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ROGERIO PROENGA LEITE CONTRA-USOS DA CIDADE LUGARES E ESPACO PUBLICO NA EXPERIENCIA URBANA CONTEMPORANEA 24 edicao Fw croc manne rk Tinorea Cm Uncar ete, Roe Proenga sie Cons de cidade lgae € epao pico ma sap urbane cotemporins / Ropero Poenga Ute = 2 ed, = Campinas SP: Editora da Unease, ‘Aes SE: Edna UFS, 2007, |p pis, 2. Paice ~ Pots, {Penal Cidade hr. Plneameno ‘oh L Ted cop 7114 Ss0.ts soi? san s795.20.07767 doi 36 (ali pn ctl siren 1p is ma 2 Pasian al ~Prngo 350.85 | ike awa sa {debian bias Planet aes 30136 Cony © by Rog roengs Leite Copii © 2007 by Eo da cae essa pe daa pubic poe pads amanenada em Sena det, Spin epodid por in meno cus ui em era pv do ei Para Caué e Ravi, que os ares da cidade libertem para além dos limites da esfera da vida privada. LUGARES DA POLITICA E CONSUMO DOS LUGARES NAGAO E PATRIMONIO CULTURAL Poderia parecer um contra-senso, para 0 moderno conceito de re- lagio tempo-espago, aafirmacio de Bachelard de que “mais urgente que a determinacio das datas é, para o conhecimento da intimidade, a loca- lizagio nos espagos da nossa intimidade” (Bachelard, 2000, p. 29). Ainda que oautor estivesse se referindo aos espacos da intimidade, a idéia de que € no espago, € nao no tempo, que o passado intimo se inscreve como tradigao, pode ser tomada como um reconhecimento da forga que os lugares mantém na espacializagio das relagées sociai Esta € uma perspectiva analiticamente favorsvel 3 nogdo de lugar, em ‘um momento em que, na teoria social, a nogto fixa e delimitada de “lugar antropol6gico” (Augé, 1994), como meio estavel de inteligibilidade da vida social, estérelatvamente superada como conceito compreensivo das socie- dades modernas. Aemergéncia dos chamados “espagosde fluxos” (Castells, 1999) tem deslocado o sentido das priticas sociais de certas configuragbes espaco-temporais concretas. Essa deslocalizagio nio implica, entretanto, a subsungio completa dos lugares pelos fluxos, mas antes uma redefinigio da propria nogio de lugar. Mesmo para uma nogio deslocalizada e desenraizada como a de “nio-lugar”, permanece, no entanto,o vinculo relacional com os lugares: ‘Acrescentamos que existe cvidentemente o nZo-lugar como lugar: le nao existe sob forma pura; lugares se recompdem nele; relagies se recons- tituem nele [..] O lugar ¢ 0 nio-lugar sio, antes, polaridades fugidias; 0 primeiro nunca € completamente apagado eo segundo nunca se realiza completamente [..]” (Augé, 1994, p.74).. ‘A nogao de /ugar, menos genérica e abrangente que a de espago, re- tém uma distingdo: podemos entender os lugares como demarcagies fi- sicas ¢ simbélicas no espago, cujos usos os qualificam ¢ Ihes atribuem sentidos de pertencimento, orientando agdes sociais ¢ sendo por estas delimitados reflexivamente. Um lugar pode, enfim, ser entendido como uma forma estriada de espaco, na medida em que consiste, como definiu Guattari (1985), em “territérios de subjetivagao”, Dessa forma, os lugares io devem ser entendidos, na teoria social, apenas como “pontos no espa- 0” (Giddens, 1991). Também nao seriam puras demarcagbes espaciais homogéneas, como definiria Certeau (1994), a0 afirmar que 0 espago € um “lugar praticado”. Enquanto configuragio identitéria, os lugares podem ser portadores das qualidades de movimento, tempo e trajet6ria que Certeau atribui ao espaco. Para entender a formagio dos lugares sociais na modernidade seria necessério também desvinculé-los da idéia de que seriam formas independentes no interior de fronteiras fisicas € simbélicas bem delimitadas, como define Castells (1999) ao relacionar © “espaco de fluxos” ao “espago de lugares”. Dadas as configuragdes deslocalizadas desses espagos de fluxos, cujo desenraizamento cria os ndo-lugares dos quais fala Marc Augé, nada impediria que se consideras- sem os lugares exatamente como espacos praticados: nio pelas trajet6rias queeventualmente 0s pulverizam, mas através dos circuitos simbélicos que os demarcam € os tornam intercomunicéveis com os outros lugares. Palar de lugar, finalmente, distinto de espaco, nao significa neces- sariamente atribuir rigidas fronteiras ao primeiro e reservar ao segundo a dinamica da mudanga hist6rica. Os lugares, no entanto, guardam, de fato, estreita relacio com certos aspectos mais perenes da vida social, do pasado comum ¢ do inconsciente das pessoas, como lembrava Bache- lard. Mas esse vineulo com os aspectos mais tradicionais localizados da vida nao obscurece o fato de que a experiéncia urbana contemporinea tem moldado 0 que Arantes (2000) chamou de “contextos de tempo- espago flexiveis”, nos quais lugares efémeros estruturam espacialmente fronteiras entrecruzadas. 