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INTRODUÇÃO A HISTÓRIA

DEFINIÇÃO CLÁSSICA DA PALAVRA HISTÓRIA

História (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentido daquele que vê) é a
ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de
processos e eventos ocorridos no passado. Por metonímia, o conjunto destes processos e
eventos. A palavra história tem sua origem nas «investigações» de Heródoto, cujo termo
em grego antigo é ?st???a? (Historíai). Todavia, será Tucídides o primeiro a aplicar
métodos críticos, como o cruzamento de dados e fontes diferentes.

CONCEPÇÕES DA HISTÓRIA

Em sua evolução, a História se apresentou pelo menos de três formas. Do simples registro à
analise científica houve um longo processo. São elas:

• História Narrativa ou Episódica - O narrador contenta-se em apresentar os


acontecimentos sem preocupações com as causas, os resultados ou a própria
veracidade. Também não emprega qualquer processo metodológico.
• História Pragmática - Expõe os acontecimentos com visível preocupação didática.
O historiador quer mudar os costumes políticos, corrigir os contemporâneos e o
caminho que utiliza é o de mostrar os erros do passado. Os gregos Heródoto e
Tucídides e o romano Cícero ("A Historia é a mestra da vida") representam esta
concepção.
• História Científica - Agora há uma preocupação com a verdade, com o método,
com a análise crítica de causas e consequências, tempo e espaço. Esta concepção se
define a partir da mentalidade oriunda das ideias filosóficas que nortearam a
Revolução Francesa de 1789. Toma corpo com a discussão dialética (de Hegel e
Karl Marx) do século XIX e se consolida com as teses de Leopold Von Ranke,
criador do Rankeanismo, o qual contesta o chamado "Positivismo Histórico" (que
não é relacionado ao positivismo político de Augusto Comte) e posteriormente com
o surgimento da Escola dos Annales, no começo do século XX.
• História dos Annales (Escola dos Annales) - Os historiadores franceses Marc Bloch
e Lucien Febvre fundaram em 1929 uma revista de estudos, a "Annales d'histoire
économique et sociale",[1][2] onde rompiam decididamente com o culto aos heróis e a
atribuição da ação histórica aos chamados homens ilustres, representantes das elites.
Para estes estudiosos, o cotidiano, a arte, os afazeres do povo e a psicologia social
são elementos fundamentais para a compreensão das transformações empreendidas
pela humanidade.

CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA HISTÓRIA

Ainda no século XIX surgiu a discussão em torno da natureza dos fenômenos históricos. A
que espécie de preponderância estariam ligados? Aos agentes de ordem espiritual ou aos de
ordem material? Antes disso, a fundamental teológica fez uma festa na mente cordata do
povo.

• Concepção Providencialista - Segundo tal corrente, os acontecimentos estão ligados


à determinação de Deus. Tudo, a partir da origem da terra, deve ser explicado pela
Providência Divina. No passado mais remoto, a religião justificava a guerra e o
poder dos governantes. Na Idade Média Ocidental, a Igreja Católica era a única
detentora da informação e, naturalmente, fortificou a concepção teológica da
História. Santo Agostinho, no livro "A Cidade de Deus", formula essa interpretação.
No século XVII, Jacques Bossuet, na obra "Discurso Sobre a História Universal",
afirma que toda a História foi escrita pela mão de Deus, E no século passado, o
historiador italiano Césare Cantu produziu uma "História Universal" de profundo
engajamento providencialista.
• Concepção Idealista - Teve em Georg Wilhelm Friedrich Hegel, autor de
"Fenomenologia do Espírito", seu corporificador. Defende que os factos históricos
são produto do instinto de evolução inato do homem, disciplinado pela razão. Desse
modo, os acontecimentos são primordialmente regidos por ideias. Em qualquer
ocorrência de ordem econômica, política, intelectual ou religiosa, deve-se observar
em primeiro plano o papel desempenhado pela ideia como geradora da realidade.
Para os defensores dessa corrente, toda a evolução construtiva da humanidade tem
razão idealista.
• Concepção Materialista - Surgiu em oposição à concepção idealista, embora
adotando o mesmo método dialético. A partir da publicação do Manifesto
Comunista de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels lançam as bases do Materialismo
Histórico, onde argumentavam que as transformações que a História viveu e viverá
foram e serão determinadas pelo fator econômico e pelas condições de vida material
dominantes na sociedade a que estejam ligadas. A preocupação primeira do homem
não são os problemas de ordem espiritual, mas os meios essenciais de vida:
alimentação, habitação, vestimenta e instrumentos de produção. No prefácio de
"Crítica da Economia Política", Karl Marx escreveu: "As causas de todas as
mudanças sociais e de todas as revoluções políticas, não as devemos procurar na
cabeça dos homens, em seu entendimento progressivo da verdade e da justiça
eternas, mas na vida material da sociedade, no encaminhamento da produção e das
trocas".
• Concepção Psicológico-social - Apóia-se na teoria de que os acontecimentos
históricos são resultantes, especialmente, de manifestações espirituais produzidas
pela vida em comunidade. Segundo seus defensores, que geralmente se baseiam em
Wilhelm Wundt ("Elementos de Psicologia das Multidões"), os factos históricos são
sempre o reflexo do estado psicológico reinante em determinado agrupamento
social.

