  relações  entre  
matérias  e  espaços.

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Parte I . INTRODUÇÃO À PROBLEMÁTICA DO OBJECTO DE ANÁLISE

2. A ARQUITECTURA DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS EM PORTUGAL (DOS FINAIS DO

SÉCULO XIX ATÉ À CONTEMPORANEIDADE)

2.1. CONSTRUIR O PROBLEMA PARA A ARQUITECTURA DAS ESCOLAS

“Durante  muito  tempo  a  escola  não  foi  um  lugar  mas  uma  prática.”  (Loyer,  1993)

Ilustração 1 -   A   jovem   professora,   Jean-­Baptiste   Simeón   Chardin,  


1736,   National   Galery   Londres   (Em   linha)   (consultado   em   03   de   Ju-
lho  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://edu-­cacao.blogspot.
com >

A   generalidade   das   ciências   pode   contribuir   para   o   estudo   dos   lugares.   Mas,   as   di-
versas   ciências   do   lugar   estruturam   os   seus   sistemas   segundo   diferentes   variáveis.  
Quando  o  enfoque  está  sobre  o  indivíduo  e  o  grupo,  emerge  a  antropometria,  a  psi-
canálise,   a   psicologia   epistemológica   e   a   pedagogia;;   ao   direccionar-­se   sobre   a   so-
ciedade,  surge  a  sociometria,  a  antropologia  e  a    história  que  desponta.  Finalmente,  
quando  o  meio  ambiente  humano  é  a  variável  determinante,  arrolar-­se  a  ecologia,  a  
tecnologia,  a  ecologia  humana,  a  teoria  da  arquitectura  e  o  urbanismo.  Existe  também  
a  hipótese  da  ausência  de  um  meio  ambiente  predominante;;  nesse  caso,  as  ciências  
que  se  ressalvam  são  as  ciências  exactas  como  a  filosofia,  a  teoria  dos  signos,  e  as  
ciências  económicas  e  políticas.  (Thornberg,  1973)  

Neste  estudo,  procede-­se  a  uma  abordagem  sobre  a  perspectiva  da  arquitectura,  na  
vertente  da  arquitectura  escolar,  e  levanta-­se  a  questão  da  sua  importância  no  âmbito  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 35


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

das  ciências  comportamentais.

O  espaço  revela-­se  como  um  cenário  que  sugere  a  adopção  de  comportamentos  dife-
renciados,  e  apresenta  sistemas  de  estimulação  que  podem  despoletar  determinadas  
condutas.  Este  discurso  remete  para  os  pressupostos  básicos  da  pedagogia  de  Rous-
seau  (Rosseau,  1979),  que  acreditava  na  bondade  natural  do  Homem  e  responsabi-
lizava  a  civilização  pela  origem  do  mal.  Na  sua  perspectiva,  quando  estimulado  um  
desenvolvimento   adequado,   a   bondade   do   indivíduo   prevalece   perante   a   influência  
perversa  da  sociedade,  princípio  este  que  só  poderia  ser  conseguido  num  ambiente  
controlado.  A  reforma  das  instituições  educativas,  no  séc.  XVIII,  na  Europa,  foi  muito  
influenciada  pela  teorização  sobre  a  educação  de  Rousseau,  por  vincular  a  perspec-
tiva  de  que  o  aluno  é  o  centro  do  acto  pedagógico  e  por  contemplar  a  relação  entre  a  
vida  e  a  natureza  com  a  escola.  A  maioria  das  transformações  que  surgem  no  início  do  
séc.  XX,  em  torno  do  conceito  de  escola,  são  inspiradas  no  livro  de  Rousseau,  “Emíle”    
e  no  seu  método.

É   visível   a   existência   de   situações   inquietantes,   e   quase   sempre   inexplicáveis,   que  


tiveram   a   sua   origem   em   problemas   de   espaço.   Todo   o   lugar   é   potencialmente   um  
espaço  de  aprendizagens.  Mas,  se  os  espaços  da  nossa  relação  com  a  vida  satisfi-
zerem  a  necessidade  global  de  ser  e  estar  inerente  a  cada  indivíduo,  a  criança  será  
um  adulto  pleno,  na  sua  consciência,  capaz  de  usufruir,  de  se  relacionar  e  de  interagir  
com  o  ambiente  circundante.

Ilustração 2 -  Esquema  da  interação  individuo  -­  envolvente  (Car-


neiro,  et  al.,  1983  p.189)  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

O  presente  estudo  pretende  abordar  as  diferentes  questões  inerentes  ao  espaço  es-
colar,   a   partir   do   primeiro   ciclo   de   ensino   das   crianças.   A   criança   é   uma   potencial  
consumidora  de  espaço,  uma  potencial  exploradora  do  espaço,  uma  leitora  do  espaço  
de  alta  qualidade  e  uma  potencial  produtora  de  espaço.  Perante  um  programa  como  
o  da  escola,  reconhece-­se  a  urgente  necessidade  de  um  estudo  e  de  uma  reflexão  
acerca  dos  espaços  de  e  para  as  crianças,  bem  como  dos  lugares  dos  seus  habitos  de  
apredizagem  e  de  crescimento  físico  e  intelectual.  A  criança,  plena  da  sua  consciên-
cia  sonhadora,  é  um  ser  em  transformação  que  se  relaciona  com  os  outros  (pessoas,  
plantas,   animais   ou   pedras)   na   sua   vivência   diária,   construindo   assim   a   sua   “topo-­
biografia”.  É  através  das  suas  experiências  que  a  criança  estrutura  a  sua  noção  de  
lugar.  

2.1.1. ESPAÇO QUE RESIDE ENTRE A ARQUITECTURA E A EDUCAÇÃO

O  espaço  pode  e  deve  ser  um  estímulo  à  aprendizagem.  Considerando  a  influência  de  
um  sobre  o  outro,  em  determinadas  condições,  percebe-­se  que  o  principal  objectivo  
das  escolas,  entidades  teóricas  e  físicas,  é  aprender  a  aprender.  Entende-­se,  assim,  
que  aprender  vai  para  além  da  absorção  de  ensinamentos  básicos.

A   escola   funciona   como   uma   cidade   em   miniatura,   um   mundo   em   pequena   escala,  


onde  as  crianças  são  confrontadas  com  um  novo  ambiente  e  uma  nova  comunidade.  
Psicólogos  e  psiquiatras  referem,  tendencialmente,  a  importância  da  influência  que  os  
ambientes  exercem  sobre  as  crianças  em  idade  escolar  e  defendem  que  as  primeiras  
percepções  sobre  o  meio  envolvente  são  decisivas  para  o  resto  da  vida,  quer  para  o  
sentido  da  qualidade  quer  para  as  expectativas  futuras.  Daí  a  importância  da  riqueza  
e  da  variedade  dos  diferentes  ambientes,  denunciando  o  máximo  de  experiências  po-
sitivas  e  legando  melhores  memórias.  

O  espaço  escolar  é  reconhecido  como  uma  parte  integrante  e  fundamental  ao  ensino.  
As  escolas  não  são  apenas  um  reflexo  de  preocupações  pedagógicas,  mas  também  
espelham  o  meio  em  que  se  inserem,  sendo  em  alguns  casos  parceiras  do  desenvol-
vimento  das  malhas  urbanas.  Porém,  as  preocupações  por  parte  das  entidades  que  
as  criaram,  construíram,  financiaram,  desenharam  e  estruturaram  os  seus  programas,  

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em  muitos  casos,  mostraram-­se  alheias  à  real  importância  destes  objectos  arquitec-


tónicos.

O  edifício  escolar  enquanto  tipologia  arquitectónica  comporta  uma  identidade  própria  


que  o  diferencia  dos  demais  edifícios  públicos  e  civis,  ao  mesmo  tempo  que  o  reco-
nhece  como  um  espaço  singular  -­  o  lugar  destinado  à  educação  e  à  formação.  (Heitor,  
2012)

A  abordagem  a  estes  programas  não  se  pode  reduzir  ao  sentido  estético  e  à  aplica-
ção   de   fórmulas   tridimensionais,   experimentadas   sem   qualquer   sentido   crítico.   Um  
dos  parâmetros  que  se  considera  essencial  para  alterar  alguma  da  inércia  patente  é  
a  tomada  de  consciência  sobre  a  importância  do  ambiente  em  que  a  transmissão  de  
informação  decorre;;  pelo  que  a  função  primordial  do  edíficio  escolar  é  encarada  como  
uma  forma  silenciosa  de  ensino.

Existe,   de   facto,   uma   responsabilidade   acrescida   aquando   da   organização   e   com-


posição   do   edifício   escolar.   Para   além   de   se   contemplar   a   geometria   espacial   que  
irá  respeitar  um  programa  (organograma  funcional  da  unidade  escolar  em  causa),  é  
necessária   uma   ponderação   sobre   as   consequências   dessas   mesmas   geometrias,  
enquadradas  num  sistema  de  composição,  onde  a  luz,  as  cores,  as  texturas  das  dife-
rentes  superfícies  são  de  igual  modo  indutoras  de  comportamentos  (ao  proporciona-
rem  conforto  e  ao  garantirem  a  higienização,  o  arejamento  e  a  insolarização  espacial,  
bem  como  a  segurança).  A  experiência  de  construção  de  lugares  de  aprendizagem,  
lugares  propícios  à  aquisição  do  conhecimento,  principalmente  em  idades  jovens,  se-
quiosas  de  informação  (se  é  que  se  pode  considerar  que  existem  idades  onde  essa  
procura  é  mais  intensa),  acarreta  um  conjunto  de  pressupostos  que  estão  em  muito  
relacionados  com  o  meio  em  que  se  implantam.  Estes  objectos  arquitectónicos  são  
uma  tridimensionalização  do  contexto  educativo  e  social  no  qual  se  inserem,  visando  
o  crescimento  e  o  alargamento  do  conhecimento.

Subsiste,  assim,  a  necessidade  de  estudar  as  escolas  primárias,  por  favorecerem  ou  
condicionarem  a  aprendizagem  das  crianças,  de  compreender  as  políticas  educacio-
nais  vigentes,  por  terem  continuidade  na  forma  arquitectónica,  assim  como  de  perce-
ber  o  meio  social  em  que  a  escola  se  insere,  reconhecendo  os  seus  utilizadores  mais  
directos  (os  alunos,  os  professores,  os  pais  e  todos  os  intervenientes  no  processo  de  
aprendizagem)  e  entrelaçando  intensamente  o  edifício,  objecto  arquitectónico,  com  a  
estrutura  social  vigente.  

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Todos  os  utilizadores  mantêm  com  a  escola  intensidades  distintas  de  relacionamento,  
sendo  que  a  relação  professor-­aluno  é  sem  dúvida  a  que  reproduz  de  forma  mais  in-
tensa  o  paradigma  da  aprendizagem.  É  necessário  considerar  todas  estas  entidades  
aquando  da  concepção  destes  edifícios,  visando  uma  sistematização  que  obviamente  
não  procura  a  individualidade,  nem  a  particularidade,  mas  uma  estrutura  hierarquizada  
onde  o  par  aluno  /  professor  será  a  entidade  com  maior  peso  e  onde  todos  os  outros  
elementos  se  agrupam  segundo  a  importância  dos  seus  papéis  e  das  suas  funções.  

2.1.2. O MODELO DE AMBIENTE COMO “CENÁRIO COMPORTAMENTAL” - A SALA DE AULA E


OS MÉTODOS DE ENSINO

As   nossas   investigações   (…)   visam   determinar   o   valor   humano   dos   espaços   apro-
priados,   dos   espaços   defendidos   contra   forças   adversas,   dos   espaços   amados.   Por  
razões   muitas   vezes   bem   diversas   e   com   diferenças   que   comportam   as   gradações  
poéticas   são   espaços   louvados.   Ao   seu   valor   de   protecção   que   pode   ser   positivo,  
ligam-­se  também  valores  imaginados,  e  estes  valores  são  logo  valores  dominantes.  O  
espaço  agarrado  pela  imaginação  não  pode  manter-­se  um  espaço  indiferente,  deixa-
do  à  medição  e  à  reflexão  do  geómetra.  Ele  é  vivenciado.  E  é  vivenciado,  não  na  sua  
positividade,   mas   com   todas   as   parcialidades   da   imaginação.   Em   particular,   porque  
sempre  ele  atrai.  Ele  concentra  ser  no  interior  dos  limites  que  o  protegem.  O  jogo  do  
exterior  e  da  intimidade  não  é,  no  reino  das  imagens,  um  jogo  equilibrado  (…)  Sem  
cessar,  a  imaginação  imagina  e  é  enriquecida  com  novas  imagens.  (Bachelard,  1957)

Na   verdade,   a   criança   carrega   consigo   os   espaços   onde   vive   e   marca   os   lugares  


que   habita.   Daí   que   Mark   Dudek   (2000)   assinale   a   importância   do   ambiente   para   o  
desenvolvimento   das   crianças,   em   particular   o   ambiente   arquitectónico.   A   criança,  
ao   longo   do   seu   crescimento,   passa   da   atitude   egocêntrica   para   a   alocêntrica.   E,  
mediante  a  vivência  do  espaço,  faz  dele  a  sua  construção.  Para  a  criança,  o  conheci-
mento  do  espaço  não  é  o  objectivo  da  sua  prática;;  experimentando-­o,  ela  constrói  o  
conhecimento  que  efectiva.  Deste  modo,  a  experimentação  dá  significado  aos  factos  
humanos  espaciais.  Note-­se  que  a  apropriação  do  espaço  é  um  processo  importante  
na  compreensão  da  evolução  das  mudanças  na  personalidade  do  indivíduo  ao  longo  
do  ciclo  da  vida.

Nesta  perspectiva,  o  ambiente  da  escola,  em  particular  a  arquitectura  escolar,  é  uma  
parte   determinante   na   história   do   nosso   desenvolvimento   e   do   nosso   crescimento,  
porque  representa  uma  progressão  no  conhecimento,  mas  também  porque  serve  de  
pano  de  fundo  às  primeiras  experiências  sociais,  implementa  regras,  fomenta  as  rela-

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ções  e  estrutura  as  hierarquias  que  nos  enriquecem  enquanto  seres  integrados  num  
complexo  e  dinâmico  sistema.

A  arquitectura  escolar  é  um  conceito  que,  ao  longo  dos  séculos,  tem  vindo  a  conso-
lidar-­se.  Pelo  que  no  desenrolar  da  história,  surge  como  uma  ideia  relativamente  re-
cente.  Na  Antiguidade,  o  ensino  acontecia  no  exterior,  num  espaço  público,  próximo,  
por  exemplo,  de  um  jardim.  Na  Idade  Média,  o  ensino  estendeu-­se  aos  mosteiros,  aos  
espaços  religiosos.  Por  volta  do  séc.  XV,  começam  gradualmente  a  sugir  locais  autó-
nomos,  mas  a  sua  arquitectura  nada  tinha  de  específico,  submetendo-­se  à  imagem  
dos  conventos.

Durante  o  séc.  XIX,  pós  Revolução  Francesa,  perante  as  novas  formas  de  governar  e  
os  novos  modelos  sociais,  a  educação  assume-­se  como  um  reflexo  e  um  instrumen-
to  político.  E,  segundo  António  Nóvoa  (2005),  a  partir  desse  momento  a  educação  é  
entendida  como  um  direito  fundamental.  Sendo  assim,  o  papel  da  educação  na  socie-
dade  (e  por  educação  entende-­se  o  “conjunto  de  normas  pedagógicas  tendentes  ao  
desenvolvimento  geral  do  corpo  e  do  espírito”  (Dicionário  Priberam  da  Língua  Portu-
guesa)),  de  onde  não  se  exclui  a  intervenção  da  arquitectura  escolar,  repercute  um  
carácter  construtivo  e  determinante.  

O  edifício  escolar  passa  a  ser  o  espaço  de  ensino  por  albergar  a  instituição  escolar,  
identificando-­se   como   entidade   própria,   com   uma   autonomia   específica,   e   com   pro-
priedades  espaciais  e  funcionais  reconhecíveis.  Trata-­se  do  resultado  de  uma  arqui-
tectura  com  identidade,  fruto  de  uma  série  de  características  morfológicas  visíveis  e  
funcionais,  com  o  propósito  de  ensino,  agora  destacado  do  poder  religioso  e/ou  laico.  
Durante  o  séc.  XIX,  reconheceu-­se  pela  primeira  vez  uma  nova  tipologia  de  edifício  
público,  num  momento  em  que  despontava  uma  série  de  novas  tipologias.  A  expansão  
da  revolução  industrial  trouxe  consigo  a  necessidade  de  construção  de  fábricas,  hos-
pitais,  e  um  conjunto  de  outros  edifícios  públicos  com  potencial  carácter  de  tipologia,  
que,   entretanto,   juntamente   com   a   escola,   são   reconhecidos   como   tal.   As   escolas  
associam-­se   a   uma   vontade,   muitas   vezes   fantasiosa,   de   reforma   social   e   são   en-
quadradas  nas  transformações  urbanas.  É  o  caso  das  escolas  próximas  dos  núcleos  
fabris,  cujo  era  receber  as  crianças  no  período  de  trabalho  dos  pais.

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Em  1774,  La  Saline  de  Chaux  de  Ledoux   1  (a  primeira  cidade  ideal  da  era  industrial),  
situada  em  Besançon,  França,  já  experimentava  a  escola  enquanto  edifício  indepen-
dente  que  servia  a  comunidade.  O  exemplo  da  Familistiére,  de  Godin   2,  também  in-
dividualizava  a  escola,  enquanto  serviço  complementar,  numa  mini  cidade  dentro  da  
cidade  de  Guise.

Ilustração 3 -  Familistère  de  Guise,  séc.  XIX,  de  Jean-­Baptiste  André  Godin  (Em  linha)  (consultado  em  18  de  Junho  de  2012)  disponível  
em  WWW:  <  URL:  http://files.perestrelo-­arquitetura.webnode.com.br  >

“Em   meados   do   século   XIX,   nesse   momento   excepcional   da   fabricação   do   modelo  


escolar,  o  edifício  da  escola  torna-­se  tema  obrigatório  dos  debates  e  das  políticas.”  
(Nóvoa,  2005)

Apesar  do  surgimento  desta  tipologia,  o  ensino  primário  ainda  decorria,  a  maior  parte  
das  vezes,  em  edifícios  alugados  ou  emprestados  pelos  municípios,  antigos  colégios  
de  Jesuítas,  conventos  inactivos,  oficinas  ou  mesmo  na  habitação  dos  mestres.

O  séc.  XIX  foi,  de  facto,  tal  como  refere  Torgal  (1993)  “o  século  da  instrução  pública”,  
na  medida  em  que  se  exploraram  novas  ideias  em  torno  do  tema  e  a  própria  legislação  
procurava  colmatar  as  dificuldades  relacionadas  com  a  escolaridade.  Por  exemplo,  o  
Regulamento  Geral  de  Instrução  Primária  de  1835  determinava  que  a  instrução  pri-

1
Claude  Nicolas  Ledoux  (1736-­1806)  francês,  arquitecto  do  neoclássico,  visionário  idealista  da  cidade,  
realizou  uma  pesquisa  experimental  de  elementos  arquitectónicos  fixos  que  gerariam  a  cidade  hi-
erárquica  e  harmónica,  uma  arquitectura  intemporal,  nos  seus  pressupostos  e  essencialmente  neoclás-
sica.  
2
Batiste  André  Godin  (1817,1888)  foi  um  industrial  francês,  que  em  1859  impulsionou  a  construção  da  
Familistére.

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mária  seria  gratuita  para  todos  os  cidadãos  que  frequentassem  as  escolas  públicas  
(medida  que  se  mantém  até  aos  dias  de  hoje).”  Segundo  o  autor  C.  M.  Silva  (2005),  ao  
longo  do  séc.  XIX,  a  dicotomia  escola  /  habitação  revelou-­se  estruturante  nos  edifícios  
projectados  para  o  ensino  básico.”    

No  caso  português,  as  escolas  Conde  de  Ferreira  (1886)  e  as  escolas  Adães  Bermu-
des  (1898/1900)  são  exemplos  que  corroboram  com  este  princípio  e  serão  posterior-
mente  alvo  de  análise.

Durante  o  séc.  XIX,  a  arquitectura  escolar  teve,  em  determinados  momentos,  no  cen-
tro   das   atenções,   em   virtude   das   necessidades   inerentes   ao   acto   de   ensinar   e   do  
reflexo  das  propriedades  dos  espaços  onde  decorria  a  aprendizagem  dos  alunos.  A  
preocupação  com  um  modelo  de  ambiente  que  servisse  de  cenário  à  aprendizagem  
foi   enunciada   na   lei   de   Guizot,   em   1833,   que   vincava   a   necessidade   da   existência  
de  um  lugar  próprio  quer  para  leccionar,  quer  para  o  alojamento  do  professor.  Mas,  
dificuldades   como   a   falta   de   subsidiação   por   parte   dos   governos,   não   permitiram   a  
transformação  almejada.  

Em  determinados  períodos,  a  arquitectura  escolar  serviu  também  aos  governos  para  


implementar  as  suas  teorias  sociais.  Em  Portugal  assistiu-­se  a  esta  situação,  tal  como  
o  autor  A.  Tostões  (2004)  refere,  quando  a  “ditadura  do  Estado  Novo  (...)  interessada  
numa  renovação  simbólica,  afirma  o  mito  da  sua  própria  actualidade  através  de  uma  
eficaz  actualização  formal.  Aos  arquitectos  vai  possibilitar  a  afirmação  do  seu  estatuto  
profissional,  através  da  construção  dos  mais  significativos  edifícios  públicos  modernis-
tas.(...)”  Este  regime  político,  saído  da  revolução  de  1926,  desde  meados  da  década  
de   30   lançou   uma   política   de   obras   públicas,   em   grande   escala,   que   se   estenderia  
durante   as   décadas   de   40   e   50,   sempre   com   uma   vontade   explícita   de   anunciar   a  
“grandiosidade”  do  estado  português.  O  edifício  da  escola  (durante  este  período  sur-
giram  os  tipos  Rogério  de  Azevedo  e  Raul  Lino,  Plano  dos  Centenários,  Fernandes  
de  Sá  e  Fernando  Peres,  projectos  que  serão  caracterizados  ao  longo  deste  trabalho)  
surgia  com  especial  destaque  pelo  papel  primordial  na  difusão  dos  grandes  feitos  do  
Salazarismo,  dentro  e  fora  do  país.  

 A  escola,  no  início  do  séc.  XX,  era  já  claramente  entendida  como  um  equipamento  pú-
blico  com  autonomia  reconhecida,  pelo  que  foi  durante  esse  século  que  se  iniciaram  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos    sobre  a  sua  morfologia,  salubridade,  implantação  e  contextualização  urbana,  


que  proporcionaram  uma  evolução  desta  tipologia.  De  qualquer  modo,  tal  como  Maria  
Alexandre  Alegre  (2009)  afirma,  “No  entanto,  passado  mais  de  um  século,  a  escola  
pública  continua  associada  a  um  modelo  escolar  que  se  estrutura  em  torno  do  ensino  
em  classe,  organização  que  permite  e  se  revela  como  o  modelo  mais  eficaz  na  cons-
trução  de  uma  pedagogia  colectiva.”      

Para   a   mesma   autora   (Alegre,   2009),   o   conceito   de   classe,   pela   sua   importância,  
necessita  de  ser  explicitado,  pelo  que  será  usada  a  definição  que  surge  no  Nouveau  
Dictionaire  de  Pédagogie  et  Instruction  Primaire  de  Ferdinand  Buisson  (1911),  citada  
por  João  Barroso  (2001),  “uma  secção  da  escola,  uma  reunião  de  alunos  formando  
um  grupo  distinto  sob  a  condução  de  um  mestre,  correspondendo  a  um  certo  grau  de  
ensino  acima  e  abaixo  do  qual  se  encontram  outras  classes.  A  classe  é  na  organiza-
ção  escolar  o  que  o  orgão  é  no  corpo  e  uma  roda  numa  máquina;;  não  forma  por  si  só  
um  todo;;  o  seu  valor  provém  das  relações  que  a  ligam  ás  classes  que  a  precedem  e  
a  seguem.”

Segundo  Antonio   Viñao   Frago   (2008),   desde   a   segunda   metade   do   séc.   XIX   que   o  
espaço  da  sala  de  aula  é,  sem  dúvida,  a  célula  base  da  estrutura  de  qualquer  edifí-
cio   escolar,   independentemente   de   se   terem   conhecido   variadíssimas   formulações  
pedagógico/espaciais,   resultantes   da   idade   dos   estudantes   e   do   sistema   de   ensino  
(corroborado  pela  disposição  do  mobiliário  que  induz  a  diferentes  posições  quer  dos  
alunos,  quer  do  professor).  

Para   Maria  Alexandra  Alegre   (2006),   o   modo   “corresponde   à   forma   de   organizar   o  


ensino  na  sala  de  aula”  e  o  método  à  “forma  de  dirigir  e  guiar  o  processo  de  ensino-­
aprendizagem”,  definições  referenciadas  por  Nóvoa,  são  os  componentes  estruturan-
tes  das  relações  entre  professores  e  alunos  no  espaço  da  sala  de  aula  e  da  própria  
composição  espacial,  resultando  numa  matriz  organizativa  do  sistema  escolar.

 A  classe  surge  pela  necessidade  de  tornar  possível  o  ensino  colectivo  para  as  mas-
sas.  Entretanto,  convém  referir  que  a  substituição  da  Igreja  pelo  Estado  na  direcção  e  
organização  do  ensino  não  despoletou  alterações.  João  Barroso  (2001,  p.64)  explica  
que  “esta  matriz  constitui  uma  extensão,  ao  ensino  simultâneo,  dos  pressupostos  e  
métodos  pedagógicos  do  ensino  individual,  enquanto  relação  face  a  face  de  um  mes-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tre  com  o  seu  discípulo.”  E,  segundo  o  mesmo  autor  (Barroso,  2001,  p.64),  classe  é  a  
adaptação  frutuosa  do  ensino  doméstico  que  decorria  na  habitação  dos  mestres  face  
ao  aumento  do  número  de  alunos  e  à  implementação  de  um  sistema  de  avaliação  que  
tinha  de  ter  rigor,  factor  definitivo  para  a  classificação  dos  alunos  e  garantia  da  padro-
nização  dos  métodos  aplicados  pelo  docente.    

Os   modos   de   ensino,   desde   o   doméstico,   modo   de   ensino   individual,   ao   colectivo,  


modo  simultâneo  (séc.  XVIII)  e  o  modo  mútuo  (início  do  séc.  XIX)  procuravam  tornar  
reflexiva  a  aprendizagem,  com  o  pressuposto  de  ensinar  um  grupo  de  alunos  como  se  
de  um  só  se  tratasse.  Durante  a  segunda  metade  do  séc.  XIX,    os  métodos  de  ensino  
alternavam  entre  o  simultâneo  e  o  misto,  sendo  o  modo  simultâneo  o  que  perpetuaria  
ao   longo   do   séc.   XX   .   Entenda-­se   a   definição   dos   modos   de   ensino,   facultada   por  
Maria  Alexandra  Alegre   (2009,   p.27),   “ensino   individual,   em   que   cada   aluno   recebe  
directa  e  separadamente  as  lições  do  professor;;  ensino  simultâneo,  que  tem  por  ob-
jecto  tornar  ao  mesmo  tempo  participantes  duma  lição,  dada  pelo  mestre,  os  alunos  
capazes  de  a  receber;;  ensino  mútuo,  aliviando  o  professor  pela  adjunção  de  auxiliares  
tirados   da   própria   escola   e   denominados   “monitores”,   entrega-­lhes   a   direcção   dum  
grupo  ou  subgrupo  e  aos  alunos  de  tais  grupos  devem  eles  ensinar  o  que  aprenderam  
do  método;;  ensino  misto,  consiste  em  receber  numa  escola  simultânea  alunos  repe-
tidores,  tendo  simplesmente  por  fim  auxiliarem  o  mestre  na  instrução  de  muitos  dos  
seus  condiscípulos,  não  tomando  porém  senão  uma  parte  puramente  mecânica  ou,  
pelo  menos,  muito  simples  no  ensino.”  

Ilustração 4 -  Esquema  de  organização  do  espaço  escolar  -­  ensino  individual,  mútuo  e  simultâneo  
(Alegre,  2009,  p.28)

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Com  efeito,  as  preocupações  em  torno  da  organização  espacial  da  sala  de  aula  sur-
giram   em   torno   do   modo   de   ensino   monitorial   ou   mútuo   no   final   do   séc.   XVIII,   em  
Inglaterra,   pela   mão   de  Andrew   Bell   (1753-­1832)   e   posteriormente   por   Joseph   Lan-
caster  (1778-­1838).  Surgiu,  assim,  o  intitulado  método  Lancaster,  que  segundo  Maria  
Alexandra  Alegre  (2009,  p.26),  se  baseava  nas  seguintes  premissas:  “1)  agrupamento  
de  alunos  com  desempenho  escolar  semelhante,  atribuindo  a  cada  grupo  um  monitor  
(aluno  mais  avançado);;  2)  substituição  de  uma  pedagogia  de  instrução  individual  por  
uma  pedagogia  de  instrução  simultânea,  não  instruindo  o  aluno  individualmente  mas  
o   grupo   em   simultâneo;;   3)   promoção   individual   do   aluno   através   de   um   sistema   de  
avaliação  contínuo,  realizado  pelo  monitor  do  grupo  e  pelos  monitores  das  diferentes  
especialidades  (leitura,  aritmética).”  

A  organização  espacial  proposta  por  este  método  visava  majorar  a  actuação  do  mes-
tre  perante  centenas  de  alunos,  onde  o  espaço  ocupado  por  cada  um  compreendia  o  
intervalo  que  separava  os  bancos  da  secretária.  A  planta  destas  salas  (21mx10m)  de-
finia  os  espaços  para  o  mobiliário  e  a  respectiva  distribuição  para  uma  dezena  de  alu-
nos,  existindo  também  círculos  de  leitura,  pronúncia  e  aritmética  para  8  ou  9  alunos,  
junto  à  parede  onde  as  crianças  se  reuniam  em  torno  de  quadros  suspensos.  Como  
se  tratava  de  uma  sala  comprida,  a  localização  da  mesa  do  professor,  com  centenas  
de  alunos,  era  no  extremo  da  sala,  centrada  entre  outras  duas  mesas  para  os  profes-
sores  assistentes.  O  espaço  central  era  ocupado  por  filas  contínuas  de  carteiras  de  
escrever  para  16  alunos,  voltadas  na  direcção  da  mesa  do  mestre.  Cada  uma  destas  
filas  era  coordenada  por  um  monitor.  Para  garantir  boa  ventilação  e  luminosidade  da  
sala,  as  janelas  eram  largas  e  altas,  distribuídas  de  forma  equidistante  pelas  paredes  
longitudinais,  de  forma  a  que  a  visibilidade  para  o  exterior  ficasse  inibida.  Para  uma  
boa  repartição  do  calor  existiam  aquecedores  a  vapor.  O  chão  era  em  terra  batida.

A  dimensão  da  turma  é  um  factor  relevante  na  história  das  escolas  e  as  sucessivas  
experiências  decorrem  consoante  as  necessidades  demográficas.  Por  exemplo,  Fran-
ça,   nessa   época,   encontrava-­se   em   circunstâncias   demográficas   bem   diferentes   de  
uma  Grã-­Bretanha  industrializada,  originando  diferenças  entre  os  modelos  espaciais  
sustentados  na  classe,  em  relação  à  Europa  Central  e  à  Inglaterra.    

A   política   de   economia   de   espaço   e   o   rigor   na   sua   organização   estavam   presentes  


pela  necessidade  de  racionalizar  a  sala  mediante  o  número  de  alunos,  assim  como  

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pela  imprescindibilidade  de  controlo  com  o  objectivo  de  garantir  princípios  fundamen-
tais,  como  a  ordem  e  a  disciplina.  O  preceito  económico  e  racional  foi  o  estandarte  do  
modelo  educativo  prussiano  estabelecido  pela  Volksschule  3,  que,  segundo  Francisco  
Ruiz  Burgos  (2000),  acabaria  por  se  instituir  como  cânone  escolar  na  Europa  Central.  
Este  sistema  de  ensino  introduziu  a  ideia  dos  níveis  de  ensino  para  a  constituição  de  
classes  análogas,  a  contenção  do  número  de  alunos  por  classe,  em  que  cada  uma  
correspondia  a  uma  sala,  bem  como  o  repartir  dos  alunos  por  escolas  específicas  para  
determinados  graus.  A  estrutura  de  ensino  em  questão  reflectiu-­se  numa  organização  
espacial  com  uma  base  rectangular,  onde  a  posição  do  professor  sobre  um  estrado,  
numa  das  extremidades  da  sala,  demarcava  a  sua  superioridade  hierárquica  perante  
os  alunos,  que  se  sentavam  em  bancos  colectivos,    dispostos  em  filas  direccionadas  
para  o  docente.  As  janelas  eram  projectadas  de  forma  a  evitar  a  visibilidade  para  o  
exterior  por  parte  dos  alunos.  Os  edifícios  eram  compactos,  grandiosos  e  indistinguí-
veis  de  outras  tipologias  com  o  mesmo  pressuposto  de  monumentalidade,  tal  como  
Maria  Alexandra  Alegre  explica  (Alegre,  2009,  p.31),  “em  que  unicamente  a  inscrição  
sobre  a  fachada  principal  permitia  distinguir  o  edifício  escolar  de  um  palácio  da  justiça  
ou  quartel.”  

As  primeiras  experiências  desenvolvidas  em  Inglaterra  tiveram  como  base  o  ensino  


mútuo,  no  qual    perdurava  a  ideia  de  um  grande  espaço  que  reunia  alunos  de  várias  
idades  e  sexos  opostos.  Funcionava  um  pouco  à  imagem  do  espaço  interior  das  igre-
jas,  em  virtude  do  controlo  e  influência  desta  instituição  na  educação,  durante  o  séc.  
XIX.   Estes   espaços   foram   sofrendo   ampliações,   dada   a   necessidade   de   albergar   o  
crescente  número  de  alunos  até  a  um  ponto  em  que  já  não  seria  possível  manter  o  
bom  comportamento  e  a  obediência  dos  discentes.  Perante  tais  circunstâncias  surgi-
ram  pequenas  salas  de  apoio,  para  grupos  mais  pequenos,  satélites  da  sala  princi-
pal.    Segundo  Maria  Alexandra  Alegre  (2009,  p.  30),  “Esta  organização  implicou  que  
o  papel  de  vigilante,  que  o  professor  desempenhava  no  modo  de  ensino  mútuo,  fosse  
delegado  em  professores  assitentes,  responsáveis  pelas  salas  de  aulas.”    

Efectivamente,  o  ensino  em  Inglaterra  acabou  por  se  aproximar  do  sistema  prussiano,  

3    
A  Volksschule  era  um  sistema  do  séc.  XVIII,  em  que  o  estado  suportava  as  escolas  primárias  estabe-
lecidas  no  Império  dos  Habsburgos  da  Áustria  (em  1840)  e  da  Prússia  (em  1717).O  comparecimento  
à  escola  era  supostamente  obrigatório,  mas  um  censo,  em  1781,  revela  que  apenas  um  quarto  das  
crianças  em  idade  escolar  comparecia.  Na  época,  este  foi  um  dos  poucos  exemplos  em  que  o  estado  
apoiou  a  escolaridade  elementar.

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utilizado  na  Europa  central,  quando,  no  final  do  séc.  XIX  ,  o  Educational  Act  (1870)    
decretou  a  frequência  escolar  para  as  crianças  com  idades  compreendidas  entre  os  
cinco  e  os  treze  anos.  Deste  modo,  o  governo  autorizou  a  construção  de  uma  escola  
experimental,  para  rapazes  e  raparigas,    projectada  por  Roger  Smith  (1892),  que  tinha  
a  particularidade  de  disponibilizar  um  espaço  central  (great  hall),  no  qual  confinavam  
todas  as  salas,  facto  que  permitia  a  vigilância  dos  espaços  bem  como  a  respectiva  dis-
tribuição.  O  espaço  podia  ainda  funcionar  com  alguma  polivalência  para  actividades  
relacionadas  com  a  escola  e  os  alunos.  Este  objecto  arquitectónico  serviu  de  modelo  
a  diversas  construções  de  edifícios  escolares,  entre  o  final  do  séc.  XIX  e  início  do  séc.  
XX,  que  se  mantiveram  fiéis  a  estes  princípios.  De  acordo  com  Ron  Kinshall  e  outros  
autores   (Kingshall   et   al.,   1983),   este   foi   o   resultado   da   influência   de   Edward   Rob-
son,  o  primeiro  arquitecto  da  School  Board  em  Londres,  que  o  divulgou  e  promoveu,  
denominando-­o  Modelo  Robson,  por  ter  o  seu  grau  de  acção  no  ministério  centrado  
sobre  a  arquitectura  escolar.  Entretanto,  organizaram-­se  concursos  para  a  construção  
de  escolas  e  estabeleceram-­se  os  respectivos  pressupostos  organizativos,  bem  como  
o  sistema  educativo  e  o  método  de  ensino.  

Ilustração 5 -  Imagem  exterior  do  Modelo  Robson  (1872)  


(Alegre,  2009,  p.32)

Ilustração 6 -  Planta  do  piso1  do  Modelo  Robson  (1872)  


(Alegre,  2009,  p.32)

A  experiência  portuguesa,  no  que  diz  respeito  a  este  sistema  monotorial  (ensino  mú-

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tuo)   aconteceu,   segundo   Joaquim   Ferreira   Gomes   (1980)   no   princípio   do   séc.   XIX  
(1815),   através   da   influência   dos   oficiais   ingleses   que   se   encontravam   em   Portugal  
por   causa   das   invasões   napoleónicas,   bem   como   pelo   facto   de   alguns   intelectuais  
portugueses   terem   contactado,   aquando   do   seu   exílio   político,   com   este   modo   de  
ensino,  em  Londres  e  em  Paris.  As  escolas  regimentais  foram  o  meio  de  difusão  do  
ensino  mútuo  no  nosso  país,  dada  a  necessidade  de  alfabetização  do  exército.  Em  
Lisboa  foi  criada  a  Escola  Geral,  que  visava  a  formação  de  professores  e  com  o  intuito  
de  garantir  um  ensino  uniforme  e  regular.  Mais  tarde,  este  exemplo  terá  continuidade  
nas  escolas  normais.

Primeiro  que  se  estabelecessem  escolas  militares  pelo  ensino  mútuo  em  França,  na  
Áustria  e  Rússia,    já  Vossa  Majestade  havia  fundado  em  Lisboa  uma  Escola  Normal  
para   habilitação   dos   professores   das   escolas   dos   corpos   do   seu   valoroso   exército.  
Foi  pela  primeira  vez  que,  entre  nós  e  pode  ser  em  toda  a  Europa,  se  viu  formar  pro-
fessores,  não  só  para  ensinarem  os  seus  preceitos,  mas  ainda  e  mui  principalmente  
edificarem  com  os  seus  exemplos.  (Imprensa  Nacional,  1821)

Na  verdade,  assistiu-­se  a  uma  continuidade  do  regime  militar  para  o  modo  de  ensino  
que  tem  vindo  a  ser  abordado,  pelo  seu  carácter  de  rigor  no  cumprimento  dos  horári-
os,  pela  disciplina  dos  comportamentos  exigida  no  decorrer  da  aula  e  pela  precisão  
das  tarefas.  Os  alunos  dividiam-­se  por  salas  de  acordo  com  o  nível  de  ensino  em  
que  se  encontravam,  sem  ter  em  consideração  a  idade  nem  um  limite  de  discípulos  
para  cada  classe.
De  facto,  verifica-­se  que  o  espaço  da  sala  de  aula  é  o  elemento  centralizador  e  crucial  
na  instituição  das  pedagogias.  Há  uma  relação  directa  entre  os  conteúdos  pedagógi-
cos  e  a  qualidade  espacial,  reflectida  na  forma  como  se  relacionam  os  usuários  e  os  
objectos  em  função  do  tipo  de  ensino  praticado,  factores  profundamente  relacionados    
com   a   disposição    do  mobiliário.  Trata-­se   de   um   tipo   de   ensino   expositivo,   onde   se  
acentuam  as  relações  hierárquicas  entre  os  seus  intervenientes,  majorando  a  supe-
rioridade  do  professor  em  relação  aos  seus  pupilos,  reiterada  pela  imposição  da  obe-
diência,  da  ordem  e  da  disciplina.  Como  Maria  Alexandra  Alegre  (Alegre,  2009,  p.36)  
expõe  “A  transmissão  do  conhecimento  efectua-­se  exclusivamente  através  de  aulas  
magistrais,  com  apoio  de  livros.  O  ensino  simultâneo  é  baseado  nos  métodos  deduti-
vos  de  ensino-­aprendizagem  do  abstracto  para  o  concreto),  em  que  o  aluno  tem  um  
papel  passivo  na  aprendizagem,  apoiado  na  memorização  e  na  repetição  de  concei-
tos.”  Desenha-­se,  assim,  um  sistema  de  ensino  rígido,  espelhado  nas  formalizações  
arquitectónicas  adoptadas.  

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Existiram  vários  pedagogos  que,  no  final  do  séc.  XIX  e  início  do  séc.  XX,  se  insurgiram  
contra  este  sistema  de  ensino,  que  entretanto  se  havia  generalizado.  As  suas  críticas  
surgiram  por  considerarem  que  o  modelo  de  escola  tradicional  não  contemplava  as  
diferenças  entre  os  ritmos  de  aprendizagem  dos  alunos,  bem  como  as  suas  reais  ca-
pacidades  e  os  seus  interesses  individuais.  O  Movimento  de  Educação  Nova,  nascido  
no  plano  teórico  com  Rousseau,  mas  igualmente  referenciado  noutros  momentos  da  
história  (no  período  da  Renascença  e  na    Antiguidade,  com  o  método  socrático,  atra-
vés  do  qual  os  indivíduos  procuravam  a  verdade  utilizando  os  seus  próprios  meios),  
assentava  no  conhecimento  e  na  valorização  da  criança.  Era  uma  ideia  de  pedagogia  
activa  que  induzia  a  criança  a  construir  o  seu  saber,  motivada  pelos  seus  interesses,  
bem  como  a  edificar  conceitos,  com  base  nas  suas  experiências  e  na  sua  natureza.  
Tratava-­se,   de   facto,   tal   como   enunciava   Claparède   4,   de   uma   Escola   por   Medida.  
E   foram   os   discípulos   de   Rousseau,   em   particular   Pestalozzi   (1746-­1827)   e   Frobel  
(1782-­1852),  que  sedimentaram  e  materializaram  estas  ideias  em  escolas  e  infantá-
rios,  e  que,  nas  palavras  de  Maria  Alexandra  Alegre  (2009,  p.37),  se  “estabeleceram  
como  verdadeiros  laboratórios  de  ensaio”.  Frobel  concebeu  os  jardins  de  infância  (kin-
dergarten),  que  se  assumiram  como  as  primeiras  idealizações  arquitectónicas,  fruto  
de   uma   prática   educativa   específica;;   como   exemplo,   em   Portugal,   foi   o   projecto   da  
escola  Frobel,  em  1882,  do  arquitecto  José  Luis  Monteiro  (1848-­1942),  no  Jardim  da  
Estrela,  em  Lisboa.

Ilustração 7 -  Alçado.  Escola  Frôbel  no  Jardim  da  Estrela  (1882),  em  Lisboa,  arquitecto  José  Luis  
Monteiro  (Alegre,  2009,  p.37)

4    
Édouard  Claparède  (1873-­1940)  Foi  psicólogo  do  desenvolvimento  infantil  e  neurologista  que  se  
dedicou  ao  estudo  da  psicologia  infantil  e  da  psico-­pedagogia  e  da  formação  da  memória.  Foi  um  dos  
grandes  nomes  da  psicologia  funcionalista,  tendo  as  suas  teorias  servido  aos  movimentos  de  renova-
ção  pedagógica  da  1ª  metade  do  séc.XX.

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Ilustração 8 -  Planta.  Escola  Frôbel  no  Jardim  da  Estrela  (1882),  em  
Lisboa,  arquitecto  José  Luis  Monteiro  (Alegre,  2009,  p.37)

Na  verdade,  os  pressupostos  explorados  por  estes  autores  lançaram  o  MEN  (Movi-
mento  Educação  Nova)  para  o  séc.  XX,  tanto  na  Europa,  como  nos  Estados  Unidos  da  
América.  Após  a  primeira  grande  Guerra  Mundial,  a  Liga  Internacional  Pró-­Educação  
Nova   estabeleceu   um   conjunto   de   princípios   reguladores   que,   entre   outros   aspec-
tos,   privilegiava   o   contacto   com   a   natureza,   bem   como   a   manutenção   de   uma   vida  
saudável,  na  tentativa  de  manter  a  criança  como  o  centro  do  empenho  de  todas  as  
acções   pedagógicas,   mas   sem   descurar   os   seus   interesses   particulares   numa   edu-
cação  integral.  O  internato,  moldado  à  imagem  do    ambiente  familiar  e  o  princípio  do  
autogoverno  desenham  uma  nova  pedagogia,  que,  segundo  António  Nóvoa  (2005,  p.  
79)   “apesar   de   imperfeitamente   realizada   e,   por   momentos,   severamente   criticada,  
dominará   o   universo   educacional   ao   longo   do   século   XX.”  A   educação   integral,   na  
perspectiva  deste  autor,  é  a  que  melhor  espelha  a  modernidade  escolar,  por  englobar  
várias  disciplinas  de  desenvolvimento  físico,  intelectual  e  moral.  Transita-­se  de  uma  
abordagem  intelectualista  e  livresca  para  uma  pedagogia  viva  e  activa,  onde  o  objecti-
vo  é  conseguir  indivíduos  socialmente  completos,  plenos  dos  seus  direitos  e  com  uma  
total  consciência  social.

Maria   Alexandra   Alegre   (2009)   conclui   que   “Para   a   consolidação   deste   movimento  
referem-­se  as  contribuições  inovadoras  de  pedagogos  como  Montessori  (1870-­1952),  
Claparède   (1873-­1940),   Ferrière   (1879-­1960),   Dewey   (1859-­1952),   Decroly   (1871-­
1932),  e  Freinet  (1897-­1966),  e  as  experiências  pedagógicas  desenvolvidas  no  qua-
dro  das  Comunidades  Escolares  de  Hamburgo,  iniciadas  na  Alemanha  em  1919,  das  
Escolas  de  Winnetka,  em  1935,  e  das  escolas  construídas  no  âmbito  do  Movimento  
da  Educação  ao  Ar-­livre.”  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Esta  pedagogia  é  essencialmente  prática  e,  desde  a  sua  criação,  caminha  do  aspecto  
individual  para  o  aspecto  colectivo  e  social,  reforçando-­se  a  autonomia  dos  alunos  e  
a  ideia  de  comunidade  escolar.  A  formação  de  grupos  de  trabalho  mutáveis  (classes  
móveis)  surge  a  par  de  novas  actividades  no  currículo  escolar,  como  o  cinema  escolar,  
que  permite  difundir  informações,  a  imprensa  escolar,  que  proporciona  a  desenvoltura  
na  escrita,  por  parte  dos  discentes,  e  os  trabalhos  manuais.  Assiste-­se,  também,  ao  
extravasar  do  espaço  físico  da  sala  de  aula,  que  até  ao  momento  continha  todas  as  
actividades  educativas,  e  ao  explorar  quer  por  alunos  quer  por  docentes  de  activida-
des  em  conjunto  ao  ar  livre.  

Esta  preocupação  em  relacionar  a  criança  com  o  exterior,  objectivo  presente  no  mo-
delo  pedagógico  do  MEN,  começa  a  reflectir-­se  na  arquitectura  escolar.  A  concepção  
do  edifício  já  não  é  indiferente  às  características  do  meio  onde  se  insere.  Pelo  que,  
tal  como  Maria  Alexandra  Alegre  (2009)  refere,  a  escolha  do  terreno  para  implantar  a  
escola  passa  a  ser  determinante,  por  ser  considerado  parte  do  “espaço  educativo”.

O  edifício  escolar  começa  a  espelhar  os  pressupostos  organizativos  do  Movimento  de  
Educação  Nova,  primeiro  e  de  forma  experimental  no  ensino  privado,  estendendo-­se  
mais  tarde  às  escolas  do  ensino  público.  O  repensar  da  formalização  do  espaço  da  
sala  de  aula,  incrementando  a  sua  relação  com  o  exterior  mediante  a  introdução  de  
mais   aberturas   (garantindo,   também,   a   higienização   dos   espaços),   a   flexibilização  
do   uso   do   espaço   construído,   potenciando   a   sua   exterioridade   (abrindo   a   escola   à  
comunidade),  e  a  concepção  mais  ergonómica  dos  equipamentos  e  do  mobiliário  es-
colar,  como  resposta  às  novas  metodologias  de  ensino,  reforçam  as  novas  práticas  
educativas  e  transformam  aquela  que  viria  a  ser  a  morfologia  dos  edifícios  escolares  
do  séc.  XX.

Na  perspectiva  de  Dayrell  (1999),  “  A  arquitectura  e  a  ocupação  do  espaço  físico  não  
são  neutras.  Desde  a  forma  da  construção  até  à  localização  dos  espaços,  tudo  é  de-
limitado  formalmente,  segundo  princípios  racionais,  que  expressam  uma  expectativa  
de  comportamento  dos  seus  usuários.  Nesse  sentido,  a  arquitectura  escolar  interfere  
na  forma  de  circulação  das  pessoas,  na  definição  das  funções  para  cada  local.  Salas,  
corredores,  cantina,  pátio,  sala  dos  professores,  cada  um  destes  locais  tem  uma  fun-
ção  definida  à  priori.  O  espaço  arquitectónico  da  escola  expressa  uma  determinada  
concepção  educativa.”  Com  efeito,   o   triângulo   configuração   espacial,   modo/práticas  

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de   ensino   e   desenho/disposição   do   mobiliário   é   potenciador   das   pedagogias,   bem  


como   um   instrumento   capaz   de   reforçar   as   hierarquias,   a   ordem   e   as   regras,   em  
suma,  um  indutor  de  comportamentos.

2.1.3. O ESPAÇO COMO ELEMENTO FUNDAMENTAL, ESSENCIAL À REALIZAÇÃO E À

CONSCIENCIALIZAÇÃO INDIVIDUAL E COLECTIVA - ARTICULAÇÃO ENTRE A ARQUITECTURA ES-

COLAR E A EDUCAÇÃO

Nas  propriedades  dos  espaços  das  escolas,  pelas  vivências  que  estes  proporcionam  
e  pelos  ensinamentos  que  subentendem,  recriam-­se  as  estruturas  sociais.  Subsiste  a  
necessidade  de  entendimento  da  dimensão  aluno/escola    como  pano  de  fundo  para  
todas  as  vivências  do  discente,  onde  se  antecipam  as  estruturas  de  funcionamento  do  
meio  social  em  que  se  inserem.

A  escola  acolhe  muitos,  mas  são  poucos  os  que  dela  se  apropriam.  A  entidade  escola,  
na   sua   génese,   revela-­se   uma   espécie   de   prolongamento   da   casa,   mas   teria,   para  
além  da  definição  de  hierarquias  e  da  imposição  de  regras  necessárias  à  construção  
das  mentalidades,  de  ser  também  fonte  inspiradora  do  conhecimento  a  par  do  estí-
mulo  e  incremento  das  relações  humanas,  projectando  o  ensino  além  dos  seus  limites  
físicos.  

Nas  escolas  primárias  portuguesas,  durande  o  período  contemplado  por  este  estudo  
–  desde  os  finais  do  séc.  XIX  até  à  contemporaneidade,  experimentaram-­se  e  edifi-
caram-­se  diversas  formalizações,  em  virtude  das  transformações  políticas  e  sociais,  
bem  como  dos  currículos  pedagógicos.  Exploraram-­se  diferentes  pedagogias  e  dife-
rentes  formas  de  abordar  o  ambiente  educativo,  mas  todas  as  formalizações  conota-
vam  uma  certa  rigidez  e  algum  conservadorismo,  comparativamente  às  experiências  
internacionais,  nomeadamente  em  França  e  em  Inglaterra.  Um  exemplo  claro  passou  
pela   definição   do   espaço   da   sala   de   aula.   Célula   base   de   toda   a   malha   do   edifício  
escolar,  apesar  de  variar  na  forma  como  se  associa,  e  parecendo  ter  presente  preocu-
pações  relacionadas  com  a  tectónica  e  com  o  encadeamento  do  restante  programa,  
formalizou-­se  em  discursos  muitas  vezes  distantes  dos  seus  utilizadores.  A  espacia-

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lidade  e  a  prática  pedagógica  não  se  aproximavam.  É  interessante  estrapolar  a  ideia  


de  que  os  comportamentos  indevidos  por  parte  das  crianças  não  serão  apenas  uma  
consequência  de  má  índole  ou  de  falta  de  “educação”,  mas  fruto  da  incompreensão  da  
espacialidade  que  os  envolve,  ou  do  “peso”  que  as  estruturas  muitas  vezes  transpor-
tam  em  si.  Segundo  C.  M.  Silva  (s/d),  “  A  arquitectura  deu  forma  a  valores  morais.  Uma  
escola  bem  concebida  influenciou  decisivamente  a  saúde,  gostos,  comportamentos,  
mentalidades  e  a  moral  de  cada  geração  sucessiva  de  crianças.”  

Em  relação  ao  edifício  escolar,  resultado  de  um  processo  interdisciplinar  e  colectivo,  a  
resposta  da  arquitectura  apresenta-­se,  no  desenrolar  da  história,  cada  vez  mais  como  
um  acto  consciente  na  procura  da  sintonia  com  os  seus  utilizadores.Interessa,  pois,  
salientar  a  importância  da  conceptualidade/morfologia  arquitectónica  sobre  a  comple-
xidade  dos  programas  das  escolas.  

Ao  problematizar  a  inter-­relação  espaço  /  indivíduo,  entende-­se  que  estes  espaços  em  


particular  são  complexos,  por  todos  os  factores  apresentados,  mas  também  porque  
são   os   espaços   das   nossas   mais   tenras   memórias   e   que,   consequentemente,   têm  
considerável  significado.  Com  efeito,  é  preciso  consciencializar  que  cada  ser  humano  
transporta  as  referências  dos  espaços  que  habita  e  que  há  factores  daí  advindos,  que  
intervêm  na  relação  sujeito-­meio  ambiente.  É,  de  igual  modo,  importante  compreen-
der  a  influência  que  o  espaço  exerce  sobre  os  modos  do  indivíduo,  individual  e  so-
cialmente.  O  arquitecto,  instrumentista  dos  espaços,  transporta  o  domínio  útil  destes  
factos  através  dos  modelos  que  propõe.  Citando  Cleide  Almeida  (Almeida,  2009),  “O  
arquitecto  é  um  educador,  e  o  seu  ensinamento  transmite-­se  através  de  formas  que  
ele  concebeu  e  que  constituem  o  entorno  da  criança  desde  a  sua  mais  tenra  idade.”
Neste  sentido,  depara-­se  com  a  necessidade  de  consciencializar  para  a  importância  
da   concepção   morfológica   dos   espaços   idealizados,   porque   todos   os   sentidos   são  
utilizados  pelo  Homem  na  percepção  dos  espaços  por  si  vividos.

De  acordo  com  Cleide  Almeida  (2009),  “Os  recursos  físicos  das  instalações  escolares  
passam  mensagens  às  vezes  mais  fortes  e  poderosas,  do  que  os  conteúdos  apresen-
tados  por  professores  ou  materiais  didácticos.  O  pertencimento  ao  espaço  escolar  e  o  
seu  entorno  são  fundamentais  na  constituição  do  ser  humano.  A  articulação  arquitec-
tura  e  educação  apresenta  múltiplas  dimensões  que  podem  ser  tecidas  em  conjunto,  
uma  vez  que  ambas  são,  também  isoladamente,  pluridimensionais.”  Deste  modo,  os  

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edifícios  da  arquitectura  escolar  são,  para  além  de  referências  manifestas  da  infância,    
pertença  de  uma  espécie  de  memória  colectiva  venerada.  São,  igualmente,  parte  ac-
tiva  na  construção  da  paisagem  das  cidades  e,  enquanto  equipamento  com  um  valor  
representativo,  exprimem  simbolicamente  a  aprendizagem  à  semelhança  da  casa  que  
simboliza  o  abrigo,  e  da  Igreja  que  representa  a  transcendência  e  a  religiosidade.  Na  
imagem  das  cidades,  as  escolas  são  tendencialmente  “acanhadas”,  misturam-­se  com  
os  outros  programas  e  ocupam  lugares  de  pouco  destaque.  Tratam-­se  de  uma  estrutu-
ra  social  implementada  com  o  propósito  da  construção  das  mentalidades  e  dos  modus  
vivendi,  mas  celebram  timidamente  as  suas  funções  nas  formas  que  assumem.

Ilustração 9 -  Relação  de  escala  entre  dois  programas  de  carácter  público,  igreja  e  escola  tipo  Conde  de  Ferreira  (Em  linha)  (consul-
tado  em  18  de  Junho  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://oeirascomhistoria.blogspot.pt  >

2.1.4. A PERCEPÇÃO DOS ESPAÇOS COMO FENÓMENO CULTURAL

Demarca-­se  uma  dimensão  do  espaço  construído,  que  vai  além  da  linear  soma  das  
áreas,  revelando-­se  determinante  por  transportar  emoções,  princípios  de  ordem  e  de  
disciplina,   e   por   ser   uma   síntese   de   conceitos   pedagógicos,   além   de   expressar   as  
directrizes  do  meio  em  que  se  insere,  como  uma  espécie  de  reflexo.  É  de  destacar  a  

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subsequente  referência  contextual    a  determinado  momento  da  história  que  se  repro-
duz  nos  símbolos  que  transporta.  A  arquitectura,  para  além  da  sua  “face”  estética,  é  
um  meio  de  comunicação  que  serve  para  referenciar  os  seus  utilizadores  ao  meio.  O  
mesmo  resulta  com  as  gerações  vindouras,  através  da  conotação  com  a  época  da  sua  
génese,  e  mediante  a  observação  dos  métodos  construtivos  adoptados,  dos  mais  ou  
menos  elementos  decorativos  que  transporta,  da  forma  como  organiza  os  programas  
e   como   responde   às   necessidades   dos   seus   utilizadores   que,   em   mutação,   se   vão  
emparelhando   com   a   evolução   das   sociedades   e   com   os   seus   graus   de   exigência.  
Para  Cleide  Almeida  (2009),  “A  busca  do  equilíbrio,  da  harmonia  e  da  simetria  resultou  
num  modelo  de  excelência  da  arquitectura  grega,  ligado  à  vida  quotidiana.  O  egípcio,  
ao  contrário  do  grego,  procurou  na  monumentalidade  da  sua  arquitectura,  uma  liga-
ção  com  a  imortalidade,  traduzida  por  exemplo  nas  pirâmides.  O  gótico  comunicava  
sobretudo   com   a   altura,   expressando   no   microcosmo   das   catedrais   uma   versão   do  
macrocosmo  cristão.  Essa  linguagem,  devia  sensibilizar-­nos,  emocionando-­nos  e  ins-
tigando  a  contemplação.”  Nesta  perspectiva,  a  arquitectura  confunde-­se  com  a  arte  
por  estimular  e  induzir  reacções  e  por  procurar  sensibilizar  quem  a  observa  e  usa.  No  
caso  dos  objectos  de  estudo  deste  trabalho  -­  os  edifícios  escolares  -­,  a  capacidade,  
inerente  à  arquitectura,  de  sensibilizar,  de  motivar  e  de  reproduzir  uma  identidade  é  
um  factor  determinante,  por  vincar  a  humanidade  de  cada  criança,  permitindo-­lhe  re-
flectir  e  compreender-­se  a  si  mesma  (indivíduo)  e  aos  outros  (mundo).

Ilustração 10 -  De  Polygoon,  Primary  School,  em  Almere,  arquitecto  Herman  


Hertzberger  (2008,  p.118)

A  percepção  dos  espaços  é,  de  igual  modo,  um  fenómeno  cultural.    A  experiência  dos  
lugares,  que  absorvemos  e  reinterpretamos,  constrói  padrões  de  entendimento,  que  

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compõem  as  nossas  referências  e  contextualizam  as  nossas  vivências,  memorizadas  


com  o  resto  da  informação  espelhada  nos  lugares  da  nossa  vida.  A  idade  escolar  em  
análise,   que   segundo   Piaget   5   se   coloca   no   período   operatório   concreto   de   organi-
zação  espacial    (entre    os  7  e  os  12  anos  de  idade),  é  o  período  em  que  as  crianças  
começam  a  pensar  logicamente.    Tal  como  explica  M.  Terra  (2002),  “Neste  período  o  
egocentrismo  intelectual  e  social  (incapacidade  de  se  colocar  no  ponto  de  vista  de  ou-
tros)  que  caracteriza  a  fase  anterior  dá  lugar  à  emergência  da  capacidade  da  criança  
de  estabelecer  relações  e  coordenar  pontos  de  vista  diferentes  (próprios  de  outrem)  
e  de  integrá-­los  de  modo  lógico  e  coerente  (Rappaport).  Um  outro  aspecto  importante  
neste  estágio  refere-­se  ao  aparecimento  da  capacidade  da  criança  de  interiorizar  as  
acções,   ou   seja,   ela   começa   a   realizar   operações   mentalmente   e   não   mais   apenas  
através  de  acções  físicas  típicas  da  inteligência  sensório-­motor.”  Para  Piaget,  o  de-
senvolvimento  é  o  resultado  das  combinações  entre  as  circunstâncias  oferecidas  pelo  
meio  e  o  que  o  organismo  traz,  e,  à  medida  que  se  vão  desenvolvendo  os  diferentes  
estágios,  estes  “esquemas  de  assimilação”  alteram-­se  progressivamente.  O  autor  em  
questão  considera  que  esta  dinâmica  resulta  apenas  da  combinação  indivíduo/meio,  
divergindo   de   outros   autores   que   acrescentam   a   diversidade   cultural   entre   crianças  
como   factor   interveniente   neste   sistema,     resultando   na     interação   indivíduo/meio/
indivíduo.

Apesar  de  Piaget  não  ter  tido  objectivos  pedagógicos  quando  desenvolveu  os  estu-
dos,  o  seu  modelo  serviu  para  orientar  alguns  modelos  de  aprendizagem,  por  exem-
plo,   na   Europa   e   nos   Estados   Unidos.  A   sua   teorização   revelou-­se     importante   na  
compreensão  do  ser  humano,  por  procurar  integrar  o  sujeito  no  mundo  que  o  circunda,  
preocupação  com  a  qual  nos  identificamos,  em  virtude  da  responsabilidade  que  nos  
assiste  profissionalmente.  As  construções  escolares  fazem  parte  da  forma  do  “como”  
se  ensina.  Ainda  com  base  nas  teorias  do  desenvolvimento  cognitivo  de  Piaget,  quan-
do  se  aborda  a  arquitectura  escolar,  é  importante  dotar  os  espaços  de  propriedades  
que  resultem  em  estímulos,  propulsores  da  assimilação  de  conhecimentos  e  precurso-
res  do  desenvolvimento.  Note-­se  que,  focar  as  questões  da  problemática  dos  espaços  
escolares,  afere  várias  perspectivas,  nomeadamente  em  áreas  distintas.  No  entanto,  
entende-­se  que  a  Arquitectura  não  é  estanque  enquanto  ciência  e,  pelos  conhecimen-
tos  que  abrange,  é  parte  interessada  em  muitas  outras  áreas  que  lhe  permitem  sus-

5    
Jean  Piaget  (1896-­1980),  epistemólogo  suíço,  psicólogo  do  desenvolvimento  cognitivo.

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tentar-­se,  justificar-­se  e  evoluir.  Segundo  M.  Terra  (2002),  “Existe  uma  conjuntura  de  
relações  interdependentes  entre  sujeito  conhecedor  e  objecto  a  conhecer,  que  envol-
ve  mecanismos  complexos  e  intrincados,  que  englobam  aspectos  que  se  entrelaçam  
e  complementam,  tais  como:  o  processo  de  maturação  do  organismo,  a  experiência  
com  objectos,  a  vivência  social  e  sobretudo  a  equilibração  do  organismo  com  o  meio”,  
factores    estes  subjacentes  às  determinações  compositivas  do  espaço.

Ilustração 11 -  Crianças  a  usar  o  “Block  and  Hollow”  na  Delft  Montessori  Scholl,  arquitecto  Herman  Hertzberger  (2008,  p.98)

Na  sua  aprendizagem  escolar,  as  crianças  não  dependem  única  e  exclusivamente  do  
professor  para  desenvolver  todas  as  suas  capacidades.  O  professor  é  alguém  mais  
experiente   que,   apoiado   nas   valências   dos   espaços   de   ensino/aprendizagem,   con-
duz  o  aluno  pelo  seu  desenvolvimento  intelectual  e  físico,  com  o  sentido  de  o  tornar  
mais   desenvolto,   mais   expedito.   Entende-­se   que   o   indivíduo,   neste   caso   a   criança,  
é  o  verdadeiro  construtor  do  seu  conhecimento.  Como  explica  V.  B.  Oliveira  (2000),  
“O   ambiente,   com   ou   sem   conhecimento   do   educador,   envia   mensagens   e,   os   que  
aprendem,  respondem  a  elas.  A  influência  do  meio  através  da  interação  possibilitada  
por  seus  elementos  é  contínua  e  penetrante.  As  crianças  e  os  usuários  dos  espaços  
são  os  verdadeiros  protagonistas  da  sua  aprendizagem,  na  vivência  activa  com  outras  
pessoas  e  objectos,  que  possibilita  descobertas  pessoais  num  espaço  onde  será  rea-
lizado  um  trabalho  individualmente  ou  em  pequenos  grupos.”  

Os  espaços  de  aprendizagem  devem  organizar-­se  com  o  intuito  de  desencadear  nas  
crianças  estímulos  ao  nível  motor,  cognitivo  e  social.  Para  a  construção  da  sua  iden-
tidade  pessoal  e  desenvoltura  emocional,  é  importante  uma  convivência  com  ambien-
tes   ricos   em   termos   de   propriedades   espaciais.   Os   lugares   da   aprendizagem   care-
cem  de  ser  reconhecidos  pelos  seus  utilizadores  como  espaços  seguros,  promovendo  
um  sentimento  de  confiança.  A  diversidade  espacial,  subentendendo  novos  desafios,  
transforma   a   criança   num   agente   activo   na   sua   aprendizagem   e   na   procura   da   sua  

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individualidade.  Os  espaços  disponíveis  e  acessíveis  para  as  aprendizagens  da  crian-
ça  são  um  factor  preponderante  na  construção  da  sua  autonomia,  na  criação  de  am-
bientes  que  estimulem  as  suas  capacidades  sociais  e  no  desenvolvimento  das  suas  
capacidades  intelectuais,  pela  troca  de  conhecimentos  e  de  experiências  que  decorre  
deste  sistema.  

Ilustração 12 -  Sala  de  aula  da  escola  De  Jordaan,  14th  Montessori  School(2003-­
2006),  em  Amsterdam,  arquitecto  Herman  Hertzberger  (2008,  p.63)

O   objectivo   desta   reflexão   é   tentar   compreender   a   entidade/instituição   escola   en-


quanto   realidade   complexa,   focalizando   a   perspectiva   de   construção   espacial,   sem  
descurar   a   existência   de   outros   domínios,   possibilidades   e/ou   enfoques   por   e   para  
reconhecer.

2.1.5. UMA ESCOLA PARA O SÉCULO XXI - A RESPONSABILIDADE DO ARQUITECTO NA


ARTICULAÇÃO ENTRE A ARQUITECTURA E A EDUCAÇÃO

Para  ser  conceptualizado,  o  edifício  escolar  passará  por  uma  avaliação  particular  de  
todas   as   condicionantes   pedagógicas   que   confirmam   a   sua   morfologia,   juntamente  
com   o   reconhecimento   das   necessidades   implícitas   à   comunidade   onde   vai   ser   in-
serido.  Num  primeiro  momento,  focaliza-­se  as  dimensões,  em  virtude  do  número  de  
alunos,  assim  como  a  garantia  de  condições  de  salubridade  e  de  higiene,  o  respeito  
pelos  recursos  financeiros  disponibilizados  para  a  sua  construção,  a  escolha  da  sua  

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implantação,  as  técnicas  construtivas,  a  formalização,  os  acabamentos,  os  materiais,  


a  legislação  vigente  e  as  pedagogias  praticadas.  Existem,  igualmente,  factores  sub-
jectivos   que   dependem   do   arquitecto   em   questão   e   que   se   relacionam   com   a   sua  
projectiva,  introduzindo  mais  ou  menos  poética  no  seu  discurso  arquitectónico,  que  se  
entende  ser    representativo  de  alguma  simbologia  subjacente  ao  tema.

Ilustração 13 -  De  Opmaat,  Extended  School,  Brede  School  (2004-­2007),  em  Arnhem,  arquitecto  Herman  Hertzberger  (2009,  p.89)

As   relações   que   se   constroem   entre   a   pedagogia   e   a   arquitectura   nos   edifícios   es-


colares   têm   um   carácter   preponderante   nas   opções   formais   tomadas   pelo   técnico,  
respeitando   o   tempo   em   que   se   encontra,   as   morfologias   inerentes   às   idades   em  
causa,  as  suas  propriedades  e,  principalmente,  a  escala  e  as  abrangências  emocio-
nais.  As  instalações  devem  permitir,  dentro  do  espaço  da  sala  de  aula,  alterações  na  
disposição  do  mobiliário.  Tal  como  António  Nóvoa  (2005,  p.  65)  afirma,  as  variações  
de  composição  do  espaço  da  sala  de  aula,  defendidas  pelos  pedagogos  como  sendo  
parte  de  um  ensino  mais  activo,  só  serão  possíveis  em  instalações  pensadas  de  forma  
a  permitir  alguma  liberdade  de  uso,  não  determinando  inconsequentemente  posições  
relativas  dos  alunos  (por  exemplo,  pelo  aleatório  posicionamento  dos  vãos  nas  salas  
de  aula).  O  ambiente  social  é  também  uma  variante  que  poderá,  na  concepção  dos  
espaços,  ter  mais  ou  menos  relevo,  admitindo  que  existem  comunidades  mais  difíceis  
nas  suas  formas  de  relacionamento  e  que  eventualmente  isso  se  poderá  reflectir  na  
forma  como  os  espaços  são  assimilados  e  utilizados.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 59


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As   questões   urbanas   devem,   de   igual   forma,   ser   equacionadas.     Em   determinado  


momento,  a  escola  passa  a  ser  entendida  como  um  lugar  diferenciado  no  perfil  com-
positivo  da  urbe.  Trata-­se  de  um  lugar  específico,  pelas  suas  características  progra-
máticas,  pela  sua  imageabilidade,  pelo  significado  dos  seus  espaços,  intrínsecos  às  
propriedades  do  público-­alvo,  e  ainda  pelo  facto  de  ser  o  prolongamento  da  protecção  
da  casa  e  pela  escala  indefesa  dos  seus  utilizadores,  preciosos  para  a  sociedade  (um  
laboratório  da  construção  viva  da  comunidade).  As  diferentes  sociedades,  mediante  
as  estruturas  que  criam,  atribuem  importâncias  distintas  ao  significado  da  educação.  
A  escola  pode  ser  entendida  como  um  meio  de  colmatar  as  dificuldades  dos  progeni-
tores  ou,  mesmo,  de  proporcionar  às  crianças  condições  que  em  casa  não  usufruem.  
Mas  a  escola,  em  virtude  de  uma  função  mais  assistencialista,  não  deve  descurar  o  
seu  papel  primordial  que  consiste  em  potenciar  a  aquisição  de  conhecimentos,  poten-
ciar  o  desenvolvimento  do  intelecto,  das  capacidades  de  discernimento,  da  desenvol-
tura  física  e  emocional.  Na  realidade,  a  escola  deve  criar  seres  autónomos,  seguros,  
capazes   de   agir   perante   as   contrariedades   e   sobre   as   adversidades,   em   suma,   ela  
deve  proporcionar  as  condições  necessárias  para  que  as  crianças  se  transformem  em  
seres  humanos  plenos  e  conscientes  do  seu  papel  em  sociedade.

Ilustração 14 -  NHL  Hogeschool  (2004-­2009)  em  Leeuwarden,  arquitecto  Herman  Hertzberger  (2009,  p.55)

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

As   nossas   escolas   são   o   espelho   das   relações   entre   as   pedagogias   e   os   projectos  


arquitectónicos.   No   entanto,   tal   como   foi   referido,   as   prioridades   que   se   vincularam  
às  formalizações,  dispersaram-­se,  enaltecendo  outros  objectivos.  É  importante  refe-
rir  que,  ao  longo  dos  tempos,  a  evolução  trouxe  variações  ao  entendimento  do  que  
deve  ser  o  objecto  arquitectónico  escola  e,  consequentemente,  de  como  deve  ser  a  
sua  morfologia.    As  necessidades  de  sistematizar  e  generalizar  a  aprendizagem  são  
recentes  e  ocorrem  no  final  do  séc.  XIX.  Contrariamente  ao  entendimento  que  hoje  é  
generalizado  de  que  as  bases,  o  ensino  do  primeiro  ciclo,  devem  ser  a  grande  aposta  
na  estrutura  de  ensino,    os  primeiros  investimentos  que  se  fizeram  recaíram  sobre  o  
ensino  superior.

Ilustração 15 -  Universidade  de  Bolonha,  criada  em  1088  (Em  linha)  (consultado  em  19  de  
Junho  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://virtual-­illusion.blogspot.com  >

Segundo   E.   Buffa   (2008),   “A   relação   entre   a   cidade   e   a   escola   fica   muito   evidente  
quando  consideramos  o  ensino  superior.  Como  sabemos,  as  primeiras  universidades  
europeias   surgiram   no   século   XII,   acompanhando   o   desenvolvimento   das   cidades.  
Inicialmente,  sem  um  lugar  próprio  para  funcionar,  com  o  tempo  conseguiram  vários  
espaços   e   prédios,   sempre   nas   cidades,   muitos   deles   sumptuosos.   Já   nos   EUA,   a  
ideia  dos  fundadores  das  universidades  era  de  implantá-­las  no  campo,  longe  da  in-
fluência   nefasta   da   cidade;;   daí   o   campus   universitário,   uma   pequena   cidade  
auto-­suficiente.”  De  facto,  a  concepção  de  escola  é  a  continuidade  dos  colégios  do  séc.  
XVI  (jesuítas,  protestantes,  leigos),  onde  se  praticava  um  ensino  secundário  humanista.  
Tratavam-­se  de  estruturas  que,  ainda  que  tenham  sofrido  transformações  /  evoluções,  

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determinaram,   através   da   criação   de   uma   matriz   pedagógico-­espacial,   as   que   ainda  


hoje  reconhecemos,  as  salas  de  aula,  assim  como  a  caracterização  dos  interesses  num  
programa   e   em   currículos,   a   avaliação   por   exames   e   a   instituição   de   um   horário   de  
aprendizagem.

Há  uma  preocupação  que  se  mantém,  ainda  que,  por  vezes,  alternando  de  perspectiva,  
e  que  diz  respeito  ao  processo  de  construção  do  conhecimento,  no  qual  há  um  inves-
timento  nas  gerações  futuras  -­  forças  latentes  do  desenvolvimento  humano  e  social  
-­,  percebendo-­se  que  a  arquitectura  é  o  meio  de  expressão  dos  sentidos  da  educa-
ção.  As   diferentes   organizações   espaciais,   as   formalizações,   as   composições   volu-
métricas,  o  mobiliário,  as  diferentes  matérias  utilizadas  nas  construções,  as  opções  
cromáticas,   enfim,   todas   as   propriedades   inerentes   ao   discurso   arquitectónico   têm  
uma  incontestável  dimensão  educativa.  De  facto,  as  questões  pedagógicas  abordam  
a  semântica  da  arquitectura  escolar  e  uma  compreensão  mais  alargada  da  natureza  
do  discurso  arquitectónico.  Estudos  contemporâneos  na  área  da  psicologia  têm  vin-
do   a   enfatizar   ou   a   relativizar   a   importância   das   experiências   espaciais   primárias   e  
seu  consequente  resultado  na  construção  e  solidificação  das  estruturas  intelectuais,  
sensoriais,  e  na  construção  das  representações  sociais  da  criança.  Esta  dimensão  do  
processo  educativo  e  pedagógico  ainda  não  assumiu  a  força  necessária,  descurando,  
na  maioria  das  vezes,  que  o  espaço  e  as  suas  propriedades  são  uma  forma  silenciosa  
de  comunicação,  e  que  ultrapassam  a  dimensão  material.

Ilustração 16 -   St.   Luke’s   CE   Primary   School,   Wolverhampton(2009),   UK,Archhitype.   Primeiro  


edifício   do   Reino   Unido   a   responder   ao   estatuto   de   excelência   do   rating   do   BREEAM   (edifício  
sustentável) (Em  linha)  (consultado  em  21  de  Maio  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://
made.org.uk  >

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Tal  como  A.  Escolano  Benito  (1998)  defende,  “Os  espaços  educativos,  como  lugares  
que   abrigam   a   liturgia   académica,   estão   dotados   de   significados   e   transmitem   uma  
importante  quantidade  de  estímulos,  conteúdos  e  valores  do  chamado  currículo  oculto  
(...)  A  arquitectura  escolar  pode  ser  vista  como  um  programa  educador,  ou  seja,  como  
um   elemento   do   currículo   visível   ou   silencioso,   ainda   que   seja,   por   si   mesma,   bem  
explícita  ou  manifesta.”  
Na  sociedade  de  hoje,  as  preocupações  centram-­se  no  tema  da  educação,  quer  por  
parte  dos  políticos  quer  por  parte  do  cidadão  comum,  e  padecem  da  forma  generalista  
e  simplista  com  que  o  tema  é  frequentemente  abordado.  As  discussões  reduzem-­se  
à  vontade  de  fazer  cumprir  percentagens  idílicas  dos  níveis  de  frequência  do  ensino,  
pelo  que  prevalece  a  quantidade  em  detrimento  dos  níveis  de  qualidade.  O  tema  da  
educação  mobiliza  várias  facções  da  sociedade  numa  espécie  de  sentimento  colectivo  
que  denota  a  preocupação,  ainda  que  tratada  de  forma  superficial,  em  torno  da  cons-
trução  e  da  gestão  dos  saberes.

Ilustração 17 -  Presikhaven,  Multifunctional  Centre  (2005-­2009)  em  Arnhem,  arquitecto  Herman  Hertzberger  (2009,  p.63)

A  arquitectura  tem  vindo  a  dar  resposta  aos  programas  e  às  pedagogias,  ficando  sem-
pre   aquém   do   potencial   que   lhe   é   inerente.  A   ideia   de   projectos-­tipo,   que   marca   a  
história   da   arquitectura   escolar,   reduziu   o   investimento   sobre   as   novas   formas   de  
abordar  tipologicamente  o  tema  das  escolas.  Não  parece  que  a  resolução  de  todas  as  
questões  passe  pela  arquitectura,  até  porque  o  ensino  é  o  reflexo  de  várias  áreas  e  
contextualiza-­se  em  determinado  tipo  de  concepção  social.De  qualquer  forma  importa  
reter   que   a   quota-­parte   que   diz   respeito   à   arquitectura,   não   tem   sido   devidamente  
explorada.  O  conjunto  de  preocupações  subjacentes  a  todo  este  sistema,  deve  tam-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

bém  passar  por  uma  definição  criteriosa  dos  espaços  onde  decorre  a  aprendizagem,  
garantindo  assim  a  sua  especificidade  e  perpetuação.  Importa  reflectir  sobre  as  expe-
riências  que  fazem  parte  da  nossa  história  e  procurar  as  mutações  necessárias  para  
uma  melhor  definição  de  cada  parte  do  programa,  acrescentando-­lhe  preocupações  
que  estão  subjacentes  ao  desenvolvimento  cognitivo.  De  facto,  as  inovações  tecnoló-
gicas,  as  novas  formas  de  construir,  as  novas  perspectivas  sobre  as  questões  ecoló-
gicas,  enfim,  um  sem  número  de  factores  que  não  tem  sido  devidamente  ponderados,  
nos  dias  que  correm,  não  faz  sentido  ser  descurado.

Segundo  Anatole  de  Baudot  (Rodrigues,  2010),  é  realmente  necessário  introduzir-­se  


uma  nova  dinâmica  entre  clientes  e  profissionais,  com  o  objectivo  de  conceber  novas  
formas  de  encarar  os  problemas  da  concepção  dos  espaços,  sustentando-­a  num  es-
tudo  racional  e  analítico  do  passado,  e  na  tomada  de  consciência,  por  parte  do  arqui-
tecto,  das  condições  que  a  contemporaneidade  impõe.  Esta  autora  (Rodrigues,  2010)    
refere  ainda  que  urge  a  necessidade  de  usar  os  “fecundos  e  estimulantes”  recursos  
que  se  encontram  à  nossa  disposição.  A  sua  reflexão  vinca  a  necessidade  de  alterar  
aquela,  que  na  sua  perspectiva,  é  uma  lacuna  inexplicável  e  injustificável  no  ensino  
geral,  que  descura  a  utilização  de  “uma  arte  tão  útil  como  é  a  arquitectura”.  

Perante  uma  urgente  reflexão,  este  estudo  propõe-­se  como  uma  mais  valia,  em  con-
traponto  com  a  produção  de  trabalhos  de  arquitectura  a  uma  velocidade  voraz,  que  
nos   assoberba,   e   que   não   permite   implementar   uma   disciplina,   nem   promover   uma  
discussão  ideológica  entre  pares.  No  discurso  de  Baudot  (Rodrigues,  2010)  subenten-
de-­se  a  perda  de  representatividade  do  arquitecto,  fruto  da  sua  tolerância  perante  os  
outros  especialistas  intervenientes  no  processo,  o  que  resulta  numa  crescente  perda  
de  autoridade  e  de  prestígio.

Na  maior  parte  dos  discursos,  o  séc  XXI  surge  numa  perspectiva  de  futuro  longínquo,  
quando  na  realidade  já  está  a  acontecer.  Os  projectos  que  têm  vindo  a  ser  ponderados  
são   o   espelho   de   uma   sociedade   ambiciosa   que   pretende   alcançar   rapidamente   os  
seus  objectivos,  sem  pensar  nas  formas  e  nas  consequências  de  algumas  das  opções  
que  vai  tomar  ao  longo  do  seu  percurso  evolutivo.  Pelo  que  a  reflexão  crítica  proposta  
por  este  estudo  surge  como  uma  tomada  de  consciência,  atenta  à  relação  muitas  ve-
zes  promíscua  da  arquitectura  com  o  poder.    

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José  Manuel  Rodrigues  (2010)    afirma  que  “A  construção  de  edifícios  públicos  ou  as  
formas  de  habitar  são  o  espelho  de  uma  sociedade,  das  suas  ambições  e  das  suas  
fraquezas.”    Por  seu  turno,  para  Leonor  Cintra  Gomes  (Rodrigues,  2010)    é  um  facto  
que,  ao  longo  dos  tempos,  a  criação  arquitectónica  tem  vindo  a  ser  orientada  pelos  
saberes  técnico  e  teórico,  circunstância  que  parece  ser  ignorada.  Na  opinião  da  autora  
(Rodrigues,   2010)     o   contributo   dos   arquitectos   tem   sido   preterido,   no   que   diz   res-
peito  ao  desenvolvimento  tecnológico  e  à  “contínua  evolução  do  conhecimento”  pela  
abrangência  das  relações  que  a  arquitectura  estabelece  com  o  ambiente,  espelhando  
a  evolução  da  sociedade.    

Ilustração 18 e 19 -  Portable  Classroom  of  the  Future,  em  Canden,  arquitecto  Gollifer  Langston  (Em  linha)  (consultado  em  20  de  Maio  
de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://golliferlangston.co.uk  >

Entende-­se  que  o  papel  dos  arquitectos  não  deve  reduzir-­se  às  questões  funcionais,  
mesmo  que  os  problemas  que  colocados  sejam  pouco  concisos  e  parciais,  reflectin-
do   uma   sociedade   contraditória   no   entendimento   das   suas   necessidades.   Segundo  
Norberg-­Schulz   (Rodrigues,   2010),   poucos   são   os   arquitectos   capazes   de   formular  
os   problemas   a   partir   das   incongruências   que,     a   maior   parte   das   vezes,   lhes   são  
apresentadas.  O  mesmo  autor  (Rodrigues,  2010)  refere  que  “Muitos  discutem  os  pro-
blemas  funcionais  porque  discordam  da  noção  de  modo  de  vida  desejável,  ou  porque  
não  conseguem  compreender  como  `modo  de  vida´  possa  ser  formulado  ou  `traduzi-
do´  por  uma  estrutura  arquitectónica.”  Independentemente  de  os  edifícios  e  projectos  
arquitectónicos  servirem  propósitos  práticos,  esta  necessidade  não  deve  descurar  a  
função  criadora  de  ambiente  da  arquitectura.  O  meio  influencia  o  Homem,  pelo  que  
o  objectivo  da  arquitectura  transcende  a  definição  que  lhe  foi  dada  pelo  primeiro  fun-
cionalismo.  Reitera-­se  a  perspectiva  de  Norberg-­Schulz  ao  sugerir  que  os  arquitectos  
não  trabalham  no  vazio.  As  soluções  que  alcançam,  emergem  do  ambiente  e  têm  um  
efeito  retroactivo.  

Apesar  de  todas  estas  considerações  serem  aplicáveis  à  vastidão  de  programas  con-

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tidos  no  âmbito  da  arquitectura,  considera-­se  a  sua  presença  particularmente  latente  
no  programa  das  escolas,  onde  a  morfologia  dos  edifícios  reforça  os  conteúdos  pro-
gramáticos  e  pedagógicos.

Ilustração 20 -  The  Apollo  Schools:  Montessori  Scholl  (1981-­1983),  em  Amsterdam,  arquitecto  Herman  Hertzberger  (2009,  p.156)

2.2. CURRÍCULOS EDUCACIONAIS, MODELOS PEDAGÓGICOS E A MORFOLOGIA DAS


ESCOLAS

Segundo  alguns  autores,  o  séc.  XX  foi  essencialmente  dominado  pelo  paradigma  car-
tesiano  do  primado  da  razão,  ideia  expressa  nas  palavras  de  Ricardo  Vieira  (Vieira,  
1999),  “do  elogio  da  razão  e  da  crítica  da  emoção.  Somos  todos  filhos  dessa  escola  
criada  por  Descartes,  à  volta  da  dúvida  metódica  e  do  primado  racionalista.  Viveu  en-
tre  1596  e  1650  mas  as  suas  ideias  mantiveram-­se  praticamente  intocáveis  e  de  pé,  
até  quase  ao  séc.  XX”.  Este  autor  explica  que  com  Descartes    é  reconhecido  o  modelo  

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científico  (no  singular),  a  objectividade,    a  definição  de  ciência.  

A  educação  em  geral,  a  pedagogia  escolar  e  a  ciência  foram  marcadas  pelo  “Discurso  
do  Método”.  No  início  do  séc.  XX,    a  educação  era,  fundamentalmente,  cognitivista  e  
pautada  pelo  racionalismo,  herança  do  século  anterior,  onde  se  descurava  a  relação  
professor   /   aluno,   segundo   a   terminologia   Ricardo   Vieira   (1999),   a   “educação   dos  
sentidos”,  o  “pensar  das    emoções”.  De  facto,  a  conclusão  final,  o  aluno  instruído,  era  
a  razão  de  ser  das  metodologias  aplicadas.  Os  processos  que  levavam  a  essa  apren-
dizagem  eram  secundarizados,  algo  desumanizados,  retirando  à  educação  o  seu  ver-
dadeiro  sentido  e  a  sua  amplitude.  Tal  como  Ricardo  Vieira  (1999)  explica,  “Era  a  di-
rectividade  versus  a  actividade  do  aluno  passível  de  ser  tornado  sujeito  da  sua  própria  
aprendizagem.”   Pedagogos   e/ou   investigadores   como   Dewey   (1858-­1952),   Montes-
sori  (1870-­1952),  Decroly  (1871-­1932),  Claparède  (1873-­1940),  Ferrière  (1879-­1952)  
e   Freinet   (1897-­1966)   eram   excepções   a   este   sistema   e   propuseram   alternativas   à  
estrutura  vigente,  numa  tentativa  de  abrir  os  processos  de  ensino,  apresentando  pe-
dagogias  mais  activas  para  os  seus  intervenientes.

O  séc.  XX  acrescenta  algumas  transformações  ao  modo  de  encarar  o  ensino  e,  con-
sequentemente,   à   morfologia   das   construções   escolares,   mas,   sobretudo,   introduz  
na  gramática  dos  métodos  de  ensino  /  aprendizagem,  ainda  que  de  forma  parca,  as  
emoções,   pedras   basilares   da   inteligência   emocional,   fundamentais   nos   processos  
de   assimilação   de   conhecimento   /   aprendizagem,   na   construção   da   memória   e   no  
desenvolvimento   das   relações   humanas.   Com   efeito,   esta   dinâmica   é   a   antítese   da  
divisão  do  conhecimento  em  objectividade  e  subjectividade,  de  qualquer  forma  o  todo  
terá  sempre  de  ser  mais  do  que  a  soma  das  partes,  e  isso  é  que  tornará  os  indivíduos  
mais  completos  enquanto  seres  em  cescimento  na  procura  do  conhecimento.  Apesar  
de  já  existir  uma  reflexão  sobre  o  factor  emoção,  é  o  primado  da  razão  que  impera  
no  decorrer  do  séc.  XX,  que  insiste  em  afastar  a  emoção  das  pedagogias  praticadas,  
recorrendo  ao  “  penso  logo  existo”  como  discurso  de  fundo.  António  Damásio  6  (1995)  
no  seu  livro  “O  Erro  de  Descartes  –  Emoção,  Razão  e  Cérebro  Humano”,  de  uma  for-
ma  transdisciplinar,  afirma  que  “emoção  e  razão  não  funcionam  isoladamente,  certos  
aspectos  do  processo  da  emoção  e  do  sentimento  são  indispensáveis  para  a  raciona-
lidade.“  e,  como  tal,  indissolúveis  do  sistema  ensino  /  aprendizagem.

6    
Médico  neurologista  e  neurociêntista  português,  Prémio  Pessoa  (  entre  outros).

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2.2.1. ESCOLAS SAUDÁVEIS PARA CRIANÇAS SAUDÁVEIS (HIGIENE E SAÚDE ESCOLAR)

2.2.1.1. EDIFÍCIOS SIGNIFICATIVOS NA HISTÓRIA DA ARQUITECTURA ESCOLAR DO SÉC. XX

Ilustração 21 -  Planta  da  The  Charlottenburg  Waldschule  (1904),  na  Alema-


nha,   arquitecto   Walter   Spickendorff   (Em   linha)   (consultado   em   01   de   Maio  
de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://thearchitectureofearlychildhood.
blogspot.pt/2011/05/open-­air-­schools-­in-­europe.html  >

Existem  algumas  experiências  no  âmbito  da  arquitectura  escolar  e  que  se  destacam  
no  panorama  histórico  ao    introduzirem  novos  modelos  pedagógicos,  importantes  na  
evolução  das  morfologias  dos  edifícios  escolares.  O  início  do  séc.  XX  foi  pautado  por  
preocupações  higienistas  que  acabaram  por  introduzir  alterações  à  configuração  das  
escolas   e,em   particular,   ao   espaço   da   sala   de   aula.   Foi   implementado   um   conjunto  
de   normas   que   regula   a   concepção   destes   espaços   e   que   procura,   com   mais   um  
factor  determinante  -­  a  saúde/higiene  -­,  fomentar  as  aprendizagens  das  crianças  em  
ambientes   saudáveis.   Este   esforço   de   melhoria   das   condições   físicas   dos   espaços  
escolares  manteve-­se  durante  todo  o  séc.  XX  e  estendeu-­se  ao  séc.  XXI.  As  primeiras  
preocupações  recaem  sobre  a  diminuição  das  doenças  infecto-­contagiosas,  desenvol-
vendo-­se  com  o  objectivo  de  melhorar  as  condições  de  habitabilidade  dos  espaços  e  
aumentar  o  seu  grau  de  conforto.  Acrescentam-­se  ainda  preocupações  acústicas,  com  
o  intuito  de  reduzir  o  ruído  que  vem  do  exterior  e  de  outras  áreas  que  comunicam  com  

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sala  de  aula.  Consequentemente,  aumentam  as  preocupações  ao  nível  da  tectónica,  
introduzem-­se  novos  métodos  construtivos,  novos  materiais  e  novas  formas  de  acaba-
mento,  opções  que  resultam  na  facilidade  de  limpeza  e  desinfeção,  e  no  aumento  da  
capacidade  de  arejamento  dos  edifícios.  A  aliar-­se  a  este  último  factor  está  o  aumento,  
em  número  e  em  proporção,  dos  vãos  envidraçados,  que  potenciam  a  entrada  de  luz.  
Introduzem-­se,  assim,  novas  premissas  para  a  arquitectura  escolar,  que  exigem  a  re-
visão  do  entendimento  dos  edifícios  em  questão.

Ao  longo  do  séc.  XX,    por  toda  a  Europa,  (Alemanha,  Inglaterra,  Dinamarca)  e  Esta-
dos  Unidos  da  América,  sobretudo  no  período  moderno  e  pós-­moderno  (revêem-­se  e  
criticam-­se   os   princípios   do   Movimento   Moderno,   acrescentando     pressupostos   es-
quecidos,   como   a   carga   social,   histórica   e   cultural),   edifícios   que   se   destacam   pelo  
seu  papel  expertimental  e  referencial  no  universo  da  arquitectura  escolar.  Assiste-­se  a  
uma  consolidação  da  arquitectura  escolar  enquanto  edifício  público  autónomo,  onde,  
segundo  Alfred  Roth  (1950,  p.30),  os  pressupostos  de  uma  nova  forma  de  pensar  a  
arquitectura   caminham   a   par   dos   princípios   de   uma   nova   pedagogia.   O   Congresso  
Internacional  de  Arquitectura  Moderna  (1928)  apresenta  os  novos  princípios  da  arqui-
tectura  moderna,  fundamentados  na  funcionalidade  e  na  racionalização  dos  espaços,  
e   que   assentam   nos   recentes   métodos   construtivos   e   na   aplicação   de   novos   mate-
riais.  

Ilustração 22 -  Weissenhofsiedlung,  modelo,  1927  (Rotterdam:  NAi  Pu-


blishers,  2007,  p.20)

Este  corte  com  a  tradição  e  o  academismo  reflecte-­se  nos  novos  edifícios  escolares  da  
segunda  e  terceira  décadas  do  séc.  XX,  com  um  carácter  experimental  direccionado  à  
procura  de  correspondência  entre  as  novas  pedagogias    e  os  espaços  de  ensino.  Por  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 69


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

exemplo,  as  escolas  alemãs  que  complementavam  os  novos  bairros  residenciais:  em  
Berlim  (1927)  pelo  arquitecto  e  urbanista  alemão  Bruno  Taut  (1980,1938);;  em  Frank-
furt   (1928)   por   Ernst   May   (1886,1979),   arquitecto   e   urbanista   alemão,   e   por   Franz  
Schuster   (1892,1972),   arquitecto   e   designer   de   mobiliário   austríaco;;   em   Hamburgo  
(1928)  por  Fritz  Shumacher  (1869,1947),  arquitecto  e  urbanista  alemão.  

Ilustração 23 -  Bairro  residencial  Alemão  em  Frankfurt  (1928),  arquitectos  Ernst  


May  e  Franz  Schuster  (Em  linha)  (consultado  em  05  de  Novembro  de  2011)  dis-
ponível  em  WWW:  <  URL:  http://vitruvius.com.br  >

Ilustração 24 -  Vista  aérea.  Groupe  Scolaire  Karl-­Marx,  Villejuif  (Val-­de-­Marne),  


bairro  residencial  Alemão  (Em  linha)  (consultado  em  12  de  Maio  de  2012)  dispo-
nível  em  WWW:  <  URL:  http://archiwebture.citechaillot.fr  >

Na  década  de  30,  em  Villejuif  (Val-­de-­Marne),  o  Groupe  Scolaire  Karl  Max  (1933),  do  
arquitecto  modernista  francês  André  Lurçat  (1894-­1970),  apesar  de  ter  como  base  um  
programa  que  correspondia  ao  modelo  de  ensino  tradicional,  consegue  inovar  através  
das  opções  arquitectónicas  que  toma,  juntamente  com  a  Corona  Elementary  School,  
do   arquitecto   austríaco   Richard   Neutra   (1892-­1970)   e   a   Crown   Island   School,   que  
resulta  de  uma  colaboração  entre  a  empresa  de  arquitectos  de  Chicago  Perkins,  Whe-
eler,  Will  e  os  arquitectos  finlandeses,  Eliel  Saarinen(1873-­1950)  pai  e  Eero  Saarinen  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 70


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

(1910-­1961)  filho,  ambas  nos  Estados  Unidos  da  América.

Ilustração 25 -  Corona  Avenue  School,  arquitecto  Richard  Neutra  (Em  


linha)  (consultado  em  09  de  Maio  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  
http://etsavega.net  >

Ilustração 26 -  Planta.  Corona  Avenue  School,  arquitecto  Richard  Neu-


tra  (Em  linha)  (consultado  em  09  de  Maio  de  2012)  disponível  em  WWW:  
<  URL:  http://etsavega.net  >

Ilustração 27 -   Desenho.   Corona   Avenue   School,   arquitecto   Richard  


Neutra  (Em  linha)  (consultado  em  09  de  Maio  de  2012)  disponível  em  
WWW:  <  URL:  http://etsavega.net  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 71


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 28 -  Crown  Island  School,  arquitectos  Perkins,  Wheeler,  


Will   e   Eero   Saarinen   (Em   linha)   (consultado   em   16   de   Maio   de  
2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://perkinswill.com  >

Ilustração 29 -   Planta.   Crown   Island   School,   arquitectos   Perkins,  


Wheeler,  Will  e  Eero  Saarinen  (Em  linha)  (consultado  em  16  de  Maio  
de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://perkinswill.com  >

Do  arquitecto  alemão  Walter  Gropius  (1863-­1969),  em  parceria  com  o  arquitecto  in-
glês  Maxuell  Fry  (1899-­1987),  destaca-­se  também  o  Impington  Village  College  (1936)  
em  Cambridge,  onde  se  estreitaram  as  relações  entre  a  escola  e  a  comunidade  em  
que  está  inserida,  prevendo  inclusive  uma  ala  para  a  educação  de  adultos.

Ilustração 30 -  Impington  Village  College  (1936),  arquitectos  Gro-


pius  e  Fry  (Em  linha)  (consultado  em  17  de  Maio  de  2012)  disponí-
vel  em  WWW:  <  URL:  http://architecture.com  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 72


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Neste   conjunto   de   edifícios   escolares   modernistas,   de   excelência,   demarcam-­se   as  


escolas  ao  ar-­livre,  que  sobressaem  pelas  inovadoras  soluções  tipológicas  e  pela  ra-
cionalidade   construtiva   (reiterada   pela   escolha   dos   materiais)   introduzida   pelo   Mo-
vimento   Moderno.   Segundo   Luigi   Romanini   (1963),   nesta   tipologia   destacam-­se   as  
premissas  higiénico-­sanitárias,  subjacentes  à  sua  concepção  e  ao  novo  método  peda-
gógico  e  didáctico,  com  base  na  educação  ao  ar  livre.  Os  princípios  inerentes  a  este  
novo  modelo  de  escola  assemelham-­se  aos  do  Movimento  da  Educação  Nova  porque,  
tal  como  refere  Maria  Alexandra  Alegre  (2009,  p.52),  centram  “o  processo  educativo  
na  criança,  baseados  no  resultado  de  investigações  na  área  da  psicologia  do  desen-
volvimento,  que  apelam  ao  estímulo  da  aptidão  da  criança  e  ao  seu  desenvolvimento  
pessoal,  através  da  uso  de  métodos  activos”.  Estas  escolas  surgem  na  sequência  das  
preocupações  em  torno  da  saúde  infantil,  desencadeadas  pela  emergente  tuberculo-
se,  pela  má  nutrição,  pela  anemia,  assuntos  debatidos  em  1904,  aquando  do  1º  Con-
gresso  Internacional  de  Higiene  Escolar,  realizado  em  Nurenberga,  Alemanha.  De  en-
tre  algumas  experiências,  destaca-­se  a  École  de  Plein  Air,  de  Suresnes,  exemplo  que,  
pela  sua  singularidade,  será  oportunamente  explorado  no  decorrer  deste  estudo.

Historicamente,   estas   escolas   progressistas,   que   privilegiam   a   aprendizagem   das  


crianças  através  do  seu  trabalho  e  das  suas  experiências  e  vivências  espaciais,  aca-
baram  por  estimular  uma  arquitectura  escolar  inovadora  e  modernista,  em  que  tam-
bém  os  seus  arquitectos  se  comprometem  com  a  ideia  de  transformação  e  mudança  
social.  As   escolas   anteriormente   referenciadas,   às   quais   poder-­se-­ia   acrescentar   a  
Eveline  Lowe  Primary,  em  Londres,  concebida  por  David  e  Mary  Medd,  entre  1964  e  
1966,  formalizam,  na  sua  estrutura  espacial  e  na  sua  morfologia,  padrões  de  lingua-
gem   arquitectónica   que   espelham   as   novas   teorias   sociais   de   educação   infantil   e   a  
relação  destas  com  o  meio  ambiente.  Nestes  projectos  observa-­se  uma  preocupação  
com   as   crianças   e   as   suas   necessidades,   bem   como   uma   colaboração   entre   arqui-
tectos  conscientes  das  novas  pedagogias,  educadores  inovadores  e  as  comunidades  
escolares,   destacando   a   figura   da   criança   para   a   concepção   e   materialização   dos  
ambientes  de  aprendizagem.  Apesar  das  soluções  serem  diversificadas,  há  uma  pre-
ocupação  holística  com  vários  aspectos:  as  diferentes  fases  de  desenvolvimento  das  
crianças;;  a  sua  escala/antropometria  para  a  criação  de  mobiliário  distinto,  consoante  
as  actividades  em  causa,  e  com  a  possibilidade  de  se  reorganizar  em  composições  
diferenciadas;;  a  transparência  dos  espaços;;  a  articulação  das  tecnologias,  ferramen-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 73


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tas  e  materiais  mais  actuais  com  o  ambiente,  acentuando  a  iluminação  natural  e  as  
relações  interior/exterior.

2.2.1.2. AS ESCOLAS ABERTAS AO EXTERIOR - ESCOLAS AO AR-LIVRE

“O  mais  poderoso,  o  mais  fácil  e  menos  dispendioso  dos  instrumentos  de  profilaxia  da  
tuberculose,  está  nas  ‘escolas  ao  ar  livre’.”  Prof.  Almeida  Garret  (Figueiredo,  1922,  p.14)

“A   primeira   das   forças   educadoras   é   a   natureza;;   o   seu   contacto   directo   com   a   criança  
obtém-­se  com  as  ‘escolas  ao  ar  livre’.”  De  l`Éducation  Nouvelle  (Figueiredo,  1922,  p.14)

Como   já   foi   referido,   os   modelos   de   escolas   ao  Ar-­Livre   fundamentam-­se   em   pres-


supostos   formais,   que   procuram   garantir   a   saúde   e   a   higiene   escolar   das   crianças,  
em   conjunto   com   as   novas   metodologias   pedagógico-­didácticas,   que   muito   se   as-
semelham  aos  princípios  do  MEN  (Movimento  de  Educação  Nova),  por  centrarem  o  
processo  de  aprendizagem  na  criança.  Na  Europa,  na  primeira  metade  do  séc.  XX,  as  
preocupações  médicas,  pedagógicas  e  arquitectónicas  centraram-­se  na  prevenção  e  
no  combate  à  tuberculose.  Deste  modo,  educadores,  médicos  e  arquitectos  juntavam-­
se,  com  propósitos  comuns,  em  debates  em  torno  da  morfologia  das  escolas  e  das  
condições  que  estas  ofereciam  à  criança  durante  o  seu  processo  de  aprendizagem.    
Segundo  Anne-­Marie  Châtelet  (2003),  na  primeira  metade  do  séc.  XX,  realizaram-­se  
cinco  congressos:  o  primeiro  em  França,  em  1922;;  na  Bélgica,  em  1931;;  na  Alemanha,  
em  1936;;  em  Itália,  em  1949;;  e,  por  último,  na  Suíça,  em  1953,  independentemente  
do  regime  político  vigente,  da  guerra  e  das  sucessivas  crises  políticas  e  económicas,  
revelaram-­se   o   lugar   de   excelência   para   os   debates   contemporâneos.  A   par   destes  
congressos   surgiram   exposições   internacionais   e   viagens   intercontinentais   que   fun-
cionavam   como   troca   de   conhecimentos   entre   os   seus   intervenientes.   No   início   do  
séc.  XX,    uma  publicação  reuniu  artigos  redigidos  em  mais  do  que  um  idioma  (Inglês,  
Alemão  e  Francês),  A International Magazine of School Hygiene,  aumentando  assim  
o  seu  alcance.

Em  finais  do  séc.  XIX,  com  o  médico  e  higienista  alemão  Adolf  Baginsky  (1881),  surge  
o  primeiro  plano,  não  construído,  de  uma  escola  ao  ar  livre.  Esta  escola  serviria  a  cida-
de  de  Berlim  e  o  seu  público  alvo  seriam  as  crianças  debilitadas  e  com  necessidades  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 74


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

de  acompanhamento  médico.  Mais  tarde,  já  no  início  do  séc.  XX,  todas  estas  crianças  
alemãs,  por  serem  portadoras  de  tuberculose,  anemia,  ou  simplesmente  por  estarem  
mal  nutridas,  foram  reunidas  em  classes  independentes  e  com  uma  supervisão  médi-
ca.  A  sua  educação  passou  a  conciliar  uma  boa  alimentação  com  o  exercício  físico  e  
o  ar  livre.  Surgiu,  assim,  em  1904,  em    Charlottenburg,  a  três  quilometros  de  Berlim,  
a   primeira   escola   ao   ar   livre,   como   Maria  Alexandra  Alegre   (2009,   p.52)   menciona,  
Waldschulen,  ou  Escola  na  Floresta.  A  escola  funcionava  em  regime  de  externato  para  
249  crianças,  que  a  frequentavam  durante  o  período  da  manhã  e,  à  tarde,  regressa-
vam  às  suas  famílias.

