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O Caboclo dgua

Joo Guimares Rosa, Magmai.

No lombo de pedra da cachoeira clara


as guas se ensaboam
antes de saltar.

E l embaixo, piratingas, pacus e dourados


do pulos de prata, de ouro e de cobre,
querendo voltar, com medo do poo
da quarta volta do rio,
largo, tranqilo, to chato e brilhante,
deitado a meio bote
como uma boipeva branca.

Na gua parada,
entre as moitas de sars e canaranas,
o puraqu tem pensamentos
de dois mil volts.

sombra dos mangues,


que despetalam placas vermelhas,
dois botos zarpam, resfolengando,
com quatro jorros,
a todo vapor.

E os jacars cumpridos, de olhos esbugalhados,


soltam latidos , e vo fugindo,
estabanados, s rabanadas, espadanando,
porque do fundo
do grande remanso, onde ningum acha o fundo,
vem um rugido , vem um gemido,
to rouco e feio, que as ariranhas
pegam no choro, como meninos.
O canoeiro
que vem no remo, desprevenido,
ouve o gemido e fica a tremer.
o caboclo dgua,
todo peludo, todo oleoso,
que vem subindo l das profundas,
e a mo enorme,preta e palmada,
de garras longas,
pega o rebordo da canoinha
quase a virar.

E o canoeiro, de faco pronto,


fica parado, rezando baixo,
sempre a tremer

Crescendo dgua ,l vem a mscara,


negra e medonha,
de um gorila de olhar humano,
o Caboclo dgua
ameaador.

E o canoeiro j no tem medo,


porque o Caboclo o olhou de frente,
todo molhado,
com olhos tristonhos,rosto choroso,
quase falando,
quase perguntando
pela ingrata Iara,
que, j faz tempo, se foi embora,
que h tantos anos o abandonou...

i
Magma foi publicado pela Ed. Nova Fronteira em 1997, bastante tempo depois da morte de
Guimares Rosa. Sobre o livro, disse uma vez Guimares: "[...] escrevi um livro no muito
pequeno de poemas, que at foi elogiado. [Depois] passaram-se quase dez anos, at eu poder
me dedicar novamente literatura. E revisando meus exerccios lricos, no os achei
totalmente maus, mas tampouco muito convincentes." Apesar disso, Magma foi premiado pela
Academia Brasileira de Letras em 1936.

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