CRISTIANISMO E DIVISÃO DA HISTÓRIA

A referência de maior aceitação para se contar o tempo, atualmente, é o "nascimento de


Cristo". Mas já houve outras referências importantes no Ocidente: os gregos antigos tinham
como base cronológica o início dos jogos olímpicos; os romanos, a fundação de Roma.
Ainda hoje, os árabes contam seu tempo pela Hégira, a emigração (não fuga) de Maomé de
Meca para Medina.

VISÕES DA HISTÓRIA

• "O homem nao vive somente de pão; a História não tinha mesmo pão; ela não se
alimentava se não de esqueletos agitados, por uma dança macabra de autômatos. Era
necessário descobrir na História uma outra parte. Essa outra coisa, essa outra parte,
eram as mentalidades".[3] (Jacques Le Goff)
• "A História procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as
sociedades humanas. As transformações são a essência da História; quem olhar para
trás, na História de sua própria vida, compreenderá isso facilmente. Nós mudamos
constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade.
Nada permanece igual e é através do tempo que se percebe as mudanças".[4]
• "A História como registro consiste em três estados, tão habilmente misturados que
parecem ser apenas um. O primeiro é o conjunto dos factos. O segundo é a
organização dos factos para que formem um padrão coerente. E a terceira é a
interpretação dos factos e do padrão". (Henry Steele Commager) [carece de fontes?]
• "Sem a História nós estaríamos em um eterno recomeço, não teríamos como avaliar
os erros do passado, para não errarmos novamente no futuro". (Rafael
Hammerschmidt)

HISTÓRIA ORAL

A História Oral é uma metodologia muito usada em pesquisas históricas e sociológicas.