Ilustração 31 -  Pavilhão  de  aulas  de  uma  waldschule,  com  cobertos  onde  as  crianças  recebiam  as  suas  refeições  (Em  linha)  (consul-
tado  em  19  de  Maio  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://thearchitectureofearlychildhood.blogspot.com  >

Harald  Ludwing  (2003)  afirma  que  este  modelo  de  escola  alemão,  entre  1907  e  1918,  
acabaria   por   se   multiplicar   noutros   países   como   a   França,   a   Suíça,   a   Inglaterra,   a  
Itália,  a  Argentina,  o  Uruguai,  os  Estados  Unidos  da  América,  a  Espanha  e  a  Hungria,  
tornando-­se  numa  experiência  da  arquitectura  escolar  com  reconhecidos  contributos  
para   educação   infantil,   ao   complementar   o   ensino   com   as   mais   valias   do   meio   am-
biente  natural.  Com  efeito,  e  citando  Leonard  Ayres  (Alegre,  2009,  p.  53),  esta  escola  
surge  referenciada  na  época  e  em  estudos  posteriores  como  sendo  um  grande  passo  
em  direção  à  escola  do  futuro.  Nos  primeiros  20  anos  do  séc.  XX,  havia  um  elevado  
número  de  escolas  ao  ar-­livre  a  serem  construídas,  tanto  na  Europa  como  na  América;;  
mas,  em  Portugal,  só  se  conhece  uma  escola  ao  ar-­livre,  em  Tomar,  datada  de  1913.    
Apesar   do   governo   ter   decretado   a   construção   deste   modelo   de   escolas   em   1911,  
não  se  conhecem  mais  construções  neste  âmbito,  para  além  da  referenciada,  o  que  
faz  de  Portugal  um  dos  poucos  países  onde  só  se  construiu  uma  dessas  escolas.  No  
início   do   século,   em   Tomar   residiam,   na   sua   maioria,   famílias   pobres   de   operários,  
que  sobreviviam  em  péssimas  condições  de  higiene,  muitas  das  quais  habitavam  as  
instalações   das   fábricas   onde   trabalhavam,   sem   quaisquer   condições   para   criar   os  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 75


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filhos.  A  edificação  desse  projecto  ficou  a  cargo  do  professor  Vidal  Oudinot.  Graças  ao  
seu  empenho  e  coordenação,  foram  desenvolvidas  actividades  para  as  crianças  que,  
em  conjunto  com  os  professores,  experimentavam  o  contacto  com  a  natureza,  a  par  
das  aulas  ao  ar-­livre  e  dos  passeios,  em  complemento  das  aulas  práticas.  Um  aspecto  
interessante  mencionado  por  Camilo  Augusto  Figueiredo  (1922,  p.61)  prende-­se  com  
o  reconhecido  pouco  peso  das  carteiras/cadeiras  escolares  articuladas,  que  não  ultra-
passavam  os  3  kilos,  para  serem  facilmente  desmontadas/montadas  e  transportadas  
pelas  crianças  nos  percursos  entre  o  interior  e  o  exterior  da  escola,  conforme  se  pode  
consultar  na  ilustração  32.  A  escola  de  Tomar  funcionou  durante  o  ano  de  1913,  em  
regime  de  externato,  com  reconhecidos  resultados  médico-­pedagógicos,  não  diferen-
ciando   ricos   de   pobres,   por   ter   subjacente   à   sua   prática   um   espírito   de   verdadeira  
solidariedade,  transversal  a  todas  as  escolas  ao  ar  livre.

Ilustração 32 -  Crianças  a  transportar  as  carteiras  na  Escola  ao  Ar  Livre  de  To-
mar  (1913)  (Alegre,  2009,  p.54)

A  discussão  em  torno  das  escolas  ao  ar  livre  passa  pela  definição  dos  pressupostos  
arquitectónicos  reguladores  destas  estruturas,  inicialmente  baseados  nos  experimen-
tados  sanatórios7,  que  visam  garantir  a  renovação  do  ar  de  uma  forma  natural,  me-
diante  a  circulação  transversal  do  ar  do  exterior,  em  todos  os  espaços  de  permanên-
cia  das  crianças.  Segundo  Maria  Alexandra  Alegre  (2009,  p.54),  associados  a  estas  
preocupações  estão  aspectos,  como:    a  correcta  orientação  solar  das  construções,  a  
necessidade  de  benfeitorias  no  aquecimento  e  na  iluminação  dos  compartimentos  e,  
eventualmente,  o  passar  das  distribuições  horizontais  e  verticais  para  o  exterior  dos  
edifícios.  Tais  preocupações  remetem,  de  novo,  para  os  primeiros  30  anos  do  séc.  XX  

7    
O  arquitecto  de  Nova  York,  John  H.  Van  Pelt,  participa  na  conferência  em  Buffalo    no  ano  de  1913)  e  
propõe  soluções  arquitectónicas  para  os  edifícios  ao  ar  livre,  baseados  nos  sanatórios.

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,   quando   parte   destas   escolas   situava-­se   em   edifícios   pré-­existentes,   alterados   em  


função  dos  princípios  inerentes  a  estas  entidades  (o  mais  frequente  era  deitar  abaixo  
uma  ou  outra  parede  das  salas  de  aula,  transformando-­a  em  janela  na  totalidade  do  
pé  direito,  para  permitir  a  abertura  para  as  lições  ao  ar  livre),  ou  em  tendas  colocadas  
em  forma  de  acampamento  e  adaptadas  ao  efeito  num  qualquer  bosque  ou  parque  
com  franca  acessibilidade  (de  forma  a  garantir  o  transporte  das  crianças  de  regres-
so   às   cidades   ou   vilas).  A   propagação   destas   construções   resulta   da   sequência   de  
exposições,  divulgações  e  congressos  em  torno  do  tema,  como  o  realizado  em  Paris  
(1922),  que  funcionou  como  um  impulso  de  relevo  para  a  implementação  e  multiplica-
ção  destes  modelos  em  França  e  nas  comunidades  internacionais.  Mesmo  com  todas  
estas  recomendações,  o  modelo  tradicional  de  composição  do  espaço  da  sala  de  aula  
(acedido  por  um  corredor  de  distribuição,  indexado  apenas  a  um  dos  lados)  manteve-­se:  
os  alunos  eram  organizados  em  filas,  no  sentido  da  mesa  do  professor,  recebiam  a  ilu-
minação  natural  pelo  seu  lado  esquerdo  e  tinham  a  possibilidade  de  contactarem  com  
o  exterior.  Aos  programas  foram  acrescidas  funções  complementares  como  espaços  
de  repouso  interior  e  exterior,  oficinas,  espaços  para  a  prática  de  ginástica,  refeitórios  
(a  maior  parte  no  exterior,  salvaguardados  apenas  com  um  coberto),  terraços    e/ou  
varandas,  bem  como  jardins.

Ilustração 33 -  Refeitório  da  Rochester  Open  Air  School  (Em  linha)  (consultado  
em   19   de   Maio   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   http://encore-­editions.
com >

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Ilustração 34 -  Hora  da  sesta  em  Percy  Steet  Special  School,  Wyndford  (1916)  
(Em   linha)   (consultado   em   20   de   Maio   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:  
http://theglasgowstory.com  >    

Ilustração 35 -  Aulas  a  decorrerem  no  terraço  de  uma  Open  Air  Scholl  (Em  linha)  
(consultado  em  19  de  Maio  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://encore-­
editions.com  >

A   evolução   nos   métodos   construtivos   e   as   opções   ao   nível   dos   materiais   escolhi-


dos   revelaram-­se   fundamentais   para   melhorar   as   condições   de   habitabilidade   face  
às  instabilidades  climáticas  (destaca-­se  a  questão  do  aquecimento,  pertinente  nestes  
espaços  pela  vincada  relação  com  o  exterior).  O  desenho  do  mobiliário  e  o  domínio  
da  iluminação  funcionavam  como    instrumentos  igualmente  importantes  no  desenrolar  
do  processo  de  aprendizagem  que  decorria  nestas  escolas.  A  facilidade  de  constru-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 78


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ção   destes   edifícios   advinha,   na   maior   parte   dos   casos,   do   uso   do   betão   armado,  
das  estruturas  metálicas,  de  acabamentos  que  permitiam  uma  melhor  manutenção  da  
higiene  (pelo  facto  de  serem  laváveis  e  resultarem  em  superfícies  lisas)  e  da  prefabri-
cação  e  normalização  de  grande  parte  dos  elementos  que  as  constituíam.  Entretan-
to  levantaram-­se  questões  em  torno  dos  lugares  da  sua  implantação,  procurando-­se  
terrenos   afastados   dos   centros   urbanos,   sem   deixar   de   garantir   um   rápido   acesso  
e   a   predominância   de   massa   arbórea.   O   facto   das   relações   com   o   exterior   serem  
uma  condicionante  para  a  melhoria  do  estado  de  saúde  das  crianças  (preocupação  
subjacente  a  este  modelo  de  escola)  fazia  com  que  os  terrenos  verdes  e  arborizados  
fossem  encarados  como  espaços  de  eleição.

Ilustração 36 -  Crianças  a  almoçar  no  exterior  da  Open  Air  School,  em  
Londres  (Em  linha)  (consultado  em  27  de  Maio  de  2012)  disponível  em  
WWW:  <  URL:  http://encore-­editions.com  >

O   rebentar   da   2ª   Guerra   Mundial   (1939-­1945),   no   final   da   década   de   30,   interferiu  


com  o  desenvolvimento  e  a  implementação  destes  modelos,  mas  segundo  Maria  Ale-
xandre  Alegre,  o  movimento  de  educação  ao  ar  livre  não  se  extinguiu.  Em  ambiente  
de   pós-­guerra,   por   intermédio   da   Swiss Foundation ProJuventute e do International
Committee for Open-Air Schools, realizou-se o V Congresso Internacional de Edifícios
Escolares e Educação ao Ar-Livre  (1953),  em  Zurique,  em  conjunto  com  uma  expo-
sição   no   Kunstgewerbemuseum,   “Das neue Schulhaus”.   Tal   como   Maria  Alexandre  
Alegre  (2009,  p.58)  refere,  foi  então  vincada  a  interdisciplinaridade  destes  edifícios  e  
definiram-­se   três   funções:   “a   função   fisiológica-­regenerativa,   em   que   as   actividades  
lectivas   e   físicas   realizadas   no   exterior   se   revelavam   de   extrema   importância   para  
o   crescimento   físico,   mental   e   moral   da   criança;;   a   função   didáctica,   que   permitia   a  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 79


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

observação  da  natureza  e  o  ensino  da  ciência;;  o  tratamento  paisagístico,  contribuin-


do  para  a  educação  visual  da  criança  e  para  a  harmonia  do  edifício.”  A  implantação  
destes  edifícios,  como  foi  referido,  reitera  os  princípios  de  relação  com  o  sol  e  com  a  
natureza,  enunciados  em  1933,    na  Carta  de  Atenas.

No  pós-­guerra,  os  princípios  universalistas  defendidos  pelo  Movimento  Moderno  fo-


ram   postos   em   causa   e   retomaram-­se   as   preocupações   com   as   relações   entre   o  
objecto  arquitectónico  e  o  lugar  (e  naturalmente  com  a  sua  história),  bem  como  com  a  
cultura  própria  da  comunidade  em  questão.  Os  exemplos  mais  paradigmáticos  são  as  
escolas  inglesas,  a  escola  de  Arne  Jacobson,  Escola  de  Munkegaard  (1951/1958);;  na  
Dinamarca,  uma  tipologia  inovadora,  como  se  pode  verificar  na  ilustração  37;;  as  es-
colas  na  Alemanha,  projectadas  por  Sharoon  (1950/60),  que  se  baseavam  nas  teorias  
organicistas  de  Hugo  Haring,  desenhando  uma  hierarquia  na  distribuição  relacionada  
com  as  várias  fases  de  crescimento  da  criança  e  as  suas  necessidades  (iniciava-­se  
do  grau  de  ensino  mais  baixo  para  o  mais  alto),  ilustração  38;;  e  a  escola  de  Herman  
Hertezberger,  em  Delft,  a  Escola  de  Montessori  (1960/1966),  onde  os  princípios  de  hu-
manização  dos  espaços  eram  intrínsecos  às  opções  arquitectónicas,  visando  a  inte-
gração  das  crianças,  ilustração  39.  Todas  estas  escolas  consideravam  a  sala  de  aula  
como  célula  base  do  processo  educativo,  preocupavam-­se  porém  em  redesenhá-­la,  
experimentando  a  sua  agregação  em  estruturas  diversas,  onde  outros  espaços  lecti-
vos  assumiam  papéis  de  relevo.  As  relações  entre  os  elementos  do  programa  surgi-
ram  de  uma  forma  inovadora,  transformando  aqueles  que  anteriormente  eram  apenas  
espaços  de  distribuição  em  espaços  de  convívio  e  de  reunião.

Ilustração 37 -  Munkegaard  School.  Salas  de  aula  organizadas  em  tor-


no  de  pátios  (Em  linha)  (consultado  em  28  de  Maio  de  2012)  disponível  
em  WWW:  <  URL:  http://peterbrown.typepad.com   >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 80


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 38 -   Darmstadt   School   (1951)   na  Alemanha,   arquitecto   Hans   Scha-


roun  (Em  linha)  (consultado  em  26  de  Fevereiro  de  2012)  disponível  em  WWW:  
<  URL:  http://babylonreloaded.blogspot.com >

Ilustração 39 -  Montessori  School  (1960-­66)  em  Delft,  arquitecto  Herman  Hert-


zberger  (2008,  p.31)

2.2.1.3. O EXEMPLO DA ÉCOLE DE PLEIN AIR DE SURESNES - ENQUADRAMENTO HISTÓRICO


E SOCIAL DA ARQUITETURA ESCOLAR FRANCESA - CONTEXTOS PARA O SURGIMENTO DA ÉCOLE

DE PLEIN AIR, EM SURESNES

Ao  longo  de  vários  séculos,  a  arquitectura  escolar  francesa,  tal  como  a  portuguesa,  
cingia-­se   à   casa   do   professor.   Na   antiguidade,   espaços   exteriores   como   os   jardins  
também  serviam  esta  função.  Seguiram-­se  os  mosteiros  como  refúgio  maior  do  en-
sino.  A  partir  do  séc.  XV,  os  espaços  de  ensino  começaram  a  autonomizar-­se.  Entre  
os  séc.  XV  e  XIX,  os  lugares  de  ensino  mantiveram-­se,  prevalecendo  a  Igreja  como  
entidade  predominante  de  todo  sistema.  No  entanto,  como  refere  Cavalcanti  e  Gas-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 81


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

parello  (Cavalcanti  e  Gasparello,  s/d),  no  início  do  séc.  XIX,  a  Europa  foi  cenário  da  
implementação  de  diferentes  propostas  pedagógicas,  que  procuravam  consolidar  um  
modelo  educativo.  Em  França,  Victor  Cousin  (educador,  filósofo,  historiador  e  membro  
do  Conselho  de  Instrução  Pública)  foi  incumbido  de  estudar  e  produzir  um  relatório  so-
bre  o  sistema  de  educação  pública  vigente  na  Alemanha  e,  em  particular,  na  Prússia.  
Cousin  trouxe  o  conceito  das  Burgerschullen,  escolas  burguesas  que  intercalavam  o  
ensino  primário  (denominado  no  sistema  francês  como  elementar)  e  o  ensino  secun-
dário.  A  ideias  que  o  educador  e  filósofo  construiu,  após  a  sua  viagem,  serviram  de  
fundamento  para  a  lei  da  reforma  da  educação  primária  francesa,  em  1833.

Neste  sentido,  a  lei  de  Guizot   8,  votada  a  28  de  Junho  de  1833,  funcionou  como  um  
contributo,   muito   importante,   para   o   desenvolvimento   e   a   expansão   do   ensino   em  
França,  com  repercussões  nos  outros  países.  Esta  lei  exigia  que  cada  município  com  
mais  de  500  habitantes  garantisse  a  construção  de  uma  escola  primária  para  rapazes  
e   o   respectivo   professor   (casa-­escola).   É   interessante   referir   que,   inicialmente,   pro-
fessores  e  alunos  se  mantiveram  nas  instalações  existentes,  começando  a  uniformi-
zar-­se  um  padrão  construtivo,  após  as  premissas  estabelecidas.  A  implementação  de  
escolas  para  formação  de  professores  deste  nível  de  ensino  associou-­se  a  todo  este  
processo,  bem  como  a  manutenção  do  ensino  pela  Igreja  e  a  legalização  dos  esta-
belecimentos  de  ensino  privados.  Mais  tarde,  outras  leis  transformariam  o  sistema  de  
ensino  francês,  como  por  exemplo,  a  lei  Falloux  9  e  a  lei  Ferry  10.    

Segundo  Cavalcanti  e  Gasparello  (Cavalcanti  e  Gasparello,  s/d),  em  1830,  os  france-
ses  implementaram  um  sistema  de  recolha  das  crianças  que  ficavam  na  rua,  enquanto  
os  pais  trabalhavam,  e  acolhia-­as  em  asilos  ou  casas  de  asilo.  Em  1848,  com  o  apare-
cimento  da  escola  maternal,  que  prestava  assistência  a  crianças  com  idades  compre-
endidas  entre  os  2  e  os  6  anos  (utilizando  métodos  inovadores),  este  sistema  sofreu  

François  Guizot,  detentor  da  Grand-­croix  de  la  Légion  d’honneur,  professor  na  Sorbonne,  foi  também  
8    

político  e  ocupou,  entre  outros  cargos,  o  de  Primeiro  Ministro  e  de  Ministro  da  Instrução  Pública.  Fez  votar  
a  lei  Guizot,  sustentada  nos  estudos  de  Victor  Cousin,  que,  mais  tarde,  também  viria  a  ocupar  o  cargo  de  
Ministro  da  Instrução  Pública.

9    
Alfred    Falloux,  político  francês,  legitimista  e  clerical,  que  foi  Ministro  da  Educação  em  1848  e  que  fez  
votar,  em  1850,  uma  lei  que  entregava  a  instrução  pública  aos  clericais,  sob  o  pretexto  da  liberdade  de  
ensino.

Jules  Ferry,  advogado,  jornalista  e  político  francês,  foi  duas  vezes  Primeiro  Ministro  de  França.  Era  um  
10    

republicano,  maçom,  anticlerical,  que  tornou  a  escola  francesa  laica  e  republicana,  e  que  tornou  o  ensino  
primário  gratuito  (1881)  e  obrigatório  (1882),  abrindo  colégios  e  liceus  para  raparigas.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 82


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

uma  renovação.  Em  1850,  surgiu  uma  lei,  conhecida  como  sendo  a  lei  de  Falloux,  que  
fazia  a  distinção  entre  o  ensino  público,  da  responsabilidade  das  autarquias  ou  do  Es-
tado,  e  o  ensino  privado,  ao  qual  era  conferida  plena  liberdade,  obrigando  as  câmaras  
com  mais  de  800  habitantes  a  construir  uma  escola  para  raparigas.  Essa  lei  favorecia  
o  ensino  católico  nas  escolas  primárias,  sendo  a  principal  causa  da  sua  revogação.  De  
acordo  com  Cavalcanti  e  Gasparello  (Cavalcanti  e  Gasparello,  s/d),  a  Liga  Francesa  
de  Ensino  surgiu  pela  mão  de  Jean  Macé   11,  que  procurou  reunir  o  maior  número  de  
voluntários   por   uma   única   causa:   uma   educação   pública   para   todos.  A   Liga   lançou  
ainda  uma  petição,  que  visava  uma  educação  gratuita  e  obrigatória,  sem  qualquer  tipo  
de  interferência  ou  controlo  por  parte  da  Igreja.  

Com  o  intuito  de  aumentar  a  salubridade  e  as  condições  de  segurança  no  interior  dos  
espaços  da  sala  de  aula,  surgiu,  em  1858,  uma  circular  ministerial  que  estipulava  as  
dimensões   espaciais   ideiais   para   cada   aluno   (um   metro   quadrado   e   quatro   metros  
cúbicos  por  aluno)  e  previa  que  as  construções  que  se  enquadrassem  nestas  premis-
sas  receberiam  o  apoio  financeiro  do  estado.  Durante  a  terceira  República  Francesa  
a  educação  tornou-­se  uma  prioridade.  A  “Commission  des  bâtiments,  lycées  et  collè-
ges”  surgiu,  orientada  pelo  ministro  Jules  Ferry  que,  com  a  colaboração  dos  docentes,  
procurava  resolver  as  questões  subjacentes  à  estrutura  das  escolas.  O  objectivo  era  
homogenizar  o  espaço  escolar  e  dar  cumprimento  às  regras  de  segurança,  de  higiene  
e  de  composição,  previamente  definidas  pela  Comissão.  O  final  do  séc.  XIX  revelou-­se    
muito   enriquecedor   em   termos   de   elaboração   de   documentos,   que   visavam   regula-
mentar  as  construções  escolares.  Na  transição  de  século,  a  rigidez  desses  espaços  
aproximava-­se  das  estruturas  dos  conventos  e  dos  quartéis,  porque,  tal  como  afirma  
Werebe   (2004),   procurava-­se   conter   as   “espontaneidades   perigosas”   das   crianças.  
Além  da  aprendizagem,  a  arquitectura  escolar  tinha  como  objectivo  garantir  que,  no  
interior  do  espaço  escolar,  todas  as  crianças  fossem  controladas  e  vigiadas,  desde  o  
momento  em  que  entravam  no  recinto  da  escola.  Este  espaço  era  limitado  por  muros,  
com  uma  escala  de  alguma  relevância,  a  fim  de  isolar  as  crianças  do  contacto  com  o  
exterior.  O  número  de  entradas  era  reduzido  e  os  espaços  comuns  encontravam-­se  
perfurados   por   vãos,   garantindo   a   continuidade   da   supervisão,   independentemente  
da  localização  dos  alunos.  Os  edifícios  denotam  um  certo  puritanismo,  revelado  por  

11
Jean  Macé,  jornalista  francês,  maçom  e  professor,  que  procura  uniformizar  e  difundir  a  educação,  lutan-
do  por  uma  da  escola  gratuita,  obrigatória  e  laica.  Foi  eleito  senador  vitalício,  em  1883.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 83


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

alguma  austeridade  arquitectónica.

Segundo  Cavalcanti  e  Gasparello  (Cavalcanti  e  Gasparello,  s/d),  com  a  aprovação  das  


leis  de  Ferry  foram  instituídas  as  escolas  maternais,  e  a  Liga  Francesa  conquistou  um  
estatuto   jurídico   que   lhe   permitiu,   entre   outras   coisas,   organizar-­se   em   federações,  
que   continuaram   empenhadas   na   busca   por   uma   educação   para   todos.   Em   1881,  
o  ministro  da  educação  Jules  Ferry  estabeleceu  a  escola  gratuita,  seguindo-­se  uma  
nova   lei   que,   em   Março   de   1882,   laicizava   definitivamente   a   educação   e   a   tornava  
obrigatória  para  crianças  com  idades  compreendidas  entre  os  3  e  os  6  anos  de  idade.  
Surgiu,  assim,  um  sistema,  em  que  a  escola  civil  substituía  a  escola  religiosa,  e  que  
serviu  de  base  ao  ensino  público  francês,  tal  como  hoje  se  apresenta.

Ilustração 40 -  Aula  de  lavores.  École  de  Plein  Air  du  Château  d´Aux  (Em  linha)  (consultado  em  15  
de  Fevereiro  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://icem-­pedagogie-­freinet.org >

A  sociedade  francesa  e  em  particular  os  professores,  encarados  como  base  de  todo  
o  sistema  implementado,  acreditavam  que  o  progresso  social  era  desencadeado  atra-
vés  da  escola  e,  a  partir  do  momento  em  que  todos  tinham  acesso  à  educação,  esta  
tornava-­se  uma  entidade  cujo  objectivo  reflectia  uma  sociedade  igualitária.  Tal  premis-
sa  manteve-­se  presente  nos  ideiais  dos  governantes  franceses,  no  início  do  séc.  XX,  
mais   precisamente   na   década   de   30.   Durante   este   período,   em   França,   assistiu-­se  
a   uma   ascenção   do   ensino   técnico   e   das   instituições   especializadas,   facto   que,   na  
perspectiva  dos  políticos,  encaminharia  os  estudantes  directamente  para  o  mercado  
de  trabalho.              

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 84


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Ilustração 41 -  Aula   na   escola   de   Suresnes   (Em   linha)   (consultado   em   02   de  


Fevereiro   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   http://postalesinventadas.blo-
gspot.com >

Entre  1931  e  1935,  o  município  de  Suresnes  desenvolveu,  em  território  francês,  uma  
experiência  pedagógica  sem  precedentes,  com  a  construção  de  uma  escola  primária  
“Plein  Air”  (referida  por  Daprey  (2009))  ou  “Open  Air  School”  (referida  por  Hertzberger  
(2008)),  designação  inglesa  para  o  mesmo  tipo  de  construção.  

No  entanto,  o  aparecimento  deste  edifício  não  foi  um  acto  isolado  no  contexto  inter-
nacional,   tendo   ocorrido   outras   duas   experiências   de   relevo.   Uma   experiência   foi   o  
projecto,  para  concurso,  de  uma  escola  feminina  no  centro  histórico  de  Basileia,  na  
Suíça,  dos  arquitectos  Hans  Wittwer  e  Hannes  Meyer,  em  1926,  denominado  de  Pe-
tersschule;;  a  outra  foi  a  Escola  ao  ar  livre  na  Cliostraat,  em  Amsterdão,  na  Holanda,  
um  projecto  desenvolvido,  entre  1927e  1930,  no  interior  de  um  quarteirão,  pelos  arqui-
tectos  Johannes  Duiker  e  Bernard  Bijvoet.

Petersschule  ganhou  esta  designação  por  se  encontrar  próxima  da  Igreja  de  São  Pe-
dro,  e  é  considerada  um  dos  ícones  da  Arquitectura  Moderna.  Nomeadamente,  o  autor  
Hertzberger  (2001)  sublinha  a  sua  modernidade,  desenvoltura  nas  opções  construti-
vas  e  ousadia  do  seu  desenho,  ao  procurar  responder  de  uma  forma  inovadora  aos  
princípios   pedagógicos.   Este   projecto   distinguia-­se   pela   forma   como   desenhava   os  
espaços  exteriores  das  crianças,  em  plataformas  elevadas  e  comunicantes  entre  si,  
que  permitiam  libertar  o  piso  térreo  para  o  espaço  público  e  para  a  cidade.  Por  se  lo-
calizar  num  lote  de  pequenas  dimensões,  no  centro  da  cidade,  distribuiu-­se  em  altura  
por   cinco   pisos.   Segundo   Frampton   (2003),   este   projecto   é   uma   materilização   das  
intenções  anti-­monumentalistas  e  funcionalistas  dos  seus  autores.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 85


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Logo  após  a  divulgação  do  movimento  das  escolas  ao  ar  livre,  no  final  de  1920,  os  
arquitectos  Johannes  Duiker  e  Bernard  Bijvoet  foram  contratados  para  desenhar  pro-
tótipos   de   escolas   saudáveis   para   crianças   saudáveis,   a   implementar   em   terrenos  
rurais   e   urbanos.   Daí   resultou   o   projecto   da   escola   de  Arnhemse   Buitenschool,   em  
1930,  que  apesar  de  não  ter  sido  construído  ficou  como  referência  no  contexto  das  
escolas  ao  ar  livre  holandesas,  por  prever  a  frequência  e  o  tratamento  de  crianças  do-
entes  em  simultâneo  com    a  sua  instrução.  Já  o  projecto  inicial  da  Escola  ao  ar  livre,  
na  Cliostraat,  não  tinha  uma  localização  específica.  O  local  escolhido  acabou  por  ser  o  
interior  de  um  quarteirão,  no  centro  de  Amesterdão,  e  pelo  facto  de  se  localizar  numa  
área   urbana   densa,   o   edifício   cresceu   em   altura,   com   algumas   condicionantes   eco-
nómicas  (consequência  das  opções  construtivas  e  das  necessidades  de  garantir  uma  
óptima  habitabilidade).  Mas,  segundo  Hertzberger  (2001),  o  objectivo  de  tornar  esta  
construção  uma  escola  saudável,  baseada  na  luz,  na  higiene,  nas  entradas  de  ar,  com  
uma  organização  e  distribuição  espacial,  amplas  aberturas  para  os  espaços  das  salas  
de  aula  em  forma  de  pentágono  e  a  conjugação  de  generosos  terraços,  aspectos  que  
traziam  leveza  a  este  edifício  de  três  pisos,  conotado  como  um  “palácio  de  vidro”.    Na  
perspectiva   de   Taverne   e   Broekhuizen   (2003,   p.155),   a   relação   com   a   comunidade  
conseguia-­se  pela  transparência  do  edifício  e  pela  forma  como  o  corpo  de  entrada  se  
enunciava  e  relacionava  com  a  rua.  

Ilustração 42 -  Petersschule(1926),  em  Basileia,  Sui-


ça,  arquitectos  Meyer  e  Hannes  (Em  linha)  (consulta-
do  em  18  de  Junho  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  
URL:  http://bauhaus-­online.de >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 86


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Ilustração 43 -  Escola  ao  ar  livre  na  Cliostraat  (1927-­1930),  em  Amsterdão,  
Holanda,  arquitectos  Duiker  e  Bijvoet  (Em  linha)  (consultado  em  19  de  Junho  
de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://eng.archinform.net >

A  École  de  Plein  Air  de  Suresnes,  da  autoria  de  Eugène  Beaudouin  e  de  Marcel  Lods,  
localizada  no  Bois  de  Boulogne  (a  oeste  de  Paris),  é  uma  construção  de  betão,  ferro  e  
vidro,  que  pode  acomodar  até  350  crianças,  estando  inserida  num  parque  natural  de  
grande  extensão.  Esta  escola  acolhia  crianças  entre  os  4    e  os  16  anos  de  idade,  que  
por  serem  enfermas  não  podiam  frequentar  as  outras  escolas  do  ensino  público  da  co-
munidade.  Daí  que,  segundo  Maria  Alexandra  Alegre  (2009,  p.120),  a  sua  morfologia  
procurasse  conciliar  os  cuidados  médicos  necessários  com  as  práticas  pedagógicas  
e  sanitárias  inerentes  às  novas  metodologias  de  ensino,  transformando-­se  assim  num  
objecto  arquitectónico  de  referência.  

Trata-­se  de  uma  construção  com  um  edifício  principal,  com  três  momentos  distintos,  
e  oito  volumes  independentes,  com  uma  frente  virada  a  sul,  interligados  entre  si  por  
galerias  cobertas.  Cada  um  dos  espaços  de  aprendizagem  está  contido  entre  três  pa-
redes  de  vidro,  deslizantes,  permitindo  uma  total  circulação  de  ar  e  uma  permanente  
entrada  da  luz.  Estes  espaços  têm,  ainda,  como  particularidade  o  facto  de  ser  possível  
aceder   às   respectivas   coberturas,   transformadas   em   solário,   através   do   desdobra-
mento  em  altura  das  galerias  de  distribuição.  As  aulas  de  educação  física  decorrem  no  
exterior  e  os  momentos  de  descanço,  como  por  exemplo  a  sesta,  podem  igualmente  
realizar-­se  ao  ar  livre,  aproveitando  a  sombra  das  árvores.

Esta   escola,   tal   como   refere   C.   Daprey   (2009),   desde   2002   que   é   considerada   um  
Monumento  Histórico  e  foi,  na  realidade,  uma  revolução  ao  disponibilizar  amplas  sa-
las  de  aula,  abertas  ao  exterior,  à  natureza  e  ao  sol,  proporcionando  às  crianças  um  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ambiente  acolhedor.  O  estabelecimento  de  ensino  esteve  em  funcionamento  até  1993,  
altura  em  que  se  converteu  em  Instituto  de  Pesquisa  e  Ensino  para  as  Crianças  com  
Deficiência.  

Ilustração 44 -  Hora  da  sesta.  École  de  Plein  Air  de  la  Ville  de  Boulogne-­Billencourte  (Em  linha)  (consultado  em  20  de  Junho  de  2012)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://notrefamille.com >

Esta  experiência  de  escola  aberta  ao  exterior  não  é  caso  único  no  Mundo,  tendo-­se  
noutros  países  da  Europa,  nos  Estados  Unidos  e  no  Japão,  enquanto  fruto  de  políticas  
de  higiene  pública,  aquando  da  luta  contra  a  tuberculose.  Entretanto  definiu-­se  uma  
espécie  de  parceria  entre  médicos  e  professores,  a  fim  de  ser  desenvolvida  uma  nova  
pedagogia  que  se  articulasse  com  estes  espaços  abertos,  oferecendo  à  criança  um  
pleno  desenvolvimento  físico  e  intelectual.  Quanto  à  nova  concepção  espacial,  coube  
aos   arquitectos   Eugène   Beaudouin   e   Marcel   Lods   inspirarem-­se   para   a   concepção  
destes  edifícios,  mantendo  presente  uma  relação  entre  espaços  arejados,  luz  e  saú-
de.  Segundo  Herman  Hertzeberger  (2001),  a  escola  de  Suresnes  é  mais  do  que  um  
objecto  arquitectónico,  é  uma  paisagem  construída.  

Além   de   uma   clara   libertação   das   paredes,   enquanto   elementos   estanques   que   cir-
cundam  todo  o  espaço,  a  ideia  inicial  subjacente  a  estas  escolas  e  que  se  centrava  
em   crianças   com   défice   de   capacidades,   rapidamente   abrangeu   todas   elas,   sob   a  
perspectiva  de  criança  saudável.  Ocorreram  experiências  extremadas,  nomeadamen-

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te  aulas  que  se  realizaram  no  exterior,  sem  qualquer  tipo  de  protecção,  mas,  nestes  
casos,   o   que   na   prática   sucedeu   foi   uma   transferência   do   sistema   de   ensino   entre  
paredes   para   o   exterior.  Tal   como   afirma   H.   Rotterdam   Hertzberger   (2008),   quando  
surgiram   as   novas   ideias   de   educação,   que   reclamavam   uma   maior   independência  
entre  os  discentes  e  questionavam  a  posição  tradicional  do  professor  na  frente  dos  
alunos,   a   arquitectura   não   teve   capacidade   de   as   absorver,   pelo   que   as   salas   de  
aula  se  mantiveram  como  células  contentores.  As  ideias  revelaram-­se  teoricamente  
inovadoras,  mas,  na  prática,  a  aparência  exterior  do  edifício  mudou  e  a  estrutura  de  
desenvolvimento  espacial  manteve-­se.

Ilustração 45 -  Aula  no  exterior  .  Underlea  Open  Air  School,  em  Liverpool  (Em  linha)  (consultado  em  21  de  Junho  de  2012)  disponível  
em  WWW:  <  URL:  http://gettyimages.pt  >

Este   enfoque   sobre   a   saúde   dos   alunos   e   a   sua   boa   manutenção   coincidiu   com   o  
crescimento   do   Movimento   Moderno   mas,   mesmo   sendo   este   a   “cara   das   reformas  
sociais”,  segundo  a  terminologia  de  Hertzberger  (2008),  pouco  contribuiu  para  a  trans-
formação  da  pré-­concepção  do  espaço  de  aprendizagem.  Os  arquitectos  limitaram-­se  
a   trabalhar   as   transparências   e   os   grandes   vãos   envidraçados,   muito   populares   na  
época,  alterando  apenas  o  aspecto  da  higiene.  Assistiu-­se  a  uma  imaterialização  das  

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estruturas  escolares,  que  se  tornaram  muito  mais  transparentes,  abertas,  espaçosas  
e  luminosas,  enquanto  reflexo  de  higiene  e  saúde.

Ilustração 46 -  The  first  Open-­air  School  for  the  Healthy  Child  (1930)  (Em  linha)  (consultado  em  10  
de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://eng.archinform.net    >

O  pós  Guerra  em  França  revelou-­se    muito  intenso  em  termos  de  crescimento  da  po-
pulação.  Em  meados  da  década  de  40  (1946),  o  aumento  da  natalidade  desencadeou  
a  necessidade  de  acolher  um  número  de  crianças  em  idade  escolar  muito  superior  ao  
número   de   escolas   existentes.   Urgia   a   necessidade   de   se   construírem   escolas   que  
permitissem  receber  o  elevado  número  de  crianças  que  se  avizinhava  e  que,  segundo  
C.   Rambert   (1954),   o   Ministère   de   l`Éducation   Nationale   indicava   como   sendo   de  
300.000.  Tratava-­se  de  uma  preocupação  que  se  difundia  pelo  ministério,  pela  comu-
nidade  em  geral  e  pelos  arquitectos  em  particular.  O  primeiro  ministro  de  então,  André  

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Marie   12,  viu-­se  obrigado  a  tomar  medidas  concretas  para  solucionar  este  problema.  
Tornou-­se  fundamental  a  construção  de  25.000  salas  de  aula  para  crianças  em  idade  
escolar,  com  idades  compreendidas  entre  os  6  e  os  8  anos.  Efectivamente,  a  União  
Internacional   de   Arquitectos   teve   um   papel   activo   na   procura   da   resolução   destas  
questões,  realizando  vários  seminários  e  congressos  sobre  as  construções  escolares.  
Tal  como  C.  Rambert  refere  (1954),  nos  anos  de  1952,  1953  e  1954  reuniram-­se  vinte  
países  para  tentar  solucionar  a  necessidade  urgente  da  construção  de  escolas,  con-
trolando  os  tempos  de  realização  e  reduzindo  os  custos  das  mesmas.  Estes  encontros  
realizaram-­se  em  Basileia,  Zurique  e  em  Genebra,  tendo  também  decorrido  um  Con-
gresso  em  Lisboa,  em  Setembro  de  1953,  “no  qual  foi  aprovada  uma  resolução  relati-
va  à  necessidade  de  investir  na  área  da  arquitectura  escolar  e  ao  estabelecimento  de  
condições  mínimas  a  adoptar  em  edifícios  escolares”,  afirma  Teresa  Valsasina  Heitor  
(2011).  Depois  desta  iniciativa,  a  UIA,  juntamente  com  a  UNESCO,  diligenciou  várias  
actividades,  que  acabaram  por  resultar  na  publicação  da  Carta  das  Construções  Es-
colares,  em  1959.  As  premissas  exploradas  procuravam  alcançar  um  padrão  para  re-
gularmentar  a  utilização  de  matéria  prima  de  qualidade,  que  incentivasse  a  economia  
local  e  a  utilização  de  módulos  pré-­fabricados,  sem  descurar  os  princípios  básicos  do  
conforto,  bem  como  uma  boa  ventilação,  iluminação,  isolamento  térmico  e  acústico,  
cor   e   respectivo   mobiliário.   Algumas   destas   escolas,   como   por   exemplo   a   referida  
École  de  Plein  Air  de  Suresnes,  eram  autênticos  oásis  nos  contextos  sociais  em  que  
se   inseriam.  As   escolas   que   se   construiram   entre   1900   e   1940   cruzaram   todos   os  
graus  de  ensino,  desde  o  primário,  ao  ensino  médio,  até  ao  ensino  superior,  por  exem-
plo  o  Instituto  Oceanográfico  de  Nenot   13  e  do  Instituto  de  Arte  e  de  Arqueologia  de  
Bigot  14,  na  Sorbonne,  bem  como  a  Faculdade  de  Medicina  de  Lyon  e  de  Paris,  que  se  
caracterizavam   pelas   suas   arquitecturas   despojadas   e   pelas   soluções   construtivas.

12
André  Marie  (1897-­1974)  foi  um  político  francês  que  ocupou  o  cargo  de  primeiro-­ministro  da  França,  
entre  26  de  Julho  de  1948  a  5  de  Setembro  de  1948.

13    
Henri  Paul  Nénot  (1853-­1934)  foi  um  arquitecto  francês.  Trabalhou  para  vários  arquitectos,  incluindo  
Charles  Garnier.  Durante  a  sua  carreira,  foi  nomeado  arquitecto  da  Sorbonne.  Em  1895,  foi  eleito  presi-
dente  do  departamento  de  arquitectura  na  Academie  des  Beaux-­Arts.

Paul  Bigot  (1870-­1942)  foi  uma  arquitecto  francês.Trabalhou  nas  oficinas  Andre  e  Laloux.  Foi  arquitecto  
14    

e  professor  na  Academie  des  Beaux-­Arts.

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Ilustração 47 -  Institutos  Oceanográficoa  e  de  Arte  Arqueologia,  Sorbonne  (Em  


linha)  (consultado  em  08  de  Janeiro  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://
insitu.revues.org  >

2.2.1.4. AS ESCOLAS PRIMÁRIAS FRANCESAS - OS PROJECTOS NORMALIZADOS

As   escolas   francesas   do   primeiro   ciclo   do   ensino   básico   -­   du   Premier   Degré   –   arti-


culam  o  jardim  de  infância  e  a  escola  primária.  Como  afirma  C.  Rambert  (Rambert,  
1954),  estes  espaços  foram  concebidos  para  meninos  e  meninas  que  partilhavam  a  
mesma  instituição,  e  eram  organizados  segundo  um  programa  simplificado,  que  res-
pondia  a  normas  específicas,  determinadas  em  decreto  de  lei  (15  de  Junho  de  1925,  
24  de  Outubro  de  1936,  30  de  Outubro  de  1949,  1  de  Setembro  de  1952  e  18  de  Julho  
de  1953).  Tais  regulamentos  previam  superfícies  desenvolvidas  segundo  uma  métrica  
de  1,75  m,  contando  com  10  a  15m2  por  aluno,  na  área  total  do  espaço  da  escola,  e  
com  6,5m2  para  a  superfície  construída,  aém  de  que  todos  os  outros  espaços  respon-
diam  a  razões  de  proporção  com  a  superfície  das  salas  de  aulas.  Segundo  C.  Ram-
bert  (Rambert,  1954),  o  Ministério  da  Educação  estipulou  um  conjunto  de  princípios  
orientadores   das   construções.   O   terreno   deveria   ter   400m2   por   turma,   prefazendo  
um  mínimo  de  630m2,  com  uma  óptima  exposição  solar  (pré-­requisito  incontornável),  
protegido   de   ventos   e   nevoeiros,   sem   grandes   pendentes,   e   afastado   da   poluição  
das  fábricas,  da  poeira  das  estradas  e  do  ruído  dos  comboios.  A  orientação  definia  a  
posição  das  salas  de  aula,  que  deveriam  estar  orientadas  a  sudeste,  recebendo  o  sol  
pela  manhã  e  evitando  o  sobreaquecimento  dos  espaços;;  as  oficinas  estariam  orien-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 92


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tadas  a  norte,  mantendo  uma  luz  uniforme  durante  todo  o  dia.  As  distâncias  até  à  ao  
edifício  da  escola  determinavam-­se  em  função  da  idade  dos  alunos,  sendo  que,  para  
as  escolas  com  creche,  não  deveriam  ser  ultrapassados  os  230m,  e  para  as  escolas  
primárias,  os  1200m.  O  ar  livre,  o  contacto  com  a  natureza,  deveria  ser  explorado  ao  
máximo,  podendo  mesmo,  sempre  que  o  clima  o  permitisse,  decorrerem  aulas  no  ex-
terior,  em  áreas  organizadas  para  tal.  As  circulações  desenvolviam-­se  em  corredores  
suficientemente  iluminados  e  insonorizados,  com  os  acessos  verticais  colocados  com  
distâncias  nunca  superiores  a  30m,  o  que  determinava  uma  distância  aproximada  de  
55m  entre  as  salas.  O  isolamento  das  zonas  de  ruído  previa  a  separação  entre  zo-
nas  tranquilas  e  áreas  ruidosas,  através  da  interposição  de  construções  ou  de  áreas  
arborizadas;;  as  funções  mais  ruidosas,  como  as  oficinas,  ginásios  e  salas  de  música  
surgiam  nas  extremidades  do  edifício  da  escola,  ao  passo  que  as  salas  de  aula,  as  
áreas  de  estudo  e  as  bibliotecas  encontravam-­se  protegidas  e,  muitas  vezes,  até  sur-
giam  como  volumes  isolados.

Quanto  à  sala  de  aula,  C.  Rambert  (1954)  refere  que  o  ministério  francês  definiu  que  
deveria   estar   ao   nível   do   rés-­do-­chão,   por   questões   de   segurança,   caso   fosse   ne-
cessária  uma  evacuação  (esta  aconteceria  mais  rapidamente),  permitindo  também  o  
prolongamento  do  espaço  da  sala  para  o  exterior.  Este  tipo  de  arquitectura  deu  lugar  
a   uma   aproximação   à   escala   da   criança.   Quando   o   terreno   era   exíguo   e   não   havia  
condições  para  um  edifício  térreo,  as  construções  não  deveriam  exceder  os  três  pisos,  
ficando  o  piso  do  rés-­  do-­chão  livre,  e  os  outros  dois  pisos  com  três  salas  distribuí-
das   por   cada   um   deles.  As   recomendações   estendiam-­se   às   dimensões   das   salas  
de  aula,  determinadas  a    circunscrever-­se  num  rectângulo  de  8,60m  de  comprimento  
por  6,85m  de  largura  (com  altura  de  3,25m).  Tais  dimensões  definiam  uma  área  por  
aluno  de  1,47m2,  valor  que  se  aproximava  das  recomendações  exercidas  por  outros  
países  da  Europa,  como  a  Suíça,  e  pelos  Estados  Unidos,  com  valores  aproximados  
aos   2,00m2   por   aluno,   número   determinado   no   “Congrès International du Bâtiment
Scolaire et de l’Education de Plein Air”  em  1953.  

Em   1959,   a   reforma   de   Berthouin   15   fixou   a   escolaridade   obrigatória   nos   16   anos,  


embora  esta  medida  só  se  tenha  concretizado  de  facto  em  1971.  Este  projecto,  pela  
diversidade  dos  intervenientes,  com  diferenças  políticas  notórias,  não  ficou  concluído,  

15    
Jean  Berthouin,  político  francês,  ministro  da  educação  de  Pierre  Mendés  na  década  de  50.

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mas  funcionou  como  fonte  de  inspiração  para  as  futuras  reformas.

R.  I.  Jobs  (Jobs,  2007)  afirma  que,  na  década  de  60,  a  massificação  do  ensino  levou  
a  estrutura  francesa  quase  ao  colapso,  falhando  nas  teorias  de  modernização  do  sis-
tema  implantado,  até  Maio  de  1968.  Durante  a  libertação  de  68,  o  governo  provisório  
estabeleceu  uma  comissão  de  reflexão  sobre  a  educação,  que  propôs  a  extensão  até  
aos  18  anos,  generalizando  a  experiência  dos  movimentos  da  Nova  Educação  e  o  de-
senvolvimento  de  uma  escola  única.  A  democratização  do  ensino  secundário  e  univer-
sitário,  aliada  ao  desenvolvimento  do  Ensino  Técnico  Profissional,  levaram  a  que  se  
ultrapassassem  as  capacidades  das  universidades  francesas.  Na  tentativa  de  resolver  
esta  superlotação,  diversificam-­se  as  renovações  dos  espaços,  mas  os  resultados  fo-
ram  pobres.  Com  o  movimento  de  Maio  de  1968,  as  universidades  conquistaram  mais  
autonomia  e  a  sua  gestão  foi  democratizada.

Ilustração 48 -  Movimento  Maio  de  1968  (Em  linha)  (consultado  em  08  de  Janei-
ro  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://aiyelujara.blogspot.com  >

De  acordo  com  R.  I.  Jobs  (2007),  a  pedagogia  implementada  sofreu  influências  das  
Ciências  da  Educação,    levantando  questões  relacionadas  com  a  posição  do  profes-
sor,  no  que  dizia  respeito  à  directividade.  Ao  longo  de  1970,  decorreu  um  importante  
debate,   apesar   de   marginal   em   relação   ao   sistema   educacional   francês,   sobre   as  
novas  pedagogias  e  o  sistema  escolar.  Havia  uma  clara  tendência  em  colocar  o  aluno  
no  centro  de  todo  o  sistema  educativo,  um  caminho  que  este  teria  de  percorrer  para  
um  projecto  pessoal.  Segundo  Antoine  Prost  (2004),  entendia-­se  que,  na  construção  
do  triângulo  pedagógico,  o  aluno  assumia  um  papel  que  era  mais  do  que  o  recipiente  

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da  informação  que  os  professores  debitavam.  Foi  vinculada  a  ideia  de  que  toda  a  edu-
cação  permitiria  ao  aluno  assumir  plenamente  o  seu  estatuto  de  cidadão,  num  contex-
to  de  Educação  para  a  Cidadania.  Entretanto,  permanecia  a  ideia  de  que  o  sistema  
educativo  francês  reproduzia  o  sistema  social  e  que  tinha  como  objectivo  consolidar  e  
legitimar  a  posição  dos  estudantes  na  hierarquia  social.

2.2.1.5. A S ESCOLAS PRIMÁRIAS NORMALIZADAS FRANCESAS VERSUS AS ESCOLAS

PRIMÁRIAS PORTUGUESAS DO ESTADO NOVO ENTRE 1940 E 1960

Teresa  Valsassina  Heitor  (2011)  refere  que,  a  partir  da  década  de  50,  a  educação  em  
Portugal  entrou,  lentamente,  num  período  de  transformação  no  que  dizia  respeito  ao  
entendimento  do  que  significava  educar,  da  morfologia  das  construções  escolares,  e  
do  papel  da  sociedade  neste  sistema.  A  reprodução  em  série  de  tipos  de  edifícios  es-
colares  foi  uma  política  praticada  pelo  regime  de  Salazar  como  forma  de  responder  às  
necessidades  de  alfabetizar  a  população,  tendo  sido  praticada  anteriormente  aquando  
da   primeira   e   segunda   Repúblicas.   Os   tipos   de   edifícios   escolares   implementados  
procuravam,   de   igual   modo,   exprimir   uma   dicotomia   característica   do   Salazarismo,  
muito  presa  a  arquétipos  de  ruralidade,  que  nos  remetem  para  o  imaginário  da  casa  
portuguesa.  

No  pós  guerra,  o  regime  do  Estado  Novo,  com  a  necessidade  de  dar  mostras  de  mo-
dernidade,  em  deterimento  da  imagem  de  estado  ultrapassado  (como  os    que  haviam  
caído  internacionalmente),  abre-­se  às  novas  premissas  anunciadas  pelo  Movimento  
Moderno.  Edite  Rosa  (2005,  p.  21)  afirma  que  essa  abertura  acaba  por  revelar  uma  
maior  expressão  no  Norte  do  país,  pela  mão  de  alguns  arquitectos  da  escola  do  Por-
to,   que   inclusivamente   se   organizaram   e   formaram   os   ODAM   (Organização   dos  Ar-
quitectos   Modernistas).   Estes   arquitectos   conceptualizaram   e   construíram   edifícios  
modernistas  com  cariz  nacional,  em  maior  número  na  região  do  Porto,  respondendo  
a  programas  que  iam  desde  a  habitação  até  aos  edifícios  públicos.  Todavia,  no  que  
dizia  respeito  à  generalidade  das  construções  escolares,  mantinham-­se  os  modelos  
algo  arcaicos  que  o  regime  continuava  a  preferir.  E  foram  esses  tipos  que  se  sistema-
tizaram  e  multiplicaram  pelo  país  em  maior  número  e  que  nos  permitimos  comparar  
com   os   tipos   de   edifícios   escolares   normalizados,   contruídos   pelo   governo   francês,
no   mesmo   período   de   tempo.  A   rigidez   da   política   do   regime   salazarista   associada  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ao   facto   de   não   ter   havido   uma   participação   nas   avassaladoras   guerras   mundiais,  
não  introduziu  novas  necessidades  de  recuperação  e  construção  de  raíz  dos  edifícios  
escolares,  o  que  também  não  pôs  em  causa  os  modelos  até  à  data  adoptados  e  cons-
truídos.  Com  efeito,  esses  factores  acabaram  por  nos  remeter  para  uma  posição  de  
entorpecimento  em  relação  às  necessidades  que  as  novas  pedagogias,  como  o  MEN  
e  os  movimentos  das  Escolas  ao  Ar  Livre,  apregoavam.  Este  adormecimento  era  notó-
rio  na  arquitectura  escolar  implementada  pelo  regime  e  reflectia-­se  de  forma  evidente  
nos  programas,  nos  métodos  construtivos,  inclusivamente  nas  condições  de  habita-
bilidade  das  escolas  primárias  portuguesas,  comparativamente  com  as  francesas,  tal  
como   é   possível   observar   nos   esquemas   que   se   seguem.   Note-­se   que   os   tipos   de  
edifícios   escolares   franceses   escolhidos   são   portadores   de   pressupostos   comuns   e  
linguagens  arquitectónicas  similares  às  praticadas  nos  países  que  também  participa-
ram  nas  discussões  internacionais  em  torno  da  arquitectura  escolar.  Assim,  de  forma  
sintetizada  e  credível,  poder-­se-­á  analisar  a  posição  de  Portugal  em  relação  ao  resto  
da  Europa,  no  âmbito  das  construções  escolares  relativas  ao  ensino  primário,  neste  
intervalo  de  tempo.

2.2.1.5.1. ESQUEMAS COMPARATIVOS ENTRE AS ESCOLAS NORMALIZADAS FRANCESAS E AS


ESCOLAS TIPO PORTUGUESAS SUAS CONTEMPORÂNEAS

Alçado  tipo  Fernandes  de  Sá,  2  salas  (séc. Alçado   tipo   Fernandes   de   Sá,   2   salas   (séc.XX   -­  
XX  -­  1940/50) 1940/50)

Alçado  das  Écoles  Maternelles  Et  Enfantines  En  Alsace  Et  Lorraine,  2  salas  (séc.XX  -­  1950)

Comparação  entre  o  programa  do  tipo  Fernandes  de  Sá  e  as  Écoles  Maternelles  Et  Enfantines  En  Alsace  Et  Lorraine

Planta  do  tipo  Fernandes  de  Sá,  2   Planta   das   Écoles   Maternelles   Et   Enfantines   En  
salas  (séc.XX  -­  1940/50) Alsace  Et  Lorraine,  2  salas  (séc.XX  -­  1950)

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 96


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Alçado tipo Fernando Peres, 1 sala (séc.XX - 60/70)

Alçados das Écoles Maternelles Et Enfantines En Alsace Et Lorraine, 1 sala (séc.XX - 1950)

1 sala 1 sala + sala de repouso 1 sala + sala de jogos + sala de repouso

Comparação  entre  o  programa  do  tipo  Fernando  Peres  e  as  Écoles  Maternelles  Et  Enfantines  En  Alsace  Et  Lorraine

Planta   do   tipo   Fernando   Peres,   1  


sala  (séc.XX  -­  1960/70)

Planta   das   Écoles   Maternelles   Et   Planta   das   Écoles   Maternelles   Et   Planta   das   Écoles   Maternelles   Et  
Enfantines   En  Alsace   Et   Lorraine,   Enfantines   En  Alsace   Et   Lorraine,   Enfantines   En   Alsace   Et   Lorraine,   1  
1  sala  (séc.XX  -­  1950) 1   sala   +   sala   de   repouso   (séc.XX   sala + sala de jogos + sala de repouso
-­  1950) (séc.XX  -­  1950)

2.2.2. REFORMA DO SISTEMA EDUCATIVO/MUDANÇA DO CONTEXTO ESCOLAR CONSTRUIDO

A   experiência   desenvolvida   em   Inglaterra   no   pós   guerra   de   construção   massificada  


de  edifícios  escolares  tornara-­se  uma  referência,  pela  forma  como  conciliara  soluções  
arquitectónicas  de  grande  eficácia  construtiva  e  económica,  apoiadas  na  prefabrica-
ção  e  na  racionalização  da  construção,  com  as  novas  exigências  pedagógicas.  Teresa  
Valsassina  Heitor  (2011)

O  pós  primeira  grande  Guerra  Mundial  foi  um  período  conturbado  e  de  conversão  
evidente,   a   que   muitos   historiadores   se   referem   como   um   marco   no   nascimento   do  
mundo   moderno.   As   transformações   fizeram-­se   sentir   sobretudo   porque   a   Europa,  
desgastada   por   uma   tremenda   carnificina,   perdeu   a   influência   que   tinha   perante   o  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 97


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

resto  do  mundo,  favorecendo  o  aparecimento  de  duas  novas  super  potências,  os  EUA  
e  o  Japão.  O  centro  económico  transitou  de  uma  Europa  desgastada  para  a  América  
do   Norte.   O   valor   incalculável   dos   prejuízos   materiais,   a   somar   a   uma   espécie   de  
prenúncio  de  crise  absoluta  que  se  manteria  até  à  segunda  grande  Guerra  Mundial,  
evidenciava  as  contradições  do  capitalismo,  remetendo  para  uma  nova  forma  de  estar  
e  de  pensar  a  sociedade  e  o  socialismo.  O  incremento  da    indústria,  resultado  de  uma  
revolução  tecnológica  impulsionada  pela  guerra,  aumentou  um  proletariado  que  aca-
bou  por  se  insurgir,  alicerçado  em  acções  socialistas.

A  educação  e  a  arquitectura  escolar  assumiram  um  papel  preponderante  na  transfor-


mação  da  sociedade.  A  educação,  principalmente  a  pública,  passou  a  ser  entendida  
como  agente  de  desenvolvimento  económico  e  factor  dinamizador  do  desenvolvimen-
to   social.   Foi   impulsionada   pelo   MEN   (Movimento   da   Educação   Nova),   em   virtude  
das   preocupações   pedagógicas   dos   educadores   e   dos   pedagogos,   por   exemplo,   a  
Fundação   do   Bureau   International   d´Education   (BIE),   em   Genebra,   em   1925.  Após  
a  segunda  grande  Guerra  Mundial  surgiu  uma  série  de  outros  organismos  com  vista  
ao  crescimento  e  desenvolvimento  de  vários  sectores  (educação,  ciências  e  cultura,  
finanças   e   cooperação   financeira),   como   a   UNESCO   (1945),   o   Banco   Mundial   e   o  
Fundo  Internacional  Monetário  (1944  e  1945),  bem  como  a  Organização  Europeia  de  
Cooperação  Económica,  OECE  (1947),  que  acabaria  por  se  transformar  em  OCDE,  
Organização  para  a  Cooperação  e  Desenvolvimento  Económico  (1961).

Segundo  Alfred   Roth   (1957),   os   princípios   pedagógicos   a   considerar   na   concepção  


dos   edifícios   escolares   resultaram   da   preparação   e   organização   de   uma   vasta   bi-
bliografia   por   parte   da   cooperação   BIE   e   da   UNESCO   (1947),   resultando   também  
das  relações  intergovernamentais  que  se  estabeleceram  ao  internacionalizar  o  tema  
da  educação  e  de  todas  as  preocupações  que  lhe  estão  subjacentes.  Surgiu,  deste  
modo,  a  necessidade  de  generalizar  conceitos,  criar  fundamentos  de  base  e  critérios  
de  procedimento  internacional,  assim  como  fundos  de  financiamento  para  dar  respos-
ta  à  educação,  das  quais  resultaram  congressos,  seminários,  workshops,  entre  outras  
actividades,  subjugadas  ao  tema  da  educação.

Na  década  de  60,  as  despesas  públicas  com  a  educação  aumentaram  exponencial-
mente  na  medida  em  que  prosperava  uma  necessidade  de  construir  edifícios  esco-
lares  novos,  resultante  da  convicção  da  relação  entre  o  crescimento  económico  e  o  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

investimento  na  mão  de  obra  qualificada  (a  chamada  ”teoria  do  capital  humano”   16)  e  
do  crescente  aumento  de  crianças  em  idade  escolar.  A  gestão  deste  processo  tornou-­
se  complicada  visto  que  o  controlo  dos  projectos  e  a  respectiva  construção  eram  da  
responsabilidade  (na  maior  parte  dos  países)  não  dos  ministérios  da  educação  mas  
dos  sectores  relacionados  com  as  obras  públicas,  reduzindo  assim  as  probabilidades  
de  interação  entre  as  novas  pedagogias  e  a  arquitectura  escolar.  Graças  ao  empenho  
das  organizações  internacionais,  esta  circunstância  acabou  por  ser  contornada,  sur-
gindo  grupos  alargados  de  trabalho  que  mesclavam  as  várias  entidades  (arquitectos,  
construtores,  docentes  e  pedagogos),  com  o  suporte  da  UNESCO.  As  preocupações  
focavam-­se  na  correspondência  dos  pressupostos  pedagógicos  vigentes  com  a  mor-
fologia  das  construções  escolares.

Em  1954,  a  Comissão  de  Construções  Escolares  17  apresentou  um  relatório,  onde  as  
questões  subjacentes  às  construções  escolares  já  existentes  foram  analisadas  com-
parativamente   e   sobre   diversos   prismas   (histórico,   social,   económico,   geográfico),  
para  que  no  futuro  a  sua  concepção/construção  viesse  a  ser  racionalizada  e  optimi-
zada.  Este  relatório  foi  concebido  de  forma  a  compreender  e  a  tirar  conclusões  sobre  
os  sistemas  de  ensino  e  as  pedagogias  vigentes  nos  diferentes  países.  Pretendia-­se  
verificar  de  que  forma  o  objecto  arquitectónico  escola  se  inseria  nas  diferentes  malhas  
urbanas,  qual  a  sua  interação  com  os  diferentes  intervenientes,  bem  como  a  estrutura  
funcional  aplicada  na  distribuição  do  programa  pelo  edifício.  

Maria  Alexandra  Alegre  (2009)  refere,  sumariamente,  as  principais  orientações  relati-
vas  à  concepção  de  edifícios  escolares  expressas  nesse  mesmo  relatório,  “pela  sua  
importância  e  alcance  junto  das  entidades  responsáveis  pela  concepção  destes  equi-
pamentos  em  diversos  países  (UIA,  1955):  1.  Em  primeiro  lugar,  a  rápida  construção  
de  edifícios  escolares  é  reconhecida  como  uma  necessidade  social,  em  substituição  
das  escolas  que  não  respondem  de  forma  adequada  às  novas  exigências  pedagógicas  
e  higiénicas  e  suprindo  a  carência  destes  edifícios,  que  foram  destruídos  na  segun-
da  grande  Guerra  Mundial;;  2.  Em  termos  pedagógicos  é  salientada  a  importância  da  

16    
A  teoria  do  capital  humano  é  difundida  por  Gary  Becker,  mas  resulta  dos  estudos  de  Theodore  Shultz  
(1902-­1998),  nos  anos  50.  Esta  acaba  por  ser  posta  em  causa  no  crise  dos  anos  70,  por  economistas  e  
sociólogos.

Comissão  de  Construções  Escolares  –  é  criada  em  1951  e  resulta  da  colaboração  entre  a  União  Inter-
17    

nacional  dos  Arquitectos  ou  UIA  (1948)  e  a    UNESCO.

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

pedagogia  moderna,  dando  relevância  às  capacidades  humanas  e  de  aprendizagem  


da  criança,  como  foco  principal  na  concepção  do  edifício  escolar.  O  edifício  escolar  
deve   ser   pensado   à   escala   da   criança   e   proporcionar-­lhe   espaços   flexíveis   e   varia-
dos;;  a  sua  concepção  deve  contar  com  a  colaboração  de  psicólogos  e  educadores;;  
3.  A  satisfação  do  direito  à  educação  exige  o  número  de  estabelecimentos  de  ensino  
necessários  às  diferentes  formas  e  graus  de  instrução.  Uma  nova  figura  –  o  Plano  de  
Urbanismo  Escolar  –  surge  como  determinante  na  relação  que  os  edifícios  escolares  
estabelecem  com  a  cidade,  a  diferentes  escalas;;  4.  No  que  diz  respeito  à  organização  
funcional  da  escola,  é  proposta  a  autonomização  dos  diferentes  grupos  funcionais  em  
volumes  distintos,  permitindo  uma  melhor  adaptação  às  suas  especificidades.  A  noção  
de  sala  de  aula  é  substituída  pela  de  unidade  de  salas  de  aula,  espaço  mais  adequa-
do  a  uma  nova  forma  de  ensino.  O  espaço  alongado  da  sala  de  aula  dá  lugar  a  um  
espaço  quadrangular,  mais  adequado  a  um  ensino  mais  livre  e  variado,  com  a  substi-
tuição  do  mobiliário  tradicional  por  mobiliário  móvel.  Os  espaços  exteriores  da  escola  
são  dimensionados  de  acordo  com  o  número  de  alunos  e  ao  tipo  de  ensino  adoptado.  
Alerta-­se  para  a  possibilidade  de  utilização  de  alguns  dos  espaços  pela  comunidade  
envolvente,  exigindo  assim  um  acesso  independente  ao  exterior;;  5.  Racionalização  do  
processo  de  concepção  e  construção  do  edifício  escolar,  permitindo  a  diminuição  de  
custo  da  construção  e  redução  do  tempo  de  execução;;  6.  Importância  da  divulgação  
dos  resultados  obtidos  no  campo  da  construção  escolar  junto  de  todos  os  intervenien-
tes  e  responsáveis  pela  educação  de  crianças,  através  de  exposições  itinerantes  so-
bre  a  evolução  das  construções  escolares,  recomendações  sob  a  forma  de  directivas,  
publicações,  bibliografia  de  apoio,  nomeadamente  o  Bulletin  de  l’UNESCO;;  produção  
de  filmes  sobre  pedagogia  e  construção  escolar;;  reunião  de  peritos  sobre  o  ensino  e  
as  construções  escolares,  em  primeiro  lugar  no  plano  internacional,  sob  o  patrocínio  
da  UNESCO,  seguida  de  acções  semelhantes  a  nível  nacional,  com  vista  à  aplicação  
concreta  destes  princípios.”  

Na  sequência  deste  documento  surge  um  outro,  dirigido  às  escolas  primárias  e      inti-
tulado  Carta  das  Construções  Escolares  (1959),  no  qual  eram  enunciados  requisitos  
mínimos  a  que  estes  edifícios  escolares  deveriam  responder.  O  documento  resultou  
da  interação  entre  os  docentes  e  a  Comissão  das  Construções  Escolares,  compatibili-
zando  os  princípios  pedagógicos  e  a  formalização  arquitectónica.  Este  documento  foi  

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publicado  em  Portugal  em  1965,  no  nº  77  da  revista  Binário.  18

Em  1960,  decorreu  a  XII  Trienal  de  Milão,  subjugada  ao  tema  “La casa e la scuola”,
em  simultâneo  com  o  Congresso Internazionale di Edilizia Scolastica alla XII Triena-
le.  Os  ingleses  participaram  neste  congresso  com  um  modelo  tridimencional  de  uma  
escola  primária,  onde  se  utilizava  o  sistema  CLASP,  que,  segundo  Maria  Alexandra  
Alegre  (2009,  p.75),  recebeu  o  Gran  Premio  com  Menzione  Speciale  pela  seu  estudo  
inovador.  Esta  participação  revelou-­se  importante  na  medida  em  que,  até  à  data,  se  
partia  do  pressuposto  que  os  edifícios  das  escolas  eram  entidades  únicas,  que  não  
representavam  as  novas  teorias  pedagógicas  e  a  escola  tipificada,  sendo  introduzidas  
técnicas  construtivas  inovadoras,  suportadas  na  prefabricação  e  na  estandardização  
dos  elementos  que  as  compunham.

Ilustração 49 -  Escola  apresentada  na  XII  Trienal  de  Milão  em  1960  (Alegre,  2009,  p.71)

Em   Nova   Iorque,   no   ano   de   1958,   surgiu   o   Educational   Facilities   Laboratories   que,  

A  difusão  dos  novos  princípios  conceptuais  para  a  arquitectura  escolar,  na  década  de  50,  acontece  
18    

aquando  da  1ª  exposição  internacional  de  grande  escala  “The  New  School”  (1953),  no  Kunstgewerbe-
museum,  em  Zurich  .  Foi  organizada  por  Alfred    Roth  (1903-­1998),  praticamente  em  simultâneo  com  
as  publicações  do  livro  “The  New  School,  Das  Neue  Schulhaus,  La  Nouvelle  École”  (1950  e  1957,  1ª  
e  2ª  edição  respectivamente)  do  referido  arquitecto  suíço.  Ao  mesmo  tempo  que  a  exposição  decorreu  
o  congresso  “Contemporary  School  Design”,  coordenado  pela  Fundação  Suíça  Pro  Juventude  e  pelo  
International  Committee  for  Open-­Air  Schools.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 101


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como  afirma  Maria  Alexandra  Alegre  (2009,  p.75),  apresentava  como  objectivos  prin-
cipais  a  “maximização  da  qualidade  e  utilidade  dos  recursos  das  escolas,  e  o  estímulo  
à  investigação  e  divulgação  de  toda  a  informação  considerada  útil  junto  dos  respon-
sáveis  pela  concepção  e  construção  escolar.”  Esta  entidade  designada  especialmente  
para  os  espaços  educativos,    para  além  da  sua  sediação  na  América  do  Norte,  fixou-­
se  também  em  Inglaterra.  Com  efeito,  foi  através  da  promoção/patrocínio  de  diversas  
actividades/estudos  pelos    países  mencionados,  e  ainda  o  Canadá,  que  se  fomentou  
a  exploração  da  conceptualidade  e  da  tectónica  dos  edifícios  escolares,  conseguindo  
assim  estimular  a  inovação  na  arquitectura  das  escolas.

A  extensão  da  planificação  da  educação  a  outras  zonas  do  mundo  como    a  Ásia,  a  Áfri-
ca,  as  Caraíbas  e  a  América  Latina,  aconteceu  em  1961,  quando  a  UNESCO  diligen-
ciou  a  criação  de  grupos.  Augusto  Brandão  (1966)  apresenta  os  objectivos  visados:  
“1.   abordar   os   espaços   escolares   normalizando-­os   no   que   diz   respeito   ao   conforto;;  
2.   identificar   e   representar   as   posições   relativas   dos   edifícios   escolares   em   mapas,  
constituindo   e   sedimentando   uma   rede   de   escolas;;   3.   a   conceptualização   do   mobi-
liário   escolar;;   4.   a   formação   de   técnicos   especializados   nos   locais   de   intervenção”.  
Três   anos   depois,   o   Brasil   a   Bolívia   e   a  Argentina   foram   integrados,   por   intermédio  
do  Regional  School  Building  Center  for  Latin  America  and  the  Caribbean.  Discutiu-­se,  
entretanto,  a  hipótese  de  aproximar  as  entidades  anteriormente  referidas  num  centro  
internacional,  e  esta  vontade  resultou  no  intercâmbio  de  experiências  e  de  políticas  
de  intervenção,  aquando  da  Conferência  Internacional  sobre  Edifícios  Escolares  rea-
lizada  em  Londres,  em  1962.  Foi  então  criado  o  Programme  on  Educational  Buildings  
(1972),  onde,  entre  os  quinze  países  participantes,  constava  Portugal,  com  o  intuito  
de,  segundo    Maria  Alexandra  Alegre  (Alegre,  2009,  p.76),  promover    a  “análise  e  o  in-
tercâmbio  de  políticas,  investigação  e  experiências  em  todos  as  matérias  relacionadas  
com  o  edifício  escolar;;  e  tem  como  objectivos:  melhorar  a  qualidade  e  o  desempenho  
do  edifício  educativo;;  assegurar  a  correcta  utilização  dos  recursos  afectos  ao  plane-
amento,   construção,   funcionamento   e   manutenção   dos   edifícios   educativos;;   avaliar  
antecipadamente  o  impacto  de  novas  orientações  educativas  e  sociais  nos  edifícios  
escolares.  O  PEB  procura  ainda  assegurar  a  obtenção  do  máximo  benefício  no  edifí-
cio  escolar,  com  os  investimentos  realizados  e  a  realizar,  e  eficiência  do  planeamento  
e  gestão  do  património  escolar.”    

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Para  R.  Canário  (1993),  “reforma  e  sistema  educativo  constituem,  nos  anos  60  e  70,  
as  palavras  chave  que  dominam  os  discursos  e  as  políticas  educativas.  Nos  anos  80  
e  90,  inovação  e  estabelecimento  de  ensino  tendem  a  substituir-­se-­lhes,  como  concei-
tos  dominantes  para  pensar  e  agir  na  realidade  escolar.  Trata-­se  de  algo  muito  mais  
profundo   do   que   uma   mera   evolução   no   léxico,   correspondendo   a   uma   perspectiva  
qualitativamente   diferente   de   encarar   os   processos   de   mudança   no   campo   escolar.  
Mais  do  que  mudar  a  educação,  o  verdadeiro  problema  consiste  em  saber  como  mu-
dar  estabelecimentos  de  ensino.  Mais  do  que  gerir  um  sistema  escolar,  importa  saber  
como  gerir  um  sistema  de  escolas,  potenciando  a  sua  diversidade  e  criatividade”.  De  
acordo  com  António  Teodoro  (1999),  uma  síntese  da  perspectiva  da  produção  cien-
tífica  de  Canário,  no  que  diz  respeito  às  questões  relacionadas  com  a  inovação  e  a  
mudança  do  contexto  escolar,  é  o  seu  entendimento  do  estabelecimento  escolar  como  
“locus”  estratégico  de  análise  e  de  intervenção,  centro  de  produção  de  saberes,  onde  
os  alunos  “são  a  comunidade  dentro  da  escola”.

Nos  anos  90,  discutiram-­se  as  práticas  de  educação  face  à  diversidade  cultural,  cha-
mando  as  escolas  e  os  docentes  para  caracterizarem  os  problemas  com  que  se  de-
paravam   no   decorrer   do   seu   trabalho.   Como   tal,   usaram-­se   redes   de   envolvimento  
colectivo  dentro  das  respectivas  áreas  de  acção,  com  o  objectivo  de  delinearem  es-
tratégias  de  intervenção.  Segundo  C.  Leite  (2006),  esta  ampla  reflexão  e  o  aprofundar  
dos   debates,   levaram   à   instituição   de   um   projecto   de   “gestão   flexível   do   currículo”,  
em  1996/97,  para  os  currículos  do  ensino  básico  e  secundário.  Tal  como  esta  autora  
refere,   surgiram,   assim,   “novas   concepções   de   educação,   de   currículo   e   de   exercí-
cio   profissional   docente   que   se   veiculou     um   discurso   de   autonomia   e   se   decretou  
a  sua  institucionalização,  que  se  proclamou  a  importância  da  formação  contínua  de  
professores  no  quadro  de  processos  centrados  nas  escolas  e  nas  realidades  que  as  
caracterizam”. Segundo  A.  Bolívar  (2006),  poder-­se-­ia  estratificar  as  mudanças  edu-
cativas,  no  séc.  XX,  como  fenómenos  sequenciados,  que  aconteceram  para  melhorar  
a  educação  escolar  e  que  tiveram  “incidência  e  tempos  variáveis  segundo  os  países:  
a   época   gloriosa   dos   projectos   inovadores,   próprios   do   optimismo   dos   anos   70   do  
séc.   XX,   a   restruturação   que   delegou   na   escola   e   na   profissionalização   docente   a  
responsabilidade  básica  da  melhoria  e  o  enfoque  na  aprendizagem  dos  alunos  e  no  
rendimento  da  escola”.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 103


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

A  Comissão  Internacional  sobre  a  Educação  para  o  séc.  XXI,  aquando  da  apresen-
tação   do   relatório   para   a   UNESCO,   “insiste   em   recordar   que   demasiadas   reformas  
em  cascata  acabam  por  matar  a  reforma,  pois  não  dão  ao  sistema  o  tempo  necessá-
rio  para  impregnar  de  novo  espírito,  nem  para  pôr  todos  os  actores  à  altura  de  nela  
participarem”,  opinião  de  Jacques  Delors,  o  coordenador  do  já  referido  relatório,  que  
se  baseou  em  quatro  pilares  estruturantes  da  educação,  para  propor  uma  educação  
direcionada  para  aqueles  que  são  entendidos  como  os  quatro  tipos  fundamentais  de  
aprendizagem:   “aprender   a   conhecer”,   “aprender   a   fazer”,”aprender   a   viver   com   os  
outros”  e  “aprender  a  ser”.  

2.2.3. O CASO PORTUGUÊS

O  discurso  dominante  na  década  de  1950,  marcado  pelo  “direito  à  educação”  e  pelas  
teses   defendidas   por   Gary   Becker   sobre   os   ganhos   do   investimento   em   educação,  
abrira   a   discussão   sobre   a   capacidade   efectiva   de   resposta   dos   modelos   de   edifíco  
escolar   então   praticados   em   Portugal   quer   às   necessidades   reais   do   país,   marcado  
por   uma   rede   escolar   manifestamente  insuficiente  e  desajustada  face  às  caracterís-
ticas   do   território   e   da   população,   quer   às   orientações   pedagógicas   e   metodologias  
de   aprendizagem   então   emergentes,   e   às   necessidades   específicas   dos   alunos   em  
função  da  idade,  do  seu  grau  de  desenvolvimento  e  dos  saberes  leccionados.  (Teresa  
Valsassina  Heitor,  2011)

Tal  como  já  foi  reconhecido,  o  ensino  que  tem  vindo  a  ser  praticado  em  Portugal  fun-
damenta-­se,  sobretudo,  na  componente  do  “aprender  a  conhecer”  (entenda-­se  como  
raciocínio  sustentado  na  lógica,  compreensão,  dedução  e  memorização),  intrinseca-
mente  relacionada  com  alguma  passividade  por  parte  do  aluno  perante  a  informação  
que  lhe  é  disponibilizada  .  Transita,  assim,  para  segundo  plano  a  vertente  do  “apren-
der  a  fazer”  (entenda-­se  como  a  aplicação  prática  dos  conhecimentos  teóricos),  que,  
para  além  da  aquisição  de  instrumentos  de  compreensão,  subentende  o  raciocínio  e  a  
execução.  As  duas  formas  necessitam  de  ser  complementadas  com  outros  domínios  
da  aprendizagem  mais  complexos  de  abordar,  dado  o  seu  carácter  subjectivo  e  de-
pendente  do  enquadramento  em  que  se  inserem,  bem  como  do  docente  em  particular.  
É  um  desses  domínios,  o  “aprender  a  viver  com  os  outros”,  factor  indissociável  das  
vivências  sociais,  que  surge  como  ponte  para  a  construção  dos  valores  orientadores  
das  vivências  supramencionadas.  Este  reflecte  uma  prática  educacional  que  depende  
da  aceitação  do  semelhante  e  do  reconhecimento  e  da    descoberta  do  outro.  O  outro  
domínio  é  o  “aprender  a  ser”,  que  considera  que  a  Educação  tem  como  objectivo  o  

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desenvolvimento  do  indivíduo  na  sua  totalidade  “espírito  e  corpo,  sensibilidade,  sen-
tido   estético,   responsabilidade   pessoal,   espiritualidade”.   Tais   factores,   que   de   igual  
modo   se   relacionam   com   a   educação   de   valores   e   de   atitudes,   enquadram-­se   no  
desenvolvimento  individual,  transformando  os  educandos  em  indivíduos  autónomos,  
independentes,   activos   intelectualmente,   seres   sociais   e   comunicantes,   capazes   de  
intervir   consciente   e   activamente   na   sociedade   que   os   acolhe,   e   mantendo-­se   em  
permanente  construção  e  desenvolvimento  do  saber.  

Entende-­se  que,  todos  estes  domínios  vão  de  encontro  ao  ideal  de  uma  Educação  Ho-
lística,  como  explica  R.  Yus  (2002),  “termo  originalmente  proposto  por  R.  Miller  (1997)  
para  designar  o  trabalho  de  um  conjunto  heterogéneo  de  liberais,  de  humanistas  e  de  
românticos  que  têm  em  comum  a  convicção  de  que  a  personalidade  global  de  cada  
criança   deve   ser   considerada   na   educação.   São   consideradas   todas   as   facetas   da  
experiência  humana,  não  só  o  intelecto  racional  e  as  responsabilidades  da  vocação  e  
cidadania,  mas  também  os  aspectos  físicos,  emocionais,  sociais,  estéticos,  criativos,  
intuitivos  e  espirituais  inatos  da  natureza  do  ser  humano”.  Mais  uma  vez  é  reiterada  
a  ideia  de  que  a  totalidade/integralidade  que  nos  compõe  enquanto  seres  humanos  
é  mais  do  que  uma  soma  das  partes.  Esta  visão  holística  na  educação  permite  com-
preender   o   aluno   como   ser   integral   e   impulsionar   a   dinâmica   das   experiências   em  
grupo,  valorizando  a  simplicidade,  sem  esquecer  que  é  igualmente  importante  que  o  
docente  aprenda  a  conviver  com  o  aluno  e  que  lhe  reconheça  toda  a  sua  abrangência  
e  capacidades  implícitas.  Faz-­se,  então,  uma  ligação  com  as  teorias  exploradas  por  
Goleman  (entre  outros  autores),  que  reconhecem  a  importância  da  relação  professor/
aluno,   onde   o   professor   deve   explorar   a   sua   própria   inteligência   emocional,   sendo  
que,  uma  aula  emocionalmente  inteligente,  terá  obrigatoriamente  de  se  articular  com  
a   personalidade   do   docente,   para   que   os   alunos   possam,   também   eles,   explorar   e  
desenvolver   a   sua   própria   inteligência   emocional.  Ainda   segundo   o   mesmo   autor,   a  
participação  conjunta  de  docentes  e  discentes  nos  projectos  de  aprendizagem  permite  
o  incremento  da  relação,  a  resolução  de  conflitos  e  a  construção  de  referências  para  
o  futuro.

É  um  facto  que,  as  medidas  que  foram  sendo  tomadas  em  Portugal,  após  a  evolução  
da  escola  de  elites  para  a  escola  de  massas,  veiculam  uma  vontade  de  melhorar  o  
sistema  educativo,  respondendo  melhor  aos  problemas  que  foram  sendo  apontados  

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ao  sistema  educativo  implementado,  quer  por  entidades  nacionais  quer  pelos  organis-
mos  internacionais.  Por  outro  lado,  grande  parte  dessas  medidas  acabaram  por  não  
surtir  um  resultado  prático,  ao  serem  sustentadas  pela  dinâmica  dos  movimentos  de  
contra-­reforma.  É  também  verdade  que  estes  movimentos  familiarizaram  a  sociedade  
com  o  discurso  das  reformas  educativas,  sensibilizando  para  uma  necessidade  que  é  
veemente:  melhorar  os  processos  de  aprendizagem,  os  espaços  escolares,  e  tudo  o  
que  envolve  esta  estrutura.  No  entanto,  as  reformas  transformaram-­se  em  vontades  
que  foram  anunciadas  mas  que  acabaram  por  não  se  materializar,  desvanecendo-­se  
em  todo  o  processo.  Importa  sublinhar  que,  nos  dias  de  hoje,  “a  massificação  e  laici-
zação  do  ensino,  são  imperativos.  O  progresso  económico  e  científico  está  interligado  
ao   desenvolvimento   do   ensino   e   da   educação,   cada   vez   mais   plurais   e   tendendo   a  
eliminar,  pelo  menos  no  Hemisfério  Norte  ou  no  Mundo  industrializado,  a  iliteracia  e  o  
analfabetismo.  O  ensino  técnico,  humanístico  ou  religioso  é  actualmente  considerado  
como   área   de   investimento   político   e   económico   vital   e   como   a   base   do   progresso  
material  e  civilizacional  do  mundo  contemporâneo.  Os  modelos  ocidentais,  entretan-
to,  formados  ao  longo  dos  séculos  e  amadurecidos  desde  a  centúria  de  Oitocentos,  
graças  ao  empirismo,  ao  racionalismo  e  à  industrialização,  imperam  em  quase  todo  o  
mundo,  mesmo  na  milenar  China,  ainda  que  com  as  devidas  adaptações  regionais”.  

No  final  do  séc.  XX  e  na  primeira  década  do  séc.  XXI,  as  políticas  de  educação,  enten-
didas  como  fruto  da  sociedade  contemporânea,  surgem  da  complexidade  dos  meios  
e  da  heterogeneidade  que  os  compõem.  A  escola  para  todos,  no  Portugal  contempo-
râneo  é,  obviamente,  o  resultado  de  todas  as  políticas  educacionais  aplicadas  (fruto  
das  suas  relações  com  o  Estado)  e  das  mudanças  sociais  que  se  foram  sucedendo.  
Segundo  C.  Leite  (2006),  no  final  do  séc.  XX,  houve  um  movimento  que  tinha  como  
objectivo  romper  com  a  cultura  de  centralização  curricular,  desde  sempre  presente  no  
sistema  escolar  dos  ensinos  básico  e  secundário.  Movimento  que,  no  início  do  séc.  
XXI,   perdeu   expressão   ao   serem   tomadas   decisões   políticas,   por   vezes   intentando  
contra   os   professores,   e/ou   sem   considerar   as   suas   opiniões   dos   intervenientes   di-
rectos.  Portugal  aparece,  por  sistema,  num  dos  últimos  lugares  (independentemente  
do  indicador)  no  conjunto  dos  países  tidos  como  desenvolvidos  e  industrializados,  em  
relatórios  elaborados  por  organizações  internacionais,  que  reportam  aos  anos  90  (mo-
mento  de  abrandamento  na  construção  de  edifícios  escolares  de  raíz).  Na  perspectiva  
de  A.  Teodoro  (1999),  considera-­se  que  é  o  resultado  do  nosso  percurso  desde  a  se-

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gunda  grande  Guerra  Mundial,    ao  serem  identificados  períodos  em  que  se  atravessam  
grandes  mudanças  sociais.  A  imposição  do  Estado  Novo,  a  sua  crise  de  legitimação  
e  hegemonia  (durante  os  anos  60),  seguida  da  “crise  revolucionária”  de  1974  e  1975,  
finalmente  sucedida  pela  conquista  de  uma  posição  no  sistema  mundial  (integração  
na  Comunidade/União  Europeia),  que,  entre  1976  e  1986,  se  revela  um  factor  estrutu-
rante  da  sociedade  portuguesa  e  do  Estado,  são  o  enquadramento  do  sistema  escolar  
português  no  final  do  século,  com  repercussões  na  arquitectura  escolar.

2.2.3.1. A PERSPECTIVA CULTURAL E HISTÓRICA DO PEDAGOGO E POLÍTICO ANTÓNIO

SÉRGIO - A CIDADE ESCOLAR E A PROCURA DA MERITOCRACIA

Existiu  um  pensador,  político  e  pedagogo  português,  que  procurou  transformar  o  facto  
de  o  séc.  XIX  português  se  caracterizar  por  reformas  que  raramente  ultrapassaram  os  
textos  legislativos  e  as  declarações  de  intenções.  António  Sérgio,  um  homem  culto,  
que  se  definia  como  sendo  “um  indivíduo  de  juízo  crítico,  afinado,  objectivo,  universa-
lista,  liberto  das  limitações  da  nacionalidade  e  de  classe”,  investigou  as  razões  cultu-
rais  e  históricas  que  limitaram  o  desenvolvimento  português  no  início  do  séc.  XX.  Este  
pedagogo  via  a  educação/proposta  pedagógica  como  o  caminho  para  projectar  o  país  
na  modernidade.  E,  segundo  I.  Moreira  (2009),  numa  análise  da  política  portuguesa,  
António  Sérgio  concluiu    que  “depois  de  D.  João  III  (1502-­1557),  se  promoveu  uma  
descapitalização  de  gente,  por  um  lado,  com  a  pilhagem  e  expulsão  dos  Judeus,  e  a  
descapitalização  de  qualquer  tipo  de  produção,  por  outro.  Com  o  ouro  e  as  especia-
rias  que  a  exploração  das  colónias  rendia,  e  com  a  correspondente  entrada  de  capital  
que  isso  significava,  comprava-­se  tudo  feito  no  estrangeiro  que  desembarcava,  pronto  
a  utilizar,  no  Terrreiro  do  Paço.  Isto  fez  com  que  a  produção  nacional  e  o  necessário  
desenvolvimento  da  indústria  e  da  agricultura  não  se  dessem  entre  nós.  Em  conse-
quência  desta  política,  os  Nobres,  ao  contrário  do  que  teria  acontecido,  por  exemplo  
em  Inglaterra,  abandonaram  a  actividade  produtiva  para  empunharem  a  espada,  em-
barcados,  ou  para  viverem  a  expensas  do  Rei  e    gravitarem  em  torno  da  Corte.  Este  
mal  não  foi  apenas  nosso,  mas  de  toda  a  sociedade  da  Europa  meridional.”

O  mesmo  autor,  I.  Moreira  (2009),  afirma  que  “esta  opção  pelo  ócio  e  por  um  certo  
culto  da  aparência  deformou,  deseducou,  a  mentalidade  portuguesa,  instalando  vícios  

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de  tal  modo  arraigados  que  chegaram  a  informar  o  modo  de  ser  do  português  contem-
porâneo.  A  rigor,  conclui  o  pedagogo,  que  não  temos  autênticos  portugueses  desde  a  
época  de  500:  desde  então,  os  verdadeiros  portugueses  encontram-­se  nos  que  procu-
ram  cultivar-­se  no  estrangeiro  e  ultrapassar  os  limites  de  uma  visão  tacanha  que  ca-
racterizou  a  nossa  mentalidade  nos  últimos  séculos”.  Moreira  acrescenta,  ainda,  que  
por  conveniência  de  governação,  os  sucessivos  reis  tornaram  a  nobreza  dependente  
e  parasitária  e  a  consciência  nacional  do  que  mais  convinha  às  elites  –  exceptuando  
alguns   espíritos   privilegiados   –   confundia-­se   com   um   parasitismo   da   coroa,   com   a  
obtenção  de  um  lugar  na  corte.  Herdeiras  desta  mentalidade,  e  fiéis  a  esta  tradição,  
as  gerações  seguintes  continuaram  a  considerar  que  seria  a  obtenção  de  um  lugar  no  
parlamento  ou  nos  cargos  públicos  do  Estado  o  que  mais  convinha  à  elite.  

Este  tipo  de  mentalidade,  corrompida  pelo  dinheiro  fácil  e  pelo  seu  mau  uso,  subverteu  
os  valores  que  presidiam  às  políticas,  nomeadamente  a  da  educação.  Assim  se  com-
preenderia  que  o  sistema  de  ensino  português  há  muito  privilegiasse  o  “pseudo-­saber”,  
desenraizado  da  produção,  e  das  suas  necessidades,  abstracto  e  livresco,  que  servia  
apenas   à   manutenção   do   estado   das   coisas,   mas   não   libertava   nem   esclarecia   os  
espíritos.  Tratava-­se  de  um  tipo  de  ensino  que  preparava  apenas  para  o  exame  final,  
através  do  qual  o  Estado  se  certificava  que  o  indivíduo  tinha  características  para  de-
sempenhar  um  cargo  público,  cargo  onde  não  se  requeria,  nem  era  útil,  o  verdadeiro  
conhecimento  e  onde  a  iniciativa  era  tida  como  rigorosamente  prejudicial.  O  caminho  
para  a  sociedade  portuguesa  ir  de  encontro  à  modernidade  passaria  por  uma  reforma  
profunda  no  sistema  de  ensino  e  na  mente  dos  educadores.  Segundo  R.V.  Rodriguez  
(2010),  baseado  no  “pragmatismo  anglo-­americano  que  fundamentou  a  Escola  Nova  
apregoada  por  Dewey,  o  pedagogo  português  partiu  para  a  clara  delineação  dos  con-
tornos  axiológicos  e  institucionais  do  novo  modelo  educacional.”  A  estrutura  impulsio-
nadora  de  todo  o  sistema  de  ensino  seria  fundamentada  na  relação  educando/educa-
dores  e  na  sua  capacidade  de  se  relacionar  e  adaptar  ao  quotidiano,  à  vida.  Daí  que  
fosse  necessário  proceder  a  uma  reforma  profunda,  alicerçada  na  adaptabilidade  ao  
meio  e  ao  seu  desenvolvimento  (o  que  estaria  por  vir),  consequência  da  realidade  por-
tuguesa  e  estruturada  para  responder  às  necessidades  específicas  dos  portugueses.

Na  opinião  de  António  Sérgio  (Moreira,  2009),  “O  ensino  mais  valioso  é  o  mais  contrá-
rio  ao  espectrismo,  o  que  mais  prepara  a  plasticidade  futura,  o  que  torna  o  indivíduo  

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mais   capaz   de   resolver   situações   inesperadas.”   Como   explica   I.   Moreira   (2009),   é  


um  modelo  dinâmico  de  educação  “retirado  de  um  modelo  anglo-­saxónoco,  capaz  de  
(…)   contrariar   alguns   dos   nossos   mais   arraigados   traços   de   carácter   as   tendências  
passionais  (…),  o  pendor  para  a  demagogia,  a  histérica  dramatização  da  vida  pública,  
substituindo-­os  por  uma  disciplina  de  carácter  e  um  desenvolvimento  da  iniciativa,  pró-
prios  de  uma  sociedade  particulista  como  a  sociedade  anglo-­saxónica.”  Na  verdade,  
as  permanentes  tranformações,  decorrentes  do  desenvolvimento,  desactualizavam  os  
conteúdos  curriculares,  inadequando-­os,  daí  a  necessidade  de  ensinar  a    adaptabi-
lidade,  que  só  se  reflectia  num  modelo  dinâmico  de  ensino,  o  oposto  da  rigidez  dos  
programas  curriculares  instituídos.  As  medidas  que  António  Sérgio  encontrou  para  a  
reforma  baseavam-­se  no  entendimento  da  escola  como  uma  comunidade  democráti-
ca,  como  um  município,  onde  as  responsabilidades  seriam  atribuídas  a  professores  e  
a  alunos.

Nas  palavras  de  António  Sérgio  (Moreira,  2009),  “A  cidade  escolar  propriamente  dita,  
da   qual   falamos   especialmente   organiza   a   sociedade   dos   estudantes   à   maneira   de  
um  município  (…).  Os  seus  magistrados  são  idênticos,  em  título,  função  e  método  de  
eleição  aos  da  cidade  a  que  pertence  a  escola,  ou  de  que  está  próximo.  Afora  o  seu  
objectivo  primacial  -­  a  educação  -­  cabe-­lhe  familiarizar  os  alunos  com  a  governação  
do  município”.  O  discurso  de  António  Sérgio  deixa,  efectivamente,  transparecer  uma  
preocupação   em   desenvolver   a   aprendizagem   em   torno   dos   interesses   da   criança,  
respeitando   os   seus   ritmos.   Nomeadamente,   o   espaço   que   envolvia   esta   dinâmica  
de  ensino  era  pensado  em  função  das  crianças,    quer  nos  materiais  escolhidos  para  
o  caracterizar,  quer  nas  suas  dimensões.  Subjacente  a  estes  princípios,  é  notório  um  
desejo  de  alcançar  a  meritocracia,  como  princípio  basilar  da  formação  das  novas  ge-
rações.

Os  três  parcos  meses  que  António  Sérgio  integrou  o  Ministério  da  Instrução  Pública  
(entre  Dezembro  de  1923  e  Fevereiro  de  1924),  não  foram  suficientes  para  a  imple-
mentação  deste  sistema  de  ensino,  que  visava  a  democratização  do  sistema  e  que,  
para  além  do  pedagogo,  era  apadrinhado  por  outros  intelectuais,  como,  Aquilino  Ribei-
ro,  Raúl  Brandão  e  Azeredo  Perdigão,  colaboradores  da  revista  Seara  Nova,  que  teve  
uma  acção  determinante  no  pensamento  e  desenvolvimento  cultural  em  Portugal.

Curiosamente,  a  acção  do  político  e  pedagogo  não  se  limitou  ao  período  da  sua  exis-

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tência,   estendendo-­se   e   influenciando   a   juventude   portuguesa   em   meados   do   séc.  


XX.  A   investigadora   da   Universidade   Católica,   Ivone   Moreira   (2009),   refere   que   os  
seus  ideais  pedagógicos,  depois  da  Revolução  do  25  de  Abril  de  1974,  também  fo-
ram  determinantes  nas  reformas  educativas  em  Portugal,  sendo  umas  mais  aplicáveis  
que   outras,   pela   sua   clareza   e   intemporalidade,   mas   vincando   sempre   o   objectivo  
de   construir   uma   sociedade   livre.   Com   Salazar   no   poder,   as   reformas   iniciadas   na  
primeira  República  foram  interrompidas.  Durante  as  três  décadas,  seguintes,  apesar  
da  criação  de  uma  nova  Universidade  Técnica  de  Lisboa  (em  1930),  as  taxas  de  anal-
fabetismo  mantiveram-­se  elevadas,  a  par  de  uma  formação  profissional  praticamente  
inexistente.

As  ideias  pedagógicas  de  António  Sérgio,  entre  outros  princípios  ideológicos,  suben-
tendiam,  de  acordo  com  C.  A.  Mota  (s/d),    uma  espécie  de  “socialismo  associativista,  
libertador  ou  mesmo  libertário,  a  criar  de  dentro  para  fora,  pacificamente,  pela  exten-
são  gradual  mas  ilimitada  do  princípio  cooperativo”,    pelas  quais  Salazar  não  demons-
trava  grande  simpatia.  Ainda  segundo  este  autor  (Mota,  s/d),  “Assumido  o  poder  pelo  
homem   forte   gélido   e   astuto,   importado   de   Coimbra,   e   estabelecido   nas   leis   e   nas  
instituições,  o  “corporativismo”  fruste   versão   portuguesa   do   fascismo   italiano,   a   luta  
política  de  Sérgio  contra  o  regime  não  parou  e  só  esmorecia  quando  as  circunstâncias  
eram   por   demais   impeditivas   da   expressão   do   pensamento.   Tendo   acabado   por   se  
convencer,  após  o  seu  regresso  ao  país  em  1933  (depois  de  se  ter  exilado  em  França  
durante  7  anos  ),  e  até  ao  insucesso  da  candidatura  de  Norton  de  Matos,  de  que  o  sis-
tema  nunca  se  liberalizaria  a  ponto  de  procurar  quem  continuasse  ou  lhe  sucedesse  
recorrendo  a  eleições  honestas,  o  pensador  voltou  a  ser  conspirador  activo  e  passou  
de  novo  a  privilegiar  uma  solução  de  índole  militar  e  a  procurar  contactos  com  os  que  
nela  estavam  ou  pareciam  estar  envolvidos  ou  susceptíveis  de  se  envolver,  desta  vez  
porém  generais  e  oficiais  superiores”.    

O  facto  de  se  contextualizar  e  ressalvar  a  importância  de  António  Sérgio  na  evolução  
do  pensamento  pedagógico  e  político  em  Portugal  (parte  estruturante  do  cenário  em  
que  se  desenvolveram  algumas  das  arquitecturas  que  serão  objecto  de  análise  neste  
estudo),  advém  sobretudo  de  o  pedagogo  não  estar  interessado  nas  mudanças  pe-
renes  dos  regimes  políticos  dos  outros  países,  em  virtude  do  contexto  internacional  
(Guerra   Fria),   se   centrar   na   realidade   portuguesa.   Para   o   político,   a   educação   era  

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o   motor   de   desenvolvimento   e   democratização   de   um   país,   porque   seria   capaz   de  


“criar  autónomos,  forjar  espíritos,  ligar  a  reforma  da  vida  pública  à  reforma  intelectual  
do    indivíduo  interior,  ao  severo  exercício  da  disciplina  crítica,  sem  nunca  esquecer  o  
condicionamento  económico:  a  verdadeira  Democracia  nos  virá  daí”.    

Entende-­se  que  este  conjunto  de  forças  que  visavam  o  desenvolvimento  e  o  progres-
so  do  ensino  e,  consequentemente  do  país,  só  fariam  sentido  se  corroboradas  pelas  
características  espaciais  dos  edifícios  escolares.                            

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Parte II . OS DIFERENTES TIPOS DE EDIFÍCIOS ESCOLARES PARA O ENSINO


PRIMÁRIO PORTUGUÊS (INVENTÁRIO DO NORTE DE PORTUGAL)

3. O HISTÓRICO PORTUGUÊS

3.1. IDENTIFICAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE CONSTRUÇÃO


NOS ÚLTIMOS CEM ANOS

Entendendo  a  arquitectura  como  a  arte  do  espaço  e  sabendo  que  as  práticas  quotidia-
nas  depreendem  lugares  pensados  segundo  as  premissas  das  mesmas,  seria  lógico,  
numa  perspectiva  contemporânea,  imaginar  que  a  realidade  dos  espaços  de  aprendi-
zagem  tivesse  sido,  desde  sempre,  a  de  lugares  específicos  para  o  ensino.

A  história  destes  espaços  desenha-­se  desde  a  Idade  Média,  porém,  pelas  represen-
tações  que  nos  são  legadas,  observa-­se  que  não  existiam  lugares  só  com  este  fim,  
variando  entre  espaços  interiores  e  exteriores.  Destaca-­se  o  facto  do  professor  estar  
sentado  numa  cadeira  e  as  crianças  permanecerem  a  um  nível  inferior,  o  que  denota,  
desde  então,  a  elevação  da  figura  do  professor  perante  a  do  aluno.

Ilustração 50 -  The  Ass  in  the  School  1556  -­  Pieter  Bruegel  the  Elder  (Em  linha)  
(consultado   em   07   de   Janeiro   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   http://
wikipaintings.org  >

Segundo  Anne  M.  Châtelet  (2004),  os  primeiros  espaços  de  ensino  construídos  espe-
cificamente  para  tal  foram  as  universidades;;  as  mais  antigas  são  a  de  Sorbonne,  em  

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Paris,  e  a  de  Bolonia  em  Bolonha,  que  remontam  ao  ano  de  1200.

Ilustração 51 -  Gravura  da  Universidade  de  Sorbonne  (Em  linha)  (consultado  em  14  de  
Janeiro  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://bonjourdefrance.com  >  

Ilustração 52 -   Gravura   da   Universidade   de   Bolonia   (consultado   em   14   de   Janeiro   de  


2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://bonjourdefrance.com  >    

A  mesma  autora  refere  que  a  Sorbonne,  no  séc.  XIV,  era  um  aglomerado  de  volumes  
construídos  em  torno  de  um  pátio,  cuja  função  era  a  de  garantir  a  distribuição  entre  o  
conjunto  construído.  Esta  mesma  função  manteve-­se  ao  longo  dos  anos  e  era  parti-
cularmente  interessante  por  revelar-­se  uma  herança  monástica,  também  com  grande  
visibilidade  em  Bolonia.  A  sua  composição  era  governada  pela  regularidade  geométri-
ca  do  pátio.  A  importância  do  pátio  estava  patente  como  elemento  primordial  e  funda-
mental  na  organização  do  conjunto.

Este  tipo  de  organização  espacial,  no  que  diz  respeito  à  construção  das  universida-
des,   manteve-­se   até   ao   séc.   XX   e   foi   igualmente   determinante   na   arquitectura   dos  

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liceus  que  surgiram  no  início  do  séc.  XIX.  Estes  sucederam  às  universidades  criadas  
na   Idade   Média,   às   quais   foram   buscar   alguns   traços.   Nos   edifícios   construidos   de  
raiz,  o  pátio  regular  funcionava  também  como  elemento  de  transição  e  de  distribuição.  
Um   número   indeterminado   de   liceus   foi   instalado   em   edifícios   já   existentes,   alguns  
alienados  à  Igreja  e  à  aristrocacia,  aquando  da  transição  para  o  regime  republicano.  
Foi  também  sobre  o  princípio  de  um  pátio  dominante  e  distribuidor,  que  se  desenvol-
veu  a  arquitectura  dos  liceus.

O  mesmo  não  aconteceu  com  a  história  da  escola  primária  que,  durante  muito  tem-
po,   não   teve   um   edifício   específico.  A   arquitectura   das   escolas   primárias   apareceu  
tardiamente  e  não  herdou,  tal  como  os  liceus  e  as  universidades,  os  pressupostos  da  
arquitectura  monástica.  Em  contra  partida,  no  final  do  séc.  XIX,  as  casas-­escola  eram  
em   número   superior   e   espalhadas   pelo   território,   cidades   e   meio   rural,   ao   contrário  
dos  liceus  e  das  universidades.

Anne-­Marie  Châtelet  (1999)  apresenta  razões  que  explicam  estas  diferenças,  e  o  que  
hoje  aparece  como  dois  níveis  de  um  mesmo  sistema,  ensino  primário  e  ensino  secun-
dário,  constituiu  outrora  duas  formas  de  ensino  distintas,  destinadas  a  grupos  socioe-
conómicos  diferentes.  O  liceu,  segundo  Antoine  Prost  19,  era  considerado  a  escola  dos  
notáveis,  de  alguém  digno  de  atenção  e  dotado  de  boa  posição  social,  sendo  que  as  
escolas  primárias  eram  tendencialmente  para  as  crianças  do  povo.  Os  financiamentos  
que  existiam  também  diferiam  entre  a  construção  dos  liceus  e  das  escolas  primárias,  
sendo  o  dos  liceus  de  um  montante  superior.  Com  efeito,  a  arquitectura  das  escolas  
primárias,   que   se   inicia   no   séc.   XIX,   teve   uma   evolução   lenta,   essencialmente   por  
influência  de  factores  higiénicos  e  económicos  em  detrimento  do  debate  das  práticas  
pedagógicas.  Aqui  a  realidade  portuguesa  diverge  do  resto  da  Europa.  Como  referên-
cia  pontual  a  contextualizar  no  desenvolvimento  do  trabalho,  fica  a  nota  que  a  França  
(1922),  a  Bélgica  (1931),  a  Alemanha  (1936),  a  Itália  (1949)  e  a  Suíça  (1953)  desen-
volveram  cinco  congressos,  com  um  curto  espaço  de  tempo  entre  eles,  em  torno  do  
tema  da  arquitectura  escolar,  com  particular  enfoque  sobre  as  escolas  ao  ar  livre,  e  
dos  quais  resultaram  ecos  efectivos  nas  premissas  das  construções  escolares.

Para  enquadrar  a  particular  realidade  dos  estabelecimentos  de  ensino  portugueses  e  


o  aparecimento  das  casas-­escola  no  séc.  XIX,  os  primeiros  edifícios  construídos  de
raiz  com  o  propósito  único  de  albergar  o  professor  e  receber  os  alunos,  será  impor-

Antoine  Prost  é  um  historiador  francês,  nascido  em  1933,  em  Lons-­le-­Saunier.
19    

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tante  perceber  o  contexto.  Existiam  leis  que  regulamentavam  o  ensino,  sendo  que  as  
construções  escolares  até  então,  sob  uma  perspectiva  mais  global  em  que  a  realida-
de  portuguesa  se  revê,  não  faziam  parte  das  preocupações  das  entidades  régias,  e  
o   ensino   era   para   grupos   minoritários,   geralmente   relacionados   com   a   religião   e/ou  
com   aspirações   eclesiásticas.  A   necessidade   de   perpetuar   a   palavra   das   Sagradas  
Escrituras  (Carvalho,  2001,  p.12),  tornava  essencial  ao  clérigo  saber  ler  e  escrever,  
ao  contrário  do  povo  que  reduzia  as  suas  preocupações  ao  perturbado  quotidiano  que  
se  vivia,  assolado  por  epidemias  e  fome.

