Arcadismo/Neoclassicismo no Brasil

Prof: ANÍSIO PINHEIRO Frente: 02 Aula: 05

AL120207

Arcadismo As partes da obra

A obra se divide em duas partes (há uma terceira, cuja
Fatos históricos autenticidade é contestada por alguns críticos):
„ Iluminismo (século das Luzes).
„ Espírito enciclopédico: difusão do conhecimento. 1ª parte: contém os poemas escritos na época anterior à prisão
„ Economia: desenvolvimento industrial e comercial. de Gonzaga. Nela predominam as composições convencionais: o
„ Revolução Francesa (1789) pastor Dirceu celebra a beleza de Marília em pequenas odes. Em
„ Fundação da Arcádia Lusitana (1756). algumas liras, entretanto, as convenções mal disfarçam a
„ Despotismo esclarecido do Marquês de Pombal confissão amorosa do amor: a ansiedade de um quarentão
apaixonado por uma adolescente; a necessidade de mostrar que
Principais Características não é um qualquer e que merece sua amada; os projetos de uma
D Convencionalismo/Artificialismo, fingimento sossegada vida futura, rodeado de filhos e bem cuidado por suas
D pastoralismo: resposta à urbanização: mulher etc.
D fugere urbem ("fugir da cidade");
D aurea mediocritas ("o equilíbrio de ouro"); 2ª parte: escrita na prisão da ilha das Cobras. Os poemas
D locus amoenus ("lugar tranqüilo"); exprimem a solidão de Dirceu, saudoso de Marília. Nesta
D tempus fugit (“passagem do tempo”) segunda parte, encontramos a melhor poesia de Gonzaga. As
D carpe diem (“aproveitar a vida, o momento presente”) convenções, embora ainda presentes, não sustentam o equilíbrio
D inutilia truncat ("corta o inútil"): rejeição ao Barroco neoclássico. O tom confessional e o pessimismo prenunciam o
D Mimesis aristotélica (imitar o equilíbrio natural) sentimentalismo romântico.
PORTUGAL: Texto 1
Manuel Maria Barbosa du BOCAGE
Ás vezes parece um tambor
Fez tanto poesias tipicamente árcades (idealização da
natureza, contenção, objetividade), como poemas pré- Mas não é tambor nem nada
românticos (subjetividade e expressão direta do sentimento é o coração
amoroso) Que fica entre a paz e o terror
Quando vejo sua cara
Temas fundamentais de sua poesia pré-romântica:
Entre as caras da multidão
D arrependimento, saudade, amor e morte;
D conflito entre razão e sentimento, egocentrismo;
Logo fico cansado
D locus horrendus substitui o locus amoenus: preferência por Como se tivesse estado a correr
lugares ermos e paisagens noturnas e medo da morte. Num segundo já me sinto
Sem uma gota de sangue
BRASIL:
Tomás Antônio GONZAGA (Dirceu)
Mal consigo respirar,
1744-1810 Sobreviver
Obras: Só deus sabe o saldo
∗ Marília de Dirceu Creditado ao amor que lhe dou
∗ Cartas Chilenas (principal obra satírica do século XVIII, Se terei sono tranqüilo
atribuída a Gonzaga)
Ou vida sobressaltada
Duas tendências coexistem nas liras de Gonzaga: Não sei nada
D a contenção e o equilíbrio neoclássicos, com a utilização de Olhar pro sol
todos os lugares-comuns do Arcadismo: um pastor, uma pastora, Vencer o mar
o campo, a serenidade da paisagem principal. Admitir
D o emocionalismo pré-romântico, na expressão pungente da

crise amorosa e, posteriormente a prisão, da crise existencial do Brigar com par

poeta. Isso é nada
Não ter você
O sujeito lírico é o pastor Dirceu, que confessa seu amor pela Cair em si,
pastora Marília. Eis a convenção neoclássica realizada, Mas é Morrer de amor
evidente que nos pastores se projeta o drama amoroso vivido por
Gonzaga e Maria Dorotéia. Não é o fim
mas me acaba
A todo momento a emoção rompe o véu da estilização Djavan, Cair em si. -Cd Milagreiro track11

arcádica, brotando, dessa tensão, uma poesia de alta qualidade.