Surgida como forma de valorização das memórias e recordações de indivíduos, é um
método de recolhimento de informações através de entrevistas com pessoas que
vivenciaram algum fato ocorrido.
Apesar de seu uso crescente, a sua credibilidade enquanto dado é questionada por parte de
alguns acadêmicos: o entrevistado pode ter uma falha de memória, pode criar uma trajetória
artificial, se auto-celebrar, fantasiar, omitir ou mesmo mentir. Mesmo diante dessa "não
confiabilidade da memória", conseguiu-se estabelecer uma metodologia bem estruturada
para a produção de dados a partir dos relatos orais.[1]
O que poderia ser percebido como um problema, acaba se transformando em um recurso,
uma vez que o próprio entrevistador, no ato de produção da narrativa histórica, não deixa
de produzir uma versão do que entendeu ter acontecido. Mesmo quando o pesquisador
tenha certeza de que o entrevistado esteja mentido conscientemente, cabe a ele,
entrevistador, tentar entender as razões da "mentira", ou seja, quais os motivos que estão
levando a pessoa a mentir, podendo ser aplicado o mesmo no caso da ilusão biográfica,
quando o indivíduo faz uma produção artificial de si mesmo. No caso de esquecimento,
para ajudar suprir essa falha, podem-se usar os chamados "apoios de memória", como
fotografias, objetos e outras coisas que possam ajudar o entrevistado a se recordar melhor
dos fatos em pesquisa.
Outra forte crítica à fidedignidade das fontes orais é a que elas são carregadas de
subjetividade. Essa subjetividade muitas vezes é percebida, mas é ela que muitas vezes faz
a diferença, pois as fontes orais contam-nos não apenas o que um povo ou um indivíduo
fez, mas também os seus anseios, o que acreditavam estar fazendo ou fizeram.
A fonte oral geralmente vem a ser uma das únicas formas de registro e estudo de algumas
sociedades ágrafas ou também de alguns setores marginalizados da sociedade, uma vez que
as classes dominantes, detentoras do controle sobre a escrita, por isso deixam registros mais
abundantes.
Muitos pesquisadores ainda acreditam que documentos escritos são "mais confiáveis" do
que as fontes orais. Note-se que, corriqueiramente, esses documentos não passam de
transmissões de relatos orais, sendo produzidos por homens, sendo susceptíveis, assim, das
mesmas "falhas". Edward Hallet Carr crítica esse "fetichismo" dos documentos, ao referir:
"...nenhum documento pode nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava – o
que ele pensava que havia acontecido, queria que os outros pensassem que ele
pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio pensava pensar. Nada disso significa
alguma coisa, até que o historiador trabalhe sobre esse material e decifre-o."
Apesar da dificuldade em definir o que seja uma fonte histórica, considera-se que a fonte
oral pode ser fidedigna para o trabalho dos historiadores. Mas, como qualquer documento,
merece um minucioso trabalho de crítica e interpretação, cabendo ao pesquisador usar a
história oral de maneira correta e buscar os fatos que forem relevantes ao seu trabalho.
Na História Oral pode-se fazer duas divisões em se tratando de relatos segundo o
historiador Gwyn Prins:
Existe uma tradição Oral: a qual representa um "testemunho oral transmitido de uma