As  escolas  monásticas,  centros  de  ensino  localizados  em  celas  e  nos  claustros  con-
ventuais  dos  mosteiros,  e  as  escolas  episcopais,  que  se  situavam  numa  das  depen-
dências  da  catedral  ou  da  habitação  do  bispo  (Carvalho,  2001,  p.15),  são  os  espaços  
onde,  desde  o  início  da  era  cristâ,  se  imortalizava  o  conhecimento  pela  mão  das  or-
dens  religiosas  (destaca-­se  a  Ordem  de  Cister,  fundadora  do  Mosteiro  de  Alcobaça,  e  
a  Ordem  de  Santo  Agostinho,  fundadora  do  Mosteiro  de  Santa  Cruz  de  Coimbra).

Ilustração 53 -  Mosteiro  de  Alcobaça  (Em  linha)  (consultado  em  20  de  
Março   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   http://lenteoculta.fotos-
blogue.com  >

Ilustração 54 -   Mosteiro   de   Santa   Cruz   em   Coimbra   (Em   linha)   (con-


sultado  em  20  de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://
origens.pt    >

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O  que  se  entende  como  primeira  forma  de  escola  pública  em  Portugal  surge  quando,  
entre  1252  e  1276,  Frei  Estevão  Martins,  abade  do    Mosteiro  de  Alcobaça,    introduziu,  
para  além  do  ensino  da  Teologia  para  os  monges,  o  estudo  da  Lógica  e  da  Gramática,  
alargando-­o  a  elementos  não  pertencentes  à  ordem  e  que  poderiam  frequentar  as  au-
las  (Carvalho,  2001,  p.30).    Efectivamente,  os  sécs.  XII  e  XIII  foram  pautados  por  um  
interesse  crescente  pelo  saber.  

Sem  o  intuito  de  substituir  as  escolas  existentes  surge,  em  Portugal,  a  Universidade  
ou   o   Estudo   Geral,   designação   que   se   mantém   até   ao   séc.   XVI,   precisamente   por  
as  classes  serem  frequentadas  por  quem  demonstrasse  interesse  (em  1288,  o  Papa  
Nicolau  IV  autoriza  a  sua  criação).  Isto  acontece  quando  portugueses  de  famílias  ilus-
tres  (nobres  e  fidalgos),  sabendo  do  ensino  que  se  praticava  nas  universidades  além  
fronteiras  procuraram,  sem  ter  de  fazer  longas  viagens,  o  mesmo  tipo  de  ensino  que  
lhes  permitisse  enveredar  por  uma  carreira  eclesiástica  (nos  dias  de  hoje,  as  univer-
sidades  proporcionam  a  possibilidade  de  explorar  diversas  profissões,  na  época  eram  
essencialmente  um  canal  de  ascensão  ao  clero).

O  Estudo  Geral,  durante  o  período  medieval,  apesar  das  aspirações  dos  seus  frequen-
tadores,   ficou   aquém   das   expectativas   de   se   igualar   às   universidades   estrangeiras  
(Gomes  et  al.,  1988,  p.23),  evitando  assim  o  êxodo  daqueles  que  aspiravam  o  conhe-
cimento.  A  universidade  que  alternava  entre  Lisboa  e  Coimbra  fixou-­se  definitivamente  
em  Coimbra,  em  1537.  

Um  dos  filhos  do  rei  D.  João  I,  o  Infante  D.  Henrique,  desempenhou  o  papel  de  “Protec-
tor  do  Estudo”  (cargo  criado  pelo  pai)  de  uma  forma  notável,  autonomizando  o  Estudo  
Geral  num  edifício  próprio,  com  a  dignidade  que  lhe  era  fundamental.  Foi,  também,  o  
mecenas  do  ensino  da  Teologia  e  iniciou  o  estudo  da  Geometria,  da  Astrologia  e  da  
Aritmética,  lançando  assim  o  conhecimento  que  permitiu  a  alguns  dos  alunos  desem-
penharem  o  papel  de  divulgadores  dos  ideais  portugueses  pelo  mundo,  na  época  das  
descobertas.  Apesar  dos  esforços  e  do  interesse  demonstrado  quer  pelo  trono  quer  
pela  corte,  até  ao  séc.  XV  “a  universidade  de  Lisboa  não  passou,  no  entanto  de  um  
procurado  centro  de  estudos  tradicionais.  Não  parece  ter  sido  “posta  ao  serviço”  da  
expansão  portuguesa,  nem  difundiu  o  Humanismo  que  irradiava  de  Itália.  Nos  últimos  
anos   deste   século,   muitos   portugueses   afluíram   às   universidades   italianas   e   mais  
tarde  irão  lançar  os  alicerces  do  Humanismo  português”  (Gaspar,  2002,  p.8).  É  com  

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este  movimento  que  surgem  as  primeiras  publicações  de  gramáticas  de  Latim  e  das  
Línguas  Nacionais  (os  livros  deixam  de  ser  apenas  manuscritos,  uma  consequência  
da  invenção  da  imprensa,  apesar  da  Igreja  tentar  manter  o  seu  monopólio  ao  restringir  
o  uso  das  poucas  publicações  a  si,  à  Universidade  e  ao  Estado).  

Ilustração 55 -  Tipografia  no  século  XVI  (Em  linha)  (consultado  em  5  de  Fevereiro  de  2012)  dispo-
nível  em  WWW:  <  URL:  http://spirituslitterae.blogspot.com  >

A  normatização  da  Língua  Portuguesa  inicia-­se  em  1536,  aquando  da  publicação  da  
primeira  gramática  portuguesa  com  Fernão  de  Oliveira  20.

João  de  Barros  21,  autor  da  Cartilha  de  Ensinar  a  Ler  “...  teve  uma  importância  decisiva  
na  popularização  do  ensino  elementar:  tornou  possível  que,  um  pouco  por  todo  o  país,  
em  escolas  que  abriam,  ou  nas  casas  dos  alunos,  um  considerável  número  de  “mes-
tres”   se   dedicasse  ao  ensino  da  leitura   e   da   escrita,   num   contexto   laico   muito   mais  
directo  e  acessível  do  que  o  praticado  até  então.”  (Beja,  1985,  p.15)

 Mais  diligente  que  o  seu  pai,  D.  João  III  incita  a  separação  entre  o  ensino  superior,  
disciplinas  maiores,  e  o  ensino  de  base  ou  preparatório,  disciplinas  base,  desencade-
ando  uma  reforma  no  sistema  de  ensino.  Esta  separação  era  também  física,  corres-

Fernão  de  Oliveira  era  um  heterodoxo  frade  dominicano,  diplomata,  escritor  e  filólogo,  marinheiro  e  
20    

tratadista  naval,  que  dedica  a  sua  “Grammatica  da  lingoagem  portuguesa”  a  D.  Fernando  de  Almada,  
nobre  e  militar  português,  Alcaide-­mor  de  Lisboa.
21
João  de  Barros,  chamado  o  Tito  Lívio  Português,  (c.  1496  -­  Ribeira  de  Alitém  20  de  Outubro)  é  geral-
mente  considerado  o  primeiro  grande  historiador  português  e  pioneiro  da  gramática  da  língua  portugue-
sa,  tendo  escrito  a  segunda  obra  a  normatizar  a  língua,  tal  como  falada  em  seu  tempo.

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pondendo  cada  um  destes  níveis  de  ensino  a  edifícios  distintos.  

O  período  de  transformação  em  questão  continuou  com  a  criação  de  bolsas  de  ensino,  
por  influência  de  Diogo  Gouveia  22,  que  havia  sido  reitor  da  Universidade  de  Paris.  Esta  
medida  permite  que  alguns  estudantes  portugueses  frequentem  o  Colégio  de  Santa  
Bárbara,  em  Paris,  e  que,  consequentemente,  aquando  do  seu  retorno,  influenciem  a  
continuação  da  implementação  de  reformas  pedagógicas  em  que  se  insere  a  criação  
dos  Colégios  em  Portugal  (em  forma  idêntica  aos  Colégios  estrangeiros).

O   período   correspondente   ao   início   do   séc.   XVI   foi   pautado   por   uma   mudança   nas  
mentalidades  das  sociedades  europeias.  Subsistia  uma  insatisfação  generalizada  com  
a  Igreja,  que  na  época  era  omnipotente,  e  do  qual  resulta  um  movimento  de  ruptura  da  
unidade  cristã,    a  Reforma  Protestante  (Weber,  1904,  p.  217).

Apesar  de,  em  Portugal,  esta  reforma  ter  sido  implementada    tenuemente,  percebe-­se  
que   o   desenvolvimento   das   escolas,   não   só   aqui   como   em   toda   a   Europa,   foi   fruto  
da  Contra  Reforma,  reacção  da  Igreja  aos  Protestantes  e  da  qual  salientamos  a  im-
portância  do  papel  dos  Jesuítas  (visível  na  realidade  do  nosso  país).  Do  Concílio  de  
Trento  (1545-­1563)  surgiu  “o  maior  número  de  decretos  dogmáticos  e  reformas”    (Ca-
tholic  Encyclopedia,  1913),  entre  elas,  a  premissa  de  que  houvesse  em  cada  Igreja,  na  
cidade  ou  no  campo,  uma  pequena  escola  cujo  professor  seria  escolhido  pelo  padre  e  
onde  se  ensinaria  gratuitamente  às  crianças  pobres  disciplinas  como  a  leitura,  a  escri-
ta,  a  gramática,  o  canto  e  o  cálculo.  Tratava-­se  não  mais  do  que  uma  reacção  clara  à    
expansão  das  escolas  protestantes.

Em  Portugal,  entre  os  sécs.  XVI  e  XVIII,  os  Jesuítas  implementaram,  em  pequenos  
colégios,  a  educação  para  uma  minoria  muito  restrita  da  população.  Em  1555,  transi-
tou  para  o  seu  controlo  o  Colégio  Real  ou  Colégio  das  Artes  e  Humanidades,  que  era  
originalmente  um  colégio  humanista.  Instituído  por  D.  João  III,  foi  estruturado,  a  seu  
pedido,  por  André  de  Gouveia,  humanista  português  com  experiência  internacional  na  
reforma    e  na  organização  escolar  dos  colégios.  

Neste  contexto  de  prevenção  de  uma  eminente  desordem  despoletada  pelos  hereges  
humanistas,  fixou-­se  em  Portugal,  em  1540,    no  mosteiro  de  Santo  Antão,  em  Lisboa,  
a  Companhia  de  Jesus.

22
Diogo  Gouveia  (1471/1557)  pedagogo,  teólogo,  diplomata  e  humanista  português  do  Renascimento,  
grande  defensor  da  escolástica  e  da  ortodoxia  católica.

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Ilustração 56 -  Simbolo  da  Companhia  de  Jesus  (Em  linha)  (consultado  em  16  de  
Fevereiro  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://pt.wikipedia.org  >

A  sequência  de  acontecimentos  leva  à  criação  do  Colégio  de  Jesus,  em  Coimbra,  com  
o  intuito  de  formar  os  membros  mais  recentes  da  Ordem,  tendo  o  rei  D.  João  III  outor-
gado  privilégios  e  graças  aos  seus  conselheiros  e  docentes.  Estes  privilégios  passa-
ram  pela  construção  de  um  edifício  de  raiz,  caracterizado  por  alguma  imponência  nos  
contornos  da  cidade  medieval,  um  reflexo  da  influência  que  estes  clérigos  exerciam  
perante  a  família  real.

A  acção  pedagógica  dos  Jesuítas,  espalhada  por  todo  o  território  português,  dispunha  
de  uma  singular  e  estabilizada  rede  escolar  que  era  regida  segundo  os  seus  pressu-
postos,  difundindo-­se  através  do  ensino  dos  ideais  da  Igreja  Católica.  Construiu-­se  um  
sistema  de  escolas  públicas  para  Jesuítas,  associado  à  possibilidade  de  frequência  
por   não   Jesuítas,   no   qual   o   ensino   era     gratuito   e   aberto   a   qualquer   classe   social.  
(Carvalho,  2001)

Curiosamente,  a  cidade  do  Porto  mostrou-­se  renitente  quanto  ao  ensino  dos  Jesuítas,  
sendo  que  “  no  ano  de  1560,  foi  criado  o  Colégio  de  S.  Lourenço  no  Porto,  primeiro  
muito  modestamente  e  só  mais  tarde  com  melhores  condições.  A  cidade  fez  grande  
resistência   à   instalação   dos   Jesuítas,   porque   o   povo   se   queixava   de   que   lhe   iriam  
roubar  os  filhos  para  a  Companhia  e  de  que  se  apossariam  dos  seus  haveres  para  

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sustento  próprio.  (…)  A  reacção  dos  portuenses  foi  sempre  tão  violenta  que  (…)  a  Câ-
mara  proibiu  “sobre  graves  penas  aos  cidadãos  do  Porto  mandarem  estudar  nelas  os  
seus  filhos””.  (Carvalho,  2001,  p.326)

A  ideia  tacanha,  generalizada  entre  a  Corte,  de  que  o  ensino  seria  prejudicial  à  eco-
nomia  portuguesa  por  retirar  à  produção  nacional  os  “braços”  que  operavam  a  terra  e  
afastar  homens  da  guerra,  inibiu  parcialmente  a  propagação  da  Companhia  e  a  cria-
ção  de  mais  estabelecimentos  de  ensino.  Apesar  de  todos  estes  factores,  em  meados  
do  séc.  XVIII,  os  estabelecimentos  chegaram  aos  30.

A  expansão  do  ensino  foi,  entretanto,  potenciada  quer  pelo  entusiasmo  dos  Descobri-
mentos  (que  os  Jesuítas  como  missionários  colonizadores  acompanharam  de  perto),  
quer  pela  mudança  de  posição  que  o  Homem  ocupava  no  mundo,  que  passou  a  ser  
entendido  como  a  medida  de  todas  as  coisas,  fruto  da  nova  atmosfera  intelectual  in-
troduzida  pelo  Renascimento.

O  processo  de  decadência  deste  modo  de  ensino  teve  como  origem  uma  metodologia  
que   se   demonstrava   inerte   perante   a   renovação   intelectual   trazida   pelo   Iluminismo,  
bem  como  o  surgimento  de  novas  instituições  com  fins  similares.  Assistiu-­se,  assim,  
a   uma   redução   da   influência   da   Companhia   de   Jesus.   No   entanto,   foi   um   de   seus  
discípulos,  Luís  António  Verney   23,  que  a  pedido  de  D.  João  V  lançou  o  processo  da  
reforma   pedagógica   em   Portugal,   no   qual   estava   presente   o   espírito   iluminista   dos  
europeus  mais  progressistas,  desavindo  da  ideologia  da  sua  formação  jesuíta.  Verney  
entendia  que  a  Companhia  de  Jesus  se  incompatibilizava  com  o  modo  de  ensino  em  
que  acreditava  e,  como  tal,  defendeu  a  irradicação  da  instituição  jesuíta.  Os  objectivos  
científicos  e  pedagógicos  veiculados  e  repercutidos  no  seu  livro  “O  Verdadeiro  Método  
de  Estudar”  reflectiram  o  seu  desejo  de  progresso  cultural  e  de  elevação  individual  dos  
discentes,  uniformizando  o  grau  de  conhecimento  e  beneficiando  o  desenvolvimento  
da  nação.

Rómulo  de  Carvalho  refere  que,  no  final  do  séc.  XVIII,  D.  José,  ao  constituir  o  Gabine-
te  Ministerial  a  fim  de  contrapor  as  enfraquecidas  políticas  do  anterior  reinado,  instituiu  
um  secretário  de  Estado  com  a  pasta  dos  Negócios  Estrangeiros  e  Guerra,  que  acaba-

23    
Luís  António  Verney  (Lisboa,  1713;;  Roma,  1792)  filósofo,  teólogo,  padre,  professor  e  escritor,  foi  o  
autor  de  “O  verdadeiro  Método  de  Estudar”  (1746)  e  um  brilhante  iluminista  português.

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ria  por  assumir  um  papel  preponderante  na  história.  Em  1770,  Carvalho  e    Melo,  intitu-
lado  Marquês  de  Pombal,  conquistou  a  total  confiança  do  rei,  o  que  lhe  permitiu  tomar  
um  conjunto  de  medidas  repressivas,  corroborando  e  intensificando  uma  espécie  de  
censura  ideológica.  Assim  suprimiu  o  ensino  Jesuíta  (Carvalho,  2001),  expulsando  os  
clérigos   e   confiscando-­lhes   os   bens.   Este   acto   repercutiu-­se   na   cultura   portuguesa  
na  medida  em  que  os  Jesuítas  eram  a  entidade  dominante  no  ensino,  pelo  que  a  sua  
irradicação  significou  o  encerrar  de  muitas  escolas.

Ilustração 57 -   Sala   de   aula   no   século   XVIII   (Em   linha)   (consultado   em   10   de   Janeiro   de   2012)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://meilycass.wordpress.com  >

O  documento  do  Ministério  da  Educação  que  apresenta  uma  resenha  da  história  do  
sistema  educativo  em  Portugal  refere  que,  logo  que  os  Jesuítas  são  expulsos,  o  Mar-
quês  de  Pombal    implementa  um  sistema  de  ensino  para  as  Escolas  Menores  24, com
novos  métodos  fundamentados  em  compêndios  igualmente  novos.  (OEI-­Ministério  da  
Educação  de  Portugal  (s/d)).  Estas  reformas  foram  impulsionadas  pela  necessidade  
clara  da  Coroa  superar  o  vazio  deixado  pelo  grupo  do  Clérigo.  Aulas  de  escrever  de  
contar  e  de  ler  foram  ministradas  por  todo  o  reino,  por  professores  régios  selecciona-
dos  por  uma  Directoria  Geral  que  os  distribuia  pelas  diferentes  comarcas  do  reino.  No  
reinado  de  D.  Maria  I,  os  conventos  foram  disponibilizados,  e  lá  se  criaram  escolas  
conventuais,  cujas  aulas  eram  leccionadas  por  religiosos  pagos  pelo  Reino.

Em  1771,  a  transição  da  administração  do  ensino  para  a  Mesa  Censória  estabeleceu  o  
Plano  de  Escolas  Menores,  no  qual  se  definia  o  “mapa  dos  professores  e  mestres  das  

As  Escolas  Menores  serviam  o  ensino  das  primeiras  letras,  opondo-­se  ao  Estudo  Geral  das  universi-
24    

dades.

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escolas  Menores  e  das  terras  em  que  se  acham  estabelecidas  as  suas  aulas  e  escolas  
neste  reino  de  Portugal  e  seus  domínios”    (Beja  et  al.,  1985,  p.31),  com  inspecções  
regulares  por  parte  da  entidade  supracitada.  

Apesar   de   todas   as   medidas   repressivas,   a   Igreja   nunca   deixou   de   ser   a   maior   en-
tidade   no   contexto   educativo,   circunstância   que   se   reafirma,   quando   o   Marquês   de  
Pombal  sai  do  poder  e  D.  Maria  I  sobe  ao  trono,  impulsionando  uma  nova  reforma  nas  
metodologias  de  ensino.  A  reforma  dos  Estudos  Menores,  que  considerava  o  ensino  
primário   essencial,   procurou   o   seu   incremento,   mas   o   número   de   docentes   acabou  
por   ser   reduzido   (Beja   et   al.,   1985,   p.34),   com   a   retoma   dos   lugares   por   parte   dos  
clérigos.

D.   Maria   manifestava   preocupações   com   os   pobres   e   vagabundos,   bem   como   com  


as   crianças   abandonadas   na   cidade,   daí   a   criação   da   Casa   Pia   pela   mão   de   Pina  
Manique  (1780).  Mas  a  rainha  acabou  por  redireccionar  as  verbas  do  Subsídio  Literá-
rio,  que  servia  para  a  manutenção  dos  ensinos  primário  e  médio,  para  custear  este  e  
outros  equipamentos  de  apoio  social.  As  crianças  que  frequentavam  estas  instituições  
tinham  “aulas  de  primeiras  letras”    (Carvalho,  2001,  p.519)  e  ficavam  habilitadas  para  
lavores  de  vários  tipos.

A  revolução  francesa  (1789)  trouxe  consigo  as  primeiras  ideias  republicanas  e,  con-
sequentemente,  uma  intensa  censura  sobre  os  livros,  encarados  como  meio  de  divul-
gação  de  ideias  indesejadas.  Como  tal  surge,  em  detrimento  da  Real  Mesa  Censória,  
a   Real   Mesa   de   Comissão   Geral   sobre   o   Exame   e   Censura   dos   Livros,   que   estava  
igualmente  incumbida  da  inspecção  do  Real  Colégio  dos  Nobres,  assim  como  da  ges-
tão  do  Subsídio  Literário  e  dos  Estudos  Menores.  

As  Invasões  Napoleónicas  geraram  dificuldades  políticas  e  económicas,    pelo  que  a  


família  real  teve  de  procurar  refúgio  no  Brasil.  (OEI-­Ministério  da  Educação  de  Portu-
gal  (s/d)).  Nos  anos  seguintes,  o  panorama  político  revelou-­se  tumultuoso  e  só  com  
o  decorrer  do  séc.  XIX  é  que  se  retomou  alguma  estabilidade.  E  foi  graças  à  criação  
de  escolas  nos  quartéis,  reflexo  da    necessidade  de  educar  os  jovens  militares,  que  
a  educação  para  adultos  assumiu  novos  contornos.  A  criação  e  a  abertura  à  comuni-
dade  das  intituladas  Escolas  dos  Corpos  de  Linha  representou,  de  facto,  uma  medida  
inovadora.  O  processo  de  ensino  instituído  nas  escolas  dos  militares  baseava-­se  no  

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método  de  Andrew  Bell  e  Joseph  Lancaster,  o  ensino  mútuo  25.

A  esta  medida  soma-­se  a  criação  de  uma  escola,  em  Lisboa,  que  garantia  um  conhe-
cimento  uniformizado  para  os  mestres,  a  Escola  Normal  (1824).  Tratou-­se  de  um  facto  
inovador  visto  ter  sido  a  primeira  vez  que,  em  Portugal,  se  formaram  professores  para  
adestrar  um  determinado  tipo  de  ensino.  (Ferreira,  1971)

Em  1820,  a  revolução  liberal  introduz  um  contexto  favorável  à  dinamização  do  ensino  
público,  reflectindo-­se  na  Constituição  de  1822,  com  um  artigo  alusivo  à  liberdade  de  
ensino.   26  (Ribeiro,1891-­1892)  Simultaneamente,  houve  uma  abertura  ao  ensino  lec-
cionado  por  mestres  particulares,  não  formados  nas  Escolas  Normais,  que  entretanto  
se  multiplicaram  pelo  país.  A  premissa  era  de  que  mais  valia  saber  ler  e  escrever  mal  
do  que  não  saber.  Estas  circunstâncias  culminam  no  aumento  do  número  de  escolas  
primárias 27
.   (D.S.D.I.-­   Assembleia   da   República   Portuguesa,   1821)   Convém   ainda  
referir  que,  durante  este  período,  na  sequência  das  oscilações  políticas,  tais  medidas  
revelaram-­se  efémeras.  E,  com  a  mesma  rapidez  que  se  instituiu  o  ensino  obrigatório,  
encerraram-­se  escolas  e  perseguiram-­se  os  seus  docentes,  deixando  cair  por  terra  a  
Carta  Constitucional  de  1826,  que  garantia  a  todos  o  ensino  primário  gratuito.

No  âmbito  da  legislação  pedagógica  destaca-­se  o  jornalista  e  orador  Rodrigo  de  Fon-
seca  Magalhães,  que  viria  a  revelar-­se  um  hábil  parlamentar  e  um  estadista  convic-
to,  com  a  reforma-­modelo  que  instituía  uma  escola  normal  primária  em  cada  distrito.  
Determinou  também  a  escolaridade  obrigatória  e  gratuita  para  todas  as  crianças  com  
mais  de  7  anos,  prevendo  para  os  professores  uma  casa  e  legando  aos  municípios  o  
encargo  dessas  habitações.  A  reforma  acabou  por  não  se  estabelecer  e  estas  premis-
sas  foram  retomadas  por  Passos  Manuel,  parlamentar  liberalista,  que,  como  Ministro  
do  Reino  responsável  pelas  políticas  educativas,  se  revelou  convicto  de  que  o  ensi-
no  era  um  pilar  fundamental  para  o  desenvolvimento  social  e  para  o  crescimento  da  

Andrew   Bell   publica,   em   1797,   um   livro   sobre   a   experiência   pedagógica   que   tinha   desenvolvido   na  
25    

Índia,   onde   explica   o   novo   sistema   que   aplicara,   designando-­o   por   ensino   de   si   mesmo   (“self-­tuition)  
ou  o  modo  de  ensinar  os  meninos  por  eles  mesmos.  Os  estudantes  mais  desembaraçados  e  sabedores  
encarregavam-­se  de  ensinar  os  menos  adiantados,  denominando-­se  de  método  Lancaster.  Este  revelou-­se  
um  sistema  de  ensino  muito  mais  económico.

“É  livre  todo  o  cidadão  abrir  aulas  para  o  ensino  público,  contando  que  haja  responder  pelo  abuso  desta  
26    

liberdade  nos  casos  e  pela  forma  que  a  lei  determinar”.  

27    
Assembleia  da  RepúblicaPortuguesa  ,Cortes  Geraes  e  Extraordinárias  da  Nação  Portuguesa,  Diário  
das  Cortes  de  30-­VI-­1821,  Direcção  de  Serviços  de  Documentação  e  Informação.

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nação.  A  construção  de  escolas  para  meninas  nas  capitais  de  distrito,  a  reforma  da  
instrução  secundária,  com  a  introdução  da  figura  dos  liceus  (reforma  que  apesar  de  
só  se  ter  materializado  mais  de  uma  década  depois,  acabou  por  lançar  as  bases  do  
actual  sistema  de  ensino),  e  a  criação  da  Academia  de  Belas  Artes  foram  algumas  das  
medidas  que  vincularam  Passos  Manuel  ao  sistema  de  ensino  português.  Existiram  
factores  que  originaram  transformações  no  desenvolvimento  das  comunidades,  como  
a  já  referida  reforma  de  Passos  Manuel,  em  1836,  ao  propor  alterações  necessárias  
para  implementar  o  ensino  escolar  obrigatório.  

Sucederam-­se  inúmeros  governos  e  Costa  Cabral  surgiu  como  figura  subsequente  no  
que  diz  respeito  às  reformas  educativas,  dando  continuidade  aos  pressupostos  fun-
damentais  da  reforma  de  Passos  Manuel  e  acrescentando  a  divisão  da  instrução  pri-
mária  em  dois  graus.  Em  1844,  implementa  uma  outra  medida  que  penalizava  os  pais  
que   não   se   preocupassem   com   a   educação   literária   dos   filhos.   Esta   revela-­se   uma  
forma   importante   de   incutir   nas   mentes   dos   progenitores   a   necessidade   vital   dessa  
obrigatoriedade  (a  medida  acabou  por  ser  materializada,  de  forma  parca,  para  alguns  
estratos,  nos  meios  mais  urbanos).  Mas,  como  em  todas  as  medidas  principiantes,  o  
cenário  das  escolas  existentes  não  acompanhava  a  necessidade  de  instalações  para  
albergar  todas  as  crianças,  com  a  particularidade  de  alienar  elementos  de  alguns  es-
tratos  sociais.  O  governo  de  Passos  Manuel  acaba  por  cair  em  1851  e,com  o  fim  das  
guerras  civis,  sucedeu-­se    um  período  de  acalmia.

O   pedagogo  António   Feliciano   Castilho   28,   preocupado   com   analfabetismo   generali-


zado  na  população  portuguesa,  dedicou  grande  parte  da  sua  vida  a  esta  causa.  Pelo  
que   a   sua   luta   por   um   sistema   de   ensino   mais   eficaz   resultou   no   intitulado   Método  
Português.  Este  método  de  ensino  da  leitura  repentina,    também  designado  por  Méto-
do  Castilho,  foi  bastante  polémico,  pela  descrença  dos  outros  pedagogos  em  relação  
à  sua  eficácia.  Apesar  de  Castilho  ter  sido  incumbido  pelo  governo  para  generalizar  
esta  metodologia,  ao  nomeá-­lo  Comissário  para  a  Propagação  do  Método  Português  
e  atribuindo-­lhe  um  lugar  no  Conselho  Superior  de  Instrução  Pública,  a  difusão  geral  
e  oficial  desse  sistema  nas  escolas  públicas  não  aconteceu  de  facto.

Em  1891,  tornou-­se  obrigatória  a  frequência  do  Ensino  Primário  Elementar  dos  sete  

António  Feliciano  de  Castilho  (1800-­1875),foi  um  escritor  romântico  português,  polemista  e  pedagogo,  
28    

inventor  do  Método  de  Castilho  de  leitura.

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aos  nove  anos,  transformando-­o    numa  prioridade.    Posteriormente,  vulgarizou-­se  o  


facto  de  quase  toda  a  população  ter  pelo  menos  os  primeiros  quatro  anos  de  esco-
laridade.   E,   com   o   avançar   dos   tempos,   a   taxa   de   analfabetismo   no   nosso   país   foi  
baixando  sucessivamente.

A  Regeneração  trouxe,  na  segunda  metade  do  séc.  XIX,  redefinições  do  sistema  edu-
cativo,  numa  altura  em  que  Portugal  assumia  uma  posição  muito  retrógrada  em  relação  
ao  resto  da  Europa.  Surgiram  preocupações  pedagógicas  e  questões  em  torno  dos  
métodos  de  ensino,  que  reflectiam  a  procura  de  um  sistema  mais  eficaz.  Formaram-­se  
professores,  apareceram  as  primeiras  escolas  normais,  introduzindo-­se  alterações  no  
sistema  de  ensino  e  no  parco  sistema  educativo  implementado.  Revelaram-­se  mudan-
ças  mais  teóricas  do  que  práticas,  porque  o  Estado  preocupava-­se  mais  em  produzir  
legislação   e   em   definir   métodos   pedagógicos.   Consequentemente,   a   realidade   das  
escolas  não  se  alterou  muito.  Surgiram  manifestações  esporádicas  de  associações,  
bem  como  de  grupos  de  operários  com  iniciativa  na  estruturação  de  estabelecimentos  
de  ensino.

3.1.1. UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO NO SÉC. XIX

Segundo   o   historiador   Carlos   Manique   da   Silva   (2005),   a   expressão   “casa   escola”  


remete-­nos  para  a  dupla  imagem  de  alojamento  do  professor  e  de  espaços  organiza-
dos  -­  salas  para  leccionar  em  horas  determinadas.  (Silva,  2005,  pp.  291-­312)

A   escola,   enquanto   espaço   autónomo,   surgirá   com   o   aumento   do   intervalo   entre   a  


ideia   de   lar   e   do   espaço   público   do   estabelecimento   de   ensino,   que   por   esta   altura  
tinha  uma  fronteira  algo  ténue.

Ilustração 58 -  Corte  de  Casa-­Escola  Conde  de  Ferreira,  século  


XIX  (Beja  et  al.,  1990,  p.46)

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 125


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Segundo  o  mesmo  autor,  este  tipo  de  edifício,  até  meados  do  séc.  XIX,  era  uma  adaptação  
da  real  habitação  do  docente.  Os  docentes  eram  indivíduos  domiciliados  nas  próprias  
localidades,   ou   porque   eram   naturais   do   meio,   ou   porque   já   estariam   ali   radicados  
há  algum  tempo.  A  sua  actividade  enquanto  professor  era,  na  maior  parte  das  vezes,  
complementada  com  outras,  o  que  aumentava  a  promiscuidade  inerente  à  proximida-
de  dos  dois  mundos  -­  casa  e  escola  -­,  retirando  autonomia  e  intimidade  a  qualquer  um  
deles.  Existia  claramente  o  problema  da  delimitação  entre  serviço  público  e  actividade  
doméstica/privada.   O   espaço   doméstico   era   reproduzido   na   sala   de   aula,   como   se  
percebe  pela  análise  das  gravuras  da  época;;  os  objectos  remetem  na  maioria  para  a  
esfera  do  lar  e  é  perceptível  que  o  ensino  se  pratica  de  acordo  com  uma  pedagogia  
antiga  -­  modo  individual.  A  existência  de  um  quadro  -­  ardósia  lancasteriana  –  revela,  
por  seu  turno,  uma  especificação  do  meio  escola,  particularizando  a  função,  apesar  
do  contexto.

Ilustração 59 - “O  mestre  -­  escola”  inícios  do  séc.  XIX,  autor  


desconhecido.  Foto  de  José  António  Silva  (SILVA,  (2005)

Existe  uma  outra  problemática  interessante  advinda  destas  estruturas  e  que  se  rela-
ciona   essencialmente   com   o   questionar   das   relações   entre   o   exterior   e   o   interior,   a  
abertura  ou  a  clausura  dos  espaços  de  ensino,  tema  que  remeteria  para  os  regimes  
de  internato,  sécs.  XVIII  e  XIX.  Esta  perspectiva  transforma-­se  de  forma  contundente  
até  aos  dias  de  hoje,  onde  a  escola  enquanto  entidade  autónoma    procura  abrir-­se  ao  
meio  e  à  sociedade  em  que  se  insere,  como  se  poderá  aferir  na  citação  seguinte.

Com  a  expansão  da  educação  popular  e  a  consequente  obrigatoriedade  de  encontrar  


modos  de  ensino  económicos  e  eficazes,  a  escola/lar  desaparecerá  progressivamen-
te.  Como  quer  que  seja,  essa  matriz  revivescerá  até  às  primeiras  décadas  do  século  
XX,  particularmente  nos  projectos  de  edifícios  escolares  que  consagram  um  espaço  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

autónomo  para  a  habitação  do  professor.  (Carlos  Manique  da  Silva,  2005)

Mesmo  assim,  preocupações  de  outra  natureza  eram  igualmente  equacionadas,  como  
por  exemplo  a  dicotomia  cidade/campo,  tida  em  conta  nos  edifícios  escolares.  Existia  
uma  zona  arborizada,  adjacente  ao  espaço  da  escola,  nos  edifícios  que  se  destinavam  
à  cidade,  onde  a  presença  da  natureza  era  evidenciada.  Os  edifícios  das  escolas  ru-
rais  procuravam  uma  harmonia  com  o  contexto  rural.

3.1.2. A PRIMEIRA REPÚBLICA E AS ESCOLAS CONDE DE FERREIRA

Durante   o   séc.   XIX,   Portugal   acabou   por   se   remeter   para   uma   situação   periférica,  
quando  no  mundo  ocidental,  a  Europa  ocupou  uma  posição  central,  graças  à  Revo-
lução  Industrial.  Este  posicionamento  secundário  espelhou-­se  num  empobrecimento  
generalizado  da  população,  pela  frágil  inserção  da  economia  portuguesa  no  contexto  
mundial,  tal  como  demonstra  Eduarda  Simões  (2007)  ao  reiterar  que  a  “consequência  
ou  causa  da  fraqueza  que  os  processos  modernizadores  tiveram  neste  país”,  acaba  
por  reduzir-­nos  a  um  plano  secundário.”    O  princípio  da  obrigatoriedade  da  frequência  
escolar,  fruto  das  medidas  tomadas,  na  década  de  40  (séc.  XIX),  tinha  subjacente  a  
penalização  das  famílias  que  não  cumprissem  estas  directrizes;;  mas,  os  resultados  
dessas  sanções  foram  ínfimos,  reflectindo-­se  apenas  em  alguns  estratos  urbanos.

Genericamente,  os  edifícios  escolares  públicos,  sem  planos  coordenadores,  espalha-


vam-­se  por  conventos,  igrejas  e  casas  particulares.  Foi  com  o  Conde  de  Ferreira  que  
surgiu  o  primeiro  regulamento  de  construções  para  o  Ensino  Primário  (1866),  no  qual  
os  elementos  complementares  ao  projecto  começaram  a  fazer  parte  do  processo  de  
implementação  das  escolas;;  tais  como:  a  planta  topográfica  do  terreno,  as  áreas,  as  
condições    higiénico-­pedagógicas,  o  número  de  alunos  e  outros  elementos  comple-
mentares  da  rede  escolar.  Estas  escolas  surgem  pela  vontade  explícita,  em  testamen-
to,   de   Joaquim   Ferreira   dos   Santos,   filantropo,   e   comerciante,   que   determinou   uma  
verba  de  144.000$000rs,  a  ser  distribuída  por  obras  de  beneficência.  Este  benfeitor  fa-
vorece  o  plano  da  educação,  referindo  que  “...  convencido  de  que  a  instrução  pública  é  
um  elemento  essencial  para  o  bem  da  sociedade,  quero  que  os  meus  testamenteiros  
mandem  construir  e  mobilar  cento  e  vinte  casas  para  escolas  primárias  de  ambos  os  
sexos  nas  terras  que  forem  cabeças  de  concelho,  sendo  todas  por  uma  mesma  planta  

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e  com  acomodações  para  vivenda  do  professor,  não  excedendo  o  custo  de  cada  casa  
e  mobília  a  quantia  de  um  conto  e  duzentos  mil  réis;;  e  pronta  que  esteja  a  casa,  será  
a  mesma  entregue  à  Junta  da  Paróquia  em  que  for  construída;;  mas  não  mandarão  
construir  mais  de  duas  casas  em  cada  cabeça  de  concelho  e  preferirão  aquelas  terras  
que  bem  entenderem...”.  (Oliveira,  2006)

Após  o  falecimento  do  benemérito,  o  Ministério  do  Reino,  no  Diário  de  Lisboa,  conden-
sou  um  conjunto  de  princípios,  resultado  das  concepções  pedagógicas  da  época  e,  
sobretudo,  do  que  se  julgava  serem  as  condições  ideais  para  assegurar  o  bem  estar  
físico  e  moral  das  crianças.  Este  processo  resultou  na  concepção  de  um  projecto-­tipo  
que  teria  “a  correspondente  tradução  arquitectural  nos  vários  concelhos  do  país”  (Oli-
veira,  2006),  acrescentando  à  verba  legada  um  subsídio  complementar  para  simplifi-
car  o  processo  construtivo.

Ilustração 60 -  Largo  do  Pelourinho  e  Escola  Conde  de  Ferreira  (1913),  Vouzela  (Em  linha)  (con-
sultado   em   16   de   Março   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   http://pasteldevouzela.blogspot.
com >

Durante  o  séc.  XIX,  as  reformas  do  ensino  foram  lentas  e  muitas  delas  ficaram  incom-
pletas,  apesar  de  ter  sido  no  início  do  século  que  as  primeiras  escolas  femininas  fo-
ram  implementadas  em  Lisboa.  O  sistema  educacional  era  bastante  elitista,  o  ensino  
superior,  por  exemplo,  destinava-­se  a  uma  pequena  percentagem  da  população,  con-
tribuindo  para  o  elevado  número  de  analfabetos  (uma  taxa  acima  dos  80%).  (Solsten,  
1993)

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 128


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

3.1.3. AS PREOCUPAÇÕES HIGIENISTAS E A REGULAÇÃO DOS ESPAÇOS ESCOLARES

Em  Portugal,  o  problema  dos  espaços  educativos,  segundo    Solsten  (1993)  emergiu  


fundamentalmente   a   partir   de   1860   quando,   ao   nível   das   políticas   aplicadas   ao   en-
sino,  se  assistiu  a  um  aperfeiçoamento  do  ensino  elementar  no  sentido  de  o  alargar  
às   camadas   mais   pobres   da   sociedade,   que   motivavam   a   entidade   escola   pública.    
Estas  medidas  procuraram  também  responder  a  necessidades  higienistas,  corrigindo  
insalubridades  e  procurando  diminuir  o  ruído.  “Se  a  casa  escola  não  estiver  em  condi-
ções  convenientes,  se  os  alunos  estiverem  constrangidos,  apertados  e  metidos  numa  
atmosfera   viciada,   não   pode   haver   gosto   pelo   estudo,   nem   disciplina,   nem   saúde.”  
(Silva,  2005)      

É  nesta  altura  que  surge  o  primeiro  esboço  de  regulamentação  a  observar  na  cons-
trução  das  escolas.  O  historiador  Manique  da  Silva  (2005)  menciona  as  questões  de  
salubridade,  ventilação  e  cubagem  das  construções  escolares,  tidas  em  consideração  
a  fim  de  arejar  e  isolar  os  espaços  construídos,  dotando-­os  de  condições  excepcionais  
para  a  época  (tornavam-­se,  assim,  meios  privilegiados  à  prevenção  de  doenças).  Es-
tes  são  os  factores  que  levam  a  referenciar  este  período,  apesar  de  tais  preocupações  
não   serem   complementares   das   preocupações   pedagógicas,   remetidas,   inclusiva-
mente,  para  segundo  plano.  A  escola  era  entendida  como  um  “reduto  são  e  protector  
face  ao  exterior,  possibilitando  depois,  sob  a  manutenção  dessas  condições  ideais,  o  
ensino  e  a  aprendizagem.”  (Silva,  2005).

Ilustração 61 -   Catálogo   de   Exposição   Internacional   de   Higiene,   1907   (Em   linha)  


(consultado  em  28  de  Junho  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://scielo.br  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 129


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

3.1.4. A PRIMEIRA NORMALIZAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DOS EDIFÍCIOS ESCOLARES

Ilustração 62 -  Placa  com  a  inscrição  Conde  de  Ferreira  na  entrada  de  uma  escola  tipo  Conde  
de Ferreira.  Foto: Carla  Carvalho,  2012

Mais  tarde,  com  as  escolas  “Conde  de  Ferreira”  (em  1866,  aquando  da  sua  morte,  o  
Conde  de  Ferreira  deixa  uma  avultada  quantia  para  a  construção  de  120  escolas  de  
instrução   primária   de   ambos   os   sexos,   em   sedes   de   concelho,   como   anteriormente  
referido  no  ponto  3.1.2.)  deu-­se  uma  normalização  de  procedimentos  sobre  a  constru-
ção  de  edifícios  escolares.  As  preocupações  no  que  diz  respeito  à  salubridade,  uma  
espécie  de  ordem  higiénica  e  moral,  vincularam-­se  num  diploma  legal  que,  no  momen-
to  da  implantação  da  escola,  regulamentava  o  distanciamento  de  estradas  muito  movi-
mentadas  e  de  estabelecimentos  tidos  como  perturbadores  e/ou  passíveis  de  perigo.  

A  existência  de  um  terreno  com  áreas  entre  os  600  e  os  900  m2,  que  teria  de  estar  
entre  muros  ou  possuir  uma  vala  a  determinar  o  seu  perímetro,  visava  separar  da  resi-
dência  do  professor  e  das  latrinas  o  edifício  das  salas  de  aula,  e  servia  também,  para  
a  prática  de  exercício  físico,  contemplando  uma  zona  coberta  para  proteger  os  alunos  
sempre  que  necessário.  Foram  igualmente  previstas  alongadas  orientações  sobre  a  
distribuição  do  espaço  pedagógico,  a  perspectiva  de  iluminação,  respectiva  exposição  
solar  e  consequente  temperatura  e  ventilação.  

Segundo  Mariano  Ghira  (1864),  o  edifício,  para  além  da  sala  de  aula,  teria  uma  sala  
contígua  para  recitações,  recepção  e  biblioteca.  Na  hipótese  de  ambos  os  sexos  fre-
quentarem   a   escola,   teria   de   passar   para   dois   o   número   de   vestíbulos,   ou   então,  
sendo  a  escola  feminina,  pela  importância  da  aprendizagem  de  lavores,  a  mesma  sala  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 130


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

contígua  seria  maior,  podendo  crescer  até  dois  terços  da  sala  de  aula.  (Silva,  2005)

É  com  alguma  curiosidade  que  se  constata  que,  para  as  zonas  urbanas,  na  expectativa  
de   um   maior   número   de   alunos,   previa-­se   um   intervalo   entre   três   e   nove   salas   de  
aula,   expressando   algum   cuidado   com   a   “definição   da   superfície   da   sala   de   aula,  
intimamente   dependente   do   número   de   alunos   e   do   método   de   ensino   e   mobiliário  
adoptados”.  (Silva,  2005)  A  somar  a  estes  espaços,  deveria  também  existir  uma  sala  
de  exames.  O  edifício,  em  princípio,  teria  apenas  num  piso,  com  a  hipótese  de  crescer  
em  altura,  desde  que  não  ultrapassasse  os  dois  pisos.  

Ilustração 63 -  Nevão,  no  ano  de  1950,  no  Largo  Magalhães  Coutinho  (Em  linha)  (consul-
tado  em  07  de  Maio  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://gabrielcosta.blog.com  >

Estava   ainda   prevista   a   inclusão   de   um   campanário,   símbolo   da   pontualidade   por  


parte  de  professor  e  alunos,  e  um  elemento  de  referência  do  edifício.  Apesar  de,  na  
legislação  publicada,  ter  sido  prevista  a  individualização  da  residência  do  docente,  nas  
escolas  Conde  de  Ferreira  construídas,  essa  mesma  residência  manteve-­se  incorpo-
rada  no  edifício  da  escola,  com  algumas  salvaguardas  na  comunicação  interna  (intro-
dução  de  barreiras  físicas),  no  sentido  de  individualizar  as  funções.  Nestes  projectos  
existia  uma  preocupação  recorrente  em  maximizar  o  controlo  visual  sobre  os  alunos,  
justificado  por  razões  higiénicas  (visibilidade  do  docente  sobre  a  área  dos  sanitários)  
e  de  conduta  moral.

Nesta  altura,  os  impulsionadores  da  construção  das  escolas  eram  as  Juntas  de  Pa-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 131


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róquia.  Segundo  Silva  (2005),  apesar  de  financeiramente  limitadas,  desempenharam  


um  papel  significativo  nesta  matéria,  em  consequência  da  “inacção  do  Estado  no  pro-
cesso  de  dotação  em  causa”,  associado  ao  facto  de  se  ter  assistido  a  uma  redução  
significativa  dos  professores  que  leccionavam  em  habitação  própria.  Os  procedimen-
tos  de  construção  eram  legalmente  assegurados  pelas  direcções  distritais  das  Obras  
Públicas,  dependentes  do  Ministério  das  Obras  Públicas.  

 A  este  propósito,  não  deixa  de  ser  singular  a  analogia  das  necessidades  da  criança  
com  as  de  uma  planta.

 “  A  criança  (…)  é  uma  planta  humana  que  tem  necessidade,  primeiro  que  tudo,  de  ar  
e  de  sol  para  crescer,  desenvolver-­se  e  expandir-­se.  Não  a  tenhais,  pois  enclausurada  
em   salas   cuja   capacidade   é,   muitas   vezes,   insuficiente,   ou   em   pátios   cercados   por  
todas  as  partes  de  grandes  muros  e  habitações  que  impedem  a  renovação  da  massa  
atmosférica.  As   edificações,   nas   quais   se   quer   reunir   um   certo   número   de   crianças,  
devem  ser  rasgadas  por  numerosas  janelas,  a  fim  de  que  se  possa  renovar  o  ar  com  
a  frequência  necessária;;  que  sejam  completamente  desembaraçadas  para  que  a  luz  
seja  recebida  sem  obstáculo,  e  que  a  atmosfera  ambiente  receba  o  influxo  benéfico  
do  calor  do  sol,  cercadas  de  pátios  cobertos  em  parte,  nos  quais  as  crianças  possam  
brincar  em  todo  o  tempo,  e  de  pequenos  jardins,  onde  elas  vão  trabalhar  ou  divertir-­se,  
sempre  que  a  estação  o  permita”.  (Manique  da  Silva,  2005)

De  tal  forma  estas  preocupações  estavam  presentes,  durante  a  década  de  80  do  séc.  
XIX,   que   “o   tema   da   arquitectura   escolar   é   debatido   nas   conferências   pedagógicas  
(com  maior  ou  menor  incidência  nas  várias  circunscrições  escolares  do  país)”  (Silva,  
2005),   apontando   entre   outras   questões   para   as   condições   higiénicas   da   escola   e  
associando-­as  às  maleitas  físicas  apresentadas  pelas  crianças.  Distingue-­se,  assim,  
o  início  do  entendimento  da  educação  e,  consequentemente,  das  suas  arquitecturas  
como  factor  determinante  na  construção  de  uma  sociedade  física  e  mentalmente  sau-
dável.  No  entanto,  ainda  não  existia  uma  consciência  total  do  quão  determinante  era  o  
tipo  de  educação  (incluem-­se  todas  as  vertentes  do  currículo  pedagógico,  entendendo  
a  arquitectura  como  disciplina  orientadora  e  com  um  papel  assumidamente  determi-
nante  no  consolidar  das  já  referidas  pedagogias)  no  desenvolvimento  e  fortalecimento  
das  estruturas  sociais  e  das  mentalidades  percursoras  de  desenvolvimento.
No   fim   do   séc.   XIX,   a   vertente   do   desenvolvimento   do   físico,   a   par   do   aumento   do  
conhecimento,  surge  como  condicionante  na  educação  e  é  entendido  como  um  “factor  
de  equilíbrio  entre  as  duas  culturas,  do  corpo  e  do  espírito.”  (Silva,  2005)  O  historiador  
Manique  da  Silva  (2005)  defende  que,  quer  no  discurso  pedagógico,  quer  no  discurso  
médico,  a  prática  de  actividade  física  era  justificada  como  complementar  e  servia  para  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 132


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

descentralizar  as  aulas  do  espaço  físico  da  sala.  Aquela  funcionava  também  como  um  
estímulo  ao  contacto  com  a  natureza  e  à  realização  de  passeios  escolares,  reduzin-
do  o  número  de  horas  de  aula.  Ainda  neste  período,  o  estado  agravado  da  “situação  
material”  das  escolas  portuguesas  fez  com  que  as  atenções  se  centrassem  no  tema  
dos  edifícios  escolares,  constituindo  até  um  “elemento  de  pressão  sobre  o  governo”,  
facto   que   reforçou   a   necessidade   de   conceber   um   plano   uniforme   para   as   escolas  
primárias.      

3.2. AS ESTRATÉGIAS DA ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS CIVIS PORTUGUESES


PARA REDUZIR O ANALFABETISMO

De  acordo  com  as  mentalidades  de  então,  a  construção  de  novos  edifícios  escolares,  
mais  apelativos  e  mais  higienistas,  seria  um  factor  de  aumento  da  frequência  escolar  
e,  consequentemente,  decisivo  para  a  redução  do  analfabetismo.  Depois  da  aprova-
ção  por  parte  do  Congresso  (1890),  as  construções  passaram  a  ser  acompanhadas  
pela  Associação   dos   Engenheiros   Civis   Portugueses   que   delineou   estratégias   pro-
gramáticas  para  o  concurso  público  dos  edifícios  das  escolas  primárias.  “A  memória  
justificativa  revela  o  cuidado  que  tal  assunto  mereceu  à  corporação,  nomeadamente  
por  ter  coligido  grande  parte  da  legislação  que,  sobre  a  matéria,  vigorava  nos  Estados  
Unidos  e  em  alguns  países  da  Europa.  Na  sua  essência,  a  memória,  muito  técnica,  é  
elaborada  na  base  do  referido  enquadramento  normativo,  tanto  quanto  possível  adap-
tado  à  situação  portuguesa.”  (Silva,  2005).  O  orçamento  seria  também  condicionante  
à  elaboração  do  projecto  que  sairia  vencedor,  o  que  justificava  o  não  mencionar  no  
programa   de   espaços   direccionados   para   actividades   físicas   no   exterior   da   sala   de  
aula.  Adães  Bermudes  (1864-­1947)  foi  o  arquitecto  que  venceu  o  concurso  público  de  
1898,  com  duas  propostas  de  edifícios  escolares,  compostos  por  uma  e  duas  salas,  
respectivamente,  e  ambos  com  residência  para  o  professor.  

Todavia,  este  tipo  de  escolas  foi  tido  como  mal  dimensionado  para  um  número  previs-
to  de  50  alunos.  Com  efeito,  Silva  (2005)  referia-­se  a  estas  contruções  como  “edifícios  
sólidos  e  sem  luxo  (…)  e  as  aulas  amplas,  rasgadas  (ao  contrário  das  famosas  gaiolas  
de  grilos)  em  vista  do  aumento,  que  não  do  decréscimo  das  frequências  escolares”  
(note-­se   que   “gaiola   de   grilos”   é   a   conotação   na   gíria   pedagógica   para   as   escolas  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 133


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

idealizadas   por   Bermudes).  Apesar   do   projecto   enquadrar   o   que   alguns   pedagogos  


ambicionavam  no  final  do  século  (em  termos  de  evolução  dos  edifícios  escolares),  na  
realidade  não  se  materializou  nas  parcas  construções  que  foram  sendo  construídas  
pelo  país.

Depois  do  descontentamento  da  população  com  a  monarquia,  que  se  intensificou  nas  
últimas  décadas  do  séc.  XIX,  o  início  do  séc.  XX  ficou  marcado  pela  instauração  da  
República.  Foi  a  primeira  grande  revolução  portuguesa  do  séc.  XX  e  que  trouxe,  entre  
outras  transformações,  mudanças  ao  nível  do  sistema  de  ensino.  Verifica-­se    que  não  
é  uma  questão  consensual  a  todos  os  autores,  mas  a  maioria  considera  que  se  produ-
ziu  uma  quantidade  enorme  de  legislação  sobre  o  ensino,  culminando  com  a  reforma  
de  1911.

Com  esta  reforma  surgiram  directrizes  como:  a  criação  do  ensino  infantil  dos  quatro  
aos  sete  anos  de  idade;;  a  transformação  do  ensino  primário  em  ensino  obrigatório  e  
gratuito  para  as  crianças  entre  os  sete  e  os  dez  anos  de  idade;;  a  criação  de  novas  
escolas  para  o  ensino  primário  e  técnico  (escolas  agrícolas,  comerciais  e  industriais);;  
a  criação  de  “escolas  normais”  com  o  intuito  de  formar  professores  para  o  ensino  pri-
mário;;  a  criação  das  Universidades  de  Lisboa  e  Porto,  aumentando  para  três  o  número  
de   universidades   existentes   em   Portugal   (Porto,   Lisboa   e   Coimbra);;   o   aumento   de  
“bolsas  de  estudo”  para  os  alunos  com  dificuldades  financeiras;;  e,  por  fim,  a  criação  
de  escolas  “móveis”  para  o  ensino  de  adultos.

É  também  importante  referir  que  todas  as  medidas  tinham  como  objectivo  contrariar  os  
elevados  números  de  analfabetismo  e  o  “estado  deplorável”,  tal  como  António  Vascon-
celos 29
   definia  o  sistema  escolar  português,  procurando  ultrapassar  os  problemas,  
como  a  deficiente  preparação  pedagógica  dos  professores  e  o  número  insuficiente  de  
escolas  primárias.  

Estas  questões  foram  identificadas  ainda  durante  a  monarquia  e,  tal  como  neste  pe-
ríodo,  foram  alvo  de  grande  especulação  sobre  a  problemática  educacional.  No  en-
tanto,  uma  vez  mais,  grande  parte  destas  intenções  não  conseguiram  estabelecer-­se,  
devido   ao   facto   de   persistir   uma   enorme   instabilidade   governativa.   Com   a   primeira  

Vasconcelos,   António   de   Sena   Faria   (1880-­1939),   pedagogo   português,   autor   inserido   na   “Escola  
29    

Nova”.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 134


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

República   surgiram   soluções   inovadoras,   tais   como   o   acompanhamento   escolar   do  


jardim  de  infância  à  universidade,  mas  tal  só  se  vincularia  muito  mais  tarde,  após  a  
revolução  de  Abril  de  1974.  

A  escola,  na  primeira  República,  era  entendida  como  o  lugar  ideal  para  promover  a  
formação  dos  cidadãos  patriotas  e  republicanos  idealizada  pelo  novo  sistema.  Mas  a  
concretização  destas  directrizes,  entre  outros  factores,  descurou  (  tal  como  em  outros  
períodos   da   nossa   história,   inclusivamente   em   alguns   momentos   da   actualidade)   a  
importância  da  arquitectura.  Entenda-­se  a  arquitectura  como  percursora  determinante  
na  implementação  das  pedagogias,  por  interferir  no  modus vivendi e corroborar com
os  sistemas  implementados  no  que  diz  respeito  às  vivências  sociais  e  às  especificida-
des  dos  programas  a  que  se  propõe.

Para  Montoya  (1997),  “A  arquitectura  é  o  suporte  dos  desejos  simbólicos,  funcionais,  
técnicos   e   políticos,   que   caracterizam   a   cultura   de   uma   época”,   defendendo   ainda  
que,   os   elementos   que   compõem   os   espaços   e   que   estruturam   a   arquitectura   dos  
edifícios  escolares,  influenciam  positiva  ou  negativamente  os  processos  de  aprendi-
zagem.    (Silva,  2001,  p.2).  As  propriedades  dos  espaços  condicionam  os  ambientes  e  
são  fonte  de  inúmeras  aprendizagens,  contribuindo  para  a  aquisição  de  conhecimen-
to,  valores  e  sentimentos,  pelas  diferentes  formalizações  que  podem  adquirir  e  pelas  
diferentes   conjugações   dos   seus   componentes,   como   por   exemplo,   a   iluminação,   o  
conforto  térmico,  a  ventilação,  a  vertente  estética  e  a  distribuição  do  mobiliário  com-
plementar  ao  programa  em  causa.

Deste   modo,   “O   sistema   educativo   português   passou   por   uma   construção   retórica  
da   educação,   em   que   o   Estado   promulgava   preceitos   legais   que   eram   difíceis   de  
implementar.”   (Martins,   2008,   p.211)   Os   vários   projectos   foram   continuamente   mal  
sucedidos,  o  que  colocou  Portugal  entre  os  mais  baixos  níveis  educacionais  da  Euro-
pa.  Foram  “décadas  e  décadas  de  falta  de  investimento  na  educação,  as  convulsões  
políticas,  as  cegueiras  ideológicas,  as  crises  económicas,  o  analfabetismo,  a  falta  de  
formação  de  professores  e  o  retrocesso  do  ensino  no  período  salazarista  (1928-­1974)  
deixaram  o  país  numa  situação  que  só  nas  últimas  décadas  do  séc.  XX  foi  alterada  
(pós  25  de  Abril  de  1974)”.  (Martins,  2008,  p.211)

O   historiador   Ernesto   Candeias   Martins   (2008)   sublinha   que   o   período   de   transição  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 135


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

entre  a  Monarquia  Constitucional  e  a  primeira  República,  que  corresponde  à  transição  


entre  o  séc.  XIX  e  o  séc.  XX  (1910-­1926),  foi  um  dos  que  trouxe  maior  riqueza  à  His-
tória  da  Educação  Portuguesa.  Segundo  o  autor,  conclui-­se  que  este  período  está  na  
génese  do  sistema  educativo  actual.  A  abrangência  das  medidas  propostas,  apesar  
de  algumas  “contradições  e  incongruências”,  espalhou-­se  transversalmente  entre  as  
diferentes  idades  de  ensino,  desde  a  instrução  primária  até  ao  ensino  superior  e  ao  
ensino  técnico-­profissional,  solidificando  a  ideia  de  escola  pública  baseada  num  siste-
ma  educativo  que  se  pretendia  estruturado,  mas  que  nem  sempre  se  materializou.  

Esta  conclusão  entronca  no  estudo  em  questão,    ao  incidir-­se  sobre  a  necessidade,  
durante  o  séc.  XIX  e  início  do  séc.  XX,  de  descentralizar  o  ensino,  mantendo  o  Es-
tado  como  fonte  financeira  que  garantia  o  ensino  público  gratuito,  mas  que  incumbia  
entidades  como  as  Juntas  de  Paróquia  (anteriormente  referidas)  e  os  Municípios  da  
construção   e   manutenção   dos   espaços   das   escolas,   bem   como   das   rendas   e   dos  
salários  dos  docentes.  Estas  políticas  educativas  tiveram  consequências  no  que  diz  
respeito  à  falta  de  uniformização  dos  princípios  que  deveriam  sustentar  o  crescimento  
da  rede  de  escolas,  legando  ao  critério  de  cada  um  dos  intervenientes,  na  sua  maioria  
benfeitores,  as  propriedades  dos  espaços  de  ensino.

3.2.1. A TRANSIÇÃO DO SÉC. XIX PARA O SÉC. XX. AS ESCOLAS ADÃES BERMUDES

O  filósofo  Ricardo  Vélez  Rodrigues  (2010)  apresenta  uma  visão  abrangente  da  evo-
lução  da  pedagogia,  em  contexto  mundial,  na  transição  do  séc.  XIX  para  o  séc.  XX:  
“A  moderna  pedagogia  teve  de  reformular  os  velhos  conceitos,  no  contexto  das  novas  
exigências  abertas  pelo  fenómeno  que  Ortega  e  Gasset  (1883-­1995)  denominado  de  
“A  rebelião  das  Massas”,  que  não  era  mais  do  que  a  chegada  ao  convívio  social  das  
classes  populares,  fenómeno  que  se  acelerou  a  partir  da  Revolução  Francesa  e  conti-
nuou  ao  longo  do  séc.  XIX.  A  população  mundial  explodiu  no  período  apontado,  dando  
ensejo   a   sombrias   previsões,   iniciadas   por   Malthus   (1766-­1834)   e   repetidas,   como  
sino  agoirento,  em  vários  momentos,  como  na  crise  de  1929,  na  queda  de  barreiras  
sociais  ensaiadas  pelas  reformas  e  movimentos  revolucionários  dos  anos  60,  as  ame-
aças  de  fome  que  se  manifestaram  no  mesmo  período  e  que  deram  ensejo  às  acalo-
radas  discussões  do  Clube  de  Roma  e  da  FAO.  Isso  para  não  falar  nas  repercussões  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 136


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

que  a  problemática  ambiental  está  a  ter,  hoje,  nos  currículos  escolares.”  (Rodriguez,  
2010)

No  final  do  séc.  XIX  e  início  do  séc.  XX,  Portugal  era  fundamentalmente  caracterizado  
pela  ruralidade,  grande  parte  desta  população  era  analfabeta  e  três  quartos  dos  seus  
habitantes   não   sabia   ler   nem   escrever.   O   índice   de   mulheres   estudantes   era   muito  
reduzido.     Pelo   que   o     lançamento   do   concurso   para   o   projecto   de   escola   primária,  
por  parte  da  Ordem  dos  Engenheiros  Civis  Portugueses,  em  1898,  ganho  pelo  arqui-
tecto  Adães  Bermudes,  não  passou  de  mais  uma  tentativa  de  corrigir  o  analfabetismo  
instalado.  O  objectivo  implícito  era  encontrar  um  projecto-­tipo  que  respondesse  a  um  
maior  número  de  alunos  e,  ao  mesmo  tempo,  respeitasse  as  novas  regras  de  higiene  
e  de  salubridade.

Ilustração 64 -  Planta  piso  0.  Escola  Primária  Adães  Bermudes  (Beja  


et  al.,  1990,  p.77)

Analisando   a   planta   tipo   do   piso   0   deste   projecto-­tipo,   conclui-­se   que   a   escola   era  
provida  de  um  pequeno  número  de  instalações  sanitárias  com  acesso  pelo  exterior  e  
de  uma  área  exterior  para  recreio,  parcialmente  coberta.  A  sua  estrutura  apresentava  
a  seguinte  sequência  de  funções:  entrada,  com  um  pequeno  átrio  e  vestíbulo,  indivi-
dualizado;;  pelo  átrio  acedia-­se  à  sala  de  aula,  que  comunicava  com  o  espaço  do  pátio  
exterior  coberto  por  um  lado,  e  por  outro,  com  a  habitação  do  docente.  A  residência  
tinha  ainda  uma  entrada  independente,  sendo  esta  ligeiramente  mais  pequena  que  a  
entrada  para  o  átrio  dos  alunos.  Verifica-­se  que  as  preocupações  levantadas  anterior-
mente,  no  que  diz  respeito  à  existência  de  espaços  individualizados  para  a  prática  de  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 137


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

actividade  física,  bem  como  uma  área  independente  para  a  realização  de  trabalhos  
manuais  (presentes  na  Reforma  da  Instrução  Primária  de  22  de  Dezembro  de  1894)  
(Silva,  2005),  não  foram  tidos  em  conta.  Este  facto  justifica-­se  pelo  projecto  responder  
unicamente  às  orientações  da  Associação  dos  Engenheiros.  

Ilustração 65 -  Escola  Primária  Adães  Bermudes  (Beja  et  al.,  1990,  p.77)

A   presença   do   tradicional   campanário,   conjugado   com   os   elementos   cerâmicos   (re-


vestimento),  procurava  dinamizar  visualmente  a  fachada,  que  se  pretendia  moderada  
e  equilibrada.  Não  se  compreende  o  facto  de  no  projecto  não  se  preverem  espaços  
maiores,  nem  com  uma  maior  relação  com  exterior,  condicionando  as  entradas  de  luz,  
quando  anteriormente  já  se  havia  discutido  as  questões  relacionadas  com  a  “clausura  
das  crianças”  em  espaços  pequenos.  Mais  tarde  verificou-­se  que,  afinal,  as  constru-
ções   escolares   não   correspondiam   às   necessidades   reais   da   crescente   população  
em  idade  escolar.  A  par  e  na  sequência  da  construção  destes  edifícios  surgiram  mais  
medidas,  sob  a  forma  de  leis,  para  tentar  colmatar  este  défice  de  aprendizagem  nas  
crianças  em  idade  escolar.  O  período  da  implementação  da  República  foi  muito  pro-
dutivo  na  teorização  formalizada  em  legislação  e  a  primeira  Reforma  republicana  do  
Sistema  de  Ensino  data  de  1911.  (OEI-­Ministério  da  Educação  de  Portugal  (s/d)).  O  
governo  republicano  tentou  reduzir  o  analfabetismo  ao  introduzir  métodos  mais  cien-
tíficos   e   empíricos   nos   currículos   e   ao   recuperar   uma   perspectiva   mais   secular   da  
educação  (tal  como  aconteceu  com  Pombal).  

3.3. O REGIME DE SALAZAR E A EDUCAÇÃO

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 138


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

3.3.1. A HOMOGENEIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES NO ESTADO NOVO

Durante  o  Estado  Novo  assistiu-­se  a  uma  homogeneização  das  construções  escola-


res,  com  as  devidas  adaptações  que  particularizavam  a  zona  onde  seriam  construídas,  
espelho   da   pretensa   “modernização”   fomentada   pela   ditadura.   O   que,   em   concreto,  
resultou  no  aumento  do  número  de  edifícios  escola  e  não  na  modernização  das  peda-
gogias.  O  processo  foi  entendido  como  uma  sistematização  entre  as  condições  físicas  
(propriedades  espaciais  propícias  ao  programa  em  causa)  e  as  políticas  educacionais,  
onde  deveria  ter  sido  prioritário  corrigir  as  deficiências  da  educação  pública  e  não  dar  
lugar  a  causas  em  nome  próprio,  carregadas  de  segundas  intenções  (como  é  caso  da  
ditadura  salazarista,  que  se  pretendia  popularizar  e  dar  a  conhecer  pseudo-­progressos  
na  modernização  da  sociedade    portuguesa).  “É  plausível  que  o  reconhecimento  das  
nossas  insuficiências  na  instrução  pública  tenha  forçado  o  regime  do  Estado  Novo  a  
intensificar   a   política   educacional,   a   partir   de   meados   do   século   XX,   altura   em   que  
começa   a   exigir   um   desenvolvimento   económico,   devido   ao   pretexto   da   integração  
internacional.”  (Martins,  2008)

Por   outro   lado,   “As   reformas   do   ensino,   feitas   pelo   Estado   Novo,   acabaram   com   o  
estéril  enciclopedismo  racionalista.  Servem  de  base  à  preparação  de  homens  robus-
tos   no   físico   e   no   espírito.”   (Moniz,   2005)     António   Carneiro   Pacheco,   ministro   da  
Educação  Nacional,  tinha  sob  a  sua  tutela  ministerial  a  responsabilidade  política  de  
educação  do  povo  (1936),  considerada  pelo  regime  como  um  instrumento  privilegiado  
para  difundir  os  ideais.  Durande  a  sua  regência,  surgiu  o  Plano  dos  Centenários,  que  
impulsionou  a  construção  de  uma  rede  de  escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico,  num  
período  compreendido  entre  1930  e  1970.  

Na  estrutura  montada  pelo  governo,  a  arquitectura  era  uma  das  formas  mais  expres-
sivas  de  vincular  a  imageabilidade  do  próprio  Estado.  E  foi  através  das  obras  públicas  
que,   para   além   da   construção   de   edifícios   com   programas   de   excepção   (escolas,  
hospitais,  tribunais,  entre  outros  equipamentos  públicos  ),  se  melhoraram  infra-­estru-
turas  como  as  estradas,  os  transportes  marítimos  e  as  comunicações  (telefones),  num  
projecto  alinhavado  por  Salazar  e  por  Duarte  Pacheco,  com  o  intuito  de  “dinamizar  a  
vontade  reformista  do  Estado  Novo.”  (Moniz  2005)  Estas  directrizes  faziam  parte  de  
um  “Plano  de  Reconstituição  Económica”,  com  a  calendarização  dos  15  anos  que  dali  
decorriam  (década  de  30)    e  com  as  previsões  no  que  diz  respeito  a  orçamentos  para  

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viabilizar  as  referidas  obras  de  construção  e  manutenção.

Ilustração 66 -  Cartaz  de  “A  lição  de  Salazar”,  Publicação  das  


obras  públicas  (Em  linha)  (consultado  em  28  de  Novembro  de  
2010)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://estoriasdahistoria10.
blogspot.com  >  

Entre  os  anos  30  e  os  anos  70,  o  modelo  de  implementação  das  políticas  de  constru-
ção  para  os  edifícios  do  ensino  primário  caracterizou-­se  por  uma  forte  racionalidade  
de  custos,  com  procedimentos  muito  delineados  e  objectivos  bem  firmados,  visíveis  
nas  informações  seguintes:

MINISTÉRIO  DAS  OBRAS  PÚBLICAS  E  COMUNICAÇÕES


DIRECÇÃO  GERAL  DOS  EDIFÍCIOS  E  MONUMENTOS  NACIONAIS
________________________________________________
MAPA  DEFINITIVO  DAS  OBRAS  DE  ESCOLAS  PRIMÁRIAS
PLANOS  DOS  CENTENÁRIO
 IMPRENSA  NACIONAL  DE  LISBOA
______________1943______________
OBRAS  DAS  ESCOLAS  PRIMÁRIAS
PLANO  DOS  CENTENÁRIOS
I    Estimativa  das  despesas
a)  -­  Edifícios  de  escolas  primárias:
1  -­  Construção:
12.500  salas  de  aula,  a  28.000$   350.000  contos
2  –  Mobiliário:
12.500  salas  de  aula,  a  4.500$   50.000  contos  
3  –  Arranjo  de  terrenos  e  outras  
despesas:  12.500  salas  de  aula,  a  1.400$                            17.500  contos
b)  –  Cantinas    Escolares          17.500  contos
c)  –  Estudos,  projectos  e  fiscalização  (~  5%)    22.000  contos
d)  –  Imprevistos  (~10%)          43.000  contos

TOTAL........500.000  contos

Ilustração 67 -  Tabelas  publicadas  pelo  regime  com  os  custos  das  construções  escolares  (1943),  cedidas  
pelo  Arquivo  Municipal  Sophia  de  Mello  Breyner  de  Vila  Nova  de  xGaia

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Segundo  o  arquitecto  Gonçalo  Moniz  (2005),  na  década  de  30,  distinguem-­se  três  fa-
ses  para  a  arquitectura  do  Estado  Novo.  A  primeira,  que  corresponde  ao  período  entre  
1930   e   1933,   caracteriza-­se   pela   entrega   directa   das   obras   aos   arquitectos   através  
de  concursos  públicos  e  pela  “acção  pontual  e  pouco  metódica  de  alguns  gabinetes  
ministeriais”,  para  os  edifícios  de  escolas  e  dos  correios.  A  segunda  fase    ou  momento  
como  o  autor  referencia,  relaciona-­se  com  as  respostas  que  o  MOP,  depois  de  reorga-
nizado,  consegue  dar  face  ao  elevado  número  de  projectos  que  definiam  a  construção  
das  redes  de  equipamentos  públicos  por  todo  o  território  português.  A  terceira  e  última  
fase  diz  respeito  às  iniciativas  de  publicitar  os  feitos  gloriosos  da  ditadura  (centradas  
na  figura  de  Salazar  como  o  promotor  de  todas  as  benfeitorias),  na  qual  se  envolvem  
os  arquitectos  que  tinham  colaborado  com  o  regime,  o  que  pode  ser  conotado  como  “o  
primeiro  momento  de  construção  consciente  de  uma  imagem  arquitectónica  e  artística  
para  o  Estado  Novo.”  (Moniz,  2005)  As  questões  relacionadas  com  a  arquitectura  me-
receram  uma  especial  atenção  durante  este  período,  pela  contextualização  do  perío-
do  arquitectónico  que  se  vivia  internacionalmente  e  que  o  regime  usa,  numa  primeira  
fase,  para  se  conotar  com  uma  imagem  de  modernidade.  

Para   uma   total   compreensão   da   evolução   da   arquitectura   das   escolas,   ao   longo   de  


grande  parte  do  séc.  XX,  é  fundamental    referenciar  e  relacionar  as  experiências  que  
se  desenvolveram  no  nosso  país  (com  um  maior  enfoque  sobre  os  edifícios  públicos)  
com  o  que  acontecia  internacionalmente,  ao  nível  do  desenvolvimento  das  teorias  da  
arquitectura.  Só  assim  ficará  completa  uma  percepção  sobre  as  evoluções  conceptuais,  
tecnológicas  e  processuais,  que  resultam  nos  exemplos  construídos  e  que  são  parte  
integrante  da  nossa  história.

Ilustração 68 -  Escola  para  o  estudo  da  “Cidade  Ideal”,  arquitecto   Ilustração 69 -  Amsterdam  Orphanage  (1960),  Holanda,  arqui-
Tony  Garnier  (Em  linha)  (consultado  em  17  de  Novembro  de  2011)   tecto  Aldo  Van  Eyck  (Em  linha)  (consultado  em  17  de  No  vem-
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://utopies.skynetblogs.be  > bro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://explow.com  >  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 141


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 70 -   Maison   Vere   1928   a   1932,   em   Paris,   arquitecto   Ilustração 71 -  Litchfield  High  School,  arquitecto  Marcel  Breuer    
Pierre   Charreau   (Em   linha)   (consultado   em   19   de   Novembro   de   (Em  linha)  (consultado  em  20  de  Novembro  de  2011)  disponível  
2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://gabrielcosta.blog.com  > em  WWW:  <  URL:  http://gabrielcosta.blog.com  >

Caso  contrário,  na  ausência  de  um  enquadramento  teórico,  político  e  social,  seriam  
omitidas  directrizes  estruturantes  nos  discursos  arquitectónicos  dos  nossos  projectis-
tas  e  as  suas  soluções  seriam  vagas  e  desprovidas  de  razão.  
No   período   de   implantação   do   regime   ditatorial   do   Estado   Novo   proliferava   interna-
cionalmente  o  que  se  designou  como  Movimento  Moderno  no  domínio  das  artes,  do  
design,  e  da  arquitectura.  Este  movimento,  em  particular  na  área  da  arquitectura  e  na  
primeira  metade  do  séc.  XX,  surgiu  com  alguns  arquitectos  mais  vanguardistas.  A  sua  
génese  ocorreu,  durante  a  década  de  20,  com  o  Pavilhão  de  L´Esprit  Nouveau  de  Le  
Corbusier 30
 (1923)  assim  como  o  Pavilhão  Russo  de  Konstantin  Stepanovich  Melni-
kov  31,  trazendo  consigo  uma  imagem  renovada  e  que  deixou  cair  por  terra  o  discurso  
decorativo  e  historicista  do  século  anterior.  Existia  a  vontade  de  construir  um  discurso  
novo,   fundamentado   na   depuração   dos   elementos   e   na   ausência   dos   ornamentos  
(elementos  típicos  do  estilo  académico  e  histórico),  e  com  o  qual  Adolf  Loos   32  se  in-
surgiu  no  seu  livro  “Ornamento  e  Crime”  e  com  uma  arquitectura  entendida  por  alguns  
contemporâneos   do   modernismo   como   sendo   uma   arquitectura   preocupada   com   o  
supérfluo  e  o  superficial,  para  alcançar  espaços  geométricos  e  minimais.  (Benévolo,  
2001)

30    
Charles-­Edouard  Jeanneret-­Gris,  mais  conhecido  pelo  pseudónimo  de  Le  Corbusier  (1887-­1965)  pintor  
francês   de   origem   suíça   e   arquitecto   urbanista.   Foi   considerado,   juntamente   com   Frank   Lloyd   Wright,  
Alvar  Aalto,  Mies  Van  Der  Rohe  e  Oscar  Niemeyer  um  dos  arquitectos  mais  importantes  do  séc.  XX.

Konstantin  Stepanovich  Melnikov  (1890-­1974)  foi  um  arquitecto  e  pintor  russo,  e  uma  das  principais  
31    

figuras  do  Construtivismo  russo  do  século  XX.

32    
Adolf  Loos  (1870-­1933)  é  um  notável  arquitecto,  percursor  do  Raumplan,  responsável  pelo  desenvolvi-
mento  da  planta  em  diferentes  cotas,  que  em  1908  escreveu  o  ensaio/manifesto  intitulado  “Ornamento  e  
Crime”,  uma  crítica    ao  excesso  de  ornamentação  da  arquitectura  europeia  do  final  do  séc.  XIX.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 142


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 72 -  Pavilhão  de  Barcelona,  arquitecto  Mies  Van  Der  


Rohe  (Em  linha)  (consultado  em  23  de  Março  de  2012)  disponível  
em  WWW:  <  URL:  http://amsdarquitetura.com.br  >  

Ilustração 73 -  Carson  Pirie,  Scott,  Building  (1899)  em  Chicago,  


arquitecto  Louis  Sullivan  (Em  linha)  (consultado  em  10  de  Janeiro  
de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://bc.edu  >

Deste  modo,  frases  de  ordem  como  “form  follows  function”  do  arquitecto  Louis  Sullivan  
e  “less  is  more”  de  Mies  Van  Der  Rohe  são  representativas  do  modernismo,  que  de-
fendia  que  os  edifícios  fossem  funcionais,  “limpos”  e  económicos.  A  par  da  Revolução  
Industrial,  com  o  desenvolvimento  de  novas  tecnologias,  assistiu-­se  a  uma  inovação  
na  linguagem  dos  edifícios.  Os  processos  de  industrialização  exploravam  a  matéria,  
neste   caso   o   ferro,   o   aço   e   o   betão   armado,   de   uma   forma   inovadora,   contribuindo  
assim  para  a  génese  de  uma  nova  imagem  da  arquitectura,  que  se  afirma  no  pós  Se-
gunda  Guerra  Mundial.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 143


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

A   arquitectura   modernista   e   o   regime   de   Salazar   evidenciaram   uma   relação   muito  


peculiar   em   Portugal.   Pelo   que   é   importante   referir   que   o   interesse   da   ditadura   em  
se  afirmar,  se  associa,  numa  primeira  fase,  à  imagem  inovadora  trazida  pelo  discurso  
do  movimento  moderno.  Salazar  pretendia  passar  uma  imagem  de  actualidade  como  
consequência  das  suas  novas  políticas  e  alguns  dos  arquitectos  modernistas  portu-
gueses,   que   sem   reflexão   teórica   apostavam   na   renovação   linguística,   tinham   todo  
o  interesse  em  associar  o  seu  nome  a  edifícios  com  programas  de  utilidade  pública.    
(Tostões,   (s/d))  Assim,   a   afirmação   do   poder   vinculava-­se   à   utilização   dos   modelos  
internacionais,  como  um  estilo;;  mas,  rapidamente  assumiu-­se  como  um  moderno  que  
procura  uma  posição  próxima  do  local  e  da  tradição.

Ilustração 74 -   Edificio   da   Exposição   do   Ilustração 75 -  Entrada  da  Exposição  do  Mundo  Português,  1940,  Lisboa  (Em  linha)  
Mundo   Português,1940,   Lisboa,   arquitecto   (consultado   em   14   de   Fevereiro   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   http://aen.
Cristino   Silva   (Em   linha)   (consultado   em   12   com.sapo.pt  >
de  Fevereiro  de  2012)  disponível  em  WWW:  
<  URL:  http://flickr.com  >

No  entanto,  “a  conjuntura  da  ditadura  salazarista,  muito  embora  o  papel  decisivo  desta  
na  determinação  de  algumas  formas  de  modernização,  não  tornou  possível  a  compre-
ensão  do  processo  de  modernização  e  de  construção  da  contemporaneidade  (...)  E,  
se  por  um  lado,  tal  actividade  se  manifesta  no  desejo  de  participar  activamente  no  pro-
cesso  da  vontade  modernista  de  romper  com  o  passado,  a  identidade  dessa  vontade,  
parece  ter-­se  aos  poucos  transformado,  perdendo  progressivamente  a  característica  
radical  duma  linguagem  que  se  foi  tornando  com  o  tempo,  distinta  da  internacional,  
dependendo  assim  da  orientação  projectual  dos  seus  reais  protagonistas.”  (Fernan-
des,  2006)

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

O  conservadorismo  presente  em  Portugal  teve  reflexos  na  prática  arquitectónica  du-
rante   a   década   de   30   devido   ao   acentuado   distanciamento   e   à   inquietação   que   se  
fazia   sentir   no   panorama   arquitectónico   internacional,   fruto   da   evolução   das   ideolo-
gias  e  das  políticas  que  no  nosso  país  não  tiveram  eco,  ao  esbarrarem  com  a  dita-
dura.  Fátima  Sales  (2006)  refere  que    o  “reducionismo”,  a  “pureza  ideal”  e  o  “sentido  
iconoclasta”  são  atributos  que,  na  sua  opinião,    não  foram  muito  experimentados  na  
arquitectura   moderna   portuguesa.   A   autora   considera   que   a   arquitectura   praticada  
neste   período   apresenta   uma   “identidade   perfeitamente   reconhecível”,   a   par   de   ou-
tros   autores  que  referem  a  prática   de   uma   espécie   de   “portuguesismo”,   em   alguma  
medida  reaccionário  contra  a  arquitectura  moderna.  (Fernandes,  2006).  Na  realidade,  
praticava-­se  um  léxico  historicista,  em  resposta  à  vontade  do  Estado  de  “restauração  
cultural”,   à   imagem   do   que   se   fazia   em   outras   ditaduras   europeias   (uma   Espanha  
Franquista,   uma   União   Soviética   Stalinista,   uma   Itália   Mussoliana   e   uma  Alemanha  
Hitleriana).  (Acciaiuoli,  1991)

Ilustração 76 -  Maqueta.  Great  Domed  Hall,  Alemanha  (Em  linha)  (con- Ilustração 77 -   Reitoria   da   Universidade   de   Roma,   Itália  
sultado  em  25  de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http:// (Em  linha)  (consultado  em  25  de  Março  de  2012)  disponí-
batalhapelomundo.com.br  > vel   em   WWW:   <   URL:   http://virtualandmemories.blogspot.
com >

Ilustração 78 -   Universidade   Laboral   de   Gijon,   Espanha   (Em   linha)   Ilustração 79 -  Moscow  Golosov,  Rússia  (Em  linha)  (con-
(consultado   em   26   de   Março   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   sultado  em  26  de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  
http://flickr.com  > URL:  http://en.wikipedia.org  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 145


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Aquando  da  transição  para  o  modernismo,  é  importante  referenciar  alguns  arquitectos  


portugueses  que  no  seu  trabalho,  apesar  da  formação  revivalista  e  eclética,  experi-
mentaram  as  diferenças  na  linguagem,  decorrente  de  uma  nova  maneira  de  construir  
(alheando-­se,  assim,  das  reflexões  teóricas  subjacentes  ao  Movimento  Moderno  In-
ternacional).  Pardal  Monteiro,  Carlos  Ramos,  Cassiano  Branco,  Cristino  da  Silva,  Cot-
tinelli  Telmo,  Jorge  Segurado  e  Rogério  de  Azevedo  pertenceram  a  uma  geração  de  
arquitectos  que  se  permitiu  experimentar  “trabalhar  num  registo  estritamente  formal,  
quer  uma  expressão  modernista  e  internacional,  como  eclética-­históricista  e  regiona-
lista.”    (Tostões,  (s/d)).  De  uma  forma  geral,  as  suas  construções,  com  variantes  de  
peso  e  medida,  integravam  elementos  modernistas,  assim  como  elementos  clássicos  
e   “regionalistas”,   conjugando,   em   alguns   casos,   materiais   típicos   das   regiões   onde  
intervieram.  Chama-­se  a  atenção  para  a  zona  que  será  alvo  deste  estudo  (o  norte  de  
Portugal)  e  para  o  arquitecto  Rogério  de  Azevedo.

Ilustração 80 -  Casino  do  Estoril,  arquitecto  Pardal  Mon- Ilustração 81 -  Bairro  Olhão,  arquitecto  Carlos  Ramos  (Em  linha)  (consulta-
teiro   (Em   linha)   (consultado   em   27   de   Março   de   2012)   do  em  27  de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://avenidada-
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://aen.com.sapo.pt  > saluquia34.blogspot.com  >

Ilustração 82 -  Edificio  Éden,  arquitecto  Cassiano  Branco  (Em  linha)   Ilustração 83 -   Garagem   do   Comércio   do   Porto,   arquitecto  
(consultado   em   28   de   Março   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   Rogério   de  Azevedo   (Em   linha)   (consultado   em   28   de   Mar-
http://www.flickr.com  > ço   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:   http://patrimonio-
comhistoria.blogspot.com  >

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

O   território   de   um   povo   não   é   um   simples   dom   da   natureza,   senão   uma   porção   de  


espaço  marcado  pela  sequência  das  gerações  que,  no  decurso  do  tempo,  sofreu  os  
embates  das  mais  variadas  influências.  Uma  combinação  original  e  fecunda  de  dois  
elementos:  Território  e  Civilização.  (Paulo  Quitério,  2011)  

A  ideia  de  uma  arquitectura  genuinamente  portuguesa  surge  potenciada  pela  busca  
de   uma   identidade   cultural,   preocupação   que   se   mantém   presente   no   pensamento  
artístico  português,  desde  o  final  do  séc.  XIX.  É  de  referenciar,  por  exemplo,  o  arqui-
tecto  Raul  Lino,  um  dos  percursores  do  Inquérito  à  Arquitectura  Popular  Portuguesa  
(1955-­1961),   realizado   sob   a   tutela   do   Sindicato   Nacional   dos  Arquitectos,   que,   em  
meados  do  séc.  XX,    garantiu  a  avaliação  dos  antecedentes  e  das  convergências  que  
precedem  as  questões  da  identidade,  através  de  uma  análise  da  arquitectura  popu-
lar.  A  forma  como  se  definiram  metodologias  e  áreas  de  trabalho,  e  se  destinaram  as  
equipas  de  arquitectos  para  as  diferentes  áreas  do  país  resultou  numa  investigação/
compilação,  muito  rica,  com  resultados  na  determinação  da  importância  da  já  referida  
identidade   e   com   reflexos,   quer   para   o   ensino   da   arquitectura,   quer   na   tentativa   de  
melhorar  a  humanização  das  relações  necessárias  entre  os  lugares  reais  e  seus  acto-
res  (factores  apreciados  na  arquitectura  dos  anos  60).

Ilustração 84 -   Livro   “Casas   Portuguesas”,  


arquitecto   Raul   Lino   (Em   linha)   (consulta-
do  em  11  de  Março  de  2011)  disponível  em  
WWW:   <   URL:   http://linhaderumo.blogspot.
com >

Neste  momento  interessa  centrar  de  novo  a  atenção  na  arquitectura  das  escolas,  pela  
sua  representação  no  que  diz  respeito  à  arquitectura  dos  edifícios  públicos  em  Portu-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

gal  durante  o  período  em  questão,  uma  consequência  das  suas  propriedades  e  pela  
extensão  territorial  que  abrange.  

A  caracterização  do  modelo  de  expansão  do  ensino  primário  durante  o  regime  do  Es-
tado  Novo  envolve  a  sua  centralização  e  baseia-­se  numa  lógica  quantitativa    (Aníbal,  
(s/d),  p.1),  em  termos  de  criação  de  novas  escolas  ou  de  postos  escolares.  O  Estado  
tinha  um  papel  determinante  por  ser  praticamente  o  único  interveniente  no  que  dizia  
respeito  ao  ensino  primário,  não  existindo  “concorrentes”  (Igreja  Católica  e/ou  ensino  
privado  )  para  a  oferta  deste  tipo  de  ensino.  As  intervenções  do  Estado  podem  ser  ti-
pificadas,  caracterizando  o  seu  “modelo  de  expansão  como  particular,  por  definir  dois  
planos  nacionais  de  construção  de  edifícios  escolares,  para  os  quais  a  distribuição  de  
escolas  e  a  respectiva  quantificação  é  estruturada  centralmente.”  (Aníbal,  (s/d),  p.1)  
Trata-­se  de  um  instrumento  que  enquadra  institucionalmente  as  construções  escola-
res,  centrando-­as  no    MOP/  Delegação  para  a  Construção  das  Escolas  Primárias  da  
Direcção  Geral  de  Edifícios  e  Monumentos  Nacionais,  gestor  de  todos  os  processos  
de  construção  relativos  às  diversas  regiões  do  país.  Este  revelou-­se  determinante  por  
definir  apenas  numa  rubrica  autónoma  do  orçamento  do  MOP,    todas  as  verbas  desti-
nadas  à  construção.  

O  “modelo  de  expansão”  caracterizou-­se,  também,  pela  extrema  racionalidade  e  sínte-


se  no  que  diz  respeito  aos  procedimentos  e  ao  uso  dos  recursos  disponíveis.”  (Aníbal,  
(s/d),  p.1)  Existiam  projectos-­tipo  de  arquitectura  para  todos    os  edifícios  escolares,  
que   respeitavam   as   directrizes   que   o   MOP   previamente   determinava.  A   depuração  
extrema  e  progressiva  dos  espaços  interiores  e  os  acabamentos  exteriores  (em  con-
traste  com  os  projectos  e  as  normas  técnicas  em  vigor  durante  a  primeira  República)  
eram  características  recorrentes  nestas  construções.  A  simplificação  destes  espaços  
acontece  com  os  primeiros  projectos  da  autoria  do  arquitecto  Raúl  Lino  e  do  arquitecto  
Rogério  de  Azevedo,  em  meados  dos  anos  30,  e  vai  crescendo,  nas  décadas  de  40  
e  50,  com  as  escolas  do  Plano  dos  Centenários  (designação  atribuída  pelo  facto  do  
período   da   sua   conceptualização   coincidir   com   a   comemoração   do   terceiro   Cente-
nário  da  Restauração  da  Independência  e  o  oitavo  Centenário  da  Independência  de  
Portugal,  comemorado  em  1943)  e  com  as  escolas  tipo  rural  e  tipo  urbano,  durante  
a  década  de  60.  Os  postos  escolares,  que  chegam  a  constituir  1/3  do  parque  escolar  
nacional,  foram  muito  utilizados  durante  este  período.

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Segundo  Alexandra    Aníbal  (s/d),  as  construções  escolares  do  ensino  primário  faziam  
parte   de   um   objectivo,   que   implicava   um   investimento   efectivo   do   Estado.   Esse   in-
vestimento  reflectiu-­se  na  afectação  crescente  de  verbas  nos  Orçamentos  Gerais  do  
Estado  à  construção  das  escolas  primárias,  pelo  que  a  densificação  da  rede  escolar  
foi  o  resultado  efectivo,  no  que  diz  respeito  ao  número  de  construções  escolares  de  
raiz.  No  entanto,  a  expansão  territorial  da  rede  não  foi  uniforme.    

Com  a  análise  da  evolução  das  redes  escolares  distritais,  entre  1930  e  1970,  conclui-­se  
que   as   cidades   de   Lisboa   e   Porto,   devido   ao   seu   crescimento   populacional,   foram  
privilegiadas,  juntamente  com  os  distritos  do  norte  litoral  do  país.  A  sul  recorreu-­se  a  
um  maior  número  de  postos  escolares,  o  que  leva  a  depreender  alguma  desatenção  
dos  poderes  centrais  em  relação  a  esta  zona  do  país.  Efectivamente,  as  opções  assu-
midas  pelo  Estado  Novo  para  levar  a  cabo  os  seus  objectivos  caracterizaram-­se  por  
uma   sistematização,   que   visava   alcançar   um   número   considerável   de   construções,  
recorrendo  a  soluções  simplificadas,   pré-­definidas   e   centradas   na   base   do   sistema.  
Surge,  assim,  a  concepção  da  “escola-­sala  de  aula,  depurada  de  todos  os  elementos  
espaciais  considerados  dispensáveis  à  aprendizagem,  que  resulta  na  construção  de  
escolas  muito  pequenas,  por  todo  o  território  nacional  (recorrendo-­se,  também,  aos  
“minimalistas”  postos  escolares).”  (Aníbal,  (s/d),  p.2)  O  plano  de  acção  caracteriza-­se,  
desta  forma,  pela  utilização  do  mínimo  de  recursos  para  alcançar  o  máximo  de  áreas  
no  país  a  serem  abrangidas  pelo  ensino  primário  .

É  importante  referir  que  os  postos  escolares  existiram  fundamentalmente  nas  zonas  
mais  rurais,  onde,  na  maior  parte  dos  casos,  regentes  (pessoas  que  não  tinham  o  cur-
so  do  Magistério  Primário)  ensinavam  a  ler,  escrever  e  contar.

Ilustração 85 -  Posto  Escolar,  1940  (Em  linha)  (consultado  em  15  de  Março  de  
2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://  valadofrades.com  >  

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Um   outro  aspecto  que  justifica  uma   análise   mais   detalhada   deste   tipo   de   escolas   é  
o  facto  de  estar  muito  presente  no  nosso  quotidiano,  sendo  que,  ainda  hoje,  a  maior  
parte  é  utilizada  pelas  crianças  que  frequentam  o  1º  ciclo  (além  de  que  muitos  de  nós,  
no  passado,  frequentaram  os  seus  espaços).  Algumas  destas  escolas,  que  se  multi-
plicaram  até  aos  anos  60,  foram  desactivadas  na  década  de  90,  na  sequência  da  de-
sertificação  do  interior  do  nosso  país,  associada  a  uma  nova  política  de  concentração  
dos  alunos  do  1º  ciclo  do  ensino  básico  em  escolas  de  maior  dimensão.

O  Plano  da  Rede  Escolar,  em  funcionamento  a  partir  de  meados  do  séc.  XX,  servia  
para  determinar  o  número,  a  localização  e  o  tipo  de  escola  a  construir.  Mediante  a  sua  
análise,  verificou-­se  uma  utilização,  na  sequência  do  Plano  dos  Centenários,  de  mo-
delos  menos  carismáticos,  mas  que  foram  construídos  e  que  actualmente  se  encon-
tram  em  uso.  Numa  primeira  fase,  são  identificados  como  Tipo  Rural  e  Tipo  Urbano;;  
e,  no  final  da  década  de  50  e  até  à  década  de  70,  definem-­se  como  Novo  Plano  Tipo  
Rural  e  Novo  Plano  Tipo  Urbano  (adaptações  do  Tipo  Rural  e  do  Tipo  Urbano).

Em  1963,  os  países  mediterrânicos,  inclusive  Portugal,  foram  integrados  num  “projecto  
de  ajuda”  que  tinha  como  objectivo  potenciar  a  escolaridade  obrigatória.  A  formação  
de   grupos   de   trabalho,   constituídos   por   técnicos   em   Educação   (no   caso   português  
eram   técnicos   do   Ministério   da   Habitação   e   das   Obras   Públicas   e   do   Ministério   da  
Educação),   pretendia   alinhar   as   orientações   pedagógicas   com   as   concepções   das  
construções  escolares  e  a  ideia  de  Escola.  Como  resultado,  é  idealizada  e  construída  
uma  escola  piloto  em  Mem  Martins,  inovadora  nas  relações  programáticas,  apesar  de  
manter  a  separação  entre  sexos.  Destacam-­se,  entretanto,  alguns  aspectos  que  re-
velam  uma  tomada  de  consciência  importante  em  todo  este  processo,  como  exemplo:  
a  integração  da  cantina  e  das  instalações  sanitárias  no  edifício  escola,  a  introdução  
do  “polivalente”,  da  área  “suja”  para  a  realização  de  trabalhos,  a  potencial  mobilidade  
de  equipamento,  e  a  noção  de  que  a  escola  deverá  ser  um  edifício  aberto  à  comuni-
dade.

3.3.2. AS ESCOLAS DO PLANO DOS CENTENÁRIOS

Na  primeira  metade  do  séc.  XX,  a  estrutura  de  escolas  implementada,  apesar  da  le-
gislação,  continuava  a  mostrar-­se  insuficiente  para  abranger  todos  os  que  dela  preci-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

savam  e  que  se  encontravam  em  idade  escolar.  Sendo  que,  no  início  dos  anos  30,  o  
crescimento  do  número  de  escolas  era  bastante  débil.

Nesta  altura,  mais  precisamente  em  1933,  foi  aprovada  uma  nova  constituição  pela  
mão  de  Salazar  e  do  seu  programa  político,  que  reestruturou  todo  o  aparelho  de  esta-
do.  As  reformas  implementadas  acabariam  por  manter-­se  até  1974.  Ainda  com  base  
no  texto  anteriormente  mencionado  (OEI-­Ministério  da  Educação  de  Portugal  (s/d)),  
convém  referir  que  com  o  Estado  Novo  surgiu  a  primeira  grande  reforma  do  Ensino,  na  
qual  se  definiu  que  a  instrução  primária  deveria  ser  implementada  num  sistema  mais  
lógico  e  mais  prático,  com  vista  a  alcançar  a  eficiência.  A  escola  passa  então  a  ser  
encarada  como  um  bem  essencial.  Na  verdade,  o  final  do  denominado  Estado  Liberal  
traz  muitas  transformações  ao  sector  do  ensino,  em  particular  ao  ensino  primário,  fruto  
da  visível  alteração  do  clima  político  e  social.  O  Estado,  com  o  objectivo  de  atingir  um  
estado  ditatorial  e  corporativista,  implementa  medidas  na  área  da  educação,  prece-
didas  por  uma  “República  que  não  cumpriu  as  suas  promessas  no  domínio  educati-
vo,  mostrando-­se  incapaz  de  endireitar  uma  situação  que  os  seus  próprios  dirigentes  
consideravam  como  `caótica´  e  de  criar  novas  formas  de  educação  para  a  infância  e  
a  juventude.”  (Araújo,  1990)

Com  a  queda  da  primeira  República  parlamentar  portuguesa,  a  28  de  Maio  de  1926,  
instala-­se  uma  ditadura  militar  e  António  de  Oliveira  Salazar  é  nomeado  para  exercer  
as   funções   de   ministro   das   finanças.   Como   alcança   um   saldo   positivo   para   o   orça-
mento  de  estado,  Salazar  é  nomeado  chefe  de  governo  em  1932.  É  assim  criado  um  
novo  sistema  governativo,  com  o  propósito  de  instaurar  uma  nova  ordem  política,  que  
assentou  num  forte  autoritarismo  sobre  as  pessoas  e  num  condicionamento  das  liber-
dades  individuais.  Para  implementar  estas  medidas  são  criadas  as  necessárias  estru-
turas  institucionais,  com  vista  ao  interesse  da  nação.  “Tudo  pela  nação.  Nada  contra  
a  Nação”  e  “Estado  Forte”  são  as  palavras  de  ordem  que  sustentam  as  ideologias  do  
novo  regime,  baseado  nas  estruturas  político-­institucionais  dos  modelos  fascistas  (em  
particular  do  italiano),  e  que  se  transforma  num  projecto  abrangente  a  toda  a  socieda-
de  portuguesa.

Deus,  a  Pátria  e  a  Família  são  os  valores  inquestionáveis  deste  regime,  que    incutiram  
um  carácter  extremamente  conservador  e  tradicional  ao  quotidiano  dos  portugueses.  
O  mundo  rural  aparece  enaltecido,  porque  nele  se  preservava  o  que  de  melhor  havia  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

no  povo  português,  em  contraponto  com  as  cidades  que  eram  entendidas  como  cen-
tros  de  vícios.

 A  génese  era  a  família,  onde  as  hierarquias  se  estabeleciam  através  de  uma  pirâmi-
de  liderada  pelo  pai,  trabalhador,  depois  a  mulher,  resignada  ao  seu  papel  de  mãe  e  
esposa,  e  os  filhos,  obedientes.  A  mulher  aparece  assim  reduzida  a  uma  posição  de  
passividade  económica,  política,  social  e  cultural.  A  religião  da  Nação  Portuguesa  era  
a  religião  católica  e  toda  esta  estrutura  mantinha-­se  à  margem  do  que  acontecia  no  
estrangeiro,  principalmente  ao  nível  das  manifestações  culturais.  

Este  espírito  nacionalista  retirava  aos  jovens,  enquanto  estudantes,  o  sentido  crítico  
e   isso   reflectia-­se,   por   exemplo,   no   facto   de   todos   terem   de   decorar   a   História   de  
Portugal,  garantindo  o  sentido  de  Pátria  mãe.  É  neste  contexto  que  surge  a  Mocidade  
Portuguesa,  de  inscrição  obrigatória,  e    a  Legião  Portuguesa  para  os  Adultos.  Estas  
instituições  garantiram  ao  “Estado  Novo”  a  sua  longevidade,  juntamente  com  outros  
processos  de  enquadramento  da  massa  populacional.  Desta  forma,  o  ensino  foi  con-
trolado,   sobretudo   o   ensino   primário,   que   excluía   todos   aqueles   que   se   mostravam  
opositores  ao  regime,  nomeadamente  os  professores  que  não  eram  coniventes  com  
as  medidas  implementadas,  como  por  exemplo  o  livro  único.  Assistiu-­se,  claramente,  
a  uma  limitação  severa  da  liberdade  de  expressão,  quer  pela  existência  de  um  Partido  
Único  (transformação  da  União  Nacional  em  partido,  em  1934),  quer  pelo  facto  dos  
funcionários  públicos  se  comprometerem,  sob  juramento,  a  serem  fiéis  ao  regime.

Salazar   usou  a  sua  política  de  construção   de   obras   públicas   para   incutir   no   povo   a  
ideia  de  que  era  o  impulsionador  da  modernização  do  país,  transformando  as  cons-
truções  de  escolas,  hospitais,  tribunais,  entre  outros  up-grades  às  infra-­estruturas,  em  
símbolos  de  orgulho  da  sua  administração.  A  “Lição  de  Salazar”,  tal  como  é  analisada  
por  Aguiar  et  al.  (1984)  surge  em  1938,  com  a  comemoração  dos  dez  anos  do  regime  e  
é  um  exemplo  claro  da  estratégia  implementada  para  a  difusão  dos  valores  instituídos  
pelo  “Estado  Novo”,  difundindo  e  exaltando  a  obra  feita  pelo  ditador.  Segundo  Salazar,  
“a  arte,  a  literatura  e  a  Ciência  constituem  a  grande  fachada  de  uma  nacionalidade,  o  
que  se  vê  lá  de  fora”.  Esta  estratégia  passa  pela  colocação  de  cartazes  didácticos  em  
todas  as  escolas  do  ensino  primário  do  país,  com  comparações  sistematizadas  entre  a  
primeira  República  e  o  regime,  destacando  a  “superioridade  de  um  Estado  forte  e  au-
toritário  sobre  os  regimes  demoliberais”.(...)  A  comparação  sistemática  entre  a  obra  do  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

regime  salazarista  e  a  primeira  República:  à  desorganização  económica  e  financeira  


e  ao  alheamento  do  Estado  democrático  e  liberal  republicano  face  aos  problemas  do  
pais  sucede  a  organização  financeira,  a  melhoria  das  vias  de  comunicação,  a  constru-
ção  de  portos,  o  ordenamento  e  progresso  social  promovidos  pelo  Estado  Novo.  Os  
cartazes  acentuam  esta  ideia  a  partir  de  uma  imagem  cinzenta  e  triste  da  época  da  
primeira  República,  enquanto  que  o  `depois´  da  obra  salazarista  nos  aparece  colorido,  
organizado  e  moderno.”  (Aguiar  et  al.,  1984)

Para  o  Estado  Novo,  a  escola  é  um  lugar  privilegiado  de  difusão  dos  valores  defen-
didos.  A  pedagogia  salazarista  sintetiza-­se  na  “Trilogia  da  Educação  Nacional:  Deus,  
Pátria,  Família”,  em  que  a  moral  era  assente  num  “mundo  perfeito,  sem  violência,  sem  
vícios,   sem   protestos,   perfeitamente   ordenado,   traduzindo   uma   ordem   económica,  
política  e  social  que  o  Estado  Novo  considerava  perfeitas.”    (Aguiar  et  al.,  1984)  A  exal-
tação  da  obra  de  Salazar  e  todos  os  outros  valores  subentendidos  no  regime  (história  de  
Portugal  que  consequentemente  a  torna  a  mais  bela  Nação  do  mundo,  legitimamente  
herdada  pelo  Estado  Novo;;  a  maternidade  e  o  papel  de  esposa,  como  obrigações  da  
mulher,   que   não   deveria   ambicionar   nada   mais;;   a   catequese   como   factor   de   solidifi-
cação   da   doutrina   católica;;   e   a   caridade,   que   substituía   a   função   social   do   estado)  
retratavam-­se  nos  livros  escolares  do  ensino  primário  (livros  únicos),  que  eram  adop-
tados  por  muitos  anos  e  que  eram  seleccionados  criteriosamente  pelo  Ministério  da  
Educação  Nacional.  A  criação  de  escolas  primárias  com  uma  arquitectura  tipificada  e  
característica  em  todas  as  províncias  do  país,  tinha  como  um  dos  princípios  orienta-
dores  a  separação  da  educação  masculina,  da  feminina,  onde  os  papéis  a  representar  
por  cada  um  dos  sexos  na  sociedade  portuguesa  estava  pré-­definido.  