3 Nessa reformulagio dos sentidos dos lugares —e de suas fronteiras ao mesmo tempo libertadora ¢ autodestrutiva —reside uma subvei da modernidade, que deslocalizou tradigées € as encarcerou numa racio- nalidade impessoal ¢ burocritica. Essa “destradicionalizagao” da socie- dade moderna foi percebida de modo paradigmatico por Weber (1987), em sua nietzschiana metéfora da “gaiola de ferro”. Weber foi um dos primeiros a reconhecer, através da idéia do encarceramento da razo, que, apesar de a moderna sociedade implicar um continuo processo de s cularizagio, o advento sistemético ¢ crescente da racionalidade iria amea- ar a nova ordem social, a0 deslocar definitivamente os sentidos tradi- cionais da cultura que, no passado, asseguravam os lagos sociais da vida em comunidade. Esse deslocamento dos sentidos da tradigZo a crescente raciona- lizagio da vida cotidiana foram percebidos como um problema ontol6- gico pela teoria social ¢ transformaram-se numa reflexio central sobre as formas de reprodugio social em contextos de vida marcados pela dimi auuigio da forca das tradicées. A crescente complexidade e diferenciagao da moderna sociedade secularizada revelaram-se paradoxais para os es- tudos sobre a alo social. O préprio Weber (1984) tentou reagir ao pos- sivelcaos de uma racionalidade econémica e burocratica que estaria pro- vocando, de modo irreversivel, o que ele chamou de “desencantamento do mundo”. A reagdo mais surpreendente da anslise weberiana 4 mo- derna sociedade laica foi a sua prOpria formulagao dos sentidos do “agir em comunidade”, que the possibilitou compreender a permanéncia de importantes nexos associativos para uma vida comum em sociedade. O “agir em comunidade” recupera a nogio de uma ago subjetivamente imaginada e provida de sentido, orientada por valores e pelas expectativas comportamentais dos outros. Ao contririo de um “agir em sociedade”, que pressupde um modo de agir racional com relag preende um certo grau de agées orientadas por regulamentagoes nor- ‘mativas, o “agir em comunidade” retém a possibilidade de um agir por consenso, independentemente de uma ordem social normatizada, a partir Aansdlise de Sassen (1998) sobre as cidades mundiais no contexto da economia global desenvolve essa idéia de uma redefinigio dos papéis dos contextos urbanos quc se ‘ransformam em lugares estratégicos para acoordenagio internacional e prestacio de servigos da economia mundial Para a autora, estes “sistemas urbanos transnacionais"™ se tornam co-extensivos do Estado-nagio (cf. Sassen, 1998, p. 47). urbana contemporinea como Refletindo diferentes contextos que marcaram a recente trajet6ria da hist6ria repu- blicana, essas abordagens buscavam explicara formago da sociedade nacional a partir de certas unidades de anilise que se tornaram emblemsticas para o debate e discurso sobre o Brasil: raca, cultura, Estado, nacio, regio ¢ classes sociais. Algumas dessas unidades, recuperadas em distintas orientagdes metodol6gicas, ordenaram parte subs- tantiva da reflexdo sobre o sentido da formagdo brasileira (Arantes, 1997) nas primeiras décadas do século: aafirmagio da inexorabilidade da decadéncia brasileira em vitude do surgimento de uma sub-raga mestiga, débil ¢ incivilizada, como ressaltavam Silvio Romero (1980) ¢ Nina Rodrigues (1988), 20 apontarem atese do branqueamento como solucio; aanilise de Manoel Bomfim (1993) — heterodoxa c original 3 época— sobre a colonizagio como forma de “parasitismo social”; a abordagem de Gilberto Freyre (1992) sobre a suposta origem racial democritica da sociedade patriarcal no Brasil; a leitura neoweberiana do tipo brasileiro cordial e aventuteiro, de Sérgio B, de Holanda (1983); a pioneira interpretagio de Caio Prado Jr. (1996) sobre a formagio das classes tno Brasil, De modo semelhante, a busca de uma braslidade iria marcar a produsio antstico-literiria, a exemplo da exaltagio dos temas bucélicos da poes indianismo romantico ¢ sua versio abolicionista; da estética interiorana do romance regionalista de 30 ¢, finalmente, da propria Semana de Arte Moderna, na qual se

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