geração para a seguinte ou as demais";
Existe também uma Reminiscência Pessoal: Evidência oral específica das experiências de
vida do informante.

HISTORIOGRAFIA

Historiografia (de "historiógrafo", do grego Ιστοριογράφος, de Ιστορία, "História" e


-γράφος, da raiz de γράφειν, "escrever": "o que escreve, ou descreve, a História"[1]) é uma
palavra polissémica. Designa não apenas o registro escrito da História, a memória
estabelecida pela própria humanidade através da escrita do seu próprio passado, mas
também a ciência da História.

A historiografia como meta-história

Se a História é uma ciência (cujo objeto é o passado da humanidade), tem que submeter-se,
como toda a ciência, ao método científico. Ainda que este não possa ser integralmente
aplicado a todos os campos das ciências experimentais, pode-se fazê-lo a um nível
equiparável ao das chamadas Ciências Sociais (ver metodologia e metodologia nas ciências
sociais).
Um terceiro conceito confluente no momento de definir-se a História como fonte de
conhecimento é a chamada Teoria da História, também denominada como "historiologia"
(termo cunhado por José Ortega y Gasset)[2]), cujo papel é o de estudar a estrutura, leis e
condições da realidade histórica (DRAE); enquanto que o da "historiografia" é o de relato
em si mesmo da história, da arte de escrevê-la (DRAE).
É impossível acabar com a polissemia e com a superposição destas três acepções, mas de
maneira simplificada, pode-se admitir: a história é o estudo dos feitos do passado; a
historiografia é a ciência da história e a historiologia a sua epistemologia.
A Filosofia da História é o ramo da filosofia que concerne ao significado da história
humana, se é que o tem. Especula acerca de um possível fim teleológico de seu
desenvolvimento, ou seja, pergunta-se se há um esboço, um propósito, princípio diretor ou
finalidade no processo da história humana. Não deve confundir-se com os três conceitos
anteriores, dos quais se separa claramente. Se o seu objeto é a verdade ou o dever ser, se a
história é cíclica ou linear, ou se nela existe a ideia de progresso, são matérias das quais
trata esta disciplina, alheias à história e à historiografia propriamente ditas.
Um enfoque intelectual, que tampouco contribui muito para entender a ciência histórica
como tal, é a subordinação do ponto de vista filosófico à historicidade, considerando toda a
realidade como produto de um devir histórico: esse seria o lugar do historicismo, corrente
filosófica que pode estender-se a outras ciências, como a Geografia.
Uma vez despojada da questão meramente nominal, resta para a historiografia, portanto, a
análise da história escrita, das descrições do passado; especificamente dos enfoques na
narração, interpretações, visões de mundo, uso das evidências ou documentos e os métodos
de sua apresentação pelos historiadores; e também o estudo destes, por sua vez sujeitos e
objeto da ciência.
A historiografia, de maneira restrita, é a maneira pela qual a história foi escrita. Em um
sentido mais amplo, a historiografia refere-se à metodologia e às práticas da escrita da
historia. Em um sentido mais específico, refere-se a escrever sobre a história em si.