Na  década  de  40,  em  plena  febre  comemorativa,  destacou-­se  a  acção  da  Direcção-­
Geral  dos  Edifícios  e  Monumentos  Nacionais,  responsável  pelo  restauro  e  conserva-
ção  de  inúmero  património  histórico  espalhado  por  todo  o  Portugal  (…)  A    Exposição  
do  Mundo  Português  de  1940,  comemorativa  dos  centenários  da  Independência  e  da  
Restauração,  marcou  o  auge  da  política  cultural  do  Novo  Regime,  que  através  da  pro-
paganda  e  do  ensino,  veiculava  os  ideais  nacionalistas  num  momento  em  que  o  resto  
do  mundo  vivia  a  Segunda  Guerra  Mundial.  (Infopédia,  2003-­2012)

Deste    modo,  o  nacionalismo  e  um  forte  carácter  moralista  estavam  bem  presentes  
na  pedagogia  vigente,  caracterizada  sobretudo  por  reformas  curriculares  que  visavam  
a  simplificação  dos  conteúdos  programáticos  e  por  uma  estrutura  que  separava  a  via  
do  ensino  pelos  liceus  e  pelo  ensino  técnico.  Esta  formalização  elitista  -­  o  liceu  servia  

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os   filhos   das   classes   mais   favorecidas,   que   assim   alcançariam   estudos   superiores,  
enquanto  os  filhos  do  operariado  se  distribuíam  pelas  Escolas  Técnicas,  partindo  do  
princípio  que  não  aspiravam  a  prosseguir  os  seus  estudos  -­  acabava  por  ser  descri-
minatória,  apelando  às  diferenças,  sem  respeitar  o  direito  ao  conhecimento  e  às  mes-
mas   condições   por   parte   de   todos   os   indivíduos.  A   obrigatoriedade   do   ensino,   para  
quem  não  pretendesse  seguir  os  seus  estudos,  era  de  seis  anos  (classes);;  enquanto  
que  aqueles  que  quisessem  prosseguir  frequentariam  as  quatro  primeiras  classes  e,  
depois   de   se   submeterem   a   um   exame,   poderiam   aceder   ao   ensino   técnico   ou   aos  
liceus.  Surge,  assim,  a  Universidade  Técnica  de  Lisboa,  direccionada  ao  ensino  Su-
perior.  “O  número  de  universitários  era  reduzido,  rondando  os  sete  mil  estudantes  nas  
três   universidades   (Lisboa,   Porto   e   Coimbra).”   (Infopédia,   2003-­2012).   Este   enqua-
dramento   pedagógico   era   característico   de   uma   sociedade   que   não   tinha   liberdade  
de  expressão,  porque  através  do  ensino,  da  Igreja,  da  censura,  da  polícia  política  e  
da  propaganda,  o  regime  mantinha  uma  paz  aparente,  que  se  mantém  até  à  década  
de  60.  “Contudo,  as  lentas  e  silenciosas  transformações  que  se  operaram  a  partir  dos  
anos  50  conduziram  à  queda  deste  regime  autoritário  e  repressor.”  (Infopédia,  2003-­
2012)

Só  a  partir  de  meados  da  década  de  50,  do  séc.  XX,  é  que  a  escola  se  torna  presente  
no   quotidiano   juvenil   e   infantil.   Nos   anos   anteriores,   os   processos   de   alfabetização  
revelaram-­se   “informais,   voluntários   e   muitas   vezes   relacionados   com   ciclos   de   tra-
balho  e  de  oportunidades  frágeis  e  instáveis.  No  fundo,  uma  alfabetização  desigual-
mente  distribuída  segundo  o  género,  o  estrato  social  e  a  condição  rural  ou  urbana.”    
(Simões,  2007)  Segundo  o  autor  Teodoro,  será  na  década  de  50  que,  pela  primeira  
vez  na  história  do  país,  se  alcança  a  universalização  da  escola  primária,  iniciando-­se  
assim,  aquilo  que  entende  como  uma  “forte  inflexão  da  frequência  escolar”  em  todos  
os  níveis  de  ensino,  numa  trajectória  de  crescimento  sustentado.  De  qualquer  modo,  é  
importante  referir  que,    em  relação  ao  desenvolvimento  das  diferentes  políticas  educa-
cionais,  existem  perspectivas  não  tão  derrotistas  quanto  a  frequentemente  adoptada,  
resultantes  de    uma  espécie  de  pessimismo  generalizado.  (Teodoro,  1999)

O  desenvolvimento  do  capitalismo  português,  na  sua  unidade  fundamental  e  na  diver-
sidade  das  suas  orientações,  não  determinou  entre  nós  um  alto  desenvolvimento  das  
forças  produtivas.  O  sistema  escolar  português  não  ultrapassou,  por  isso  mesmo,  os  
limites  dos  estreitos  interesses  económicos  e  culturais  da  burguesia.  Nunca  se  alcan-
çou  a  democratização  real  da  Educação  e  da  Instrução.  (Rogério  Fernandes,  1978)

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Salazar  percorreu  diferentes  governos  no  Ministério  das  Finanças,  com  o  objectivo  de  
eliminar  qualquer  hipótese  de  retoma  do  republicanismo.  Em  1932,  formou  governo,  
convidado  pelo  General  Óscar  Carmona,  então  Presidente  da  República.  Começou,  
assim,  a  desenhar-­se  um  programa  que  estruturaria  a  Nova  Constituição  de  1933  e  
que,  essencialmente,  se  baseava  no  seguinte  rol  de  princípios:  “O  nacionalismo  cor-
porativo  -­  centra  a  atenção  nos  organismos  componentes  da  nação  que  reúnem  os  
interesses  dos  indivíduos  (as  famílias,  as  freguesias,  os  municípios,  as  corporações);;  
o  Estado  Forte  -­  opção  pelo  autoritarismo,  ainda  que  “limitado  pela  moral,  pelos  prin-
cípios  de  direito  das  gentes,  pelas  garantias  e  liberdades  individuais”;;  o  intervencionis-
mo  económico-­social  -­  “não  pode  aspirar-­se  a  constituir  um  Estado  equilibrado  e  forte  
sem  a  coordenação  e  desenvolvimento  da  economia  nacional”,  ficando  consagrada  a  
responsabilidade  e  o  dever  do  estado  em  implantar,  promover  ou  incentivar  as  gran-
des  obras  e  melhoramentos”;;  o  imperialismo  colonial-­  representado  no  Acto  Colonial  
de  1930.”  (Moniz,  2005)

O  Estado  Novo  surge  com  uma  vontade  reformista  intrínseca,  materializando  um  novo  
contexto  nacional,  e  o  mapa  passa  a  estar  estruturado  em  novos  equipamentos  públi-
cos,  novas  estradas,  novos  transportes  marítimos  e  telefones,  que  organizavam  uma  
rede  onde  todos  se  relacionavam.

Com  efeito,  na  perspectiva  de  Fernando  Rosas  (1994),  “o  ministro  da  Educação  Na-
cional,  António  Carneiro  Pacheco,  é  o  grande  responsável  pela  política  de  educação  
do  povo  e  pela  utilização  da  educação  como  instrumento  privilegiado  de  propaganda  
do  Estado  Novo  desde  1936”.    É  notória  a  ideia  de  ordem,  “ordem  nas  finanças,  pelo  
equilíbrio  do  orçamento,  ordem  nas  ruas  e  nos  espíritos,  pelo  reforço  dos  poderes  do  
estado”  (Rosas,  1994),  com  a  qual  se  preconiza  um  novo  modelo  de  sociedade,  base-
ado  na  apregoada  moral  nacionalista,  corporativa  e  cristã,  implícita  nas  relações  labo-
rais,  na  vida  familiar,  na  política,  enfim,  na  cultura  em  geral.  As  acções  deste  governo  
estenderam-­se  a  todas  as  regiões  do  país,  a  fim  de  controlar  os  portugueses  em  todo  
o  território  nacional,  onde  se  definia  uma  estrutura  articulada  entre  o  poder  nacional,  
regional  e  local  (existência  de  um  partido  único,  a  União  Nacional).

A  escola  deveria  ser  entendida  como  um  modelo  para  a  sociedade,  mas  com  a  passa-
gem  da  República  para  o  Estado  Novo,  o  docente  passou  de  “sacerdote  da  democra-
cia”  para  “moldador  de  almas”  (Araújo,  1990).  Deste  modo,  o  papel  da  escola  deixou  

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de  ser  modernizar  e  desenvolver  a  sociedade  e  as  suas  políticas,  transformando-­se  


num   veículo   de   difusão   de   ideais   e   valores   sustentadores   da   ditadura   vigente,   que  
implementava  processos  de  controlo  político  e  ideológico,  com  evidentes  implicações  
na  qualidade  do  ensino.  O  Ministério  das  Obras  Públicas  e  Comunicações  era  a  enti-
dade  que  centralizava  a  gestão  relacionada  com  as  obras  públicas.  Duarte  Pacheco,  
cúmplice  de  Salazar  em  ideologias  políticas,  era  o  impulsionador  deste  ministério,  pra-
ticando,  in  loco,  as  construções  deliberadas  pelo  MOPC.  Como  tal,  baseou-­se  numa  
estrutura  de  diversas  redes  de  equipamentos  e  seguiu  critérios  uniformizados  de  in-
tervenção  no  território  português,  o  que  reforçou  o  municipalismo.    (Gonçalves,  1981,  
p.23).

“As  reformas  do  ensino,  feitas  pelo  Estado  Novo,  acabaram  com  o  estéril  enciclope-
dismo  racionalista.  Servem  de  base  à  preparação  de  homens  robustos  no  físico  e  no  
espírito.”   (O   Século,   1942,   p.38).   Será  António   Carneiro   Pacheco,   Ministro   da   Edu-
cação   Nacional   (1936),   que,   enquanto   responsável   pelas   políticas   da   educação,   as  
transforma  num  instrumento  privilegiado  de  divulgação  do  regime,  criando  a  Mocidade  
Portuguesa  e  o  Plano  dos  Centenários.  

O  projecto  do  Plano  dos  Centenários  surgiu  com  o  intuito  de  celebrar  os  oitocentos  
anos  de  nacionalidade  e  os  trezentos  anos  da  Restauração  da  Independência.  Este  
plano  viria  a  ser  o  mais  significativo  no  que  diz  respeito  às  construções  escolares  (até  
à  década  de  60),  transformando-­se  num  padrão  que  procurava  responder  às  diferen-
tes   necessidades.   Intrínseca   ao   sistema   do   novo   regime,   está   claramente   associa-
da  uma  vontade  reformista,  generalizada  a  todo  o  país  pelos  diferentes  ministérios.  
“Reconheceu-­se   que,   embora   dentro   deste   princípio,   o   grande   volume   de   obras   a  
executar,  a  urgência  de  muitas  delas,  as  características  especiais  que  algumas  delas  
apresentavam   e   o   numeroso   grupo   de   técnicos   especializados   que   exigiam,   acon-
selhavam  a  que,  ao  lado  da  Direcção  Geral  dos  Edifícios  e  Monumentos  Nacionais,  
existissem  organismos  -­Juntas  e  Comissões  Administrativas  -­,  alguns  dotados  até  de  
certa  autonomia,  mas  todos  dependentes  do  referido  Ministério,  aos  quais  se  confiava  
a  excecução  de  parte  dessas  obras.”  (O  Século,  1942,  p.71)

Primeiro,  são  estruturados  planos  gerais  de  urbanização  aplicados  às  sedes  de  con-

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celho  e  lançados  alguns  concursos  públicos,  a  par  da  entrega  directa  de  obras  a  al-
guns  arquitectos  e  com  a  intervenção  algo  precária  de  gabinetes  ministeriais  (escolas
e  correios).  Depois,  assiste-­se  a  uma  reestruturação  do  MOPC,  para  dar  continuidade  
aos  múltiplos  projectos  das  redes  de  equipamentos  públicos.  Por  fim,  o  regime  desen-
volve  iniciativas  como  forma  de  promoção,  socorrendo-­se  de  todos  os  arquitectos  com  
quem   vinha   a   trabalhar,   o   que   para   muitos   observadores   deste   sistema   constitui   “o  
primeiro  momento  de  construção  consciente  de  uma  imagem  arquitectónica  e  artística  
para  o  Estado  Novo.  

Os   temas   que   se   levantam   em   torno   da   arquitectura   produzida   pelo   Estado   Novo,  


nomeadamente  pelo  MOPC,  na  década  de  30,  têm  abordado,  de  um  modo  genérico,  
os  aspectos  da  linguagem  arquitectónica,  procurando  reflectir  sobre  as  cumplicidades  
com  o  movimento  moderno,  com  o  movimento  das  artes  decorativas,  com  a  tradição  
clássica,   com   o   eventual   estilo   nacional   ou   com   o   carácter   das   arquitecturas   regio-
nais.”    (Moniz,  2005)  Duarte  Pacheco,  ao  estruturar  o  sistema  de  intervenção  em  ter-
ritório  nacional,  lançou  algumas  premissas,  com  intenção  de  simplificar  e  uniformizar  
o   funcionamento   de   todas   as   entidades   envolvidas,   tendo   conseguido   aumentar   o  
controlo  por  parte  do  Estado  sobre  as  entidades  intervenientes.  De  qualquer  forma,  é  
importante  perceber  que  existia  o  cuidado  em  contextualizar  as  soluções  internacio-
nalmente.  Foram,  deste  modo,  constituidas  equipas  de  trabalho  que,  na  sua  metodo-
logia  de  desenvolvimento  dos  projectos,  realizavam  viagens  ao  estrangeiro  a  fim  de  
compararem  o  seu  trabalho  com  obras  análogas.  O  objectivo  era  construir  um  progra-
ma  que  resultasse  num  projecto-­tipo,  mais  económico  e  rápido  de  executar.

Por  volta  de  1935,  a  Direcção-­Geral  dos  Edifícios  e  Monumentos  Nacionais  aprova  os  
projecto-­tipo  regionalizados  das  escolas  primárias.  Foram  os  projectos  dos  arquitectos  
Raul  Lino  e  Rogério  de  Azevedo  que  fizeram  parte  de  um  grupo  de  arquitectos  que,  com  
as  suas  intervenções,  marcariam  a  nossa  arquitectura  na  primeira  metade  do  séc.  XX.    
Raul  Lino  tinha  Lisboa  como  área  de  intervenção,  onde  experimentou  3  tipos  regionais  
(12  soluções),    já  Rogério  de  Azevedo  interveio  no  Porto  com  6  tipos  regionais  e  1  tipo  
rural  (32  soluções).  Denote-­se  que  foram  projectadas  44  variações  de  9  tipos  diferentes.  
“O  país  estava  dividido  em  7  regiões  para  agrupar  as  construções  com  afinidades  de  
construção,  mão-­de-­obra,  processos  construtivos  e  afinidades  climáticas.

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G
F

D
E

Ilustração 86 -  Região  A_Algarve    -­    Região  B_Alentejo    -­    Região  C_Estremadura    -­    Região  D_Beira  Litoral    -­    Região  E_Beira  Baixa  
do  Sul    -­    Região  F_Beira  Baixa  do  Norte,  Beira  Alta  e  Minho    -­    Região  G_Trás-­os-­Montes

Os  projectos  foram  concebidos  para  serem  construídos  em  série,  em  harmonia  com  
as  características  da  arquitectura  regional  impostas,  não  só  pela  aplicação  dos  ma-
teriais  próprios  das  regiões  como  também  pelas  variações  do  clima.”  (Carlos,  2005)  
Os  edifícios  tipo  das  escolas  do  Plano  dos  Centenários  baseavam-­se,  tal  como  já  foi  
referido,  nos  projectos  regionalizados  de  1935,  de  Rogério  de  Azevedo  e  de  Raul  Lino  
(os  arquitectos  não  trabalharam  directamente  nos  projectos  das  escolas  do  Plano  dos  
Centenários),  que  serviram  como  modelos  de  referência  e  aos  quais  foram  introduzi-
das  algumas  modificações  na  linguagem,  garantindo  assim  uma  coerência  na  relação  
espacial  com  o  programa  escolar.

Ilustração 87 -  Escola  Primária,  arquitecto  Raul  Lino  (Em  linha)   Ilustração 88 -  Escola  Primária,  arquitecto  Rogério  de  Azevedo  
(consultado  em  15  de  Dezembro  de  2010)  disponível  em  WWW:   (Beja,  et  al.,  1990,  p.221)
<  URL:  http://pt.wikipedia.org  >

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“Os   projectos   reflectem   as   características   regionais,   mas   também   o   gosto   romântico  


pela  forma,  no  caso  de  Raul  Lino,  e  a  racionalidade  granítica,  no  caso  de  Rogério  de  
Azevedo”  (Moniz,  2005).  Raul  Lino  fica  responsável  pelas  áreas  dos  Distritos  de  Leiria,  
Santarém,  Lisboa,  Setúbal,  Portalegre,  Évora,  Beja  e  Faro.  As  restantes  regiões  ficam  
ao  encargo  de  Rogério  de  Azevedo,  o  que  significa  quase  todos  os  distritos  do  Norte  e  
Centro  do  país.  

A  sistematização  das  plantas,  pelos  dois  arquitectos,  era  recorrente  usarem  soluções  
repetitivas.  De  acordo  com  a  Memória  do  “Ante-­Projecto  do  Plano  Geral  de  Tipos-­Re-
gionais  de  Escolas  Primárias  Oficiais  a  Construir  em  Série”  redigida  por  Guilherme  Re-
bello  de  Andrade”  (Moniz,  2005,  p.8),    estes  “Projecto-­tipo  Regionalizados”  são  fruto  da  
experiência  de  ambos,  qualificando  assim  as  intervenções  e,  ao  mesmo  tempo,  repre-
sentando  as  suas  regiões.  Foi  sob  critérios  pedagógicos  e  higienistas,  referenciados  na  
época,  que  Duarte  Pacheco  impulsionou  a  divulgação  das  propostas  sociais  do  regime,  
tornando-­as  um  meio  directo  de  expansão  ideológica,  reflectido  na  própria  arquitectu-
ra  dos  edifícios  escolares  (Plano  dos  Centenários).  No  encerramento  das  construções  
existiam  analogias  com  os  ideais  vigentes  no  regime  do  Estado  Novo.  

Verifica-­se  uma  espécie  de  paradoxo,  quando  a  arquitectura  eleita  para  representar  o  
regime  é  a  arquitectura  moderna,  praticada  em  simultâneo  noutros  países,  sob  os  mes-
mos  princípios,  construindo  assim  imagens  contextualizadas  internacionalmente,  com  o  
intuito  de  esterotipar  o  desenvolvimento  e  o  crescimento  económico  (reflexo  do  “suces-
so”  das  novas  políticas  implementadas).  O  Estado  Novo  fê-­lo  claramente  aquando  da  
comemoração  dos  centenários,  em  que  as  “Obras  Públicas”  apareciam  como  símbolo  
do  progresso  e  da  nova  ordem  vigente,  e  a  economia  era  a  palavra  de  ordem.

Ilustração 89 -   Cartaz   “A   lição   de   Salazar”,  


publicação  as  obras  públicas  como  reflexo  de  
progresso (Em   linha)   (consultado   em   06   de  
Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  
http://estoriasdahistoria10.blogspot.com  >

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Subjacente  a  estas  construções  estava  a  sistematização  da  procura  da  resolução  das  
carências  e  das  necessidades  encontradas  em  cada  um  dos  lugares  de  intervenção.  
Estas  estruturas  foram  fruto  de  um  processo  de  análise  orientado  para  o  lugar  e  base-
ado  em  modelos  experimentados  internacionalmente,  com  o  intuito  de  alcançar  uma  
solução  tipo,  que  resolveria  o  programa.  A  seriação  dos  projectos  visava  a  adaptação  
à  particularidade  de  cada  lugar,  com  o  cuidado  de  escolher  materiais  próprios  de  cada  
região  e  com  o  respeito  pela  arquitectura  regional  existente,  procurando  equilíbrio  e  
proporção.  É  também  importante  referenciar  que,  na  década  de  40,  mais  precisamente  
em  1941,  acontece  em  Portugal  um  “oportuno  e  patriótico”  (Simões,  2007)  ciclone  que  
acaba  por  danificar  as  construções  escolares  existentes,  derrubando  árvores  (pinhei-
ros,  carvalhos,  entre  outras)  que,  por  decisão  do  ministério,  viriam  a  ser  aproveitadas  
para  a  construção  das  novas  escolas  e  reconstrução  das  existentes.

3.3.3. A EFECTIVA IMPLEMENTAÇÃO DA ESCOLARIDADE OBRIGATÓRIA PARA AS CRIANÇAS


DO PRIMEIRO CICLO DE ENSINO

Na  década  de  50  (séc.  XX),  as  medidas  implementadas  no  séc.  XIX,  visando  a  obri-
gatoriedade  da  frequência  escolar  efectivam-­se  para  as  crianças  com  idades  compre-
endidas  entre  os  7  e  os  12  anos.    Apesar  de  ter  sido  uma  preocupação  quase  sempre  
presente,  não  se  revelou  totalmente  consequente.  Este  aspecto  está  em  muito  relacio-
nado  com  o  facto  de  existir  um  evidente  atraso  no  desenvolvimento  do  país,  “face  aos  
processos  de  modernização  que  varrem  a  Europa,  o  Ocidente  e  o  Mundo,  a  partir  do  
séc.  XVI.  Até  aqui,  coexiste  com  processos  de  alfabetização  informais,  voluntários  e  
muitas  vezes  relacionados  com  ciclos  de  trabalho  e  oportunidades  frágeis  e  instáveis.  
No   fundo   uma   alfabetização   desigualmente   distribuída   segundo   o   género,   o   estrato  
social  e  a  condição  rural  ou  urbana,  no  contexto  de  uma  sociedade  estruturalmente  
pobre  e  escassamente  alfabetizada.”  (Simões,  2007)  

Durante  o  regime  de  Salazar,  a  entidade  Escola  foi  conotada  como  sendo  fria,  aus-
tera,   visando   impor   um   controlo   social,   e   representativa   do   modelo   político   vigente,  
“povoada  por  crianças  sem  nenhum  tipo  de  assistência  social,  frequentemente  com  
fome   e   com   frio,   numa   paisagem   cortante   que   só   os   finais   dos   anos   50   e   60   vão  
arredondando.”(Simões,  2007)  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 160


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 90 -  Aula  numa  escola  primária  do  Estado  Novo  (Em  linha)  
(consultado  em  19  de  Outubro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  
http://restosdecoleccao.blogspot.com  >  

Entre  1950  e  1960,  nas  construções  escolares  surge  o  “Tipo  Urbano”  e  o  “Tipo  Rural”,  
que,  no  Norte  de  Portugal,  área  determinada  para  este  estudo,  integravam  o  projecto  
do  arquitecto  Fernando  Peres.  Estes  tipos  tinham  uma  linguagem  arquitectónica  mais  
simplificada  do  que  a  experimentada  anteriormente  por  Rogério  de  Azevedo  e  Manuel  
Fernandes  de  Sá,  no  mesmo  território.  O  que,  de  certa  forma,  lhes  retirou  algumas  das  
qualidades  exploradas  nos  projectos  anteriores,  impulsionados  pelo  regime  vigente  e  
pela  sua  clara  necessidade  impositiva.  Na  realidade,  o  Plano  da  Rede  Escolar  definia  
o  número,  a  localização  e  o  tipo  de  escola  a  construir.

Ilustração 91 -  Escola  EB1  Fonte  Seca,  São  João  de  Ver.  Novo  Plano  Tipo  Ur-
bano,  arquitecto  Fernando  Peres  (Em  linha)  (consultado  em  12  de  Novembro  de  
2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://agrupescolaslourosa.no.sapo.pt  >  

Na  década  de  60,  com  o  aumento  do  número  de  alunos,  ambos  os  tipos  de  construção  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 161


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

escolar  sofreram  transformações  que  se  denominaram  de  Novo  Plano  –  Tipo  Urbano  
e  Novo  Plano  –  Tipo  Rural,  onde  a  maior  das  variantes  era  o  aumento  do  número  de  
salas  de  aula,  que  passou  de  1  ou  2  para  1,  2  ou  3  no  Novo  Plano  –  Tipo  Rural  e  de  4  
a  10  no  Novo  Plano  -­Tipo  Urbano.  Este  Novo  Plano  baseou-­se  em  construções  ante-
riores  e  a  sua  formalização  decorreu  de  adaptações  aos  modelos  anteriores,  que  se  
estenderam  até  ao  início  da  década  de  70.

Na   década   de   60   existiu   um   progresso   considerável,   aquando   do   aparecimento   da  


Telescola,  impulsionada  pelo  Centro  de  Estudos  de  Pedagogia  Audiovisual,  que  dina-
mizou  os  métodos  de  ensino,  utilizando  a  rádio  e  a  televisão.  Este  sistema  permitia  
alcançar  as  zonas  mais  isoladas,  onde  a  escolaridade  obrigatória  não  era  cumprida,  
bem  como  resolver  a  superlotação  de  algumas  escolas.  Foi,  realmente,  uma  difusão  
cultural  com  algum  significado,  num  sistema  de  ensino  algo  apático.    No  final  da  déca-
da  de  60,  mais  precisamente  em  1969,  as  entidades  que  regulavam  a  construção  dos  
edifícios  escolares  sofreram  alterações.  As  estruturas  do  M.H.O.P.  foram  absorvidas  
pela  Direcção-­Geral  da  Construções  Escolares,  o  que  acabaria  por  influenciar  o  sur-
gimento  de  propostas  alternativas  às  do  Plano  dos  Centenários  e  às  do  Novo  Plano-­
Tipo  Rural  e  do  Novo  Plano-­Tipo  Urbano.

De   facto,   os   últimos   anos   da   ditadura   pautaram-­se   por   algumas   transformações   no  


sistema  implantado.  A  fusão  do  ensino  técnico  com  o  liceu  (1967),  deu  origem  ao  en-
sino  preparatório,  no  início  da  reforma  do  ministro  Veiga  Simão,  que  em  1971  unificou  
o  ensino,  proporcionando  uma  igualdade  de  oportunidades  a  todas  as  classes  sociais  
(primeiro   no   Ciclo   Preparatório   e   depois   no   Ensino   Secundário).   Graças   à   melhoria  
das  condições  de  acesso  ao  ensino,  tais  medidas    impulsionaram  o  aumento  da  es-
colaridade  obrigatória,  que  se  efectivou  num  aumento  das  habilitações  da  população  
e  dos  seus  conhecimentos,  factos  reveladores  da  abrangência  e  do  significado  desta  
reforma.  O  currículo  escolar  nos  anos  70,  pós  revolução  de  Abril  de  1974  (que  repôs  
o  estado  democrático),  foi  fruto  das  reivindicações  de  “militantes  pedagógicos”  (Leite,  
2006),  professores  e  educadores,  muitas  vezes  representados  por  associações,  que  
tinham  como  objectivo  transformar  a  escola  numa  instituição  democrática.  As  condi-
ções  físicas  em  que  decorria  o  ensino  eram  as  mesmas  do  Estado  Novo,  pelo  que  os  
diferentes  graus  de  ensino  e  as  novas  práticas  pedagógicas  e  educativas  se  desenro-
lavam  com  um  défice  de  material  didáctico  e  em  espaços  físicos  desadequados.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 162


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

3.4. AS ESCOLAS DE ÁREA ABERTA (P3)

A  partir  do  início  da  década  de  70,  a  opção  sobre  o  modelo  de  escola  que  seria  mais  
adequado  para  o  ensino  primário  em  Portugal  altera-­se.  Pedagogos  e  arquitectos  op-
taram  por  um  modelo  arquitectónico  de  origem  escandinava,  consequência  dos  mo-
vimentos  de  renovação  pedagógica  que  surgiam  internacionalmente.  Assim  surgiu  a  
denominada  escola  de  área  aberta  ou  Projecto  Normalizado  P3  .  

As  questões  que  envolviam  as  propriedades  dos  novos  espaços  propostos  apareciam  
fundamentadas  nas  vivências  das  crianças,  nas  necessidades  que  lhes  eram  intrínse-
cas  e  na  tomada  de  consciência  da  importância  dos  primeiros  anos  de  aprendizagem,  
determinantes  nos  desenvolvimentos  futuros.  Mediante  uma  análise  destes  modelos  
de   escola,   verifica-­se   que   o   nome   é   realmente   adequado   ao   pensamento   que   lhes  
é  inerente:  uma  aposta  nas  relações  de  comunicação  e  colaboração,  no  espaço  da  
escola  e  abertura  da  escola  à  comunidade.  A  formalização  desta  última  intenção  efec-
tivou-­se  na  construção  do  espaço  polivalente,  de  escala  considerável  que  servia  para  
promover   a   sociabilização   entre   alunos,   professores   e   auxiliares   de   educação,   per-
mitindo  também  a  sua  utilização,  sempre  que  necessário,  pela  comunidade.  Inerente  
ao  projecto  das  escolas  de  área  aberta,  subsistia  a  ideia  da  importância  da  aposta  na  
espontaneidade,  na  livre  expressão  e  na  criatividade  das  crianças.  

Como   forma   de   melhorar   o   entendimento   deste   tipo   de   projecto,   transcreve-­se   um  


conjunto  de  objectivos  enunciados  pelo  Secretário  da  Organização  do  Ensino  Elemen-
tar  de  Montreal,  no  Canadá  (onde  também  se  promoveu  este  tipo  de  escolas):  1.  Pro-
curar  o  ambiente  que  encoraje  uma  melhor  comunicação  entre  alunos  e  professores;;  
2.  Mobilizar  os  professores  para  o  trabalho  em  equipa;;  3.  Facilitar  a  adaptação  da  or-
ganização  escolar  às  diferenças  individuais  e  à  contínua  aquisição  de  conhecimentos,  
a  fim  de  permitir  os  reagrupamentos  funcionais  de  alunos;;  4.  Estimular  nas  crianças  a  
multiplicação  dos  contactos  pessoais  e,  por  conseguinte,  uma  melhor  sociabilização;;  
5.  Facilitar  múltiplas  e  diversas  organizações,  transformações  temporárias  e,  por  ve-
zes  permanentes;;  permitir  as  mais  variadas  modificações,  dando  assim  flexibilidade  
não   só   aos   diferentes   modos   de   organização   escolar,   como   também   aos   diferentes  
tipos  de  didáctica  e  pedagogia;;  6.  Favorecer  todas  as  formas  de  trabalho  dos  alunos  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 163


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

(individual,  em  grupo,  actividades  livres,  etc.)  de  acordo  com  o  espírito  da  Escola  Ac-
tiva.  (Mendes,  1985b)

Conclui-­se,  então,  que  o  ensino  baseado  no  professor  da  aula  tradicional  ganha  novos  
contornos:  utilização  de  meios  para  facilitar  a  aprendizagem;;  importância  dos  espaços  
e  dos  seus  componentes;;  procura  do  desenvolvimento  das  capacidades  de  expressão  
e  de  sociabilização,  com  a  construção  de  pequenos  grupos  de  trabalho  no  decorrer  do  
processo  de  ensino;;  e,  finalmente,  potenciar  a  vida  em  colectividade,  com  trabalhos  
comuns  que  resultam  numa  espécie  de  criação  de  todos  para  todos.  A  equipa  educati-
va  procura  assim  alargar-­se  além  dos  intervenientes  directos,  professores  e  auxiliares  
educativos,   abrangendo   também   os   pais.   O   sistema   implementado   transforma-­se   a  
fim  de  aumentar  a  amplitude  da  Educação.

Ilustração 92 -  Escola  EB1  Francisca  de  Aragão,  Tipo  P3,  na  Quarteira  (Em  linha)  (consultado  em  
20  de  Março  de  2010)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://eb1-­d-­francisca-­aragao.rcts.pt  >

A  primeira  escola  tipo  P3  a  ser  construída  em  Portugal  foi  na  Quarteira,  no  ano  lectivo  
de  1973/1974,  tendo  sido  a  primeira  construção  entre  muitas  outras  que  surgiriam  por  
quase   todo   o   país,   fruto   da   iniciativa   das   autarquias   locais.   Neste   caso   em   concreto,  
verifica-­se  uma  subversão  da  forma  de  acção  experimentada  até  ao  momento,  na  me-
dida  em  que  a  arquitectura  surge  como  introdução  a  uma  nova  metodologia,  tendo  sido  
descuradas,  numa  primeira  abordagem,  as  questões  metodológicas  subjacentes  à  alte-
ração  do  método  de  ensino,  vincado  na  organização  programática  destes  espaços.

No  que  diz  respeito  a  esta  forma  de  ensino,  a  década  de  80  acabou  por  ser  experi-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 164


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

mental,   na   tentativa   de   potenciar   a   nova   forma   de   ensinar.   Surgiram   investimentos  


na  regulamentação    do  funcionamento  das  escolas  e  procedeu-­se  à  organização  de  
encontros  para  formação  de  professores.  A  regulamentação  da  relação  docente-­dis-
cente,   de   1981,   particularizou-­se   pelo   facto   de   definir   que   “cada   núcleo   de   sala   de  
aula  deve  corresponder  a  um  espaço  único  de  ensino,  com  um  corpo  de  professores  
a  trabalhar  em  equipa,  de  acordo  com  o  programa  elaborado  em  conjunto”    (Pacheco  
,1993,   p.4),   antecipando   de   alguma   forma   o   que   viria   a   ser   o   mote   da   discordância  
generalizada  no  corpo  docente.

O  que,  numa  primeira  abordagem,  parecia  ser  uma  intervenção  de  fundo  devidamente  
sustentada  e  justificada,  mediante  a  evolução  deste  estudo,  revelou-­se  num  conjunto  
de   dificuldades   e   de   entraves   que   se   levantaram   no   decorrer   do   uso   deste   tipo   de  
modelo,  no  fim  da  década  de  80.  A  verdade  é  que  se  gerou  uma  forte  polémica,  prin-
cipalmente,  sobre  a  perspectiva  dos  professores.  

Em  concreto,  o  facto  de  não  existirem  paredes  entre  grupos  de  3  turmas  fazia  com  que  
3  professores  e  uma  média  de  90  alunos  partilhassem  a  mesma  área  e  tivessem  de  
lidar  com  matérias  diferenciadas,  não  obstante  as  diferenças  metodológicas  e  as  op-
ções  por  manuais  distintos  que  cada  docente  poderia  ter.  E,  em  espaços  com  este  tipo  
de  propriedades,  o  resultado  acabou  por  ser  o  improviso,  à  medida  que  se  ergueram  
barreiras,  paredes  e/ou  armários,  que  encerravam  os  espaços  e  garantiam  a  individu-
alidade  de  cada  professor,  contrariando  a  razão  de  base  de  todo  este  sistema.  

Ilustração 93 -   Escola   EB1   de   Várzea.   Escola   de   Área  Aberta,   Tipo   P3   (Em  


linha)  (consultado  em  23  de  Novembro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  
http://eb1-­varzea.rcts.pt  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 165


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Os   currículos   com   objectivos   uniformizantes,   fruto   da   administração   central,   ultra-


passavam  as  necessidades  particulares  das  localidades,  ignorando-­as,  e  mantinham  
o  enfoque  de  uma  educação  onde  “se  pretende  educar  todos  como  de  apenas  um  
se  tratasse  e  que  desacredita  da  capacidade  de  professores  assumirem  funções  na  
configuração  do  currículo.”  (Pacheco  ,1993)

Segundo    Carlinda  Leite  (s/d),    a  ideia  de  uma  “escola  para  todos”  era  o  desafio  que  
se  impunha  às  entidades  intervenientes,  apesar  da  crítica  continuada  dos  “militantes  
pedagógicos”,  face  à  definição  à  escala  nacional  de  um  currículo  fechado,  que  deter-
minava  para  todo  o  tipo  de  situações,  independentemente  das  escolas,  os  mesmos  
objectivos,  os  mesmos  conteúdos  e  as  mesmas  experiências  curriculares.  O  enten-
dimento  do  papel  dos  professores  passava  por  um  objectivo  que  pretendia  unificar  o  
trabalho  pedagógico  em  todo  o  território  nacional,  com  recurso  a  “uma  organização  
do  tempo  escolar  rígida,  num  culto  do  unívoco  e  de  indiferença  às  diferenças”.  (Leite  
(s/d)  p.1)  O  Ministério  da  Educação  Português,  mais  concretamente  o  Departamento  
do  Ensino  Básico,  com  o  intuito  de  ultrapassar  esta  situação,  lançou  incentivos  na  
procura  da  territoralização  da  educação  e  do  currículo,  para  que  a  escola,  em  con-
junto  com  outras  entidades  externas,  se  mobilizasse  colectivamente.  

Ilustração 94 -  Escola  EB1  Devesa  -­  Areias  de  Vilar.  Escola  de  Área  Aberta,  Tipo  
P3  (Em  linha)  (consultado  em  23  de  Novembro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  
URL:  http://eb1-­areias-­vilar.rcts.pt  >

Através  de  processos  de  gestão  de  currículo  e  de  administração  educacional,  jus-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 166


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tifica-­se  um  acréscimo  de  responsabilidade  sobre  as  escolas,  os  professores  e  os  
educadores  para  que,  juntamente  com  o  aumento  do  desempenho  da  administração  
central,  ficasse  garantida  uma  maior  qualidade  de  ensino.“  O  que  estou  a  afirmar  é  
que  as  medidas  de  territorialização,  tendo  como  objectivo  incentivar  as  escolas  e  os  
profissionais  que  nelas  trabalham  a  recontextualizarem  o  currículo  prescrito  a  nível  
nacional  às  realidades  locais,  conseguiriam  assegurar  o  desenvolvimento  de  projec-
tos  que  contemplassem  as  situações  e  os  actores  a  que  esse  currículo  se  destina,  
assegurando,   por   isso   também,   mais   possibilidades   de   sucesso   da   administração  
educacional.”     (Leite,   2006)   Elaboraram-­se   diferentes   programas   no   Gabinete   de  
Estudos  da  D.G.C.E.,  onde  a  cada  um  foi  atribuída  a  sigla  P  e  um  índice  1,2,3,4  e  5.  
O  índice  atribuído  ao  novo  programa  das  escolas  primárias  foi  o  3,  P3.

Este  novo  tipo  de  construção  escolar  surge  influenciado  pelos  movimentos  de  re-
novação  pedagógica  que  emergiam  na  Europa,  mais  concretamente  na  Escandiná-
via.    Em  1963  é  criado  um  “projecto  de  ajuda  no  âmbito  da  OCDE,  com  o  objectivo  
pré-­definido  de  estimular  a  escolaridade  obrigatória  nos  países  mais  necessitados  
(como  Jugoslávia,  Espanha,  Grécia,  Portugal,  Itália  e  Turquia  ),  designado  por  Pro-
jecto  Regional  do  Mediterrâneo.  Os  técnicos  da  Educação  envolvidos  propunham-­se  
unificar   e   harmonizar   as   construções   escolares,   concebendo   uma   Escola   e   orien-
tando  pedagogicamente  todas  as  entidades  envolvidas.  O  facto  de  a  escolaridade  
obrigatória  em  Portugal  passar  de  4  para  6  anos,  tornava  necessária  a  construção  
de  mais  de  2000  salas  de  aula  para  responder  a  este  objectivo.  Daí  a  elaboração  
do  documento  “As  Normas  para  a  Construção  de  Edifícios  para  o  Ensino  Primário  
Elementar”,  que  entretanto  não  chegariam  a  entrar  em  vigor.  (Pacheco,  1993,  p.2)

O   grupo   criado,   constituído   por   técnicos   de   diferentes   áreas   (Ministério   da   Edu-


cação,   Ministério   das   Obras   Públicas   e   Ministério   da   Habitação   ),   concebeu   uma  
escola   experimental   em   Mem   Martins,   após   3   anos   de   trabalho   e   alguns   estudos.  
Surgiram,  assim,  os  critérios  para    as  novas  construções;;  note-­se  que,  na  década  
de   60,   as   escolas   ainda   consideravam   a   separação   entre   os   sexos   e   esta   escola  
piloto  foi  construída  com  salas  e  recreio  separados,  e  com  apenas  o  pátio  e  a  sala  
polivalente  em  comum.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 167


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 95 -  Escola  Piloto  1966,  actual  EB1  nº2  de  Mem  Martins  (Em  linha)  
(consultado  em  23  de  Novembro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://
eb23-­mam.rcts.pt/eb1piloto  >

Os  pontos  a  considerar  determinavam  que  “O  edifício  da  escola  primária  representa  a  
transição  da  habitação  para  a  vida  pública;;  o    edifício  da  escola  deve  ter  em  conside-
ração  o  tamanho  da  criança;;  a  escola  não  se  restringe  à  sala  de  aula  e  deve,  por  isso,  
estar  aberta  ao  exterior;;  o  ensino  não  consta  só  de  memorização,  mas  é  também  acti-
vidade  que  os  espaços  (diversificados)  devem  permitir;;  deve  ser  fomentada  a  manipu-
lação  e  criação  de  objectos  (pelo  que  se  introduziu  uma  zona  de  trabalho,  dita  “suja”,  
com  pontos  de  água,  ligada  às  salas  de  aula,  propriamente  ditas);;  a  organização  de  
situações  como  a  de  trabalho  em  grupo  (prevendo-­se  a  mobilidade  do  equipamento);;  
nem  todas  as  actividades  podem  ser  realizadas  no  mesmo  espaço  (daí  a  instalação  
dos  chamados  “polivalentes”);;  as  refeições  são  actividades  educativas  (por  isso,  foi  
suprimida  a  separação  entre  edifício-­cantina  e  edifício-­escola);;  as  instalações  sanitá-
rias  seguem  a  mesma  lógica,  como  apoio  e  momento  de  educação;;  A  escola  é  um  edi-
fício  aberto,  um  equipamento  social  de  e  para  toda  a  comunidade.”  (Oliveira,  2009)

Ilustração 96 -  Escola  Piloto  1966,  actual  EB1  nº2  de  Mem  Martins  (Em  
linha)  (consultado  em  24  de  Novembro  de  2011)  disponível  em  WWW:  
<  URL:  http://eb23-­mam.rcts.pt/eb1piloto  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 168


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

A  Escola  Piloto  de  Mem  Martins,  como  ainda  hoje  é  referenciada,  foi  inaugurada  em  
1966,  sob  orientação  do  arquitecto  inglês  Guy  Oddie,  transformando-­se  num  modelo  
para  as  futuras  construções  de  escolas  primárias.  Este  estabelecimento  de  ensino  era  
o  que  mais  se  aproximava  do  conceito  ideal  de  escola.  Apesar  de  não  ser  uma  plan-
ta  aberta,  reflectia  aproximações  a  este  conceito,  sendo  o  que  de  mais  inovador  se  
fez  nesta  época  em  Portugal.  O  projecto  partiu  do  pressuposto  de  que  não  deveriam  
existir  espaços  individuais  para  as  turmas,  permitindo-­se  assim  elaborar  um  programa  
distinto  e  juntar  o  programa  educativo  às  preferências  dos  alunos.  Era  um  projecto  de  
escola  inovadora,  em  termos  de  orientação  espacial  e  da  pedagogia  que  lhe  estava  
intrínseca,  bem  como  nos  recursos  utilizados.  As  escolas  de  área  aberta  eram  mais  
populares  sobretudo  na  América  do  Norte,  Inglaterra  e  Escandinávia  e  tinham  como  
objectivo  acabar  com  as  típicas  “caixas”   das   salas   de   aula,   para   que   espaços   mais  
flexíveis  e  polivalentes  pudessem  aparecer.  Havia  menos  divisões  entre  as  salas,  me-
nos  portas  e  paredes  do  que  numa  escola  tradicional,  mas  as  estruturas  eram  para  o  
mesmo  número  de  alunos.

Ilustração 97 -  Área  aberta  da  Escola  Primária  da  Ponte,  Vila  das   Ilustração 98 -  Sala  de  aula  independente,  pós-­encerramen-
Aves  (Em  linha)  (consultado  em  24  de  Maio  de  2012)  disponível  em   to  da  área  aberta  da  Escola  EB1  do  Século,  Póvoa  do  Varzim  
WWW:  <  URL:  http://escoladaponte.com.pt  >   (Em  linha)  (consultado  em  24  de  Maio  de  2012)  disponível  em  
WWW:  <  URL:  http://eb1-­sede-­n6-­povoa-­varzim.rcts.pt  >  

“Nos  anos  70  foram  construídas  algumas  escolas  de  área  aberta,  mas  a  pouco  e  pou-
co  foram  sendo  transformadas  no  modelo  clássico.”  (Oliveira,  2009)  No  entanto,  este  
modelo  acabou  por  não  vingar.  Por  parte  dos  docentes  existia  uma  espécie  de  cultura  
de  individualismo,  associada  ao  facto  de  a  mesma  área  de  trabalho,  num  modelo  “tradi-
cional”,  albergar  mais  alunos.  O  pressuposto  das  escolas  de  área  aberta  era  não  existi-
rem  espaços  individualizados  por  turma,  o  que  teria  como  consequência  imediata  uma  
redução   das   áreas   de   construção.   Na   vertente   pedagógica,   introduzia-­se   a   liberdade  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 169


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

de  os  alunos  optarem  por  temas  distintos  do  programa,  consoante  os  seus  interesses.  
Perante  este  cenário,  o  sistema  demonstrou-­se  fechado  e  autoritário,  recusando  a  ino-
vação  introduzida.  (Silva,  2007,  p.6)  

Nos   anos   80   viveram-­se   políticas   de   normalização   de   todo   o   sistema   de   ensi-


no,   existindo   uma   “institucionalização   de   uma   reforma   curricular   de   separação   en-
tre   teoria   e   prática,   entre   os   decisores   e   os   executores   e   que   recorreu   a   processos  
de   planificação   detalhada   das   acções   para   que,   posteriormente,   se   controlassem  
os   processos   do   seu   desenvolvimento.”   (Leite,   2006,   p.69)   Em   1986,   o   ensino   obri-
gatório   estendeu-­se   até   aos   nove   anos   de   escolaridade,   com   o   intuito   de   combater  
o   analfabetismo   ainda   existente,   a   par   de     uma   elevada   taxa   de   insucesso   escolar.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 170


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

4. ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE OS DIFERENTES TIPOS DE ESCOLAS PRIMÁRIAS


PORTUGUESAS

4.1. I NTRODUÇÃO À CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS EM ESTUDO - EVOLUÇÃO


TIPOLÓGICA, TECTÓNICA E FORMAL

Ilustração 99 -  Mapa  do  Norte  de  Portugal  com  a  localização  das  escolas  estudadas

Legenda das Cores -  Tipo  Conde  de  Ferreira                                          Tipo  Adães  Bermudes                                                  Tipo  Rogério  de  Azevedo    

 Tipo  Fernandes  de  Sá                                            Tipo  Fernando  Peres                                                      Tipo  P3  -­  Área  Aberta

Na  sequência  da  abordagem  histórico-­analítica  do  contexto  nacional  e  internacional  


da  arquitectura  das  escolas  primárias  (revisitada  na  Parte  I  e  nas  várias  alíneas  do  
ponto   1   da   Parte   II   do   presente   estudo),   resultante   de   um   reconhecimento   crono-
logicamente   estruturado   e   fundamentado   sob   vários   aspectos   (como   os   contextos  
metodológico-­pedagógicos,  higiénicos,  sociais  e  políticos  da  arquitectura  das  escolas  
primárias  do  séc.  XX),  ficaram  por  abordar  as  suas  morfologias  sobre  a  perspectiva  
dos   princípios   básicos   arquitectónicos,   intrinsecamente   relacionados   com   o   acto   de  
projectar.    Entretanto,  o  norte  de  Portugal  foi  definido  como  área  de  intervenção  por  
considerar-­se  que,  quer  pela  diversidade  geográfica  quer  pelo  número  de  escolas  pri-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 171


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márias  que  abrange  (cerca  de  500,  inventariadas  pela  DGMN,  Direcção  Geral  dos  Edi-
fícios  e  Monumentos  Nacionais),  seria  uma  área  de  amostra  representativa  do  país.  
Efectivamente,  foram  identificados  seis  tipos  de  escolas  primárias,  que  se  desdobram  
em  variantes  desses  mesmos  tipos,  e  que,  pela  sua  sistematização  formal  e  funcional,  
reflectem  um  pensamento  serial  na  abordagem  morfológica,  enquanto  objectos  arqui-
tectónicos.  Tal  como  foi  apresentado  nas  primeiras  alíneas  da  Parte  II  deste  estudo,  os  
tipos  em  questão  são:  Tipo  Conde  de  Ferreira,  Tipo  Adães  Bermudes,  Tipo  Rogério  de  
Azevedo,  Tipo  Fernandes  de  Sá,  Tipo  Fernando  Peres  e  Tipo  P3.  Note-­se  que,  neste  
período  de  tempo  e  nesta  área  de  intervenção,  existem  outros  modelos  de  escolas  pri-
márias,  mas  quer  pela  sua  singularidade,  quer  diminuta  representatividade  numérica,  
não  foram  tidos  em  consideração  neste  estudo.

Para  compreender  a  arquitectura  das  escolas  primárias  portuguesas,  sentiu-­se  a  ne-


cessidade  de,  para  além  da  redacção  abrangente  dos  conteúdos  relatados  e  apreen-
didos,  utilizar  o  instrumento  primordial  do  discurso  do  arquitecto  -­  o  desenho  –  neste  
caso   o   desenho   rigoroso,   organizado   segundo   esquemas   comparativos   e   exemplifi-
cativos   das   abordagens   tipológicas,   tectónicas   e   estéticas,   que   resultam   numa   pa-
rametrização  cronologicamente  organizada  da  evolução  da  arquitectura  das  escolas  
primárias  em  Portugal.  Este  estudo  é  efectivamente  complexo  por  depender  das  com-
posições  geométricas,  das  organizações  distributivas  e  funcionais  dos  programas  es-
colares,  bem  como  dos  parâmetros  pedagógicos,  higiénicos  sociais  e  políticos,  infor-
mação  que  foi  organizada  de  forma  a  anteceder  esta  análise,  permitindo  assim  uma  
leitura  cabal  dos  objectos  arquitectónicos  em  questão.

Entende-­se  a  caracterização  dos  tipos  como  um  resumo  das  suas  principais  caracte-
rísticas:  localização  e  enquadramento,  descrição  genérica  do  edifício,  identificação  da  
sua  actual  utilização,  enquadramento  temporal,  com  cronologia  dos  factos  mais  rele-
vantes,  referência  ao  arquitecto  e  à  sua  biogafia,  assim  como  a  descrição  tipológica  
e  tectónica.

A   composição   arquitectónica   depreende   a   gestão   de   um   sistema   complexo   de   vari-


áveis.   Procedeu-­se   à   identificação   parcelar   das   relações   entre   o   tema   projectual   e  
os   seus   conteúdos   funcionais,   segundo   um   método   comparativo,   primeiro   entre   as  
diferentes  combinações  do  mesmo  tipo  e,  posteriormente,  entre  os  diferentes  tipos,  
analisando:  a  acessibilidade;;  a  permeabilidade  do  edifício  ao  exterior  (identificação  da  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 172


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

posição  dos  vãos);;  a  sua  estrutura;;  a  construção  do  modelo  espacial,  com  uma  iden-
tificação   dos   sistemas   axiais,   da   grelha   de   composição   e   das   geometrias   inerentes  
à  forma  (múltiplos  dos  módulos  de  composição/identificação  das  áreas  das  salas  de  
aula  -­  célula  base);;  a  articulação  espacial  e  a  evolução  do  tipo/aumento  do  número  de  
células;;  ritmos  dos  vãos;;  e  identificação  das  geometrias  dos  elementos  decorativos  e  
das  suas  repetições.

4.1.1. TIPO Conde de Ferreira

Ilustração 100 -  Escola  Tipo  Conde  de  Ferreira  (Em  linha)  (consultado  em  29  de  Fevereiro  de  2011)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://eb1-­sede-­3.rcts.pt  >

4.1.1.1. CONTEXTO E IMPLANTAÇÃO

As  escolas  Conde  de  Ferreira  assumem-­se  como  o  primeiro  tipo  de  construções  esco-
lares  uniformizadas  em  Portugal  e  datam  da  segunda  metade  do  séc.  XIX  (fundamen-
talmente  do  final  da  década  de  60).  Resultam  de  um  conjunto  de  directrizes  enuncia-
das  em  testamento  pelo  Conde  de  Ferreira  33,  em  Março  de  1866.  Em  Julho  do  mesmo  
ano,   tais   premissas   são   reiteradas   por   uma   publicação   de   portaria   do   Ministério   do  

Em   1782   nasce,   em   Vila   Meã,   Penafiel,   Joaquim   Ferreira   dos   Santos,   conhecido   como   Conde   de  
33    

Ferreira.  Os  seus  pais,  agricultores,  destinaram-­lhe  a  vida  eclesiástica,  tendo  por  isso  estudado  para  tal;;  
no  entanto,  acabou  por  embarcar  para  o  Brasil.  Joaquim  Ferreira  dos  Santos  foi  um  filantropo  e  comer-
ciante,  que  fez  fortuna  principalmente  com  o  comércio  de  escravos  de  Angola  para  o  Brasil.  Morre  a  24  
de  Março  de  1866  sem  descendência,  visto  já  ter  perdido  a  esposa  e  a  única  filha.  Deixa  em  testamento  
144.000$000  para  serem  aplicados  em  obras  de  beneficência,  uma  das  quais  diz  respeito  à  educação.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 173


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Reino  no  Diário  de  Lisboa,  onde  se  condensa  um  conjunto  de  princípios,  influencia-
dos  pelas  concepções  pedagógicas  da  época  e,  sobretudo,  do  que  se  julgava  ser  as  
condições  ideais  para  a  manutenção  das  crianças  num  espaço  escolar,  em  ordem  a  
garantir  a  sua  segurança  física  e  moral.  Esta  Portaria   34,  com  instruções  elaboradas  
pelo  Dr.  Adriano  de  Abreu  Cardoso  Machado,  Director-­Geral  da  Instrução  Pública,  é  o  
reflexo  de  uma  época  em  que  as  condições  gerais  de  higiene  e  conforto  dos  edifícios  
escolares  são  tidas  em  consideração  e  tratadas  com  particular  cuidado.  Constitui-­se,  
assim,  o  primeiro  regulamento  de  construções  escolares  a  ser  seguido  em  Portugal,  
que  enumerava  e  regulamentava  pela  primeira  vez  o  mobiliário  e  o  material  escolar.  A  
primeira  construção  data  de  1868,  mas  é  precedida  de  um  projecto  complementar  do  
Governo,  datado  de  1866,  com  o  intuito  de  normalizar  e  assegurar  uma  uniformiza-
ção  arquitectónica  nos  vários  concelhos  do  país,   35  onde  em  todas  as  torres  sineiras,  
elemento   particular   e   característico   destas   construções,   estaria   inscrita   a   data   que  
assinalava  o  falecimento  do  benemérito,  24  de  Março.

...   convencido   de   que   a   instrução   pública   é   um   elemento   essencial   para   o   bem   da  


sociedade,   quero   que   os   meus   testamenteiros   mandem   construir   e   mobilar   cento   e  
vinte  casas  para  escolas  primárias  de  ambos  os  sexos  nas  terras  que  forem  cabeças  
de  concelho,  sendo  todas  por  uma  mesma  planta  e  com  acomodações  para  vivenda  
do  professor,  não  excedendo  o  custo  de  cada  casa  e  mobília  a  quantia  de  um  conto  
e  duzentos  mil  réis;;  e  pronta  que  esteja  a  casa,  será  a  mesma  entregue  à  Junta  da  
Paróquia  em  que  fôr  construída;;  mas  não  mandarão  construir  mais  de  duas  casas  em  
cada  cabeça  de  concelho  e  preferirão  aquelas  terras  que  bem  entenderem...  (Conde  
de  Ferreira)

Estas  premissas  traduzem  uma  vontade  explícita  do  seu  benemérito  de  impulsionar  o  
ensino  primário  para  ambos  os  sexos  em  Portugal,  proporcionando,  com  a  construção  
destes  edifícios  casa/escola,  uma  melhoria  das  condições  da  habitabilidade  para    pro-
fessor  e  alunos.  Ficam,  no  entanto,  por    explorar  as  valências  da  composição  arqui-
tectónica  na  construção  dos  espaços  e  na  reafirmação  das  pedagogias  e  dos  métodos  
de  ensino,  resultando  estes  objectos  arquitectónicos  na  mera  soma  das  partes.      Em  
1911,  com  a  passagem  das  competências  relativas  às  instalações  escolares  para  a  
responsabilidade  das  Câmaras  Municipais  redigem-­se  as  normas  técnicas,  higiénicas  
e  pedagógicas  a  que  devem  obedecer  os  novos  edifícios  escolares,  conhecidas  como  
Normas  da  República  e  a  partir  das  quais  se  edificam  as  Escolas  da  República.  No  en-

35    
É  criado  ainda  um  subsídio  de  10.000$000rs  como  verba  complementar,  para  facilitar  a  construção  das  
casas  escolares.

34    
Portaria  de  20  de  Julho  de  1866.

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tanto,  esta  normalização  não  resulta  em  qualquer  tipo  de  transformação  na  morfologia  
do  tipo  Conde  de  Ferreira,  mas  na  introdução  de  pontuais  mais  valias  aos  espaços,  
por   exemplo,   o   fornecimento   de   energia   eléctrica   para   as   salas   de   aula   (1914).   Na  
realidade,  desconhece-­se  o  autor  do  projecto  destas  escolas.

As  unidades  de  amostra  deste  estudo,  das  casa/escola  Conde  de  Ferreira,  localizam-­
se  no  Porto,  em  Vila  Nova  de  Gaia,  Vila  Nova  de  Famalicão,  Espinho,  Paredes,  Vi-
mioso,  Alijó,  Esposende,  Vila  do  Conde  e  Amarante.  Da  observação  destes  objectos  
inseridos  nos  diferentes  contextos  verifica-­se  que,  geralmente,  o  enquadramento  é  em  
contexto  urbano,  isolado,  estando  os  edifícios,  na  sua  maioria,  implantados  em  cota  
elevada  em  relação  à  envolvente.  

Por  diversas  vezes,  os  casos  de  estudo  encontram-­se  circunscritos  por  um  muro  baixo  
de   alvenaria   de   pedra,   rebocado   e   pintado,   e   o   acesso   à   fachada   principal   é   geral-
mente  feito  por  portão  de  ferro  forjado.  Crê-­se  que,  pela  observação  in  loco  realizada  
à  data  da  sua  construção,  os  sítios  das  suas  implantações  respeitavam  a  premissa  da  
colocação  da  escola  em  lugar  saudável,  central  e  de  fácil  acesso,  afastado  das  estra-
das  de  maior  movimento  e  de  outros  perigos  advindos  da  proximidade  de  fábricas  e/
ou  de  outras  fontes  de  poluição.

4.1.1.2. EXPRESSÃO FORMAL TIPOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL E MATERIALIDADE


ARQUITECTÓNICA

Esta  arquitectura  caracteriza-­se  por  ser  educativa  e  revivalista.  As  escolas  primárias  
do   projecto-­tipo,   elaborado   com   o   legado   do   Conde   de   Ferreira,   são   de   planta   lon-
gitudinal   rectangular   simples   e   caracterizam-­se   pela   existência   de   uma     linguagem  
própria.

São  edifícios  de  linhas  sóbrias  e  funcionais,  que  recorrem  à  linguagem  clássica,  vi-
sível  nas  pilastras  dos  cunhais,  na  delimitação  dos  panos  das  fachadas  laterais  e  no  
frontão  triangular  que  coroa  a  sineira.

Tais  construções  inserem-­se  no  conjunto  de  escolas  primárias  do  modelo  normalizado  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 175


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mais  antigo  do  país.

A   imagem   destas   escolas   resulta   da   articulação   entre   um   volume   horizontal   e   uma  


cobertura  que  se  desenvolve  num  telhado  de  quatro  águas.  A  casa  escola  tipo  Conde  
de  Ferreira  resume-­se,  assim,  a  um  pequeno  volume,  onde  as  aberturas,  apesar  de  
se  repetirem  pelos  quatro  alçados,  se  restringem  a  uma  pequena  dimensão  de  vão,  
correspondente  à  lógica  do  sistema  construtivo  em  alvenaria  de  pedra  de  granito.  

Os  seus  vãos  caracterizam-­se,  ainda,  por  serem  composições  rectilíneas,  altas,  es-
treitas   e   emolduradas,   onde   a   cantaria   desenha   pendentes   rectangulares,   existindo  
uma  verga  superior  ornada,  de  duplo  friso  vertical  canelado.  O  peitoril  é  saliente  e  as  
janelas  são  coroadas  por  uma  cornija  e  superadas  por  um  beiral.

As  fachadas  caracterizam-­se  por  serem  rebocadas  e  pintadas,  na  sua  versão  original,  
de  branco.  São  ainda  compostas  por  um  embasamento  de  cantaria,  com  cunhais  api-
lastrados.  

A  fachada  principal  tem  uma  leitura  hierarquizada  relativamente  às  restantes,  por  ser  
composta  por  um  friso  quadrangular  e  uma  cornija  que  se  enuncia  com  alguma  pre-
ponderância.  Esta  cornija  é  intersectada  por  um  portal  de  verga  recta,  emoldurado,  e  
precedido  de  degrau.  A  composição  descrita  é  encimada  por  um  moldura,  com  a  ins-
crição  “Conde  de  Ferreira”  e,  lateralmente,  por  duplo  friso  vertical  canelado,  também  
este  encimado  por  uma  cornija.

Sobre  a  estreita  platibanda  plena  em  granito  que  coroa  a  fachada,  ergue-­se  ao  centro,  
sobre   plinto   decorado   por   friso   superior   (contendo   geralmente   uma   inscrição   com   a  
data  de  falecimento  do  benemérito  da  escola),  a  referida  sineira  rectangular,  coroada  
por  um    frontão  triangular,  por  sua  vez  sustentado  por  pilaretes  almofadados  e  verga  
simples.  

As   fachadas   laterais   assemelham-­se   à   fachada   principal,   anteriormente   descrita,   e  


são  rasgadas  por  um  número  variável  de  janelas  de  peitoril  (entre  três  e  cinco),  com  
moldura  lisa  em  granito  e  com  caixilharia  de  guilhotina.  A  fachada  posterior  é  compos-
ta,  ao  centro,  por  uma  porta  de  verga  recta,  emoldurada  e  precedida  por  dois  degraus,  
e  ladeada  por  duas  janelas  rectilíneas,  emolduradas.  A  porta  acede  à  casa  do  profes-
sor.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 176


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Estas   escolas   eram   compostas   por   uma   sala   de   aula   próxima   de   um   vestíbulo   (ou  
dois,  caso  fosse  para  o  ensino  dos  dois  sexos),  cuja  dimensão  oscilava  entre  os  50  
e  os  115  m2  e  com  um  pé  direito  de  4m.    Em  algumas  situações,  o  número  das  salas  
poderia  multiplicar-­se,  caso  o  número  de  alunos  assim  o  justificasse.  Contíguo  à  sala  
de   aula,   previa-­se   um   espaço   para   biblioteca   e/ou   lavores,   recitações   e   recepções,  
com  uma  área  nunca  inferior  a  metade  do  espaço  da  sala  de  aula.  A  existência  de  um  
espaço  exterior  descoberto  e  outro  coberto,  que  lhe  era  adjacente,  deve-­se  ao  facto  
de  estarem  previstas  aulas  de  ginástica  para  as  crianças,  fruto  das  pedagogias  higie-
nistas,  antecipando  de  igual  modo  a  possibilidade  de  se  protegerem  das  intempéries.

As  instalações  sanitárias  ou  se  encontram  afastadas  dos  edifícios  ou  eram  gemina-
das,  mas  cujo  acesso  se  efectuava  sempre  pelo  exterior.  

Nas  escolas  mistas  não  se  previa  a  junção  dos  dois  sexos  no  interior  da  sala  de  aula  
e,  como  tal,  em  projecto  propunha-­se  a  existência  de  um  repartimento  movediço  de  
madeira,  com  uma  altura  variável  entre  1,40m  e  1,70m,  colocado  desde  a  posição  do  
professor  até  ao  outro  extremo  da  sala,  a  fim  de  garantir  a  respectiva  separação.  Em  
qualquer  um  dos  casos  de  estudo  se  manifesta  a  presença  deste  elemento.

4.1.1.3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS

O  sistema  construtivo  desenvolve-­se  segundo  um  sistema  estrutural  de  paredes  por-
tantes.  A  estrutura  é  em  alvenaria  e  cantaria  de  granito.  As  molduras  dos  vãos,  a  pla-
tibanda,  a  sineira,  o  embasamento,  as  cornijas  e  os  outros  elementos  são  em  granito.  
As   janelas   têm   caixilharias   de   madeira   e   as   portas   são   igualmente   de   madeira.   Os  
vidros  são  simples  e  a  cobertura  é  em  telha.  O  discurso  construtivo  é  linear  e  reduz-­se  
às  soluções  convencionais  da  época,  alicerçadas  num  conhecimento  empírico.

4.1.1.4. REALIDADE ACTUAL DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES

Das  120  escolas  previstas  no  testamento  do  Conde  de  Ferreira  foram  construídas  91,  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 177


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das  quais  21  foram  entretanto  demolidas.  As  restantes  70  continuam  a  funcionar  para  
os  mais  diversos  fins.  Estes  edifícios,  como  já  se  verificou,  foram  concebidos  segundo  
a  estrutura  de  escola  primária.  Actualmente,  alguns  ainda  servem  a  mesma  função,  
denominando-­se  de  escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico,  todavia  são  uma  minoria;;  
os  restantes  têm  o  seu  uso  alterado  para  edifícios  que  albergam  serviços  municipais,  
sedes  de  junta  de  freguesia,  bibliotecas,  museus  municipais  ou  mesmo  instalações  de  
forças  de  segurança.  Fundamentalmente,  nestes  casos  mantém-­se  o  foro  do  seu  uso  
como  público,  mas  a  sua  morfologia  transforma-­se  mediante  ampliações  e  alterações  
consequentes  dos  novos  programas  e  das  novas  exigências  de  habitabilidade.

4.1.1.5. ESQUEMAS COMPARATIVOS ENTRE AS VARIAÇÕES DO MESMO TIPO

Plantas  das  variantes  do  tipo  Conde  de  Ferreira

1 sala 2 salas

Mancha  das  variantes  do  tipo  Conde  de  Ferreira

1 sala 2 salas
Sobreposição  das  variantes  do  tipo  Conde  de  Ferreira

2+1 salas
Programa  das  variantes  do  tipo  Conde  de  Ferreira

1 sala 2 salas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 178


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4.1.2. TIPO ADÃES BERMUDES

Ilustração 101 -   Escola   Tipo  Adães   Bermudes   (Em   linha)   (consultado   em   01   de   Março   de   2011)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://monumentos.pt  >

4.1.2.1. CONTEXTO E IMPLANTAÇÃO

As   construções   escolares   tipo  Adães   Bermudes   datam   do   início   do   séc.   XX,   entre  
1902  e  1912.

Em   1897,   o   Congresso   Pedagógico   de   Lisboa   argumentou   que,   perante   o   analfa-


betismo   de   4,5%   da   população   portuguesa,   seria   urgente   a   construção   de   escolas  
para  inverter  o  cenário  instaurado.  Nesse  congresso  referiu-­se  a  iminente  dotação  de  
edifícios  apropriados  a  todas  as  povoações  com  escolas  primárias,  num  período  de  
5  anos,  seguindo-­se  um  plano  de  construção,  estudado  por  uma  comissão  de  enge-
nheiros,  que  o    Governo  delegou  à  Associação  dos  Engenheiros  Civis  Portugueses.  A  
equipa  era  constituída  por  Augusto  Simões  de  Carvalho,  Severino  da  Fonseca  Montei-
ro,  Polycarpo  José  da  Costa  Lima,  António  Teixeira  Júdice  e  Joaquim  Renato  Baptista.    
Com  efeito,  no  ano  seguinte,  a  3  de  Janeiro,  uma  assembleia  extraordinária  aprovou  
o  programa  de  edifícios  destinados  a  serem  escola  primária,  elaborado  pela  Associa-
ção  dos  Engenheiros  Civis  Portugueses.  Nesse  texto  reconhecia-­se  a  necessidade  de  
difusão  da  instrução  e  a  influência  que  a  disposição  adaptada  nos  edifícios  escolares  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 179


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exerceria  no  desenvolvimento  físico,  intelectual  e  moral  das  populações.  O  processo  


culmina  no  lançamento  de  um  concurso    para  apresentação  de  projectos  de  edifícios  
destinados  a  escolas  de  instrução  primária  e  o  respectivo  relatório,  em  resposta  ao  
programa  predefinido  e  aprovado  pelo  Ministério  das  Obras  Públicas  .  Após  a  abertura  
oficial  do  concurso  público,  por  anúncio  no  Diário  de  Governo,  a  2  de  Março  de  1898,  
estipulou-­se  um  prazo  de  6  meses  para  a  admissão  dos  projectos  concorrentes.  Os  
trabalhos   teriam   de   ser   entregues   na   1ª   Repartição   da   Direcção-­Geral   de   Instrução  
Pública  e,  curiosamente,  era  obrigatório  o  uso  de  pseudónimos  como  salvaguarda  da  
idoneidade  do  concurso.  Estipularam-­se  três  prémios  de  mérito  relativo  para  os  pro-
jectos  que  satisfizessem  todas  as  condições  do  concurso  e  tivessem  sido  aprovados  
com  merecimento  absoluto:  750$000rs,  450$000rs  e  300$000rs,  respectivamente.  O  
vencedor  do  concurso,  e  o  único  candidato  em  31  de  Outubro  de  1898,  foi  o  arquitecto  
Arnaldo  Redondo  Adães  Bermudes,  sob  o  pseudónimo  Fiat  Lux.  

Adães  Bermudes  (1864-­1948)  teve  uma  formação  complementada  entre  duas  esco-
las  portuguesas,  a  Academia  Portuense  de  Belas  Artes,  onde  iniciou  o  seu  percurso  
enquanto  estudante  universitário,  e  a  Escola  de  Belas  Artes  de  Lisboa,  onde  concluiu  
a  sua  licenciatura.  

Adães  Bermudes  finalizou  a  sua  formação  com  uma  bolsa  de  estudo  que  o  levou  até  
Paris,  para  a  École  des  Beaux-­Arts,  onde  permaneceu  durante  cinco  anos  sob  a  orien-
tação  do  arquitecto  francês  Paul  Blondel.  

Em  1894,  regressa  a  Portugal  para  exercer  a  profissão  de  arquitecto  e,  nesse  mesmo  
ano,  é-­lhe  atribuído  o  segundo  lugar  na  exposição  do  Grémio  Artístico  de  Lisboa,  reco-
nhecimento  que  lhe  trouxe  projectos  de  obras  públicas,  e,  no  ano  seguinte,  um  cargo  
de  arquitecto  no  ministério  do  reino.  

Em  1900  Adães  Bermudes  é  nomeado  delegado  à  Exposição  Universal  de  Paris,  onde  
ganha  a  Medalha  de  Ouro  da  Secção  de  Arquitectura  Escolar,  com  o  projecto-­tipo  das  
escolas  em  análise,  denominado  de  tipo  Adães  Bermudes.

Em  1906,  aquando  do  exercício  das  suas  funções  de  arquitecto  do  reino,  Adães  Ber-
mudes  alcança  o  título  de  arquitecto  de  1ªclasse.  A  sua  posição  enquanto  funcionário  
do   Estado   varia   ao   longo   do   tempo,   mantendo-­se   sempre   como   alto   funcionário   e  
dirigente  da  administração  pública.  Na  sua  relação  com  o  meio  escolar  destaca-­se  o  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 180


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facto  de,  em  1989,  ter  sido  nomeado  adjunto  encarregue  dos  projectos  de  construções  
escolares  na  Direcção  Geral  de  Instrução  Pública  e  director  do  serviço  de  construções  
escolares  da  Direcção  Geral  do  Ministério  do  Reino,  entre  1901  e  1906.  

Verifica-­se  que  esta  tipologia  foi  adoptada  em  várias  regiões  do  país,  mas  as  escolas  
tipo  Adães  Bermudes  que  constituíram  objecto  de  análise  neste  estudo  localizam-­se  
em  Vila  Real,  Barcelos,  Vila  do  Conde,  Mondim  de  Basto,  Macedo  de  Cavaleiros,  Mur-
ça,    Espinho,  Vila  Nova  de  Foz  Côa,  Chaves,  Mirandela  e  Paredes  de  Coura.

Os  seus  enquadramentos  variam  entre  o  contexto  urbano,  periurbano  e  rural.  Os  edi-
fícios  estão  maioritariamente  isolados,  por  vezes  flanqueados  e,  entre  os  selecciona-
dos,  existe  um  que  é  adossado,  a  Escola  Primária  de  São  Salvador,  em  Ribeira  da  
Pena,  Vila  Real.  

As   construções   situam-­se   em   locais   desafogados   e   a   fachada   principal,   na   maioria  


dos  edifícios,  faz  frente  de  rua,  encontrando-­se  pontualmente  recuada  pela  existência  
de  relvado  sobrelevado  ou  à  cota  da  rua,  ou  mesmo  pelo  alargamento  do  passeio  que  
delimita  a  via.  Também  se  observam  casos  em  que  existe  uma  área  exterior  anexa,  
delimitada,  principalmente  em  contexto  urbano  e  periurbano,  e  onde  o  acesso  à  facha-
da  posterior  se  resolve  com  a  mediação  de  portões  em  gradeamento  de  ferro  pintado,  
integrados  em  pequeno  muro  de  cantaria  aparente  em  aparelho  regular.

4.1.2.2. EXPRESSÃO FORMAL TIPOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL E MATERIALIDADE


ARQUITECTÓNICA

A  arquitectura  destas  construções  caracteriza-­se  por  ser  de  carácter  educativo,  nove-
centista,  de  tendência  academicista,  e  resulta  no  projecto-­tipo  Adães  Bermudes.  

Estes  edifícios  conjugam  a  residência  do  professor  com  o  espaço  escolar  e  assumem  
diferentes  composições  mediante  o  número  de  salas  de  aula  e  de  residências,  poden-
do  ter  uma  ou  duas  salas,  uma  ou  duas  residências  e  um  ou  dois  gabinetes  laterais.  

As  salas  de  aula  são  térreas,  abrindo  3  grandes  janelas  para  a  fachada  principal,  com  
o   pressuposto   de   assegurar   uma   boa   entrada   de   luz   natural   e   garantir   arejamento  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 181


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suficiente.  Os  sanitários  estão  articulados  com  a  sala,  sendo  possível  o  seu  acesso  
circulando  pelo  recreio  coberto.  O  vestíbulo  (em  alguns  casos  adaptado  e  com  utiliza-
ção  diferente)  permite  que  se  organize  uma  zona  para  cuidados  de  higiene  dos  alunos  
(desparasitação,  etc.).  

A  casa  do  professor  desenvolve-­se  em  2  pisos  e  sótão,  com  entradas  e  janelas  sem-
pre  sobre  a  fachada  principal.

Note-­se  que  o  projecto  não  inclui  desenhos  para  o  mobiliário  escolar,  deixando  este  
parâmetro  ao  critério  das  Câmaras  Municipais.

A   sua   planta   rectangular   é   formada   na   composição   mais   comum   por   três   volumes  
principais,  hierarquizados  mediante  a  cércea  que  assumem,  sendo  que  o  mais  alto,  
de  dois  pisos,  contém  a  residência  destinada  à  habitação  de  um  ou  dois  professores.  
Os  volumes  laterais  albergam  as  salas  de  aula,  antecedidas  por  vestíbulos,  apoiados  
por  alpendres.  Os  corpos  perpendiculares  correspondentes  às  instalações  sanitárias  
adossam-­se   à   fachada   posterior.   À   semelhança   do   que   acontece   no   tipo   Conde   de  
Ferreira,  neste  tipo  de  escola  primária  a  sineira  está  de  igual  modo  presente  e  sole-
nizada.

A  planta  destas  construções  caracteriza-­se,  tal  como  já  foi  referido,  por  ser  rectangular  
mas  também  irregular.  A  composição  simétrica  de  grande  parte  destes  edifícios  resul-
ta  da  junção  de  dois  corpos  rectangulares,  de  um  só  piso,  sobre  um  corpo  central,  de  
forma  quadrangular,  composto  por  dois  pisos.  Existe  também  uma  versão  assimétrica,  
para  edifícios  com  uma  só  sala  de  aula,  que  tem  apenas  um  corpo  rectangular  de  um  
piso,  adossado  ao  volume  de  dois  pisos  de  planta  quadrangular.  Na  fachada  posterior,  
adossam-­se  um  ou  dois  (mediante  a  existência  de  uma  ou  duas  salas  de  aula)  corpos  
rectangulares  alpendrados,  dispostos  separada  e  perpendicularmente  ao  centro.  Nos  
modelos  simétricos,  os  volumes  estão  articulados  por  justaposição,  com  desenvolvi-
mento  horizontal,  contrastando  com  o  verticalismo  do  central.  Esta  contraposição  de  
volumes  horizontais  com  o  elemento  vertical  reduz-­se  na  leitura  da  horizontalidade,  
quando   as   composições   são   observadas   de   uma   só   sala.  A   presença   do   elemento  
vertical  faz-­se  notar  com  uma  outra  intensidade.

A  hierarquia  dos  volumes  é  reafirmada  pelas  coberturas  que  se  sucedem  escalonadas  
em  telhados  de  quatro  águas,  no  corpo  central,  de  três  águas  nos  corpos  laterais,  e  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 182


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

de  duas  nos  corpos  posteriores.

As  fachadas  são,  originalmente,  rebocadas  e  pintadas  de  branco.  Na  fachada  princi-
pal  desenrola-­se  um  embasamento  estreito  de  cimento,  em  muitos  casos  pintado  de  
tonalidade   cinzenta,   ou   em   cantaria   de   granito,   rasgado   por   frestas   de   arejamento,  
protegidas,  em  alguns  exemplos,  por  barras  de  ferro.  As  fachadas  terminam  em  corni-
ja  de  betão,  sobrepujada  por  beiral.  

Na   fachada   principal   desenvolvem-­se   simetricamente   cinco   panos   escalonados,   o  


central  e  os  dos  extremos  levemente  salientes.  No  caso  de  existir  apenas  uma  sala,  
os  cinco  panos  reduzem-­se  a  três,  mas  as  diferenças  de  afastamento,  conotadoras  
das  diferentes  hierarquias  funcionais  mantêm-­se.

A  fachada  é  assiduamente  rasgada  por  vãos  em  arco  abatido,  no  piso  inferior,  e  rec-
tilíneos,   no   superior.   Os   vãos   têm   peitoril   de   cantaria   e   bandeira.   O   pano   com   dois  
pisos  aparece  dividido  por  friso  de  cantaria  e  é  rasgado,  ao  nível  do  piso  térreo,  por  
duas  (neste  caso,  são  consideravelmente  mais  estreitas  e  centram  a  porta)  ou  quatro  
janelas  de  peitoril,  e  por  um  ou  dois  portais  laterais  de  aduelas  calçadas,  simples,  em  
tijolo,  com  pedra  de  fecho  saliente,  em  cantaria,  e  parte  superior  das  jambas  também  
em  cantaria.  Note-­se  que,  no  caso  de  existirem  quatro  janelas,  não  há  a  presença  de  
vãos  das  portas.

No  segundo  piso,  abre-­se  uma  janela  centrada  e  alinhada  pela  porta,  ou  quatro  jane-
las  de  peitoril,  em  sobreposição  às  do  piso  inferior,  com  molduras  de  cantaria  na  parte  
superior  das  jambas,  percorrendo  as  bandeiras,  com  pedra  de  fecho  saliente  e  com  
friso,  interligando  as  janelas.

Nos  casos  em  que  existem  quatro  janelas,  as  duas  centrais  são  encimadas  por  car-
tela  de  granito,  moldurada  com  a  inscrição  “ESCOLA  PRIMÁRIA”.  Quando  só  existe  
uma  sala  de  aula,  localiza-­se  no  pano  extremo,  quando  este  existe  debaixo  da  sineira,  
onde  se  encontra  a  inscrição.

O  ou  os  corpos  de  um  piso  possuem  três  amplas  janelas  de  peitoril,  com  molduras  
semelhantes  às  do  primeiro  piso  do  corpo  central.  

O  ou  os  panos  extremos  têm  embasamento  de  cimento  pintado  ou  cantaria  de  granito  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 183


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e  terminam  em  empena  (pontualmente  em  estrutura  de  madeira,  com  quatro  pilares),  
de  friso  e  cornija  assente  em  falsas  mísulas,  interrompida  por  sineira  rectangular  de  
granito,  que  alberga  o  sino,  coberta  por  um  telheiro  de  quatro  águas.  O  telheiro  é  co-
roado  por  dois  pináculos  cerâmicos.

No   centro   deste   corpo   abre-­se   um   portal   de   arco   abatido   que   constitui   a   porta   de  
entrada,  com  moldura  de  cantaria  e  fecho  saliente,  ornado  por  motivo  geométrico,  e  
encimado   por   cartela   de   granito   rectangular   de   ângulos   recortados   com   a   inscrição  
“SEXO  FEMININO”,  num  dos  lados,  e  “SEXO  MASCULINO”  no  lado  oposto.  

As  fachadas  laterais  são  semelhantes,  escalonadas  com  os  alçados  correspondentes  


aos  corpos  laterais,  de  um  pano  e  um  piso,  cegos;;  salvaguarda-­se  a  possibilidade  de  
existir  esta  fachada  rasgada  e  composta  por  estrutura  de  madeira,  permeável  à  pas-
sagem,  como  na  escola  Adães  Bermudes  de  Alcobaça,    exemplo  que  se  encontra  fora  
do  grupo  de  amostras  em  estudo.

As  fachadas  do  segundo  piso  do  corpo  central  são  rasgadas  por  três  janelos  juntos,  
estreitos   e   escalonados,   com   molduras   comuns.   Na   fachada   posterior   encontra-­se  
parcialmente  adossado  ao  piso  inferior  um  ou  dois  anexos  com  alpendre,  correspon-
dentes   aos   sanitários.   Se   forem   dois,   aparecem   colocados   de   forma   simétrica   em  
relação  ao  corpo  central  de  dois  pisos.  Estes  volumes  são  rasgados  lateralmente  por  
duas  portas  de  verga  recta,  encimadas  por  adufas  de  alvenaria  para  arejamento.

No  corpo  de  dois  pisos,  no  piso  superior,  surge  uma  ou  duas  janelas  de  peitoril,  iguais  
às  da  fachada  principal.  No  piso  inferior  rasga-­se  uma  porta,  no  caso  de  o  edificio  só  
ter  uma  sala,  ou  duas  portas,  mais  pequenas,  caso  existam  duas  salas.

Em  cada  um  dos  corpos  laterais,  simétricos,  e  sob  o  alpendre  do  recreio  coberto  as-
sente  em  pilares  quadrangulares  de  granito,  rasga-­se  uma  porta  de  verga  recta  e  duas  
janelas.

A    mísula  de  suporte  ao  mastro  da  bandeira  está  sempre  presente  nestes  edifícios,  
mas  a  sua  posição  diverge.  De  acordo  com  as  suas  posições  mais  comuns,  verifica-­
se:  a  posição  entre  as  janelas  do  segundo  piso  do  corpo  central;;  ladeando  a  janela  do  
piso  superior  do  corpo  de  dois  pisos;;  entre  duas  das  janelas  do  corpo  de  um  piso;;  e,  
finalmente,  colocada  em  cima  da  porta  do  corpo  que  contém  a  sineira  .  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 184


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4.1.2.3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS

Estas   construções   resolvem-­se   com   um   sistema   estrutural   de   paredes   autónomas.  


Neste  sistema  construtivo,  a  concepção  arquitectónica  está  intimamente  ligada  e  de-
pendente  da  solução  estrutural  considerada,  porque  os  aspectos  construtivos  e  tecno-
lógicos  tinham  de  ser  considerados  a  par  da  concepção  formal.  Neste  caso,  as  pare-
des  de  delimitação  do  espaço  desempenham,  em  simultâneo,  a  função  de  suporte  e  
de  estabilidade  do  edifício.

A  alvenaria  é  rebocada  e  pintada  genericamente  de  branco.  A  cantaria  é  de  granito  e  


as  molduras  são  compostas  por  placas  cerâmicas.  Apesar  do  projecto  inicial  estipular  
as   molduras   dos   vãos   em   placas   cerâmicas,   em   muitos   dos   exemplos   analisados,  
opta-­se  por  uma  solução  mista,  que  executa  as  molduras  do  segundo  piso  do  corpo  
central  e  as  dos  corpos  extremos  inteiramente  em  cantaria,  seguindo  a  tendência  de  
algumas  escolas  nortenhas,  que  pela  abundância  do  granito  passaram  a  utilizar  este  
material.

O  embasamento  da  fachada  principal  surge  em  cimento  e/ou  em  cantaria.  

As  portas  e  a  caixilharia  são  em  madeira.  O  vidro  utilizado  nas  janelas  é  simples.  As  
grades  são  de  ferro  e  os  algerozes  metálicos.  A  cobertura  exterior  é  de  telha.

4.1.2.4. REALIDADE ACTUAL DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES

Das  cerca  de  300  construções  previstas  aquando  da  realização  do  concurso  de  con-
cepção  de  uma  tipologia  de  edifício  escolar,  construíram-­se  apenas  184  escolas  que  
se  encontram  distribuídas  pelo  país.    Estes  edifícios  foram  concebidos  para  uso  edu-
cativo,   tendo   subjacente   a   vontade   de   conjugar,   de   uma   forma   mais   equilibrada,   a  
criança,  o  meio  e  o  edifício.  Existia  também  uma  preocupação  com  a  posição  da  habi-
tação  do  professor  na  composição  do  edifício,  subentendendo  dentro  das  hierarquias  
dos  volumes,  maior  notoriedade,  uma  espécie  de  reconhecimento  físico  da  importân-
cia  do  papel  do  docente.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 185


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

A  maior  parte  destes  edifícios,  popularmente  conhecidos  como  “escola  dos  sininhos”,  
cumprem  ainda  a  função  para  a  qual  foram  construídos.  Existem,  no  entanto,  alguns  a  
que  foram  atribuídos  outros  usos,  por  exemplo,  Escola  de  Educação  Sénior,  Jardim  de  
Infância,  Albergue  de  Peregrinos  do  Caminho  de  Santiago,  ou  que  simplesmente  por  
terem  caído  em  esquecimento,  permanecem  devolutos.  Entre  o  conjunto  de  edifícios  
em   estudo,   encontra-­se,   por   ordem   de   referência   anterior,   a   Escola   Primária  Adães  
Bermudes  de  Espinho,  a  Escola  Primária  de  Mirandela,  actualmente  designada  Jar-
dim  da  Praça,  a  Escola  Primária  de  Rubiães  e  a  abandonada  Escola  Primária  de  Vila  
Nova  de  Foz  Côa.  Conclui-­se  que  estas  construções  permanecem  maioritariamente  
como  escolas,  fiéis  ao  seu  desígnio  inicial,  sendo  que,  pelas  alterações  metodológicas  
e   pedagógias   que   entretanto   decorreram,   as   casas   destinadas   ao   professor   (e   que  
faziam  parte  do  programa  inicial)  servem  agora  como  áreas  de  apoio.

4.1.2.5. ESQUEMAS COMPARATIVOS ENTRE AS VARIAÇÕES DO MESMO TIPO

Plantas  das  variantes  do  tipo  Adães  Bermudes

1 sala 2 salas 1 sala 2 salas 2 salas 2 salas

Mancha  das  variantes  do  tipo  Adães  Bermudes

1 sala 2 salas 1 sala 2 salas 2 salas 2 salas

Sobreposição  das  variantes  do  tipo  Adães  Bermudes

2+1 salas 1+1 salas 2+1 salas 2+2 salas 2+2salas 2+2 salas

Programa  das  variantes  do  tipo  Adães  Bermudes

1 sala 2 salas 1 sala 2 salas 2 salas 2 salas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 186


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

4.1.3. TIPO ROGÉRIO DE AZEVEDO

Ilustração 102 -  Escola  Tipo  Rogério  de  Azevedo  (Em  linha)  (consultado  em  15  de  Fevereiro  de  2011)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://monumentos.pt  >

4.1.3.1. CONTEXTO E IMPLANTAÇÃO

As  escolas  primárias  Tipo  Rogério  de  Azevedo  datam  da  primeira  metade  do  séc.  XX  
(fundamentalmente  da  década  de  40).  Previu-­se  uma  rede  de  escolas,  uniformizadas  
por  região,  onde  os  edifícios  deveriam  obedecer  aos  critérios  pedagógicos  e  higienis-
tas  da  época,  e,  em  simultâneo,  aos  ideais  de  desenvolvimento  do  regime  salazarista  
em  que  as  escolas,  juntamente  com  outros  edifícios  públicos,  reiteravam  a  imagem  
de  um  governo  próspero  e  numa  perspectiva  que  as  escolas,  em  particular,  estariam  
intrinsecamante  ligadas  ao  arquétipo  da  casa  portuguesa.  

O  arquitecto  português  Rogério  de  Azevedo  (1898-­1983)  empresta  o  nome  a  este  tipo  
de   arquitectura   escolar   portuguesa,   por   estar   umbilicalmente   ligado   à   sua   génese.  
Rogério  de  Azevedo  nasceu  em  1898  e  formou-­se  em  Arquitectura  Civil  pela  Escola  
de  Belas  Artes  do  Porto.  Este  arquitecto  portuense  revela-­se  uma  forte  referência  na  
história  da  arquitectura  portuguesa  pela  obra  construída,  que  se  enquadra  na  transi-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 187


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ção  para  o  modernismo.

Depois   de,   em   1926,   concluir   o   curso   de   arquitectura   no   Porto,   realiza   um   estágio,  


com  um  dos  seus  mestres,  Marques  da  Silva,  de  quem  acaba  por  absorver  influências,  
da  escola  francesa  e  da  italiana.  Ressalva-­se  o  facto  de  a  sua  obra  incorporar  referên-
cias  “regionalistas”,  visíveis  na  sua  preocupação  em  utilizar  materiais  típicos  das  regi-
ões  onde  intervém  e  em  reaver  a  forma  tradicional  das  construções  dessas  mesmas  
regiões.  As  construções  escolares  de  autoria  do  arquitecto  e  professor  (1930-­1933),  
estudadas  e  referenciadas,  são  um  exemplo  desta  premissa.  

Na   sua   obra   é   igualmente   visível   a   procura   de   um   consenso   entre   a   experimenta-


ção   modernista   e   a   efectiva   presença   de   elementos   clássicos   mais   tradicionalistas.  
O   edifício   do   Comércio   do   Porto,   na  Avenida   dos  Aliados,   no   Porto,   onde   imperam  
princípios  de  composição  classicistas,  e  a  respectiva  Garagem  do  Comércio  do  Porto,  
impregnada  de  referências  modernistas,  são  exemplo  disso  mesmo.  

O   engenheiro   Duarte   Pacheco,   ministro   das   Obras   Públicas   e   Comunicações,   tinha  


como  objectivo  a  construção  de  uma  rede  de  escolas,  uniformizadas  por  região,  que  re-
sulta  na  elaboração  de  projectos  regionalizados  de  edifícios-­tipo  de  escolas  primárias  
a  construir  nas  regiões  centro  e  norte  de  Portugal.  Rogério  de  Azevedo  é  incumbido  
pelo  Ministro  deste  desígnio,  projectando  44  variações  de  9  tipos  diferentes  quando,  
em  1933,  é  contratado  para  trabalhar  na  Direcção  Geral  de  Edifícios  e  Monumentos  do  
Norte.  Na  realidade,  este  facto  permite-­lhe  ainda  o  acompanhamento  da  construção  
de  uma  grande  parte  dos  edifícios  escolares,  de  cujos  projectos  era  autor.  

Para  além  desses  projectos,  foi  autor  de  inúmeras  obras  de  projecção  arquitectónica,  
enquanto  trabalhador  da  DGEMN,  como  o  restauro  do  Paço  dos  Duques  de  Bragança,  
em   Guimarães,   e   em   nome   individual,   o   Edifício   supramencionado   e   a   garagem   do  
Jornal  O  Comércio  do  Porto  .

As  escolas  deste  tipo,  que  constituíram  a  amostra  do  estudo,  localizam-­se  no  Porto,  
Bragança,  Leça  do  Balio,  Mirandela,  Mesão  Frio,  Ribeira  de  Pena,  Melgaço,  Esposen-
de,  Vila  Real,  Cabeceiras  de  Basto  e  Murça.

Geralmente,  o  contexto  é  urbano  ou  rural,  existindo  no  grupo  em  estudo,  um  caso  de  
enquadramento  periurbano.  Os  edifícios  estão  isolados  e,  muitas  das  vezes,  implan-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tados  em  cota  elevada,  sobre  plataformas  definidas  por  muro  de  granito,  onde  geral-
mente  se  sucedem  grades  de  ferro.  Quando  os  edifícios  não  estão  à  cota  da  rua,  o  
acesso  à  plataforma  e  ao  interior  das  escolas  faz-­se  por  escada,  que  se  desenvolve  
à  frente  do  alçado  principal.  A  envolvência  é  marcada  por  construções  unifamiliares  
e  vários  bairros  sociais  com  um  número  variável  de  pisos.  A  implantação  em  Bairros  
de  Casas  Económicas  da  época  é  comum  a  quase  todas  estas  construções  em  meio  
urbano.

4.1.3.2. EXPRESSÃO FORMAL TIPOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL E MATERIALIDADE


ARQUITECTÓNICA

Esta  arquitectura  caracteriza-­se  por  ser  educativa  e  regionalista  (séc.  XX).  São  esco-
las  primárias  -­  tipo,  referenciadas  pelas  regiões  em  que  se  inserem  (tipo  Minho,  tipo  
Trás-­os-­Montes  e  Alto  Douro,  tipo  Douro  Litoral,  Tipo  Beira  Alta,  Tipo  Beira  Litoral),  de-
senhadas  e,  na  maior  parte  dos  casos,  seguidas  na  execução  por  Rogério  de  Azeve-
do.  As  tipologias  foram  pensadas  para  ambos  os  sexos,  variando  no  número  de  salas  
de  aula,  vestíbulos  e  casas  de  banho.  São,  geralmente,  acompanhadas  por  um  amplo  
recinto  para  recreio.  Os  edifícios  são  de  planta  rectangular,  podendo  ter  um  ou  dois  
pisos.  As  salas  de  aula  são  igualmente  rectangulares,  além  de  pautadas  por  amplos  
vãos  de  janela.  As  fachadas  apresentam-­se  rebocadas  e  pintadas  de  branco  ou  bege,  
sobressaindo  pontualmente,  na  fachada  principal,  pedras  de  granito  aparente,  dispos-
tas  de  forma  irregular.  A  fachada  em  questão  organiza-­se  em  três  panos  assimétricos  
e  é  composta  por  um  par  de  chaminés,  coroadas  por  esfera  armilar,  cata-­vento,  e/ou  
dente  de  serra,  em  ferro.

Os  edifícios,  genericamente,  são  compostos  por  um  volume  de  dois  pisos,  com  quatro,  
cinco  ou  seis  amplas  salas  de  aula,  duas  em  cada  piso,  três  no  primeiro  piso  e  duas  
no   segundo,   ou   três   em   cada   piso.   No   caso   dos   edifícios   que   só   têm   uma   ou   duas  
salas,  o  número  de  pisos  limita-­se  a  um.    Segundo  esta  distribuição  funcional,  existem  
ainda  vestíbulos,  sanitários,  um  recreio  coberto,  que  se  desenvolve  junto  do  alçado  
posterior,  e  um  recreio  descoberto  espaçoso,  pontuado  por  árvores.  

Os  volumes  que  compõem  o  construído  estão  articulados  entre  si,  revelando  alguma  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 189


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irregularidade  formal.  A  sua  planta  de  implantação  caracteriza-­se  por  ser  rectangular,  
em  forma  de  L.  O  seu  desenvolvimento  é  horizontal,  com  coberturas  diferenciadas,  em  
telhados  de  seis,  quatro  e  duas  águas.  No  caso  do  edifício  só  ter  um  piso,  a  cobertura  
é  homogénea  e  o  telhado  desenvolve-­se  em  apenas  duas  águas.

As  fachadas  são  rebocadas  e  pintadas  de  branco  e,  nalguns  exemplos,  incrementadas  
com  pedras  de  cantaria  de  granito  à  vista,  com  uma  disposição  irregular.  São,  ainda,  
percorridas  por  um  embasamento  estreito  e  terminadas  em  cornija  e  beiral.  

Na  intersecção  das  fachadas  estão,  muitas  vezes,  presentes  cunhais  compostos  por  
silhares  de  grande  escala,  em  cantaria  de  xisto  aparente,  formando  uma  composição  
ritmada.   O   alçado   principal   desenvolve-­se   assimetricamente   em   três   panos   e   está  
enquadrado  entre  duas  chaminés  com  alguma  imponência,  que  se  encontram  sobre-
levadas.  Estes  elementos  são  rebocados,  pintados  de  branco,  ou  em  xisto  aparente,  
com  as  juntas  pintadas  também  de  branco.  As  chaminés  são  coroadas,  em  alguns  dos  
exemplos,  por  esfera  armilar,  cata-­vento,  e/ou  dente  de  serra,  sendo  que  todos  estes  
elementos  são  em  ferro.

O  pano  lateral  esquerdo  é  rasgado  por  uma  composição  de  três  vãos  simétricos,  inter-
calados  por  pilares  de  cantaria,  e  interligados  por  friso  superior  e  inferior.  Quando  os  
edifícios  têm  dois  pisos,  esta  composição  multiplica-­se  em  altura.

O  pano  central  é  rasgado  por  um  amplo  vão  rectangular  envidraçado,  com  caixilharias  
de  madeira,  e  enquadrado  por  dois  poiais  volutados,  dando  acesso  a  um  nartéx.

Quando  existe  um  segundo  piso,  o  alçado  é  composto  por  uma  janela  rectangular,  ten-
do  inferior  e  superiormente  uma  cornija  recta,  sendo  a    última,  atravessada,  na  parte  
central,  por  plinto  prismático  que  sustenta  um  mastro  de  bandeira.  

Nos  edifícios  que  têm  um  só  piso,  a  colocação  do  mastro  é  também  sobre  o  alçado  
principal,  mas  entre  a  porta  de  entrada  e  o  limite  da  fachada.  O  pano  lateral  direito  é  
cego,  e  é  sobre  ele  que,  em  alguns  dos  exemplos,  se  enquadra  o  corpo  de  uma  das  
chaminés,  centrado.  Note-­se  que  os  alçados  laterais,  no  edifício  principal,  são  assimé-
tricos,  sendo  o  da  esquerda,  como  já  foi  referido,  cego,  e  o  da  direita,  rasgado  por  três  
vãos  (no  caso  de  ter  dois  pisos,  a  composição  repete-­se  em  cada  um  deles).

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 190


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No  edifício  anexo,  de  um  só  piso,  o  número  de  vãos  é  variável  mediante  os  exemplos,  
que  por  norma  são  rectos  e  eventualmente  seguidos  de  amplo  vão,  rematado  por  arco  
de  volta  perfeita,  ou  simplesmente  por  uma  ou  duas  portas  de  verga  recta  .

O  alçado  posterior  da  construção  principal  é  parcialmente  tapado  pelos  edifícios  ane-
xos,  sendo  apenas  visível  no  segundo  piso,  um  vão  alto  em  arco  de  volta  perfeita,  ou  
simples.  

Conclui-­se  que  a  morfologia  destas  construções  corrobora  com  o  ideário  nacionalista  


e  conservador,  tendo  o  arquitecto  utilizado  nos  edifícios  escolares  em  causa  referên-
cias  linguísticas  com  uma  vincada  gramática  regionalista.  Em  questão  está  a  utiliza-
ção  do  material  mais  característico  das  construções  desta  região,  o  granito,  revelado  
na  composição  estética  do  alçado  e  utilizado  como  elemento  construtivo.  É  visível  o  
recurso  a  uma  linguagem  formal,  que  se  revê  no  arquétipo  da  casa  tradicional  portu-
guesa.  Ressalva-­se  uma  ténue  aproximação  a  uma  linguagem  modernista,  revelada  
na   associação   dos   três   vãos   das   salas   de   aula,   que   orlados,   assumem   uma   leitura  
única  e  horizontal.

4.1.3.3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS

A  estrutura  destas  escolas  primárias  é  autoportante.

A  alvenaria  é  rebocada  e  pintada.  O  embasamento,  os  peitoris,  as  molduras  dos  vãos  
e  outros  elementos  compositivos  são  em  cantaria  de  granito.  As  portas  e  as  caixilha-
rias  das  janelas  são  originalmente  em  madeira,  com  vidro  simples.  Os  pavimentos  são  
de  granito,  madeira  e  cerâmica  e  a  cobertura  é  em  telha  .

Apesar  da  coincidência  temporal  com  as  experiências  do  Movimento  Moderno,  a  nível  
nacional   e   internacional   (inclusive   do   próprio   Rogério   de  Azevedo),   passíveis   de   se  
incluírem  no  discurso  modernista  (ainda  que,  muitas  das  vezes,  com  um  acentuado  
cariz  regionalista),  as  escolas  primárias  tipo  Rogério  de  Azevedo  não  se  integram  nas  
experiências   arquitectónicas   de   pura   expressão   modernista,   que   se   verificaram   no  
nosso  país  e  se  multiplicaram  internacionalmente.  A  sua  linguagem,  a  sua  tectónica  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 191


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e   as   suas   morfologias   fixaram-­se   em   detrimento   de   uma   expressão   funcionalista   e  


racionalista,  numa  arquitectura  muito  regional  e  de  semblante  tradicional.

4.1.3.4. REALIDADE ACTUAL DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES

Foi  prevista  uma  rede  de  escolas,  uniformizadas  por  região,  onde  os  edifícios  deve-
riam  obedecer  aos  critérios  pedagógicos  e  higienistas  da  época.  Fora  projectadas  44  
variações  de  9  tipos  diferentes,  número    que  inclui  os  edifícios  escolares  tipo,  regiona-
lizados,  de  Rogério  de  Azevedo,  objecto  de  análise  no  ponto  2.a.3.1.

A  maior  parte  destes  edifícios,  dentro  do  grupo  de  amostragem,  mantém-­se  com  o  uso  
para  o  qual    foi    previsto  inicialmente,  cumprindo  o  programa  de  escola  primária,  agora  
designada  por  escola  do  primeiro  ciclo  do  ensino  básico.  Um  pequeno  número  destes  
edifícios  encontra-­se  devoluto;;  existem,  porém,  outros  que,  para  além  de  escola  do  
ensino  do  básico,  acumulam  as  funções  de  cantina  escolar  ou  jardim-­de-­infância.  

Nesta  amostra,  há  apenas  um  caso  no  qual  o  uso  foi  alterado,  deixando  de  cumprir  
por  completo  as  funções  que  lhe  foram  atribuídas  inicialmente  e  absorvendo  as  trans-
formações  necessárias  (ampliação)  para  exercer  a  função  de  Extensão  de  Saúde  (é  
o  caso  da  Escola  Primária  da  Apúlia,  Esposende,  que  se  converteu  na  Extensão  de  
Saúde  da  Apúlia).

4.1.3.5. ESQUEMAS COMPARATIVOS ENTRE AS VARIAÇÕES DO MESMO TIPO

Plantas  das  variantes  do  tipo  Rogério  de  Azevedo

1 sala 2 salas 4 salas 5 salas 6 salas

Mancha  das  variantes  do  tipo  Rogério  de  Azevedo

1 sala 2 salas 4 salas 5 salas 6 salas

Sobreposição  das  variantes  do  tipo  Rogério  de  Azevedo

2+1 salas 4+2 salas 4+5 salas 6+5 salas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 192


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Programa  das  variantes  do  tipo  Rogério  de  Azevedo

1 sala 2 salas 4 salas 5 salas 6 salas

4.1.4. TIPO FERNANDES DE SÁ

Ilustração 103 -  Escola  Tipo  Fernandes  de  Sá  (Em  linha)  (consultado  em  15  de  
Fevereiro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://monumentos.pt  >

4.1.4.1. CONTEXTO E IMPLANTAÇÃO

Estas  construções  escolares  datam  da  primeira  metade  do  séc.  XX    (fim  da  década  de  
40  e  toda  a  década  de  50.  O  autor  do  projecto-­tipo  foi  o  arquitecto  português  Manuel  
Fernandes   de   Sá   (1903-­1980)   que,   apesar   de   ter   optado   pela   área   da   Engenharia  
(concluindo  o  curso  de  Engenharia  Civil  (1926),  na  antiga  Faculdade  Técnica  da  Uni-
versidade  do  Porto),  obteve  o  diploma  de  Arquitecto  (1934)  pela  École  Supérieure  des  
Beaux  Arts  de  Paris.  Recebeu,  nomeadamente,  a  influência  dos  arquitectos  franceses  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 193


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Garnier,   Perret,   Gromort,   entre   outros.    A   “actualidade”   enquanto   arquitecto   da   sua  


época  advém  da  assiduidade  com  que  contactava  com  as  correntes  artísticas  moder-
nas,  em  França,  com  a  proximidade  face  à  Escola  de  Belas  Artes  do  Porto  e  com  o  
relacionamento  com  o  arquitecto  Januário  Godinho.  Entre  as  referências  da  sua  obra,    
encontra-­se  a  Livraria  Porto  Editora  e  o  Edifício  Hoechst  (1961),  no  Porto.    

Na   sequência   do   trabalho   desenvolvido   em   Portugal,   iniciado   em   1934,   na   Secção  


de  Estudos  da  Direcção  Regional  do  Norte  dos  Monumentos  Nacionais,  Manuel  Fer-
nandes  de  Sá  ganha  reconhecimento,  sendo  mais  tarde  escolhido  para  projectista  da  
escola  que  se  optou  por  denominar  como  tipo  Fernandes  de  Sá.

Sob  o  tema  da  comemoração  dos  Centenários,  o  regime  de  Salazar  prevê  uma  série  
de  escolas  a  serem  construídas  até  1951,  fazendo  parte  do  denominado  Plano  dos  
Centenários.  A  15  de  Julho  de  1941  é  emitido  um  despacho  do  Conselho  de  Ministros  
que  referia  a  existência  de  uma  Comissão  para  trabalhar  no  desenvolvimento  da  rede  
escolar,   com   o   propósito   de   definir   a   distribuição   de   verbas   e   o   número   de   escolas  
que  seria  necessário  construir.  Como  resultado  do  trabalho  desta  equipa,  no  início  de  
1943,  dá-­se  a  publicação  de  um  mapa  final  da  rede  escolar,  com  o  número  de  salas  a  
construir  por  distrito,  concelho  e  freguesia,  onde  também  as  Câmaras  eram  ouvidas  
no  que  diz  respeito  às  acessibilidades,  aos  materiais  utilizados  na  região,  bom  como  
à  qualidade  e  aos  custos  da  mão-­de-­obra  local.