Texto 2
“Eu tenho um coração maior que o mundo Por esta solidão, que não consente
tu, formosa Marília, bem o sabes; Nem do Sol, nem da Lua a claridade,
um coração, e basta, Ralado o peito já pela saudade,
onde tu mesma cabes” Dou mil gemidos a Marília ausente:

De seus crimes a mancha inda recente

lava Amor, e triunfa da verdade;
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A beleza, apesar da falsidade,
Me ocupa o coração, me ocupa a mente:
Lembram-me aqueles olhos tentadores,
Aquelas mãos, aquele riso, aquela
Boca suave, que respira amores...
Ah! Trazei-me, ilusões, a ingrata, a bela
Pintai-me vós, ó sonhos, entre flores,
Suspirando outra vez nos braços dela.
Bocage
Com base nos textos assinale a alternativa correta das
questões que seguem:
01. No texto 1 o eu-lírico faz uma confissão de seus tormentos.
Tal sofrimento seria ocasionado por um desentendimento
amoroso. Qual das alternativas abaixo há o trecho que melhor
representa essa confissão.
a) Ás vezes parece um tambor
b) Olhar pro sol/Vencer o mar
c) Admitir/Brigar com par/Isso é nada
d) Não ter você/Cair em si,
e) Morrer de amor/Não é o fim/Mas me acaba
02. O texto 2 possui um eu-lírico dominado pela solidão. Tal
sentimento é caracterizado pela falta da pessoa amada. Qual das
alternativas abaixo representam de forma simbólica o
sentimentalismo do eu-lírico.
a) Dou mil gemidos a Marília ausente
b) A beleza, apesar da falsidade,
c) Lembram-me aqueles olhos tentadores,
d) Suspirando outra vez nos braços dela.
e) Me ocupa o coração, me ocupa a mente
03. Em ambos os texto, temos uma preocupação do eu-lírico
com o relacionamento amoroso. Tal relacionamento é marcado
pela dramaticidade, isto é, pelo conflito. Qual dos versos abaixo
revela o conflito no texto 1 e no texto 2 respectivamente
a) Logo fico cansado / Por esta solidão, que não consente
b) Brigar com par / De seus crimes a mancha inda recente
c) Que fica entre a paz e o terror / Ah! Trazei-me, ilusões, a
ingrata, a bela
d) Não sei nada / Boca suave, que respira amores...
e) Pintai-me vós, ó sonhos / Morrer de amor
04. Bocage é considerado um autor que pré-romântico e o texto
dois é uma representação disso porque:
a) há mais ênfase por dramas sentimentais do que por
preocupações pastoris
b) a preocupação formal é um fato tipicamente romântico
c) o pastoralismo, que o nome Marilia sugere, é uma
antecipação da poesia Mal-do-Século
d) há morbidez no verso Lembram-me aqueles olhos
tentadores
e) a expressão Ralado o peito já pela saudade revela
racionalismo
“Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo que se passa
Também, Marília, morre”
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(GONZAGA, Tomás Antônio. Poesias e Cartas Chilenas. Rio de Janeiro: Instituto Nacional
do Livro, 1957, p. 63.)
05. Uma leitura do texto permite afirmar que:
a) há uma recusa em se tratar da inevitabilidade da morte.
b) está retratada a instabilidade da natureza.
c) há um compromisso exclusivo com os aspectos positivos da
vida.
d) está explícita a passagem inexorável do tempo.
e) há exemplos de maneiras ociosas para se passar o tempo
com a amada.
06. No Texto, as referências à natureza permitem reconhecer
uma característica marcante:
a) do bucolismo pastoril do Arcadismo.
b) da visão romântica do mundo.
c) do tratamento naturalista do amor.
d) da concepção social da natureza.
e) do humanismo idealizado do Renascimento.
Texto I
“Olha , Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes”
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?
Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!”
............................................................
(BOCAGE. In: REBELO, Marques (Org.).Antologia escolar portuguesa. Rio de Janeiro:
FENAME/MEC, 1970)
Texto II
“Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura,
Se a lei do Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas.
Se acusas os mortais, e os não obrigas,
Se, conhecendo o mal, não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura;
Importuna Razão, não me persigas.”
............................................................
(BOCAGE. In: ABDALA JÚNIOR, Benjamin. PASCHOALIN, Maria Aparecida. História social
da Literatura Portuguesa. São Paulo: Ática, 1982.)
Assinale o que for correto com relação aos textos I e II e ao seu
autor, Bocage.
a) O bucolismo, a presença da mitologia, a idealização do amor
e da mulher marcam ambos os textos e são traços do Arcadismo,
período literário a que pertence o autor.
b) A objetividade e o vocabulário ligado ao campo inserem o
texto I no Arcadismo; já a subjetividade e o predomínio da
emoção não permitem classificação ao texto II.
c) O contraste temático e a diferença de estilo entre os textos
apontam para a confusão da lírica de Bocage e a razão de ele
ser considerado melhor em sua poesia satírica.
d) O bucolismo do texto I insere-o na estética do Arcadismo. A
ênfase na dicotomia sentimento x razão, do texto II, indica traço
pré-romântico na lírica de Bocage.
O contraste temático e a diferença de estilo entre os textos
indiciam a mistura de tendência na lírica de Bocage que passa
do Barroco ao Arcadismo.