Fontes historiográficas e seu tratamento

É importante distinguir a matéria-prima do trabalho dos historiadores (a fonte primária) do


produto acabados ou semi-acabado (fonte secundária e fonte terciária). Do mesmo modo,
importa notar a diferença entre a fonte e o documento e o estudo das fontes documentais: a
sua classificação, prioridade e tipologia (escritas, orais, arqueológicas); o seu tratamento
(reunião, crítica, contraste), e manter o devido respeito a essas fontes, principalmente com a
sua citação fiel. A originalidade do trabalho dos historiadores é uma questão delicada.

A historiografia como produção historiográfica

Historiografia é o equivalente a qualquer parte da produção historiográfica, ou seja: ao


conjunto dos escritos dos historiadores acerca de um tema ou período histórico específico.
Por exemplo, a frase: "é muito escassa a historiografia sobre a vida cotidiana no Japão na
Era Meiji" quer dizer que existem poucos livros escritos sobre esta questão, uma vez que
até ao momento ela não recebeu atenção por parte dos historiadores, e não porque esse
objeto de estudo seja pouco relevante ou porque haja poucas fontes documentais que
proporcionem documentação histórica para fazê-lo.[3]
No que diz respeito à difusão e divulgação da produção historiográfica, seria bom que
cumprisse os mesmos requisitos a que se submetem as demais publicações científicas (ver
publicação).
Também se utiliza o vocábulo "historiografia" para falar do conjunto de historiadores de
uma nação, por exemplo, em frases como esta: "a historiografia espanhola abriu os seus
braços e os seus arquivos a partir da década de 1930 para os hispanistas franceses e anglo-
saxão, que renovaram a sua metodologia."
É necessário diferenciar os dois termos utilizados acima: "produção historiográfica" e
"documentação histórica", ainda que em muitos casos coincida que os historiadores
utilizem como documentação histórica precisamente a produção historiográfica anterior.
Por exemplo: sobre um conjunto de documentos de arquivo da Casa de Contratação em
Sevilha que foi produzido apenas para fins de contabilidade;[4] ou qualquer material
arqueológico que esteja em uma escavação no Peru, e se depositou sem a intenção de que
alguém o encontrasse; um historiador americanista terá de usar a "Brevíssima Relação da
Destruição das Índias", que foi escrita por Frei Bartolomeu de Las Casas com um afã
histórico indubitável, além de com fins da defesa de um interesse ou do seu próprio ponto
de vista.[5]
Com este último vemos outra insuperável característica da História que a peculiariza como
ciência: nenhum historiador, por mais objetivo que pretenda ser, é alheio aos seus próprios
interesses, ideologia ou mentalidades, nem pode subtrair-se ao seu ponto de vista particular.
Quando muito, pode tentar a intersubjetividade, ou seja, ter em conta a existência de
múltiplos pontos de vista. Para o caso do exemplo em tela, contrastar as fontes de
Bartolomeu de las Casas com as demais vozes que se ouviram na Junta de Valladolid, entre
as quais se destacou a de seu rival, Juan Gines de Sepulveda, ou inclusive com a chamada
"voz dos vencidos", que raramente é preservada, mas às vezes sim, como acontece com a
"Nueva Crónica y Buen Gobierno" do inca Guaman Poma de Ayala.[6]
A reflexão sobre a possibilidade ou impossibilidade de um enfoque objetivo conduz à
necessidade de superar a oposição entre a objetividade (a de uma inexistente ciência "pura",
que não seja contaminada pelo cientista) e subjetividade (implicada nos interesses,
ideologia e limitações do cientista), com o conceito de intersubjetividade, que obriga a
considerar a tarefa do historiador, como o de qualquer cientista, como um produtor social,
inseparável do restante da cultura humana, em diálogo com os demais historiadores e com
toda sociedade como um todo.
Historiografia e perspectiva: o objeto da História
A história não tem outra alternativa senão seguir a tendência de especialização de qualquer
disciplina científica. O conhecimento de toda a realidade é epistemologicamente
impossível, ainda que o esforço de conhecimento transversal, humanístico, de todas as
partes da história, seja exigível a quem verdadeiramente queira ter uma visão correta do
passado.
A História, portanto, deve segmentar-se, não apenas porque a perspectiva do historiador
esteja contaminada com subjetividade e ideologia, mas porque ele deve optar,
necessariamente, por um ponto de vista, do mesmo modo que um cientista: se quiser
observar o seu objeto, deve optar por usar um telescópio ou um microscópio (ou, de forma
menos grosseira, que tipo de lente irá aplicar). Com o ponto de vista determina-se a seleção
da parte da realidade histórica que se toma como objeto, e que, sem dúvida, dará tanto a
informação sobre o objeto estudado como sobre as motivações de um historiador que o
estuda. Essa visão preferencial pode ser consciente ou inconsciente, assumida com maior
ou menor cinismo pelo historiador, e é diferente para cada época, para cada nacionalidade,
religião, classe social ou âmbito no qual o historiador pretenda situar-se.
A inevitável perda que supõe a segmentação, compensa-se pela confiança em que outros
historiadores farão outras seleções, sempre parciais, que devem complementar-se. A
pretensão de conseguir uma perspectiva holística, como o pretende a História total ou a
História das Civilizações, não substitui a necessidade de todas e cada uma das perspectivas
parciais como as que se tratam a seguir:

Recortes temporais

Os recortes temporais vão desde as periodizações clássicas (Pré-história, História, Idade