Com  efeito,  em  Setembro  de  1943,  a  Direcção  dos  Monumentos  do  Norte  apresentou,  
através  do  arquitecto  Manuel  Fernandes  de  Sá,  uma  escola-­tipo,  cuja  planta  foi  segui-
da  em  diferentes  regiões.  A  escola  em  questão  era  constituída  por  dois  tipos,  de  um  
só  sexo  ou  geminada,    tendo-­se  optado  também  por  seguir  as  tipologias  do  Alto  Minho  
e  tipo  Douro  de  Rogério  de  Azevedo,  relativamente  às  escolas  construídas  durante  a  
década  de  30  ,  objecto  de  análise  no  ponto  anterior  (2.a.3.).

As  unidades  de  amostra  deste  estudo  localizam-­se  em  Ponte  da  Barca,  Chaves,  Por-
to,  Vila  Nova  de  Gaia,  Vila  Real,  Vila  Nova  de  Foz  Côa,  Maia,  Mirandela,  Santa  Marta  
de  Penaguião,  Carrazeda  de  Ansiães,  no  Peso  da  Régua,  Bragança,  Barcelos,  São  
João  da  Madeira  e  em  Guimarães.

O  enquadramento  varia,  geralmente,  entre  o  contexto  urbano  e  o  rural,  isolado,  apesar  


de  existir  um  exemplo  em  contexto  periurbano  isolado.  Por  norma  este  tipo  de  edifí-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 194


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

cios  encontra-­se  próximo  dos  eixos  viários,  conjugado  com  um  recreio  descoberto,  de  
pavimento  de  terra,  mas  pontuado  por  árvores.  Destaca-­se  o  facto  de  estas  constru-
ções  se  encontrarem  delimitadas  por  um  muro,  que  circunda  toda  a  área  do  recinto  
escolar.

4.1.4.2. EXPRESSÃO FORMAL TIPOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL E MATERIALIDADE


ARQUITECTÓNICA

Estes  objectos  arquitectónicos  caracterizam-­se  por  exprimir  o  que  se  classifica  como  
arquitectura  educativa,  temporalmente  contextualizada  no  séc.  XX.

Os  edifícios  escolares  do  Plano  dos  Centenários,  do  arquitecto  Fernandes  de  Sá,  com  
duas,   três   ou   quatro   salas   de   aula,   para   um   ou   para   os   dois   sexos,   têm   origem   no  
projecto-­tipo,  Douro-­granito,  do  arquitecto  Rogério  de  Azevedo.

Reconhece-­se,   como   características   relevantes,   o   facto   de   ser   visível   o   granito   da  


solução   decorativa   do   portal   de   acesso,   com   arco   de   moldura   côncava   (por   vezes  
assente  em  plintos  com  volutas  relevadas),  e  o  vão  curvo  do  piso  superior,  contribuin-
do,  entre  outros  aspectos,  para  o  reconhecimento  visual  da  sua  identidade  enquanto  
tipo.

Os  edifícios  são  de  planta  rectangular  simples,  com  salas  de  aula  rectangulares,  ilumi-
nadas  por  três  amplos  vãos.  No  topo  das  salas  encontram-­se  os  vestíbulos,  de  onde  
partem  as  escadas  de  acesso  ao  piso  superior.  A  partir  dos  referidos  vestíbulos  dá-­se  
o  acesso  aos  sanitários,  que  se  encontram  dispostos  transversalmente  em  relação  à  
fachada  posterior.  O  recreio  coberto,  suportado  por  pilares,  intersecta-­se  com  o  volu-
me  dos  sanitários.

Note-­se  que,  dentro  das  salas,  existe  iluminação  dominante,  unilateral  da  esquerda,  e  
a  impossibilidade  de  visualizar  o  exterior  em  posição  sentada,  condição    subjacente  à  
formulação  pedagógico/espacial  característica  do  modo  de  ensino  simultâneo,  explici-
tado  no  ponto  1.b.  da  Parte  I  deste  estudo.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 195


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

O  quadro  de  lousa  fixa-­se  na  parede  do  topo  da  sala  de  aula,  onde  o  aquecimento  se  
efectuava  com  recurso  à  lareira  ou  salamandra.

A  planta  destas  construções  caracteriza-­se  por  ser  rectangular  e  os  edifícios  são  com-
postos por um volume de dois pisos, com quatro amplas salas de aula, duas em cada
um  dos  pisos,  cada  uma  delas  antecedida  por  um  vestíbulo  situado  no  centro  (quando  
a   porta   é   central),   ou   nos   extremos   (quando   as   duas   portas   de   entrada   também   o  
são).

Estes  volumes  podem  ainda  ser  de  um  só  piso,  se  dispuserem  de  uma  ou  duas  salas,  
antecedidas  por  vestíbulos  que  funcionam  associados  às  portas  de  entrada.

Na  amostragem  em  estudo  existe  apenas  um  caso  que,  excepcionalmente,  associa  
um volume com dois pisos, de uma sala em cada piso, e um volume de um piso com
apenas  uma  sala.  

Todas  estas  composições  se  congregam  com  um  recreio  coberto  na  fachada  posterior  
e  com  um  ou  dois  corpos  de  sanitários,  rectangulares,  dispostos  perpendicularmente,  
no  centro  ou  nos  extremos  do  edifício  das  salas  de  aula.

O  desenvolvimento  da  massa  construída  é  horizontal.  Os  volumes  encontram-­se  es-


calonados   com   diferentes   hierarquias   estabelecidas   pelas   coberturas,   que   são   dife-
renciadas  em  telhados  de  duas  ou  quatro  águas  no  edifício  da  escola,  e  de  uma  ou  
três  águas  no  alpendre  posterior.  

As  fachadas  são  rebocadas  e  pintadas  de  branco  e  são,  geralmente,  percorridas  por  
embasamento  de  cantaria.  Os  panos  dos  alçados  são  rematados  com  uma  cornija  e  
beiral  simples.

O  alçado  principal  varia  na  sua  composição,  pelo  que  na  maioria  dos  casos  é  definido  
com  três  panos,  compostos  pelos  módulos  dos  vãos  e  pelas  portas  principais,  varian-
do  na  sua  sequência.  Estas  sequências  genericamente  são:  conjunto  de  três  janelas  
em  ambos  os  pisos,  porta  de  entrada  e  novamente  conjunto  de  três  janelas  em  ambos  
os  pisos;;  ou  então,  porta  de  entrada,  dois  conjuntos  de  três  janelas  em  cada  um  dos  
pisos  e  novamente  porta  de  entrada  no  primeiro  piso.

Observa-­se  uma  variante  destas  composições  de  dois  pisos,  onde  excepcionalmente  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 196


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se  conjugou  um  volume  com  dois  pisos  de  uma  sala  por  piso  e  um  volume  de  apenas  
um  piso  só  com  uma  sala,  ficando  o  rés-­do-­chão  com  duas  salas  ligadas  por  vestíbulo,  
e  um  segundo  piso  apenas  com  uma  sala  e  respectivo  vestíbulo.  

A  volumetria  destas  composições  também  acontece  em  relação  ao  volume  das  salas  
de  aula  com  apenas  um  piso,  a  referenciar  edifícios  com  uma  ou  duas  salas  que  repe-
tem  as  sequências  supramencionadas,  mas  num  volume  térreo.

O  portal  da  entrada  desenha-­se  superiormente  em  arco  de  volta  perfeita,  de  aduelas  
largas  e  moldura  exterior  saliente,  em  substituição  do  lintel  da  entrada  principal  utli-
zado  por  Rogério  de  Azevedo,  Existem  alguns  casos  em  que  o  arco  está  assente,  na  
zona  inferior,  em  dois  plintos  de  cantaria,  contendo  volutas  relevadas,  anteriormante  
propostas  por  Rogério  de  Azevedo.

A  entrada  é  precedida  por  dois  degraus,  que  pontualmente  são  ladeados  por  floreiras  
de  cantaria  paralelepipédicas.  

Nos  casos  em  que  o  edifício  da  escola  tem  dois  pisos,  o  portal  da  entrada  é  encimado  
por  vão  estreito,  com  perfil  em  arco,  de  volta  perfeita  e  moldura  com  corte  oblíquo  na  
parte  superior  da  janela  para  dar  mais  luz  ao  interior  da  construção.  

Cada  uma  das  salas  de  aula  corresponde  a  um  rasgo  de  três  amplos  vãos  rectangula-
res,  de  igual  dimensão,  com  caixilharia  de  madeira,  formando  quadrícula,  interligados  
por  peitoril  e  envolvidos,  a  toda  a  volta,  por  moldura  recta  de  cantaria.  

No   pano   do   centro,   sobre   as   janelas   do   piso   superior,   ou   ainda   a   um   dos   lados   do  


pequeno   vão   que   se   encontra   por   cima   do   portal   da   entrada,   surge   uma   mísula   de  
cantaria  que  sustenta  o  mastro  da  bandeira  em  ferro.  

As   fachadas   laterais   são   similares,   terminadas   em   empena   com   cornija   avançada.  


Note-­se   que,   pontualmente,   surge   em   baixo   relevo,   enquanto   elemento   escultórico  
decorativo.

Quanto  ao  alçado  posterior,  poderá  haver  um  (no  caso  de  um  edifício  de  um  piso,  só  
com  uma  sala  de  aula)  ou  dois  recreios  cobertos  (nas  restantes  composições,  já  refe-
renciadas),  sustentados,  cada  um  deles,  por  pilares  de  cantaria.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 197


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As  instalações  sanitárias  encontram-­se  indexadas  a  este  alçado,  dispostas  perpendi-


cularmente  sob  o  alpendre,  virando-­se  para  a  respectiva  ala,  e  acedidas  por  porta  a  
partir  dos  vestíbulos.

Sobre   a   cobertura   das   salas   de   aula   erguem-­se   as   chaminés,   correspondentes   às  


lareiras  das  salas  de  aula.

O  interior  é,  geralmente,  rebocado  e  pintado,  os  vestíbulos  têm  duas  portas  de  verga  
recta,  uma  de  acesso  ao  alpendre  posterior  e  outra  de  acesso  às  salas  de  aula.

As  salas  de  aula  têm  o  quadro  de  lousa  nas  paredes  testeiras.

Os  edifícios  escolares  de  Fernandes  de  Sá,  projectados  no  âmbito  do  Plano  dos  Cen-
tenários,  resumem-­se  a  uma  simplificação  arquitectónica  do  projecto  Tipo  Douro  do  
aquitecto   Rogério   de  Azevedo.   Mantém-­se   a   ténue   aproximação   a   uma   linguagem  
modernista,  revelada  na  associação  dos  três  vãos  das  salas  de  aula,  que  orlados  as-
sumem  uma  leitura  única  e  horizontal.  Note-­se  que  a  simplificação  também  é  expres-
sa  na  organização  dos  espaços,  com  a  possibilidade  de  uma  adaptação  modular  em  
função  das  necessidades  do  lugar  de  implantação.

Ressalvam-­se  as  experiências  da  escola  dos  Miosótis,  nº1,  e  das  Condominhas,  nº  
12,  no  Porto,  morfologicamente  iguais.  Estas  integram  as  escolas  inseridas  nos  bair-
ros   de   Casas   Económicas,   do   grupo   que   designamos   de   Estado   Novo   e   que   será  
analisado  na  Parte  III.  Correspondem,  efectivamente,  ao  fim  da  1ª  fase  da  experiência  
modernista  do  regime,  transitando  para  uma  arquitectura  de  carácter  cenográfico  pela  
introdução  da  monumentalidade,  característica  entendida  pelo  Estado  como  revelado-
ra  da  sua  imponência.  Nos  edifícios  em  questão,  esta  propriedade  reconhece-­se  na  
zona  central  correspondente  à  entrada,  expressa  intensamente  por  um  pórtico  majes-
toso,  saliente  em  relação  ao  restante  alçado,  que  demarca  a  entrada  e  fixa  o  eixo  de  
simetria  (revelador  de  um  programa  rigoroso  de  não  coeducação),  onde  se  encontram  
as  circulações  verticais  para  cada  um  dos  sexos.

Nestas  duas  construções,  os  códigos  modernistas  são  mais  intensos  relativamente  às  
outras  variantes  deste  tipo,  revelando-­se  nas  aberturas  e  nas  formas  abstractas  que  
as  caracterizam;;  mas  a  restante  retórica  formal  sublinha  o  cariz  regionalista  e  nacio-
nalista  do  regime  de  Salazar.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 198


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4.1.4.3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS

Tal  como  no  tipo  Rogério  de  Azevedo,  o  sistema  construtivo  adoptado  é  um  sistema  
estrutural  de  paredes  portantes.

A  alvenaria  é  rebocada  e  pintada.  As  molduras  dos  portais  e  dos  vãos,  os  pilares,  a  mí-
sula  e  outros  elementos  que  também  compõem  a  imagem  do  edifício  são  em  cantaria  
de  granito.  As  portas  e  caixilharia  das  janelas  são  de  madeira,  com  vidros  simples.  

O  mastro  da  bandeira  é  em  ferro.  A  cobertura  é  em  telha.

Estas  estruturas  são  desprovidas  de  alguns  dos  elementos  onerosos  utilizados  no  tipo  
Rogério  de  Azevedo.  Com  o  Tipo  Fernandes  de  Sá  e  com  o  Plano  dos  Centenários,  
procura-­se  uma  construção  de  escolas  primárias  em  série,  reduzindo  os  custos  e  o  
tempo  de  execução,  na  sequência  da  suspensão,  por  razões  económicas,  da  constru-
ção  das  escolas  tipo  regionalizadas,  

 Apesar  de  constituírem  uma  simplificação  expressa  do  tipo  que  as  precede,  a  lingua-
gem  das  escolas  Tipo  Fernandes  de  Sá,  a  tectónica  e  as  morfologias  continuaram  a  
fixar-­se  (em  deterimento  de  uma  tal  expressão  funcionalista  e  racionalista)  numa  ar-
quitectura    menos  regionalista,  mas  que  mantém  um  semblante  tradicional.  

4.1.4.4. REALIDADE ACTUAL DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES

Em  suma,  existiu  um  conjunto  de  construções  escolares  que  obedeceu  a  projectos-­
tipo,  definidos  pelo  Ministério  das  Obras  Públicas.  Esta  tipologia  insere-­se  no  grupo  
de  escolas  intitulado  Plano  dos  Centenários,  enquadrado  entre  as  décadas  de  40  e  de  
50,  tendo  como  autor  Manuel  Fernandes  de  Sá,  na  altura  arquitecto  da  Direcção  de  
Monumentos  do  Norte.  A  maior  parte  das  construções,  tendo  em  consideração  o  grupo  
de  amostragem  em  análise,  mantém  o  uso  para  o  qual  foi  projectada,  apesar  de  existir  
um  número  significativo  que  se  encontra  devoluto.  Importa  referir  que  a  algumas  das  
escolas  que  serviam  apenas  o  ensino  primário,  devido  às  exigências  naturais  e  à  lenta  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 199


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evolução  no  sistema  educativo,  foi-­lhes  acrescentada  a  função  de  jardim-­de-­infância.

4.1.4.5. ESQUEMAS COMPARATIVOS ENTRE AS VARIAÇÕES DO MESMO TIPO

Plantas  das  variantes  do  tipo  Fernandes  de  Sá

1 sala 2 salas 2 salas 4 salas 3 salas 4 salas

Mancha  das  variantes  do  tipo  Fernandes  de  Sá

1 sala 2 salas 2 salas 4 salas 3 salas 4 salas


Sobreposição  das  variantes  do  tipo  Fernandes  de  Sá

2+1 salas 2+2 salas 4+2 salas 3+4 salas 4+3 salas

Programa  das  variantes  do  tipo  Fernandes  de  Sá  

1 sala 2 salas 2 salas 4 salas 3 salas 4 salas

4.1.5. TIPO FERNANDO PERES

Ilustração 104 -  Escola  Tipo  Fernando  Peres  (Em  linha)  (consultado  em  05  de  Fevereiro  de  2011)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://monumentos.pt  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 200


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4.1.5.1. CONTEXTO E IMPLANTAÇÃO

As  escola  primárias  tipo  Fernando  Peres  datam  da  segunda  metade  do  séc.  XX,  mais  
concretamente  da  década  de  60,  e  nalguns  casos  do  início  da  década  de  70.  Optou-­se  
por  agrupá-­las  e  classificá-­las  segundo  o  nome  do  autor  do  projecto-­tipo,  o  arquitecto  
Fernando  Peres,  à  imagem  do  que  tem  vindo  a  ser  feito  com  os  outros  tipos  de  cons-
truções  escolares  em  análise.

Fernando  Peres  nasceu  no  Porto  em  1918  e  fez  o  curso  de  arquitectura  na  Faculdade  
de  Belas  Artes  da  Universidade  do  Porto,  entre  1935  e  1945.

Entre  1963  e  1965  foi  presidente  do  Sindicato  dos  Arquitectos,  organização  que  ante-
cede  a  Ordem.  Fernando  Peres  Guimarães  foi  também  Director  dos  Serviços  de  Mo-
numentos  da  DGEMN,  participou  em  alguns  encontros  internacionais  onde  contactou  
com  membros  do  ICOMOS  e  foi  eleito,  em  1983,  primeiro  Presidente  da  CNP.  

Como   exemplo   da   sua   arquitectura,   para   além   dos   projectos   das   escolas,   existe   a  
Igreja   do   Bairro   da   Encarnação,   bairro   lisboeta   de   pequenas   moradias,   projectado  
pelo  arquitecto  Paulino  Montez  no  ano  de  1940  .

Em  Janeiro  de  1956,  Fernando  Peres  elaborou  um  estudo  integrado  no  projecto  das  
escolas  do  Novo  Plano  dos  Centenários,  criando  dois  tipos  de  edifícios  escolares.  O  
objectivo   era   uniformizar   as   dimensões   das   salas   de   aula,   vestíbulos   e   alpendres,  
uniformizar   as   dimensões   dos   vãos   e   blocos   sanitários,   simplificar   as   coberturas   e  
eliminar   os   fogões   de   sala,   que   seriam   substituídos   por   salamandras.   Procurou-­se,  
também,   reduzir   cantarias   e   peitoris,   degraus   e   soleiras,   e   reduzir   a   espessura   das  
paredes.  Toda  esta  racionalização  sustentada  por  uma  perspectiva  economicista  foi  
implementada  através  da  simplificação  construtiva,  para  além  da  simplificação  de  to-
dos  os  sistemas  implícitos  na  sua  concepção.

As   unidades   de   amostra   localizam-­se   em   Carrazeda   de   Ansiães,   Peso   da   Régua,    


Ponte  da  Barca,  Vila  Real,  Santa  Marta  de  Penaguião,  Bragança,  Vila  Nova  de  Foz  
Côa,  Mesão  Frio,  Chaves  e  em  Vila  Pouca  de  Aguiar.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 201


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Por  norma,  o  enquadramento  destas  escolas  primárias  é  em  contexto  rural,  isolado,  no  
interior  ou  nas  proximidades  da  povoação.  É  constante  a  sua  proximidade  a  um  eixo  
viário/estrada.  Existe  apenas  um  exemplo,  dos  edifícios  em  estudo,  que  se  encontra  
em  contexto  urbano,  adossado  a  uma  outra  construção  (trata-­se  da  Escola  primária  
de  Deilão,  em  Bragança).

Geralmente,   estes   edifícios   encontram-­se   circunscritos   por   um   muro,   com   gradea-


mento  em  ferro;;  possuem  recreio  em  terra  batida,  por  norma  pontuado  com  árvores.

4.1.5.2. EXPRESSÃO FORMAL TIPOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL E MATERIALIDADE


ARQUITECTÓNICA

A  arquitectura  destes  edifícios  escolares  caracteriza-­se  por  ser  arquitectura  educativa,  


referenciada  às  decadas  de  60  e  70  do  séc.  XX.  São  escolas  do  Tipo  Rural,  de  uma  
ou  duas  salas,  e  do  Tipo  Urbano,  de  duas  ou  quatro  salas,  do  Novo  Plano  dos  Cente-
nários.  Note-­se  que  os  edifícios  analisados  são  do  Tipo  Rural,  no  entanto  não  poderia  
deixar  de  ser  referida  a  existência  do  Tipo  Urbano,  que  diverge  apenas  na  escala  re-
sultante  da  multiplicação  do  número  de  salas.

Os   compartimentos   das   salas   de   aula   são   rectangulares,   rasgados   por   três   amplos  
vãos.

Os  vestíbulos,  variando  entre  um  ou  dois  consoante  o  número  de  salas,  surgem  nos  
extremos   das   salas,   e   são   volumetricamente   mais   baixos   e   recuados,   com   fachada  
principal  fechada  por  grelhado  de  cimento,  porta  de  verga  recta  e  sanitários  na  facha-
da  posterior.  

No  interior,  as  salas  de  aulas  têm  a  iluminação  unilateral  e  impossibilitam  a  visualiza-
ção  para  o  exterior  em  posição  sentada,  condicionante  das  formulações  pedagógico/
espaciais  da  época,  específicas  do  modo  de  ensino  simultâneo.  O  quadro,  bem  como  
a  posição  do  professor,  encontram-­se  no  topo  da  sala,  próximo  da  salamandra.  Esta  
substitui  a  tradicional  lareira,  utilizada  em  todos  os  tipos  até  ao  momento  analisados,  
garantindo    o  aquecimento  de  uma  forma  mais  diligente  e  económica,  quer  na  altura  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 202


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da  construção  quer  na  posterior  manutenção.

A  planta  destas  construções  caracteriza-­se  por  ser  rectangular  e  irregular,  uma  conse-
quência  da  relação  entre  o  volume  do  vestíbulo  e  o  da(s)  sala(s).  A  planta  é  composta  
por  uma  ou  duas  salas  de  aula  contíguas,  com  um  vestíbulo  no  caso  de  ser  uma  sala,  
ou  dois  vestíbulos  no  caso  de  serem  duas.  

A  posição  dos  vestíbulos  é  sempre  nos  extremos  dos  volumes  do  espaço  da  sala  de  
aula  .  Estes  volumes  prolongam-­se  para  a  fachada  posterior,  onde  se  conjugam  com  
o  corpo  das  casas  de  banho.  Note-­se  a  existência  de  um  alpendre  intermédio.

Todos  os  elementos  construídos,  que  participam  nesta  composição,  têm  plantas  rec-
tangulares.  

O  seu  desenvolvimento  é  horizontal,  estando  os  diferentes  corpos  escalonados,  com  


coberturas  em  telhados  de  duas  águas  nas  salas  e  vestíbulos,  e  a  uma  nas  casas  de  
banho  e  no  alpendre  intermédio.  As  fachadas  são  rebocadas  e  pintadas  de  branco,  
excepto  as  laterais  dos  alpendres  e,  nalguns  casos    também,  as  fachadas  posteriores  
dos  mesmos,  que  têm  aparelho  aparente  e  juntas  pintadas  de  branco.

Estes  alçados  são  percorridos  por  embasamento  em  lajes  de  cantaria,  corresponden-
te  à  caixa  de  ar  e  pontuado  com  estreitos  respiradores  rectangulares.

Os  seus  limites  superiores  são  rematados  com  cornijas  de  betão,  por  sua  vez  sobre-
postas  por  beirada  simples.  

A  fachada  principal  é  rasgada  por  um  conjunto,  ou  dois  (quando  se  trata  de  uma  se-
quência  de  duas  salas),  de  três  amplos  vãos  rectangulares,  de  igual  dimensão,  unidos  
por  peitoril  de  cantaria.

A  sua  caixilharia  é  de  madeira  e  desenha  uma  quadrícula.  O  maciço  entre  os  vãos  é  
rebocado.

No   plano   superior   existem   duas   placas   de   mármore   com   a   inscrição   das   siglas   da  
respectiva  Câmara  Municipal,  de  ESCOLA  PRIMÁRIA  PLANO  DOS  CENTENÁRIOS  
e  de  M.  O.  P.  D.  G.  E.  M.  N.,  mais  a  data  de  construção,  características  recorrentes.  
Ao  centro  do  alçado  principal  surge  o  mastro  da  bandeira,  em  ferro,  que  se  encontra  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 203


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

apoiado  numa  mísula  de  cantaria.  

Os  vestíbulos,  mais  recuados  que  o  pano  da  fachada  principal,  na  maioria  dos  casos  
em  estudo  são  fechados  por  um  grelhado  de  cimento,  pintado  de  branco,  possuindo  
porta  de  verga  recta,  com  envolvência  de  cantaria,  pintada  de  branco.  

Existem  outras  soluções  para  a  frente  do  vestíbulo,  que  passam  por  deixá-­lo  com  este  
pano  totalmente  aberto  ou  encerrá-­lo  com  muro,  encimado  por  um  amplo  vão  rectan-
gular,  com  caixilharia  de  madeira,  também  formando  quadrícula,  e  vidros  martelados  
sobre  o  peitoril  de  cantaria.  Existe  ainda  portal  de  verga  recta,  com  porta  envidraçada,  
de  vidros  martelados.O  portal  de  entrada  para  os  vestíbulos  é,  geralmente,  precedido  
por  um  degrau.  

As  fachadas  laterais  são  cegas,  terminadas  em  empena,  sendo  que  a  posterior  possui  
um  vestíbulo  que  faz  a  ligação  com  o  recreio  posterior  e  um  alpendre.  

No  interior,  por  norma,  as  paredes  são  rebocadas  e  pintadas  de  branco.  A  partir  do  
vestíbulo  abre-­se  lateralmente  uma  porta  para  os  sanitários  e  uma  porta  para  a  sala  
de  aula.  No  caso  de  existirem  dois  vestíbulos,  esta  circunstância  repete-­se  de  forma  
simétrica.

As   salas   enquadram,   no   canto   posterior,   o   sistema   de   aquecimento   e   ao   centro   da  


parede  testeira  dispõe-­se  o  quadro  de  lousa,  enquadrado  com  um  estrado  de  madeira  
frontal.

4.1.5.3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS

A  estrutura  destas  construções  é  autoportante.  A  alvenaria  é  rebocada  e  pintada,  nor-


malmente  de  branco.  O  embasamento  exterior,  os  peitoris,  a  mísula  do  mastro  e  ou-
tros  elementos  complementares  são  em  granito.  As  portas  e  as  caixilharias  são  em  
madeira,  com  janelas  de  vidro  simples.  As  placas  com  inscrições  são  de  mármore.

O  quadro  é  em  ardósia  e  quer  o  mastro  quer  a  salamandra  são  de  ferro.  A  cobertura  
é  em  telha.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 204


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Insiste-­se   no   facto   de   o   intuito   subjacente   à   morfologia   destes   objectos   arquitectó-


nicos,   num   contexto   social   e   político   de   fim   de   um   regime   ditatorial   (com   quase   40  
anos  de  vigência),  ser  a  uniformização  das  dimensões  das  salas  de  aula,  vestíbulos  
e  alpendres,  a  uniformização  das  dimensões  dos  vãos,  dos  blocos  sanitários,  a  sim-
plificação  das  coberturas,  e  a  eliminação  dos  fogões  de  sala,  que  seriam  substituídos  
por   salamandras.   Sem   esquecer   as   opções   construtivas   que   levaram   à   redução   da  
dimensão  das  paredes,  das  cantarias  e  dos  peitoris,  dos  degraus  e  das  soleiras.  

4.1.5.4. REALIDADE ACTUAL DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES

Todas   as   construções   que   foram   objecto   de   estudo   mantêm-­se   em   funcionamento  


com  as  funções  para  as  quais  foram  concebidas,  apenas  variando  na  denominação  ao  
passarem  de  escola  primária  para  escola  do  primeiro  ciclo  do  ensino  básico.

4.1.5.5. ESQUEMAS COMPARATIVOS ENTRE AS VARIAÇÕES DO MESMO TIPO

Plantas  das  variantes  do  tipo  Fernando  Peres

1 sala 2 salas 2 salas 4 salas 1 sala 2 salas 4 salas


Mancha  das  variantes  do  tipo  Fernando  Peres

1 sala 2 salas 2 salas 4 salas 1 sala 2 salas 4 salas


Sobreposição  das  variantes  do  tipo  Fernando  Peres

2+1 salas 2+1 salas 4+2 salas 1 sala 2+1 salas 4+2 salas
Programa  das  variantes  do  tipo  Fernando  Peres

1 sala 2 salas 2 salas 4 salas 1 sala 2 salas 4 salas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 205


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

4.1.6. TIPO P3 _ ESCOLA DE ÁREA ABERTA

Ilustração 105 -  Escola  Tipo  P3  -­  Área  Aberta  (Em  linha)  (consultado  em  09  de  Fevereiro  de  2011)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://eb1-­quinta-­castelos.rcts.pt    >

4.1.6.1. CONTEXTO E IMPLANTAÇÃO

Estas  construções  datam  da  segunda  metade  do  séc.  XX,  fundamentalmente  da  déca-
da  de  70,    e,  nalguns  casos,  do  início  da  década  de  80.  Segundo  M.  Brogden  (Brodgen,  
2000),  a  primeira  escola  primária  designada  como  escola  de  área  aberta  apareceu  no  
Reino  Unido.    A  escola,  construída  em  1959,  em  Finmere,  foi  desenhada  por  David  
Medd   36  em  colaboração  com  professores  e  administradores.  Este  conceito  difundiu-­
se  mundialmente,  mas  foi  sobretudo  utilizado  na  América  do  Norte  e  na  Escandinávia.  
O  modelo  sofreu  algumas  variações,  mas  o  que  foi  utilizado  em  Portugal  é  de  origem    
escandinava.

O  projecto  de  ajuda  foi  criado  no  âmbito  da  OCDE,  com  o  objectivo  predefinido  de  es-
timular  a  escolaridade  obrigatória  nos  países  considerados  mais  necessitados,  como  
era  o  caso  da  Jugoslávia,  Espanha,  Grécia,  Portugal,  Itália  e  Turquia,  e  foi  designado  
de   Projecto   Regional   do   Mediterrâneo   (1963).   Os   técnicos   da   educação   envolvidos  

David  Medd  foi  um  dos  arquitectos  britânicos  do  pós-­guerra  que  se  dedicou  à  concepção  das  escolas.  
36    

Explorou  nos  seus  projectos,  em  parceria  com  a  mulher  Mary  Medd,    os  sistemas  de  construção  com  pré-­
fabricados.  Sofreu  influências  directas  de  Gunnar  Asplund  e  de  Alvar  Aalto.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 206


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

propunham-­se    unificar  e  harmonizar  as  construções  escolares,  concebendo  uma  es-


cola    e  orientando  pedagogicamente  as  entidades  envolvidas.  Este  novo  tipo  de  cons-
trução  escolar  foi  influenciado  pelos  movimentos  de  renovação  pedagógica  que  emer-
giam  na  Europa,  mais  concretamente  na  Escandinávia  .  A  equipa  era  constituída  por  
técnicos  de  diferentes  áreas,  advindos  do  Ministério  da  Educação,  do  Ministério  das  
Obras  Públicas  e  do  Ministério  da  Habitação.  O  seu  trabalho  conjunto    resulta  na  con-
cepção  de  uma  escola  experimental,  em  Mem  Martins,  designada  por  Escola  Piloto.

 A  Escola  Piloto  de  Mem  Martins  é  inaugurada  em  1966,  sob  orientação  do  arquitecto  
inglês  Guy  Oddie.  Transforma-­se  num  modelo  para  as  futuras  construções  de  escolas  
primárias,  que  acabariam  por  responder  linearmente  a  um  modelo  nórdico,  designado  
de  P3,  também  conhecido  como  escola  de  área  aberta.

No  ano  lectivo  de  1973/1974,  surge  na  Quarteira,  a  primeira  escola  tipo  P3.  Durante  
a  década  de  70  são  construídas  muitas  outras  escolas  tipo  P3,  em  quase  todo  o  país,  
fruto  da  iniciativa  das  autarquias  locais.

De   acordo   com   S.   Oliveira   (Oliveira,   2009),   ao   longo   dos   anos   80   surgem   investi-
mentos  com  o  intuito  de  regulamentar    o  funcionamento  destas  escolas,  assim  como  
fomentar   a   organização   de   encontros   para   formação   de   professores.  A   este   tipo   de  
construção   escolar   estava   subjacente   uma   metodologia   de   ensino   baseada   na   livre  
circulação  dos  alunos  e  orientada  pelos  professores,  consoante  as  matérias  e  os  seus  
particulares  interesses,  organizando-­se  espacialmente  entre  duas  ou  três  salas  comu-
nicantes  entre  si,  com  uma  área  comum,  onde  também  poderiam  realizar-­se  trabalhos  
manuais  em  grupo.  Este  modelo  subentendia,  também,  uma  maior  abertura  da  escola  
à  comunidade,  ao  introduzir  uma  área  polivalente  que  servia  a  escola  mas  que  tam-
bém  poderia  servir  e  abrir-­se  aos  pais,  familiares  e  à  comunidade  em  geral.

No   fim   da   década   de   80,   levanta-­se   um   conjunto   de   dificuldades   e   de   entraves   no  


decorrer   do   uso   deste   tipo   de   modelo,   que   leva   ao   encerramento   dos   espaços   das  
salas.  Erguem-­se  barreiras,  paredes  e/ou  armários,  que  encerram  os  espaços,  reas-
segurando  a  individualidade  de  cada  professor,  facto  que  contrariava  as  premissas  de  
todo  este  sistema.

As  unidades  de  amostra  deste  tipo  de  escolas  primárias  em  análise  localizam-­se  no  
Porto,  Vila  Nova  de  Gaia,  Póvoa  do  Varzim,  Vila  Pouca  de  Aguiar,  Braga,  Avintes,  Bar-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 207


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celos,  Ovar,  Varziela  e  em  Paredes.

Por  norma  o  enquadramento  é  em  contexto  urbano,  isolado.  Todos  os  conjuntos  cons-
truídos  referem-­se  ao  edifício  mais  a  área  exterior  envolvente  e    situam-­se,    ou  pelo  
menos  um  dos  lados,  à  face  de  um  eixo  viário.

Estes   edifícios   estão   circunscritos   por   um   muro,   geralmente   rebocado   e   pintado   de  


branco,   com   gradeamento   em   ferro   e   dois   portões   também   em   ferro,   que   definem  
entradas  opostas.  Possuem  recreio  de  terra  batida,  habitualmente  pontuado  com  ár-
vores,   e   áreas   exteriores   cobertas,   adjacentes   às   diversas   entradas   para   os   blocos  
das  salas  de  aula.

4.1.6.2. EXPRESSÃO FORMAL TIPOLÓGICA, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL E MATERIALIDADE


ARQUITECTÓNICA

A  arquitectura  das  escolas  de  Área  Aberta,  Tipo  P3,  de  finais  do  séc.  XX.,  caracteriza-­se  
por  ser  educativa.

Os  compartimentos  das  salas  são  quadrangulares,  rasgados  por  amplos  vãos.

Os  vestíbulos,  variando  de  número,  consoante  o  número  de  salas,  surgem  no  centro  
das  salas,  recuados  em  relação  às  fachadas,  relacionando  acessos  verticais,  sanitá-
rios,  arrumos  e,  no  piso  zero,  pavilhão  polivalente  com  a  área  das  salas.

Na  área  do  polivalente,  distinguem-­se  dois  momentos,  interligados  entre  si,  pela  pre-
sença  de  uma  sala  de  apoio  central.  Num  dos  momentos  situa-­se  a  área  da  cantina,  
com  cozinha  de  apoio,  economato  e  duas  salas.  O  outro  espaço  tem  sanitários  para  os  
docentes  e  uma  sala,  que,  na  maior  parte  dos  casos,  é  utilizada  como  biblioteca.

No  interior,  as  salas  de  aula  têm  uma  iluminação  unilateral  e  total  capacidade  de  visu-
alização  do  exterior  em  posição  sentada,  com  quadros  em  topos  opostos.  O  conforto  
térmico  é  garantido  por  radiador  de  aquecimento  central.

A  planta  destas  construções  caracteriza-­se  por  ser  irregular,  qualquer  que  seja  a  com-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 208


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posição  em  causa,  em  virtude  da  relação  entre  os  volumes  das  salas  de  aula  e  o  salão  
polivalente.

Na  estrutura  mais  pequena  observada,  a  planta  é  composta  por  seis  salas  de  aula,  
três  por  piso;;  na  estrutura  intermédia,  é  constituída  por  dez  salas,  cinco  por  piso;;  e,  na  
maior,  apresenta  dezasseis  salas,  oito  por  piso.

Os  vestíbulos,  no  piso  zero,  fazem  a  ponte  entre  a  área  das  salas,  o  pavilhão  poliva-
lente  e  as  instalações  sanitárias;;  no  piso  1,  também  antecipam  a  área  das  salas  de  
aula  e  servem  de  área  de  exposição  e  de  brincadeiras.

Todos  os  elementos  construídos,  que  participam  nesta  composição,  têm  plantas  rec-
tangulares.  O  desenvolvimento  da  volumetria  é  horizontal,  estando  os  diferentes  cor-
pos  escalonados,  com  coberturas  em  fibrocimento.  As  fachadas  são  rebocadas  e  pin-
tadas  de  branco,  deixando  a  leitura  nos  alçados  do  sistema  modular  de  vigas  e  pilares  
de  cor  cinzenta.

As   fachadas   são   rasgadas   por   amplos   vãos   rectangulares,   que   se   desdobram   em  


conjuntos  de  uma  e  duas  janelas,  de  igual  dimensão,  agrupados  entre  si.  Em  alguns  
casos,  o  conjunto  de  duas  janelas  aparece  associado  a  uma  porta,  e/ou  isolado.  A  sua  
caixilharia  é  de  alumínio.

Os  vestíbulos  encontram-­se  mais  recuados  que  o  pano  das  fachadas.  O  portal  de  en-
trada  para  os  vestíbulos  é  precedido  por  plataforma  horizontal,  elevada  a  uma  altura  
correspondente  a  um  degrau,  com  um  coberto.

No  interior,  em  geral,  as  paredes  são  rebocadas  e  pintadas  de  branco.  No  vestíbulo  
abrem-­se  portas  para  os  sanitários,  para  uns  arrumos  e  outra  para  as  áreas  comuns  
das  salas  de  aula;;  no  piso  zero,  abre-­se  também  uma  porta  para  o  salão  polivalente.

As  salas  organizam-­se  duas  a  duas  ou  três  a  três.  Nesta  fase,  em  todos  os  exemplos  
analisados  (exceptuando  a  escola  da  Ponte,  em  Santo  Tirso,  onde  se  mantém  a  pre-
missa  que  justificou  o  desenho  original  destas  escolas  com  salas  abertas  para  a  zona  
comum  de  trabalhos  manuais),  as  salas  de  aula  estão  encerradas  com  plano  de  pare-
de  que  contém  a  porta  de  entrada.  No  seu  interior,  as  salas  têm  quadros  em paredes
opostas  e  entradas  de  luz  em  mais  do  que  um  plano.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 209


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4.1.6.3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS

A  estrutura  é  porticada,  rebocada  e  pintada,  geralmente  de  branco,  com  pilares  e  vi-
gas  de  cor  cinzenta.

As  portas  e  as  caixilharias  são  em  alumínio,  com  janelas  e  portas  de  vidro  simples.

A  cobertura  é  em  fibrocimento.

Este   tipo   de   construção   tem   uma   imagem   muito   presente   de   pavilhão   prefabricado,  
com  o  propósito  de  obter  soluções  simples  e  de  baixo  custo  para  a  sua  construção  
e  posterior  manutenção.  Conclui-­se  que  não  existem  grandes  preocupações  ao  nível  
das  composições  estéticas  e  das  relações  de  proporção  entre  as  partes,  que  eventu-
almente  resultariam  numa  maior  clareza  e  legibilidade  das  hierarquias  estabelecidas  
pela   distribuição   do   programa   funcional.   A   modulação   pretendia   apenas   assegurar  
o  máximo  de  combinações  disponíveis,  utilizando  sempre  os  mesmos  componentes  
construtivos,  de  forma  a  evitar  alterações  em  obra  ao  projecto.  Esta  atitude  garantia  
também  gastos  e/ou  perdas  de  tempo  no  processo  da  sua  construção.  São  providas  
de  uma  aparência  algo  rude,  resultante  da  sua  morfologia  insípida,  da  malha  estrutural  
aparente  em  todos  os  alçados  e  das  opções  ao  nível  dos  materiais,  cores  e  texturas.

4.1.6.4. REALIDADE ACTUAL DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES

As  Escolas  de  Área  Aberta  surgem  com  o  intuito  de  reduzir  o  custo  das  construções  
e   de   inovar,   no   que   diz   respeito   às   pedagogias   experimentadas   até   então.   Houve  
uma  vontade  de  acabar  com  a  ideia  da  sala  de  aula  tradicional,  estanque  no  uso  e  
na  forma,  propondo  espaços  mais  flexíveis,  que  se  desenvolveriam  em  torno  de  uma  
área  comum,  com  propriedades  determinadas  para  a  execução  de  trabalhos  manu-
ais.   Estas     escolas   tinham   como   objectivo   cruzar   conhecimentos   entre   docentes   e  
discentes,  assim  como  relacionar  a  escola  com  a  sociedade.  O  pavilhão  polivalente  é  
a  formalização  deste  princípio,  servindo  professores  e  alunos,  mas  procura  também  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 210


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servir  o  resto  da  comunidade,  podendo  eventualmente  receber  actividades  externas  


ao  funcionamento  da  escola.

Todas  estas  escolas  encontram-­se  em  funcionamento,  mas  as  premissas  que  lhes  de-
ram  origem  foram  praticamente  subvertidas,  sendo  o  encerramento  das  salas  a  maior  
prova  de  contradição  entre  conceptualização  e  real  prática  pedagógica.

4.1.6.5. ESQUEMAS COMPARATIVOS ENTRE AS VARIAÇÕES DO MESMO TIPO

Plantas  das  variantes  do  tipo  P3

6 salas 10 salas 10 salas 12 salas 16 salas

Mancha  das  variantes  do  tipo  P3

6 salas 10 salas 10 salas 12 salas 16 salas


Sobreposição  das  variantes  do  tipo  P3

10+6 salas 10+10 salas 12+10 salas 16+12 salas

Programa  das  variantes  do  tipo  P3

6 salas 10 salas 10 salas 12 salas 16 salas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 211


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4.2. A EVOLUÇÃO TIPOLÓGICA, A EVOLUÇÃO DA TECTÓNICA E A EVOLUÇÃO FORMAL

4.2.1. COMPARAÇÃO DA EVOLUÇÃO ENTRE OS DIFERENTES TIPOS

Plantas  dos  edifícios  mais  representativos  dos  diferentes  tipos  das  escolas  primárias  portuguesas

Mancha  dos  edifícios  mais  representativos  dos  diferentes  tipos  das  escolas  primárias  portuguesas

Sobreposição  dos  diferentes  edifícios  mais  representativos  dos  diferentes  tipos  das  escolas  primárias  portuguesas

Estrutura  dos  edifícios  mais  representativos  dos  diferentes  tipos  das  escolas  primárias  portuguesas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 212


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 213


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4.2.2. COMPARAÇÃO DA EVOLUÇÃO DOS PROGRAMAS DOS DIFERENTES TIPOS

Programa  dos  edifícios  mais  representativos  dos  diferentes  tipos  das  escolas  primárias  portuguesas

Evolução  dos  programas  dos  edifícios  mais  representativos  dos  diferentes  tipos  das  escolas  primárias  portuguesas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 214


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Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 215


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Parte III. O PANORAMA DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS PORTUENSES

5. ANÁLISE MORFOLÓFICA DA ESCOLA PRIMÁRIA NUM CONTEXTO URBANO (PORTO)

5.1. A TIPOLOGIA ESCOLA _ O TIPO E O MODELO

A   tipologia,   apesar   de   ser   um   conceito   que   sofreu   actualizações   ao   longo   de   dois  


séculos    (séc  .XIX  e  séc.  XX),  tem  um  carácter  intemporal,  por  encerrar  a  sucessão  
histórica  de  um  determinado  tema,  aplicado  a  qualquer  enquadramento  social.  Qua-
tremére  de  Quincy,    Viollet-­Le-­Duc,  Ruskin,  Semper  e  Durand  (séc.  XIX  e  início  do  séc.  
XX,  respectivamente)  afirmam  a  intemporalidade  da  tipologia  (Pires,  2009),  face  aos  
factores  históricos  e  universais.

As  Igrejas  e  as  Catedrais,  reveladoras  de  um  carácter  icónico  e  de  uma  carga  simbó-
lica  acentuada,  vincada  na  sua  expressão  enquanto  objecto  arquitectónico,  são  en-
tendidas  como  o  primeiro  tipo  histórico  de  definição  espacial  confesso  (Argan,  1969,  
p.29)  ,  do  auge  do  séc.  XIX.  Esta  tipologia,  portadora  de  uma  sistematização  da  lin-
guagem  clássica,  onde  imperam  a  ordem  e  o  desenho  é,  ao  tempo,  o  traço  mais  referi-
do  e  reconhecido  na  feição  das  urbes.  (Consiglieri,  2000,  p.147)    Reconhece-­se  como  
elemento  fulcral  na  identidade  e  imageabilidade  das  cidades  (Lynch,  1960)  ,  que  ainda  
hoje,   apesar   de   não   ser   o   único,   funciona   como   referência   no   emaranhado   urbano.  
Recorde-­se  que  o  simbolismo  presente  no  Renascimento,  nos  edifícios  religiosos,  é  o  
produto  “da  relação  objectiva  de  um  conteúdo  ideológico  predeterminado  com  estrutu-
ras  formais  resultantes  do  conhecimento  de  tipos  de  definição  espacial”  (Pires,  2009),  
por  exemplo,  os  edifícios  religiosos  de  planta  central,  criados  na  Antiguidade  Clássica,  
e  revalidados  no  período  da  Idade  Média.

Na  segunda  metade  do  séc.  XIX,  assiste-­se  à  classificação  tipológica  de  outros  edifí-
cios  tipo,  portadores  de  programas  funcionais  diversos,  onde  se  encontra  o  programa  
do  objecto  do  presente  estudo,  como  por  exemplo,  hotéis,  hospitais,  escolas,  etc.  No  
entanto,  esta  classificação  não  introduz  alterações  significativas  ao  nível  estético.  O  
peso   do   legado   histórico,   de   carácter   escrupulosamente   definido,   dos   edifícios   reli-
giosos   serve   como   experiência   cultural,   da   qual   se   reinterpreta   a   racionalidade   e   a  
metodologia  conceptual.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 216


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Efectivamente,   a   tipologia   arquitectónica   revela-­se   segundo   a   organização   e   a   dis-


tribuição  dos  elementos  arquitectónicos,  manifestados  na  organização  e  distribuição  
espacial   de   modo   autónomo   da   sua   função   específica,   e,   de   uma   forma   particular,  
segundo  a  sua  função.  Conclui-­se  que  as  funções  práticas  dos  edifícios,  conjugadas  
com  a  sua  configuração  formal,    legitimam  a  origem  das  séries  tipológicas  na  História  
da  Arquitectura.  (Pevsner,  1976)    

De  qualquer  forma,  importa  sublinhar  que  a  tipologia  se  mantém  presente  no  desen-
rolar  do  processo  de  criação  (Argan,  1969,  p.  20).  Apesar  de  não  ser  determinante  na  
concepção,  é  um  elemento  de  racionalização  formal  que  está  subjacente  à  singula-
ridade  relativa  de  qualquer  cultura  arquitectónica,  sob  a  perspectiva  da  componente  
analítica,  aliada  à  história  e  sob  o  processo  imaginativo  e  operativo  da  própria  arqui-
tectura,  figura  da  sua  componente  conceptual.

A  tipologia  é  um  modo  de  classificar  objectos.  Este  modo  é  determinado  pela  pesquisa  
das  precisas  filiações,  ascendências  e  descendências,  que  os  objectos  mantêm  entre  
si.  São  estas  filiações  e  suas  ramificações  que  constituem  as  classes  cujo  tipo  constitui  
a  invariante.  (Aziza,  2003,  p.226)

É  de  referenciar,  enquanto  complemento  do  discurso  que  se  pretende  justificativo  na  
abordagem  aos  edifícios  das  escolas  primárias,  a  percepção  do  tipo  como  código  que  
estrutura   a   produção   dos   espaços   construídos   e   do   modelo,   como   molde   a   repetir  
com     circunstancial   inflexibilidade   morfológica.   Fixa-­se   como   código   referencial,   as  
definições   de   Quatremére   de   Quincy   (Quincy,   1832)   que   explica   o   tipo como “ideia
genérica,  platónica,  arquetípica,  forma  básica  da  arquitectura”  e  modelo como “aquilo
que  se  pode  repetir  com  rigor,  como  um  carimbo  que  possui  uma  série  de  caracteres  
recorrentes”.  Ideias  complementadas  com  o  sentido  atribuído  a  tipo,  por  Giulio  Carlo  
Argan,  como  sendo  a  confirmação  de  um  esquema,  a  redução  de  um  conjunto  com  
diversidade  formal  a  uma  estrutura  comum,  contraposta  à  correspondência  de  modelo  
a  cópia  e  a  imitação.  (Argan,  1969,  p.  29)  

Reconhece-­se  que  a  análise  tipológida  das  escolas  primárias  portuguesas  resultará  


da  crítica  ao  tipo  funcional  e  espacial  (Pires,  2009),  destrinçando  a  sua  “estrutura  in-
terna  de  forma  arquitectónica,  como  processo  metodológico  baseado  na  articulação  
de  elementos  e  partes  em  planta  e  em  fachada”.  (Montaner,  2001,  p.  110)    Pelo  que  se  
torna  essencial  uma  comparação  exaustiva  entre  objectos  arquitectónicos  da  mesma  
família,  série  tipológica.  O  desfecho  procura,  de  forma  conclusiva,  uma  classificação  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 217


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

dos  tipos,  resultado  da  identificação  de  todas  as  constantes,  bem  como  das  variantes  
que  se  considera  não  pôr  em  causa  a  coerêcia  do  tipo  e  do  seu  esqueleto  espacial.  
(Pires,  2009)  

Segundo  Pires  (2009),  um  tipo  nunca  se  formula  antecipadamente  e  deduz-­se  de  uma  
série  de  exemplos  válidos  pela  sua  inquestionável  qualidade  arquitectónica,  afirman-
do-­se  quando  há  uma  série  de  edifícios  que  partilham  entre  si  relações  de  semelhança  
formal  e  funcional.  O  mesmo  autor  refere  que  o  tipo  é  uma  constante  que  irá  reagir,  
através  de  caracteres  de  necessidade  determinada  com  a  técnica,  com  as  funções,  
o  estilo,  o  carácter  colectivo  e  as  particulares  circunstâncias  do  acontecimento  arqui-
tectónico.  Revê-­se  esta  posição  em  Rossi  (1982),  quando  trata  o  tipo  como  a  própria  
ideia  de  arquitectura,  uma  abordagem  mais  fiel  à  sua  essência.

Os   conceitos   de   tipo   e   modelo,   integrantes   da   gramática   arquitectónica   e   fundamen-


tais  na  compreensão  da  análise  da  tipologia  da  escola  primária  portuguesa,  revelam-­se  
muito  próximos  de  outros  dois  conceitos,  incorporados  na  gramática  da  Biologia  -­  o  
genótipo e o fenótipo.

Os  conceitos  de  genótipo  e  de  fenótipo  37  estão  intrínsecos  ao  entendimento  e  ao  desen-
volvimento  da  genética  no  início  do  séc.  XX  e,  tal  como  o  tipo  e  o  modelo,  revelam-­se  
determinantes   na   caracterização   dos   organismos,   na   sua   vertente   morfológica,   de  
desenvolvimento  e  de  comportamento.  De  uma  forma  sintetizada,  genótipo  “(do  grego  
genos,   originar,   provir,   e   typos,   característica)   refere-­se   à   constituição   genética   do  
indivíduo,  ou  seja,  aos  genes  que  ele  possui.”  e  fenótipo  “  (do  grego  pheno,  eviden-
te,   brilhante,   e   typos,   característico)   é   empregado   para   designar   as   características  
apresentadas   por   um   indivíduo,   sejam   elas   morfológicas,   fisiológicas   ou   comporta-
mentais”.    O  que  estas  definições  trazem  quando  observadas,  sobre  a  perspectiva  da  
arquitectura,  é  a  possibilidade  de  comparar  o  tipo  ao  genótipo  e  o  modelo  ao  fenótipo,  
pela   substância   dos   seus   siginificados   e,   particularmente,   pela   influência   recíproca  
entre  tipo  e  modelo,  facilmente  compreendida  quando  observada  em  paralelo  com  a  
interacção  entre  genótipo  e  fenótipo.

A  analogia  justifica-­se  quando  considerada  uma  componente  essencial  à  arquitectura  

Dois   conceitos   importantes   para   o   desenvolvimento   da   genética,   no   começo   do   séc.   XX,   foram   os  
37    

de   fenótipo   e   genótipo,   criados   pelo   pesquisador   dinamarquês   Wilhelm   L.   Johannsen   (1857   –   1912),  
concluindo-­se  que  o  fenótipo  resulta  da  interacção  do  genótipo  com  o  ambiente.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 218


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e  fundamental  face  a  esta  correlação  biológica  :  o  meio  ambiente.

Na  biologia:

Genótipo + Ambiente > Fenótipo

Na  arquitectura:

Tipo + Ambiente > Modelo

Feita  uma  abordagem  mais  genérica  que  identifica  e  classifica  os  tipos  dominantes  na  
tipologia  das  escolas  primárias  portuguesas,  é  perante  esta  analogia  que  se  entende  
fundamental  circunscrever  o  campo  de  estudo  a  apenas  uma  das  cidades  da  área  de  
amostra  (norte  de  Portugal).

 O  Porto  foi  seleccionado  pela  sua  escala,  pela  sua  diversidade  geográfico/morfoló-
gica  e,  também,  pelo  seu  património  cultural  rico,  expresso  no  desenho  da  malha  ur-
bana  (espelho  da  história  das  diferentes  fases  do  seu  desenvolvimento).  Foi  também  
razão  desta  escolha,  a  grande  variedade  tipológica.  Com  efeito,  registam-­se  múltiplos  
modelos   de   escolas,   construídos   pela   cidade,   que   não   resultam   directamente   dos  
seis  tipos  identificados  e  analisados  no  ponto  4.1  do  presente  estudo;;  foram,  por  isso,  
entendidos  como  casos  especiais  resultantes  de  circunstâncias  particulares,  fruto  de  
uma  conjuntura  singular  que  será  explorada.  De  igual  modo,  sentiu-­se  a  necessidade  
de   questionar   a   importância   da   preexistência   dos   tipos   de   cariz   nacional,   enquanto  
regra  das  formas  básicas  da  arquitectura  das  escolas  primárias  e  enquanto  fenómeno  
cultural.  Observa-­se  que  os  referidos  modelos,  que  não  se  enquadram  nestes  tipos,  
são   referenciados   a   outros   “protótipos   arquitectónicos”   advindos,   por   exemplo,   dos  
pressupostos   funcionais   explorados   durante   o   período   do   Movimento   Moderno   (ca-
racterístico   pelos   seus   princípios   estéticos   da   composição,   sustentados   em   teorias  
formais).  No  contexto  político  e  social  nacional,  onde  impera  a  parca  flexibilidade  do  
regime  português,  tais  experiências  arquitectónicas  surgem  como  figuras  aculturadas,  
referenciadas  a    uma  espécie  de  cultura  universal,  imergente  na  conjuntura  interna-
cional.  Numa  panorâmica  de  “orgulhosamente  sós”,  como  o  próprio  Salazar  afirmava  
a  propósito,  entre  outras  razões,  da  oposição  sistemática  ao  progresso  face  ao  qual  
parecia  envaidecer-­se.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 219


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5.2. A ARQUITECTURA PÚBLICA DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS COMO ELEMENTO DE

COMPOSIÇÃO E SEDIMENTAÇÃO DA MALHA URBANA DO PORTO

O  Porto  é  a  segunda  maior  cidade  do  país  e  tem  um  percurso  de  crescimento  e  ex-
pansão  urbana  diversificado.  É  a  partir  da  identificação  da  sua  rede  de  escolas  primá-
rias  que  se  procurará  reflectir  sobre  a  dinâmica  resultante  da  inserção  destes  equipa-
mentos  na  cidade,  e  compreender  as  metarmofoses  morfológicas  que  daí  advieram  e  
que  tiveram  efeito  sobre  os  tipos  arquitectónicos  objecto  de  análise  deste  estudo.  As  
escolas   sedimentam,   consolidam   e   fortalecem   as   novas   centralidades   e   o   desenho  
urbano.  São  edifícios  que  fazem  parte  da  imageabilidade  dos  lugares,  apesar  da  sua  
morfologia  não  apresentar  um  carácter  impositivo  na  silhueta  da  cidade.

Tal   como   já   foi   referido,   actualmente,   o   conjunto   das   escolas   primárias   portuenses  
revela  uma  grande  variedade  tipológica  e  posiciona-­se  de  uma  forma  equilibrada  na  
malha  urbana  da  cidade,  complementando-­a.

Como  já  tivemos  oportunidade  de  referir  o  conjunto  das  escolas  primárias  portuenses  
actualmente  revela  uma  grande  variedade  tipológica  e  posiciona-­se  de  forma  equili-
brada  pela  malha  urbana  da  cidade,  complementando-­a.

Ilustração 106 -  Relatório  “A  Evolução  da  Oferta  e  da  Procura  de  Educação  na  Rede  Pública  do  Pré-­Escolar  e  da  1ª  CEB  da  CMP/
GEP-­DME  (2010)  (Em  linha)  (consultado  em  10  de  Maio  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://cm-­porto.pt  >

As   escolas   primárias   do   Porto,   objecto   de   análise   e   documentação   pelo   presente  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 220


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudo,   correspondem   às   actualmente   designadas   escolas   básicas   do   1º   ciclo   38, e


encontram-­se  todas  em  actividade.  Salvaguarda-­se  apenas  o  caso  da  escola  primária  
do  bairro  do  Freixo  que,  entretanto,  foi  demolida,  mas  que  é  igualmente  considerada.  
Estes  estabelecimentos  de  ensino  formam  um  conjunto  de  edifícios  escolares  de  rele-
vância  para  a  compreensão  da  evolução  morfológica,  ao  longo  do  período  em  estudo,  
desde  finais  do  séc.  XIX  até  aos  dias  de  hoje,  da    tipologia  da  escola  primária  e  da  
sua  integração  num  contexto  singular,  como  é  a  cidade  do  Porto.  De  um  modo  geral,  
reconhece-­se,   tal   como   Beja   (2010),   que   a   origem   destes   edifícios   tem   subjacente  
Ordens  Religiosas,  Grupos  Políticos,  particulares  endinheirados,  o  Estado  e,  por  fim,  
a  Autarquia.  Ao  longo  da  História,  observa-­se  a  necessidade  de  ensinar  as  primeiras  
letras   aos   pobres,   consequência   de   uma   espécie   de   generalizada   urgência   social,  
preocupada   em   exercitar   valores   de   caridade   e   de   cidadania.   Difunde-­se,   assim,   o  
conceito  do  ensino  para  todos,  principalmente  para    os  mais  necessitados  e  pobres,  
permitindo-­lhes   um   crescimento   intelectual,   subjacente   aos   ideais   liberais   e   laicos,  
que  se  refletem  numa  escola  laica  e  democrática.  As  dificuldades  inerentes  à  introdu-
ção/implantação  destes  objectos  arquitectónicos  numa  cidade  como  o  Porto  oscilam  
consoante  as  diferentes  fases,  identificadas  no  seu  desenvolvimento  enquanto  urbe,  
mas  são  à  priori  dificultadas  por  razões  transversais  nesta  sua  história.  O  facto  de  este  
ser  um  núcleo  com  grande  actividade  económica,  polarizadora  em  relação  a  outras  
áreas  do  país,  resulta  numa  alta  densidade  populacional  e  aumenta  as  dissemelhan-
ças  sociais.  Acresce  ainda,  a  escassez  de  terrenos  livres,  que  acaba  por,  em  alguns  
momentos  da  história,  remeter  as  escolas  primárias  para  as  periferias  do  centro  urba-
no  (Beja,  2010,  p.  163).  

5.2.1. SÍNTESE DO APARECIMENTO DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS NO PORTO

Para  a  compreensão  destes  sistemas.  é  importante  fazer  uma  pequena  resenha  ex-
plicativa  do  aparecimento  das  escolas  primárias  na  cidade  do  Porto,  contextualizando  
esta  realidade  no  âmbito  mais  amplo  da  evolução  do  ensino  na  História  de  Portugal.

A  alfabetização  da  população  portuguesa,  a  par  da  introdução  do  Iluminismo,  é  con-
siderada  cada  vez  mais  importante  e,  na  tentativa  de  realizar  esta  ambição,  o  país,  

38    
Designadas  pelas  siglas  EB1  ou  EB1  JI  se  tiverem  em  simultâneo  a  funcionar  o  ensino  pré-­escolar.

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na   figura   de   D.   José   I,   passa   por   diversas   reformas   ao   nível   do   ensino.   O   intuito  


resumia-­se  a  uma  melhoria  da  situação  escolar,  legado  da  Companhia  de  Jesus  que  
havia  então  deixado  o  país,  numa  perspectiva  de  acesso  à  instrução  por  parte  de  toda  
a   população.   Como   refere   Beja   (2010),   em   Novembro   de   1772,   é   assinada   por   D.  
José  a  Carta  de  Lei,  que  resulta  na  construção  de  3  escolas  na  Nobre  Invicta.  O  Porto  
ficou  prejudicado  em  relação  a  Lisboa,  onde  se  criaram  18  escolas,  na  sequência  de  
uma  maior  atenção  por  parte  do  Director  Geral  dos  Estudos  dada  as  circunstâncias  
em  que  Lisboa  se  encontrava  após  o  terramoto  de  1755.  Com  D.  Maria  I  extingue-­se  
o  mapa  de  1772  e  é  introduzida  uma  nova  lista  de  escolas  a  construir,  como  resposta  
às  medidas  alienadas  da  religião  e  sujeitas  às  leis  civis  do  Marquês  de  Pombal.  Ainda  
segundo  o  mesmo  autor,  dá-­se  a  nomeação  de  dois  Mestres  de  Ler,  Escrever  e  Contar  
para  a  cidade  do  Porto.  Com  as  invasões  Napoleónicas  e  a  transferência  da  corte  para  
o  Brasil,  fecham  as  Escolas  Régias  e,  após  invasões,  através  dos  militares,  retoma-­se  
a  estabilidade  e  alguma  assitência  à  população.  As  Escolas  de  Linha,  geridas  pelas  
Forças  Militares,  multiplicam-­se  pelo  país.  Ao  Porto  e  à  Província  do  Minho  foram  atri-
buídas  nove  Escolas,  das  quais  “uma  pertenceu  ao  Regimento  de  Artilharia  da  Serra  
do  Pilar  e  duas  aos  Regimentos  números  oito  e  dezasseis  da  linha  de  defesa  da  Foz  
do  Douro”  (Beja,  2010,  p.150).  

Após  a  Revolução  Liberal,  em  1822,  o  artigo  nº  237  da  primeira  Constituição  política  
Portuguesa  estabelece  que,  no  Reino,  se  deveriam  colmatar  todas  as  necessidades  
dos  jovens  portugueses  ao  nível  do  ensino,  com  edifícios  escolares  dotados  de  quali-
dade,  para  que  fosse  possível  o  ensino  para  ambos  os  sexos,  da  leitura,  da  escrita  e  
da  matemática,  bem  como  do  catecismo  religioso  e  das  leis  civis.  Desta  deliberação  
resultam  várias  nomeações  de  professores  (mestres  e  mestras)  para  as  divisões  ad-
ministrativas  do  Porto  e  de  Lisboa.    Segundo  Beja  (2010),  o  despoletar  da  guerra  civil  
foi  mais  um  contratempo  na  história  do  ensino  em  Portugal.  A  retoma  da  reestrutura-
ção  do  ensino  inicia-­se  em    1834  com  a  introdução  do  conceito  de  proteção  à  infância,    
materalizado  na  criação  de  casas/asilos  de  apoio  e  abrigo  a  crianças  desvalidas,  ocu-
pando  os  conventos  devolutos  pelo  afastamento  das  Ordens  Religiosas.

Em  1935,  com  a  intervenção  de  D.  Maria  II  através  de  um  decreto,  prevê-­se  para  o  
Porto  uma  Escola  Normal,  mas  é  por  iniciativa  da  Junta  Geral  de  Distrito,  em  Outubro  
de   1882,   que   se   criam   as   Escolas   Normais   na   Invicta.   Nessa   altura   ocuparam   um  
edifício  preexistente,  de  carácter  particular  e  de  morfologia  aquém  dos  requisitos  de  
qualidade  necessários.  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

O  edifício  modelo  para  a  instalação  das  Escolas  Normais  de  ambos  os  sexos  é  inau-
gurado  em  1885.  (Gomes,  1996)  Com  o  Regulamento  Geral  de  Instrução,  Dona  Maria  
II  promulga  uma  lei  que  torna  gratuita,  a  todos  os  cidadãos  a  Instrução  Primária,  admi-
nistrada  em  Escolas  Públicas,  responsabilizando  e  penalizando  todos  os  pais  que  não  
enviassem  para  a  escola,  os  seus  filhos  em  idade  escolar.

Segundo  a  premissa  de  que  se  construiria  uma  escola  pública,  mediante  o  intervalo  
de  400  a  1500  habitações,  e  duas,  no  intervalo  de  1500  a  3000,  para  o  Porto  resulta  
a  previsão  de  construção  de  3  escolas.  Apesar  de  estar  previsto  um  apoio  em  forma  
de  subsídio  para  os  municípios  mais  carecidos,  o  Porto,  bem  como  Lisboa  pela  sua  
escala  e  dimensão  económica,  não  foram  considerados.  De  facto,  apesar  destas  in-
vestidas  em  forma  de  decreto-­lei,  imperava  a  escassez  de  meios,  irrefutável  condição  
de   um   Estado   pobre   e,   consequentemente,   indolente.   No   que   diz   respeito   à   cons-
trução  dos  edifícios  escolares,  quem  a  acaba  por  assumir,  por  iniciativa  própria,  são  
as  Paróquias,  usando  de  meios  e  influências  próprias.  O  mesmo  se  verificou  com  os  
Municípios  que  também  assumiram  a  construção  e  manutenção  destes  espaços.  Os  
particulares   foram,   de   igual   modo,   agentes   activos   e   alguns   deles   tiveram   bastante  
expressão  na  história  das  escolas  primárias  em  Portugal.  Por  exemplo,  o  Conde  de  
Ferreira,  já  referido  aquando  da  análise  e  classificação  do  Tipo  Conde  de  Ferreira,  nos  
pontos  3.1  e  4.1.1.  na  Parte  II,  que  no  que  diz  respeito  à  cidade  do  Poro  terá  contri-
buído,  através  do  seu  testamento,  para  a  construção  das  escolas  nas  freguesias  de  
Campanhã,  Lordelo  do  Ouro  e  de  Ramalde.

Internacionalmente   surge   o   conceito   de   Escola   Central,   agregado   a   movimentos   de  


modernização   educacional   da   escola   primária,   que   explorava   a   ideia   da   existência  
de   mais   do   que   um   professor,   a   fim   de   ser   repartida   a   responsabilidade   sobre   as  
diferentes  matérias,  e  substituindo  a  premissa  de  um  professor  a  leccionar  todas  as  
disciplinas.  

Em  Portugal,  a  evolução  deste  conceito  resulta  na  existência  de  classes  definidas  por  
idades  e  grau  de  desenvolvimento  escolar,  com  um  espaço  de  aula  individualizado,  
sendo  cada  uma  entregue  a  um  professor.  A  escola  tornou-­se  um  conjunto  de  classes  
de  vários  níveis,  com  um  director  a  coordenar  o  grupo.

A  primeira  alusão  às  Escolas  Centrais,  na  cidade  do  Porto,  data  de  1882,    e  está  ex-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 223


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

pressa  numa  acta  de  reunião  de  Câmara,  onde  se  vincava  a  intenção  de  explorar  este  
tipo  de  escolas,  em  virtude  dos  aparentes  benefícios  do  seu  modelo  de  funcionamento  
ao  nível  da    progressão  da  aprendizagem  dos  alunos.  (Beja,  2010,  p.156)

Segundo   Beja   (2010),   desconhece-­se   a   primeira   concentração   desta   forma   de   Es-


colas  na  cidade  do  Porto,  mas  refere,  citando  Felgueiras  (2006),  que  mais  tarde,  em  
Fevereiro  de  1887,  a  Escola  Paroquial  de  Cedofeita  (ilustrações  107  e  108)  teve  au-
torização  para  passar  a  Escola  Central.  O  edifício  para  a  instalação  das  referidas  Es-
colas  Oficiais,  datado  de  1885,    encontrava-­se  implantado  num  terreno  da  Quinta  do  
Priorado,  por  estimulo  da  Junta  de  Freguesia  de  Cedofeita,  e  viria  a  sofrer  ampliações  
e   readaptações   em   1991   (pensa-­se   que   com   o   propósito   de   conseguir   uma   melhor  
resposta  a  este  programa).  Com  efeito,  apesar  da  importância  e  reconhecimento  que  
este  edifício  auferia  no  meio  escolar,  acabou  por  ser  demolido,  com  a  justificação  de  
uma  necessidade  imperiosa  de  remodelação  da  área  envolvente  da  Igreja  Românica  
de  Cedofeita.

Ilustração 107 -  Planta.  Escolas  Oficiais  da  Cedofeita  (demoli-


das  em  1957),  Porto  (Beja  et  al.,  2010,  p.157)

Ilustração 108 -  Escolas  Oficiais  da  Cedofeita  (demolidas  em  


1957),  Porto  (Beja  et  al.,  2010,  p.157)

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 224


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ainda  no  início  do  séc.  XIX,  surge  a  figura  dos  jardins-­escola,  contudo  a  sua  materiali-
zação  em  edifícios  próprios  remete-­se  para  finais  do  séc.  XIX,  início  do  séc.  XX.

Com  a  República  é  instituído,  por  decreto-­lei,  a  23  de  Agosto  de  1911,o  ensino  infantil  
oficial.   Estavam   previstas   escolas   para   cada   um   dos   bairros   de   Lisboa   e   do   Porto,  
pelo   que   é   importante   referir   esta   realidade   complementar   do   ensino   primário,   que  
no  entanto  não  será  objecto  de  análise  neste  estudo.  Refere-­se  apenas  a  particular  
circunstância  do  jardim-­escola  da  Praça  da  Alegria,  inaugurado  em  1916  pela  Câma-
ra  Municipal  do  Porto,  e  que  em  1938  passa  a  escola  primária.  Em  1950  o  edifício  é  
demolido  para,  em  1957,    ser  construído  um  projecto  do  arquitecto  Camilo  de  Paiva  
Soares,  que  ainda  hoje  se  mantém,  no  Passeio  Alegre  da  Foz  do  Douro  (Beja,  2010,  
p.  161)  .(ilustração  109)

Ilustração 109 -   Jardim   de   infância   do   Passeio  Alegre,   construído   pela   C.M.P.  


(1916),  sob  a  presidência  de  Alfredo  Magalhâes  (Beja  et  al.,  2010,  p.157)

A  primeira  guerra  Mundial  atrasa  a  propagação  das  construções  escolares  portugue-


sas,  pelas  circunstâncias  políticas  e  económicas  adversas.

Nos  anos  seguintes  é  a  figura  proeminente  do  engenheiro  Duarte  Pacheco,  com  uma  
permanência  de  pouco  mais  de  sete  meses  como  Ministro  da  Instrução,  que  orienta  
várias   comissões   de   estudo,   preocupado   em   ultrapassar   o   analfabetismo,   fomentar  
hábitos  de  leitura  e  reorganizar  os  corpos  administrativos,  técnicos  e  os  docentes  dos  
estabelecimentos  dos  diferentes  graus  de  ensino,  primário,  liceal  e  universitário.  Se-
gundo  Almeida  (2009),  foi  um  curto  período  de  tempo  de  acção  política,  com  influência  
em  vários  aspectos,  entre  eles  a  criação  de  condições  favoráveis  à  formação  de  resi-
dências  para  estudantes  e  à  renovação  dos  espaços  do  ensino,  que  quando  termina  
lega  laivos  de  retrocesso  sobre  o  ensino  primário  (Almeida,  2009,  p.402).

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 225


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

5.2.2. O PERÍODO MODERNISTA E A ARQUITECTURA PORTUENSE _ A ARQUITECTURA

DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS

Os  anos  40  e  50  foram  intensos  em  termos  de  produção  arquitectónica  interventiva,  em  
oposição   ao   contexto   cultural   nacional   veiculado   à   tradição.   O   pós-­guerra   reflecte-­se  
internacionalmente  em  grandes  transformações  sociais.  Em  Portugal  observa-­se  um  
notório  esgotamento  do  estado,  na  tentativa  de  dar  resposta  a  uma  intensa  migração  
interna,   das   localidades   mais   rurais   para   as   grandes   cidades,   Lisboa   e   Porto.   Esta  
significativa  mobilidade  da  população  faz  com  que  as  urbes  precisem  de  readaptar  as  
suas   infra-­estruturas,   por   exemplo   ao   nível   dos   equipamentos   (onde   se   inserem   as  
escolas  primárias)  e  do  alojamento  social  colectivo,  a  fim  de  dar  resposta  a  uma  nova  
demografia.

É  neste  contexto  que,  subtilmente,  se  abre  um  espaço  para  novas  arquitecturas  pú-
blicas,  de  superficial  expressão  moderna,  que  numa  primeira  fase  não  convencem  as  
hostes   do   regime   mais   avessas   ao   progresso   e   presas   a   revivalismos   historicistas,  
contrários  aos  dogmas  modernistas.  

Sabe-­se   que   as   primeiras   experiências   arquitectónicas   portuguesas   sob   os   novos  


pressupostos   do   modernismo   nunca   se   desligaram   por   completo   de   uma   espécie  
de  tendência  regionalista,  conferindo  aos  primeiros  edifícios  um  carácter  modernista  
pouco   profundo,   próprio   de   um   país   afastado   de   uma   nova   tectónica,   resultante   da  
aplicação  destes  novos  princípios,  articulados  com  o  uso  de  novas  técnicas  constru-
tivas.   Importa   referir   que   alguns   destes   objectos   arquitectónicos   serviram   o   regime,  
representando-­o  em  certames  internacionais,  com  o  intuito  de,  através  das  novas  lin-
guagens  emergentes  neles  utilizadas,  fazer  passar  a  imagem  de  um  Estado  menos  
retrógrado  e  fechado.

Neste  momento  da  história  da  arquitectura,  o  Porto  ocupa  um  lugar  especial.  As  pre-
missas  do  movimento  moderno  tiveram  reflexos  singulares  na  produção  arquitectóni-
ca  portuguesa,  particularmente  através  da  obra  marcante,  produzida  por  um  conjunto  
de   arquitectos   do   Porto.   Surge,   assim,   uma   influente   produção   arquitectónica,   sus-
tentada  em  movimentos  politicamente  informados.  Este  grupo  organiza-­se  e  constitui  
a  O.D.A.M.,  Organização  dos  Arquitectos  Modernos  (1947),  que  na  sua  forma  traduz  
uma  procura  da  evolução  do  entendimento  arquitectónico  subjacente  à  “actualização  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 226


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

e   estabelecimento   de   uma   arquitectura   de   ensinamento   ajustada   às   condições   de  


ordem  social,  humana  e  histórica  da  sua  época”  (Rosa,  2005,  p.12).  Estes  arquitec-
tos,  precedidos  por  uma  geração  da  qual  faziam  parte  Arménio  Losa,  Viana  de  Lima,  
Januário  Godinho,  entre  outros,  que  já  se  havia  demonstrado  atenta  e  curiosa  perante  
os  pioneiros  do  Movimento  Moderno,  estavam  muito  ligados  à  Escola  de  Belas  Artes  
do  Porto.  Efectivamente,  estes  que  possuíam  uma  outra  leitura  das  siglas  da  sua  or-
ganização,  como  semdo  Organização  em  Defesa  de  uma  Arquitectura  Moderna,  bas-
tante  elucidativa  quanto  aos  seus  desígnios.  É  por  toda  esta  dinâmica  que  no  Porto  
se  consegue  assegurar  a  continuidade,  entre  gerações  de  arquitectos,  dos  primeiros  
curiosos  do  Modernismo  até  aos  efectivos  praticantes  das  suas  premissas.

Já  os  seus  pares  lisboetas,  pela  proximidade  e  dependência  do  poder  central  e  tendo  
o    Estado  como  principal  fomentador  da  prática  arquitectónica,  consentiram    a  perma-
nência  dos  preceitos  estabelecidos  pela  arquitectura  tradicional  portuguesa.  Como  é  o  
caso  do  edifício  do  Pavilhão  de  Portugal  em  Paris  (1937),  do  arquitecto  Keil  do  Amaral  
(FIG.x),  no  qual  se  procura  articular,  de  uma  forma  equilibrada,  uma  linguagem  arqui-
tectónica  tradicional  portuguesa  com  a  modernidade  (Fernandez,  1985,p.28).    

Ilustração 110 -  Pavilhão  de  Portugal  (1937),  arquitecto  Keil  do  Amaral  (Em  linha)  (consultado  em  02  
de  Junho  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://restosdecoleccao.blogspot.com  >

Perante  o  revés  do  fascismo  e  após  a  Segunda  Grande  Guerra  Mundial,  o  regime  de  
Salazar  vê-­se  numa  posição  de  forte  fragilidade.  Assiste-­se  a  um  resfriar  da  austerida-
de  e  do  controlo  de  vários  sectores,  entre  os  quais  a  cultura  e  todas  as  suas  manifes-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 227


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tações,  onde  se  inserem  a  arquitectura  e  os  preceitos  do  ensino.  De  qualquer  modo,  
a  transformação  da  linguagem  arquitectónica  revela-­se  demorada.    

Em  1948  realiza-­se  um  congresso  decisivo  na  transformação  dos  contornos  austeros  
e  de  foro  regionalista,  condicionante  que  vinha  sendo  imposta  à  conceptualização  ar-
quitectónica.  Precedido  de  acções  pontuais  mas  com  impactos  perceptíveis  no  meio,  
referimos  a  constituição  do  I.C.A.T.,  em  1946,  a  revista  “Arquitectura”  metamorfoseada  
por  Keil  do  Amaral,  com  base  nas  acções  de  debate  entretanto  realizadas,  e  a  criação  
da  O.D.A.M.,  em  1947.  Esta,  ao  assumir  um  carácter  interventivo,  realiza  em  1951  a  
sua  primeira  exposição  e  o  1º  Congresso  Nacional  de  Arquitectura  transforma-­se  num  
momento  de  viragem  na  reconquista  da  liberdade  de  expressão.(ilustração  111)

Ilustração 111 -   cartaz   do   1º   congresso   Nacio-


nal   de   Arquitectos   (Em   linha)   (consultado   em   05  
de   Junho   de   2012)   disponível   em   WWW:   <   URL:  
http://oasrn.org  >

Esse  espaço  de  discussão  e  de  afirmação  serviu,  sem  qualquer  coação  nem  obrigato-
riedade  de  estilo,  para  reivindicar  a  posição  dos  arquitectos  enquanto  agentes  activos  
no  desenho  das  cidades  e  no  reordenamento  do  território,  bem  como  para  intervir  na  
resolução  das  questões  inerentes  ao  habitar.  As  Teses  que  daí  advieram,  determina-
das  também  pela  participação  de  um  grande  número  de  arquitectos,  resultaram  em  
valiosos  documentos  de  uma  surpreendente  e  admirável  actualidade,  que  eram,  fun-
damentalmente,  o  reflexo  da  apologia  ao  movimento  moderno.  A  libertação  estilística  
que  se  sucede,  característica  deste  período  de  ruptura  (década  de  50),  resulta    tam-
bém  no  questionar  dos  dogmas  do  modernismo,  permitindo,  nesse  intervalo  de  tempo,  
uma  expressão  simultânea  de  arquitecturas  regionalistas  e  modernas,  organicistas  e  
racionalistas,  cruzando  três  gerações  de  arquitectos.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 228


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Os  arquitectos  do  Porto  não  viviam  das  grandes  encomendas  públicas,  ao  contrário  
dos  seus  pares  lisboetas,  por  razões  que  dizem  respeito  à  diferença  de  escala  entre  
as  duas  cidades  e  pela  óbvia  centralização  do  poder  administrativo.  Os  seus  projectos  
de   cariz   pontual   resultavam   de   encomendas   efectuadas   por   particulares,   no   entan-
to   este   facto   permitiu-­lhes   uma   maior   liberdade   conceptual,   pelo   que,   no   Porto,   se  
gerou   e   afirmou   uma   linguagem   arquitectónica   muito   própria.   Importa   salientar   que  
os   ateliers   se   revelaram   determinantes   nestas   experimentações   arquitectónicas   de  
reconhecida   modernidade;;   referimo-­nos   aos   arquitectos   Januário   Godinho,  Artur   de  
Andrade,  Cassiano  Barbosa,  Arménio  Losa  e  Viana  de  Lima,  entre  outros.  Sucede-­se  
uma  geração  de  arquitectos,  que  se  forma  no  final  da  década  de  40,  e  que  integra  no-
mes  como  Fernando  Távora,  Pereira  da  Costa,  Mário  Bonito,  Agostinho  Ricca  e  Carlos  
Loureiro,  entre  outros.  Efectivamente  os  trabalhos  que  desenvolveram  “em  torno  da  
problemática  habitacional,  vão  legitimar  a  crescente  importância  das  intervenções  le-
vadas  a  efeito  na  década  de  50  e  60”.  (Gaspar,  2006,  p.185)

Toda  esta  dinâmica  de  intervenção  reflectiu-­se  nas  obras  de  arquitectura  que  se  foram  
implantando  pela  cidade  do  Porto,  entre  elas  o  Bloco  da  Constituição  e  o  Edifício  da  
Rua  de  Ceuta,  dos  arquitectos  Arménio  Losa  e  Cassiano  Branco,  e  o  Bloco  do  Par-
naso  (fig.x),  do  arquitecto  Carlos  Loureiro,  que  sobressaem  pelas  vivências  pessoais  
e  pelas  memórias  da  sua  existência,  referências  na  cidade,  sem  desmerecer  um  sem  
número  de  outras  obras  da  época  às  quais  se  reconhece  igual  importância  e  que  en-
riquecem  o  património  arquitectónico  desta  cidade.  

Ilustração 112 -  Edifício  da  rua  de  Ceuta  dos  arquitectos  Arménio  
Losa   e   Cassiano   Branco   (Em   linha)   (consultado   em   01   de   Maio   de  
2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://arkitectos.blogspot.com  >

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 229


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 113 e 114 -  Bloco  do  Parnaso  (1954),  arquitecto  Carlos  Loureiro  (Em  linha)  (consultado  em  01  de  Maio  de  2012)  disponível  
em  WWW:  <  URL:  http://nferreira.co.cc  >

Neste  período  o  Porto  transforma-­se  numa  referência  nacional  em  virtude  das  expe-
rimentações   arquitectónicas   de   carácter   modernista,   onde   se   inserem   alguns   edifí-
cios de escolas primárias, que se multiplicam pela cidade, objecto deste estudo e em
análise   no   capítulo   seguinte.  Alguns   arquitectos   de   Lisboa,   entre   os   quais   Teotónio  
Pereira,  revelaram  desde  logo  interesse  em  ver  essa  arquitectura  moderna.  (Gaspar,  
2006,  p.186)

A  ideia  de  Escola  do  Porto,  intensamente  ligada  a  Carlos  Ramos,  define-­se  pela  prá-
tica    dos  seus  intervenientes  e  dos  recém-­licenciados  dos  C.O.D.A.  39,  no  contexto  da  
arquitectura   moderna   portuguesa.   Em   contraponto   Lisboa   mantinha   a   vigência   das  
suas  premissas  de  academia,  condicionadas  pela  proximidade  do  poder.  De  qualquer  
modo,  foi  graças  à  Câmara  Municipal  de  Lisboa,  na  época  o  maior  promotor  de  obras  
públicas    do  país,  que  se  experimentou,  no  Bairro  de  Alvalade,  as  primeiras  interven-
ções  urbanas  modernas,  onde  se  ensaiaram  os  pressupostos  da  Carta  de  Atenas  e  os  
preceitos  enunciados  nos  C.I.A.M.  40.  Esta  intervenção  em  Lisboa  precede  muitas  ou-
tras  de  cariz  modernista,  todavia  os  programas  que  dependiam  de  forma  mais  directa  
do  poder  e  da  Igreja  (Tribunais,Universidades  e  Igrejas)  mantiveram  a  sua  linguagem  
arquitectónica  cenográfica  e  monumental.  Este  panorama  começa  a  alterar-­se  lenta-
mente,  através  de  intervenções  pontuais  que  contrapunham  à  estereotipada  e  monu-
mental  arquitectura  nacionallista.

39    
Concurso  para  a  Obtenção  do  Diploma  de  Arquitecto.

Congressos  Internacionais  de  Arquitectura  Moderna,  que  já  tivemos  oportunidade  de  referir  no  ponto  
40    

2.,  na    Parte  I  deste  estudo.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 230


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Surge,  deste  modo,  uma  nova  perspectiva  que  procura  conjugar,  teoricamente,  a  atitu-
de  tradicional  com  perspectivas  mais  racionais;;  introduz-­se  também  a  ideia  de  tempo,  
lugar  e  história  como  complementos  da  produção  moderna.  A  arquitectura  nacional  e  
os  arquitectos  portugueses  iniciam  a  procura  de  uma  linguagem  apoiada  na  tradição  e  
no  meio.   41  O  Inquérito  à  Arquitectura  Tradicional  Portuguesa,  iniciado  em  1955,  com  
as  questões  que  levanta  aquando  da  sua  génese,  conclui  que  a  diversidade  cultural,  
espelho  de  cada  região,  não  se  traduz  num  único  estilo  genuinamente  português.  Tal  
percepção  permitiu  traduzir  na  linguagem  arquitectónica  um  compromisso  com  a  reali-
dade  portuguesa,  agora  devidamente  identificada,  em  simultâneo  com  os  presupostos  
do  movimento  moderno.

Acresce  falar  da  figura  do  arquitecto  Fernando  Távora,  figura  importante  deste  con-
texto  arquitectónico  teórico  /  prático   42,  e  da  sua  experiência  enquanto  arquitecto  da  
escola  Primária  do  Cedro  (ilustrações  114  e  115).  Apesar  de  não  integrar  a  área  do  
estudo,  esta  escola  primária  é  singular.  Tem  uma  arquitectura  de  referência,  pelo  seu  
desenho  revelador  dos  princípios  organicistas  que  resultam  numa  arquitectura  mais  
humana  e  sensível,  respeitando  o  contexto  onde  se  insere.  Com  efeito,  o  organicis-
mo  surge  como  reação  aos  princípios  modernistas  da  racionalização  da  arquitectura,  
como  já  foi  observado,  a  par  da  estreita  relação  com  as  tecnologias,  e  resulta    numa  
padronização  com  enfoque  na  função  e  na  organização  racional  das  estruturas  pro-
gramáticas.        

Ilustração 114 e 115 -  Escola  do  Cedro  (1958-­1961),  arquitecto  Fernando  Távora  (Em  linha)  (consultado  em  01  de  Maio  de  2012)  dispo-
nível  em  WWW:  <  URL:  http://nferreira.co.cc  >  

Este  processo  inicia-­se  com  Keil  do  Amaral,  que  em  1955  desencadeia  o  Inquérito  à  Arquitectura  Popu-
41    

lar  Portuguesa,  mas  já  em  1947,  Fernando  Távora  iniciará  numa  perspectiva  teórica  uma  reflexão  sobre  
a  “casa  Portuguesa”  e  o  regionalismo.

Congressos  Internacionais  de  Arquitectura  Moderna,  que  já  tivemos  oportunidade  de  referir  no  ponto  
42    

2.,  na    Parte  I  deste  estudo.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 231


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

5.2.3. AS ESCOLAS PRIMÁRIAS PROJECTADAS E CONSTRUÍDAS PELA CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO

Um  momento  particular  e  decisivo  na  arquitectura  escolar  portuense  ocorre  quando  a  


Câmara  Municipal  passa  a  poder  discernir  sobre  a  conceptualização  e  construção  das  
suas  escolas.  Foi  o  Decreto-­Lei  nº39  982,  de  21  de  Dezembro  de  1954  43, que permitiu
à  autarquia  gerir,  dentro  das  suas  possibilidades  económicas  e  das  suas  limitações  na  
área  da  tectónica,  os  processos  relativos  às  escolas  primárias.

No  processo  de  sedimentação  da  Escola  do  Porto  surge  a  geração  de  arquitectos  que  
ingressa  nos  quadros  da  Câmara  Municipal,  no  final  da  década  de  40.    (Gaspar,  2006,  
p.190)  De  facto,  os  arquitectos  Lúcio  Miranda,  Alexandre  Sousa  e  Alberto  Rosmaninho  
tiveram  um  papel  determinante  neste  período  de  novas  expectativas,  modernização  
e     transformação   nas   formas   de   acção   da   autarquia.   O   Porto   tinha   Robert  Auzelle  
como  consultor  (ilustração  116),  pelo  que  a  Câmara,  sob  a  sua  influência,  procurou  
renovar-­se  ao  nível  do  desenho  urbano,  impulsionando  o  desenvolvimento  de  planos,  
de  carácter  experimental,  para  novos  bairros  municipais,  no  que  diz  respeito  às  pre-
missas  da  Carta  de  Atenas,  em  simultâneo  com  a  construção  de  novos  equipamentos  
desportivos  (campos  de  desporto  e  piscinas  municipais).  

Ilustração 116 -  O  Plano  director  de  Auzelle,  elaborado  em  1956  e  1962,  propunha-­se  a  reforçar  a  ideia  do  Porto  como  capital  regional,  
como  centro  da  região  na  sua  componente  administrativa,  financeira,  cultural  e  turística  (Em  linha)  (consultado  em  02  de  Maio  de  2012)  
disponível  em  WWW:  <  URL:  http://doportoenaoso.blogspot.com  >

Este  decreto-­lei    nº39  982,  de  21  de  Dezembro  de  1954,  possibilita  quer  à  Câmara  municipal  do  Porto,  
43    

quer  à  Câmara  Municipal  de  Lisboa  a  decisão  sobre  o  projecto  e  a  construção  das  suas  escolas,  garan-
tindo  o  cumprimento  das  normas  vigentes.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 232


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

A  transferência  dos  projectos  das  escolas  primárias  para  a  Câmara,  mais  concreta-
mente   para   a   Repartição   de   Obras   Municipais,   permite,   através   da   nova   liberdade  
conceptual  conseguida  pela  distância  face  ao  poder  central,  descolar  da  ideia  pré-­con-
cebida  de  escola  primária  eternamente  conotada  com  o  arquétipo  da  casa  portuguesa  
e  aprofundar,  com  base  nas  novas  pesquisas  pedagógico/arquitectónicas  desenvolvi-
das  internacionalmente,  novas  temáticas  ao  nível  dos  programas  que  se  materializam  
em   novas   morfologias.  A   questão   da   escala   destes   edifícios-­tipo   determinados   pelo  
regime,  também  se  impõe  como  condicionante,  quando  estes  se  revelam  pequenos  
e  inadequados  às  novas  condicionantes  programáticas.  Surge,  assim,  uma  nova  rea-
lidade  urbana,  à  qual  os  projectos  das  escolas  primárias,  agora  responsabilidade  da  
autarquia,  também  terão  de    responder.  Estes  projectos  para  a  cidade  do  Porto  não  
foram  atribuídos  a  profissionais  reconhecidos  no  meio  arquitectónico,  ao  contrário  do  
que  sucedeu  em  Lisboa.  É  importante  referir  que  os  pressupostos  arquitectónicos  que  
estes  novos  projectistas  utilizaram  não  eram  ainda  absolutamente  evidentes,  tão  pou-
co  se  encontravam  estabilizados  internacionalmente.  Com  efeito,  a    U.I.A.  44,  perante  
um  panorama  pouco  claro,  resolve  elaborar  um  estudo  orientado  por  Alfred  Roth   45,
em  torno  do  tema  dos  edifícios  escolares,  com  o  intuito  de  se  estabelecerem  premis-
sas   gerais   para   a   abordagem   dos   programas,   racionalizando   a   produção   dos   edifí-
cios,  com  o  objectivo  de  alcançar  uma  maior  rapidez  na  sua  execução.  Esta  entidade  
introduziu   algumas   iniciativas   para   potenciar   o   investimento   na   arquitectura   escolar  
em  Portugal.  Foi  o  caso  do  3º  Congresso  em  Lisboa,  em  1953,  no  qual  se  definiram  
as  condições  mínimas  a  adoptar  nos  edifícios  escolares  e  de  onde  resultaram  várias  
acções  conjuntas  com  a  U.N.E.S.C.O.,  entre  as  quais  a  Carta das Construções Esco-
lares,  publicada  em  1959.  (Heitor,  2011,p.2)

Numa  primeira  fase,  antes  da  aplicação  do  Decreto-­Lei  de  21  de  Dezembro  de  1954,  a  
autarquia  desenvolveu  soluções  arquitectónicas,  na  procura  de  novas  abordagens  ao  
espaço  escolar,  detentoras  de  preocupações  de  eficácia  construtiva  e  económica;;  no  
entanto,  a  aprovação  formal  dos  projectos  mantinha-­se  a  cargo  do  poder  central.  Era  

44    
União  Internacional  dos  Arquitectos.

Alfre  Roth  é  um  arquitecto  suíço  que  está  relacionado  com  o  projecto  da  escola  piloto  de    Mem  Mar-
45  

tins,  resultado  dos  estudos  em  torno  de  uma  nova  filosofia  de  ensino,  materializada  nas  Escolas  de  Àrea  
Aberta.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 233


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a  D.G.E.M.N.   46  que  detinha  esse  poder  e  exercia-­o  através  de  um  engenheiro,  não  
de  um  arquitecto,  detentor  da  formação  necessária  a  uma  análise  crítica  dos  edifícios  
apresentados  para  aprovação.  Outro  aspecto  que  importa  referir  é  a  designação  atri-
buída  a  estes  projectos  que,  apesar  de  considerados  especiais,  continuaram  incluídos  
no  grupo  das  escolas  do  Plano  dos  Centenários.  Ficavam,  deste  modo,  limitados  por  
orientações  de  ordem  programática,  como  por  exemplo  a  norma  da  não  coeducação  
dos  sexos,  pelas  reduzidas  verbas  atribuídas  como  comparticipação  por  parte  do  Es-
tado  e  deveras  condicionados  pelas  predefinições  “dos  terrenos  e  sua  natureza,  tipos  
de  orientação,  de  iluminação  e  de  ventilação”.  (Gaspar,  2006,  p.191)

Apesar  da  presença  destas  condicionantes,  com  reflexos  negativos  na  desenvoltura  
conceptual  dos  edifícios  das  escolas  primárias  do  Porto,  a  década  de  50  revelou-­se  
rica  no  que  diz  respeito  à  produção  arquitectónica  dos  edifícios  escolares,  libertando-­se  
gradualmente  das  bases  educativas  que  permaneciam  contrárias  ao  progresso.

Os  projectos  das  escolas  primárias  levados  a  cabo  pela  Câmara  do  Porto,  quando  o  já  
referido  Decreto-­Lei  entrou  em  vigor,  consequentemente  posteriores  a  1954,  distingui-
ram-­se  no  panorama  da  arquitectura  escolar,  nacional,  pela  quantidade  e  qualidade  
arquitectónica  diferenciada  e  pelo  contributo,  enquanto  mais  valia  arquitectónica  dos  
lugares  onde  foram  implantados.

Esta  produção  pode  ser  balizada  até  1974,  e  ser  perspectivada  em  duas  fases  rela-
cionadas  com  a  obrigatoriedade  ou  não  obrigatoriedade  da  não  coeducação    (Gaspar,  
2006,p.64).    A  partir  do  momento  em  que  se  permitiu  a  educação  comum  de  rapazes  
e  raparigas,  a  aplicação  dos  programas  tornou-­se  menos  rígida  pedagogicamente  e  
com  maior  qualidade  e  flexibilidade  morfológicas,  permitindo  inclusivamente  a  introdu-
ção  de  novas  funções  a  par  de  novos  princípios  de  organização  espacial.

Na  década  de  60,  estudos  desenvolvidos  pelo    Ministério  da  Educação  Nacional,  em  
colaboração  com  a  O.C.D.E.47  (na  sequência  do  designado  Projecto  Regional  do  Me-
diterrâneo  (PMR)  do  qual  Portugal  fazia  parte  juntamente  com    a  Turquia,  Espanha,    

A  Direção  Geral  dos  Edifícios  e  Monumentos  Nacionais  era  o  serviço  central  do  Ministério  do  Equipa-
46    

mento,   do   Planeamento   e   da  Administração   do  Território,   do   governo   de   Portugal,   com   atribuições   de  


salvaguarda  e  valorização  de  património  arquitectónico  e  de    instalação  de  serviços  públicos.

47    
O.C.D.E.  -­  Organização  para  a  Cooperação  e  Desenvolvimento  Económico,  é  uma  organização  inter-
nacional  de  34  países  que  aceitam  os  princípios  da  democracia  representativa  e  da  economia  de  livre  
mercado.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 234


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Grécia,   Jugoslávia   e   Itália)   e   cujo   intuito   era   estabelecer   o   planeamento   de   objec-


tivos   educacionais   por   um   período   de   15   anos,   precedem   a   formação   de   um   grupo  
de   trabalho   português,   o   G.T.S.C.E.   48,   que   desenvolveu,   entre   outros,   um   projecto  
piloto  destinado  ao  ensino  primário.    (Heitor,  2011,  p.2)    Segundo  Heitor,  este  modelo  
baseava-­se  em  formas  activas,  descentrallizadas  do  trabalho  lectivo,  e  procurava  in-
centivar  o  desenvolvimento  de  actividades  complementares  à  sala  de  aula,  através  de  
uma  nova  configuração  deste  espaço  lectivo,  de  novos  equipamentos  e  modelos  de  
mobiliário,  que  permitiriam  uma  nova  flexibilidade  do  uso  dos  espaços.  Esta  ideia  de  
projecto,  que  acabou  por  ser    construída  em  Mem  Martins,  funcionou  como  um  balão  
de  ensaio  para  os  Projectos  Normalizados  de  Escolas  Primárias,  levados  a  cabo  pela  
D.G.C.E.,  em  1970,  e  reconhecidos  pela  designação  P3  (neste  estudo  encontram-­se  
analisados  e  designados  como  Tipo   P3,   escola   de   Área  Aberta,   no   ponto   4.1.6.,   na  
Parte  II).  É  importante  referir  que,  no  Porto,  existe  no  bairo  de  S.  Tomé  a  escola  que    
identificámos  com  o  nº53,  o  único  exemplo  deste  tipo  na  cidade.

A  década  de  70,  principalmente  pós  25  de  Abril  de  1974,  pelas  transformações  polí-
ticas   e   sociais   que   comporta,   revela-­se   particularmente   intensa   na   diversidade   das  
linguagens  arquitectónicas.  Como  já  foi  referido  no  ponto  anterior,  surgem  entretanto  
posições   contrárias   aos   dogmas   trazidos   pelo   movimento   moderno   e   delas   nascem  
experiências  arquitectónicas  de  cariz  organicista,  mais  preocupadas  com  o  lugar,  as  
relações   com   o   Homem   e   o   contexto   cultural   em   que   se   inserem.   Este   panorama  
reportado  à  cidade  do  Porto  acaba  por  resultar  na  construção  de  escolas  primárias,  
que  respondem  eficazmente  aos  requisitos    funcionais  e  programáticos,  segundo  mor-
fologias   compostas   por   diferentes   elementos   de   tendências   divergentes,   por   vezes  
alheias   às   propriedades   particulares   do   contexto   urbano   em   que   se   inserem.   Esta  
conjectura  manifesta-­se  praticamente  inalterada  até  aos  dias  de  hoje,  na  sequência  
de,  após  a  decada  de  90,  ter-­se  assistido  a  um  intenso  abrandar  do  volume  de  escolas  
construídas,  não  só  no  Porto  como  em  todo  o  país.  Optou-­se,  deste  modo,  por  políti-
cas  de  manutenção,  que  muitas  das  vezes  visaram  a  ampliação  e  reestruturação  dos  
esquemas  e  programas  funcionais  dos  edifícios  preexistentes.

5.3. OBRAS SELECCIONADAS _ CIDADE DO PORTO

48    
G.T.S.C.E._Grupo  de  Trabalho  Sobre  as  Construções  Escolares,  integrado  na  Junta  das  Construções  
para  o  Ensino  Técnico  e  Secundário  (J.C.E.S.T.S.)  do  MOP.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 235


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5.3.1. OS DIFERENTES GRUPOS DE EDIFÍCIOS DE ESCOLAS PRIMÁRIAS NO PORTO _


HISTÓRICO, ESTADO NOVO, MOVIMENTO MODERNO (C.M.P.), CASOS ESPECIAIS C.M.P., E

CONTEMPORÂNEOS

Aos   edifícios   seleccionados   das   escolas   primárias,   ainda   em   funcionamento,   na   ci-


dade  do  Porto,  foi  atribuído  um  número  que  corresponde  à  ordem  cronológica  da  sua  
construção,  tendo-­se  optado  por  catalogá-­los  segundo  grupos,  de  forma  a  encadear  
a   análise   segundo   critérios   cronológicos   (data   da   construção)   e   tipológicos.   Resu-
midamente,   os   grupos   foram   designados   por:   Histórico,   circunscrito   a   um   intervalo  
de  tempo  entre  1890  e  1929  ;;  Estado  Novo,  balizado  entre  os  anos  de  1938  e  1955;;  
Movimento  Moderno  (C.M.P.),  num  período  compreendido  entre  1954  e  1965;;  Casos  
Especiais   C.M.P,   circunscritos   entre   1965   e   1974;;   e   Contemporâneos,   de   1975   até  
1990.  (ver  ilustração  117)

Ilustração 117 -  Mapa  com  a  distribuição  das    escolas  primárias  do  Porto,  onde  se  identificam  pelas  cores  os  respectivos  grupos  a  
que  pertencem.

Legenda das cores - Grupo  Histórico  (1890-­1929)                                                                                                                                Estado  Novo  (1938-­1955)            

                                                                                         Movimento  Moderno  (C.M.P.)  (1954-­1965)                                                                                    Casos  Especiais  C.M.P.  (1965-­1974)

Contemporâneos  (1975-­1990)

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 236


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Correspondência dos números aos nomes actuais das escolas - 01  -­  EB1  do  Campo  24  de  Agosto;;   02  -­  EB1  das  Florinhas;;  
03  -­  EB1  de  Carlos  Alberto;;   04  -­  EB1  da  Ponte;;   05  -­  EB1  JI  da  Bandeirinha;;   06  -­  EB1  de  S.  Miguel  de  Nevogilde;;   07  -­  EB1  JI  das  
Cruzes;;   08  -­  EB1  da  Gólgota;;   09  -­  EB1  do  Pinheiro;;   10  -­  EB1  S.  Miguel;;   11  -­  EB1  dos  Miosótis;;   12  -­  EB1  das  Condominhas;;   13 -
EB1  JI  Nª  Sª  de  Campanhã;;   14  -­  EB1  JI  Nª  Sª  da  Azenha;;   15  -­  EB1  JI  dos  Correios;;   16  -­  EB1  JI  S.  Roque  da  Lameira;;   17  -­  EB1  de  
Montebello;;  18  -­  EB1  de  S.  João  de  Deus;;  19  -­  EB1  de  S.  João  da  Foz;;  20  -­  EB1  de  S.  Martinho  de  Aldoar;;  21  -­  EB1  da  Sé;;  22  -­  EB1  
do  Bom  Sucesso;;   23  -­  EB1  JI  da  Lomba;;   24  -­  EB1  da  Constituição;;   25  -­  EB1  JI  da  Corujeira;;   26  -­  EB1  JI  de  Lordelo;;   27  -­  EB1  JI  da  
Pasteleira;;  28  -­  EB1  JI  Ribeiro  de  Sousa;;  29  -­  EB1  JI  do  Lagarteiro;;  30  -­  EB1  JI  do  Covelo;;  31  -­  EB1  JI  dos  Castelos;;  32  -­  EB1  JI  do  
Monte  Aventino;;   33  -­  EB1  JI  da  Caramila;;   34  -­  EB1  JI  da  Alegria;;   35  -­  EB1  JI  da  Agra;;   36  -­  EB1  JI  da  Vilarinha;;   37  -­  EB1  de  Costa  
Cabral;;  38  -­  EB1  Fernão  de  Magalhães;;  39  -­  EB1  JI  do  Padre  Américo;;  40  -­  EB1  JI  do  Cerco  do  Porto;;  41  -­  EB1  de  Fonte  da  Moura;;  
42  -­  EB1  JI  de  Noeda;;  43  -­  EB1  JI  António  Aroso;;  44  -­  EB1  da  Fontinha;;  45  -­  EB1  da  Torrinha;;  46  -­  EB1  JI  das  Campinas;;  47  -­  EB1  
JI  do  Aleixo;;   48  -­  EB1  do  Bom  Pastor;;   49  -­  EB1  JI  do  Falcão;;   50  -­  EB1  JI  Paulo  da  Gama;;   51  -­  EB1  José  Gomes  Ferreira;;   52  -­  EB1  
JI  do  Viso;;   53  -­  EB1  JI  de  S.  Tomé;;   54  -­  EB1  JI  das  Flores;;   55  -­  EB1  João  de  Deus;;   56  -­  EB1  Augusto  Leça;;   57  -­  EB1  JI  S.  Nicolau.

As  escolas  primárias  da  cidade  do  Porto,  tal  como  se  pode  observar  no  mapa  que  
representa   a   cidade   contemporânea,   ilustração   117,   distribuem-­se   pela   malha   ur-
bana   de   forma   coesa   e   harmoniosa,   garantindo   à   população   o   acesso   ao   ensino  
primário.   Verifica-­se   também,   pelas   diferenças   cromáticas   dos   pontos   que   assina-
lam  as  respectivas  implantações  destes  edifícios  escolares,  que  existe  uma  grande  
variedade   tipológica.   Este   aspecto   é   uma   das   razões   pela   qual   a   cidade   do   Porto  
foi  escolhida  como  objecto  complementar,  representativo  e  conclusivo  do  presente  
estudo.  De  facto,  as  variações  aos  tipos,  tal  como  foram  definidas  nos  capítulos  1  
e  2  da  Parte  II,  são  inúmeras  e  diversas.  A  observação  deste  território  mais  restrito,  
cidade  do  Porto,  e  o  que  foi  analisado  na  Parte  II,  Norte  de  Portugal,  permite  cons-
tatar  que,  apesar  de  um  passado  de  intransigência  formal  e  legislativa  que  vigorou  
durante  quatro  décadas  -­  de  Estado  Novo  (1933  a  1974),  precedida  da  fragilidade  
de  uma  Primeira  República  (1910  a  1926),  cheia  de  preceitos  mas  inconclusiva  nas  
abordagens,  e,  anteriormente,  pelos  últimos  anos  de  uma  Monarquia  enfraquecida  
(meados  do  séc.  XIX  até  1910)  onde  se  fizeram  as  primeiras  experiências  do  ensino  
aberto  à  população  -­  os  edíficios  das  escolas  primárias  portuenses  materializaram-­
se,  ajudando  a  compor  a  estrutura  urbana  da  cidade.

Os   grupos,   designados   e   balizados   temporalmente,   resultam   da   associação   dos    


edifícios   das   escolas   primárias,   segundo   presssupostos   que   vão   além   da   anterior  
catalogação  por  tipos,  na  sequência  da  supramencionada  diversidade  formal.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 237


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5.3.1.1. GRUPO HISTÓRICO (1890-1929)

Ilustração 118 -  Mapa  com  a  distribuição  das  escolas  primárias  do  Porto,  Grupo  Histórico  (1890-­1929).  

Correspondência dos números aos nomes actuais das escolas - 01  -­  EB1  do  Campo  24  de  Agosto;;  02  -­  EB1  das  Florinhas;;  03 -
EB1  de  Carlos  Alberto;;  04  -­  EB1  da  Ponte;;  05  -­  EB1  JI  da  Bandeirinha;;  06  -­  EB1  de  S.  Miguel  de  Nevogilde;;  07  -­  EB1  JI  das  Cruzes;;  
08  -­  EB1  da  Gólgota;;  09  -­  EB1  do  Pinheiro;;  10  -­  EB1  S.  Miguel

O  grupo  designado  por  Histórico  engloba  as  primeiras  escolas  primárias  que  a  cidade  
do  Porto  conheceu  (ilustração  118)  e  integra  construções  de  finais  do  séc.  XIX  e  do  
início  do  séc.  XX.

Verificou-­se  in  loco,  e  porque  foram  anteriormente  explorados  os  contextos  históricos  
que  caracterizam  a  realidade  pedagógico/morfológica  destes  edifícios  (ponto  3.1,  do  
capítulo  3,  da  Parte  II),  que  as  escolas  não  estão  todas  instaladas  em  edifícios  pen-
sados  originalmente  para  este  programa.  A  maior  parte  foi  implementada  em  edifícios  
preexistentes,  readaptados,  que  não  se  ajustam  pedagogicamente.    A  malha  urbana  
estreita  e  apertada,  característica  do  centro  histórico  do  Porto,  limita  a  operacionalida-
de  dos  programas  em  questão.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 238


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Ilustração 119 -  Carta  de  Augusto  Gerardo  Telles  Ferreira  de  1892,  publicada  em  1893  com  quase  todas  as  propostas  do  Plano  de  Me-
lhoramentos  e  onde  pela  primeira  vez    é  representado  todo  o  território  administrativo  da  cidade  independentemente  da  zona  urbanizada  
(Em  linha)  (consultado  em  02  de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://doportoenaoso.blogspot.com  >

Os  edifícios  escolares  designados  por    nº  1,  2,  3,  4,  5,  6,  7,  8,  9  e  10,  fazem  parte  deste  
grupo,  estando  apenas  os  nº  4,  6  e  7  deslocados  para  a  parte  poente  da  cidade.  Estas  
escolas  distinguem-­se  por  se  encontrarem  afastadas  do  centro,  em  novas  áreas  de  
expansão  da  cidade.  É  importante  referir  que  estes  edifícios  tinham  áreas  exteriores,  
não  lectivas,  com  percentagens  acima  dos  68%,  que  na  escola  nº  4,  chega  a  ser  de  
85%,  em  relação  às  áreas  lectivas,  cobertas,  que  se  colocavam  num  intervalo  entre  
os  18%  e  31%.  Ao  longo  do  período  de  funcionamento,  essas  áreas  livres  permitiam  
ajustes   programáticos,   que   se   reflectiram   no   acréscimo   de   construções   com   novas  
funções.  O  edifício  nº  7  enquadra-­se  no  que  foi  designado  por  Tipo  Conde  de  Ferreira,  
de  dois  pisos,  com  um  recreio  de  pequena  escala,  construído  com  o  propósito  de  ser  
escola  primária.  Existiam  outras  duas  escolas  Tipo  Conde  de  Ferreira,  de  apenas  um  
piso,  que  na  década  de  50,  mais  precisamente  em  1957,  foram  transformadas  pelo  
arquitecto  da  C.M.P.,  Camilo  Paiva  Soares  (Gaspar,  2002,  p.61),  na  que  foi  designada  
como  escola  nº  26.  A  única  relação  com  as  construções  anteriores,  para  além  do  lugar  
de   implantação,   foi   o   facto   de   o   regime   de   não   coeducação   manter-­se   na   distribui-
ção  funcional  do  programa.  Aliás,  a  nova  linguagem  arquitectónica  proposta  procura  
fundir-­se  com  a  envolvente  habitacional,  adquirindo  uma  imagem  que  se  mescla  com  
as  restantes  habitações.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 239


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Em  suma,  as  escolas  primárias  deste  grupo,  designado  de  Histórico,  distinguem-­se  por  
ocuparem  lotes  pequenos,  característicos  do  centro  histórico  do  Porto.  Ressalvam-­se  
apenas  as  dimensões  do  lote  da  escola  nº  1  e  da  escola  nº  5  que,  estando  situadas  
no  centro  da  cidade,  têm  áreas  de  implantação  consideravelmente  superiores  às  dos  
seus  pares.  Estes  edifícios,  de  um  modo  geral,  não  se  distinguem  dos  restantes  que  
compõem  o  quarteirão.  Implantam-­se  face  à  rua,  libertando  o  restante  espaço  do  lote  
para  recreio,  na  lateral  atrás  ou  no  centro  da  parcela.  Em  quase  todas  as  situações,  
a  implantação  dos  edifícios  corta  a  relação  de  visiblidade  com  a  rua,  proporcionando  
um  espaço  de  recreio  mais  protegido  no  seu  interior.  Convém  também  referir  que  os  
desenhos  das  fachadas,  por  terem  vãos  com  dimensões  condicionadas  pelos  siste-
mas  construtivos  da  época,  reduzem  a  relação  entre  o  exterior  e  os  espaços  lectivos.  
São  também  característicos,  em  grande  parte  dos  casos  de  estudo,  por  terem  a  área  
lectiva  superior  à  área  não  lectiva,  razão  que  advém  de  os  seus  programas  funcionais  
se  centrarem  essencialmente  no  espaço  da  sala  de  aula.  

Para  além  das  características  já  enunciadas,  neste  período,  na  cidade  do  Porto  de-
corria  a  reformulação  e  abertura  de  ruas,  a  instalação  de  uma  rede  de  saneamento,  
bem   como   a   melhoria   no   abastecimento   de   água,   e   a   reorganização   dos   serviços  
municipais  de  limpeza  e  de  combate  aos  incêndios,    questões  higienistas  que  também  
se  fazem  sentir  nas  premissas  das  novas  pedagogias  e,  consequentemente,  na  orga-
nização  destes  espaços  escolares.

As   propriedades   estruturantes   dos   edifícios   escolares   Tipo   Conde   de   Ferreira   -­   as  


primeiras  escolas  primárias  normalizadas  em  Portugal,  definidas  pela  portaria  de  20  
de  Julho  de  1866  (Beja  et  al.,1990,  p.280)  -­  não  se  aplicaram  neste  grupo,  sendo  pon-
tualmente  adaptadas  algumas  das  suas  premissas  aos  edifícios  preexistentes.  Como  
excepção  existe  a  já  referida  escola  nº  7  e  os  dois  edifícios  também  Tipo  Conde  de  
Ferreira,  que  antecederam  a  escola  agora  designada  de  nº  26.

Note-­se  que  as  escolas  Tipo  Adães  Bermudes,  promovidas  pela  Repartição  das  Cons-
truções   Escolares   da   Primeira   República,   também   poderiam   incluir-­se   neste   grupo,  
por  nele  se  contextualizarem  temporalmente,  mas  na  cidade  do  Porto  não  existe  qual-
quer  uma  em  funcionamento.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 240


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

5.3.1.2. GRUPO ESTADO NOVO (1938-1955)

Ilustração 120 -  Mapa  com  a  distribuição  das  escolas  primárias  do  Porto,  Grupo  Estado  Novo  (1938  -­1955)  

Correspondência dos números aos nomes actuais das escolas - 11  -­  EB1  dos  Miosótis;;   12  -­  Eb1  das  Condominhas;;   13  -­  EB1  
JI  Nª  Sª  de  Campanhã;;  14  -­  EB1  JI  Nª  Sª  da  Azenha;;  15  -­  EB1  JI  dos  Correios;;  16  -­  EB1  JI  S.  Roque  da  Lameira;;  17  -­  EB1  de  Mon-
tebello;;  18  -­  EB1  de  S.  João  de  Deus;;  19  -­  EB1  de  S.  João  da  Foz;;  20  -­  EB1  de  S.  Martinho  de  Aldoar;;  21  -­  EB1  da  Sé;;  22  -­  EB1  do  
Bom  Sucesso  

O  grupo  designado  por  Estado  Novo  inclui  o  intervalo  de  escolas  entre  o  nº  11    e  o  nº  
22.  Este  grupo  tem  esta  designação  porque  as  escolas  que  o  integram  correspondem  
ao   Tipo   Rogério   de  Azevedo   e   ao   Tipo   Fernandes   de   Sá,   analisados   na   Parte   II,   e  
postos  em  prática  pelo  regime  de  Salazar  através  da  Direcção  Geral  dos  Edifícios  e  
Monumentos  Nacionais.

À  classificação  de  Tipo  Rogério  de  Azevedo  correspondem  as  escolas  nos 13  e  16.  Ao  
Tipo  Fernandes  de  Sá  (enquadrado  no  Plano  dos  Centenários)  correspondem  as  res-
tantes  escolas  nos 11,  12,  14,  15,  17,  18,  19,  20,  21  e  22.

As  escolas  nos  11,  12,  13,  14  e  15  estão  intrinsecamente  relacionadas  com  a  1ª  fase  da  
implementação  das  Casas  Económicas  do  Estado  Novo  e  incluem-­se  nestes  conjun-
tos  habitacionais,  fazendo  parte  do  desenho  destes  novos  bairros  da  cidade.  Desta-
cam-­se,   por   exemplo,   as   escolas   nos   11   e   12,   morfologicamente   iguais,   que   foram  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 241


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

construídas  na  mesma  altura  (1938)  e  que  se  revelam  assumidamente  integradas  no  
tecido  do  bairro  do  Amial  (1ª  fase)  e  do  Bairro  das  Condominhas,  representado  nas  
ilustrações  121  e  122.

Ilustração 121 -  Bairro  das  Condominhas  com  a  escola  ao  fundo  (1938)  (Em  linha)  (consultado  em  
05  de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://doportoenaoso.blogspot.com  >

Ilustração 122 -  Antiga  Escola  nº34  do  Bairro  das  Condominhas  (1938)  (Em  linha)  (consultado  em  
05  de  Março  de  2012)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://doportoenaoso.blogspot.com  >

Como  já  foi  referido  anteriormente  (ponto  4.1.4,  do  presente  estudo),  estas  duas  cons-
truções,  de  autoria  do  arquitecto  Fernandes  de  Sá,  são  particulares  porque  nelas  se  
observam  os  códigos  modernistas  com  maior  intensidade  do  que  nas  outras  variantes  
deste   tipo,   revelados   nas   aberturas   e   nas   formas   abstractas   que   as   caracterizam.  
Mas  a  restante  retórica  formal  sublinha  o  cariz  regionalista  e  nacionalista  do  regime  
de   Salazar,   expresso   no   grande   pórtico   central,   eixo   de   simetria,   repetido   nas   duas  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 242


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

construções  que  reforça  o  regime  de  não  coeducação  imposto  pelo  Estado.

A  escola  designada  pelo  nº  15,  actual  EB1  JI  dos  Correios,  do  ano  de  1940,  foi  cons-
truída  em  simultâneo  com  o  bairro  de  Ramalde.  Mais  tarde,  entre  1952  e  1960,  este  
conjunto  habitacional  foi  ampliado  com  um  projecto  do  arquitecto  Fernando  Távora,  
inserido  na  1ª  fase  dos  bairros  do  Plano  de  Melhoramento  (1956  -­  1966).  49

Em  1940  é  construída  a  escola  nº16  de  EB1,  de  S.  Roque  da  Lameira,  e  dois  anos  
mais   tarde   iniciou-­se   a   construção   do   bairro   de   casas   económicas   com   o   mesmo  
nome,  prolongando-­se  até  1959,  que  se  inseriu,  tal  como  a  ampliação  de  Ramalde,  na  
1ª  fase  dos  bairros  Plano  de  Melhoramento.  Também  a  escola  nº  17,  actual  EB1  de  
Montebello,  do  Bairro  de  Costa  Cabral  (1942),  foi  construída  em  1948,  seis  anos  após  
a  implantação  do  conjunto  habitacional,  com  o  intuito  de  assegurar  as  necessidades  
pedagógicas  da  população  residente  em  idade  escolar.  Apesar  das  datas  de  constru-
ção  das  escolas  primárias  se  desencontrar  da  data  de  implementação  da  edificação  
dos  bairros,  está  subjacente  uma  acção  prevista  e  continuada  por  parte  do  Estado.  

Numa  mesma  perspectiva,  a  escola  nº  21,  actual  escola  EB1  JI  da  Sé  (1952),  ainda  
que  construída  14  anos  depois  do  Bloco  de  Saldanha   50,  encontra-­se  muito  próxima  
da  área,  de  implantação  deste  bloco  habitacional.  Tal  facto  leva  a  crer  que  terá  vindo  
prolongar  uma  acção  de  melhoria  da  qualidade  de  habitação,  destinada  aos  operários,  
que  se  manteve  aquando  da  vigência  do  Estado  Novo,  sobre  uma  área  com  grande  
densidade   populacional   e   com   necessidades   muito   particulares,   características   de  
classes  sociais  desfavorecidas.

A  escola  nº  22,  construída  em  1955  ,  actual  EB1  do  Bom  Sucesso,  data  do  mesmo  
período  de  construção  do  bairro  do  Bom  Sucesso,  inserido  na  1ª  fase  dos  bairros  do  
Plano  de  Melhoramento.  Já  a  escola  nº18  foi  construída  em  1945,  projecto  do  arqui-
tecto  Fernandes  de  Sá,  sem  estar  associada  a  qualquer  bairro,  e  em  1959  sofreu  uma  
ampliação  pelo  arquitecto  Bernardino  Basto  Fabião,  que  parece  relacionar-­se  com  o  

Note-­se  que  os  bairros  do  Plano  de  Melhoramento,  que  se  desenvolvem  em  duas  fases  (  a  1ª  de  1965  a  
49    

1966  e  a  2ª  de  1966  a  1973),  procuravam  situar-­se  próximo  ou  dos  Bairros  da  República  (as  Colónias),  ou  
dos  bairros  de  Casas  Económicas  do  Estado  Novo,  salvo  os  que  se  localizam  para  fora  da  Via  de  Cintura  
Interna.  Referimo-­nos    aos  bairros  do  Bom  Sucesso,  Carvalhido  e  Faria  Guimarães.

50    
O  Bloco  de  Saldanha,  1938  insere-­se  numa  acção  conjunta  da  C.M.P  e  do  Estado  para  colmatar  as  ne-
cessidades  habitacionais  de  um  segmento  da  população  que  residia  nas  características  ilhas  do  Porto.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 243


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aumento  da  população  em  idade  escolar,  na  sequência  da  construção  do  bairro  Pio  
XII,  em  1957  (1ª  fase  dos  bairros  do  Plano  de  Melhoramento),  nas  suas  imediações.

Apenas  as  escolas  nos 19  e  20  não  coincidem,  na  sua  implantação,  com  estes  conjun-
tos  habitacionais  construídos  pelo  regime  do  Estado  Novo,  de  qualquer  forma  respei-
tam  as  intenções  operativas  do  regime  salazarista  e  a  sua  visão  pedagógica.

Efectivamente  todas  estas  escolas  respeitam  as  propriedades  estruturantes  dos  tipos  
em  que  se  inserem.  Algumas  sofreram  ampliações  e  como  exemplos  mais  evidentes  
foram  referidas  as  escolas  nos  18  e  25.  Mas  todas  elas,  à  data  da  sua  construção,  são  
exemplos  das  variantes  dos  tipos  Rogério  de  Azevedo  e  Fernandes  de  Sá,  analisados  
identificados  neste  estudo.  As  áreas  dos  lotes  em  que  se  inserem  são  generosas,  na  
sua  relação  com  as  restantes  parcelas  da  cidade,  pelo  facto  de  terem  sido  implanta-
das  em  zonas  pouco  densas,  afastadas  do  centro  da  cidade  num  raio  de  5  ou  6km;;  
à  posteriori,  a  área  envolvente  foi  preenchida  com  outras  construções,  em  virtude  do  
natural  crescimento  da  cidade.

As  áreas  exteriores,  recreios,  em  relação  às  áreas  lectivas  cobertas,  representam  em  
média  80%  da  área  total,  sendo  também  interessante  observar  que  a  área  lectiva,  cor-
respondente  às  salas  de  aula,  é  muito  superior  às  áreas  não  lectivas,  de  serviços.  Este  
factor  revela  que  os  programas  implementados  valorizavam  quase  exclusivamente  o  
espaço  da  sala  de  aula,  complementado  com  instalações  sanitárias  e  uma  ou  outra  
área  de  apoio,  como  arrumos  ou  em  alguns  casos,  salas  de  apoio.  Nestes  dois  tipos  
também  se  verifica  a  existência  de  um  espaço  coberto,  adossado  ao  alçado  posterior,  
que,  para  além  de  funcionar  como  transição  entre  as  instalações  sanitárias  e  o  resto  
do  edifício,  permitia  aos  alunos,  nos  intervalos,  protegerem-­se  das  intempéries.

Estas  construções  encontram-­se  recuadas  em  relação  à  rua,  remetidas  para  o  inte-
rior  das  parcelas  da  sua  implantação.  O  alçado  principal,  em  quase  todos  os  casos,  
está  de  frente  para  o  portão  que  dá  acesso  ao  interior  do  lote,  salvo  os  casos  em  que  
existem  dois  edifícios,  um  para  cada  sexo,  em  que  um  está  de  topo  para  o  portão  de  
entrada  (por  exemplo  a  escola  nº22).  Os  muros  que  ladeiam  estes  lotes  são  baixos,  
complementados  com  gradeamentos  em  ferro,  o  que  significa  que  existe  permeabili-
dade  visual  para  o  interior  destes  espaços.  A  composição  dos  alçados  também  permi-
te  ler  a  hierarquia  programática  predominante.  As  salas  de  aula  estão  representadas  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 244


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por  sucessivos  conjuntos  de  três  vãos,  que,  para  além  de  introduzirem  uma  leitura  de  
horizontalidade   onde   subtilmente   se   subentende   uma   composição   plástica   de   cariz  
moderno,  permite  que  as  salas  de  aula  sejam  as  únicas  partes  do  programa  que  se  
relacionam  com  o  exterior  de  uma  forma  mais  activa.

5.3.1.3. GRUPO MOVIMENTO MODERNO (C.M.P.) (1954-1965)

Ilustração 123 -  Mapa  com  a  distribuição  das  escolas  primárias  do  Porto,  Grupo  Movimento  Moderno  (C.M.P.  )  (1954  -­1965)  

Correspondência dos números aos nomes actuais das escolas - 23  -­  EB1  JI  da  Lomba;;   24  -­  EB1  da  Constituição;;   25  -­  EB1  JI  
da  Corujeira;;  26  -­  EB1  JI  de  Lordelo;;  27  -­  EB1  JI  da  Pasteleira;;  28  -­  EB1  JI  Ribeiro  de  Sousa;;  29  -­  EB1  JI  do  Lagarteiro;;  30  -­  EB1  JI  
do  Covelo;;  31  -­  EB1  JI  dos  Castelos;;  32  -­  EB1  JI  do  Monte  Aventino;;  33  -­  EB1  JI  da  Caramila;;  34  -­  EB1  JI  da  Alegria;;  35  -­  EB1  JI  da  
Agra;;  36  -­  EB1  JI  da  Vilarinha;;  37  -­  EB1  de  Costa  Cabral;;  38  -­  EB1  Fernão  de  Magalhães;;  39  -­  EB1  JI  do  Padre  Américo;;  40  -­  EB1  JI  
do  Cerco  do  Porto;;   41  -­  EB1  de  Fonte  da  Moura;;   42  -­  EB1  JI  de  Noeda;;   43  -­  EB1  JI  António  Aroso;;   44  -­  EB1  da  Fontinha;;   45  -­  EB1  
da  Torrinha;;  46  -­  EB1  JI  das  Campinas.

Este  grupo  é  composto  pelas  escolas  que  integram  o  intervalo  desde  a  nº  23  à  nº  46,  
inclusive.  

O  primeiro  factor  que  as  distingue  dos  grupos  analisados  é  o  facto  de  todas  serem  o  
fruto  da  implementação  do  Decreto-­Lei  de  21  de  Dezembro  de  1954,  que  permitiu  à  
Câmara  Municipal  do  Porto  a  elaboração  dos  seus  próprios  projectos  para  os  edifícios  
escolares.  Estas  escolas  representam  42%  das  escolas  primárias  construídas  e  em  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 245


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

actividade  na  cidade  do  Porto.  Quer  pela  sua  quantidade  quer  pela  qualidade  arqui-
tectónica,   desempenham   um   papel   de   destaque   na   arquitectura   escolar   portuense.  
Apesar   de,   durante   as   décadas   de   50   e   60,   se   manter   como   imposição   do   regime  
a   não   coeducação,   condicionante   de   peso   na   abordagem   aos   programas,   a   lingua-
gem  arquitectónica  liberta-­se  conceptualmente  das  imposições  linguísticas  e  formais,  
caracterizando-­se  fundamentalmente  por  pressupostos  regionalistas  e  pela  conotação  
dos  edifícios  escolares  com  o  arquétipo  da  casa  portuguesa.  

As  escolas  primárias  existentes  revelam-­se  entretanto  inadequadas  ao  nível  das  di-
mensões  e  dos  respectivos  usos,  facto  que  levanta  questões  pedagógico/arquitectó-
nicas,   que   os   modelos   em   análise   procuraram   resolver;;   além   de,   através   de   novas  
formas  de  implantação  e  de  interacção  com  os  lugares  da  sua  implantação,  tentarem  
responder  a  uma  nova  realidade  urbana.  

Estes   projectos   surgem   pela   intervenção   dos   arquitectos   da   câmara,   que   utilizaram  
pressupostos  arquitectónicos  pouco  claros  no  panorama  arquitectónico  nacional  e  in-
ternacional,  mas  que  representam  um  papel  activo  da  C.M.P.,  perceptível  na  malha  
urbana.  Numa  década,  a  Câmara  projectou  e  construiu  na  cidade  24  escolas  primá-
rias  que  resultaram  na  alteração  do  panorama  escolar  portuense.  Nesse  intervalo  de  
tempo,   1958   foi   o   período   mais   representativo,   tendo-­se   construído   6   escolas   (uma  
média  de  2  a  3  escolas  por  ano),  as  nos  29,  30,  31,  32,  33  e  34,  implantadas  em  pontos  
dispersos  pela  cidade.  

Uma  das  preocupações  da  C.M.P.,  apesar  da  autonomia  na  conceptualização  e  cons-
trução   das   escolas   primárias,   foi   manter   a   política   praticada   até   então   pelo   regime,  
que  previa  a  construção  destes  equipamentos  escolares  nos  novos  bairros  propostos  
para  a  cidade  pelo  Estado.  51  Segundo  a  mesma  filosofia,  a  Câmara  projectou  e  cons-
truiu  a  escola  nº27,  em  1957,  no  Bairro  da  Pasteleira,  a  escola  nº  33,  em  1958,  no  
bairro  do  Carvalhido  (1957),  a  escola  nº  35,  em  1959,  no  bairro  Agra  do  Amial  (1958),  
a   escola   nº38   em   1960   no   Bairro   Fernão   de   Magalhães   (1959),   a   escola   nº   40   em  
1961-­62  no  bairro  do  Cerco  do  Porto  (1961),  a  escola  nº  41,  em  1961-­62,  no  bairro  
da  Fonte  da  Moura  II  (1962)  e  a  escola  nº  46,  em  1964,  no  bairro  Arantes  de  Oliveira  

O  propósito  subjacente  à  construção  dos  bairros  nas  décadss  de  50  e  60  assenta  também  na  espe-
51    

culação  imobiliária.  O  facto  de  se  retirarem  as  pessoas  das  ilhas  e  as  realojarem  em  bairros  colocados  
na  periferia,  permitia  que  os  terrenos  entretanto  desocupados  fossem  mais  valorizados  aquando  da  sua  
venda  em  hasta  pública.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 246


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

(1963);;  todos  os  bairros  referidos  inseriam-­se  na  1ª  fase  do  programa  dos  bairros  do  
Plano  de  Melhoramentos  (1956-­1966).

De  um  modo  geral,  os  lotes  em  que  estas  escolas  se  inserem  surgem  nos  limites  do  
quarteirão,  conquistando  2  ou  3  frentes  do  mesmo,  salvo  as  escolas  nos  26,  31,  37  e  
45,  que  só  têm  uma  frente,  e  as  escolas  nº  35  e  nº  42  que  ocupam  a  totalidade  do  
miolo  do  quarteirão,  bem  como  a  escola  nº  36  que  por  si  é  um  quarteirão.

Estas  construções  encontram-­se  recuadas  em  relação  à  rua,  remetidas  para  o  interior  
das  parcelas  da  sua  implantação,  com  áreas  exteriores  de  recreio,  que  representam  
em   média   80%   da   área   total   do   lote.   Verifica-­se,   pela   diversificação   dos   programas  
com  a  introdução  de  novas  valências,  um  aumento  substancial  das  áreas  não  lectivas,  
acompanhado  pelo  também  aumento,  mas  não  tão  expressivo,  das  áreas  lectivas.

Estes  edifícios  relacionam-­se  com  a  envolvente,  em  graus  de  transparência  elevados,  
estando  circundados  por  muros  baixos,  em  muitos  casos  muretes,  complementados  
com    gradeamentos  em  ferro.  

A  relação  dos  próprios  edifícios  com  o  espaço  exterior  é  particularmente  diferente  da  
que  temos  vindo  a  verificar  nos  grupos  anteriores.  Há  uma  clara  libertação  das  pare-
des,   enquanto   elementos   estanques   contentores   dos   espaços.  Apercebemo-­nos   de  
uma   imaterialização   destas   estruturas   escolares   que   se   tornam   mais   abertas,   mais  
espaçosas   e   transparentes,   permitindo   a   entrada   de   mais   luz,   sinónimo   de   higiene  
e  saúde,  através  do  aumento  dos  vãos,  em  número  e  em  escala.  A  exposição  solar  
é  uma  preocupação  que  se  revela  subjacente  à  escolha  da  disposição  das  salas  de  
aula.

Apesar  destas  transformações  ao  nível  dos  programas  e  das  diversas  formalizações,  
experimentadas  nos  exemplos  em  estudo,  as  salas  de  aula  mantêm-­se  como  conten-
tores.   Estas   escolas   revelam   preocupações   ao   nível   do   conforto,   da   iluminação,   da  
ventilação,  do  isolamento  térmico  e  acústico,  da  utilização  da  cor  e  no  que  diz  respeito  
ao  mobiliário.  As  circulações  desenvolvem-­se,  na  grande  maioria  dos  casos,  em  cor-
redores,  suficientemente  iluminados  e  insonorizados,  que  têm  nos  limites  ou  no  centro  
as  circulações  verticais.  Nestas  organizações  funcionais  há  também  subjacente  o  cui-
dado  de  separar  as  salas  de  aula,  bibliotecas  e  outras  áreas  de  estudo  dos  restantes  
programas,  como  os  refeitórios  e  recreios  cobertos,  e  outros  espaços  que  se  revelem  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 247


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

mais  ruidosos  e  que  possam  interferir  no  desenrolar  das  aulas,  pelo  que  sejam  reme-
tidos  para  as  extremidades.

Dentro  da  grande  diversidade  formal  dos  edifícios  escolares  deste  grupo  existem  dois  
que  são  morfologicamente  iguais,  a  escola  nº  40,  EB1  JI  do  Cerco  e  a  nº  41,  EB1  da  
Fonte  da  Moura,  e  ainda  outros  dois,  que  partilhando  o  mesmo  projecto,  têm  implanta-
ções  simétricas:  a  escola  nº38  ,  EB1  Fernão  de  Magalhães  e  a  nº  39,  EB1  JI  do  Padre  
Américo.

5.3.1.4. GRUPO CASOS ESPECIAIS C.M.P. (1965-1974)

Ilustração 124 -  Mapa  com  a  distribuição  das  escolas  primárias  do  Porto,  Grupo  Casos  Especiais  C.M.P    (1965  –  1974)  

Correspondência dos números aos nomes actuais das escolas - 47  -­  EB1  JI  do  Aleixo;;  48  -­  EB1  do  Bom  Pastor.

Este  grupo  é  apenas  composto  por  duas  escolas  primárias,  a  nº47,  EB1  JI  do  Aleixo  
e   a   nº48,   EB1   JI   do   Bom   Pastor.  Ambas   são   projectos   da   C.M.P.   que   decorrem   no  
período  de  falência  do  Regime  Salazarista.  

Na  altura  da  sua  construção,  verificaram-­se  novas  experiências  ao  nível  da  arquitec-
tura   que   puseram   em   causa   os   princípios   modernistas,   por   exemplo   a   corrente   or-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 248


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ganicista,  experimentada  por  Távora,  na  Escola  do  Cedro  (já  referenciada),  como  uma  
tentativa  de  aproximação  da  arquitectura  ao  lugar  e  ao  Homem.  No  que  diz  respeito  
às   formalizações   arquitectónicas   experimentais   ,   apesar   de   continuarem   a   garantir  
a   efectiva   funcionalidade   dos   programas   nestes   espaços   escolares   são,   em   alguns  
casos,  desconcertantes  pela  mescla  de  linguagens,  por  misturarem  elementos  arqui-
tectónicos  de  tendências  divergentes.

Os  exemplos  em  causa  são  particulares  pelo  facto  de  se  terem  construído  neste  perío-
do  conturbado,  mas  também  pelos  singulares  contextos  urbanos  em  que  se  inserem.  

A   escola   escola   nº47,   EB1   JI   do  Aleixo,   datada   de   1973/74   e   inserida   no   polémico  


Bairro   do   Aleixo,   o   último   dos   bairros   camarários   construído   antes   do   25   de   Abril,  
onde  a  câmara  apostou  numa  nova  tipologia,  a  construção  em  altura.  Explica  Ricardo  
Figueiredo  que  nos  anos  70  se  defendia  que  a  sobreocupação  das  zonas  do  centro  
histórico,  neste  caso  as  que  vinham  da  zona  do  Barredo,  se  resolveria  com  o  realoja-
mento  em  prédios  modernos,  entendimento  que  o  autor  classifica  como  “ingenuidade  
própria  do  tempo”.(Dias,  2008)    

O   Bairro   do  Aleixo   cumpriu   com   o   desenho   e   a   implantação   previstas   no   Plano   Di-


rector   da   cidade   do   Porto   de   1962,   proposto   pelo   urbanista   francês   Robert  Auzelle.  
Neste   plano   estavam   previstos   outros   equipamentos   complementares   à   habitação,  
para  além  da  escola  pimária,  que  entretanto  não  se  construíram.  

A  actual  C.M.P.  procedeu  ao  encerramento  desta  escola  primária  no  ano  de  2008  e  à  
sua  demolição  em  2010,  justificada  pela  elevada  guetização  e  o  reconhecido  grau  de  
exclusão  social  que  se  criou  em  torno  deste  conjunto  habitacional.  

 A  escola  nº  48  EB1  JI  do  Bom  Pastor  também  foi  construída  em  1973  e  está  inserida  
no  bairro  do  Bom  Pastor,  um  dos  últimos  a  ser  construído  na  2ª  fase  dos  bairros  do  
Plano   de   Melhoramentos   (1966,1973).   A   escola,   ao   contrário   da   anterior,   ainda   se  
encontra  em  funcionamento,  colmatando  as  necessidades  pedagógicas  da  população  
em  idade  escolar  desta  área.

As  escolas  em  questão  inserem-­se  em  lotes  contíguos  ao  bairro.

As   construções,   remetidas   para   o   interior   das   parcelas   da   sua   implantação,   encon-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 249


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tram-­se  recuadas  em  relação  à  rua.  A  área  exterior  de  recreio  da  escola  nº47  é  de  68%  
em  relação  à  área  total  do  lote,  enquanto  que  a  da  escola  nº  48  é  de  88%.  Verifica-­se  a  
mesma  relação  de  proporcionalidade  entre  áreas  lectivas  e  não  lectivas  do  grupo  das  
escolas  do  movimento  moderno.

Há  uma  continuidade  na  abordagem  morfológica  e  funcional  destas  escolas  em  rela-
ção   ao   grupo   do   Movimento   Moderno.   Com   efeito,   estes   edifícios,   tal   como   os   do  
grupo  supramencionado,  relacionam-­se  com  a  envolvente  com  graus  de  transparên-
cia  elevados.  Encontram-­se  circundados  por  muros  baixos,  em  muitos  casos  muretes,  
complementados  com  gradeamentos  em  ferro.  

A  relação  dos  edifícios  com  o  espaço  exterior  é  intensa,  à  semelhança  do  que  acon-
tece  com  o  grupo  anterior.  Mantem-­se  a  libertação  das  paredes,  enquanto  elementos  
estanques  contentores  dos  espaços,  bem  como  a  imaterialização  das  estruturas  es-
colares,  agora    abertas,  espaçosas  e  transparentes,  permitindo  a  entrada  de  mais  luz,  
consequência  do  grande  número  de  vãos,  quase  sempre  de  configuração  horizontal.  

A  exposição  solar  é  uma  preocupação  que  se  revela  subjacente  à  escolha  da  posição  
das  salas  de  aula.  Na  escola  nº  47  são  os  volumes  das  salas  que  se  autonomizam  e  
rodam  na  procura  da  melhor  exposição  solar,  enquanto  que  na  escola  nº48  é  um  dos  
braços  que  integra  parte  das  salas  de  aula  que  se  inflecte  com  o  mesmo  propósito.

Estes  edifícios  mantêm  os  cuidados  ao  nível  do  conforto,  da  iluminação,  da  ventilação,  
do  isolamento  térmico  e  acústico,  e  da  escolha  do  mobiliário.  Nestes  dois  exemplos,  
as   circulações   desenvolvem-­se   em   corredores,   que   se   encontram   num   centro.   No  
caso  particular  da  escola  nº47  a  intersecção  dos  corpos  que  as  constituem  autonomi-
za-­se  como  volume,  articulando-­os.  Mantém-­se  o  cuidado  de  separar  as  sala  de  aula,  
bibliotecas   e   outras   áreas   de   estudo,   dos   restantes   programas,   como   os   refeitórios  
e recreios cobertos, e outros espaços que se revelem mais ruidosos e que possam
interferir  no  desenrolar  das  aulas.

Em   suma,   as   propriedades   estruturantes   destes   exemplos   são   semelhantes   às   do  


grupo  do  Movimento  Moderno  sendo  que  a  principal  diferença  reside  nos  contextos  
histórico/sociais.  De  facto,  estas  duas  escolas  foram  construídas  uma  década  depois,  
marcada  pela  decrescente  vigência  do  Estado  Novo  e  pela  emergente  transição  para  
um  regime  que  já  se  perspectivava  mais  liberal  também  no  âmbito  da  arquitectura.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 250


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5.3.1.5. GRUPO CONTEMPORÂNEOS (1975-1990)

Ilustração 125 -  Mapa  com  a  distribuição  das  escolas  primárias  do  Porto,  Grupo  Comtemporâneos    (1975-­1990)  

Correspondência dos números aos nomes actuais das escolas - 49  -­  EB1  JI  do  Falcão;;   50  -­  EB1  JI  Paulo  da  Gama;;   51  -­  EB1  
José  Gomes  Ferreira;;  52  -­  EB1  JI  do  Viso;;  53  -­  EB1  JI  de  S.  Tomé;;  54  -­  EB1  JI  das  Flores;;  55  -­  EB1  João  de  Deus;;  56  -­  EB1  Augusto  
Leça;;  57  -­  EB1  JI  S.  Nicolau.

No  grupo  designado  de  Contemporâneos,  incluem-­se  as  escolas  nos 49,  50,  51,  52,  53,  
54,  55  ,56  e  57.  Estes  edifícios  escolares  integram  o  grupo  de  projectos  analisados  que  
apresentam  menos  afinidades  formais  entre  si.  Observa-­se  que  as  linguagens  arquitec-
tónicas  são  diversas,  determinadas  pela  sobreposição  de  elementos  arquitectónicos  com  
significados  linguísticos  distintos  e  que  se  sustentam  nas  experimentações  subsequentes  
ao  Movimento  Moderno.  A  razão  maior  que  os  une  programaticamente  é  o  facto  de,  por  
serem  do  período  pós  25  de  Abril,  já  não  estar  vigente  a  obrigatoriedade  da  não  coeduca-
ção,  uma  condicionante  programática  que  se  manteve  presente  até  ao  grupo  anterior.

Este   grupo   abrange   um   período   de   tempo   consideravelmente   superior   aos   anteriores,  


duas  décadas,  mas  denota-­se  uma  quebra  substancial  em  relação  ao  número  de  constru-
ções  escolares  projectadas  e  construídas,  principalmente  se  nos  focarmos  na  quantidade  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 251


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excepcional  da  produção  arquitectónica  escolar  do  grupo  do  Movimento  Moderno.  

No  intervalo  de  tempo  1975-­1990,  1976  foi  o  ano  que  se  produziram  mais  escolas,  as    nú-
meros  50,  51  e  52.  Com  efeito,  observa-­se  que,  salvo  a  excepção  anteriormente  referida,  
se  construíu  uma  escola  por  ano.  

Os  projectos  das  escolas  nos  49  EB1  JI  do  Falcão  (1975),  52  EB1  JI  do  Viso  (1976)  e  54  
EB1  JI  das  Flores  (1979)  são  morfologicamente  iguais,  variando  a  nº  52  na  sua  implan-
tação,  porque  é  simétrica  em  relação  às  outras  duas  e  todas  elas  divergem  no  ano  de  
construção.

As  linguagens  arquitectónicas  revelam-­se  uma  mistura  de  princípios,  sem  se  referencia-
rem  de  forma  clara  a  qualquer  corrente  arquitectónica.  A  arquitectura  destas  escolas  pri-
márias  não  deixa  de  responder,  de  forma  eficaz  e  funciona,l  às  exigências  subjacentes  
aos   programas.  A   aplicação   dos   programas,   agora   baseados   na   coeducação,   torna-­se  
menos   rígida   pedagogicamente   e   com   maior   qualidade   e   flexibilidade   morfológica.   No  
entanto  descura-­se  o  genius  loci    (Norberg-­Schulz,1979)  dos  lugares  da  sua  implantação,  
factor  que  foi  comprovado  anteriormente,  nas  escolas  nos  49,  52  e  54.  Para  estes  edifícios  
utilizou-­se  o  mesmo  projecto  em  lugares  com  características  distintas.  

No  que  diz  respeito  à  sua  dimensão  urbana,  os  terrenos  destas  escolas  primárias  têm  di-
mensões  interessantes  em  relação  aos  restantes  porque  permitem,  para  além  do  edifício  
escolar   com   todas   as   suas   valências   programáticas,   ter   áreas   descobertas   de   recreio,  
com  uma  média  de  ocupação  na  ordem  dos  75%.  Estas  construções  ocupam  posições  
diversas  em  relação  aos  quarteirões  que  as  contêm.  As  escolas  nos  50,  52,  53,  54  revelam-­
se  em  duas  ou  três  frentes  do  quarteirão,  salvo  as  escolas  nos  49,  52  e  57,  que  só  têm  
uma  frente  de  rua.  Todas  elas  se  encontram  remetidas  para  o  interior  das  parcelas  onde  
estão  implantadas,  excepto  a  nº  51  que,  tal  como  se  verifica  no  desenho  da  sua  implan-
tação,  as  duas  extremidades  do  volume  fazem  frente  directa  à  rua,  desenhando  um  pátio  
que  serve  de  antecâmara  à  entrada  para  o  edifício.  Constitui  também    uma  excepção    a    
escola  nº  57,  que  está  em  plena  zona  histórica  ribeirinha,  e  que  pelas  características  sub-
jacentes  a  esta  malha  urbana,  densa  e  pouco  flexível,  absorveu  um  edifício  antigo  que  já  
fazia  frente  de  rua.  Este  edifício,  agora  recuperado,  é  antecedido  por  uma  escadaria  que  
o  remete  para  segundo  plano.  O  resto  dos  volumes  que  compõem  o  desenho  da  escola  
desenvolvem-­se  para  o  interior  do  quarteirão.  Aqui,  e  por  razões  óbvias,  a  área  exterior  
de  recreio  descoberta  é  de  47%,  consideravelmente  inferior  ás  áreas  exteriores  de  recreio  
das  outras  escolas  deste  grupo.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 252


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Ao  contrário  de  todos  os  modelos  analisados  neste  grupo,  a  escola  nº53  é  uma  das  va-
riantes  do  tipo  designado  como  P3,  Área  Aberta,  objecto  de  análise  no  ponto  4.1.6    deste  
estudo.  Verifica-­se  que  se  que  todas  as  propriedades  estruturantes  deste  tipo  se  concre-
tizaram  no  edifício  em  questão.

Este   conjunto   mantém,   em   todos   os   seus   exemplos,   graus   de   transparência   elevados  


em  relação  ao  exterior.  Os  edifícios  estão  circundados  por  muros  baixos  ou  muretes  de  
pequena  escala,  complementados  com  gradeamentos  em  ferro.

Tal   como   já   foi   referido,   a   qualidade   morfológico/programática   mantém-­se   em   relação  


à    descrita  nos  dois  grupos  anteriores,  Movimento  Moderno  (C.M.P.)  e  Casos  Especiais  
C.M.P.,  salvo  a  escola  nº  53  EB1  JI  do  Viso.  Esta,  que  por  se  incluir  no  Tipo  P3  de  Área  
Aberta,   tem   um   sistema   de   distribuição   que   não   se   desenvolve   através   de   corredores.  
Nas  escolas  de  área  aberta  existem  dois  momentos  de  entrada  que  correspondem  a  ves-
tíbulos,  contentores  dos  acessos  verticais.  Tais  espaços  fazem  também  a  ligação  directa  
com  os  conjuntos  de  sala  de  aula  do  piso  zero,  instalações  sanitárias  e  o  polivalente.  Este  
tipo  tem  outra  particularidade,  o  facto  de  se  desenvolver  por  módulos  estabelecidos  pela  
dimensão  das  salas  de  aula,  células  de  base  de  todo  o  conjunto.

Assiste-­se  a  um  empobrecimento  do  aspecto  exterior  dos  edifícios,  que  na  sua  generali-
dade  se  assemelham  a    pavilhões.

Em  suma,  o  pós  25  de  Abril  de  1974  transforma  política  e  socialmente  o  contexto  portu-
guês  com  reflexo  na  arquitectura  escolar.  Pelas  posições  contrárias  aos  dogmas  trazidos  
pelo  movimento  moderno  emergem  novas  experiências  arquitectónicas,  algumas  orien-
tadas  e  regradas  (por  exemplo  o  organicismo)  e  outras  mais  conturbadas  pela  introdução  
de  elementos  com  significados  contraditórios  num  mesmo  objecto  arquitectónico.  No  que  
diz  respeito  à  cidade  do  Porto,  a  construção  de  escolas  primárias  deste  período  responde  
eficazmente   aos   requisitos   funcionais   e   programáticos,   mas   muitas   destas   morfologias  
são  alheias  ao  lugar  da  sua  implantação.  

A  partir  da  década  de  90,  o  projecto  e  a  construção  de  novos  edifícios  escolares  na  ci-
dade  do  Porto  é  substituído,  em  alguns  casos,  por  políticas  de  manutenção  dos  edifícios  
existentes,   promovendo   a   sua   ampliação   e   respectiva   reestruturação   dos   esquemas   e  
programas  funcionais,  realidade  que,  desde  então,  se  estende  ao  resto  do  país.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 253


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5.4. A EVOLUÇÃO TIPOLÓGICA, A EVOLUÇÃO DA TECTÓNICA E A EVOLUÇÃO FORMAL

5.4.1. COMPARAÇÃO DA EVOLUÇÃO ENTRE OS EDIFÍCIOS MAIS REPRESENTATIVOS DOS GRUPOS

Plantas  dos  edifícios  escolares  mais  representativos  dos  grupos  predefinidos  para  o  Porto

Mancha  dos  edifícios  escolares  mais  representativos  dos  grupos  predefinidos  para  o  Porto

Sobreposição  dos  edifícios  escolares  mais  representativos  dos  grupos  predefinidos  para  o  Porto

Estrutura  dos  edifícios  escolares  mais  representativos  dos  grupos  predefinidos  para  o  Porto

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5.4.2. COMPARAÇÃO DA EVOLUÇÃO DOS PROGRAMAS DOS EDIFÍCIOS MAIS REPRE-

SENTATIVOS DOS GRUPOS

Programa  dos  edifícios  escolares  mais  representativos  dos  grupos  predefinidos  para  o  Porto

Evolução  dos  Programas    dos  edifícios  escolares  mais  representativos  dos  grupos  predefinidos  para  o  Porto

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6. CONCLUSÃO

A   escola,   como   a   conhecemos   hoje,   é   o   resultado   da   continuidade   dos   colégios   do  


século  XVI  [católicos  (jesuítas),  protestantes  ou  leigos],  onde  se  praticava  um  ensino  
humanista.   Este   modus operandi   ainda   que   tenha   sofrido   grandes   transformações/
evoluções  determinou,  pela  criação  de  uma  matriz  pedagógico-­espacial,  as  estruturas  
que  ainda  hoje  reconhecemos:  as  salas  de  aula,  a  caracterização  dos  interesses  num  
programa  e  em  currículos,  a  avaliação  por  exames  e  a  instituição  de  um  horário  de  
aprendizagem.  Com  efeito,  ainda  hoje  vigora  no  sistema  de  ensino  público  a  classe
como  instrumento  eficaz  para  dar  continuidade  a  uma  pedagogia  de  carácter  colecti-
vo.  Reconhecemos  também,  que  contrariamente  ao  entendimento  que  hoje  é  genera-
lizado,  as  bases,  instrução  ministrada  no  primeiro  ciclo,  devem  ser  a  primeira  grande  
aposta   na   estrutura   do   ensino.   Estas   estruturas,   passaram,   durante   algum   tempo   e  
de  uma  forma  discreta,  à  margem  de  uma  História  da  Arquitectura  Portuguesa,  mais  
preocupada  com  outras  ‘imagens’  simbólico-­significativas  portadoras  de  mensagens,  
talvez  mais  eficazes,  no  perpassar  ideológico  de  um  poder  onde  o  ensino  era  tratado  
dogmática   e   identitariamente;;   sublinhe-­se   o   facto   dos   primeiros   investimentos   que  
se   fizeram   com   franca   expressão,   reconhecidos   na   história   da   arquitectura   escolar,  
foram  aqueles  que  realizados  no  ensino  superior  despoletaram  a  construção  de  no-
vos  e  nobres  edifícios  para  as  universidades,  estas,  portadoras  de  um  outro  estatuto;;  
aquele  que  melhor  poderia  identificar  uma  atitude  com  alguma  visibilidade  perante  a  
sociedade  e  perante  o  mundo.

Percebemos  que  houve  um  momento  no  séc.  XIX,  em  que  a  instituição  escola  passou  
a  ter  um  edifício  próprio,  a  ser  designada  como  tipologia  e  a  ser  entendida  como  um  
lugar   diferenciado   no   perfil   compositivo   da   urbe.   Tal   perfil   revela-­se   particular,   pe-
las  suas  características  programáticas,  pela  sua  imageabilidade,  pelo  significado  dos  
seus  espaços  intrínsecos  às  propriedades  do  usuário  alvo,  pelo  facto  de  ser  o  prolon-
gamento  da  protecção  da  casa,  resultante  da  escala  indefesa  dos  seus  utilizadores  
preciosos  para  a  sociedade,  e  por  ser  o  laboratório  vivo  da  construção  dos  seus  alicer-
ces.  Concluímos  que  o  séc.  XIX  é  pautado  por  um  interesse  crescente  pela  educação  
da  população  que  fomenta  a  prática  do  que  viria  a  ser  o  ensino  público  obrigatório,  
instrumento  que  se  indiciava  preponderante  numa  desejada  reforma  social.

Observamos   que   o   séc.   XX   é   o   século   da   sedimentação   da   autonomia   das   esco-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 258


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

las  como  equipamentos  públicos  de  interesse  colectivo.  É  durante  este  período,  que  
surgem   preocupações   em   torno   das   propriedades   que   caracterizam   os   espaços   de  
aprendizagem,  e  se  produzem  novos  estudos  sobre  as  aptidões  e  competências  dos  
edifícios   escolares,   com   o   fito   de   tornarem   mais   eficazes   os   modelos   pedagógicos,  
ponderando  as  possíveis  estruturas  funcionais  mediante  os  diferentes  graus  de  ensi-
no.

Entendemos  ter  sido  fundamental  a  percepção  e  compreensão  dos  contextos  histó-


ricos,  políticos  e  sociais  da  construção  dos  edifícios  escolares  bem  como  a  necessi-
dade  de  desvelar  as  práticas  de  aprendizagem,  fruto  das  pedagogias  e  modelos  de  
ensino  que  vão  sendo  implementados/experimentados  ao  longo  do  período  estudado,  
finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade.  Percebemos  que  os  edifícios  escolares  
são  o  reflexo  da  sua  prática,  através  das  suas  configurações  e  estruturas  funcionais,  
conjugando  no  âmbito  de  uma  particular  expressão  a  ideia,  a  forma  e  o  uso  com  o  seu  
significado  e  simbologia.

Note-­se  que  em  Portugal,  as  escolas  primárias  estiveram  condicionadas  durante  pra-
ticamente  todo  o  período  de  estudo,  salvo  as  últimas  três  décadas,  ao  regime  de  não  
coeducação,  presente  nas  suas  estruturas  de  organização  funcional  e  consequente-
mente  em  todas  a  suas  variantes  morfológicas.  A  evolução  ao  longo  dos  tempos  e  em  
particular  no  período  em  análise,  trouxe  diversificados  entendimentos  do  que  deve  ser  
a  escola  e,  particularmente,  de  como  devem  ser  as  suas  formalizações/construções.  É  
imprescindível  a  consciencialização  de  que  a  arquitectura  das  escolas  primárias,  que  
se  inicia  no  séc.  XIX,  teve  uma  evolução  lenta,  essencialmente  por  influência  de  facto-
res  higiénicos  e  económicos  em  detrimento  do  debate  das  práticas  pedagógicas.

A   análise   que   efectuamos   dos   edifícios   escolares   primeiro   de   forma   mais   genérica,  
através  da  observação  das  escolas  primárias  do  Norte  de  Portugal,  desde  finais  do  
séc.  XIX  até  aos  nossos  dias,  e  posteriormente  de  forma  mais  incisiva,  permitiu-­nos  
identificar  6  tipos  de  edifícios  de  escolas  primárias  e  as  suas  respectivas  variantes,  
que   personalizam   e   caracterizam   as   escolas   primárias   portuguesas.   Referimo-­nos  
ao  Tipo  Conde  de  Ferreira  (séc.XIX_1866),  ao  Tipo  Adães  Bermudes  (séc.XX_1900),  
ao   Tipo   Rogério   de   Azevedo   (séc.XX_1935/40),   ao   Tipo   Fernandes   de   Sá   (séc.
XX_1940/50),   ao  Tipo   Fernando   Peres   (séc.XX_1960/70)   e   ao  Tipo   P3-­Área  Aberta  
(séc.XX_1970/80).  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 259


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Concluímos   que   cada   um   desses   tipos   reflecte   os   contextos   políticos   e   sociais   da  


sua  época.  O  Tipo  Conde  de  Ferreira,  de  finais  do  séc.XIX,  é  a  primeira  construção  
escolar  portuguesa  normalizada,  numa  altura  em  que  o  Estado  era  a  fonte  financeira  
que   garantia   o   ensino   público   gratuito,   mas   incumbia   entidades   como   as   Juntas   de  
Paróquia  e  os  Municípios  da  construção  e  manutenção  dos  espaços  escolares,  bem  
como  das  rendas  e  dos  salários  dos  docentes.  O  caso  particular  do tipo  referido  su-
blinha  uma  doação  em  testamento  do  benemérito  Conde  de  Ferreira  de  uma  quantia  
que  permitiu  a  construção  deste  tipo  de  edifícios  escolares.  Neste  período  o  ensino  
decorria,  essencialmente,  em  edifícios  preexistentes,  concebidos  para  outros  progra-
mas  ou  devolutos,  que  entretanto  eram  adaptados  e  reaproveitados.  Em  alternativa,  a  
própria  habitação  do  professor  servia  como  espaço  de  aprendizagem,  razão  pela  qual  
este  Tipo  Conde  de  Ferreira,  para  além  do  espaço  da  sala  de  aula,  dos  vestíbulos  e  
das  instalações  sanitárias  adjacentes  acedidas  pelo  exterior  em  relação  à  construção  
principal,  previa  uma  pequena  habitação  para  o  ‘mestre’,  localizada  em  parte  do  volu-
me  principal  mas  com  entrada  independente.  

Percebemos  que  estas  construções  denunciavam  já  algumas  preocupações  higienis-


tas,  mas  é  com  o  tipo  seguinte,  o  Tipo  Adães  Bermudes,  o  qual  faz  a  transição  do  séc.
XIX   para   o   séc.   XX,   que   estas   preocupações   se   revelam   condição   fundamental   na  
conceptualização   destas   escolas,   associadas   a   uma   vontade   expressa   de   reduzir   o  
analfabetismo.  Será  também  o  primeiro,  de  entre  os  restantes  tipos,  a  ser  concebido  
por  um  arquitecto.  Referimo-­nos  ao  arquitecto  Adães  Bermudes,  que  com  este  projec-
to  participa  na  Exposição  Universal  em  Paris,  no  ano  de  1900  e  ganha  a  medalha  de  
ouro  do  certame,  no  âmbito  da  arquitectura  escolar.  Este  tipo  de  construção  escolar  
denota  uma  série  de  preocupações  que  se  relacionam  com  a  higiene  e  a  saúde  das  
crianças,   apesar   de   ter   sido   criticado   por   ser   considerado   subdimensionado   para   o  
número   de   alunos   que   se   previa   crescente   na   época.  As   preocupações   higienistas  
revelam-­se  no  número  e  na  dimensão  dos  vãos  bem  como  na  existência  de  espaços  
exteriores  cobertos  para  a  prática  de  actividades  físicas.  Para  além  das  questões  refe-
ridas,  o  programa  funcional  não  diverge  muito  do  tipo  anterior;;  há  uma  clara  diferença  
de  escala,  mas  continua-­se  a  propor  a  habitação  do  professor  como  parte  integrante  
deste  programa,  salvaguardada  por  ter  entrada  independente  e  por  se  posicionar  no  
piso  1  destas  construções.  Denota-­se  uma  preocupação  na  composição  dos  alçados  
bem  como  na  distribuição  dos  elementos  decorativos,  permitindo  o  descolar  da  ima-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 260


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

gem  frágil  do  tipo  precedente.

Entendemos   que   os   três   tipos   que   se   seguem,   dentro   da   perspectiva   do   contexto  


político  e  social,  40  anos  de  vigência  do  regime  do  Estado  Novo,  (extensível  tempo-
ralmente  desde  a  década  de  30  até  meados  da  década  de  70),  têm  abordagens  muito  
semelhantes   no   que   diz   respeito   ao   programa   funcional   e   às   linguagens   propostas,  
consequência  de  uma  vontade  explícita  do  Estado  em  homogeneizar  as  construções  
escolares,  que  se  particularizavam  apenas  pelo  uso  pontual  de  matérias-­primas  ca-
racterísticas   da   zona   onde   se   iriam   implantar.   É   importante   referir   que   o   interesse  
da   ditadura   em   se   afirmar,   faz   com   que   o   regime   se   procure   aproximar   da   imagem  
inovadora   trazida   pelo   discurso   do   Movimento   Moderno.   Salazar   pretendia   passar  
uma  ideia  de  actualidade  com  as  suas  novas  políticas  de  crescimento  e  prosperidade,  
sustentadas  na  construção  de  um  conjunto  de  instalações,  onde  se  incluem  os  edifí-
cios  das  escolas  primárias.  Os  tipos  que  designamos  como  Tipo  Rogério  de  Azevedo,  
Tipo  Fernandes  de  Sá  e  Tipo  Fernando  Peres  (relatados  segundo  critério  cronológico)  
servem de instrumentos   ao   regime,   juntamente   com   outros   equipamentos   de   cariz  
público,  que  no  seu  entendimento  acabariam  por  originar  ecos  de  modernidade  para  
o  exterior.  Concluímos  que,  no  que  diz  respeito  a  estes  equipamentos,  estas  acções  
resultam  numa  falsa  modernização.  Em  concreto,  o  Estado  Novo  aumentou  o  número  
de  edifícios  escola,  mas  não  se  preocupou  com  a  modernização  das  pedagogias  e  das  
estruturas  funcionais,  mantendo  o  nível  de  preocupações  higienistas  do  tipo  anterior  
(Tipo  Adães  Bermudes).  

Estes  edifícios  escolares  mantiveram-­se  organizados  sob  a  perspectiva  pedagógica,  


segundo  programas  pobres  que  permaneceram  reduzidos  à  sala  de  aula,  ao  vestíbu-
lo,  às  instalações  sanitárias  no  exterior  e  a  uma  pequena  área  de  recreio  coberta.  Será  
importante   referir   que   as   alterações   que   se   operaram   do   Tipo   Rogério   de  Azevedo  
para  o  Tipo  Fernandes  de  Sá,  e  do  Tipo  Fernandes  de  Sá  para  o  Tipo  Fernanferes,  
têm,  essencialmente,  que  ver  com  a  simplificação  da  estrutura  de  organização  espa-
cial.  Este  facto  revela-­se  de  forma  mais  evidente  do  Tipo  Rogério  de  Azevedo  para  o  
Tipo  Fernandes  de  Sá.  Esta  subsequente  depuração  permitiu,  associada  à  descom-
plexificação   da   linguagem   cada   vez   menos   regionalista,   uma   simplificação   gradual  
das  construções,  mais  perceptível  no  Tipo  Fernando  Peres  que  surge  no  fim  do  regime  
ditatorial   e   tem   subjacente   uma   clara   vontade   de   uniformização   dos   espaços   e   dos  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 261


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

seus  componentes,  resultante  na  diminuição  dos  custos  que  lhes  estavam  implícitos.

Percebemos  que  o  Tipo  P3_Área  Aberta,  o  último,  dentro  dos  tipos  por  nós  identifica-
dos,  é  de  facto,  o  que  traz  consigo  maiores  mudanças  no  entendimento  do  que  deve  
ser   o   edifício   da   escola   primária.   Surge   tardiamente   no   séc.XX,   entre   a   década   de  
70  e  de  80,  sendo  o  resultado  de  um  projecto  de  ajuda  no  âmbito  da  OCDE,  com  o  
objectivo  predefinido  de  estimular  a  escolaridade  obrigatória  nos  países  considerados  
mais  necessitados,  onde  se   incluía  Portugal,   designado   como   Projecto Regional do
Mediterrâneo   (1963).   Os   técnicos   da   Educação   envolvidos   propunham-­se   a   unificar  
e  harmonizar  as  construções  escolares,  concebendo  uma  escola  e  orientando  peda-
gogicamente   as   entidades   envolvidas.   Este   novo   tipo   de   construção   escolar   surgiu  
influenciado   pelos   movimentos   de   renovação   pedagógica   que   emergiam   na   Europa  
do  norte,  mais  concretamente  na  Escandinávia.  Da  equipa  de  diferentes  técnicos  da  
Educação,  do  Ministério  das  Obras  Públicas  e  do  Ministério  da  Habitação,  resulta  a  
concepção  de  uma  escola  experimental  em  Mem  Martins,  designada  por  Escola  Pilo-
to,  que  acaba  por  se  transformar  num  modelo  para  as  futuras  construções  das  escolas  
primárias,   que   acabam   por   responder   linearmente   a   um   modelo   nórdico   designado,  
entre  nós,  por  P3,  também  conhecido  como  escola  de  área  aberta.  

Entendemos  que  a  metodologia  de  ensino  distingue-­se  da  anterior  por  ser  baseada  na  
livre  circulação  dos  alunos  orientada  pelos  professores,  consoante  as  matérias  e  os  
seus  particulares  interesses.  A  grande  diferença  conceptual  destes  espaços  sustenta-­
se  no  facto  de  se  encontrarem,  na  sua  versão  original,  organizados  espacialmente  en-
tre  duas  ou  três  salas  comunicantes  entre  si  com  uma  área  comum  onde  se  exerciam  
trabalhos  manuais  em  grupo.  Este  modelo  subentende  também  uma  maior  abertura  
da  escola  à  comunidade,  por  introduzir  uma  área  polivalente  que  servindo  a  escola  
se  flexibiliza  funcionalmente,  versatilizando  o  seu  uso  em  particulares  momentos  de  
participação  na  vida  escolar  aos  pais,  familiares  e  à  comunidade  em  geral.  

Parece-­nos   sensato   afirmar   que   os   programas   que   anteriormente   eram   pobres   são  
acrescidos  de  uma  série  de  valências  dentro  das  áreas  lectivas  e  das  áreas  não  lecti-
vas.  Observamos  que  há  um  aumento  substancial  das  zonas  de  vestíbulo,  das  áreas  
destinadas  aos  serviços,  passando  a  estar  a  cozinha,  o  refeitório,  o  economato  e  as  
zonas  de  sanitários  integradas  no  edifício.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 262


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Nestas   escolas   o   que   se   mantém   das   tipologias   anteriores   é   a   área   do   espaço   da  


sala  de  aula,  que  agora  se  apresenta  com  outra  configuração.  Passa  de  um  desenho  
de   planta   rectangular   para   quadrangular,   o   que   permite   organizações   do   mobiliário  
distintas  mediante  a  presença  de  dois  quadros  em  topos  opostos  da  sala  de  aula.  A  
iluminação  destes  espaços  é  unilateral  existindo  total  capacidade  de  visualização  do  
exterior  em  posição  sentado,  ao  contrário  do  que  acontecia  nos  tipos  anteriores;;  tal  
facto  deve-­se  a  um  aumento  considerável  da  dimensão  dos  vãos.  

Percebemos  que  em  todos  os  exemplos  que  estudamos,  salvo  um  (escola  da  Ponte  
em  Santo  Tirso  onde  se  mantém  a  premissa  que  justificou  o  desenho  original  destas  
escolas:  terem  as  salas  abertas  para  a  zona  comum  de  trabalhos  manuais),  as  salas  
de  aula  encerraram-­se  com  um  plano  de  parede  que  agora  contém  a  porta  de  entra-
da.  A  ideia  defendida  nos  anos  80  de  uma  permeabilidade  dos  alunos  entre  salas  e  
temas  de  trabalho  (digamos,  um  primeiro  esboço  de  interdisciplinaridade  pedagógica),  
regressou  ao  modo  de  ensino  que  se  praticava  nos  tipos  anteriormente  referidos,  no  
momento  em  que  a  sala  volta  a  estar  encerrada  sobre  si  própria  e  o  docente  indepen-
dente  na  sua  forma  de  leccionar.  

Concluímos  que  as  premissas  que  lhes  deram  origem  foram  praticamente  todas  sub-
vertidas  sendo  o  encerramento  das  salas  a  maior  prova  de  contradição  expressa  pela  
conceptualização  formal  no  enfrentamento  da  desejada  prática  pedagógica.  

Observamos  também,  que  a  escala  destes  edifícios  escolares  aumenta  como  conse-
quência  do  desenvolvimento  do  programa  pedagógico  e  do  acréscimo  do  número  de  
salas  de  aula,  que  nos  tipos  anteriores  não  ultrapassava  uma  média  de  4  a  6  salas  por  
edifício  e  que  agora  atinge,  nas  variantes  maiores  deste  tipo,  as  16  salas  de  aula.  

Podemos  ainda  concluir  que  não  existem  grandes  preocupações  ao  nível  das  com-
posições  estéticas  e  das  relações  de  proporção  entre  as  partes,  que  eventualmente  
resultariam  numa  maior  clareza  e  legibilidade  das  hierarquias  estabelecidas  pela  dis-
tribuição  do  programa  funcional.  Com  efeito,  a  modulação  pretende  apenas  assegurar  
o  máximo  de  combinações  disponíveis,  utilizando  sempre  os  mesmos  componentes  
construtivos  evitando  posteriormente  em  obra  alterações  ao  projecto.  Esta  atitude  ori-
ginou   gastos   e/ou   perdas   de   tempo   no   processo   da   sua   construção,   resultando   em  
escolas   primárias   com   uma   aparência   algo   rude,   consequência   da   sua   morfologia  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 263


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

insípida,  vincada  pela  malha  estrutural  aparente  em  todos  os  alçados  e  pelas  opções  
ao  nível  dos  materiais,  das  cores  e  das  texturas.

Dado  o  exposto,  a  partir  do  momento  em  que  estão  identificados  os  Tipos  de  escolas  
primárias  portuguesas  que  consideramos  mais  significativos  neste  período,  finais  do  
século  XIX  até  à  contemporaneidade   52,  revelou-­se  importante  uma  análise  num  con-
texto  contido,  para  possibilitar  uma  observação  individualizada  do  edifício  da  escola  
primária,  particularizando  também  as  suas  relações  específicas  com  o  lugar.  Para  tal  
escolhemos  a  cidade  do  Porto  e  identificamos  5  grupos,  ordenados  cronologicamente  
e  organizados  segundo  critérios  de  semelhanças  tipológicas  e  de  organização  funcio-
nal.  Sinteticamente,  designamos  os  grupos  por:  Histórico  -­  circunscrito  a  um  intervalo  
de  tempo  entre  1890  e  1929;;  Estado Novo,  balizado  entre  os  anos  de  1938  e  1955;;  
Movimento Moderno (C.M.P.)  num  período  compreendido  entre  1954  e  1965;;  Casos
Especiais C.M.P   circunscritos   entre   1965   e   1974   e   Contemporâneos,   de   1975   até  
1990.

Concluímos  que  neste  contexto  particular  do  Porto  há  uma  enorme  diversidade  formal  
que  caracteriza  os  edifícios  das  escolas  primárias.  A  nossa  observância  e  curiosidade  
sobre  este  território,  permitiu-­nos  perceber  que,  apesar  de  um  passado  de  intransigên-
cia  formal  e  legislativa  que  vigorou  durante  4  décadas  de  Estado  Novo  (1933  a  1974),  
precedida  pela  fragilidade  de  uma  Primeira  República  (1910  a  1926)  cheia  de  precei-
tos   mas   inconclusiva   nas   abordagens,   e   anteriormente,   pelos   últimos   anos   de   uma  
Monarquia  enfraquecida  (meados  do  século  XIX  até  1910)  onde  se  experimentaram  
as  primeiras  formas  de  ensino  aberto  à  população,  os  edifícios  das  escolas  primárias  
portuenses  foram-­se  materializando  e  participando  na  estrutura  urbana  da  cidade.

Concluímos  que  no  Grupo  Histórico  (1890-­1929),  que  engloba  as  primeiras  escolas  
primárias  que  a  cidade  do  Porto  conheceu,  o  Tipo  Conde  de  Ferreira  não  se  generali-
za  e  o  Tipo  Adães  Bermudes  não  existe.  Observamos  que  as  escolas  primárias  deste  
período  estão,  na  sua  generalidade,  instaladas  em  edifícios  que  não  foram  pensados  
de   raiz   para   responder   a   este   programa.   Implementaram-­se   praticamente   todas   em  
edifícios  preexistentes,  readaptados,  que  não  se  ajustam  pedagogicamente  aos  pro-

Sublinhemos  que  a  construção  de  edifícios  escolares  para  o  ensino  primário  cessa  em  grande  parte  
52    

nos  anos  90  do  século  passado,  optando-­se  depois  por  políticas  de  manutenção  e  ampliação  dos  edifí-
cios  pré  existentes.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 264


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gramas  funcionais  vigentes,  facto  corroborado  pela  malha  urbana  estreita  e  apertada,  
característica  do  centro  histórico  portuense,  que  vem  sublinhar  as  limitações  opera-
cionais  destes  programas.

Entendemos   que   o   Grupo   Estado   Novo   (1938-­1955)   é   o   período   em   que   os   Tipos  


Rogério  de  Azevedo  e  Fernandes  de  Sá  (enquadrado  no  Plano  dos  Centenários)  são  
intensamente  introduzidos  na  cidade.  Concluímos  que  neste  período  as  propriedades  
estruturantes  destes  dois  tipos  se  concretizaram  efectivamente  nas  escolas  primárias  
que  se  construíram,  com  maior  incidência  sobre  o  segundo,  o  Tipo  Fernandes  de  Sá.  
As  áreas  dos  lotes  em  que  se  inserem  são  generosas,  na  sua  relação  com  as  restan-
tes  parcelas  da  cidade,  as  áreas  exteriores  de  recreio,  em  relação  às  áreas  lectivas  
cobertas  representam  em  média  80%  da  área  total.  Observamos  que  a  área  lectiva,  
correspondente  às  salas  de  aula,  é  muito  superior  às  áreas  não  lectivas  de  serviços.  
Tal  factor,  característico  destes  tipos,  revela  que  os  programas  implementados  valori-
zavam  quase  exclusivamente  o  espaço  da  sala  de  aula,  estando  estas  apenas  com-
plementadas  com  instalações  sanitárias  e  uma  ou  outra  área  de  apoio,  como  arrumos  
ou,  nalguns  casos  mais  raros,  salas  de  apoio.  É  também  característica  a  existência  de  
um  espaço  coberto,  adoçado  ao  alçado  posterior,  o  qual  para  além  de  fazer  a  transi-
ção  entre  as  instalações  sanitárias  e  o  resto  do  edifício,  permitia  aos  alunos,  nos  seus  
intervalos,  protegerem-­se  das  intempéries.

Observamos  que  estas  escolas  estão  intrinsecamente  relacionadas  com  o  crescimen-


to  urbano  da  cidade  por  se  incluírem  como  equipamentos  complementares  no  dese-
nho  dos  conjuntos  habitacionais  designados  por  Casas Económicas do Estado Novo,
implantados,  então,  em  zonas  pouco  densas,  afastadas  do  centro  da  cidade  num  raio  
de  5  ou  6  km,  que  iam  sendo  gradualmente  absorvidas  pelas  outras  construções  re-
sultantes  da  expansão  natural  da  urbe.

Percebemos  que  o  grupo  Movimento  Moderno  (C.M.P.)  (1954-­1965)  representa  uma  


charneira  dentro  da  análise  dos  edifícios  das  escolas  primárias  da  cidade  do  Porto,  no  
que  diz  respeito  ao  entendimento  do  que  deve  ser  um  edifício  de  uma  escola  primária  
e  de  que  forma  se  devem  estruturar  os  seus  programas  funcionais.  O  facto  de,  a  partir  
do  Decreto-­Lei  de  21  de  Dezembro  de  1954,  a  C.M.P.  assumir  a  gestão  dos  processos  
de  conceptualização  e  construção  dos  edifícios  escolares,  correspondeu  ao  aumento  
do  número  de  edifícios  escolares  construídos  (numa  década  constroem-­se  42%  das  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 265


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

escolas  primárias  que  existem  na  cidade  do  Porto),  bem  como  a  uma  interpretação/
experimentação   intensiva,   por   parte   dos   arquitectos   da   câmara,   dos   pressupostos  
do  Movimento  Moderno.  Entendemos  que  estes  edifícios  escolares  representam  pela  
sua  qualidade  arquitectónica,  apesar  de  se  manter  o  regime  de  não  coeducação  como  
condicionante  de  peso  na  abordagem  aos  programas  funcionais,  uma  libertação  con-
ceptual  das  imposições  linguísticas  e  formais  caracterizadas  pelos  pressupostos  re-
gionalistas  que  remetem,  induzidos  pelo  regime,  para  o  arquétipo  da  casa portuguesa
(característica   presente   no   grupo   Estado   Novo).  Tal   facto   está   também   relacionado  
com  a  condição  particular  que  se  vivia  no  Porto,  com  a  formação  dos  O.D.A.M.  e  a  
efectiva  acção  deste  grupo  no  meio  intelectual  arquitectónico  realizado  por  alguns  dos  
arquitectos  mais  destacados  desta  formação,  na  que  viria  a  ser  designada,  mais  tarde,  
como Escola do Porto.

Esta  procura  não  se  ficou  só  pela  transformação  das  linguagens  utilizadas,  procurou  
aportar   novos   contributos   conceptuais   à   expressão   de   uma   nova   epistemologia   do  
ensino   referenciada   às   emergentes   pesquisas   internacionais;;   através   de   uma   pers-
pectiva   mais   consciente,   culta   e   aculturada,   expressa   por   uma   prática   da   disciplina  
arquitectónica   mais   liberta   e   comprometida   com   o   desenho,   agora   desvelado   como  
instrumento   operativo   da   investigação   em   projecto;;   a   arquitectura   destes   edifícios,  
destacando-­se  de  uma  letargia  normativa  sustento  de  uma  correcção  enviesada  no  in-
terpretar  do  devir,  vai-­se  afirmando  por  uma  outra  linguagem,  paulatinamente,  contri-
buto  fundamental  na  solução  das  questões  pedagógicas/arquitectónicas  que  um  novo  
tempo   propunha.   Com   efeito,   introduziram-­se,   através   das   suas   formalizações   e   da  
interacção  com  os  lugares  da  sua  implantação,  uma  resposta  distinta  a  uma  realidade  
urbana  expectante,  forma  essa  enunciadora  de  uma  outra  leitura  do  espaço  na  análi-
se  do  território  e  da  subsequente  linguagem  arquitectónica,  contribuindo,  claramente,  
para  a  fixação  de  uma  outra  narrativa,  espelho  mais  fiel  da  sua  época.

Pela  observação  dos  aspectos  analisados,  verificamos  que  a  C.M.P.,  manteve  a  polí-
tica  praticada  até  então  pelo  regime  no  que  diz  respeito  à  introdução  destes  equipa-
mentos  escolares  como  elementos  complementares  dos  novos  bairros  propostos  para  
a  cidade  pelo  Estado,  inserindo-­se  na  1ª  fase  do  Programa  dos  Bairros  do  Plano  de  
Melhoramentos  (1956-­1966).  

A  relação  destes  edifícios  com  o  espaço  exterior  é  particularmente  diferente  da  dos  

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

grupos  anteriores.  Observamos  que  há  uma  clara  libertação  das  paredes,  enquanto  
elementos  estanques  contentores  dos  espaços,  resultando  numa  imaterialização  des-
tas  estruturas  escolares  tornando-­as  mais  abertas,  mais  espaçosas  e  transparentes,  
permitindo  a  entrada  de  mais  luz,  através  do  aumento  dos  vãos  em  número  e  em  es-
cala,  sinónimo  de  higiene  e  saúde.  Entendemos  que  nestas  construções  a  exposição  
solar,  é  uma  preocupação  que  se  revela  subjacente  à  escolha  a  situação  das  salas  de  
aula.  

Observamos  também,  que  apesar  das  transformações  ao  nível  dos  programas,  onde  
acontece   um   desenvolvimento   /   crescimento   dos   espaços   lectivos   e   não   lectivos,   e  
do  consequente  aumento  da  escala  das  escolas,  fruto  da  diversidade  programático-­
funcional  revelada  segundo  diversas  formalizações,  o  entendimento  sobre  o  que  deve  
ser  a  sala  de  aula,  ainda  se  mantém  estanque  perante  a  perspectiva  de  um  espaço  
contentor,  padronizado.  A  passagem  do  universo  narrativo,  sustentado  na  confiança,  a  
um  universo  real  expresso  pela  verdade,  não  é  imediato.  Confiança  e  verdade,  como  
os  dois  lados  de  uma  realidade  desejável,  sempre  foi  o  fito  ansiado  pela  arquitectura  
mas,  do  desejar  de  tal  realidade  à  sua  validação  entremeia-­se  um  universo  de  liber-
dades  necessárias  onde  pensamento  e  sua  plena  expressão  convirjam  na  fundamen-
tação  metodológica  duma  arquitectura  que  espelhe  no  seu  tempo,  a  sua  verdadeira  
circunstância.  Tal  realidade,  infelizmente,  não  seria  possível  de  ser  alcançada.

O  grupo  dos  Casos  Especiais  C.M.P  (1965-­1974),  decorre  já  no  período  de  falência  do  
regime  de  Oliveira  Salazar,  num  momento  em  que  se  questionam  os  princípios  moder-
nistas,  e  em  que  se  procura,  por  exemplo,  um  retorno  às  relações  entre  a  Arquitectura  
o  Homem  e  o  Lugar.  Referimo-­nos  ao  caso  concreto  do  organicismo,  experimentado,  
por  exemplo,  na  escola  primária  do  Cedro  em  Vila  Nova  de  Gaia,  projecto  do  professor  
e   arquitecto   Fernando  Távora.   O   que   concluímos   mediante   a   observação   das   duas  
escolas  que  incluem  este  grupo  é  que,  para  além  de  também  se  inserirem  em  bairros  
sociais  promovidos  pela  administração  pública,  se  continua  a  garantir  nestes  edifícios  
escolares  a  efectiva  funcionalidade  dos  programas  destes  espaços.  Acontece  a  conti-
nuidade  das  preocupações  de  distribuição  funcional,  bem  como  da  relação  do  espaço  
interior  com  o  espaço  exterior,  através  da  imaterialização  das  paredes  consequência  
do   grande   número   de   vãos   quase   sempre   de   configuração   horizontal,   experimenta-
dos  no  grupo  anterior,  mas  a  linguagem  arquitectónica  descaracteriza-se, pela mistu-

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ra  de  elementos  arquitectónicos  de  tendências  divergentes.  Estas  duas  escolas  são  
também  particulares  pelos  contextos  urbanos  singulares  em  que  se  inserem  e  pelas  
diferenças  histórico/sociais  que  adivinhavam  uma  liberalização  generalizada  a  várias  
áreas,  onde,  naturalmente,  se  incluía  a  arquitectura.

Observamos  que  o  último  grupo  de  escolas  a  serem  construídas  na  cidade  do  Porto  
que  designamos  de  Contemporâneos  (1975-­1990),  são  o  grupo  de  projectos  de  edifí-
cios  escolares  que  analisamos,  com  menos  afinidades  formais  entre  si.  As  linguagens  
arquitectónicas  são  diversas,  determinadas  pela  sobreposição  de  elementos  arquitec-
tónicos  com  significados  linguísticos  distintos  e  que  se  sustentam  nas  experimenta-
ções  subsequentes  ao  Movimento  Moderno.  O  factor  que  as  une,  é  o  facto  de  o  pós  
25  de  Abril  ter  feito  cair  por  terra  o  regime  de  não  coeducação,  tornando  os  programas  
menos  rígidos  pedagogicamente  e  logo,  as  distribuições  funcionais  para  respeitar  os  
programas,  revelarem  ainda  maior  qualidade  e  flexibilidade  morfológica  que  os  grupos  
anteriores,  respondendo  eficazmente  aos  requisitos  funcionais  e  programáticos.  Per-
cebemos  que  se  descura  nalguns  casos  a  importância  do  lugar,  o  genius  loci,  factor  
que  comprovamos  quando  se  repetem  os  projectos  das  escolas  implantando-­os  em  
lugares  com  características  distintas.

Entendemos  que  neste  grupo  apenas  uma  escola  é  claramente  Tipo  P3-­Área  Aberta  
(EB1   do   Viso),   e,   como   tal,   respeita   as   propriedades   estruturantes   do   tipo   como   o  
definimos.

Observamos  um  empobrecimento  no  aspecto  exterior  dos  edifícios,  que  na  sua  gene-
ralidade  se  assemelham  a  pavilhões.

Verificamos   que   o   projecto   e   a   construção   de   novos   edifícios   escolares   na   cidade  


do   Porto,   é   substituído,   a   partir   da   década   de   90,   por   políticas   de   manutenção   dos  
edifícios   existentes,   promovendo   a   sua   ampliação   e   respectiva   reestruturação   dos  
esquemas   e   programas   funcionais.   Esta   realidade   não   é   particular   deste   contexto,  
generaliza-­se  no  resto  do  país  até  à  contemporaneidade.

Dado  o  exposto,  é  imprescindível  que  todos  se  consciencializem  de  que  a  arquitectura  
escolar  é  o  meio  de  expressão  dos  sentidos  da  educação  no  construir  do  conhecimen-
to,  que  resulta  num  investimento  sobre  as  gerações  futuras,  forças  latentes  do  desen-
volvimento  humano  e  social.  As  diferentes  formalizações  e  estruturas  funcionais,  as  

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composições  volumétricas,  o  mobiliário  e  as  suas  diferentes  composições,  bem  como  


as  diversas  matérias-­primas  utilizadas  nas  construções  associadas  a  opções  cromá-
ticas,   enfim,   todas   estas   propriedades   inerentes   ao   discurso   arquitectónico   revelam  
uma  dimensão  educativa  que  consideramos  ser  incontestável.

Todas   estas   considerações,   são   aplicáveis,   na   vastidão   de   programas   contidos   no  


âmbito  da  arquitectura,  mas  consideramos  que  estão  particularmente  latentes  no  pro-
grama  das  escolas,  onde  os  conteúdos  programáticos  e  pedagógicos  se  confundem  
com  as  definições  espaciais.  A  escola  reflecte  enquanto  construção  as  propriedades  
procedentes  da  produção  normativa,  bem  como  as  evoluções  ao  nível  das  técnicas  
construtivas.  A  análise  das  variações  e  da  sistematização  das  tipologias,  reflexo  da  or-
ganização  programática,  que  subentendem  ideologias  e  estruturas  sociais,  remeteu-­
nos  para  as  alterações  das  práticas  educativas  e  culturais,  compreendidas  na  história  
do  ensino.  Os  edifícios  escolares,  por  nós  entendidos  como  elementos/equipamentos  
complementares   do   desenho   urbano,   são   marcos,   referências   da   cultura   e   espelho  
da  sociedade.  Estudar  a  sua  evolução  e  sistematização  permitiu-­nos  reconhecer  os  
diferentes  modos  e  métodos  de  ensino  e  as  práticas  que  lhe  estavam  e  continuam  a  
estar  subjacentes.  Observamos  a  arquitectura,  em  particular  nestes  edifícios,  refém  
da  conjuntura  económica  e  política,  mas  sublinhamos  que  o  seu  contributo  é  efectivo  
na  potencialização  dos  processos  de  transmissão  e  aquisição  de  conhecimentos.

A  elaboração  desta  investigação  foi  iniciada  com  a  expectativa  de  contribuir  para  um  
maior  conhecimento  sobre  o  património  arquitectónico  português,  aqui  representado  
pelas  escolas  primárias,  com  todo  o  significado  e  simbolismo  que  resulta  da  sua  natu-
reza  arquitectónica,  por  nós  revisitada  e  comparada.  As  conclusões  que  alcançamos  
neste  campo,  têm  como  objectivo  deixar  em  aberto  outras  possibilidades  de  entendi-
mento  sobre  este  património  que  é  de  todos  nós,  procurando  facilitar  outras  formas  de  
abeirar  tal  tema,  que  consideramos  tão  rico  e  actual  e,  ao  mesmo  tempo,  tão  comple-
xo  e  abrangente.  Sugerimos,  por  exemplo,  uma  abordagem  mais  sensitiva,  no  plano  
da   antropologia   didáctica   e   funcional,   entre   outras   possíveis,   para   alcançar   novas  
conclusões  que  permitam  uma  maior  e  mais  sedimentada  evolução  do  entendimento  
destes  edifícios,  quer  para  a  preservação  e  correcta  manutenção  dos  que  já  existem,  
quer  para  a  conceptualização  e  construção  dos  edifícios  escolares  do  futuro.

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A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

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TOSTÕES,  Ana(2002)   -­   Cultura   e   Tecnologia   na  Arquitectura   Moderna   Portuguesa,  


Dissertação  para  a  obtenção  do  grau  de  Doutor  em  Engenharia  do  Território,  Instituto  
Superior  Técnico  –  Universidade  Técnica  de  Lisboa,  Lisboa.

UNION   INTERNATIONAL   DE  ARQUITECTOS(1959)   -­   Comisión   de   Construcciones  


Escolares;;  Carta  de  Construcciones  Escolares.

UNION  INTERNATIONALE  DES  ARCHITECTES  (1955)  –  Commission  dés  Construc-


tions  Scolaires;;  L’école  et  ses  problèmes.  Premier  rapport  établi  par  la  commission  dés  
constructions  scolaires  à  la  demande  de  l’UNESCO.

VAGO,  Pierre(1936)  -­  “Nouvelles  Constructions  Scolaires”  in  L’Architecture  d’Aujourd’hui,  


Paris.

VIÑAO   FRAGO,   Antonio(1993-­94)   -­   “Del   espacio   escolar   y   la   escuela   como   lugar:  


propuestas  e  cuestiones”  in  Historia  de  la  Educación  Revista  Interuniversitaria,  Num.  
12-­13,  Ediciones  Universidad  de  Salamanca,  Salamanca.

VIÑAO  FRAGO,  Antonio(1993-­94)  -­  “El  espacio  escolar  –  introducción”  in  Historia  de  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 291


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

la  Educación  Revista  Interuniversitaria,  Num.  12-­13,  Ediciones  Universidad  de  Sala-


manca,  Salamanca.

VIÑAO   FRAGO,  Antonio(1993-­94)   -­   “El   espacio   escolar   en   su   perspectiva   histórica.  


Bibliografía”  in  Historia  de  la  Educación  Revista  Interuniversitaria,  Num.  12-­13,  Edicio-
nes  Universidad  de  Salamanca.

WIEGELMANN,  Andrea(2003)  -­  “Education  and  Construction  –  a  Typology  of  School  


Building”  in  DETAIL  Review  of  Architecture  -­  Schulbau,  n.º  3/2003,pp.  165-­190.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 292


APÊNDICES
A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A - Fichas síntese com análise tipológica, tectónica e formal dos


Tipos de Escola Primária do Norte de Portugal.

Apêndice B - Fichas síntese com análise tipológica, tectónica e formal das


Escolas Primárias do Porto.

Carla Andreia Galvão de Carvalho 294


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

APÊNDICE A
Fichas síntese com análise tipológica, tectónica e formal dos Tipos de Escola Primária
do Norte de Portugal

Carla Andreia Galvão de Carvalho 295


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

a1 T I P O   C O N D E   D E   F E R R E I R A
projecto | (séc.XIX  -­  1866)

Ilustração 126 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais
autor | Legado Conde Ferreira
localização das unidades de amostra | Porto, Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Famalicão,
Espinho, Paredes, Vimioso, Alijó, Esposende, Vila do Conde, Amarante
caracterização | arquitectura educativa e revivalista
função actual | escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico,  serviços  municipais,  sedes  de  juntas  
de  freguesia,  bibliotecas,  museus  municipais  e  instalações  de  forças  de  segurança

Carla Andreia Galvão de Carvalho 297


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

desenhos

planta piso 0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 298


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

                                   tipo                                                          circulações                                      análise  tipológica                                        estrutura

análise funcional

planta piso 0 planta  piso  1

área útil

w.c.
sala de aula habitação

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 51,59%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  48,41%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 299


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

eixos estruturantes e de simetria grelha de composição espacial

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos                                                                                                                percursos  de  distribuição                              

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

entradas de luz

planta  piso  1

planta piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 300


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

grelha de composição dos alçados

alçado frontal alçado lateral direito alçado posterior

cheios e vazios / ritmos dos vãos

alçado frontal alçado lateral direito alçado posterior

                                     b                a                  b                                                      a                            c                  c                    c                            c                                                          e              d              e

   elementos  decorativos  que  compõem  os  alçados  (granito)

alçado frontal alçado lateral direito alçado posterior

Carla Andreia Galvão de Carvalho 301


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

a2 T I
projecto |
P O   A D Ã E S   B E R M U D E S    
(séc.XX  -­  1900)

Ilustração 127 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais
autor | Arq.  Adães  Bermudes
localização das unidades de amostra | Vila   Real,   Barcelos,   Vila   do   Conde,   Mondim   de  
Basto,  Macedo  de  Cavaleiros,  Murça,  Espinho,  Vila  Nova  de  Foz  Côa,  Chaves,  Mirandela,  
Paredes de Coura
caracterização | arquitectura novecentista de caracter educativo, de tendência academicista
função actual | escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico,  escolas  de  educação  sénior,  jardim  
de  infância,  albergue  de  peregrinos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 303


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

desenhos

planta piso 0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 304


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

                                   tipo                                                          circulações                                      análise  tipológica                                        estrutura

análise funcional

planta piso 0 planta  piso  1

área útil

w.c. habitação
sala de aula recreio  coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 35,66%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  21,16%

                                     (recreio  coberto)  |  43,18%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 305


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

eixos estruturantes e de simetria grelha de composição espacial

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos                                                                                                                percursos  de  distribuição                              

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos principal secundário transição entre espaços interiores

entradas de luz

planta  piso  1

planta piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 306


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

grelha de composição dos alçados

alçado frontal

cheios e vazios / ritmos dos vãos

alçado frontal

d d d d

                                                                                         a                        b                  b                  b                      c          d          d        c                      b                    b                    b                      a                                    

   elementos  decorativos  que  compõem  os  alçados  (granito)

alçado frontal

Carla Andreia Galvão de Carvalho 307


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

a3 T I P O   R O G É R I O   D E   A Z E V E D O  
projecto | (séc.XX  -­  1935/40)

Ilustração 128 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais
autor | Arq.  Rogério  de  Azevedo
localização das unidades de amostra | Porto,  Bragança,  Leça  do  Balio,  Mirandela,  Mesão
Frio,  Ribeira  da  Pena,  Melgaço,  Esposende,  Vila  Real,  Cabeceiras  de  Basto,  Murça
caracterização | arquitectura educativa regionalista
função actual | escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico  (acumulam  a  função  de  cantina  esco-
lar  e/ou  jardim  de  infância),  extenção  de  saúde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 309


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

desenhos

planta piso 0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 310


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

                                   tipo                                                          circulações                                      análise  tipológica                                        estrutura

análise funcional

planta piso 0 planta  piso  1

área útil

w.c.
sala de aula recreio  coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 74,46%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |      3,34%

                                     (recreio  coberto)  |  22,32%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 311


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

eixos estruturantes e de simetria grelha de composição espacial

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos                                                                                                                percursos  de  distribuição                              

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos principal secundário transição entre espaços interiores

entradas de luz

planta  piso  1

planta piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 312


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

grelha de composição dos alçados

alçado frontal alçado lateral direito

cheios e vazios / ritmos dos vãos

alçado frontal alçado lateral direito

                                                 b              b              b                        c                                                                                                                                                                b            b              b                  

                                                 b              b              b                        a                                                                                                                                                              b              b              b                  

   elementos  decorativos  que  compõem  os  alçados  (granito)

alçado frontal alçado lateral direito

Carla Andreia Galvão de Carvalho 313


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

a4 T I P O   F E R N A N D E S   D E   S Á
projecto | (séc.XX  -­  1940/50)

Ilustração 129 - Fachada Principal. (Em  linha)  (consultado  em  15  de  Fevereiro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://www.monumentos.pt
dados gerais
autor | Arq.  Fernandes  de  Sá
localização das unidades de amostra | Ponte  da  Barca,  Chaves,  Porto,  Vila  Nova  de  Gaia,  
Vila  Real,  Vila  Nova  de  Foz  Côa,  Maia,  Mirandela,  Santa  Marta  de  Penaguião,  Carrazeda  
de  Ansiães,  Peso  da  Régua,  Bragança,  Barcelos,  São  João  da  Madeira,  Guimarães
caracterização | arquitectura  educativa  temporalmente  contextualizada  no  séc.  XX

função actual | escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico  (acumulam  a  função  de  jardim  de  infância)

Carla Andreia Galvão de Carvalho 315


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

desenhos

planta piso 0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 316


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

                                   tipo                                                          circulações                                      análise  tipológica                                        estrutura

análise funcional

planta piso 0 planta  piso  1

área útil

w.c.
sala de aula recreio  coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 50,92%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |      5,61%

                                     (recreio  coberto)  |  43,47%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 317


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

eixos estruturantes e de simetria grelha de composição espacial

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos                                                                                                                percursos  de  distribuição                              

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos principal secundário transição entre espaços interiores

entradas de luz

planta  piso  1

planta piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 318


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

grelha de composição dos alçados

alçado frontal alçado lateral direito alçado posterior

cheios e vazios / ritmos dos vãos

alçado frontal alçado lateral direito alçado posterior

                                     a              b        b        b          b      b        b              a                                                                            dd                                                                                                    ee  ee  ee  ee                  

   elementos  decorativos  que  compõem  os  alçados  (granito)

alçado frontal alçado lateral direito alçado posterior

Carla Andreia Galvão de Carvalho 319


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

a5 T I P O   F E R N A N D O   P E R E S
projecto | (séc.XX  -­  1960/70)

Ilustração 130 - Fachada Principal (Beja  et  al.,  1990,  p.174)


dados gerais
autor | Arq. Fernando Peres
localização das unidades de amostra | Carrazeda  de  Ansiães,  Pêso  da  Régua,  Ponte  da  
Barca,   Vila   Real,   Santa   Marta   de   Penaguião,   Bragança,   Vila   Nova   de   Foz   Côa,   Mesão  
Frio, Chaves, Vila Pouca de Aguiar
caracterização | arquitectura  educativa  referênciada  ás  décadas  60  e  70  do  séc.  XX

função actual | escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico

Carla Andreia Galvão de Carvalho 321


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

desenhos

planta piso 0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 322


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

                                   tipo                                                          circulações                                      análise  tipológica                                        estrutura

análise funcional

planta piso 0 planta  piso  1

área útil

w.c.
sala de aula recreio  coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 67,75%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |      1,94%

                                     (recreio  coberto)  |  30,31%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 323


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

eixos estruturantes e de simetria grelha de composição espacial

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos                                                                                                                percursos  de  distribuição                              

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos principal secundário transição entre espaços interiores

entradas de luz

planta  piso  1

planta piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 324


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

grelha de composição dos alçados

alçado frontal alçado posterior

cheios e vazios / ritmos dos vãos

alçado frontal alçado posterior

                                     b                      b        b          b                b          b          b                b                                                                        d                                                                                                                d                  

                                     a                      b        b          b                b          b          b                a                                                                                  c                              eeee  eeee                              c                  

   elementos  decorativos  que  compõem  os  alçados  (granito)

alçado frontal alçado posterior

Carla Andreia Galvão de Carvalho 325


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

a6 T I P O   P 3
projecto | (séc.XX  -­  1970/80)

Ilustração 131 - Fachada Principal. (Em  linha)  (consultado  em  09  de  Fevereiro  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://eb1-­quinta-­castelos.rcts.pt  >

dados gerais
autor | baseada  num  modelo  nórdico  de  escola  de  área  aberta
localização das unidades de amostra | Porto, Vila Nova de Gaia, Póvoa de Varzim, Vila
Pouca  de  Aguiar,  Braga,  Avintes,  Barcelos,  Ovar,  Varziela,  Paredes
caracterização | arquitectura  educativa  de  finais  do  séc.  XX

função actual | escolas  do  1º  ciclo  do  ensino  básico

Carla Andreia Galvão de Carvalho 327


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

desenhos

planta piso 0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 328


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

                                   tipo                                                          circulações                                      análise  tipológica                                        estrutura

análise funcional

planta piso 0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas sala polivalente e refeitório

w.c. sala de aula refeitório - cozinha - despensa recreio  coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 60,04%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  28,30%

                                     (recreio  coberto)  |  11,66%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 329


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

estudos

eixos estruturantes e de simetria grelha de composição espacial

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos                                                                                                                percursos  de  distribuição                              

planta  piso  1 planta  piso  1

planta piso 0 planta piso 0

acessos principal secundário transição entre espaços interiores

entradas de luz

planta  piso  1

planta piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 330


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

grelha de composição dos alçados

alçado frontal alçado posterior

cheios e vazios / ritmos dos vãos

alçado frontal alçado posterior

c c c c c c c c fgf c c d d d d d d

c c c c c c c c e c c f f f f f e ef f g f

   elementos  decorativos  que  compõem  os  alçados  (granito)

alçado frontal alçado posterior

Carla Andreia Galvão de Carvalho 331


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

APÊNDICE B
Fichas síntese com análise tipológica, tectónica e formal das Escolas Primárias do Porto

Carla Andreia Galvão de Carvalho 333


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

01 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DO  CAMPO  24  DE  AGOSTO
grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 132 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa  (ampliação) anterior designação | escola  nº  1

data de construção | 1890  (edifício)  1954  (ampliação) ano da última intervenção | 2005

localização | Campo  24  de  Agosto,  312 freguesia | Bonfim

Carla Andreia Galvão de Carvalho 335


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 336


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 42,41% área coberta | 47,41%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  42,41% área descoberta | 52,59%

                                     (recreio  coberto)  |  18,18%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 337


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

02 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D A S   F L O R I N H A S
grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 133 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  5

data de construção | ano da última intervenção |

localização | Rua  Escola  Normal,  28 freguesia | Bonfim

Carla Andreia Galvão de Carvalho 339


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 340


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0

área útil

arrumos outras salas sala polivalente

w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 25,72% área coberta | 68,32%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  62,75% área descoberta | 31,68%

                                     (recreio  coberto)  |  11,53%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 341


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

03 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DE  CARLOS  ALBERTO


grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 134 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  51

data de construção | 1907 ano da última intervenção | 2002

localização | Praça Carlos Alberto freguesia | Vitória

Carla Andreia Galvão de Carvalho 343


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1  e  2

Carla Andreia Galvão de Carvalho 344


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

área útil

arrumos outras salas


w.c. sala de aula

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 84,75% área coberta | 53,74%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  15,25% área descoberta | 46,26%

                                     (recreio  coberto)  |    0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 345


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

04 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D A   P O N T E
grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 135 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  36

data de construção | 1915 ano da última intervenção | 2004

localização | Rua  de  Tânger,  1391 freguesia | Lordelo do Ouro

Carla Andreia Galvão de Carvalho 347


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 348


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

área útil

arrumos outras salas


w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 42,89% área coberta | 19,15%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |   42,11% área descoberta | 80,85%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 349


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

05 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DA  BANDEIRINHA


grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 136 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  42

data de construção | 1916 ano da última intervenção | anos  90

localização | Rua  da  Bandeirinha,  32 freguesia | Miragaia

Carla Andreia Galvão de Carvalho 351


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1

planta  piso  2 planta piso 3 alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 352


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2 planta piso 3

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 39,54% área coberta | 50,72%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  34,13% área descoberta | 49,28%

                                     (recreio  coberto)  |  26,33%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 353


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

06 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DE  S.  MIGUEL  DE  NEVOGILDE
grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 137 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  43

data de construção | 1916 ano da última intervenção | 2003

localização | Rua  da  Escola freguesia | Nevogilde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 355


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

planta  piso  2 alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 356


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 51,29% área coberta | 31,22%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  28,36% área descoberta | 68,78%

                                     (recreio  coberto)  |  20,35%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 357


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

07 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DAS  CRUZES


grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 138 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Legado Conde de Ferreira anterior designação | escola  nº  44

data de construção | 1917 ano da última intervenção | 1998

localização | Rua  das  Cruzes,  847 freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 359


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 360


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 62,37% área coberta | 28,52%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  37,63% área descoberta | 71,48%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 361


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

08 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D A   G Ó L G O T A
grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 139 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012                            Ilustração 140 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012

dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  40

data de construção | 1929 ano da última intervenção |

localização | Rua  da  Boa  Viagem,  11 freguesia | Massarelos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 363


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

planta  piso  2 planta piso 3

Carla Andreia Galvão de Carvalho 364


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2 planta piso 3

área útil

w.c. sala de aula pátio


outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto quarto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 47,68% área coberta | 42,17%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  44,78% área descoberta | 57,83%

                                     (recreio  coberto)  |      7,54%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 365


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

09 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D O   P I N H E I R O
grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

Ilustração 141 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  55

data de construção | ano da última intervenção |

localização | Rua  do  Pinheiro freguesia | Cedofeita

Carla Andreia Galvão de Carvalho 367


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

10 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D E   S . M I G U E L
grupo | Histórico  (1890  -­  1929)

dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  19

data de construção | ano da última intervenção |

localização | Rua  de  S.  Miguel,  13 freguesia | Vitória

Carla Andreia Galvão de Carvalho 369


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

11 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D O S   M I O S Ó T I S
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 142 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  18

data de construção | 1938 ano da última intervenção | 2001

localização | Rua  dos  Miosótis freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 371


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 372


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso1

área útil

arrumos outras salas sala  de  conferências  -­  biblioteca


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 45,60% área coberta | 22,60%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,06% área descoberta | 77,40%

                                     (recreio  coberto)  |  37,34%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 373


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

12 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DAS  CONDOMINHAS


grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 143 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  34

data de construção | 1938 ano da última intervenção | 2004

localização | Largo da Póvoa de Varzim freguesia | Lordelo do Ouro

Carla Andreia Galvão de Carvalho 375


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 376


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso1

área útil

arrumos outras salas sala  de  conferências  -­  biblioteca


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 45,60% área coberta | 20,72%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,06% área descoberta | 79,28%

                                     (recreio  coberto)  |  37,34%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 377


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

13 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  Nª  Sª  DE  CAMPANHÃ
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 144 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Rogério  de  Azevedo anterior designação | escola  nº  13

data de construção | 1939 ano da última intervenção | 2005

localização | Rua  Nª  Sª  de  Campanhã freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 379


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 380


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c.

sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 66,55% área coberta | 15,20%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |     3,87% área descoberta | 84,80%

                                     (recreio  coberto)  |  29,58%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 381


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

14 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  Nª  Sª  DA  AZENHA
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 145 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  21

data de construção | 1940 ano da última intervenção | 2000

localização | Bairro da Azenha freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 383


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 384


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c.

sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 62,60% área coberta | 10,71%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |     3,76% área descoberta | 89,29%

                                     (recreio  coberto)  |  33,64%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 385


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

15 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DOS  CORREIOS


grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 146 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  48

data de construção | 1940 ano da última intervenção | 2004

localização | Bairro dos Choupos freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 387


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 388


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos sala de aula

w.c. recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 72,95% área coberta | 11,86%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |     8,68% área descoberta | 88,14%

                                     (recreio  coberto)  |  18,37%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 389


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

16 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  S.  ROQUE  DA  LAMEIRA
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 147 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  12

data de construção | 1940 ano da última intervenção |

localização | Bairro  S.  Roque  da  Lameira freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 391


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 392


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 72,99% área coberta | 11,85%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |     4,76% área descoberta | 88,15%

                                     (recreio  coberto)  |  22,25%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 393


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

17 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D E   M O N T E B E L L O
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 148 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  15

data de construção | 1944 ano da última intervenção | 2003

localização | Rua  de  Alcântara freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 395


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 396


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 62,18% área coberta | 16,89%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  10,76% área descoberta | 83,11%

                                     (recreio  coberto)  |  27,06%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 397


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

18 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DE  S.  JOÃO  DE  DEUS
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 149 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais
autor | Arq.  Fernandes  de  Sá  (1º  edifício)   anterior designação | escola  nº  58
                     Arq.  Bernardino  Basto  Fabião  (2º  edifício)  

data de construção | 1945  (1º  edifício)   ano da última intervenção | anos  90
                                                                 1959  (2º  edifício)

localização | Bairro  S.  João  de  Deus freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 399


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 400


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 62,82% área coberta | 34,60%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  21,42% área descoberta | 65,40%

                                     (recreio  coberto)  |  15,76%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 401


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

19 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DE  S.  JOÃO  DA  FOZ
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 150 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  33

data de construção | 1951 ano da última intervenção | 1999

localização | Rua  Escultor  Henrique  Moreira freguesia | Foz  do  Douro

Carla Andreia Galvão de Carvalho 403


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 404


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 66,48% área coberta | 18,99%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |     5,04% área descoberta | 81,01%

                                     (recreio  coberto)  |  28,48%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 405


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

20 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DE  S.  MARTINHO  DE  ALDOAR
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 151 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  26

data de construção | 1952 ano da última intervenção |

localização | Rua  da  Vilarinha,  1100 freguesia | Aldoar

Carla Andreia Galvão de Carvalho 407


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 408


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 61,49% área coberta | 18,97%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |     8,06% área descoberta | 81,03%

                                     (recreio  coberto)  |  30,45%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 409


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

21 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D A   S É
grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 152 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Fernando  Barbosa  e  Fernando  Tudela anterior designação | escola  nº  25

data de construção | 1952 ano da última intervenção | 2005

localização | Rua  do  Sol,  14 freguesia | Sé

Carla Andreia Galvão de Carvalho 411


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

planta  piso  2 alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 412


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

área útil

arrumos outras salas recreio coberto

w.c. sala de aula secretaria

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 45,90% área coberta | 31,77%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,71% área descoberta | 68,23%

                                     (recreio  coberto)  |  36,39%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 413


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

22 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DO  BOM  SUCESSO


grupo | Estado  Novo  (1938  -­  1955)

Ilustração 153 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Fernandes de Sá anterior designação | escola  nº  38

data de construção | 1955 ano da última intervenção | 2001

localização | Rua  Barbosa  do  Bocage freguesia | Massarelos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 415


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 416


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 65,11% área coberta | 13,79%

áreas   não   lectivas   (serviços)   |     5,50% área descoberta | 86,21%

                                     (recreio  coberto)  |  29,39%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 417


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

23 E S C O L A   B Á S I C A  DO  1 º  CICL O  COM  JI  DA  L OM BA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 154 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa   anterior designação | escola  nº  11

data de construção | 1955 ano da última intervenção | 2004

localização | Rua  Frei  Heitor  Pinto,  100 freguesia | Bonfim

Carla Andreia Galvão de Carvalho 419


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0

planta  piso  1

Carla Andreia Galvão de Carvalho 420


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


outras salas sala polivalente recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 45,98% área coberta | 27,82%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  46,25% área descoberta | 72,18%

                                     (recreio  coberto)  |    7,77%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 421


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

24 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DA  CONSTITUIÇÃO


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 155 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa   anterior designação | escola  nº  31

data de construção | 1956 ano da última intervenção | 2004

localização | Rua  Padre  José  Pacheco  do  Monte freguesia | Cedofeita

Carla Andreia Galvão de Carvalho 423


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 424


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas


w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 74,35% área coberta | 18,19%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  25,65% área descoberta | 81,81%

                                     (recreio  coberto)  |    0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 425


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

25 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DA  CORUJEIRA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 156 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  6

data de construção | 1956 ano da última intervenção | 2005

localização | Praça da Corujeira freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 427


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  -­1 planta  piso  0

planta  piso  1

Carla Andreia Galvão de Carvalho 428


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 54,54% área coberta | 45,63%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  25,88% área descoberta | 54,37%

                                     (recreio  coberto)  |  19,58%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 429


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

26 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DE  LORDELO


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 157 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  35

data de construção | 1957 ano da última intervenção | 2004

localização | Rua  das  Condominhas,  774 freguesia | Lordelo do Ouro

Carla Andreia Galvão de Carvalho 431


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  -­1 planta  piso  0

planta  piso  1 alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 432


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 55,39% área coberta | 27,33%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  44,61% área descoberta | 72,67%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 433


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

27 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DA  PASTELEIRA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 158 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  46

data de construção | 1957 ano da última intervenção | 2004

localização | Bairro  Marechal  Gomes  da  Costa freguesia | Lordelo do Ouro

Carla Andreia Galvão de Carvalho 435


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 436


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 45,90% área coberta | 31,77%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,71% área descoberta | 68,23%

                                     (recreio  coberto)  |  36,39%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 437


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

28 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  RIBEIRO  DE  SOUSA
grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 159 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa   anterior designação | escola  nº  30

data de construção | 1957 ano da última intervenção |

localização | Rua  Ribeiro  de  Sousa freguesia | Cedofeita

Carla Andreia Galvão de Carvalho 439


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 440


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 53,30% área coberta | 19,43%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  25,53% área descoberta | 80,57%

                                     (recreio  coberto)  |  21,17%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 441


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

29 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DO  LAGARTEIRO


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 160 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  10

data de construção | 1958 ano da última intervenção | 2004

localização | Bairro do Lagarteiro freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 443


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 444


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 52,17% área coberta | 34,48%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  18,58% área descoberta | 65,52%

                                     (recreio  coberto)  |  29,25%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 445


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

30 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DO  COVELO


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 161 - Fachada Posterior. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Lúcio  Miranda   anterior designação | escola  nº  28

data de construção | 1958 ano da última intervenção | 1999

localização | Rua  Dr.  Adriano  de  Paiva freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 447


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 448


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 45,90% área coberta | 31,77%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,71% área descoberta | 68,23%

                                     (recreio  coberto)  |  36,39%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 449


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

31 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DOS  CASTELOS


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 162 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa   anterior designação | escola  nº  29

data de construção | 1958 ano da última intervenção | 2003

localização | Rua  Castelo  de  Guimarães freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 451


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 452


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 45,90% área coberta | 31,77%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,71% área descoberta | 68,23%

                                     (recreio  coberto)  |  36,39%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 453


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

32 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DO  MONTE  AVENTINO
grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 163 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Bernardino Basto Fabião anterior designação | escola  nº  22

data de construção | 1958 ano da última intervenção | 2005

localização | Rua  Rodrigues  Álvares freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 455


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 456


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 61,11% área coberta | 32,51%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  26,26% área descoberta | 97,49%

                                     (recreio  coberto)  |  12,63%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 457


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

33 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DA  CARAMILA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 164 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Fernando  Dontel   anterior designação | escola  nº  41

data de construção | 1958 ano da última intervenção | 2004

localização | Bairro do Carvalhido freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 459


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 460


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 51,98% área coberta | 23,09%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  28,64% área descoberta | 76,91%

                                     (recreio  coberto)  |  19,38%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 461


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

34 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DA  ALEGRIA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 165 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  3

data de construção | 1958 ano da última intervenção | 2001

localização | Praça da Alegria freguesia | Bonfim

Carla Andreia Galvão de Carvalho 463


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

planta  piso  2 alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 464


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

área útil

arrumos sala de aula

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 56,76% área coberta | 30,68%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  15,58% área descoberta | 69,32%

                                     (recreio  coberto)  |  27,66%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 465


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

35 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   C O M   J I   D A  A G R A
grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 166 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa   anterior designação | escola  nº  49

data de construção | 1959 ano da última intervenção | 2003

localização | Bairro Agra do Amial freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 467


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 468


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto sala  do  médico

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 41,66% área coberta | 26,48%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  24,42% área descoberta | 73,52%

                                     (recreio  coberto)  |  33,92%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 469


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

36 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DA  VILARINHA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 167 - Fachada Posterior. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  39

data de construção | 1959 ano da última intervenção | 2004

localização | Bairro da Vilarinha freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 471


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 472


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 56,21% área coberta | 25,56%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  19,81% área descoberta | 74,44%

                                     (recreio  coberto)  |  23,98%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 473


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

37 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DE  COSTA  CABRAL


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 168 - Fachada Posterior. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Alberto  Rosmaninho   anterior designação | escola  nº  17

data de construção | 1960 ano da última intervenção | 2000

localização | Rua  Costa  Cabral,  551 freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 475


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 476


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto habitação do vigilante

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 53,30% área coberta | 26,51%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  26,49% área descoberta | 73,49%

                                     (recreio  coberto)  |  20,21%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 477


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

38 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  FERNÃO  DE  MAGALHÃES


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 169 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  4

data de construção | anos  60 ano da última intervenção | 2004

localização | Bairro  Fernão  de  Magalhães freguesia | Bonfim

Carla Andreia Galvão de Carvalho 479


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 480


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula habitação do vigilante

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 58,58% área coberta | 28,49%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  41,42% área descoberta | 71,51%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 481


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

39 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DO  PADRE  AMÉRICO
grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 170 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  45

data de construção | anos  60 ano da última intervenção | 2005

localização | Bairro de Francos freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 483


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 484


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula habitação do vigilante

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 58,58% área coberta | 26,08%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  41,42% área descoberta | 73,92%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 485


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

40 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DO  CERCO  DO  PORTO
grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 171 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa   anterior designação | escola  nº  9

data de construção | 1961-­62 ano da última intervenção | 2000

localização | Bairro Cerco do Porto freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 487


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 488


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos sala de aula

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 70,22% área coberta | 18,67%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,57% área descoberta | 81,33%

                                     (recreio  coberto)  |  12,21%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 489


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

41 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  DE  FONTE  DA  MOURA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 172 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  Alexandre  José  de  Sousa   anterior designação | escola  nº  52

data de construção | 1961-­62 ano da última intervenção | 2005

localização | Bairro  Fonte  da  Moura freguesia | Aldoar

Carla Andreia Galvão de Carvalho 491


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 492


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos sala de aula

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 70,22% área coberta | 29,54%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  17,57% área descoberta | 70,46%

                                     (recreio  coberto)  |  12,21%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 493


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

42 E S C O L A   B Á S I C A  DO  1 º  CICL O  COM  JI  DE  NOEDA


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 173 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  14

data de construção | 1962 ano da última intervenção | 2005

localização | Largo  de  Noeda,  136 freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 495


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0

planta  piso  1

Carla Andreia Galvão de Carvalho 496


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 43,97% área coberta | 22,30%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  15,12% área descoberta | 77,70%

                                     (recreio  coberto)  |  40,91%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 497


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

43 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  ANTÓNIO  AROSO


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 174 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  53

data de construção | 1963 ano da última intervenção | 2000

localização | Rua  António  Aroso freguesia | Aldoar

Carla Andreia Galvão de Carvalho 499


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 500


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


outras salas sala polivalente recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 37,77% área coberta | 28,23%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  26,29% área descoberta | 71,77%

                                     (recreio  coberto)  |  35,94%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 501


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

44 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D A   F O N T I N H A
grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 175 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq.  Alberto  Rosmaninho   anterior designação | escola  nº  23

data de construção | 1963 ano da última intervenção | 2004

localização | Rua  Raul  Dória freguesia | Santo  Ildefonso

Carla Andreia Galvão de Carvalho 503


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

planta  piso  2 alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 504


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 59,59% área coberta | 21,573%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  22,44% área descoberta | 78,27%

                                     (recreio  coberto)  |  17,97%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 505


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

45 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D A   T O R R I N H A
grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 176 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq. Bernardino Basto Fabião anterior designação | escola  nº  27

data de construção | 1963 ano da última intervenção | 2003

localização | Rua  da  Torrinha,  288 freguesia | Cedofeita

Carla Andreia Galvão de Carvalho 507


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 508


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  -­1 planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas sala de aula

w.c. secretaria refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 46,41% área coberta | 27,81%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  37,38% área descoberta | 72,19%

                                     (recreio  coberto)  |  16,31%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 509


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

46 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DAS  CAMPINAS


grupo | Movimento  Moderno  (1954  -­  1965)

Ilustração 177 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq.  Alberto  Rosmaninho   anterior designação | escola  nº  54

data de construção | 1964 ano da última intervenção | 2000

localização | Bairro das Campinas freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 511


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 512


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


outras salas sala  do  médico recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 56,03% área coberta | 21,10%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  24,16% área descoberta | 78,90%

                                     (recreio  coberto)  |  19,81%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 513


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

47 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DO  ALEIXO


grupo | Casos  Especiais  (1965  -­  1974)

Ilustração 179 -  Área  de  Recreio.  (Em  linha)  (consultado  em  05  de  Abril  de  2011)  disponível  em  WWW:  <  URL:  http://jpn.c2.com.up.pt  >
dados gerais

autor | Arq.  Vasco  Rosa  da  Silva   anterior designação | escola  nº  56

data de construção | 1973 ano da última intervenção | 2010  (demolida)

localização | Bairro do Aleixo freguesia | Lordelo

Carla Andreia Galvão de Carvalho 515


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 516


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 56,88% área coberta | 30,28%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  28,91% área descoberta | 69,72%

                                     (recreio  coberto)  |  14,21%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 517


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

48 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   D O   B O M   PA S T O R
grupo | Casos  Especiais  (1965  -­  1974)

Ilustração 179 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  57

data de construção | 1974 ano da última intervenção |

localização | Bairro do Bom Pastor freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 519


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 520


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 53,36% área coberta | 11,68%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  32,08% área descoberta | 88,32%

                                     (recreio  coberto)  |  14,56%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 521


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

49 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DO  FALCÃO


grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 180 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  7

data de construção | 1975 ano da última intervenção | 2005

localização | Rua  do  Falcão,  708 freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 523


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 524


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas sala polivalente refeitório  -­  cozinha  -­  despensa

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 58,98% área coberta | 36,29%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  41,02% área descoberta | 63,71%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 525


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

50 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  PAULO  DA  GAMA
grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 181 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq.  Alberto  Rosmaninho   anterior designação | escola  nº  32

data de construção | 1976 ano da última intervenção | 2004

localização | Rua  Paulo  da  Gama freguesia | Foz  do  Douro

Carla Andreia Galvão de Carvalho 527


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 528


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 52,72% área coberta | 21,05%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  31,81% área descoberta | 78,95%

                                     (recreio  coberto)  |  15,47%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 529


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

51 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  JOSÉ  GOMES  FERREIRA


grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 182 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq.  Maria  Manuela  Oliveira   anterior designação | escola  nº  24

data de construção | 1976 ano da última intervenção | 2002

localização | Travessa  de  Campos,  170 freguesia | Santo  Ildefonso

Carla Andreia Galvão de Carvalho 531


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0

planta  piso  1

Carla Andreia Galvão de Carvalho 532


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


outras salas secretaria recreio coberto sala  do  médico

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 44,71% área coberta | 39,42%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  39,69% área descoberta | 60,58%

                                     (recreio  coberto)  |    15,60%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 533


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

52 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   C O M   J I   D O   V I S O
grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 183 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  37

data de construção | 1976 ano da última intervenção |

localização | Bairro do Viso freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 535


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 536


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas sala polivalente refeitório  -­  cozinha  -­  despensa

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 58,98% área coberta | 16,93%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  41,02% área descoberta | 83,07%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 537


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

53 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DE  S.  TOMÉ
grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 184 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Projecto  Normalizado  de  Escolas  -­  Tipo  P3   anterior designação | escola  nº  20

data de construção | 1978 ano da última intervenção |

localização | Bairro  de  S.  Tomé freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 539


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 540


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas sala polivalente e refeitório

w.c. sala de aula refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 58,49% área coberta | 15,37%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  36,59% área descoberta | 84,63%

                                     (recreio  coberto)  |      4,92%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 541


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

54 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DAS  FLORES


grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 185 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Camilo de Paiva Soares anterior designação | escola  nº  8

data de construção | 1979 ano da última intervenção | 2005

localização | Largo  de  Noeda,  136 freguesia | Campanhã

Carla Andreia Galvão de Carvalho 543


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 544


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas sala polivalente refeitório  -­  cozinha  -­  despensa

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 58,98% área coberta | 23,57%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  41,02% área descoberta | 76,43%

                                     (recreio  coberto)  |      0,00%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 545


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

55 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O   J O Ã O   D E   D E U S
grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 186 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | Arq. Susana Soares anterior designação | escola  nº  47

data de construção | 1988 ano da última intervenção |

localização | Rua  João  de  Deus freguesia | Ramalde

Carla Andreia Galvão de Carvalho 547


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 548


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

w.c. sala de aula

outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 53,12% área coberta | 27,98%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  38,08% área descoberta | 72,20%

                                     (recreio  coberto)  |      8,80%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 549


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

56 E S C O L A   B Á S I C A   D O   1 º   C I C L O  A U G U S TO   L E S S A
grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 187 - Vista em Escorço. Foto: Carla  Carvalho,  2012  


dados gerais

autor | anterior designação | escola  nº  16

data de construção | 1989 ano da última intervenção |

localização | Rua  Augusto  Lessa freguesia | Paranhos

Carla Andreia Galvão de Carvalho 551


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1

alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 552


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1

área útil

arrumos outras salas refeitório  -­  cozinha  -­  despensa


w.c. sala de aula sala polivalente e refeitório recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 46,40% área coberta | 23,76%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  35,55% área descoberta | 76,24%

                                     (recreio  coberto)  |  16,05%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 553


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

57 ESCOLA  BÁSICA  DO  1º  CICLO  COM  JI  DE  S.  NICOLAU
grupo | Contemporâneos  (1975  -­  1990)

Ilustração 188 - Fachada Principal. Foto: Carla  Carvalho,  2012    


dados gerais

autor | Arq.  J.  Teixeira  Sousa  -­  J.  Carlos  Sousa  -­  Paulo  Horta  anterior designação | escola  nº  50

data de construção | 1990  (reabilitação) ano da última intervenção | 2002

localização | Rua  Nova  da  Alfândega freguesia | S.  Nicolau

Carla Andreia Galvão de Carvalho 555


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

localização

esc.1/3000
desenhos

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2

planta piso 3 planta  piso  4 alçado

Carla Andreia Galvão de Carvalho 556


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

estudos

tipo circulações análise tipológica estrutura

análise funcional

planta  piso  0 planta  piso  1 planta  piso  2 planta piso 3 planta  piso  4

área útil

arrumos outras salas sala de conferências e biblioteca refeitório  -­  cozinha  -­  despensa
w.c. sala de aula sala polivalente e refeitório recreio coberto

percentagens

áreas  lectivas  (salas  de  aula)    | 47,83% área coberta | 52,40%

áreas  não  lectivas  (serviços)  |  31,57% área descoberta | 47,60%

                                     (recreio  coberto)  |  20,60%

Carla Andreia Galvão de Carvalho 557


ANEXOS
A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Levantamento das variantes dos Tipos de Escolas Primárias


no Norte de Portugal _ Plantas, Cortes e Alçados.

Anexo B - Legislação.

Carla Andreia Galvão de Carvalho 560


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

ANEXO A
Levantamento das variantes dos Tipos de Escolas Primárias no Norte de Portugal
_ Plantas, Cortes e Alçados

Carla Andreia Galvão de Carvalho 561


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Conde de Ferreira - 1 sala Escola EB1 de Alijó, Vila Real

Alçado frontal Alçado posterior

Alçado lateral direito

Planta de cobertura

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 562


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Conde de Ferreira - 2 salas Escola EB1 do Vimioso, Bragança

Alçado frontal Alçado posterior

Alçado lateral direito

Planta de cobertura

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 563


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Adães Bermudes - 2 salas Escola EB1 de Favaios, Vila Real

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 564


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola da Estrada, Formariz


Levantamento - Tipo Adães Bermudes - 1 sala

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 565


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Adães Bermudes - 1 sala Escola EB1 de Guiães, Vila Real

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 566


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola de Vila Pouca de Aguiar, Vila Real


Levantamento - Tipo Adães Bermudes - 2 salas

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 567


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Adães Bermudes - 2 salas Escola EB1 de V. N. de Foz Côa, Guarda

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 568


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Levantamento - Tipo Adães Bermudes - 2 salas Escola EB1 Adães Bermudes, Guarda

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 569


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Levantamento - Tipo Rogério de Azevedo - 4 salas Escola EB1 nº4 de Bragança

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 570


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Escola EB1 de Painzela, Braga


Levantamento - Tipo Rogério de Azevedo - 1 sala

Alçado frontal

Alçado lateral direito

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 571


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Rogério de Azevedo - 2 salas Escola EB1 de Barqueiros, Vila Real

Alçado lateral direito

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 572


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Rogério de Azevedo - 5 salas Escola EB1 Nossa Senhora de Campanhã, Porto

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 573


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Rogério de Azevedo - 5 salas Escola EB1 Nossa Senhora de Campanhã, Porto

Alçado lateral direito

Alçado frontal

Carla Andreia Galvão de Carvalho 574


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Rogério de Azevedo - 6 salas Escola  EB1/JI  de  São  Roque  da  Lameira,  Porto

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 575


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - Tipo Rogério de Azevedo - 6 salas Escola  EB1/JI  de  São  Roque  da  Lameira,  Porto

Alçado lateral direito

Alçado frontal

Carla Andreia Galvão de Carvalho 576


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Abreiro, Bragança


Levantamento - Tipo Fernandes de Sá - 4 salas

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 577


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Adão, Guimarães


Levantamento - Tipo Fernandes de Sá - 1 sala

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 578


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Lobrigos, Vila Real


Levantamento - Tipo Fernandes de Sá - 2 salas

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 579


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Alvações de Corvo, Vila Real


Levantamento - Tipo Fernandes de Sá - 2 salas

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 580


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Poiares, Vila Real


Levantamento - Tipo Fernandes de Sá - 3 salas

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 581


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 nº 3 de Vila do Conde


Levantamento - Tipo Fernandes de Sá - 4 salas

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 582


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola de Mourisca do Vouga, Aveiro


Levantamento - Tipo Fernando Peres (urbano) - 4 salas

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 583


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Painzela


Levantamento - Tipo Fernando Peres (rural) - 1 sala

Alçado lateral esquerdo

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 584


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Variações no revestimento da parede frontal do vestíbulo

Alçado frontal (superfície em tijolo alternado com vazios)

Alçado frontal (com janela)

Alçado frontal (vão com malha em cimento)

Alçado frontal (aberto com portão)

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 585


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Painzela


Levantamento - Tipo Fernando Peres (rural) - 2 salas

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 586


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Canelas, Vila Real


Levantamento - Tipo Fernando Peres (rural) - 2 salas

Alçado lateral esquerdo

Alçado posterior

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 587


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Painzela


Levantamento - Tipo Fernando Peres (rural) - 4 salas

Alçado frontal

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 588


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Painzela


Levantamento - Tipo Fernando Peres (urbano) - 1 sala

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 589


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Escola EB1 de Painzela


Levantamento - Tipo Fernando Peres (urbano) - 2 salas

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 590


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 16 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 591


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 16 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Alçado posterior

Planta do piso 1

Carla Andreia Galvão de Carvalho 592


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 16 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Alçado lateral direito

Planta de cobertura

Carla Andreia Galvão de Carvalho 593


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 6 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Planta de cobertura

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 594


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 10 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Planta de cobertura

Planta do piso 1

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 595


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 10 salas Escola EB1 de Afurada de Cima, V. N. Gaia

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 596


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 10 salas Escola EB1 de Afurada de Cima, V. N. Gaia

Alçado lateral direito

Planta do piso 1

Carla Andreia Galvão de Carvalho 597


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 10 salas Escola EB1 de Afurada de Cima, V. N. Gaia

Planta de cobertura

Carla Andreia Galvão de Carvalho 598


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 12 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Alçado frontal

Planta do piso 0

Carla Andreia Galvão de Carvalho 599


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 12 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Alçado posterior

Planta do piso 1

Carla Andreia Galvão de Carvalho 600


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade

Levantamento - tipo P3 - 12 salas Escola  EB1/JI  das  Devesas,  V.  N.  Gaia

Planta de cobertura

Carla Andreia Galvão de Carvalho 601


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ANEXO B
Legislação

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 603


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

1. DECRETO DE 20 DE SETEMBRO DE 1844  -­  Diário  de  Governo  n.º  220  de  28  de  Se-
tembro  de  1844  -­  Reforma  de  Costa  Cabral

2. PORTARIA DE 20 DE JULHO DE 1866

Condições que devem ser observadas na construção das casas de escola

Por  ignorância  das  condições  que  devem  reunir  os  edifícios  destinados  a  escolas  de  
instrução   primária,   é   raro   aquele,   ainda   dos   que   no   país   têm   sido   construídos   nos  
últimos  tempos,  em  que  se  não  haja  faltado  a  alguns  dos  mais  importantes  preceitos  
da  arquitectura  escolar.  Em  diversos  países  têm-­se  levantado  plantas  para  servirem  
de  modelo  às  construções  deste  género;;  mas  em  toda  a  parte  se  acusa  a  prejudicial  
tendência  para  na  obra  cercear  os  desenhos,  e  por  isso  as  regras  da  arte  quase  sem-
pre  são  sacrificadas  a  considerações  de  uma  economia  às  vezes  mesquinha  e  sempre  
mal  entendida.  Instruir  e  dar  a  razão  do  preceito,  quando  ele  se  não  inculca  a  si  próprio  
as  mais  simples  luzes,  é  um  dos  meios  de  debelar  algumas  das  causas  dos  desvios  
apontados.

O  que  seria  de  conveniência  se  estivesse  a  matéria  já  disposta  em  regulamentos,  é  
uma  necessidade  cujo  remédio  se  não  pôde  por  mais  tempo  adiar.  Nesse  intuito  as  
corporações  e  autoridades  que  houverem  de  entender  nas  construções  e  mobília  das  
escolas  de  instrução  primária  devem  observar  as  disposições  seguintes:

Sítio

1.  A   situação   da   escola   deve   ser   saudável,   central   e   de   fácil   acesso,   desviada   das  
estradas  de  muito  movimento,  remota  de  estabelecimentos  incómodos  ou  perigosos,  
quer  à  saúde  quer  à  moral  dos  alunos.

2.  Além  da  área  que  tem  de  ser  ocupada  pela  escola  e  habitação  do  professor,  haverá  
um  espaço  de  terreno  valado  ou  murado,  de  600  m2  a  900  m2  para  diversos  fins  de-
signados  nestas  instruções.

Capacidade e condições gerais do edifício

3.  A  escola  deve  ter  uma  sala  de  aula,  uma  sala  contígua  e  um  vestíbulo  ou  dois,  se  a  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 604


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

escola  for  destinada  ao  ensino  dos  dois  sexos.

4.  O  pé  direito  deverá  ser  de  4  metros,  tolera-­se  3,30  metros  nos  edifícios  já  constru-
ídos.

5.  O  sobrado  soalho  será  horizontal  e  distará  do  solo  pelo  menos  50  centímetros.  Con-
viria  que  nas  províncias  do  norte  houvesse  debaixo  da  escola  uma  cave  de  cerca  de  
2  m  de  altura  na  qual  se  instalasse  um  calorífero  (art.  34  e  art.  35).

6.  Sempre  que  possível  a  escola  ficará  separada  de  quaisquer  edifícios,  excepto  da  
habitação  do  professor  que  pode  ser  contígua.

7.  A  área  superfície  da  sala  de  aula  principal  depende  não  só  do  número  de  alunos  a  
que  for  destinada,  mas  do  método  de  ensino  e  da  mobília  que  se  for  adoptar  para  os  
exercícios  escolares.  Bancadas  de  5  a  8  estudantes  exigem  menos  espaços  do  que  os  
bancos  para  dois  alunos  e  estes  menos  do  que  um  aluno  só.  Em  nenhum  caso,  porém,  
a  superfície  deve  ser  inferior  a  1  m2  por  aluno  nem  superior  a  1,90  m2.

8.  A  sala  de  aula  principal  das  escolas  que  se  construírem  de  novo,  não  terá  menos  
de  50  m2,  nem  mais  de  115  m2  de  superfície  área  interna.  Quando  a  população  for  tal  
que  requeira  maior  espaço,  uma  só  sala  de  aula  não  basta.  Nesse  caso  quando  não  
seja  possível  construir  logo  as  salas  de  aula  suficientes,  a  edificação  deve  ser  dirigida  
de  modo  que  a  todo  o  tempo  se  possam  acrescentar  as  que  forem  necessárias  (tendo  
em  vista  o  disposto  no  art.  47).

9.  Para  calcular  as  dimensões  da  sala  de  aula  cumpre  saber  quantas  escolas  e  quan-
tos  meninos  de  ambos  os  sexos  há  dentro  do  respectivo  círculo  escolar.  A  divisão  do  
número  de  meninos  pelo  número  das  escolas  dá  em  quociente  o  número  mínimo  de  
metros  quadrados  que  deve  ter  a  sala  de  aula.  A  multiplicação  daquele  quociente  por  
1,90  dá  o  número  máximo  dos  metros  quadrados  da  superfície.  Estes  números  extre-
mos  porém,  não  autorizam  a  diminuir  o  mínimo  ou  a  aumentar  o  máximo  da  superfície  
da  sala  de  aula  de  que  trata  o  ponto  anterior.

10.  No  número  de  meninos  para  a  cálculo  da  superfície  da  sala  de  aula  não  se  contam  
os  que  residirem  a  mais  de  2500  metros  da  escola  nas  regiões  planas  e  de  caminhos  
fáceis,   nem   a   mais   de   2   kilometros   nos   países   montanhosos   ou   de   transito   difícil.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 605


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Quando  a  número  de  meninos  não  for  conhecido  de  um  modo  directo,  será  calculado  
na  razão  de  13%  da  população  total  do  círculo  escolar.

11.  A  sala  contígua  destinada  para  recitações,  biblioteca  e  recepção,  não  terá  menos  
de   um   terço   da   superfície   da   sala   de   aula   principal.   Nas   escolas   de   meninas,   onde  
esta  sala  tem  de  servir  também  para  os  lavores  próprios  do  sexo  feminino,  a  sala  terá  
metade,  e,  quando  for  possível  2/3  da  aula  principal.

12.  As  entradas  dos  alunos  devem  ser  distintas  da  porta  principal.

13.  Nos  círculos  onde  não  houver  escola  especial  para  o  sexo  feminino,  haverá  en-
tradas  separadas  para  cada  sexo.  Desde  a  cadeira  do  mestre  ou  mestra  até  à  parede  
oposta  um  repartimento  movediço  de  madeira  de  1,40  m  até  1,70  m  de  altura  manterá  
dentro  da  aula  a  separação  de  sexos

14.  A  fim  de  evitar  correntes  incómodas  a  porta  do  vestíbulo  não  será  fronteira  à  da  
entrada  da  sala  de  aula.

15.  É  desejável  que  a  escola  tenha  um  campanário.  Servirá  para  recordar  aos  alunos  
a  obrigação  da  aula,  e  estimular  no  professor  a  pontualidade.

16.  Quando  seja  possível  haverá  um  anemoscópio  com  agulha  móvel  sob  a  rosa-­dos-­
ventos  pintada  no  tecto  da  aula.  Pelo  menos  a  construção  deve  ser  dirigida  de  forma  
que  permita  a  qualquer  altura  com  pequena  despesa  a  colocação  deste  aparelho,  que  
servirá  um  dia  para  enriquecer  a  colecção  de  observações  meteorológicas  em  todo  a  
reino.

17.  Seria  muito  conveniente  que  junto  da  escola  houvesse  um  adro  coberto,  onde  os  
alunos  que  chegaram  antes  de  começar  a  aula,  se  abriguem  do  tempo.

Exposição solar

18.  Em  geral  a  exposição  a  poente  é  a  pior;;  a  norte  nos  sítios  desabrigados  é  muito  
fria  nas  províncias  setentrionais  durante  a  estação  do  Inverno  que  é  aquela  em  que  
a  frequência  dos  alunos  é  mais  regular.  A  de  sudoeste  é  a  mais  recomendada  para  o  
clima  de  Portugal.  Todavia  as  circunstâncias  locais  são  as  que  devem  dirigir  a  esco-
lha.  O  abrigo  das  colinas  e  das  matas  pode  fazer  adoptar  uma  exposição  que  aliás  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 606


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

seria  imprópria;;  e  pelo  contrário  é  indispensável  proteger  a  escola  das  correntes  de  
ar  vindas  de  pântanos  e  lugares  doentios  cuja  influência  se  estende  a  muitas  léguas  
de  distância.

19.  A  exposição  a  sul  dá  uma  luz  às  vezes  demasiadamente  viva,  e  é  muito  quente  no  
verão  assim  como  a  do  nascente;;  mas  em  geral  qualquer  uma  destas  exposições  é  
boa,  e  os  indicados  inconvenientes  podem  minorar-­se  por  meio  de  cortinas  nas  jane-
las  que  olham  para  esses  quadrantes.

20.  Se  for  indispensável  abrir  janelas  para  uma  disposição  insalubre,  nesse  caso  de-
vem  ser  fixas,  que  se  lhe  tome  a  luz  e  não  o  ar.

21.  A  superfície  aberta  à  luz  nunca  deve  ser  inferior  a  10  dm2  por  cada  metro  da  área  
interna  da  aula;;  mas  convém  eleva-­la  até  20  dm2  ou  25  dm2.

22.  A  claridade  da  aula  não  depende  só  da  superfície  luminosa.  Em  igualdade  de  cir-
cunstâncias   janelas   largas,   ainda   que   poucas,   iluminam   melhor   do   que   as   estreitas  
mais  numerosas.  A  sua  largura  exterior  não  deve  ser  inferior  a  1,20  m,  e  por  dentro  
deve  ser  ainda  maior.  Na  altura  devem  elevar-­se  até  perto  do  tecto.  A  forma  ogival  ou  
arqueada,  são  menos  próprias  para  a  luz  do  que  a  rectangular.

23.  As  janelas  devem  ficar  ao  longo  da  aula  de  um  e  outro  lado.  Quando  não  as  possa  
haver  senão  de  uma  banda  ficarão  à  esquerda  dos  alunos.  A  parede  transversal  da  
aula  junto  da  qual  estiver  a  cadeira,  do  professor  não  deve  ter  janelas,  afim  de  que  os  
alunos  possam  atender  ao  mestre  sem  se  incomodarem  com  a  luz.

24.  As  janelas  devem  ser  feitas  de  modo  que  possam  abrir  para  trás.  Este  sistema  é  
o  melhor  para  renovar  o  ar  da  escola  no  intervalo  das  aulas.  As  janelas  do  sistema  
de  Hurwood,  que  se  abrem  por  meio  de  um  parafuso  sem  fim,  reúnem  a  esta  outras  
vantagens,  e  merecem  preferência  onde  houver  meios  para  a  diferença  de  custo.

Ventilação

25.  Um  bom  sistema  de  ventilação  deve  renovar  completamente  a  atmosfera  da  aula,  
dando  30  m3  de  ar  novo  por  aluno  e  por  hora  sem  produzir  correntes  incómodas.  As  
janelas  não  só  não  satisfazem  a  todos  estes  requisitos  durante  o  tempo  da  aula,  se  
não  que  na  opinião  de  alguns  higienistas  não  satisfazem  completamente  a  nenhum.  É  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 607


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

necessário  que  a  escola  seja  ventilada  por  dois  tubos,  um  injector  para  a  entrada  de  
ar  novo  e  outro  ejector  para  a  expulsão  do  impuro,  postos  um  numa  extremidade  da  
sala  a  outro  na  extremidade  oposta.

26.  O  tubo  injector  é  mais  largo  na  parte  por  onde  recebe  o  ar  exterior,  e  vem  adel-
gaçando  para  dentro,  desembocando  por  baixo  do  estrado  do  mestre.  Neste  estrado  
haverá  numerosos  buracos  por  onde  o  ar  se  escoe  para  a  sala  de  aula  sem  causar  
uma  corrente  grossa  de  vento.  A  largura  média  interior  deste  tubo  será  pelo  menos  de  
12  cm2  (a  que  correspondem  39  cm  de  diâmetro)  se  a  escola  admitir  até  50  alunos,  
e  aumentará  20  cm2  por  cada  aluno  que  passar  desse  número.  Este  tubo  pode  ser  
suprimido  por  uma  fresta  na  parede,  por  onde  entre  directamente  no  vão  do  estrado  
do  professor  o  ar  de  fora.

27.  O  tubo  injector  deve  ir  buscar  o  ar  à  sua  fonte  mais  pura.  Por  isso  cumpre  ter  em  
vista  as  instruções  relativas  à  exposição.  Como  o  ar  mais  alto  é  mais  puro,  convém  
que  onde  os  recursos  o  permitirem,  o  tubo  injector  seja  substituído  por  uma  chaminé  
que  venha  sobre  o  telhado  até  abaixo  do  estrado,  mais  larga  na  parte  superior  do  que  
na  inferior.  Quanto  mais  alta  for  a  chaminé  mais  enérgica  será  a  ventilação.

28.  O  tubo  ejector  deve  subir  desde  o  sobrado  soalho  até  um  pouco  acima  do  telhado,  
adelgaçando  para  cima,  e  terá  duas  aberturas,  uma  próxima  do  sobrado  e  outra  junto  
do   tecto.   Não   deve   ser   de   tijolo   nem   pedra,   mas   de   tábua   delgada,   bem   polida   por  
dentro.  Estará  bem  firme,  mas  não  embebido  na  parede.  (o  frio  da  pedra  condensa  o  
ar,  o  qual  então  em  vez  de  subir  desce).

29.  A  largura  do  tubo  ejector  é  a  mesma  que  foi  dada  ao  injector  (art.  26)

30.  O  tubo  ejector  deve  ter  na  parte  superior  um  aparelho  móvel  que  dirija  a  abertura  
para  o  lado  oposto  ao  de  onde  corre  o  vento.

31.  Os  tubos  devem  ter  registos  para  regular  a  circulação  e  volume  do  ar.

32.  Convém  completar  o  sistema  de  ventilação,  abrindo  as  janelas  de  hora  em  hora  
por  espaço  de  alguns  minutos,  quando  o  tempo  o  permitir,  Enquanto  assim  a  aula  se  
renova  de  ar,  enquanto  os  alunos,  folgando  no  átrio,  das  fadigas  escolares,  habilitan-
do-­se  com  o  descanso  de  poucos  minutos  a  colher  melhor  fruto  da  hora  seguinte.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 608


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33.  As  casas  privadas  devem  ser  afastadas  do  edifício  e  serão  inteiramente  separadas  
e  isoladas  nas  escolas  mistas,  de  maneira  todavia  que  em  ambos  os  casos  possam  
ser  facilmente  vigiados.

Temperatura

34.   Sendo   geralmente   as   escolas   rurais   mais   frequentadas   no   Inverno   e   nas   horas  
mais  frias,  convém  muito  que  pelo  menos  nas  províncias  do  norte  haja  modo  de  tornar  
a  temperatura  agradável  e  própria  para  os  trabalhos  escolares.

35.  Os  caloríferos  de  ar  são  preferíveis  a  quaisquer  outros  aparelhos,  para  aquecer  as  
escolas  de  instrução  primária,  pois  servem  ao  mesmo  tempo  para  aumentar  a  energia  
da  ventilação.  Os  braseiros  em  salas  de  muita  gente  são  mais  nocivos  do  que  o  pró-
prio  frio.

36.  Por  meios  artificiais  nunca  a  temperatura  da  aula  no  Inverno  deve  subir  de  16ºC  
estando  o  termómetro  a  1,20  m  distante  do  sobrado.

37.  Sobre  os  fogões,  onde  os  houver,  deve-­se  ter  aberta  uma  vasilha  larga  cheia  de  
água  que  evaporando-­se  lentamente  dê  à  atmosfera  a  humidade  necessária.

Mobília

38.  Junto  de  umas  paredes  transversais  da  sala  estará  a  cadeira  e  banca  do  profes-
sor,  sobre  um  estrado  de  2  m  de  largura  e  30  cm  a  60  cm  de  altura,  com  um  ou  dois  
degraus.

39.  Para  a  disciplina  é  melhor  que  cada  aluno  tenha  a  sua  cadeira  ou  um  banco  de  
60  cm  a  61  cm  de  comprimento  e  uma  mesa  do  mesmo  tamanho.  Isto,  porém,  exige  
uma  aula  mais  espaçosa  e  obriga  a  um  aumento  de  despesa  que  se  calcula  em  20%  
do  que  custaria  a  aula  mobilada  com  bancos  e  mesas  de  dois  alunos.  Estes  bancos  
ainda  permitem  facilmente  a  disciplina  da  escola.  Devem  ter  1,16  m  a  1,20  m  de  com-
primento;;  a  sua  altura  assim  como  a  sua  largura  é  variável,  segundo  as  idades  (na  
forma  da  tabela  do  art.  42).  Para  economizar  espaço,  e  atendendo  a  que  a  frequência  
dos  alunos  é  muito  irregular,  podem  os  bancos  das  duas  ou  três  últimas  filas  ser  de  5  
alunos.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 609


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40.  Os  bancos  devem  ter  costas  com  uma  inclinação  de  8%.  Onde  houver  de  observar-­
se  a  mais  rigorosa  economia,  as  mesas  podem  ser  feitas  de  maneira  que  cada  uma  
sirva  de  costas  ao  banco  seguinte.  Os  bancos  podem  ser  substituídos  vantajosamente  
por  cadeiras,  onde  houver  meios  de  pagar  a  diferença  do  custo.

41.  Entre  as  alas  dos  bancos  haverá  uma  passagem  de  46  cm  a  50  cm;;  mas  à  volta  da  
sala  o  espaço  livre  não  será  inferior  a  65  cm,  e  deverá  elevar-­se  a  80  cm  ou  90  cm.

42.  As  mesas  do  mesmo  comprimento  dos  bancos  (art.  39)  variam  também  de  altura  
conforme  a  tabela  que  faz  parte  deste  artigo.  Devem  ser  horizontais  e  sem  bordo  al-
gum  do  lado  onde  se  escreve,  havendo  do  lado  oposto  um  rebordo  de  2  cm  de  altura,  
para  que  por  incúria  dos  alunos  não  caiam  os  lápis  e  penas  sobre  o  aluno  do  banco  
seguinte.  Em  cada  mesa  haverá  pelo  menos  um  tinteiro  de  vidro  em  caixa  de  metal  
embebida  na  mesa.  Este  tinteiro  deve  ser  posto  no  meio  afim  de  poder  servir  para  os  
dois  alunos.

BANCOS                            MESAS
Núme- Altura desde o so- Largura desde a Altura desde o Largura I d a d e s  
ros do alho  até  à  beira  su- beira  do  assento   sobrado   até   à   dos alu-
Padrão perior  do  assento até  às  costas parte superior nos
do   lado   onde  
se escreve
1   24  a  25  centímetros   23  centímetros  50  centímetros  28  centímetros  Até   4   anos

2   26  a  27  centímetros   24  centímetros  53  centímetros  31  centímetros  5   e   6   anos

3   31          centímetros   25  centímetros  56  centímetros  33  centímetros  7   e   8   anos

4   34          centímetros   27  centímetros  59  centímetros  36  centímetros  9   e   10   anos

5   36          centímetros   28  centímetros  61  centímetros  38  centímetros  11  e  12  anos

6   38          centímetros   29  centímetros  64  centímetros  41  centímetros  13  e  14  anos

7   42          centímetros   30  centímetros  67  centímetros  43  centímetros  15  e  16  anos

8   44          centímetros   31  centímetros  70  centímetros  46  centímetros  17   e   mais

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 610


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Segundo  a  estatística  dos  alunos  por  idades,  apurada  no  distrito  do  Porto  numa  es-
cola   de   72   alunos   com   9   filas   de   bancos,   a   fila   da   frente   deverá   ser   do   padrão   nº2  
com  um  banco  nº1;;  as  duas  imediatas  do  nº3,  seguindo-­se  três  do  nº4,  duas  do  nº5  
e  a  última  do  nº6  com  um  banco  do  nº7  ou  nº8.  Isto,  porém  é  apontado  apenas  como  
um  exemplo  de  distribuição  dos  padrões.  A  experiência  de  cada  escola  aconselhará  a  
disposição  que  mais  convenha  à  sua  habitual  frequência.

43.  Na  sala  contígua  das  escolas  das  meninas  (art.  3  e  art.  11)  haverá  cadeiras  peque-
nas  para  os  trabalhos  de  costura.

44.  Além  da  mobília  indicada  haverá  indispensavelmente  um  quadro  preto  de  cerca  de  
1  m  de  altura  e  80  cm  ou  mais  de  largura,  quando  não  possa  haver  mais,  ainda  que  de  
menores  dimensões.  Os  seguintes  objectos  completam  a  mobília  de  uma  escola  bem  
provida:  quadros  alfabéticos  e  resenha  alfabética  do  método  português  –  um  relógio  
–  quadro  de  sistema  métrico  –  colecção  de  traslados,  réguas  –  colecção  de  pesos  e  
medidas   –   um   metro   de   algibeira   que   pode   também   servir   de   gonigrafo   –   contador  
mecânico  –  um  Mississipi  de  leitura  –  caixa  de  desenho  com  transferidor,  tira-­linhas,  
um  compasso  de  medir,  outro  de  redução,  e  outro  com  toca-­lápis  ou  tira-­linhas,  duplo  
decímetro   graduado   e   esquadro   –   globos   para   o   estudo   da   geografia   –   um   mapa-­
mundo  –  as  cartas  dos  continentes  –  um  mapa  Portugal  e  os  das  colónias  –  um  ou  dois  
termómetros  –  esquadro  de  agrimensor  de  limbo  graduado  com  agulha  e  luneta  –  uma  
colecção  dos  principais  sólidos  –  vasos  de  vidro  com  amostras  dos  diversos  terrenos  
–  um  esqueleto  para  o  ensino  das  noções  elementares  que  toda  a  gente  deve  ter  em  
anatomia  –  lavatório,  toalhas,  etc.  -­  e  uma  estante  com  livros  destinados  à  instrução  
elementar  e  à  difusão  dos  conhecimentos  úteis.  Nas  escolas  das  meninas,  além  dos  
utensílios   próprios   para   os   lavores   do   sexo   feminino,   seria   bom   que   houvesse   uma  
máquina  de  costura,  duas  ou  três  rodas  de  fiar  o  linho  e  outra  de  fiar  a  seda.

45.  Para  os  exercícios  de  ginástica  deveria  haver  também  os  aparelhos  e  utensílios  
mais  essenciais.  Pelo  menos  é  necessário  que  haja  um  espaço  para  esses  exercícios.  
O  que  fica  reservado  no  art.  2  é  suficiente  para  este  e  outros  fins  indicados  em  diver-
sos  artigos  destas  instruções.

Habitação do professor

46.  Tendo  o  professor  residência  num  edifício  público,  fica  aliviado  de  um  encargo  e  de  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 611


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um  cuidado,  prende-­se  mais  à  escola,  identifica-­se  com  ela  e  dedica-­se  com  mais  gos-
to  à  sua  laboriosa  profissão.  A  vivenda  dos  mestres  é  pois  um  útil  acessório  da  escola.  
Esta  residência,  em  regra,  deve  ser  separada,  mas  não  distante  da  escola,  para  que  o  
professor  possa  vigiar  a  entrada  dos  alunos.  A  residência  deve  ter,  pelo  menos,  quatro  
compartimentos,   incluindo   a   cozinha.   Nas   aldeias   e   terras   onde   não   há   mercado,   o  
professor  deve  ter  um  quintal  que  pode  ser  no  espaço  reservado  pelo  art.2.

Escolas das cidades

47.  Um  só  professor  não  pode  reger  bem  uma  escola  de  mais  de  50  alunos  de  diferen-
tes  idades  e  desenvolvimento.  Na  maior  parte  das  aldeias  não  há  elementos  bastantes  
para  alimentar  uma  perfeita  divisão  dos  alunos  em  classes  com  professores  diversos;;  
mas  nas  cidades  e  vilas  muito  povoadas  esta  divisão  é  de  grande  importância  para  o  
mais  rápido  aproveitamento  dos  alunos,  e  ainda  que  a  perfeita  execução  deste  pen-
samento  depende   de  algumas   providencias   estranhas   à   construção   dos   edifícios,   é  
preciso  que  se  os  que  se  edificarem  de  novo  sejam  dirigidos  para  este  fim.  Portanto  
cada  escola  urbana  contará  de  três  até  nove  salas  de  aula  de  50  m2  a  92  m2  cada  
uma,  além  de  uma  sala  para  exames.  Estas  salas  de  aula,  quando  não  possam  ficar  
todas   num   pavimento   podem   ser   distribuídas   por   diversos   andares,   contando   que  
não  passem  do  2ºandar.  É  para  desejar  que  no  mesmo  prédio  ou  noutro  próximo  haja  
cómodos  para  habitação  de  professores,  ou  pelo  menos  daquele  a  quem  for  encarre-
gado  a  superintendência  da  escola.

3- PORTARIA DE 7 DE JULHO DE 1871

Considerando  que  os  preceitos  estabelecidos  no  capítulo  4°  das  instruções  aprovadas  
pela  portaria  de  20  de  Julho  de  1866,  conquanto  sejam  os  mais  próprios  e  adequados  
à  construção  dos  edifícios  escolares,  não  podem  actualmente  exigir-­se  na  maior  parte  
das  casas  de  habitação  destinadas  pelas  corporações  ou  particulares  para  o  exercício  
provisório  das  escolas  de  novo  criadas.

Considerando   a   necessidade,   demonstrada   pela   experiência,   de   regular   esta   parte  


importantíssima  da  administração  literária,  a  fim  de  que  não  sejam  ilusórios  os  subsí-
dios  oferecidos  ao  governo  para  a  criação  de  cadeiras,  nem  improdutivas  as  somas  
que  o  estado  despende  com  elas;;  e  conformando-­se  com  o  parecer  junta  consultiva  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 612


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de  instrução  pública;;

Há  por  bem  Sua  Majestade  El-­Rei  determinar  o  seguinte:

I  -­  Os  governadores  civis,  logo  que  tenham  conhecimento,  pelo  Diário  do  Governo,  da  
criação  de  alguma  cadeira,  de  instrução  primária  em  qualquer  freguesia,  pertencente  
aos   respectivos   distritos   administrativos,   com   o   subsídio   de   casa,   mobília   e   utensí-
lios  pago  pela  câmara  municipal,  junta  de  paróquia  ou  outra  corporação  associação  
ou  particulares,  devem  expedir  as  convenientes  ordens  para  que  o  administrador  do  
conselho,  acompanhado  do  delegado  de  saúde,  ou,  na  falta  deste,  de  um  facultativo  
subsidiado  pelos  cofres  públicos,  e  do  pároco  da  freguesia,  inspeccionem  o  local  da  
escola,  as  condições  do  edifício  e  a  mobília  escolar.

II  -­  Quando  não  fosse  possível  efectuar-­se  o  disposto  no  citado  capítulo  4º  das  ins-
truções  de  20  de  Julho  de  1866,  o  material  das  escolas  compreende,  pelo  menos,  os  
objectos  designados  na  relação  que  baixa  assinada  pelo  conselheiro  director  geral  da  
Instrução  Pública.

III  -­  Se  a  comissão  verificar  que  o  material  destinado  para  a  escola  satisfaz  as  condi-
ções  do  n°2,  manda  em  seguida  lavrar  um  auto,  em  que  se  faça  circunstanciada  des-
crição  do  edifício  e  da  sua  situação,  dimensões  e  condições  higiénicas  e  pedagógicas,  
bem  como  de  todos  os  objectos  de  que  se  compõem  a  mobília  e  utensílios.  Este  auto  
é   remetido   ao   governador   civil,   e   por   este   enviado   ao   governo,   pela   direcção-­geral  
de  instrução  pública,  para  se  proceder  ao  provimento  da  cadeira.  Quando,  porém,  a  
casa  ou  a  mobília  não  merecerem  ser  aprovadas,  a  comissão  assim  o  comunica  ao  
governador   civil,   o   qual   promoverá,   com   a   maior   diligência,   o   efectivo   cumprimento  
da  obrigação  contraída  por  quem  tiver  dotado  a  escola,  que  em  todo  a  caso  não  será  
provida  antes  de  se  realizar  o  subsídio  pelo  modo  que  fica  ordenado.

IV  -­  A  mobília  escolar  é  entregue  ao  respectivo  professor,  no  acto  de  posse,  e  por  in-
ventário  em  duplicado  a  assinado  pelo  administrador  do  concelho  e  pelo  mesmo  pro-
fessor.  Um  exemplar  fica  arquivado  na  administração  do  concelho,  e  outro  em  poder  
do  professor  que  é  responsável  por  tudo  o  que  houver  recebido.

V  -­  As  disposições  desta  portaria  são  extensivas  a  todas  as  escolas  já  criadas  mas  
ainda  não  providas,  par  falta  de  casa  e  mobília.

Marquez de Avila e Bolama

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 613


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Relação dos objectos indispensáveis para a organização das escolas primárias,


conforme o disposto no n°2 da portaria desta data.

Sala  para  os  exercícios  escolares  com  as  condições  seguintes:

I  –  Superfície  interna  de  1m2  por  cada  aluno.  O  cálculo  do  número  de  alunos  é  o  mes-
mo  que  servir  de  base  à  criação  da  escola.

II  –  Altura  de  3m  desde  o  sobrado  até  ao  tecto.

III  –  Pavimento  que  não  seja  térreo,  nem  lajeado  ou  empedrado.

IV  –  Duas  ou  mais  janelas  envidraçadas,  além  da  porta  de  entrada.

Mobília  compreendendo:

I  –  Uma  cadeira  e  banca  para  o  professor,  sobre  um  estrado  de  2m  de  largura  e  30cm  
de  altura,  com  degrau.

II  –  Um  quadro  preto  com  1m  de  altura  e  80cm  de  largura.

III  –  Bancos  para  alunos.  Para  cada  seis  alunos,  quanto  muito,  pode  haver  um  banco  
de  encosto  com  3,35m  de  comprimento,  tendo,  por  baixo  da  tábua  de  assento,  uma  
prateleira   corrida   para   livros,   papel,   etc.  A   altura   dos   bancos,   desde   o   soalho   até   à  
beira  superior  do  assento,  gradua-­se  de  30  a  40  cm;;  de  largura  de  18  a  20cm.

IV  –  Se  os  bancos  não  tiverem  carteiras,  haverá  na  aula  mesas  de  65  a  75cm  de  al-
tura,  onde  escreve  a  terça  parte  dos  alunos.  O  comprimento  das  mesas  deve  ser  cal-
culado  por  modo  de  que,  para  cada  3  alunos,  haja  o  espaço  de  1,68  m.  Nestas  mesas  
será  colocado  um  tinteiro  para  cada  2  alunos,  em  sítio  que  ambos  possam  tomar  a  
tinta  sem  alterar  a  posição  do  corpo.

José Maria de Abreu (Secretário de Estado dos Negócios do Reino)

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 614


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4- DECRETO DE 14 DE AGOSTO DE 1895  -­  Diário  de  Governo  n.º  183  de  17  de  Agosto  
de  1895  -­  Regulamentação  do  Decreto  Orgânico  de  22  de  Dezembro  de  1894

5- PROGRAMA PRÉ-DEFINIDO E APROVADO PELO MINISTÉRIO DAS OBRAS


PÚBLICAS, 3 DE JANEIRO DE 1898: concurso para edifícios de Escola Primária

O  programa  preliminar  do  projecto  estabelecia  que:  

1.Deveriam  ser  apresentadas  peças  desenhadas  à  escala  1/100,  memória  descritiva  


e  justificativa,  medição  e  orçamentos;;

2.Era   apresentado   uma   listagem   de   áreas   que   contemplava   um   vestiário,   uma   ou  


mais  salas  de  aula,  pátio  com  recreio  coberto,  habitação  do  professor  e  instalações  
sanitárias;;

3.Requeria-­se  dimensões  para  o  máximo  de  50  alunos  por  sala,  na  razão  de  1,25  m2  
por  aluno,  sendo  o  pé  direito  de  4  m.  a  4,5  m.;;  

4.Os  pavimentos,  de  madeira,  teriam  de  ser  elevados  de  1,5  m.  acima  do  terreno  ex-
terior;;

5.  Quanto  à  iluminação  natural,  excluíram-­se  as  entradas  de  luz  pelo  tecto  e  exigiam-­
se  janelas  rectangulares;;  

6.   Considerando-­se   a   hipótese   de   escolas   mistas,   tornaram-­se   obrigatoriamente   in-


dependentes  as  salas  de  aulas,  os  sanitários  e  as  habitações  dos  professores  e  as  
entradas  e  vestíbulos;;  

7.  Nas  condições  especiais  do  programa  determinava-­se  que  os  projectos  consideras-
sem  3  tipos  diferentes  de  edifícios:  escolas  com  1  sala,  para  50  alunos,  e  habitação  
para  um  professor  (só  rapazes  ou  só  raparigas);;  escolas  com  2  salas  para  100  alunos  
(só  para  rapazes  ou  só  raparigas)  com  habitação  para  professor  e  ajudante;;  escolas  
mistas,   com   2   salas,   para   100   alunos,   com   duas   habitações   para   os   professores   e  
ajudantes  respectivos;;  

8.  Como  limite  para  a  base  orçamental  dos  edifícios  indicava-­se  40$000  rs  /  aluno,  es-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 615


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pecificando-­se  que  a  este  preço  correspondiam  alicerces  a  1,50  m.  de  profundidade;;

9.  Recomendava-­se  pela  primeira  vez  que  cada  tipo  de  edifício  viesse  a  ser  construído  
de  acordo  com  as  técnicas  e  materiais  próprias  de  cada  zona  do  país,  considerando-­
se  7  regiões:  Minho  e  Douro,  Trás-­os-­Montes,  Beiras,  Estremadura,  Alentejo,  Algarve,  
Ilhas  Adjacentes.  

6- PORTARIA DE 17 DE SETEMBRO DE 1902  -­  Diário  de  Governo  n.º  211  de  19  de  Setem-
bro  de  1902  -­  Remodela  a  comissão  nomeada  em  19  de  Maio  de  1902,  agregando-­lhe  
Ricardo  Jorge,  Inspector  Geral  de  Saúde  Pública,  António  de  Almeida  Dias  e  Costa  
Sacadura,  Inspectores  Sanitários  Escolares,  e  Adães  Bermudes,  responsável  pela  Di-
recção  Técnica  das  Construções  Escolares.

7- REGULAMENTO ESCOLAS INFANTIS, 23 DE AGOSTO DE 1911

-­  As  escolas  infantis  serão  instaladas  em  edifícios  próprios,  construídos  em  terrenos  
vedados  ou  em  quaisquer  edifícios  públicos  ou  particulares  plenamente  adaptáveis,  
com  todas  as  condições  higiénicas  e  pedagógicas.  Nenhuma  escola  infantil  se  pode-
rá  fundar  sem  ter  anexo  um  terreno  arborizado  e  preparado  de  forma  a  permitir  ali  a  
permanência  das  crianças  durante  todo  o  tempo  que  estiverem  na  escola  no  Verão,  e  
todo  o  tempo  possível  no  Inverno,  e  a  fornecer-­lhes  as  noções  práticas  mais  elemen-
tares  do  ensino  de  jardinagem  e  horticultura.

-­  As  salas  das  aulas  deverão  ser  forradas  de  ardósia  até  a  altura  das  crianças,  ou  ter  
em  volta  quadros  pretos,  para  favorecer  a  tendência  que  estas  têm  para  representar.

-­  As  salas  serão  espaçosas,  com  excelente  disposição  de  luz,  ventilação  e  exposição,  
e,  sempre  que  isso  for  possível,  aproximadamente  ao  mesmo  nível  do  jardim.

-­  Deverá  haver,  além  destas  salas  um  dormitório,  visto  as  crianças  dos  quatro  a  cinco  
anos,   pelo   menos,   terem   ainda   absoluta   necessidade   deste   repouso   durante   o   dia  
e  não  se  dever  de  forma  alguma  estorvá-­lo.  Os  leitos  serão  de  fácil  limpeza  e  muito  
ligeiros.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 616


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-­  Deverá  haver,  finalmente,  uma  sala  arejada  para  cabide;;  um  gabinete  para  as  pro-
fessoras;;  uma  sala  com  lavatórios;;  e  um  balneário  com  tudo  o  que  for  necessário  para  
que  as  crianças  possam  tomar  na  escola  os  seus  banhos  de  limpeza.

-­  Quando  a  escola  não  tiver  ainda  anexa  uma  cantina,  haverá  uma  cozinha  com  fogão  
e  o  material  necessário.

-­  O  mobiliário  constará  de  uma  mesa  grande  em  forma  de  ferradura,  disposta  no  meio  
de  cada  uma  das  salas,  com  bancos-­cadeiras  em  volta,  uma  e  outros  proporcionados  
à  altura  das  crianças;;  de  cadeiras  e  secretárias  para  as  professoras,  e  cadeiras  pe-
quenas  para  as  crianças.

-­  O  ensino  infantil  deverá  ser  ministrado  somente  por  senhoras  de  mais  de  vinte  e  um  
anos,  convenientemente  habilitadas  e  dotadas  das  faculdades  especiais  indispensá-
veis  a  este  ensino.

8- PORTARIA DE 13 DE JULHO DE 1912  -­  Diário  de  Governo  n.º  164  de  15  de  Julho  de  
1912  -­  Nomeia  comissão  para  fixar  normas  técnicas,  higiénicas  e  pedagógicas  a  que  
devem  obedecer  os  novos  edifícios  escolares  (escolas  infantis  e  primárias,  elemen-
tares  e  complementares),  sendo  constituída  por  Adães  Bermudes,  Costa  Sacadura  e  
Arlindo  Varela.

9- REQUISITOS MÍNIMOS PARA OS LOCAIS DE ENSINO, 15 DE SETEMBRO DE 1913

[…]

O  ensino  não  poderá  ser  ministrado  em  local  insalubre.

-­  A  casa  da  escola  deve  encontrar-­se  em  sítio  central  e  de  fácil  acesso,  evitando-­se  
porém   todas   as   vizinhanças   perigosas,   incómodas   ou   insalubres,   e   estar   a   distân-
cia   de   100   metros,   pelo   menos,   do   cemitério;;   possuirá   privadas   convenientes   e   em  
número  necessário  e,  sempre  que  seja  possível,  além  da  sala  de  aula,  um  vestíbulo  
ou  vestiário  com  cabides,  um  alpendre  coberto  para  recreio  dos  alunos  e  um  jardim,  
sendo  também  preferível  que  a  habitação  do  professor  se  encontre  no  próprio  edifício  
da  escola,  mas  independente  desta.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 617


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-­  As  salas  de  aula  terão  uma  superfície  não  inferior  a  1  m2  por  cada  aluno,  e  uma  al-
tura,  entre  o  sobrado  e  o  tecto,  não  inferior  a  3  metros.

-­  Nenhuma  sala  de  aula  terá,  além  da  porta,  menos  de  duas  janelas  e  estas  suficiente-
mente  amplas  e  bem  dispostas  para  assegurar  uma  boa  iluminação  e  ventilação,  para  
o  que  devem  possuir  bandeiras  ou  caixilhos  móveis,  tendo-­se  também  em  conta  que  a  
melhor  disposição  destas  janelas  é  a  que  permite  a  entrada  da  luz  pelo  lado  esquerdo  
dos  alunos  ou  então  por  ambos  os  lados.  Deve  considerar-­se  defeituosa  a  sala  cuja  
luz  entre  pela  frente  ou  pela  retaguarda  dos  alunos.

-­  O  pavimento  da  sala  de  aula  será  sempre  soalho  e  em  estado  de  conservação  que  
facilite  a  conveniente  limpeza.

-­  Os  tectos  serão  forrados  a  madeira  ou  estucados,  de  modo  a  poderem  ser  frequen-
temente  caiados,  assim  como  as  paredes,  que  serão  sempre  rebocadas.

-­  A  mobília  escolar  para  cada  sala  de  aula  compor-­se-­á  de  bancos-­mesas,  com  lugares  
em  número  suficiente  para  todos  os  alunos.  Estes  bancos-­mesas  serão  de  proporções  
móveis  ou  fixas,  devendo  neste  último  caso  haver  cinco  modelos  diferentes,  propor-
cionados  à  diversa  estatura  dos  alunos.  As  carteiras  serão  devidamente  inclinadas,  e  
de  preferência  móveis  para  facilitar  a  passagem,  e  os  bancos  terão  um  encosto  baixo,  
à  altura  do  vértice  do  ângulo  inferior  da  omoplata  dos  alunos.  Haverá,  além  disto,  para  
uso  do  professor,  uma  cadeira  e  uma  mesa,  colocadas  sobre  um  estrado.

-­  O  material  de  ensino  compor-­se-­á,  pelo  menos,  de  um  quadro  negro  de  1  metro  de  
altura  por  1,30  metro  de  largura,  um  ábaco,  uma  colecção  de  pesos  e  medidas,  uma  
balança,  uma  carta  corográfica  do  continente,  ilhas  adjacentes  e  possessões  ultrama-
rinas  e  várias  cartas  murais  contendo  alfabetos  e  silabários.

É  de  reconhecida  e  indiscutível  conveniência  que  os  serviços  do  ensino  sejam  insta-
lados  em  casas  próprias,  que  assegurem  a  permanência  do  seu  funcionamento  em  
condições  proveitosas,  e  para  esse  fim  devem  convergir  todos  os  esforços  e  sacrifí-
cios;;  quando,  porém,  se  prove,  adequada  àqueles  serviços,  e  não  a  possa  de  pronto  
adquirir,   construir   ou   apropriar,   arrendar-­se-­á,   provisoriamente,   uma   que   satisfaça,  
quanto  possível,  ao  que  preceitua  o  artigo  antecedente.  Na  hipótese  da  última  parte  
deste  artigo,  a  altura  entre  o  sobrado  e  o  tecto  pode  descer  até  o  mínimo  de  2,80  me-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 618


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tros,  se  forem  favoráveis  as  demais  condições  higiénicas.  

[…]

10- DECRETO LEI DECRETO Nº2947 DE 20 DE JANEIRO DE 1917

Estabelece  provisoriamente  as  normas  técnicas,  higiénicas  e  pedagógicas  a  que  de-


vem  obedecer  os  novos  edifícios  escolares  (escolas  infantis  e  primárias,  elementares  
e  complementares).  Aplica  a  Lei  n.º  563  de  6  de  Junho  de  1916  relativa  à  Comissão  
nomeada  em  13  de  Junho  de  1912.

NORMAS  TÉCNICAS,  HIGIÉNICAS  E  PEDAGÓGICAS  A  QUE  DEVEM  SATISFAZER  


OS  NOVOS  Edifícios  ESCOLARES

ESCOLAS INFANTIS E PRIMÁRIAS ELEMENTARES E COMPLEMENTARES

O edifício escolar e os seus anexos

CAPITULO  I

Condições Gerais

O  local  destinado  à  construção  de  um  edifício  escolar  deve  ser  central,  de  acesso  có-
modo  e  seguro,  afastado  pelo  menos  10m  das  edificações  fronteiras  e  o  mais  possível  
de  vizinhanças  perigosas,  incómodas,  insalubres  ou  por  qualquer  forma  inconvenien-
tes;;  tais  como:  fábricas,  quartéis,  matadouros,  nitreiras,  tabernas,  mercados,  etc.

A  distância  do  edifício  escolar  ao  cemitério  será  pelo  menos  de  100m.

O  terreno  deve  ser,  quanto  possível,  permeável  e  seco.  O  nível  do  lençol  de  água  sub-
terrânea  não  deve  ficar  a  menos  de  1m  da  superfície  do  solo.  Todo  o  terreno  sujeito  
a  humidade  será  convenientemente  drenado,  e  as  fundações,  à  altura  dos  ensoleira-
mentos  serão  sempre  revestidas  duma  camada  isoladora  de  asfalto  ou  cimento,  que  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 619


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evite  a  infiltração  da  água  nas  paredes.  Ao  terreno  dar-­se-­ão  os  escoamentos  neces-
sários  para  afastar  do  edifício  as  águas  pluviais.

Evitar-­se-­á  a  edificação  sobre  aterros  de  formação  recente,  e  bem  assim  em  locais  
acidentados,  que  possam  obrigar  a  dispendiosos  movimentos  de  terras,  a  construções  
de  muros  de  suporte,  etc.

Nas  regiões  sísmicas  rejeitar-­se-­ão  os  terrenos  atravessados  por  falhas  geológicas,  e  
aqueles  onde  haja  linhas  de  contacto  de  rochas  de  natureza  diferente.

A  superfície  total  do  terreno,  quando  o  edifício  escolar  tenha  um  só  pavimento,  será  
calculada,  por  aluno,  na  razão  de  8m2  para  as  escolas  infantis,  e  na  de  10m2  para  as  
escolas  primárias.  Em  caso  algum  o  edifício  deverá  comportar  mais  de  600  alunos.

O  pavimento  do  rés-­do-­chão  de  qualquer  edifício  escolar  deve  ser  separado  do  solo  
por  uma  caixa-­de-­ar,  tanto  quanto  possível  visitável,  e  que  nunca  terá  altura  inferior  
a  0,6m.  Quando  não  puder  observar-­se  esta  condição,  toda  a  superfície  do  solo  será  
convenientemente   revestida   duma   camada   de   betom   hidráulico,   de   espessura   não  
inferior  a  0,2m,  sobre  a  qual  assentará  directamente  o  sobrado.  Sendo  possível  apro-
veitar-­se-­á  a  caixa-­de-­ar  para  arrumações  ou  depósitos  de  material  escolar.

As  escolas  infantis  e  as  primárias  de  50  a  100  alunos  serão  construídas  sempre  no  
rés-­do-­chão.  Os  edifícios  escolares  de  maior  lotação  podem  ocupar  dois,  e,  excepcio-
nalmente  três  pavimentos.  No  edifício  em  que  devam  funcionar  as  duas  escolas,  cada  
uma  delas  será  independente  da  outra  e  terá  entrada  própria.

O  edifício  escolar  deve  ser  de  sólida  construção,  de  aspecto  simples,  mas  atraente,  
e  acomodado  ao  clima  e  ao  carácter  da  respectiva  região.  Os  materiais  empregados  
serão   escrupulosamente   escolhidos   devendo   utilizar-­se   de   preferência   os   que   mais  
facilmente  se  possam  obter  na  localidade.  Na  escolha  do  local  e  na  elaboração  dos  
projectos   prever-­se-­á   a   possibilidade   de   uma   futura   ampliação   do   edifício   de   modo  
que  se  aproveite  o  mais  possível  a  construção  primitiva.

Sala de aula

A  sala  de  aula  não  devera  comportar  mais  de  40  alunos  nas  escolas  infantis,  mais  de  
50  nas  escolas  primárias.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 620


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A  superfície  do  pavimento  será  calculada  na  razão  de  1m2  por  aluno  nas  escolas  in-
fantis,  e  na  de  1,25m2  nas  escolas  primárias.

A  cubagem  de  ar  por  aluno  não  deve  ser  inferior  a  4m3  nas  primeiras,  e  a  5m3  nas  
segundas.

As  salas  das  escolas  infantis  devem  medir,  em  regra,  8m  de  comprimento  por  5m  de  
largura.

As  salas  de  aula  das  escolas  primárias  masculinas  ou  femininas  terão  em  média,  9,5m  
de  comprimento  por  6,6m  de  largura,  ou  10m  de  comprimento  por  6,5m  de  largura,  
quando   as   carteiras   de   dois   lugares   tenham   de   ser   dispostas   em   três   filas,   e   terão  
8,2m  de  comprimento  por  7,7m  de  largura,  se  as  carteiras  tiverem  de  ser  dispostas  
em  quatro  filas.  No  primeiro  caso  a  altura  da  sala  não  será  inferior  a  4m  e  no  segundo  
a  4,5m.

Nas  escolas  mistas  a  sala  terá  9,75m  de  comprimento  por  7,7m  de  largura  e  4,5m  de  
altura,  dispondo-­se  sempre  as  carteiras  em  quatro  filas.

O  soalho  será  de  madeira  seca  e  rija,  de  boa  qualidade,  empregada  em  lâminas  es-
treitas,  que  não  excedam  0,12m  de  largura,  ligadas  a  macho  e  fêmea  com  prego  es-
condido.  As  juntas  serão  perfeitamente  tomadas  e  a  superfície  do  pavimento  revestida  
duma  demão  de  óleo  fervido  aplicado  em  quente.

As  paredes  da  sala  serão  lisas  e  de  cor  branco-­esverdiada  ou  cinzento  muito  claro.  A  
parte  inferior  das  mesmas  paredes,  até  à  altura  de  1,5m,  terá  revestimento  que  permi-
ta  facilmente  as  lavagens.

O  tecto  deve  ser  estucado  de  branco,  sem  molduras  nem  ornatos.

Todos  os  ângulos  da  sala  e  as  sancas  do  tecto  serão  atenuados  por  meio  de  curvas  
de  0,07m  de  raio.

As  salas  de  aula  não  deverão  comunicar  directamente  umas  com  as  outras.

As  portas  devem  rasgar-­se  sempre  que  seja  possível,  na  parede  fronteira  à  parede  
principal  de  iluminação  e,  em  regra,  no  espaço  compreendido  entre  o  estrado  do  pro-
fessor  e  a  primeira  linha  de  carteiras.  As  portas  das  aulas  devem  abrir  para  o  lado  de  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 621


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fora,  não  comunicando,  todavia,  directamente  com  o  exterior  do  edifício.  A  sua  largura  
não  será  inferior  a  0,9m,  nas  de  um  só  batente,  nem  a  1,2m  nas  de  dois  batentes.

As  janelas  das  aulas  devem  ser,  preferivelmente,  expostas  ao  nascente,  sul,  sueste  
e  noroeste.

A  iluminação  será,  quanto  possível,  bilateral  esquerda  e  direita,  ou  esquerda  e  poste-
rior.  Predominando  sempre  em  intensidade  a  do  lado  esquerdo.

Nas  salas  de  aula  cuja  largura  exceda  7m  a  iluminação  será  sempre  bilateral.

A  relação  entre  a  superfície  iluminante  e  a  do  pavimento  não  deve  ser  inferior  a  1/6.

A  forma  das  janelas  será  rectangular  ou  ligeiramente  curva  na  parte  superior.

A  distância  entre  a  padieira  e  o  plano  do  tecto  não  excederá  0,3m.

O  peitoril  deve  ficar  à  altura  não  inferior  a  1m  e  não  superior  a  1,2m  do  pavimento  da  
sala.

A  distância  entre  duas  janelas  consecutivas  será  o  mais  reduzida  possível  e  não  irá  
além  de  1m.

As  janelas  terão  caixilho  móveis,  que  permitam  arejar  abundantemente  a  sala.  Alem  
disso,  levarão  na  parte  superior  bandeiras  móveis,  abrindo  em  báscula,  dispostas  de  
modo  que  assegurem  uma  ventilação  permanente  e  eficaz,  que  não  incomode  nem  
prejudique  os  alunos.  Na  parede  fronteira,  e  à  mesma  altura,  haverá  igualmente  ban-
deiras  móveis  para  facilitar  a  ventilação.

As  janelas  serão  providas  de  estores  ou  cortinas  lisas,  sem  riscas  ou  desenhos,  para  
regular  a  intensidade  da  luz.

Salas de desenho, de trabalhos manuais e lavores femininos

Quando  os  edifícios  escolares  tenham  salas  especiais  para  o  ensino  do  desenho,  dos  
trabalhos  manuais  ou  dos  lavores  femininos,  deverão  essas  salas  ser  sempre  abun-
dantemente  providas  de  luz,  preferindo-­se,  para  a  de  desenho,  a  luz  do  norte.

Se  o  edifício  constar  de  mais  de  um  pavimento,  poderão  as  mesmas  salas  ser  dispos-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 622


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tas  no  pavimento  superior,  salvo  quando  se  destinem  a  trabalhos  em  ferro  ou  em  ma-
deira,  devendo,  em  tal  caso,  ficar  afastadas  das  aulas,  para  que  o  ruído  não  perturbe  
os  outros  exercícios  escolares.

Salão para solenidades escolares, conferências e projecções

Este  salão  deverá  ser  construído  no  pavimento  térreo  e  de  preferência  em  anfiteatro,  e  
ter  ao  fundo  um  estrado,  em  frente  do  qual  haverá  um  gabinete  onde  serão  instalados  
os  aparelhos  de  projecção.  Nas  janelas  haverá  um  dispositivo,  que  permita  vedar  a  luz  
exterior,  sempre  que  seja  necessário.  As  saídas  serão  amplas  e  a  circulação  deverá  
poder  fazer-­se  com  toda  a  facilidade.

Vestíbulo e vestiários

Em  todas  as  escolas  haverá  um  vestíbulo  cujas  dimensões  devem  estar  em  relação  
com  a  importância  do  edifício.

Nos  pequenos  edifícios  escolares  poderá  o  vestíbulo  ser  aproveitado  como  vestiário.

Nos  edifícios  de  maiores  proporções  haverá,  em  regra,  locais  especialmente  destina-
dos  a  esse  fim,  podendo,  contudo,  os  vestiários  ser  instalados  nos  corredores,  quando  
a  largura  destes  não  seja  inferior  a  3m.

Os  vestiários  devem  ser  suficientemente  amplos,  bem  arejados  e  iluminados.

Em  todos  eles  haverá  cabides  para  pendurar  a  roupa  e  prateleiras  onde  o  ar  possa  
circular  facilmente,  destinadas  ao  depósito  dos  sacos  ou  cestos  dos  alunos.

Corredores e escadas

Os  corredores  serão  sempre  bem  iluminados  e  ventilados.

A  sua  largura  nunca  será  inferior  a  1,5m  nas  escolas  de  uma  ou  de  duas  salas;;  em  
todas  as  outras  essa  largura  estará  em  relação  com  o  número  de  classes,  de  modo  
que  aos  alunos  se  assegurem  sempre  comunicações  fáceis  e  cómodas.

As  escadas  devem  receber  ar  e  luz  em  abundância.

Nos  pequenos  edifícios  escolares  terão  a  largura  mínima  de  1,5m;;  nos  outros,  a  lar-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 623


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gura  será  proporcionada  ao  número  de  classes.  São  proibidas  as  escadas  em  forma  
de  leque.

Os   lanços  devem  ser  sempre  rectos,   e   cada   um   não   poderá   ter   mais   de   dezassete  
degraus.  No  fim  de  cada  lanço  haverá  um  patamar  de  repouso,  cuja  largura  será  igual  
à  escada.

Os  degraus  terão  0,16m  de  espelho  e  0,28m  a  0,30m  de  cobertor.

No  gradeamento  da  escada  não  deve  haver  aberturas  superiores  a  0,13m.

Sobre  o  mesmo  gradeamento  haverá  um  corrimão,  que  terá  na  parte  superior  botões  
metálicos  salientes,  à  distância  de  1m  uns  dos  outros,  para  impedir  que  os  alunos  se  
deixem  escorregar  ao  longo  dele.  Do  lado  da  parede  haverá  outro  corrimão  à  mesma  
altura  do  primeiro.

Os   maiores   edifícios   escolares   terão,   pelo   menos,   duas   escadas   para   serviço   dos  
alunos.

Cozinha e refeitório

A  cozinha  será  instalada  no  rés-­do-­chão  e  terá  contíguo  o  refeitório  quando  este  seja  
independente,  ou  o  pátio  coberto,  que  servirá  para  esse  fim,  quando  não  haja  local  
especialmente   destinado   a   refeitório.   Nas   escolas   do   sexo   feminino   esta   instalação  
deverá  também  servir  para  o  ensino  prático  da  economia  doméstica.

Balneário

Sempre  que  as  circunstâncias  o  permitam,  haverá  no  edifício  escolar  um  balneário,  
com  o  preciso  número  de  compartimentos  para  assegurar  a  cada  aluno  um  duche  ou  
banho  de  chuveiro,  tépido,  de  oito  em  oito  dias,  pelo  menos.

Os  compartimentos  terão  aproximadamente  1m  de  largura  por  2,4m  de  comprimento,  
e  constaram  de  duas  partes  que  devem  comunicar  entre  si,  uma  destinada  ao  banho,  
outra  ao  vestiário.

Na  parte  destinada  ao  banho,  e  encostado  à  parede  do  fundo,  haverá  um  pequeno  
assento  para  facilitar  aos  alunos  a  lavagem  dos  pés,  e  no  vestiário  outro  assento  para  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 624


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eles  se  poderem  calçar  comodamente.

As  paredes  e  o  solo  destes  recintos  devem  ser  impermeáveis,  e  o  pavimento  terá  os  
escoamentos  necessários.  No  vestiário  haverá  uma  grade  móvel  de  madeira,  por  bai-
xo  do  qual  a  água  escorra  facilmente.

Nas  escolas  infantis  o  duche  será  substituído  pelo  banho  de  imersão,  para  o  que  ha-
verá  o  preciso  número  de  tinas,  que  satisfarão  a  todas  as  condições  higiénicas,  sendo  
convenientemente  providas  de  torneiras  para  água  quente  e  fria.

O  balneário  ficará  instalado  no  rés-­do-­chão,  podendo  ser  também  aproveitadas  para  
esse  fim  as  caves  do  edifício,  quando  tenham  altura  suficiente  e  sejam  bem  ventiladas  
e  arejadas.  Nos  grandes  edifícios  escolares  deverá  o  balneário  constituir  uma  depen-
dência  do  ginásio.

Pátio coberto

O  pátio  coberto  deve  estar  ligado  ao  edifício  escolar  e  em  comunicação  directa  com  o  
jardim  de  recreio.  A  sua  superfície  será,  pelo  menos,  igual  à  superfície  total  das  salas  
de  classe,  e  a  altura  não  será  inferior  a  4m.  É  mister  assegurar-­lhe  sempre  uma  boa  
iluminação  e  ventilação.

O  pavimento  será  de  material  rijo,  não  friável  nem  escorregadio,  e  sempre  que  seja  
possível  calcetado  à  portuguesa,  com  pedra  rija.

O  pátio  coberto  poderá  ser  utilizado  para  refeitório,  recinto  de  jogos  e  ginásio,  quando  
exigências  económicas  assim  o  imponham.

Nas   pequenas   escolas   rurais   esse   pátio   poderá   reduzir-­se   a   um   simples   alpendre,  
convenientemente  resguardado  dos  ventos  que  conduzem  as  chuvas.

Recinto de jogos

Poderá  também  ser  construído  recinto  de  jogos,  com  capacidade  para  abrigar  da  chu-
va  e  do  sol  todos  os  alunos  da  escola.

As  paredes  devem  ter  superfície  mínima,  com  as  necessárias  portas  e  janelas  para  a  
conveniente  ventilação.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 625


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O  recinto  de  jogos  poderá  ser  utilizado  para  refeitório,  contanto  que  não  haja  nenhum  
prejuízo  para  os  jogos  e  exercícios.

Ginásio

O  ginásio  deve  instalar-­se  no  rés-­do-­chão,  e,  em  regra,  ser  separado  do  edifício  es-
colar,  podendo,  todavia,  estar  ligado  a  este  por  uma  passagem  coberta.  Nos  edifícios  
mais  importantes  será  precedido  de  um  vestíbulo  com  vestiários,  sentinas,  balneário  
e  gabinete  para  observações  antropométricas.  A  sua  superfície  mínima  será  de  2m2  
por  aluno,  e  a  superfície  total  calcular-­se-­á  em  relação  ao  número  máximo  de  alunos  
que  deve  constituir  cada  classe  de  ginástica.

A  altura  nunca  deverá  ser  inferior  a  5m.

O  pavimento  será  de  madeira  rija  e  formado  de  lâminas  estreitas.

O  ginásio  deve  ser  bem  ventilado  e  iluminado  e  ter  as  janelas  altas,  a  fim  de  que  as  
correntes  de  ar  não  prejudiquem  os  alunos.

Lavatórios e bebedouros

Os  lavatórios  serão  especialmente  colocados  junto  dos  vestiários,  refeitórios,  salas  de  
desenho  e  de  trabalhos  manuais,  ginásios,  sentinas,  e  jardins  de  recreio.  Empregar-­
se-­ão  de  preferência  lavatórios  fixos.

Toda  a  escola  deve  ser  abastecida  de  água  potável,  a  qual  será  fervida  e  filtrada  sem-
pre  que  se  torne  suspeita  ou  na  localidade  reine  alguma  epidemia.

O  sistema  a  adoptar  nos  bebedouros  será  o  de  "fonte  higiénica",  de  jacto  ascendente  
ou  horizontal,  que  evita  o  uso  do  copo  e  o  contacto  dos  lábios  com  qualquer  objecto  
que  possa  ocasionar  contágio  ou  transmissão  de  doença.

Sentinas e mictórios - Fossas

Por  cada  grupo  de  50  alunos  haverá  duas  sentinas  nas  escolas  do  sexo  masculino  e  
três  sentinas  nas  escolas  do  sexo  feminino  e  nas  infantis.  Nas  escolas  mistas  haverá  
uma   sentina   para   os   alunos   e   duas   para   as   alunas.   Convenientemente   separadas  
dessas,  haverá  uma  sentina  para  os  professores,  e  nos  maiores  edifícios  escolares  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 626


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outra  para  o  pessoal  menor.

As   sentinas   devem   ser   instaladas   em   locais   facilmente   vigiáveis,   de   preferência   no  


jardim  de  recreio,  tendo  entradas  independentes  para  cada  sexo.  Quando,  porém  o  
edifício  tenha  mais  de  dois  pavimentos,  cada  andar  deve  ser  provido  do  preciso  núme-
ro  de  sentinas  dispostas  em  pavilhão  especial,  amplamente  abastecido  de  ar  e  luz.

As   sentinas   nunca   poderão   comunicar   directamente   com   as   salas   de   aula   ou   com  


outras  dependências  internas  do  edifício  onde  os  alunos  tenham  de  permanecer,  de-
vendo,  entre  elas  e  esses  locais,  haver  sempre  um  vestíbulo,  ou  galerias  cobertas  e  
bem  arejadas.

Todas   as   escolas   devem   possuir   um   reservatório   de   água   destinada   à   limpeza   das  


sentinas,  cuja  instalação  será  objecto  dos  maiores  cuidados,  observando-­se  sempre  
nelas  uma  rigorosa  higiene  e  um  asseio  perfeito.

Para  as  sentinas,  a  disposição  preferível  é  a  de  compartimentos  agrupados  em  série,  
tendo  cada  um  o  seu  assento  ou  bacia,  ligada  a  um  colector  único  de  grés  ou  de  ferro  
fundido,  constantemente  provido  de  água,  onde  os  dejectos  caiam  directamente.  Uma  
das  extremidades  do  colector  estará  ligada  a  um  autoclismo,  colocado  a  uma  altura  
não  inferior  a  2m  e  de  capacidade  tal  que  permita  fornecer  automaticamente,  e  em  pe-
ríodos  previamente  regulados,  descargas  de  15  litros  de  água  a  cada  assento.  A  outra  
extremidade  do  colector  comunicará  com  a  fossa  ou  canalização  de  esgoto  por  meio  
de  um  sifão  hidráulico,  disposto  de  modo  que  intercepte  a  saída  dos  gases  e  mante-
nha  a  água  do  colector  ao  nível  conveniente.  Todas  as  bacias  que  forem  instaladas  
isoladamente  serão  munidas  de  autoclismo  e  de  sifão  hidráulico,  que  terá  ventilação  
para  o  telhado.

Cada  compartimento  deverá  medir  1,2m  por  comprido  por  0,80m  de  largo.

A  altura  dos  assentos  regulará  por  0,23m  nas  escolas  infantis  e  por  0,40m  nas  primá-
rias.

O  assento  deve  ser  um  pouco  inclinado  para  a  frente,  e  constituído,  quanto  possível,  
por  um  simples  aro,  sobre  o  qual  os  alunos  não  possam  apoiar  os  pés.

As  portas  dos  compartimentos  terão  1,10m  de  altura  e  ficarão  à  distância  de  0,20m  do  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 627


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pavimento  devendo  abrir  para  o  exterior.

As   paredes   divisórias   terão   2,20m   de   altura,   e   tanto   estas   como   as   do   fundo   serão  
revestidas  de  substâncias  impermeáveis,  que  permitam  frequentes  desinfecções  e  la-
vagens,  devendo  preferir-­se  o  revestimento  com  bons  azulejos  até  a  altura  de  1,80m.

O  pavimento  será  feito  com  materiais  impermeáveis  e  terá  as  inclinações  para  o  es-
coamento  das  águas.

Nas  escolas  do  sexo  masculino  haverá,  pelo  menos,  dois  mictórios  por  cada  grupo  de  
50  alunos.

Nas  escolas  mistas  deve  haver  sempre  dois  mictórios.

Os  mictórios  devem  ser  agrupados  em  série  e  separados  por  divisórias  de  ardósia  ou  
por  placas  de  mármore,  as  quais  deve  ter  1,30m  de  altura,  ressair  0,30m  a  0,40m  de  
parede  e  ser  espaçadas  0,40m  umas  das  outras.

O  sistema  preferível  seria  o  constituído  por  uma  peça  única  de  louça  esmaltada,  tendo  
superiormente  uma  entrada  de  água,  e  inferiormente,  ao  nível  do  solo  um  depósito  com  
sifão  obturador.  Quando,  por  economia,  se  não  possa  empregar  este  sistema,  adop-
tar-­se-­á  o  de  divisórias  de  mármore  ou  ardósia,  aplicadas  contra  um  fundo  do  mesmo  
material,  que  terminará  inferiormente  por  um  canal  de  cimento  grés  ou  faiança.  Este  
canal,  comum  a  toda  a  série,  será  inclinado  para  uma  das  extremidades,  onde  deverá  
colocar-­se  um  sifão  provido  de  óleo  mineral  desinfectante.  Com  a  mesma  substância  
deverão  ser  frequentemente  pinceladas  as  paredes  e  o  canal  de  cada  mictório.

Nas  sentinas  e  mictórios  todos  os  ângulos  deverão  ser  arredondados  por  curvas  de  
0,07m  de  raio,  suprimindo-­se  todos  os  recantos  que  não  possam  ser  facilmente  lim-
pos.  Os  aparelhos  sanitários  deverão  ficar  o  mais  possível  à  vista,  e  as  canalizações  
ser  facilmente  visitáveis.

Nas  localidades  onde  houver  canalização  de  esgotos,  as  sentinas,  os  mictórios,  etc.,  
serão  ligados  com  a  rede  geral  por  meio  de  um  colector  provido  de  poço  de  inspecção  
e  de  interceptor  hidráulico.

Onde  não  haja  rede  de  esgotos,  deverá  instalar-­se,  fora  do  edifício  escolar,  uma  fossa  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 628


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fixa  do  sistema  de  depuração  biológica,  construída  com  materiais  impermeáveis  e  pro-
vida  de  um  tubo  de  arejamento,  cuja  altura  deve  exceder  a  do  telhado  do  edifício.

A  capacidade  dessa  fossa  será  proporcionada  à  população  escolar.

As  fossas  deverão  estar  sempre  o  mais  afastado  possível  do  poço  ou  da  canalização  
da  água  potável,  e  não  devem  receber  as  águas  pluviais,

Jardim de recreio

A  superfície  do  jardim  de  recreio  será,  em  média,  de  5m2  por  aluno.  O  jardim  cons-
tará   de   duas   partes:   uma   propriamente   destinada   ao   recreio   dos   alunos,   e   a   outra  
exclusivamente  reservada  a  exercícios  práticos  de  agricultura  e  a  lições  intuitivas  de  
botânica.  Na  parte  que  se  destina  ao  recreio,  o  solo  será  ensaibrado  e  terá  as  incli-
nações  suficientes  para  o  escoamento  das  águas.  Os  passeios  ou  passagens  serão  
preferivelmente  cimentados,  lajeados  ou  calcetados  à  portuguesa  com  pedra  miúda,  
ressaindo  o  menos  possível  do  nível  do  solo.  No  jardim  haverá  algumas  árvores  de  
folha  caduca,  plantadas  a  distância  conveniente  para  não  interceptarem  a  luz  à  janela  
dos  edifícios.

Iluminação  artificial

Para  a  iluminação  artificial  das  salas  destinadas  aos  exercícios  escolares  adoptar-­se-­
ão  os  processos  que  assegurem  uma  luz  intensa,  fixa  e  difusa,  de  cor  branca,  e  que  
vicie  ou  aqueça  o  menos  possível  a  atmosfera,  devendo  empregar-­se,  por  ordem  de  
preferência,  a  luz  eléctrica  de  lâmpada  de  incandescência,  a  de  arco  voltaico,  reflec-
tida  ou  protegida  por  globos  de  vidro  fosco,  levemente  amarelados,  os  bicos  de  gás  
com  mangas  de  incandescência  e  os  candeeiros  de  petróleo  igualmente  munidos  de  
mangas  incandescentes.  Os  focos  luminosos  serão  dispostos  de  maneira  que  ilumi-
nem  abundante  e  uniformemente  toda  a  sala.

A  distância  desses  focos  à  cabeça  dos  alunos  não  deverá  ser  inferior  a  1,50m.

Ventilação  artificial

Nas   escolas   providas   de   sistema   de   aquecimento   deve   este   aproveitar-­se   para   au-
xiliar  a  extracção  do  ar  viciado  dos  recintos  escolares  e  a  introdução  do  ar  puro  nos  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 629


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mesmos  recintos,  por  meio  da  diferença  da  temperatura  interna  e  externa,  de  chami-
nés  de  exaustão  ou  de  ventiladores.

Em  qualquer  dos  casos,  a  captação  do  ar  puro  deve  fazer-­se  em  local  o  mais  possível  
isento  de  poeiras,  afastado  dos  sítios  muito  frequentados  e  de  emanações  nocivas,  e  
a  sua  introdução  nas  salas  de  aula  deve  efectuar-­se  por  forma  que  a  saúde  dos  alunos  
não  seja  prejudicada.

Aquecimento

Nas   regiões   frias   onde   a   temperatura   interior   das   salas   de   aula   possa   baixar,   com  
frequência,  a  menos  de  10º  centígrados,  serão  as  mesmas  salas  providas  de  um  sis-
tema  de  aquecimento  que  permita  elevar  a  temperatura  a  14º  centígrados  ou  a  16º  
centígrados.

Nos  grandes  estabelecimentos  escolares  o  aquecimento  deve  ser  obtido,  de  preferên-
cia,  por  meio  de  água  quente  ou  do  vapor  a  baixa  pressão.  As  caldeiras  deverão  ser  
instaladas  nas  caves  dos  edifícios,  e  a  distribuição  do  calor,  nos  diferentes  locais,  far-­
se-­á  por  meio  de  radiadores,  dispostos  por  forma  que  auxiliem  também  a  ventilação.  
As  mesmas  caldeiras  deverão  ser  aproveitadas,  quanto  possível  para  os  serviços  de  
cozinha,  banhos,  etc.

Nas  pequenas  escolas  a  sala  de  aula  será  provida  de  um  calorífero  de  ar  quente,  po-
dendo  utilizar-­se  como  combustível  o  carvão  ou  a  lenha.  O  calorífero  terá  um  pequeno  
depósito  de  água  para  restituir  ao  ar  aquecido  o  grau  higrométrico  que  possa  ter  per-
dido  em  razão  do  aquecimento.

Quaisquer  que  sejam  os  aparelhos  de  aquecimento  a  empregar,  devem  sempre  pre-
ferir-­se  os  mais  simples  e  de  mais  fácil  funcionamento,  e  que  menos  possibilidades  
ofereçam  de  juntar  ao  ar  ambiente  os  gases  da  combustão.

Habitação do professor

Nas  povoações  rurais,  onde  não  seja  fácil  encontrar  alojamento  para  o  professor,  terá  
este  residência  no  próprio  edifício  escolar;;  advertindo-­se,  porém,  que  entre  essa  resi-
dência  e  a  escola  não  poderá  haver  qualquer  comunicação  interior.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 630


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A  habitação  do  professor  constará,  pelo  menos  de  seis  divisões:  gabinete  de  estudo,  
sala  de  jantar,  três  quartos,  cozinha  e  sentina,  e  terá  contíguo  um  pequeno  quintal  in-
teiramente  separado  das  outras  dependências  da  escola.  Todas  estas  divisões  devem  
ser  suficientemente  amplas  e  obedecer  aos  preceitos  higiénicos

Habitação do porteiro

Nos  edifícios  escolares  que  devam  comportar  alojamento  do  porteiro,  será  esse  aloja-
mento,  quanto  possível,  instalado  junto  do  vestíbulo  de  entrada,  e  constará  de  quatro  
divisões:  gabinete,  cozinha  e  dois  quartos.

CAPITULO  II

TIPOS ESCOLARES

A - Escola infantil

O  edifício  destinado  a  escola  infantil  compreenderá:

a)  três  salas  para  as  ocupações  educativas  e  instrutivas;;

b)  um  vasto  recinto  coberto  destinado  aos  jogos  e  ao  recreio;;

c)  gabinete  para  o  pessoal  docente;;

d)  vestíbulo,  que  poderá  também  servir  de  sala  de  espera;;

e)  um  aposento  com  algumas  camas  para  as  crianças  acidentalmente  indispostas  que  
careçam  de  repouso;;

f)  vestiário  com  lavatórios  e  bebedouros;;

g)  balneário;;

h)  cozinha  e  refeitório,  para  o  qual  poderá  ser  utilizado  o  pátio  coberto;;

i)   sentinas  para  os  alunos,  distintas   segundo   os   sexos,   e   para   o   pessoal   docente   e  
menor;;

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 631


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j)  jardim  de  recreio.

B - Escolas primárias elementares e complementares

1º  Escola  mista  móvel  (cursos  temporários):

A  instalação  desta  escola  deverá  compreender:

a)  uma  sala  de  aula;;

b)  vestíbulo,  que  servirá  também  de  sala  de  espera  e  vestiário;;

c)  pátio  coberto;;

d)  sentinas  distintas  para  os  dois  sexos  e  para  a  professora;;

e)  lavatórios  e  bebedouros;;

As  escolas  desta  natureza  poderão  funcionar  em  barracas  desmontáveis  do  sistema  
DOCKER,  ou  de  qualquer  outro  que  ofereça  idênticas  vantagens  e  seja  superiormente  
aprovado.

2º  Escola  mista  fixa:

O  edifício  destinado  a  esta  escola  deve  ter:

a)  uma  sala  de  aula;;

b)  vestíbulo,  que  poderá  também  servir  de  sala  de  espera  e  vestiário;;

c)  gabinete  da  professora,  o  qual  servirá  também  para  museu,  biblioteca  e  observa-
ções  médico-­pedagógicas;;

d)  pátio  coberto;;

e)  ginásio,  podendo  adaptar-­se  para  esse  fim  o  pátio  coberto,  quando  isso  se  torne  
indispensável;;

f)  jardim  de  recreio;;

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 632


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

g)  lavatórios  e  bebedouros;;

h)  sentinas  para  os  alunos,  distintas  segundo  os  sexos,  e  para  a  professora;;  mictórios  
contíguos  à  sentina  do  sexo  masculino.

3º  Escola  masculina  ou  feminina  para  50  alunos:

O  edifício  compreenderá:

a)  uma  sala  de  aula;;

b)  sala  para  trabalhos  manuais  ou  lavores  femininos,  sempre  que  as  circunstâncias  o  
permitam;;

c)  vestíbulo  que  poderá  servir  de  sala  de  espera  e  de  vestiário;;

d)  gabinete  da  professora,  o  qual  servirá  também  para  museu,  biblioteca  e  observa-
ções  médico-­pedagógicas;;

e)  pátio  coberto;;

f)  ginásio,  podendo  ser  utilizado  para  esse  fim  o  pátio  coberto,  quando  isso  seja  indis-
pensável;;

g)  jardim  de  recreio;;

h)  lavatórios  e  bebedouros;;

i)  sentinas  distintas  para  os  alunos,  e  para  o  professor;;  mictórios  nas  escolas  do  sexo  
masculino.

4º  Escola  masculina  ou  feminina,  num  só  edifício,  para  50  alunos  de  cada  sexo:

Em  cada  uma  das  secções  do  respectivo  edifício  se  atenderá  às  prescrições  indicadas  
no  artigo  precedente.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 633


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5º  Escola  masculina  ou  feminina,  para  100  alunos:

O   edifício   obedecerá   às   condições   já   estabelecidas   para   as   escolas   de   50   alunos,  


tendo  porém  duas  salas  de  aula.

6º  Escola  masculina  e  feminina,  num  só  edifício,  para  100  alunos  de  cada  sexo:

Cada  secção  do  edifício  deverá  compreender  duas  salas  de  aula,  subordinando-­se  em  
tudo  o  mais  às  condições  que  ficaram  estabelecidas  para  a  escola  de  50  alunos  de  
cada  sexo,  num  só  edifício.

7º  Escola  masculina  ou  feminina,  para  200  alunos:

O  edifício  destinado  a  esta  escola  deverá  compreender:

a)  quatro  salas  de  aula;;

b)  sala  para  trabalhos  manuais  ou  lavores  femininos,  segundo  a  natureza  da  escola;;

c)  biblioteca  e  museu  podendo  também  servir  para  local  de  reunião  dos  professores;;

d)  vestíbulo  amplo,  que  possa  servir  de  sala  de  espera;;

e)  gabinete  do  director;;

f)  vestiário,  podendo  nas  escolas  do  sexo  masculino  utilizar-­se  para  esse  fim  os  corre-
dores,  quando  suficientemente  largos;;

g)  pátio  coberto;;

h)  ginásio  com  gabinete  para  observações  médico-­pedagógicas;;

i)  cozinha  e  refeitório;;

j)  balneário,  quando  as  circunstancias  locais  o  permitam;;

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 634


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

k)  depósito  de  material  escolar;;

l)  jardim  de  recreio;;

m)  lavatórios  e  bebedouros;;

n)sentinas  para  os  alunos  e  para  o  pessoal  docente  e  menor;;  mictórios  nas  escolas  
do  sexo  masculino;;

o)  habitação  do  porteiro.

8º  Escola  masculina  ou  feminina,  num  só  edifício,  para  200  alunos  de  cada  sexo:

Cada  secção  do  edifício  terá  quatro  salas  de  aula  e  todas  as  demais  dependências  
estabelecidas   para   a   escola   do   tipo   precedente,   podendo,   contudo,   a   habitação   do  
porteiro  ser  uma  só  para  as  duas  secções.

9º  Escola  masculina  ou  feminina  para  mais  de  200  alunos:

Este  edifício  compreenderá:

a)  tantas  salas  de  aulas  quantos  os  grupos  de  50  alunos  que  a  escola  tenha  de  com-
portar;;

b)  sala  de  desenho;;

c)  sala  destinada  aos  trabalhos  manuais  ou  aos  lavores  femininos;;

d)  biblioteca  e  museu;;

e)  salão  ou  anfiteatro  para  as  solenidades  escolares,  conferências  e  projecções,  po-
dendo  ainda  servir  de  aula  de  música  e  cântico  oral;;

f)  sala  de  espera;;

g)  gabinete  do  director;;

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 635


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h)  gabinete  do  pessoal  docente;;

i)  gabinete  do  pessoal  menor;;

j)  vestíbulo;;

k)  vestiário;;

l)  pátio  coberto;;

m)  ginásio  com  gabinete  para  observações  médico-­pedagógicas;;

n)  cozinha  e  refeitório;;

o)  balneário;;

p)  depósito  do  material  escolar;;

q)  jardim  de  recreio;;

r)  lavatórios  e  bebedouros;;

s)  sentinas  para  os  alunos  e  para  o  pessoal  docente  e  menor;;  mictórios  nas  escolas  
do  sexo  masculino;;

t)  habitação  do  porteiro.

10º  Escola  masculina  e  feminina,  num  só  edifício,  para  mais  de  200  alunos  de  cada  
sexo:

Cada  secção  do  edifício  deverá  obedecer  às  prescrições  estabelecidas  para  as  esco-
las  do  tipo  precedente,  podendo,  porém  haver  habitação  para  um  só  porteiro.

Observação:  quando  a  estreiteza  de  recursos  o  imponha,  no  edifício  destinado  a  es-
cola  masculina  e  feminina,  o  pátio  coberto,  o  ginásio,  a  cozinha,  o  refeitório  e  o  balne-
ário,  serão  comuns  a  um  e  a  outro  sexo.  Em  tal  caso,  estas  dependências  devem  ter,  
para  cada  um  deles,  acesso  distinto.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 636


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BAIRROS ESCOLARES

Nas  principais  cidades  do  país  e  noutros  centros  de  maior  população,  poderão  estabe-
lecer-­se  zonas  e  construir-­se  para  cada  uma  o  respectivo  "Bairro  Escolar",  constituído  
pelos  edifícios  escolares  e  anexos,  uma  vez  que  para  ele  se  organizem  transportes  
fáceis   e   gratuitos   para   as   crianças   e   pessoal   escolar,   à   maneira   do   que,   com   tanto  
proveito  e  higiénico  e  pedagógico,  se  pratica  noutros  países.

Joaquim  Pedro  Martins  (  Ministro  de  Instrução  Pública)

11- DECRETO 5373 DE 5 DE ABRIL DE 1919

Reorganiza  os  serviços  de  Construções  Escolares  dentro  do  Ministério  de  Instrução  
Pública,  sendo  criada  a  repartição  das  Construções  Escolares  (anteriormente  era  ape-
nas  secção),  funcionando  junto  da  Direcção  Geral  da  Instrução  Pública.

12- NOTA OFICIOSA DA PRESIDÊNCIA DO CONCELHO. DIÁRIO DE NOTICIAS,


DE 27 DE MARÇO DE 1938

PROGRAMA  DE  OBRAS  PÚBLICAS  PARA  AS  COMEMORAÇÕES  DOS  CENTENÁ-


RIOS

a.  Acabamento  das  obras  de  restauração  do  Palácio,  jardim  e  parque  de  Queluz;;

b.  Acabamento  da  Casa  da  Moeda  (parte  administrativa  e  oficinal);;

c.  As  obras  do  anexo  do  Museu  das  Janelas  Verdes  (Arte  Antiga)  de  forma  que  fique  
em  condições  de  nele  se  poderem  realizar  exposições  temporárias  de  Arte;;

d.  Construção  de  auto-­estrada  para  Cascais;;

e.  Construção  do  Estádio,  que  deverá  ser  levada  a  efeito  simultaneamente  com  a  da  
auto-­estrada   para   Cascais,   sua   ligação   a   Lisboa   e   construção   da   estrada   marginal,  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 637


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qualquer  delas,  pelo  menos,  até  à  Cruz  Quebrada;;

f.  Libertação  definitiva  da  Torre  de  Belém:  ninguém  compreenderia  que  ao  realizarem-­
se  comemorações  de  tão  grande  significado  na  nossa  História  e  quando  exactamente  
por   meio   delas   se   procura   exaltar   o   valor   da   raça   e   o   seu   reforço   mundial,   aquele  
belíssimo  monumento  não  esteja  definitivamente  livre  da  aviltante  vizinhança  que  há  
perto  de  meio  século  o  enodoa,  e  a  nacionais  e  estrangeiros  pode  dar  a  falsa  ideia  do  
desapego  nosso  às  tradições  e  ao  património  artístico  português;;

g.  Conclusão  das  obras  no  Palácio  de  S.  Bento  e  urbanização  do  local;;

h.  Resolução  do  problema  no  chamado  Parque  Eduardo  VII  e  construção  de  um  pa-
lácio   de   exposições,   antiga   aspiração   da   capital,   onde   não   existe   qualquer   edifício  
próprio  para  tal  fim;;

i.  Reparações  necessárias  no  Teatro  de  S.  Carlos;;

j.  O  maior  impulso  possível  ao  parque  florestal  de  Monsanto  e,  se  possível  (não  sei  
em  quem  tem  esbarrado  esta  aspiração),  a  arborização  da  encosta  marginal  do  Tejo,  
desde  os  Estoris,  cuja  nudez  muito  prejudica  a  beleza  do  estuário;;

k.  A  primeira  fase  de  construção  dos  novos  Hospitais-­Escolares,  em  que  se  visione  
pelo  menos  a  grandeza  da  obra;;

l.  Decidido  impulso  nas  obras  de  novos  bairros  económicos,  de  modo  que  se  possam  
fazer  desaparecer  os  bairros  miseráveis  que  cercam  Lisboa;;

m.  Ligação  radiofónica  de  Portugal  e  do  seu  Império,  com  a  aspiração  de  que,  durante  
as  festas  e,  depois  a  partir  delas,  todos  os  domínios  ultramarinos  possam  seguir  em  
cada  momento  as  manifestações  espirituais  da  Mãe-­Pátria.

13- DESPACHO DO CONSELHO DE MINISTROS DE 15 DE JULHO DE 1941 - PLANO


DOS CENTENÁRIOS

1.  A  necessidade  de  um  plano  de  construções  para  escolas  primárias  foi  vivamente  
sentida,  quase  desde  o  princípio,  pelo  Governo  da  Revolução  Nacional.  A  verdade  é  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 638


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que  o  País  não  possui  os  edifícios  necessários  para  o  ensino  de  toda  a  população  es-
colar;;  dos  que  são  utilizados,  quer  sejam  propriedade  do  Estado  ou  das  câmaras,  quer  
de  particulares,  nem  todos  possuem  o  mínimo  de  condições  higiénicas  e  pedagógicas  
que  se  suporia  absolutamente  indispensável.  Por  outro  lado,  a  solução  do  problema,  
quando  abandonado  a  si  próprio  e  ao  sabor  de  predilecções  locais  ou  de  favores  da  
Administração,   revelou-­se   insuficiente,   desconexa   e,   inarmónica   com   as   necessida-
des   do   ensino   e   as   possibilidades   do   País.   Um   plano   teria   a   superior   vantagem   de  
atender  aos  dados  objectivos  do  problema,  de  distribuir  equitativamente  os  benefícios  
e  as  despesas,  de  satisfazer  pela  forma  mais  económica  o  conjunto  das  necessidades  
e  até  de  aproveitar,  nas  melhores  condições,  o  interesse  do  público  pela  construção  
de  escolas  primárias  e  a  generosidade  de  dadivosos  benfeitores.

2.  A  história  sucinta  dos  esforços  realizados  para  a  organização  da  carta  escolar  e  a  
elaboração  do  plano  consta  do  relatório  do  decreto-­lei  nº29:011,  de  19  de  Setembro  
de  1938,  e  não  vale,  por  isso  a  pena  repeti-­la  aqui.

Basta  registar  que  já  em  1928  se  deram  os  primeiros  passos,  pelo  Ministério  da  Instru-
ção  Pública,  no  sentido  de  se  erguer  a  carta  das  escolas  existentes  em  todo  o  País  e  
definir  a  localização  das  que  deviam  construir-­se  para  satisfazer  as  necessidades  de  
instrução  elementar  de  toda  a  população.

Em  1934  e  1935  os  Ministérios  das  Obras  Públicas  e  Comunicações  e  da  Instrução  
Pública,  em  estreita  colaboração,  conseguiram  fazer  chegar  a  elevado  grau  de  adian-
tamento  o  plano  geral  dos  edifícios  a  construir  de  novo  ou  a  ampliar,  na  base  da  orien-
tação   pedagógica   dada   pelo   segundo   daqueles   Ministérios.   Supôs-­se   então   que   se  
poderia  começar  a  trabalhar  no  ano  de  1936,  em  cujo  orçamento  se  inscreveu  mesmo  
a  verba  necessária  para  começo  da  execução.

Mas   a   criação   do   Ministério   da   Educação   Nacional,   a   definição   de   novos   princípios  


na  educação  da  juventude  e  as  profundas  reformas  anunciadas  em  todos  os  ramos  
de  ensino  levaram  a  suster  prudentemente  a  aprovação  do  plano  pelo  Governo.  De-
pois  de  aprovada  a  lei  n.º1:969,  de  20  de  Maio  de  1938  que  estabeleceu  as  bases  da  
nova  reforma  do  ensino  primário,  uma  comissão  especial,  nomeada  pelo  Ministério  da  
Educação,  trabalhou  na  organização  da  rede  escolar  em  harmonia  com  os  princípios  
estabelecidos  na  lei.  E  nesse  trabalho  se  gastaram  mais  dois  anos.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 639


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3.  A  organização  da  rede  escolar  e  a  definição  do  plano  de  construções  necessárias  
são  de  facto  trabalho  complexo,  não  só  por  dizer  respeito  a  milhares  de  edifícios  e  de  
salas  de  aula  espalhados  por  todo  o  País  como  pela  variabilidade  de  alguns  dos  ele-
mentos  a  considerar  para  a  resolução  do  problema.  O  crescimento  da  população  au-
menta  a  cada  instante  as  necessidades  e  a  menor  flutuação  na  orientação  pedagógica  
repercute-­se  imediatamente  nas  soluções  adoptadas.  Critérios  de  ordem  económica  e  
o  princípio  de  distribuição  das  despesas  entre  o  Estado  e  as  autarquias  locais  fazem  
igualmente  variar  os  resultados.  Reconhece-­se,  em  suma,  que  o  problema  abrange  
outros  de  ordem  pedagógica,  de  ordem  técnica,  de  ordem  financeira,  cuja  definição  
tem  de  ser  precisa  e  supor-­se  imobilizada  em  relação  a  determinado  momento.  Só  em  
tais  condições  é  possível  formular  um  plano  e  executá-­lo.

4.  As  bases  pedagógicas  do  plano  referem-­se,  sobretudo,  aos  seguintes  pontos:

a)  Função  da  escola  primária;;  extensão  e  exigências  do  ensino;;

b)  Separação  dos  sexos  ou  coeducaçao;;

c)  Número  de  crianças  em  cada  sala;;

d)  Número  máximo  de  salas  em  cada  edifício;;

e)  Localização  da  escola,  ou  seja  a  definição  da  sua  zona  de  influência,  determinada  
pela  distância  máxima  que  a  criança  pode  ser  obrigada  a  percorrer  para  frequentar  a  
escola,  em  princípio  sem  prejuízo  da  ligação  à  freguesia  da  residência.

Entendeu-­se  que  a  criança  poderia  percorrer  até  3  quilómetros  para  frequentar  a  esco-
la,  que  a  lotação  normal  de  cada  sala  não  deveria,  em  harmonia  com  a  capacidade  de  
trabalho  do  professor,  exceder  quarenta  alunos  e  que  nenhum  edifício  deveria  possuir  
mais  de  quatro  salas  de  aula,  com  excepção  dos  grandes  centros  urbanos.  Nestes,  a  
densidade  da  população,  o  valor  dos  terrenos  e  a  escassez  das  áreas  disponíveis  tor-
nariam  não  só  muito  cara  como  extraordinariamente  difícil,  senão  impossível,  aquela  
limitação,  pelo  que  se  tem  em  tais  casos  de  arrostar  os  inconvenientes  da  excessiva  
aglomeração  da  população  escolar.  O  principio  legal  da  não  coeducaçao  dos  sexos  é  
fielmente  seguido  quanto  às  salas  e  sempre  que  possível  quanto  aos  edifícios,  mesmo  
nos  meios  rurais.  Exceptuam-­se  os  casos  em  que  a  obediência  à  regra  exigia  aumento  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 640


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

de  salas  de  aula  a  construir  ou  se  traduziria  em  grave  incómodo  para  as  crianças.

5.  Havia  também  na  elaboração  do  plano  problemas  de  ordem  técnica  a  resolver.  Es-
tes  não  se  referem  à  organização  dos  serviços  de  construção,  tão  disseminada  e  de  
pequeno  valor,  pois  se  trata  aqui  já  de  execução,  e  não  do  plano  em  si  próprio,  mas  
à   modicidade   do   custo,   sem   prejuízo   das   exigências   higiénicas   e   pedagógicas   e   à  
extensibilidade  dos  edifícios  –  chamemos  assim  à  possibilidade  do  aumento  futuro  do  
número  de  salas  até  ao  máximo  admitido  -­,  integrando-­se  o  edifício  noutro  do  mesmo  
tipo  igualmente  estudado.

Os  projectos-­tipo  regionais  para  uma  duas  três  e  quatro  salas  foram  criados  não  só  
para   resolver   este   problema   mas   para   integrar   o   mais   possível   o   pequeno   edifício  
escolar  na  paisagem  que  o  cerca,  como  exemplo  de  vida  local  e  de  bom  gosto.  Se  a  
casa  portuguesa  oferece,  pelos  materiais  ou  pela  linha  exterior,  a  marca  regional  que  
a  fez  diferir  do  Alentejo  para  a  Beira  ou  para  Trás-­os-­Montes,  não  há  já  desculpa  para  
a  implantação  por  toda  a  parte  de  um  tipo  abstracto,  número  banal  de  série.  Entendeu-­
se  que,  sem  detrimento  das  condições  uniformes  exigidas  pela  utilização,  se  poderia,  
aliás  sem  exageros  inconvenientes  para  o  custo,  confiar  a  arquitectos  de  gosto  a  so-
lução  do  problema.

6.  Havia  finalmente  os  problemas  de  ordem  financeira  que,  uma  vez  determinado  o  
custo  total,  se  cifram  em  determinar  quem  paga  como  paga  e  em  que  prazo,  relacio-
nando-­se  este  com  o  numero  de  anos  de  execução  do  plano.

Nas  condições  e  com  os  requisitos  definidos  acima,  chegou-­se  à  conclusão  de  que  se-
riam  necessárias  12:500  salas  de  aula,  incluídas  s  ampliações  de  edifícios  existentes,  
ao  preço  médio  de  28  contos,  a  que  devem  acrescentar-­se  4.500$  de  mobiliário  e  ma-
terial  de  ensino,  1.400$  de  arranjo  de  terrenos  e  outras  despesas  e  cerca  de  1.700$  
para  estudos,  projectos  e  fiscalização  (cerca  de  5  por  cento  do  custo  total),  ou  sejam  
para   as   12:500   salas   de   aula   cerca   de   440:000   contos.   Juntando-­se   como   previsto  
a  importância  de  17:500  contos  para  cantinas  e  10  por  cento  para  imprevistos  –  uns  
40:000  contos  -­,  chega-­se  à  cifra  redonda  de  500:000.

A  lei  n.1:969  estabeleceu  o  princípio  da  comparticipação  do  Estado  com  as  autarquias  
locais,  admitindo-­se,  como  é  natural,  a  colaboração  de  entidades  privadas,  median-
te   dinheiro   ou   o   fornecimento   de   trabalho   ou   de   materiais   que   muito   simplificam   as  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 641


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

comparticipações.  Fixou-­se  em  50  por  cento  a  parte  que  competiria  ao  Estado,  e  nos  
outros  50  por  cento,  pela  forma  acima  definida,  a  participação  local.

Tratando-­se  de  um  volume  de  construções  que  se  calcula  ascender  a  alguns  centos  
de  milhares  de  contos,  não  se  reputa  possível  a  sua  execução  em  prazo  inferior  a  dez  
anos  –  de  1941/1942  a  1951  –  e  o  respectivo  financiamento,  por  parte  das  entidades  
locais,  em  menos  de  catorze  anos,  a  partir  do  segundo  ano.  Para  este  resultado  teve  
de  prever-­se  que  o  Tesouro,  não  só  para  pôr  em  movimento  o  sistema  como  para  ali-
viar  no  possível  os  orçamentos  das  autarquias,  faria  o  adiantamento,  sem  encargos,  
de  umas  dezenas  de  milhares  de  contos,  a  reembolsar  nos  cinco  anos  seguintes  ao  
da  conclusão  do  plano.

A  variedade  das  condições  locais,  quanto  às  possibilidades  dos  municípios  e  outras  
autarquias  e  quanto  à  maior  ou  menor  generosidade  das  populações  –  em  geral  gran-
de  quando  se  trata  da  construção  de  escolas  -­,  não  permitem  fixar  princípios  rígidos  
para   o   financiamento,   por   sua   parte,   das   construções   escolares.  Aqui   será   possível  
custeá-­las  pelo  orçamento  ordinário,  adiando  outras  despesas  menos  prementes;;  ali  
haverá  subscrições,  subsídios  individuais,  doações,  como  se  conhecem  já  algumas;;  
noutras  partes  será  porventura  necessário  recorrer  a  pequenas  operações  de  crédito.  
O   problema   deverá   ser   estudado   dentro   das   condições   de   cada   autarquia,   mas   em  
todas  com  devoção  e  interesse  se  se  quer  resolver  por  uma  vez  um  problema  cuja  
falta  de  solução,  ou  simples  adiamento,  se  não  conformam  com  a  capacidade  de  que  
noutros  domínios  temos  dado  provas.

7.  E  ficam  de  fora  ainda  dois  aspectos:  um,  a  que  se  faz  referência  para  não  se  dizer  
que  foi  esquecido  –  o  das  casas  de  residências  para  os  professores;;  outro,  para  se  
dizer  em  que  termos  foi  encarado  –  o  das  cantinas  escolares.

A  residência  dos  professores  primários  não  oferece  em  toda  a  parte  a  mesma  dificul-
dade,  mas  deve  dizer-­se  que  há  meios  rurais  tão  humildes  e  desprovidos  de  habita-
ções  razoáveis  que  o  professor  se  vê  obrigado  ou  a  percorrer  distâncias  penosas  ou  
a  viver  em  condições  do  maior  desconforto.  Para  dar  ao  problema  base  económica,  
seria  preciso  que  a  renda  da  casa  correspondente  ao  juro  do  capital  empregado,  às  
despesas  de  conservação  e  à  amortização  se  mantivesse  dentro  das  possibilidades  
do  vencimento  atribuído  ao  professor  primário.  E  resolvida  esta  dificuldade  –  que  para  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 642


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muitos   casos   se   afigurará   insolúvel   nas   presentes   circunstâncias   –   restava   a   do   fi-


nanciamento   dessa   massa   de   construções,   para   que   o   Tesouro   não   pode   por   ora  
considerar-­se  habilitado.

Quanto  às  cantinas,  deve  abertamente  reconhecer-­se  que  também  não  estamos  em  
condições  de  resolver  o  problema  com  marcada  generalidade:  não  só  não  podería-
mos  construi-­las  por  toda  a  parte,  como  sobretudo  não  poderíamos  sustentá-­las.  Mas  
pareceu  que,  no  caso  de  haver  benfeitores  que  ofereçam  ao  Estado  -­  câmaras,  juntas  
de  freguesia  ou  comissões  especialmente  criadas  para  esse  efeito  -­  fundos  suficien-
tes  para  assegurar  a  manutenção  das  cantinas,  o  Estado  deveria  corresponder  a  tais  
actos  de  benemerência  construindo,  anexos  às  escolas  primárias,  os  respectivos  edi-
fícios.  É  esta  a  explicação  da  verba  que  no  plano  se  lhes  destina.

8.  Na  sequência  deste  pensamento  e  em  harmonia  com  os  princípios  expostos  con-
sideram-­se  aprovados  os  três  mapas  anexos  a  este  despacho,  o  terceiro  dos  quais  é  
desdobrado  em  tantos  quadros  quantos  os  distritos  do  continente  e  ilhas  adjacentes.  
O  plano  aprovado  indica  o  número  de  salas  de  aula  necessárias  para  completar  a  rede  
das  escolas  primárias  e  estabelece  o  número  e  tipo  dos  edifícios  a  construir  por  distri-
tos  e  concelhos;;  limita  os  encargos  com  a  construção,  mobiliário  e  arranjo  dos  terrenos  
e  com  a  eventual  construção  de  cantinas  escolares;;  fixa  a  distribuição  das  importân-
cias  a  despender  pelo  Estado  e  pelas  autarquias  locais  no  período  de  realização  das  
obras  e  regula  também  a  forma  de  reembolso  das  quantias  adiantadas  pelo  Estado.  A  
elaboração  do  plano  baseou-­se  nos  projectos-­tipo  regionais  de  edifícios  escolares  de  
uma,  duas,  três  e  quatro  salas  de  aula,  e  respectivos  orçamentos,  organizados  pelo  
Ministério  das  Obras  Públicas  e  Comunicações,  e  nos  estudos  preparatórios  sobre  a  
rede  de  escolas  primárias  do  País,  feitos  por  este  Ministério  e  pelo  da  Instrução  Públi-
ca  em  1934  e  1935,  bem  como  na  rede  escolar  do  ensino  primário  elementar,  organi-
zada  pelo  Ministério  de  Educação  Nacional  posteriormente  à  lei  n.  1:969.

9.  O  facto  de  se  haverem  tomado  por  base  os  dois  trabalhos  e  de  se  haver  apenas  
fixado  o  número  máximo  de  salas  de  aula  atribuído  a  cada  concelho;;  importa  a  ne-
cessidade   de   que   uma   comissão   especial   faça   a   distribuição   dos   edifícios   a   salas  
por  freguesias  e  lugares,  trabalho  de  que  podem  resultar  ajustamentos  nos  números  
aprovados  e  será  tido  como  revisão  definitiva  dos  estados  existentes,  sem  prejuízo  da  
execução  do  plano  na  parte  que  desde  ja  possa  considerar-­se  fixada.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 643


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

A  comissão  será  constituída  por  um  delegado  de  cada  um  dos  Ministérios  do  Interior,  
Obras  Públicas  e  Comunicações  e  da  Educação  Nacional,  como  membros  permanen-
tes,  e,  para  cada  concelho,  pelo  presidente  da  câmara  e  pelo  delegado  escolar.  Estes  
últimos  darão  o  seu  parecer  por  escrito,  depois  de  ouvirem,  também  por  escrito,  os  
presidentes  das  juntas  de  freguesia.  A  uns  e  outros  será  facultado  o  exame  dos  mapas  
por  freguesias  e  lugares,  elaborados  em  harmonia  com  os  estudos  acima  referidos.  
Entende-­se  que  a  comissão  fará  em  cada  caso,  e  dentro  do  espírito  de  maior  econo-
mia  e  do  maior  aproveitamento  possível  dos  edifícios  existentes,  públicos  ou  particu-
lares,  estrita  aplicação  dos  princípios  acima  definidos.

Os  trabalhos  da  comissão  devem  para  o  continente  ficar  concluídos  até  31  de  Dezem-
bro  de  1941  a  para  as  ilhas  adjacentes  seis  meses  mais  tarde,  publicando-­se  no  Diário  
do  Governo  o  mapa  definitivo,  organizado  de  acordo  com  as  suas  resoluções.

A  comissão  funcionará  junto  do  Ministério  da  Educação  Nacional  sendo  as  despesas  
do  seu  funcionamento  satisfeitas  por  conta  da  dotação  atribuída  no  plano  a  estudos,  
projectos   e   fiscalização   e   inscrita   no   orçamento   do   Ministério   das   Obras   Públicas   e  
Comunicações.

10.  O  número  de  salas  a  construir  não  traduz  senão  em  parte  aumento  absoluto  das  
existentes,  pois  muitas  destas  estão  condenadas  e  têm  de  ser  substituídas.  Mas  mes-
mo  com  esta  restrição  não  parece  possível  pôr  de  pé  esta  obra  e  sobretudo  vir  a  su-
portar  as  despesas  com  o  professorado  necessário  para  dotar  completamente  o  ensi-
no  sem  alguma  compensação  mediante  o  pagamento  de  propinas  por  parte  daqueles  
que  possam  satisfaze-­las.  A  providência  está,  prevista  na  lei,  e,  por  mais  difícil  que  se  
afigure  na  prática,  não  deverá  fugir-­se  nem  ao  estudo  das  fórmulas  mais  convenientes  
nem  à  sua  aplicação.  De  outro  modo  o  problema  não  será  nunca,  ou,  ao  menos,  não  
será  tão  cedo,  resolvido.

11.  O  plano  de  construção  de  escolas  primárias  foi  aprovado  pelo  Governo,  nas  suas  
linhas  gerais,  em  Dezembro  de  1940,  e  essa  aprovação  ratificada  agora  em  face  dos  
mapas  e  especificações  organizados  de  acordo  com  as  determinações  do  Conselho  
de   Ministros   reunido   em   27   de   Dezembro.   Por   aquele   motive   se   lhe   deu,   na   lei   n.  
1:985,   o   nome   de   «Plano   dos   Centenários»,   ligando   às   comemorações   dos   nossos  
oito  séculos  de  história  a  realização  de  medida  de  tão  largo  alcance  para  a  Nação.  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 644


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Embora   sobejamente   demonstrado,   afirma-­se   mais   uma   vez   por   esta   forma   que   o  
grande  jubileu  nacional  não  foi  apenas  motivo  de  solenidades  festivas,  mas  impulso  
decisivo  em  numerosíssimas  realizações  do  maior  interesse  nacional.

António de Oliveira Salazar (Presidente do Conselho)

14- PORTARIA 15760 DE 9 DE MARÇO DE 1956

INSTRUÇÕES  PARA  ESCOLHA  DOS  TERRENOS  DESTINADOS  À  EDIFICAÇÃO  DE  


ESCOLAS  PRIMÁRIAS

MINISTÉRIO  DAS  OBRAS  PÚBLICAS

Reconhecendo-­se  a  conveniência  de  estabelecer  os  principais  requisitos  na  escolha  


dos   terrenos   para   edificação   de   escolas   primárias:   manda   o   Governo   da   República  
Portuguesa,  pelo  Ministro  das  Obras  Públicas,  aprovar  as  instruções  para  a  escolha  
dos  referidos  terrenos,  anexas  à  presente  portaria:

Instruções  para  escolha  dos  terrenos  destinados  à  edificação  de  escolas  primárias

Os  principais  requisitos  a  atender  na  escolha  dos  terrenos  para  edificação  de  escolas  
primárias  serão  os  respeitantes  a:

1.º  Orientação,  área  e  topografia;;

2.°  Natureza  do  solo  e  subsolo;;

3.°  Situação  e  acessibilidade;;

4.°  Facilidades  para  abastecimento  de  água;;

5.°  Facilidades  para  evacuação  de  esgotos.

As  instruções  seguintes  resumem  as  condições  respeitantes  a  cada  um  destes  títulos,  
e  que  haverão  de  ser  tidas  em  conta,  tanto  para  cumprimento  de  disposições  legais,  
como  para  a  conveniente  implantação  e  funcionamento  das  escolas.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 645


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

Na  escolha  dos  terrenos  deverá,  portanto,  procurar-­se  os  que  as  reúnam  no  mais  alto  
grau  possível.

1)  Orientação,  área  e  topografia

1.1  -­  Orientação:

É   conveniente   que   a   frente   principal   do   terreno   fique   voltada   a   sueste,   visto   ser   a  
orientação  mais  desejável  para  os  edifícios  escolares;;  todas  as  orientações  compre-
endidas  entre  os  pontos  cardeais  nascente  e  sul  são  aceitáveis,  e,  quando  houver  de  
se  optar  por  uma  das  orientações  extremas,  preferir-­se-­á  o  sul  nas  regiões  mais  frias  
do  País  e  o  nascente  nas  regiões  mais  quentes.

A  exposição  a  sudoeste  poderá  ser  admitida  em  casos  especiais.

A  exposição  a  poente  não  é  de  admitir,  bem  como  aos  quadrantes  norte-­nascente  e  
norte-­poente.

Quando,   por   circunstâncias   especiais,   não   for   possível   conseguir-­se   terreno   com   a  
frente  principal  convenientemente  orientada,  a  implantação  do  edifício  deverá  ser  es-
tudada  por  forma  a  conciliar-­se  a  exposição  desejável  com  o  melhor  partido  estético.

1.2  -­  Área:

O  terreno  para  cada  edifício  escolar  deve  oferecer  uma  área  não  inferior  a:

1200  m2  se  o  edifício  tiver  uma  ou  duas  salas;;

1800  m2  se  o  edifício  tiver  três  ou  quatro  salas;;

2400  m2  se  o  edifício  tiver  seis  salas;;

3000  m2  se  o  edifício  tiver  oito  salas.

Em  casos  excepcionais,  devidamente  fundamentados,  poderá  ser  considerada  a  utili-


zação  de  terrenos  com  áreas  inferiores  às  indicadas.

1.3  -­  Topografia:

A  configuração  em  planta  deverá  ser  rectangular  ou  tanto  quanto  possível  aproximada  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 646


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

daquela  forma  geométrica.

Convirá  que  os  terrenos  sejam  de  nível;;  quando  não  for  possível  conseguir-­se  este  
desiderato,  deverão  evitar-­se  os  que  obriguem  à  execução  de  muros  de  suporte  de  
terras  e  preferir-­se  aqueles  em  que  as  diferenças  de  nível  possam  ser  vencidas  por  
simples  taludes  ou,  quando  muito,  por  taludes  com  pequenos  muros  de  espera  na  sua  
base.

2)  Natureza  do  subsolo

O  subsolo  deve  ser  firme,  estável  e  conveniente  para  a  construção,  sem  necessidade  
de  fundações  dispendiosas.

São  de  rejeitar  os  terrenos  que  sejam  de  aterro,  mesmo  muito  antigo,  ou  que  se  si-
tuem  em  locais  baixos  a  alagadiços,  húmidos  ou  inundáveis.

3)  Situação  e  acessibilidade

3.1  -­  Situação:

Os  terrenos  para  as  escolas  devem  ser  escolhidos  nas  sedes  dos  núcleos  escolares,  
em  zonas  tanto  quanto  possível  centrais;;  se  tiverem  de  situar-­se  na  periferia  das  po-
voações,   a   sua   distância   às   casas   mais   próximas   só   excepcionalmente   poderá   ser  
superior  a  100m.

Quando   não   existir   uma   povoação   bem   definida   e   o   aglomerado   for   constituído   por  
casais  dispersos,  o  local  deverá  ser  escolhido  em  zona  central  e  nas  proximidades  de  
um  desses  casais.

Em  qualquer  dos  casos,  os  locais  devem  ser  sadios  e  soalheiros  o  tanto  quanto  pos-
sível  abrigados  dos  ventos  dominantes,  sobretudo  os  do  tempo  frio.

Em  conformidade  com  o  disposto  no  Decreto-­Lei  n.37575,  de  8  de  Outubro  de  1949,  
os  terrenos  escolhidos  não  deverão  ficar,  em  regra,  a  menos  de  200m  de  cemitérios  
ou  estabelecimentos  qualificados  na  respectiva  legislação  como  insalubres,  incómo-
dos,  tóxicos  ou  perigosos.  

Na  categoria  dos  estabelecimentos  acima  citados  incluem-­se  as  tabernas,  nitreiras  e  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 647


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abegoarias.

3.2  -­  Acessos:

A  escolha  do  local  deve  fazer-­se  por  forma  que  os  acessos  sejam  fáceis  e  francos,  
sem  risco  de  serem  interrompidos  por  efeito  de  temporais  ou  outros  acidentes  prová-
veis.

Importa,  em  especial,  não  escolher  o  terreno,  em  sítios  que  obriguem  as  crianças  a  
fazer   trajectos   através   de   ribeiros   sem   passagem   segura   ou   perto   de   pedreiras   ou  
minas  exploradas  a  fogo  e  a  céu  aberto.

É  inconveniente  a  localização  de  escolas  junto  de  vias  de  grande  trânsito  e,  como  tal,  
evitar-­se-­á  utilizar  terrenos  que  se  situem  à  margem  das  estradas  nacionais  de  maior  
categoria.

Tendo  em  conta  a  valorização  estática  que  os  edifícios  de  maior  número  de  salas  re-
presentam  para  as  localidades,  preferir-­se-­ão,  sem  prejuízo  dos  restantes  requisitos,  
as  zonas  das  povoações  que,  pela  natureza  dos  acessos,  permitam  expor  os  edifícios  
à  apreciação  geral.

4)  Facilidades  de  abastecimento  de  água

Na  escolha  do  terreno  atender-­se-­á  a  que  a  escola  necessita  de  água  sobretudo  para  
limpezas.

Quando   haja   possibilidade   de   aproveitar   águas   já   canalizadas   ou   canalizáveis   (es-


tas,  quer  de  nascentes  conhecidas,  quer  de  explorações  a  fazer  com  presunções  de  
viabilidade),   preferir-­se-­ão   os   terrenos   que   permitam   a   utilização   de   tais   águas   por  
gravidade.

Na  falta  de  águas  canalizáveis  preferir-­se-­ão  os  terrenos  que  permitam  captá-­las  por  
meio  de  poços  pouco  profundos.

Como  última  solução  restará  a  da  cisterna.

5)  Facilidades  para  evacuação  de  esgotos

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 648


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São  de  preferir  os  terrenos  cuja  localização  permita  uma  fácil  ligação  à  rede  de  esgo-
tos  urbanos  existente,  ou,  a  ribeiros  e  regos  não  utilizados  como  origens  de  água  potá-
vel,  de  caudal  abundante  e  permanente,  para  onde  possam  ser  evacuados  os  esgotos  
da  escola  depois  de  diluídos.  Salvo  caso  de  existência  de  rede  de  esgotos  urbanos  
que  a  escola  possa  utilizar,  nenhum  terreno  poderá  ser  aprovado  quando  diste  menos  
de  100m  de  uma  captação  de  água  potável.

Eduardo de Arantes e Oliveira (Ministro das Obras Públicas)

15- DECRETO-LEI N° 38 968 DE 27 DE OUTUBRO DE 1952

PLANO  DE  EDUCAÇÃO  POPULAR

Organização  dos  serviços  da  Direcção-­Geral  do  Ensino  Primário  e  alargamento  dos  
quadros  do  pessoal  das  direcções  dos  distritos  escolares.

66. Impõe-se remodelar a orgânica da Direcção-Geral do Ensino Primário em ter-


mos de esta se converter num serviço convenientemente apetrechado, para acompa-
nhar a crescente extensão e complexidade dos problemas pedagógicos, didácticos e
administrativos da escola primária. Existindo, no entanto, fortes razões a impedir que
se proceda neste momento à profunda reorganização exigida pelas necessidades,
julga-­se  possível  eliminar  desde  já  algumas  das  deficiências  de  estrutura  e  de  pessoal  
da  Direcção-­Geral,  as  quais,  a  subsistirem,  em  muito  dificultariam  a  execução  deste  
plano.

67. Pelo regulamento aprovado pelo Decreto nº 18 856, de 15 de Maio de 1929,


a Direcção-Geral do Ensino Primário compreendia duas repartições, com cinco sec-
ções,   chefiadas   por   primeiros   ou   segundos-­oficiais.   O   Decreto   nº   22   369,   de   30   de  
Março  de  1933,  atribuiu  à  Direcção-­Geral  apenas  uma  repartição,  com  três  secções,  
chefiadas  por  primeiros-­oficiais.  O  Decreto-­Lei  nº  26  115,  de  23  de  Novembro  de  1935,  
manteve  essa  repartição,  mas  sem  nenhuma  secção.  O  Decreto-­Lei  no  27  279,  de  24  
de  Novembro  de  1936,  extinguiu  o  lugar  de  chefe  de  repartição  e  criou  dois  lugares  de  
adjuntos do director-geral, passando estes a designar-se chefes de secção por força
do  artigo  23º  do  Decreto  nº  32  241,  de  5  de  Setembro  de  1942,  e  do  Decreto-­Lei  nº  36  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 649


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

411,  de  12  de  Julho  de  1947.

A uma das secções competem os serviços respeitantes ao movimento do pessoal: no-


meação, cadastro, licenças, vencimentos, diuturnidades, concursos, permutas, apo-
sentações e exonerações.

A outra secção tem a seu cargo os serviços de ordem administrativa, pedagógica e


disciplinar: recenseamento e rede escolar, criação, entrada em funcionamento, sus-
pensão e extinção de escolas, postos escolares, cursos duplos e cursos nocturnos;
instalações escolares; reparação e vistoria de edifícios escolares; doações de edifícios
escolares e de bens destinados a caixas e cantinas; atribuição de moradias anexas
às escolas; estatística; inspecção e disciplina; matricula, obrigatoriedade do ensino e
relevação  de  faltas  a  alunos;;  horários,  programas,  exames  e  equivalências  de  habili-
tações;;  sessões  educativas  e  festas  escolares;;  assistência  escolar;;  Instituto  Sidónio  
Pais e escolas do magistério primário. A simples enumeração das funções inerentes
a secção permite concluir, não só que elas pecam por excessivas, mas também que
a  sua  diversa  natureza  se  não  compadece  com  a  existência  de  um  único  serviço.  Na  
verdade, por virtude da heterogeneidade e do volume das suas atribuições, a actual
Secção  Administrativa  e  Pedagógica,  além  de  não  ter  podido  desempenhar  com  efici-
ência  os  serviços  propriamente  administrativos,  tem  sacrificado  o  estudo  dos  assuntos  
respeitantes ao aperfeiçoamento do ensino e a orientação pedagógica.

68.   Os   factos   vêm   exigindo,   com   que   se   regresse,   pelo   menos,   à   organização  
tripartida  da  Direcção-­Geral  consagrada  no  já  referido  Decreto  nº  22  369.  Por  isso  se  
cria com o presente diploma mais uma secção destinada a permitir que a Direcção-
Geral se organize em moldes mais consentâneos com as realidades do ensino e com
as necessidades impostas pela execução desde plano.

Entende-se que à Secção Pedagógica deve naturalmente competir a orientação do


boletim da Direcção-Geral, Escola Portuguesa, tornando-o, cada vez mais, instrumen-
to  útil  de  actualização  profissional  dos  agentes  de  ensino,  a  quem  irá  subministrando  
o  conhecimento  das  novas  e  continuas  conquistas  das  ciências  da  educação.

A  literatura  infantil,  a  rádio  escolar  e  o  cinema  educativo  ficam  também  dentro  da  es-
fera  de  competência  da  Secção.  Embora  não  seja  possível,  por  conhecidas  razões,  
transformar, desde já, em realidade o cinema educativo, far-se-á, logo que as circuns-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 650


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

tâncias o permitam, um esforço no sentido de pôr a rádio ao serviço da orientação dos


professores e da educação e recreio das crianças da escola primária.

A Secção Administrativa e de Difusão do Ensino dedicar-se-á, por seu lado, ao estudo


dos assuntos relacionados com a disseminação do ensino primário entre as crianças
sujeitas à obrigação escolar, e à técnica da luta contra o analfabetismo entre os adul-
tos,  o  que  é  do  maior  interesse  quando  se  entra  numa  fase  de  intensificação  da  cultura  
popular.

A  eficiência  de  uma  e  de  outra  depende,  todavia,  de  "se  saberem  manter  isentas  dos  
males da rotina ou da deformação burocrática, não deixando submergir, no expedien-
te do dia-a-dia, a inquietação dos problemas, o espírito de iniciativa e o entusiasmo
na acção.

69.   Quando,   pelo   artigo   44º   do   Decreto   nº   22   369,   de   30   de   Março   de   1933,   foi  
fixado   o   quadro   do   pessoal   das   secretarias   das   direcções   dos   distritos   escolares,  
encontrava-se em funcionamento um número de estabelecimentos de ensino muito
inferior  ao  actual.  Com  efeito,  enquanto  no  ano  lectivo  de  1934-­1935  funcionaram  10  
936  escolas  e  postos  escolares,  em  31  de  Março  findo  o  número  de  estabelecimentos  
de  ensino  era  de  15  662,  o  que  traduz  um  aumento  de  4  726  escolas  e  postos.  O  ritmo  
de  aumento  tem-­se  tornado  crescente,  pois  só  desde  Junho  de  1949  a  31  de  Março  
último  iniciaram  o  seu  funcionamento  1  473  escolas  e  postos  escolares.

O acréscimo de serviço nas direcções dos distritos escolares proveniente, não só do


maior número de estabelecimentos de ensino, como ainda do esforço que ultimamen-
te lhes vem sendo exigido, faz avultar a necessidade inadiável de alargar os quadros
do seu pessoal. Tal necessidade tornar¬-se ainda mais evidente se se considerarem
as   responsabilidades   que   advêm   da   execução   do   presente   diploma.  Aumentam-­se,  
por isso, com mais quarenta funcionários os quadros das direcções dos distritos esco-
lares, na certeza de que assim se lhes propiciam os meios de conveniente desempe-
nho  das  funções  da  sua  competência.

Nestes  termos:

Usando  da  faculdade  conferida  peia  1a  parte  do  nº  2  do  artigo  109º  da  Constituição,  o  
Governo  decreta  e  eu  promulgo,  para  valer  como  lei,  o  seguinte:

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 651


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a) Obrigatoriedade do ensino

Art.  1º

É  obrigatória  a  instrução  primária,  até  aprovação  no  exame  de  ensino  elementar,  para  
todos  os  que  em  31  de  Dezembro  de  cada  ano  tenham  7  ou  mais  anos  de  idade  e  me-
nos  de  13.  Os  encarregados  de  educação  são  responsáveis  pelo  cumprimento  desta  
obrigação.  Serão  fixadas  em  regulamento,  e  até  ao  montante  de  500$,  as  multas  em  
que  incorrem  pelo  seu  não  cumprimento.

Art.  2º

A  frequência  escolar  dos  menores  referidos  no  artigo  anterior  é  condição  indispensá-
vel  para  a  atribuição  do  abono  de  família.  

Art.  3º

Os  indivíduos  ou  entidades  que  admitam,  durante  as  horas  lectivas,  em  salas  de  es-
pectáculos  ou  outros  lugares  de  divertimentos,  bem  como  os  que  durante  essas  horas  
empreguem  ao  seu  serviço  menores  sujeitos  à  frequência  escolar  Incorrem  na  multa  
de  500$  a  2.500$.  

Art.  4º

Todo  o  agente  de  autoridade  que  encontre  em  lugar  público,  dentro  das  horas  lectivas,  
e  sem  motivo  justificado,  menor  nas  condições  dos  artigos  anteriores,  deverá  conduzi-­
lo  à  sua  escola  ou  à  escola  oficial  mais  próxima.

b)  Recenseamento  escolar

Art  5º

De  Maio  a  Agosto  de  cada  ano  proceder-­se-­á  em  todo  o  País  às  operações  do  recen-
seamento  escolar,  que  abrangerá  todos  os  menores  sujeitos  à  frequência  obrigatória.

c)  Assistência  escolar

Art  6º

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 652


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A  assistência  aos  alunos  pobres  será  prestada  por  intermédio  das  caixas  escolares  e  
das  cantinas  escolares.

Art.  7º

Em  cada  núcleo  ou  zona  funcionarão  obrigatoriamente  uma  ou  mais  caixas  escolares.  
Além   das   receitas   que   lhes   vierem   a   ser   atribuídas,   revertem   a   favor   das   caixas   o  
produto  das  multas  aplicadas  ao  abrigo  deste  decreto-­lei  e  pagas  voluntariamente  e  a  
receita  líquida  dos  livros  únicos  do  ensino  primário.

Art.  8º

Serão   anualmente   inscritas   no   Orçamento   Geral   do   Estado   as   verbas   destinadas   a  


subsidiar  as  caixas  e  as  cantinas  escolares.  

Art.  9º

Sempre  que  sejam  doados  ou  legados  para  a  manutenção  de  cantinas  bens  de  valor  
igual  ou  superior  a  250.000$,  o  Estado  tomará  sobre  si  o  encargo  de  construir  os  res-
pectivos  edifícios  e  ficarão  os  disponentes  com  o  direito  de  indicar  professores  para  
o   preenchimento   de   duas   vagas   abertas   ou   a   abrir   nas   escolas   do   núcleo   ou   zona  
beneficiadas  pela  cantina.

Com  prévia  autorização  do  Ministro  das  Finanças  e  da  Educação  Nacional  poderão  
também  ser  construídos  edifícios  destinados  a  cantinas  escolares  sempre  que  alguma  
entidade  de  carácter  oficial  assuma  a  responsabilidade  da  sua  manutenção.

d)  Providências  destinadas  a  reforçar  a  obrigatoriedade  escolar

Art.  10º

É  vedado,  a  partir  de  1  de  Janeiro  de  1955,  às  entidades  patronais  do  comércio  e  da  
Indústria  admitir  ao  serviço  nos  quadros  permanentes,  menores  de  18  anos  que  não  
tenham  feito  o  exame  do  ensino  primário  elementar,  salvo  tratando-­se  de  menores  que  
hajam  sido  exceptuados  da  obrigação  de  frequência  escolar.

Art.  11º

O  ingresso  em  certas  profissões  ou  o  acesso  a  determinadas  classes  ou  categorias  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 653


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profissionais  podem  ser  proibidos  por  despacho  do  Ministro  das  Corporações  e  Pre-
vidência   Social   a   todos   os   que   não   possuam   a   3ª   ou   4ª   classe   do   ensino   primário,  
qualquer  que  seja  a  sua  idade.  

Art.  12º

A   violação   das   disposições   dos   dois   artigos   anteriores   será   punida   com   a   multa   de  
500$  a  2.500$  por  cada  indivíduo  em  relação  ao  qual  se  tiver  verificado  a  transgres-
são.

Art.  13º

Salvo   tratando-­se   de   serviços   eventuais   sem   carácter   de   permanência,   é   vedado   o  


ingresso  nos  serviços  do  Estado,  dos  corpos  administrativos,  das  pessoas  colectivas  
de  utilidade  pública  administrativa,  dos  organismos  corporativos  ou  de  coordenação  
económica   e   de   instituições   de   previdência   e   de   abono   de   família   a   indivíduos   que  
não  possuam  a  3a  classe.  Para  o  provimento  dos  lugares  dos  mesmos  serviços  de  
categoria   correspondente   ou   superior   à   letra   Y   do   artigo   12º   do   Decreto-­Lei   nº   26  
115,  de  23  de  Novembro  de  1935,  (1)  é  exigido  o  exame  da  4ª  classe  ou  a  habilitação  
equivalente.

(1)   0   Decreto-­Lei   no   26   115   promulgou   a   reforma   de   vencimentos   dos   funcionários  


civis.  No  art.  12°  vêm  indicadas  as  várias  categorias  de  funcionários,  distribuídas  por  
grupos   designados   pelas   letras  A   a   Z,   com   indicação   dos   respectivos   vencimentos  
mensais;;  à  letra  Y  corresponde  o  de  400$00  (base).

Art.  14º

Não  podem,  a  partir  de  1  de  Janeiro  de  1954,  ser  admitidos  a  exame  para  condutores  
de  veículos  automóveis  os  indivíduos  que  não  possuam,  como  habilitação  mínima,  o  
exame  da  3ª  classe.

Art.  15°

Sem  a  mesma  habilitação  não  pode  ser  passada,  a  partir  de  1  de  Janeiro  de  1955,  
a  indivíduos  com  mais  de  14  e  menos  de  35  anos,  autorização  de  emigração,  salvo  
tratando-­se  de  anormais  que  emigrem  com  as  pessoas  a  cujos  cuidados  se  encontram  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 654


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ou  mulheres  casadas  que  acompanhem  os  maridos  ou  por  estes  sejam  chamadas.

Art.  16°

A  partir  de  1954  os  mancebos  incorporados  nas  forças  militares  não  poderão  passar  à  
disponibilidade  sem  a  habilitação  da  3a  classe.

e)  Cursos  de  educação  de  adultos

Art.  17º

Por  iniciativa  do  Ministério  da  Educação  Nacional  ou  a  requerimento  de  qualquer  en-
tidade  pública  ou  particular,  poderão  ser  criados  cursos  de  ensino  primário  elementar,  
designados   por   "cursos   de   educação   de   adultos"   e   destinados   a   adolescentes   ou  
adultos  analfabetos.  

Art.  18º

Os  concessionários  do  Estado  e  dos  corpos  administrativos  e  as  entidades  patronais  


singulares  ou  colectivas  do  comércio  ou  da  indústria  que  tenham,  nos  quadros  perma-
nentes,  mais  de  vinte  assalariados  de  idade  inferior  a  35  anos  sem  a  habilitação  da  3ª  
classe  do  ensino  primário  poderão  ser  obrigados,  pelo  Ministro  da  Educação  Nacional,  
ouvido  o  das  Corporações  e  Previdência  Social,  a  fornecer  instalações  para  o  funcio-
namento  de  cursos  destinados  àquele  pessoal

Art.  19º

As  entidades  que  não  derem  cumprimento  ao  preceituado  no  artigo  anterior  incorrem,  
por  cada  operário  que  deixar  de  ser  instruído,    na  multa  de  600$  a  2.500$.

Art.  20º

Os  assalariados  que  se  recusem  a  frequentar  os  cursos,  faltem  às  aulas  sem  motivo  
justificado  ou  se  mostrem  elementos  perturbadores  do  seu  funcionamento  podem  ser  
despedidos  sem  aviso  prévio  ou  indemnização.

Art.  21º

Os  regentes  dos  cursos  de  educação  de  adultos  são  livremente  nomeados  e  exone-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 655


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rados  pelo  Ministro.  Tratando-­se  de  professores  do  ensino  primário  oficial,  ser-­lhes-­ão  
abonadas,  durante  o  funcionamento  dos  cursos,  as  gratificações  mensais  de  250$  e  
200$,  conforme  funcionem  em  Lisboa  ou  Porto,  ou  noutras  localidades.  Se  os  regen-
tes  dos  cursos  não  forem  professores,  a  gratificação  será  de  150$.

Art.  22º

As  portarias  de  nomeação  dos  regentes  dos  cursos  são  abrangidas  pela  doutrina  do  
nº1°,  alínea  a),  do  artigo  24º  do  Decreto  nº  22  257,  de  25  de  Fevereiro  de  1933  (1).

(1)  0  Decreto  n°  22  267  trata  da  organização,  jurisdição,  competência,  atribuições  e  
funcionamento  do  Tribunal  de  Contas.  Dispõe  o  art.  24°:

“Nenhum  diploma  ou  despacho  sujeito  ao  visto  do  Tribunal  de  Contas  poderá  ser  exe-
cutado  ou  produzir  quaisquer  efeitos  antes  da  sua  publicação  no  Diário  do  Governo  
com  a  declaração  de  ter  sido  visado  pelo  mesmo  Tribunal.

1°  Exceptuam-­se  do  disposto  neste  artigo,  em  caso  de  urgente  conveniência  de  ser-
viço:

a)  Os  diplomas  de  nomeação  e  colocação  de  autoridades  civis,  de  professores  pro-
visórios  ou  temporários,  tesoureiros  interinos  e  os  propostos,  pagadores  e  seus  aju-
dantes."

f)  Campanha  nacional  contra  o  analfabetismo

Art.  23º

No  mês  de  Janeiro  de  1953  será  iniciada,  prolongando-­se  até  ao  fim  do  ano  seguinte,  
uma  campanha  nacional  contra  o  analfabetismo,  que  será  designada  por  "Campanha  
Nacional  de  Educação  de  Adultos"  e  que  visará  especialmente  a  preparação  para  o  
exame  de  ensino  primário  elementar  de  analfabetos  com  idade  entre  os  14  e  os  35  
anos.

Art.  24º

O  pessoal  docente  da  Campanha  será  constituído,  em  regime,  de  voluntariado,  por  
professores  do  ensino  primário  ou  de  outro  grau  de  ensino,  por  regentes  escolares  ou  

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por  quaisquer  pessoas  que  ofereçam  garantia  de  competência  pedagógica  e  idonei-
dade  moral.

Art.  25º

A  preparação  até  aprovação  no  exame  da  3a  classe  do  ensino  primário  de  cada  anal-
fabeto,  de  idade  compreendida  entre  os  14  e  os  35  anos,  será  gratificada  pelo  Estado  
com  a  importância  de  500$.  Os  agentes  de  ensino  oficial  beneficiarão  ainda  de  meio  
valor  na  sua  classificação  profissional  por  cada  dezena  de  aprovações  obtidas,  mes-
mo  que  os  analfabetos  tenham  mais  de  35  anos.

Art.  26º

É  criado,  com  a  designação  de  "Fundo  Nacional  de  Educação  de  Adultos"  um  fundo  
destinado  a  ocorrer  às  despesas  da  Campanha,  cujas  receitas  e  respectiva  contabili-
zação  serão  estabelecidas  em  diploma  especial.

Art.  27º

Durante  o  período  de  preparação  e  execução  da  Campanha  pode  o  Ministro  da  Educa-
ção  Nacional  mandar  colaborar  nela,  com  dispensa  total  ou  parcial  do  serviço,  funcio-
nários  do  Ministério,  as  quais  conservarão  os  vencimentos  e  remunerações  que  lhes  
competirem.  Igual  medida  poderá  ser  tomada  mediante  acordo  do  Ministro  respectivo,  
em  relação  a  funcionários  de  outros  Ministérios,  podendo  ainda,  para  o  mesmo  efeito,  
ser   contratado   ou   assalariado   pessoal   julgado   necessário,   dentro   das   verbas   orça-
mentadas.

g)  Quadro  do  pessoal  e  disposições  gerais

Art.  28º

É  criada  na  Direcção-­Geral  do  Ensino  Primário  mais  uma  secção  e  acrescido  o  res-
pectivo  quadro  do  pessoal  de  um  chefe  de  secção,  um  segundo  oficial,  um  aspirante  
e  um  dactilógrafo.

Art.  29º

Os  quadros  das  secretarias  das  direcções  dos  distritos  escolares  serão  os  constantes  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 657


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da  tabela  anexa  a  este  decreto-­lei.

Art.  30º

No  caso  de  não  serem  pagas  voluntariamente  as  multas  previstas  neste  decreto-­lei,  
os  directores  dos  distritos  escolares  participarão  o  facto,  para  efeito  de  julgamento,  ao  
tribunal  judicial,  ou  aos  tribunais  do  trabalho  nos  casos  previstos  na  segunda  parte  do  
artigo  3º  e  nos  artigos  12º  e  19º.  

Art.  31º

As  multas  previstas  neste  decreto-­lei  serão  convertidas  em  prisão,  nos  termos  da  le-
gislação  geral.  A  prisão  não  poderá,  porém,  exceder  quinze  dias.

As   penas   de   multa   podem   também   ser   resgatadas   pela   prestação   de   trabalho   em  


obras  públicas  ou  oficinas  do  Estado  ou  dos  corpos  administrativos,  nos  termos  esta-
belecidos  no  Decreto  nº  34  674,  de  18  de  Junho  de  1945.  (1)

(1)  O  Decreto  n°  34  674  promulgou  o  regulamento  do  trabalho  prisional.  Ao  resgate  
das  penas  de  multa  pela  prestação  de  trabalho  e  ao  destino  do  produto  da  remunera-
ção,  referem-­se  os  art.°s  33°  e  seguintes.

Art.  32º

Estão  isentos  do  imposto  do  selo  e  de  quaisquer  emolumentos  os  atestados  que  se  
destinem   a   comprovar   a   impossibilidade   da   frequência   escolar,   bem   como   os   cer-
tificados   comprovativos   de   matrícula   ou   da   sua   dispensa   para   efeitos   de   abono   de  
família.

16- RELATÓRIO ESTABELECIDO PELA COMISSÃO DAS CONSTRUÇÕES ESCO-


LARES, UNESCO, 1955

UNIÃO  INTERNACIONAL  ARQUITECTOS

COMISSÃO  DAS  CONSTRUÇÕES  ESCOLARES

A Escola e os seus problemas

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 658


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Resultados  do  inquérito  feitos  em  16  países:  Alemanha,  Bélgica,  Países  Baixos,  Itália,  
Suíça,  Reino  Unido,  França,  Suécia,  Dinamarca,  Jugoslávia,  Polónia,  EUA,  México,  
Japão,  Marrocos,  Tunísia.

ORIGEM  DO  PRESENTE  RELATORIO

No  quadro  das  suas  relações  com  as  organizações  internacionais  não  governamen-
tais,  a  UNESCO  acordou  com  a  U.I.A.  um  subsídio  destinado  a  facilitar  o  cumprimento  
do  inquérito  sabre  a  evolução  das  construções  escolares  e  universitárias  nos  diferen-
tes  países.

O  comité  executivo  da  UIA  confiou  à  comissão  das  construções  escolares  a  tarefa  de  
elaborar  o  presente  relatório,

Nos  termos  do  compromisso  contraído,  este  relatório  compreende:

a)  Um  estudo  preliminar  comparativo  das  diferentes  concepções  de  construções  es-
colares  e  universitárias,  tal  como  são  determinadas  pelas  condições  geográficas,  his-
tóricas,  sociais,  económicas  e  pelas  concepções  estéticas.

b)  Um  estudo  preliminar  das  medidas  concretas  susceptíveis  de  melhorar  a  constru-
ção  escolar.

A  comissão  das  construções  escolares  da  UIA  é  presidida  por  M.  Alfred  Roth  (Suíça)  e  
compreende  os  membros  seguintes:  MM.E.J.Kump  (EUA),  F.,Chevalier  (França),  Pas-
quale  Fornara  (Itália),  J.P.Kloos  (Países  Baixos),  C.  H.  Aslin  (Reino  Unido),  P.  Hedqvist  
(Suécia),  J.  Marmey  (Tunísia),  O.  Gaspari  (Jugoslávia),  G.  Wilhelm  (Alemanha).

A  comissão  dispõe  hoje  de  documentação  que  lhe  foi  dirigida  pelos  seus  membros  e  
pelas   secções   da   UIA   em   resposta   ao   seu   questionário   detalhado.   Estes   relatórios,  
anexos  ao  presente  documento,  constituem  uma  importante  fonte  de  informações,  à  
qual  a  comissão  se  referiu  regularmente.

O  relatório  que  se  vai  seguir  foi  redigido  por  M.  Alfred  Roth,  presidente  da  comissão,  
e  J.  P.  Vouga,  delegado  às  comissões  de  trabalho  da  UIA.  Recebeu  a  aprovação  de  
todos  os  membros  da  comissão.  Consiste  num  exame  aprofundado  do  problema  das  
construções   escolares   sob   diversos   ângulos   da   urgência   das   necessidades,   da   or-

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 659


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ganização  do  ensino,  da  pedagogia  moderna,  do  urbanismo  escolar,  da  organização  
funcional,  da  estética  arquitectónica  e  das  possibilidades  de  racionalização  e  estan-
dardização.

Paralelamente,  um  trabalho  de  síntese  delineado  nas  páginas  que  se  seguem  com-
porta  um  certo  número  de  proposições  de  acção  imediata  susceptíveis  de  melhorar  a  
construção  das  escolas  e,  em  particular,  das  proposições  admissíveis  para  os  países  
onde  o  ensino  obrigatório  está  no  seu  principio.  Por  razões  de  comodidade,  evitou-­se  
separar  o  presente  relatório  em  duas  partes  e  cada  um  dos  diferentes  capítulos  com-
porta  uma  indicação  das  diferentes  concepções  existentes,  ao  mesmo  tempo  que  as  
medidas  a  propor.

Em   compensação,   o   capítulo   quarto   comporta   uma   série   de   proposições   de   ordem  


geral  sobre  as  quais  a  UIA  merece  particularmente  a  atenção  da  UNESCO.

I - A ESCOLA

Graus elementar, primário e secundário

1 - Urgência das necessidades

A  construção  das  escolas,  fundamentalmente  do  grau  elementar,  é  hoje  em  todos  os  
países,  ao  mesmo  tempo  que  a  construção  de  habitações,  uma  das  tarefas  mais  ur-
gentes.  Esta  necessidade  é  evidentemente  mais  aguda  nos  países  devastados  pela  
guerra,   em   que   a   destruição   de   inúmeras   escolas   se   agravou   pela   interrupção   da  
construção   sem   que   a   população   não   tenha   cessado   de   aumentar.   Por   outro   lado,  
um  grande  número  das  escolas  não  responde  de  todo  às  exigências  da  pedagogia  e  
da  higiene  e  deve  dar  lugar  a  novos  edifícios.  Enfim,  certos  países  promulgaram  re-
centemente  reformas  de  ensino  que  fizeram  crescer  o  número  de  crianças  em  idade  
escolar.  Foi  assim  que  na  Inglaterra  a  duração  da  escolaridade  for  prolongada  de  um  
ano  em  1944.

A   erecção   rápida   de   um   número   importante   de   escolas   é,   assim,   uma   necessidade  


social,  particularmente  para  as  regiões  que  sofreram  a  guerra  e  para  os  distritos  super  
povoados  das  grandes  cidades.  Neste  domínio,  o  Reino  Unido  e,  talvez,  citado  como  
exemplo,   pela   prioridade   que   dá   à   construção   das   habitações   e   das   escolas   sobre  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 660


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todos  os  outros  programas  de  construção.

A   UIA   está   avisada   que   uma   das   tarefas   mais   importantes   no   domínio   da   escola   é  
determinar,  também,  exactamente  as  possíveis  necessidades,  do  duplo  ponto  de  vista  
da  sua  importância  e  da  sua  ordem  de  prioridade.  Esta  determinação  está,  no  entanto,  
estreitamente  ligada  ao  estudo  dos  diversos  aspectos  das  construções  escolares,  da  
qual  ela  será  uma  das  conclusões.  É  de  dizer  a  importância  do  inquérito  de  que  os  
resultados  vão  seguir.

2 - A organização do ensino

A  organização  administrativa  do  ensino  tem  formas  extremamente  diversas  segundo  


os  países.  Isto  é  verdade,  não  só  nos  países  em  que  a  ensino  chegou  a  um  certo  es-
tado  de  progresso,  mas  igualmente  nos  países  menos  evoluídos.  Esta  diversidade  na  
organização   administrativa   da   instrução   pública   e   do   ensino   superior   explica-­se   por  
razões  políticas,  sociais,  culturais  e  pela  própria  história  dos  países.

Pareceu  importante  aos  autores  deste  relatório  recordar,  a  título  de  exemplo,  algumas  
formas  de  organização  do  ensino:

Na  Alemanha,   as   escolas   primárias   e   as   escolas   secundárias   estão   nas   mãos   das  


Câmaras,  mas  o  ensino  é  regido  por  diversos  estados  da  Republica  Federal.

As  escolas  profissionais  são  assunto  dos  distritos.  As  universidades  têm  urna  grande  
autonomia.  Dependem,  no  entanto,  do  orçamento  das  diversas  "regiões".

Não  há  centralização  do  ensino.  Não  há  nenhum  ministério  federal  de  instrução  pú-
blica.

Na  Bélgica,  o  ensino  oficial,  controlado  pelo  Estado,  pelas  províncias  e  pelas  câma-
ras,  coexiste  com  um  ensino  livre,  na  grande  maioria  católico,  com  todos  os  graus,  do  
ensino  pré-­escolar  (jardins  de  infância)  à  universidade.

Nos  EUA,  as  escolas  elementares  são  geralmente  da  competência  das  autoridades  
locais.  Existe,  no  entanto,  um  grande  número  que  depende  de  instituições  privadas,  
mas  a  maior  parte  religiosas.

As   tendências   contra   a   centralização   e   a   estatização   do   ensino   são   extremamente  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 661


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vivas  neste  país.

Em  França,  a  escola  primária  é  municipal,  a  escola  do  segundo  grau  é  igualmente  mu-
nicipal,  mas  acontece  que  certos  estabelecimentos  sejam  inteiramente  construídos  à  
custa  do  Estado.  O  Ministério  da  educação  nacional  auxilia  as  construções  escolares  
em  todos  os  graus.

A  universidade  é  geralmente  autónoma,  conservando  uma  autonomia  administrativa  e  


financeira,  é  subsidiada  pelo  Estado  em  cem  por  cento.  Os  programas  são  oficiais  e  os  
exames  são  sancionados  na  grande  maioria  dos  casos  por  um  diploma  do  Estado.

Convém,  igualmente,  mencionar  a  noção  de  ensino  técnico  que  está  principalmente  
desenvolvido  desde  a  última  guerra  e  que  interessa  aos  alunos  com  idade  do  segundo  
grau,  seja  para  formar  trabalhadores  qualificados,  seja  para  formar  engenheiros  cujos  
estudos   possam   ser   continuados   à   escala   do   ensino   superior.   Os   estabelecimentos  
correspondentes  são  quer  municipais,  quer  subsidiados  a  cem  por  cento.

Existem,  ainda,  instituições  privadas,  em  todos  os  escalões,  na  maioria  de  carácter  
religioso,  que  não  recebem  nenhum  subsídio  do  Estado  em  matéria  de  construção.

Na  Grã-­Bretanha,  as  escolas  elementares  e  secundárias  estão  ligadas  ao  ministério  


da  educação,  que  exerce  sobre  as  construções  escolares  um  certo  poder  de  controlo.  
No  domínio  do  ensino,  as  câmaras  e  os  concelhos  regionais  são,  pelo  contrário,  muito  
autónomos.  Como  nos  EUA,  as  universidades  são  instituições  privadas.

Em  Itália,  o  ensino  primário  é  municipal  e  as  câmaras  gozam  de  uma  completa  liber-
dade  de  ensino.  As  escolas  secundárias  estão  nas  mãos  do  estado.  As  universidades  
gozam  de  uma  certa  autonomia,  ainda  que  sejam  dependentes  do  orçamento  do  Es-
tado.

Nos  Países  Baixos  o  número  de  escolas  públicas  é  inferior  à  das  escolas  religiosas  
(protestantes  e  católico-­romanas).  As  escolas  públicas  não  constituem  1/8  do  número  
das  escolas  infantis;;  esta  proporção  eleva-­se  a  1/3  no  grau  primário  para  atingir  os  2/5  
no  grau  secundário.

Na  Suécia,  a  major  parte  das  crianças  frequentam  as  escolas  primárias  públicas,  li-
gadas  às  Câmaras  sob  o  controlo  do  Estado.  Os  liceus  e  as  escolas  reais  pertencem  

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ao   Estado,   enquanto   que   as   escolas   comunais   do   grau   secundário   estão   também  


submetidas  ao  controlo  do  Estado.  Existe,  no  ensino  primário,  uma  vintena  de  esta-
belecimentos  privados,  de  menor  importância,  sem  nenhuma  ajuda  governamental,  e  
no  ensino  secundário  perto  do  mesmo  número  de  estabelecimentos  privados  recebem  
em  geral  uma  ajuda  do  Estado.  Em  1950,  o  parlamento  votou  um  projecto  de  refor-
ma  escolar,  que  será  posta  em  prática  depois  de  um  período  de  ensaio.  Uma  escola  
única,   compreendendo   nove   anos   de   escolaridade   obrigatória,   substituirá   a   escola  
primária,  o  curso  complementar  da  escola  primária  e  a  escala  secundária.  Esta  escola  
única  será  instituída  segundo  os  resultados  obtidos  durante  o  período  de  ensaio.

Na  Suíça,  a  escola  primária  é  da  competência  das  Câmaras,  que  as  administram  sob  
a  direcção  dos  cantões,  e  são  os  cantões  que  estabelecem  os  programas  de  ensino.  
O  ensino  secundário  e  profissional  é,  na  maior  parte  dos  casos,  organizado  pelos  can-
tões;;  do  mesmo  modo,  nove  estabelecimentos  universitários  suíços,  que  são  "canto-
nados"  e  não  dependem  senão  dos  departamentos  respectivos  de  instrução  pública.

Somente  a  escola  politécnica  federal  é  um  estabelecimento  dependendo  do  governo  


central,  A  Suíça  é,  assim,  um  dos  raros  países  que  não  conhece  nenhum  ministério  da  
educação  nacional  e  nenhuma  centralização  da  instrução  pública.

Nas  democracias  populares,  a  instrução  pública  está  inteiramente  sujeita  ao  controlo  
do  estado.  É  um  dos  elementos  importantes  da  educação  socialista.

Nos  Países  Anglo-­Saxónicos  e  Germânicos,  a  escola  é  a  major  parte  do  tempo  mista,  
no  ensino  primário,  principalmente.  Nos  Países  Latinos,  é,  ao  contrário,  naturalmente  
separada  por  sexos  desde  a  idade  da  escolaridade  obrigatória.

A  todas  estas  diferenças  acrescem  as  inúmeras  condições  impostas  pelo  clima,  a  to-
pografia,  as  possibilidades  económicas  e  técnicas,  pela  tradição  e  bases  culturais  que  
influem   de   forma   determinante   sobre   as   soluções   arquitecturais   do   problema.   Esta  
diversidade   complica   grandemente   o   trabalho   que   a   comissão   espera   levar   a   bom  
termo  com  o  apoio  da  UNESCO,  estabelecendo  o  mínimo  de  regras  aceitáveis  para  
as  construções  das  escolas  nas  diversas  partes  do  mundo.

3 - A Escola e a Pedagogia Moderna

Ao   contrário   desta   diversidade,   se   se   considera   em   compensação   o   ensino   sob   a  

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perspectiva  da  pedagogia,  constata-­se  que  os  educadores  como  os  psicólogos  enca-
ram  hoje  o  ensino,  o  seu  sentido  e  o  seu  objectivo,  com  a  mais  notável  unidade  das  
concepções.

Foi  nos  EUA  que  se  fez  a  maior  parte  das  pesquisas  dos  últimos  anos,  no  domínio  
da  pedagogia  experimental  e  da  psicologia  da  criança.  Este  país  constrói  sabre  estas  
bases  um  número  importante  de  excelentes  realizações.  Por  seu  lado,  o  Reino  Unido  
tem,   no   seu   activo,   progressos   notáveis   desde   o   fim   da   guerra.   Os   pedagogos   afir-
mam  que  o  dever  essencial  da  escola  pública,  na  nossa  época  de  nivelamento  cultural  
desencadeado  pelo  progresso  industrial,  é  precisamente  opor-­se  a  este  nivelamento  
despertando   na   criança   o   conhecimento   de   si   mesma   e   o   desenvolvimento   da   sua  
personalidade.   O   saber   e   a   habilidade   manual   são,   na   verdade,   uma   necessidade,  
mas  a  pedagogia  moderna  tem  a  coragem  de  afirmar  que  não  é  o  seu  objectivo.  A  este  
respeito,  não  deve  deixar  de  salientar-­se  que,  na  educação  do  corpo  docente,  a  maior  
atenção  deve  ser  dada  ao  desenvolvimento  das  capacidades  pedagógicas  e  humanas  
e  não,  como  ainda  hoje  é  a  regra,  aos  conhecimentos  puramente  intelectuais.

A  maior  parte  dos  princípios  da  pedagogia  moderna  tem  estreitas  repercussões  sobre  
a  concepção  arquitectónica:

A  educação  deve  pôr-­se  ao  nível  da  criança,  daí  uma  arquitectura  à  escala  da  crian-
ça;;

Desenvolvendo  paralelamente  o  seu  corpo,  a  sua  inteligência  e  a  sua  personalidade,  


ela   deve   ser   eminentemente   variada,   daí   uma   disposição   de   locais   flexível   e   dife-
renciada;;  a  escola  deve  ser  a  prolongamento  do  lar,  daí  um  ambiente  e  espaços  em  
correlação  com  a  habitação.

A  envolvente,  na  sua  totalidade,  deve  ser  uma  parte  integrante  da  educação,  daí  uma  
escola  que  seja  a  síntese  coerente  dos  múltiplos  aspectos  da  vida,  da  sala  de  aula  à  
natureza;;

A  educação  deve  respeitar  a  imaginação  criativa  da  criança,  daí  uma  arquitectura  sim-
ples  e  variada,  excluindo  todo  o  artifício.  

Algumas  exigências  fundamentais  foram  expressas  por  todos  os  grandes  pedagogos,  

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de  Henri  Pestalozzi  a  Maria  Montessori.

Graças  à  psicologia,  e  principalmente  à  psicologia  da  criança,  assiste-­se  hoje  a  uma  


verdadeira  volta  na  educação  e  não  é  exagerado  falar  numa  ciência  da  educação  com  
as  leis  das  quais  o  arquitecto  deve  contar.

Para  que  a  construção  das  escolas  beneficie  completamente  dos  progressos  da  peda-
gogia,  uma  íntima  colaboração  é,  pois,  indispensável  entre  o  psicólogo  e  o  educador,  
por  um  lado,  o  arquitecto  e  as  autoridades,  por  outro.

4 - A Escola sob o ponto de vista Urbanístico

Nos  termos  da  Declaração  dos  Direitos  do  Homem,  cada  pessoa  tem  direito  a  uma  
instrução  elementar  sem  distinção  de  classe,  de  raça,  de  língua  ou  de  religião,  não  
estando  o  acesso  aos  altos  estudos  ligado  a  nenhum  privilégio.  A  satisfação  deste  di-
reito  conduz  à  existência  de  um  número  determinado  de  estabelecimentos  de  ensino  
correspondente  às  diferentes  formas  e  diferentes  graus  de  instrução.

Determinação  das  necessidades

O  estabelecimento  de  um  plano  urbanístico  escolar  supõe  a  existência  de  uma  esta-
tística  demográfica  de  uma  certa  duração  e,  particularmente,  de  uma  estatística  dos  
nascimentos.  É  tarefa  das  repartições  de  estatística  das  câmaras,  dos  departamentos  
ou  dos  governos.

Repartição  das  escolas

A  estatística  deve  ser  bastante  vasta  para  permitir  julgar  o  problema  à  escala  do  país  
inteiro,  mas  em  tempo  bastante  detalhado  para  o  resolver  à  escala  do  quarteirão,

É,  no  entanto,  a  escola  do  grau  elementar  que  está  no  primeiro  plano  das  preocupa-
ções  do  urbanista,  pela  sua  multiplicidade  e  pela  importância  considerável  da  sua  su-
perfície  em  relação  às  escolas  de  grau  mais  avançado.  Determinar  o  número  de  esco-
las  de  um  determinado  grau  equivale  a  determinar  a  dimensão  desejável  desta  escola  
e,  mais  precisamente,  o  número  de  salas  por  escola.  Do  ponto  de  vista  pedagógico  
e  social,  um  aumento  progressivo  da  grandeza  das  escolas  com  a  idade  dos  alunos  
é  desejável.  Sem  prejudicar  o  resultado  de  estudos  posteriores,  pode-­se  afirmar  que  

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a  época  das  escolas  casernas  (mais  de  vinte  salas)  está  hoje  terminada,  e  pode-­se  
admitir  como  normal  os  números  de  salas  que  se  seguem:

Até  5-­6  anos:  jardins-­de-­infância  e  escolas  maternais  (grau  pré-­escolar):  2  a  4  salas  


de aula

De  5-­7  anos:  pequenas  escolas  (primeiro  grau  primário):  4  a  6  salas

De  7-­11  anos:  escolas  médias  (segundo  grau  primário):  6  a  12  salas

Desde  11  anos:  escolas  importantes  (grau  secundário):  12  a  20  salas

Estas  grandezas  diferenciadas  permitem  uma  repartição  orgânica  das  escolas  no  pla-
no  do  quarteirão  e  da  cidade.

A   escola   é,   assim,   um   elemento   essencial   do   plano   urbanístico   e   a   sua   repartição  


obedece  ao  plano  seguinte:

A  pequena  unidade  das  salas  (jardins  de  infância)  deve  estar  na  proximidade  da  habi-
tação.  As  distâncias  da  casa  à  escola  podem  aumentar  ao  mesmo  tempo  que  a  impor-
tância  da  escola,  ela  mesma  função  da  idade  da  criança.  A  escola  dos  muito  pequenos  
deveria  situar-­se  sobre  caminho  que  conduz  à  escola  dos  maiores.

O  urbanista  deve,  por  outro  lado,  debruçar-­se  não  somente  sobre  o  problema  da  dis-
tância  da  casa  à  escola,  mas  sobre  a  sua  natureza.  Esta  distância  deve,  em  princípio,  
evitar  qualquer  cruzamento  com  artérias  de  circulação  automóvel  e,  a  este  respeito,  a  
construção  de  escolas  nas  zonas  verdes  parece  já  como  altamente  desejável.

Superfície  dos  terrenos

A  superfície/área  de  um  terreno  varia  entre  25  m2  e  35  m2  por  aluno,  edifícios  incluí-
dos,  excluindo  terrenos  de  desporto  propriamente  ditos.

Politica  imobiliária/predial

O  pôr  em  prática  destes  dados  não  será  contudo  possível  enquanto  existir  à  escala  da  
câmara  e  regional  uma  politica  predial  a  longo  prazo.

Este  objectivo,  deve  constatar-­se,  é  quase  sempre  negligenciado  e  numerosas  esco-

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las,  mesmo  entre  as  mais  recentes,  são  ainda  construídas  sobre  terrenos  insuficiente-
mente  vastos  ou  conduzindo  a  alicerces  caros,  escolhidos  ao  acaso  das  ocasiões.

Repartição  das  escolas  nos  distritos  pouco  povoados

Um   problema   particularmente   árduo   será   o   da   repartição   das   escolas   nos   distritos  


pouco  povoados  e  sobretudo  agrários.  É  um  dos  elementos  do  arranjo  dos  campos.  A  
falta  de  planos,  ou  a  combinação  entre  câmaras,  conduz  demasiadas  vezes  à  solução  
inadmissível  da  escola  da  aldeia  em  que  um  único  professor  de  escola  deve  ocupar-­se  
ao  mesmo  tempo  de  crianças  tendo  por  vezes  entre  elas  10  anos  de  diferença.  A  orga-
nização  da  escola,  nestes  casos,  deve  propor  uma  solução  ao  problema  do  transporte  
das  crianças  e  será  preciso  examinar  aqui  o  funcionamento  de  serviços  de  autocarro  
utilizados  nos  EUA  ou  noutro  lugar.  O  transporte  dos  alunos  deverá,  igualmente,  ser  
organizado  sempre  que  a  escola  for  construída  num  quarteirão  excêntrico.

5 - A organização funcional da escola

5.1. Disposição dos locais

A  escola  primária  ou  secundária  é,  em  princípio,  constituída  de  locais  ou  grupos  de  
locais  seguintes:

Salas  de  aula.

Salas  para  o  ensino  especial.  

Locais  para  o  ensino  manual.  

Locais  para  os  exercícios  corporais.  

Locais  de  descanso,  salas  de  assembleia.

Cantinas,  locais  com  carácter  médico  ou  social.

Locais  de  serviço,  etc.

Ainda  que  todos  estes  locais  estivessem  agrupados  numa  escola  em  um  único  bloco  
maciço,  a  tendência  desenvolvida  desde  há  muitos  anos,  é  de  repartir  os  locais  em  
alas  distintas,  sendo  cada  uma  delas  tratada  em  função  dos  seus  dados  particulares.

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Escola  de  rés-­do-­chão  ou  com  vários  andares

A  escola  de  rés-­do-­chão  é  a  forma  ideal  para  o  grau  elementar.  No  número  das  suas  
vantagens,  citamos  a  sua  escala  íntima,  a  solução  agradável  dos  problemas  de  ilumi-
nação  bilateral  e  de  ventilação,  a  ligação  com  a  vegetação,  a  leveza  da  construção,  
a  flexibilidade  do  arranjo.  Em  contrapartida,  os  seus  inconvenientes  são  a  extensão  
considerável  de  terreno  necessário,  o  custo  elevado  da  construção.

Até   um   certo   grau,   as   vantagens   da   escola   de   rés-­do-­chão   podem,   igualmente,   ser  


obtidas  na  construção  com  vários  andares,  como  o  mostram  recentes  realizações  ho-
landesas,  suíças,  escandinavas,  inglesas  e  americanas,  em  que  o  antigo  sistema  do  
corredor  do  andar  é  substituído  por  soluções  novas  do  problema  da  circulação.  A  este  
respeito,   convém   prestar   atenção   a   uma   disposição   preconizada   por   certos   países  
para  as  escolas  secundárias:  as  salas,  todas  semelhantes  entre  elas,  são  agrupadas  
num  edifício  com  dois  andares  sobre  rés-­do-­chão,  enquanto  que  as  salas  especiais  
ocupam  pavilhões  sem  andar  que  permitem  a  disposição  livre  que  estas  salas  exigem.  
Pode-­se,  assim,  concluir  que  uma  certa  concentração  de  salas  de  aulas  é  admissível  
para  os  graus  superiores  do  ensino.

5.2. A unidade da sala de aula

Propomos  substituir  a  noção  sala  de  aula  pela  de  "unidade  de  sala",  que  será  o  espa-
ço  apropriado  pela  sua  superfície  e  pelos  seus  volumes  a  uma  forma  dada  de  ensino.  
Nas  últimas  escolas  americanas,  por  exemplo,  a  unidade  da  sala  compreende,  ao  lado  
do  local  principal,  um  pequeno  "Hobby-­Room"  em  que  os  alunos  podem  fazer  bricola-
ge,  desenhar  e  pintar.  Certas  regras  suíças  prevêem  anexar  a  cada  sala  um  vestiário  
servindo  igualmente  de  depósito  de  material  da  aula.

Dimensão  das  salas

Grandes   divergências   existem   de   um   país   para   o   outro   na   determinação   das   áreas  


da  unidade  da  sala.  A  maior  parte  dos  países  editaram  neste  domínio  prescrições  não  
somente  insuficientes,  mas  ainda  demasiado  rígidas.  É  assim  que  a  área  por  criança  
varia  de  1,3m2  e  mesmo  menos,  a  3m2  nos  EUA.

Na   dimensão   das   salas,   sendo   estritamente   em   função   do   número   de   alunos   e   do  

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sistema   pedagógico,   os   regulamentos   deveriam   renunciar   a   prescrever   normas   de  


salas  e  limitar-­se  a  determinar,  para  cada  forma  de  ensino,  um  número  admissível  de  
alunos  por  sala  e  a  área  mínima  por  criança.  Esta  área  não  deveria  ser  inferior  a  2m2  
por  aluno  e  o  número  de  alunos  não  deveria  ser  superior  a  35.

Os  educadores  modernos,  principalmente  no  grau  elementar  recomendam  um  ensino  


vivo,  livre  e  variado:  trabalho  em  grupo,  ocupação  prática,  demonstrações,  produções,  
etc.  Para  um  ensino  deste  género,  os  locais  quadrados  são  melhor  adaptados  que  as  
salas  alongadas,  várias  experiências  o  demonstram.  Mas  a  sala  quadrada,  mais  am-
pla,  reclama  imperiosamente  iluminarão  bilateral  à  qual  já  fizemos  alusão  no  capítulo  
anterior.

As salas especiais

O  ensino  especializado  exige,  também,  locais  vastos.  Em  compensação,  deve-­se  sim-
plificar  ao  máximo  estas  passagens  e  estes  locais  anexos  e  evitar  todo  o  desperdício  
neste  domínio.  A  este  respeito,  pode  citar-­se  uma  nova  tendência:  uma  proposta  do  
ministério  da  educação  inglês  acerca  das  escolas  primárias  recomenda  um  vasto  hall  
central  colectivo  (espaço  multi-­funções)  e,  simultaneamente,  preconiza  dimensões  ex-
tremamente  reduzidas  nas  comunicações.

5.3. Iluminação, Ventilação, Orientação

Uma   iluminação   e   uma   ventilação   perfeitas   das   salas   de   aula   são   necessárias   do  
triplo  ponto  de  vista  da  higiene,  da  fisiologia  e  do  rendimento  do  trabalho  escolar.  O  
ar  viciado,  a  luz  defeituosa  diminuem  as  faculdades  do  aluno,  sem  falar  do  perigo  da  
propagação  de  doenças  contagiosas.  Experiências  muito  desenvolvidas  foram  feitas  
sobre  este  assunto  nos  EUA  e  Inglaterra.

Iluminação

A  intensidade  da  iluminação  é  objecto,  na  maior  parte  dos  regulamentos  relativos  às  
construções  escolares,  de  prescrições  bastante  detalhadas.  Em  compensação,  a  qua-
lidade  da  luz  não  é  objecto  de  nenhuma  prescrição.  É,  no  entanto,  mais  importante  
ainda  que  a  intensidade.  A  luz  deve  ser  uniforme  e  sobretudo  nunca  ofuscar.  A  pro-

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tecção  contra  o  sol  deverá  ser  objecto  de  estudos  muito  desenvolvidos  (ecrãs,  brise-­
soleil,  avant-­toits,  etc.)  principalmente  para  os  países  quentes.  Fisiologicamente,  a  luz  
irradiada  para  as  superfícies  verdes  é  a  mais  favorável.  Não  há  meio  mais  eficaz  de  
se  assegurar  desta  vantagem  que  utilizar  superfícies  de  relva  e  plantações.  Isto  criou  
uma  razão  suplementar  para  construir  as  escolas  no  seio  de  zonas  verdes.

Quanto  às  proposições  feitas  nos  diversos  países  de  revestir  paredes  de  salas  de  aula  
de  tons  mais  ou  menos  vivos,  seja  por  este  objectivo,  seja  por  razões  decorativas,  as  
autores  deste  relatório  pensam  que  é  indicado  evitá-­las,  a  absorção  da  luz  pelas  pa-
redes  era  um  inconveniente  certo.

Um  progresso  definitivo,  no  domínio  da  iluminação  das  salas  de  aula,  não  poderá,  no  
entanto,  estar  completo  se  admitirmos  que  a  iluminação  unilateral  é  insuficiente  e  que  
deve  ser  completada  por  outras  fontes  de  luz  natural.

Iluminação  artificial

Enfim,  a  iluminação  artificial  deve  ser  objecto  de  cuidados  e  de  estudos  não  somente  
para  as  horas  de  fim  de  tarde,  mas  igualmente  para  os  dias  sombrios,  em  que  o  défice  
de  luz  natural  deve  ser  compensado  por  uma  luz  artificial.  Assinale-­se,  a  este  propósi-
to,  o  sistema  americano  de  compensação  automática  par  uma  fonte  de  luz  comanda-
da  por  células  fotoeléctricas.

Orientação

A  orientação  varia,  essencialmente,  com  a  situação  geográfica.  Em  princípio,  a  insola-


ção  directa  é  desejável  no  limite  onde  o  aquecimento  pelo  sol  não  é  ainda  de  recear.  
Pode  admitir-­se,  em  princípio,  as  orientações  seguintes:

Hemisfério  Norte:

Países  nórdicos  -­  sul  ou  sudeste

Regiões  temperadas  -­  sudeste

Países  quentes  -­  este  ou  nordeste

Equador:  norte  (ou  sul)

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Hemisfério  Sul:  orientações  inversas

É  conveniente  saber  conciliar  a  orientação  ideal  com  certas  condições  locais  (ventos  
dominantes,   chuvas,   etc.).  Assinalemos   as   experiências   feitas   na   Califórnia   com   as  
escolas  orientadas  a  norte  que  são  notáveis  pela  qualidade  regular  de  iluminação  que  
nunca   ofusca.   Esta   experiência   não   é,   no   entanto,   válida   senão   para   a   iluminação  
bilateral.

Ventilação

A  renovação  do  ar  nas  salas  de  aula  é  uma  necessidade  imperiosa.  Recorre-­se,  fre-
quentemente,   ao   sistema   das   bandeiras   de   abrir   para   o   conseguir.   Este   sistema   é  
claramente  insuficiente,  porque  se  estima  que  a  renovação  do  ar  deveria  ser  de,  ao  
menos,  1m3  por  criança  e  por  hora.

A  maior  parte  das  escolas  existentes  é  insuficientemente  ventilada  e  esta  situação  é  


particularmente  crítica  nas  escolas  dos  quarteirões  populares  que  recebem  crianças  
débeis  ou  mal  lavadas.  Pode  obter-­se  igualmente  por  meios  mecânicos  combinados,  
por  exemplo,  com  a  chauffage,  mas  a  renovação  do  ar  mais  eficaz  e  a  melhor  compra  
é  precisamente  aquela  que  se  obtém  por  ventilação  transversal.

5.4. Equipamento das Salas de Aula

O  elemento  principal  do  equipamento  é  constituído  por  mesas  de  trabalho  e  por  as-
sentos.   Os   rígidos   bancos   de   escola   são   cada   vez   mais   substituídos   por   mobiliário  
móvel:  carteiras  para  cada  um,  dois  ou  quatro  alunos,  com  assentos  facilmente  ajustá-
veis.  Estes  móveis  leves  permitem  variar  a  disposição  segundo  as  necessidades.  Nas  
novas  escolas  alemãs,  fez-­se  excelentes  experiências  com  mesas  de  quatro  alunos  
trabalhando   em   grupo.   O   equipamento   da   escola   completa-­se   por   um   número   sufi-
ciente  de  armários,  de  áreas  de  arrecadação,  paredes  de  exposição  para  os  trabalhos  
dos  alunos,  por  material  de  jogos  e  de  demonstração  e  por  aparelhos  de  projecção  e  
rádio,  esperando  a  televisão.

O  equipamento  da  escola  moderna  será  variado  e  bastante  completo.  Para  esta  ra-
zão,  impõe-­se  abolir  antecipadamente  todo  o  luxo  na  concepção  arquitectónica  e  na  
execução  da  escola.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 671


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5.5. Os Espaços Livres da Escola

Cada  escola  deve  poder  dispor  de  uma  área  ao  ar  livre  correspondente  ao  número  de  
alunos  e  à  sua  própria  forma  de  ensino.  Tratar-­se-­á,  principalmente,  de  alpendres  de  
recreio  e  de  terrenos  de  jogos  que  poderão  ser  completados,  segundo  as  possibilida-
des,  por  jardins-­botânicos  ou  por  terrenos  hortícolas.  Indicou-­se  já  no  capítulo  IV  qual  
deveria  ser  a  área  reservada  a  cada  escola.

A  satisfação  desta  exigência,  como  se  viu,  é,  antes  de  tudo,  um  problema  de  urbanis-
mo.

Cada  escola  deveria  possuir,  além  disso,  um  terreno  de  desporto  propriamente  dito.

As  soluções  adoptadas  em  certas  regiões  dos  Países  Baixos,  em  que  várias  escolas  
têm  em  conjunto  um  terreno  de  jogo  central,  uma  área  proporcionada  não  é  senão  um  
último  recurso.

Não  esqueçamos  que  quase  todos  estes  terrenos  de  desporto  são  utilizados  fora  das  
horas  da  escola  pela  população  e  pelas  sociedades  desportivas.  A  este  propósito,  ain-
da,  uma  grande  descentralização  dos  terrenos  de  jogos  escolares  é  desejável.

Será  do  mais  alto  interesse  confrontar,  em  estudos  posteriores,  as  diversas  soluções  
preconizadas  pelos  arranjos  de  pormenor  dos  terrenos  de  jogos  e  de  desporto.

Enfim,  o  arranjo  das  superfícies  verdes  deve,  igualmente,  ser  objecto  da  atenção  dos  
poderes  públicos.

5.6. A Arte na Escola

A  pedagogia  dedica  hoje  uma  grande  importância  ao  ensino  artístico.  É,  no  entanto,  
em  primeiro  lugar,  para  acordar  a  consciência  da  criança  dos  seus  próprios  meios  de  
expressão.  É  uma  actividade  puramente  pedagógica.  Exercer-­se-­á  na  sala  mesmo  ou  
na  sala  de  bricolage  (Hobby-­Room)  de  que  já  falámos.

Um  outro  problema  consiste  em  iniciar  a  criança  na  arte,  familiarizá-­la  com  as  obras  
de  pintura  e  de  escultura.  É  com  esta  intenção  que  o  hábito  de  decorar  a  escola  com  
pinturas  murais,  mosaicos,  vitrais,  baixo-­relevo,  esculturas  ao  ar  livre,  é  muito  conhe-
cido.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 672


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Em  certos  países,  o  montante  de  1%  a  2%  do  custo  da  construção  está  previsto  no  or-
çamento  para  esta  decoração.  Se  se  coloca  do  ponto  de  vista  puramente  artístico,  não  
há  nada  a  objectar  a  esta  tendência.  Se  se  emprega  do  ponto  de  vista  pedagógico,  é  
essencial,  em  compensação  que  estas  obras  decorativas  se  inscrevam  realmente  no  
mundo  sensível  da  criança.  Noutros  termos,  a  obra  de  arte  colocada  na  escola,  deve  
ser  concebida  e  colocada  pela  criança  e  não  pela  imagem  que  o  adulto  faz  da  criança.  
A  concepção  infantil  não  é  sempre  ingénua.  

6 – Técnica de construção

Racionalização e estandardização da construção escolar

A  execução  dos  programas  de  construções  escolares  levanta  problemas  de  financia-
mento  que  se  pode  avaliar  comparando  a  urgência  e  a  amplitude  das  necessidades  
com  a  modéstia  dos  meios  disponíveis.

Deve   dedicar-­se   maior   importância   às   possibilidades   que   oferece,   a   este   propósito,  


a  racionalização.  Não  está  certo  esperar  da  racionalização  a  diminuição  do  custo  da  
construção  e  uma  redução  dos  prazos  de  execução.

A  escola  pertence,  certamente,  a  esta  categoria  de  construções  que  se  acomoda  com  
uma  larga  unificação  dos  elementos  de  construção.  Isto  é  válido  em  particular  para:

Os  elementos  da  estrutura  em  aço,  em  betão,  em  madeira.

Os  elementos  das  fachadas,  das  paredes  e  dos  pavimentos.

As  janelas,  as  portas,  as  instalações,  o  equipamento.

É  significativo  que  estas  questões  sejam  estudadas  e  experimentadas,  muito  particu-


larmente  na  Inglaterra,  facilitadas  por  uma  economia  estritamente  dirigida  e  pela  cen-
tralização  do  ensino  primário.  As  experiências  seguidas  em  particular  no  Condado  de  
Hertfordshire,  as  escolas  com  um  ou  dois  andares,  em  último  lugar,  dão  uma  imagem  
notavelmente  encorajante  das  possibilidades  de  racionalização  e  da  técnica  moderna.  
É  claro  que  são,  principalmente,  edifícios  de  um  único  andar  que  apresentam  as  con-
dições  favoráveis  à  racionalização.  Construções  leves,  que  não  são  obrigatoriamente  
à  prova  de  fogo,  são,  então,  possíveis  sem  inconvenientes.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 673


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Os   problemas   da   racionalização,   da   estandardização,   da   pré-­fabricação   e   da   pro-


dução   em   série,   que   são   as   características   da   nossa   época   industrial,   apelam,   no  
entanto,   a   estudos   e   experiências   de   ordem   técnica   e   arquitectónica   extremamente  
desenvolvidas.   A   introdução   da   racionalização   na   construção   de   escolas   depende,  
naturalmente,  das  condições  económicas  e  técnicas  dos  diferentes  países,  ao  mesmo  
tempo  que  a  organização  administrativa  do  ensino.  Nos  países  em  que  esta  adminis-
tração  é  descentralizada,  a  normalização  dos  elementos  de  construção  das  escolas  
será  mais  difícil  e  mais  lenta  que  em  países  como  a  Inglaterra.

A  isso  acrescenta-­se  os  obstáculos  das  leis  actuais  sobre  o  ensino  e  a  oposição  de  
ordem  sentimental  que  se  manifesta  em  numerosos  meios  da  população  e  das  auto-
ridades.

A  objecção  muitas  vezes  ouvida,  que  a  uniformização  dos  meios  técnicos  terá  por  con-
sequência  um  nivelamento  e  uma  monotonia  da  arquitectura,  não  é  a  melhor  resposta  
uma   vez   que   estas   recentes   realizações   inglesas   se   distinguem   precisamente   pela  
sua  grande  variedade.

Em  resumo:  todas  as  possibilidades  de  racionalização  e  de  pré-­fabricação  devem  ser  
construídas  do  mesmo  modo  que  se  exprimem  por  vantagens  substanciais  de  prazo,  
de  duração,  ou  de  preço  de  custo.

Para   prevenir   este   resultado,   é   necessário   que   o   arquitecto   e   o   engenheiro   se   de-


brucem,   com   o   pedagogo,   sobre   estes   problemas,   para   evitar   que   a   racionalização  
conduza  a  meios  contrários  às  exigências  da  pedagogia.  Será  necessário  recomendar  
aos  diferentes  países  de  formar,  com  esta  intenção,  gabinetes  de  pesquisa  trabalhan-
do  em  relação  com  a  indústria  da  construção.

Nos  países  descentralizados,  a  coordenação  destes  esforços,  à  falta  da  criação  do  ofí-
cio  central,  é  indispensável  para  permitir  a  utilização  dos  meios  de  toda  a  indústria.

Uma  racionalização  prática  da  construção  das  escolas  não  será,  evidentemente,  pos-
sível  sem  que  a  distribuição  das  escolas  nas  aldeias,  cidades  e  regiões  seja  ela  mes-
ma  racional.  O  nosso  relatório  pronunciou-­se  a  esse  respeito.

II – ASSISTÊNCIA AOS PAÍSES POUCO DESENVOLVIDOS

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 674


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A  maior  parte  das  considerações  precedentes  referem-­se,  pela  força  das  coisas,  aos  
Estados  tendo  desde  há  muito  tempo  um  sistema  de  ensino  primário  e  obrigatório.

A  assistência  aos  países  menos  desenvolvidos  que  não  puderam  instaurar  nos  seus  
países  a  instrução  pública  é,  certamente,  a  tarefa  mais  urgente  que  se  apresenta  hoje  
e  a  sua  importância  não  escapa  aos  autores  deste  relatório.

Em  certa  medida,  a  realização  de  uma  rede  de  ensino  depende  de  problemas  estra-
nhos   aos   assuntos   aqui   tratados:   insuficientes   recursos   económicos   e   financeiros,  
falta  de  professores,  falta  de  meios  de  comunicação.

Nesta  medida,  no  entanto,  em  que  os  primeiros  obstáculos  poderão  ser  dominados,  
somos  informados  de  que,  no  seu  conjunto,  os  princípios  que  foram  enunciados  nos  
diferentes  pontos  do  capítulo  precedente  são  todos  válidos.

A  organização  do  ensino  em  certas  regiões  do  globo  encontrará,  sem  dúvida,  dificul-
dades  suplementares  devidas  à  existência  de  inúmeras  minorias  étnicas,  linguísticas,  
ou  religiosas.

Com  efeito,  o  direito  da  criança  à  educação  não  tem  meios  para  ir  ao  encontro  das  
particularidades  da  comunidade  humana  à  qual  pertence.  A  frequente  coexistência  so-
bre  o  mesmo  território  de  variados  grupos  étnicos  distintos,  implica  uma  sobreposição  
de  redes  de  escolas  igualmente  distintas,  comparáveis  às  que  existem  nas  cidades  ou  
nas  regiões  bilingues,  ou  ainda  no  duplo  sistema  das  escolas  francesa  e  muçulmana  
na  África  do  Norte.  Na  maior  parte  dos  casos,  estas  dificuldades  suplementares  vão  
juntar-­se  às  que  se  encontram  nos  distritos  pouco  povoados.

Não  resta  menos  que  a  possibilidade  de  formar  de  todas  as  peças  um  sistema  de  es-
cola  elementar.  É  a  este  respeito,  preferível  à  luta  contra  as  condições  medíocres  de  
um  sistema  exigente,  contra  a  rotina  de  um  ensino  antiquado  ou  contra  os  privilégios  
de  algumas  minorias  que  exercem  por  vezes  sobre  a  criança  uma  influência  mais  fu-
nesta  do  que  o  analfabetismo.

V - PROPOSIÇÕES DE ACÇÃO IMEDIATA

Medidas  de  ordem  geral  susceptíveis  de  melhorar  o  nível  da  construção  das  escolas.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 675


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Nos   diversos   capítulos   deste   relatório,   os   seus   autores   indicaram   os   princípios   da  


educação  moderna  que  lhes  parecem  aceitáveis  e  os  inquéritos  a  levar  a  cabo  para  
melhorar  a  construção  das  escolas.

Ora,  o  objectivo  não  é  formular  estes  princípios  mas  aplicá-­los.  Por  isso,  a  UIA  chama  
a   atenção   da   UNESCO   sobre   algumas   proposições   que   se   vão   seguir   e   que,   cada  
uma,   visa   chamar   a   atenção   de   todos   estes   problemas   que,   a   títulos   diversos,   são  
responsáveis  da  educação  das  crianças.  Nenhum  passo  decisivo  será  possível  sem  
pôr  em  obra  estes  meios  de  propaganda  e  de  persuasão.

Nestes  meios,  prevemos,  entre  outros:

1°   Exposições   itinerantes   sobre   a   evolução   das   construções   escolares   em   relação  


com  a  evolução  da  pedagogia.

2º  Recomendações  aos  governantes,  às  autoridades,  aos  educadores,  aos  arquitec-


tos  sob  a  forma  de  orientações,  publicações,  bibliografias,  particularmente  pela  via  do  
Boletim  da  UNESCO.

3°  A  produção  e  a  difusão  de  filmes  sobre  a  pedagogia  e  sobre  as  construções  esco-
lares.

4°   Reuniões   de   peritos   sobre   os   problemas   do   ensino   e   das   construções   escolares  


entre   educador,   psicólogos,   sociólogos,   arquitectos,   urbanistas,   representantes   das  
autoridades,   isto   antes   de   tudo   sobre   o   plano   internacional   e   sob   o   patrocínio   da  
UNESCO,   em   seguida   sobre   o   plano   nacional   com   vista   à   aplicação   concreta   dos  
seus  princípios.

A  Comissão  das  construções  escolares,  da  UIA,  deve  levar  o  seu  concurso  à  UNES-
CO  com  vista  à  organização  prática  das  medidas  propostas.

Alfred  Roth  (Presidente  da  Comissão  das  construções  escolares)  Jean  Pierre  Vouga  
(delegado  à  Comissão  de  trabalho  UIA)

16.a. Plano do inquérito da Comissão das construções escolares da U.I.A.

1. A organização da educação

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 676


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1.1.   Quais   são   os   graus   da   organização   pedagógica   do   vosso   país,   à   excepção   da  


universidade?

I)  pré-­escolar;;  

II)  primário;;

III)  secundário;;

(indique  a  idade  dos  alunos)

1.2.  Queira  detalhar  os  principais  sistemas  de  educação.

1.3.  Qual  é  a  parte  dada  ao  desenvolvimento  corporal,  manual,  cívico,  religioso,  artís-
tico?

1.4.  Qual  é,  em  cada  grau,  a  proporção  de  ensino  público,  religioso,  privado?

1.5.  Este  ensino  é  misto  ou  separado  por  sexos?  Por  religião;;  por  línguas  maternas;;  
por  raças?

1.6.  Existe  um  ensino  pré-­escolar?  De  que  nível?  A  quem  se  dirige?

1.7.   Existe   um   ensino   especial   para   crianças   atrasadas   (débeis   ou   mentais),   para  
enfermos?

1.8.  Que  outras  instituições  pode  assinalar?

1.9.  Qual  é  a  forma  de  assistência  social  escolar?  Vestuário?  Cuidados  médicos?  Ali-
mentação?  Alojamento,  colónia  de  férias,  etc?  

1.10.  Qual  é  a  formação  do  corpo  docente?  O  número  de  mestres  de  escola  é  sufi-
ciente  ou  insuficiente?

2. A escola no conjunto urbano

2.1.  Dê  as  estatísticas  seguintes:  número  de  crianças  que  entram  na  escola  em  1954;;  
número  estimado  para  1955,  1956...

2.1.1.  Por  que  autoridade  estas  estatísticas  são  estabelecidas?  

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2.1.2.  Qual  é  o  seu  valor?

2.2.  Qual  é  o  tamanho  médio  efectivo  das  escolas?

I)    número  médio  de  alunos  por  classe  primária.

II)    número  médio  de  alunos  por  classe  secundária.

III)    número  médio  de  salas  por  escola  primária.

IV)    número  médio  de  salas  por  escola  secundária.

V)  número  médio  de  alunos  por  escola  primária.

VI)  número  médio  de  alunos  por  escola  secundária.

2.2.1.  Qual  á  a  superfície  de  terreno  escolar  em  m2  por  aluno?

I)  primário;;

II)  secundário;;

2.3.  Em  que  medida  se  repartem  as  escolas  no  conjunto  urbano  segundo  o  grau  e  o  
seu  carácter?  Está  apropriado?

2.3.1.  Quais  são  as  distâncias  entre  a  habitação  e  a  escola?  Existem  normas  em  vigor  
sobre  a  natureza  e  o  comprimento  dos  caminhos?

2.4.   Existe   uma   política   intrínseca   de   construção   da   escola?  A   escola   é   uma   parte  
integrante  do  desenvolvimento  municipal  ou  entre  municípios?

3. A escola, os seus elementos e o seu carácter

3.1.  Unidade  de  classe

3.1.1.  Qual  é  a  unidade  da  superfície  por  criança  (modelos/padrões  em  vigor  para  os  
diferentes  graus)?

3.1.2.  As  dimensões  das  unidades  das  salas  são  fixadas  por  prescrições  (preceitos,  
indicações)  ou  não?  Se  sim,  quais  são?

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 678


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3.1.3.  Existem  modelos  em  vigor,  prevendo  ou  prescrevendo:

I)    A  luz  natural  ou  artificial?  a)  Em  proporção  da  superfície?  b)  Em  valor  absolu-
to?

II)  A  iluminação  bilateral?

III)  A  ventilação?

IV)    O  aquecimento?

V)  A  orientação?

VI)  A  protecção  contra  o  sol?

VII)  Medidas  de  acústica?

3.2.  Circulação

3.2.1.  Quais  são  os  modelos  em  vigor  para:

I)    A  circulação.

II)  As  escadas.  

III)  Os  alpendres  cobertos.

IV)  Os  vestiários.

V)  Os  W.C.  (para  rapazes  e  para  raparigas).

3.2.2.  Os  corredores  prestam  serviço  a  outros  usos  diferentes  dos  da  circulação?

3.3.  Salas  especiais

3.3.1.  Quais  são  as  salas  reservadas  ao  ensino  especializado:

I)    Para  o  grau  pré-­escolar.

II)  Para  o  grau  primário.

III)  Para  o  grau  secundário.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 679


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3.3.2.  Quais  são  os  modelos  em  vigor  para  as  salas  de  ginástica?

3.4.  Locais  anexos

3.4.1.  Que  locais  anexos  são  usados?

I)    Salas  de  estudo.

II)    Cantinas  ou  refeitórios.

III)  Enfermaria.

IV)  Residências  do  director,  dos  professores,  do  porteiro.

V)   Salas   para   bibliotecas,   comissões   (delegações),   locutórios,   conselho   de   alunos,  


conselho  de  pais.

VI)  Locais  para  a  educação  pós-­escolar.

VII)  Garagens  de  bicicletas.

3.4.2.  Quais  são  as  instalações  escolares  colocadas  à  disposição  da  população?

3.5.  Equipamentos  da  escola

3.5.1.  Quais  são  as  disposições  mais  frequentes  para  o  mobiliário?

I)    Assentos  combinados  com  mesas  ou  separados?

II)    Mesas  de  dois  ou  de  vários  lugares?

III)  Mobiliário  fixo  ou  móvel?

3.5.2.  Qual  é  o  equipamento  em  aparelhos  de  projecção  de  cinema,  de  rádio,  televi-
são,  em  instrumentos  de  música,  etc.?

3.6.  Espaços  livres  da  escola

3.6.1.  Quais  são  os  modelos  em  vigor  para  os  pátios  de  recreio  em  m2  (sqft)  por  aluno  
primário,  secundário?  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 680


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3.6.2.   Quais   são   os   modelos   em   vigor   para   os   terrenos   de   desporto   e   jogo   em   m2  


(sqft)  por  aluno  primário,  secundário?  

3.6.3.  Prevêem  jardins  botânicos  ou  hortícolas?

3.6.4.  Prevêem  parques  ou  plantações?

3.7.  Carácter  da  escola

3.7.1.  Quais  são  as  tendências  relativas:

I)  Ao  número  de  salas  por  escola

II)  Ao  número  de  pisos

3.7.2.  Existe  uma  tendência  em  favor  de  uma  disposição  de  conjunto  compacta  ou  por  
pavilhões?

4. A construção das escolas e o seu aspecto económico

4.1.  Quais  são  as  tendências  actuais  na  construção  das  escolas?  

4.1.1.  Que  esforços  fazem  para  a  racionalização?

4.1.2.  Existem  leis  ou  regulamentos  que  paralisem  estes  esforços?

4.2.  Como  se  faz  o  financiamento  da  construção  das  escolas?  Qual  é  a  parte  do  Esta-
do,  das  Câmaras,  das  instituições  privadas?  

4.3.  Qual  é  a  duração  da  exploração  prevista  para  os  programas  de  construção?  

4.4.  Construíram  escolas  provisórias?  Que  experiências  fizeram?

5. A colaboração entre o arquitecto, o artista, o pedagogo, a administração.

5.1.  Existe  uma  secretaria  (oficial  ou  semi-­oficial)  que  proceda  a  pesquisas  metódicas  
no  domínio  das  construções  escolares?  

5.2.  Há  colaboração  entre  o  arquitecto  e  o  artista?  Em  que  medida  as  obras  de  arte  
podem  participar  na  educação  da  criança?  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 681


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5.3.  Há  colaboração  entre  o  arquitecto  e  o  pedagogo?

5.4.  Convoca-­se  comissões  de  pais,  de  alunos?

5.5.  A  escola  é  objecto  de  encomendas  directas  ou  concursos  públicos  ou  privados?

17- DECRETO-LEI N.º45 810 DE 9 DE JULHO DE 1964

Aumento  da  escolaridade  obrigatória  de  4  para  6  anos,  para  ambos  os  sexos.  O  ensi-
no  primário  passa  a  compreender  2  ciclos:  elementar  (4  classes)  e  complementar  (2  
classes,  para  quem  não  pretendia  continuar  a  estudar).  Para  quem  pretendia  o  seguir  
os   estudos   é   necessário   a   aprovação   do   exame   após   as   4   classes   do   elementar   e  
de  seguida  a  ingressão  no  1º  Ciclo  do  Ensino  Liceal  ou  Ciclo  Preparatório  do  Ensino  
Técnico

18- DECRETO-LEI N.º49 169 DE 5 DE AGOSTO DE 1969 (Diário de Governo 182)

Criação  no  MOP  da  Direcção  Geral  das  Construções  Escolares,  para  a  qual  transitam  
as  funções  da  JCETS,  da  Comissão  Administrativa  das  Novas  Instalações  Universitá-
rias,  a  Comissão  Administrativa  do  Plano  de  Obras  da  Cidade  Universitária  de  Coim-
bra  e  da  Delegação  das  Obras  de  Construção  das  Escolas  primárias,  da  DGEMN,  que  
são  extintas.

19- LEI 5-73 DE 25 DE JULHO DE 1973

Lei  da  Reforma  Educativa  -­  aprovação  das  bases  a  que  deveria  obedecer  a  reforma  do  
sistema  educativo:  institucionalização  da  educação  pré-­escolar;;  extensão  da  escolari-
dade  obrigatória  de  6  para  8  anos;;  polivalência  do  ensino  secundário  e  acréscimo  de  
1  ano  na  sua  duração;;  expansão  e  diversificação  do  ensino  superior,  criação  de  cur-
sos  de  pós-­graduação,  novo  enquadramento  da  formação  profissional,  estruturação  
da  educação  permanente,  consagração  do  princípio  da  democratização  do  ensino.  O  
sistema   educativo   passaria   a   abranger:   Educação   Pré-­escolar,   Educação   Escolar   –  

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 682


A  evolução  da  arquitectura  escolar  portuguesa:  as  escolas  primárias  desde  finais  do  século  XIX  até  à  contemporaneidade  

ensino  básico  brigatório  (primário  4  anos  e  preparatório  4  anos),  ensino  secundário  (2  
ciclos  de  2  anos),  ensino  superior  e  formação  profissional,  e  Educação  Permanente.

20- DECRETO 24A/74 DE 2 DE SETEMBRO DE 1974

Aproxima-­se  o  programa  do  ciclo  complementar  do  ensino  primário  do  ciclo  prepara-
tório  do  ensino  secundário.

Carla  Andreia  Galvão  de  Carvalho 683

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