Antiga, Idade Média, Idade Moderna ou Idade Contemporânea), até às histórias por
séculos, reinados, e outras. A periodização clássica (ver a sua justificação em Divisão do
tempo histórico) é discutível, tanto pela necessidade de períodos de transição e de
solapamentos, como por não representar períodos coincidentes para todos os países do
mundo (razão pela qual foi acusada de eurocêntrica).
A Escola dos Annales foi uma das origens da fixação da memória dos feitos históricos em
muitas culturas (veja-se em seu verbete próprio e mais abaixo em Historiografia de Roma).
As crônicas (que em seu nome já indicam a intenção do recorte temporal) são usadas como
reflexo dos acontecimentos notáveis de um período, habitualmente um reinado (veja-se no
verbete próprio e mais abaixo em Historiografia da Idade Média e Historiografia espanhola
medieval e moderna). A arcontologia seria a limitação do registro histórico à lista de nomes
que ocupavam determinados cargos de importância ordenados cronologicamente. De fato, a
mesma cronologia, disciplina auxiliar da história, nasce em muitas civilizações, associada
ao cômputo do tempo passado que se fixa na memória escrita pelos nomes dos magistrados,
como ocorria em Roma, onde era mais comum citar um ano por ser o dos cônsules tais ou
quais. No Egito, a localização do tempo se fazia pelos faraós e dinastias. É muito
significativo que nas culturas não históricas, que não fixam mediante a escrita a memória
do seu passado, é muito freqüente que não se mantenha a duração concreta do tempo
passado mais do que uns poucos anos, que podem ser inclusive menos do que os que dura
uma vida humana.[7] Tudo o que ocorre fora dele é referido como faz muito tempo", ou
como no tempo dos antepassados, que passa a ser um tempo mítico, ahistórico.[8]
O tratamento cronológico é o mais utilizado pela maioria dos historiadores, pois é o que
corresponde à narrativa convencional, e o que permite ligar as causas passadas com os
efeitos no presente ou no futuro. No entanto, ele é usado de várias maneiras: por exemplo, o
historiador deve sempre optar por um tratamento síncrono ou diacrônico do seu estudo dos
fatos, ainda que muitas vezes se façam os dois.
o tratamento diacrônico estuda a evolução temporal de um fato, por exemplo, a formação
da classe operária na Inglaterra ao longo dos séculos XVIII e XIX.
o tratamento síncrono, concentra-se nas diferenças que o fato histórico estudado tem ao
mesmo tempo, mas em diferentes níveis, por exemplo: compara a situação da classe
trabalhadora na França e na Inglaterra, na conjuntura da revolução de 1848 (ambos os
exemplos foram referidos a partir de Edward Palmer Thompson.[9]
Períodos ou momentos especialmente atraentes para os historiadores acabam convertendo-
se, pela intensidade do debate e do volume de produção em verdadeiras especialidades, tais
como a história da Guerra Civil Espanhola, a história da Revolução Francesa a da
Independência dos Estados Unidos da América, ou a da Revolução Soviética, por exemplo.
Também devem ser consideradas as diferentes concepções de tempo histórico, que, de
acordo com Fernand Braudel vão da longa duração ao evento pontual, passando pela
conjuntura.
Recortes metodológicos: as fontes não escritas

No caso do período pré-histórico, a diferença radical entre fontes e método (assim como a
divisão burocrática das cátedras universitárias) fazem com que seja uma ciência muito
distante daquela feita pelos historiadores, sobretudo quando tais fontes e métodos se
prolongam, dando primazia à utilização das fontes arqueológicas e ao estudo da cultura
material em períodos para os quais já existam fontes escritas, falando-se então não da Pré-
história, mas sim propriamente da Arqueologia com as suas próprias periodizações
(Arqueologia clássica, Arqueologia Medieval e mesmo Arqueologia Industrial). Uma
diferença menor pode ser encontrada com o uso de fontes orais, no que é chamado de
História Oral. Não obstante, há que recordar o que foi dito (ver acima recortes temporais)
acerca da primazia das fontes escritas e o que estas determinam à ciência historiográfica e à
própria consciência da história em seu protagonista, que é toda a humanidade.

Recortes Espaciais

São exemplos de recortes espaciais a História continental, a História nacional e a História


regional. O papel da história nacional na definição das próprias nações é inegável (para a
Espanha, por exemplo, desde as Crônicas medievais até à História do Padre Mariana; veja-
se ainda nacionalismo). Também como exemplo, veja-se em História da História) como os
historiadores se agrupam distintamente por nacionalidade, por época ou por tendência.
A Geografia dispõe de conceitos não tão potentes porém não menos arbitrários, que têm
permitido edificar o prestigioso ramo da Geografia regional. A História local é, sem dúvida,
a de mais fácil justificação e de validade universal, sempre que supere o nível da simples
erudição (que ao menos sempre servirá como fonte primária para obras de maior ambição
explicativa).

Recortes Temáticos

São os que dão lugar a uma história setorial, presente na historiografia desde a antiguidade,
como ocorre com a:
História Política, reduzida à história dos eventos ou categorizada na História das
instituições, História dos sistemas políticos, História do Direito e História Militar;
História Econômica, às vezes geminada com a História Social, no entanto, também pode ser
entendida como História do movimento operário ou uma história mais universal, a dos
movimentos sociais;
História da Igreja, tão antiga como ela mesma, ou a história das religiões, nascida pela
necessidade de tornar o seu estudo comparativo;
História da Arte, nascida ainda na Antiguidade Clássica com a valorização da sua produção
artística e de seu passado;
mais recente do que estas, mas englobando-as de algum modo, a História das ideias, que
pode incluir as crenças, as ideologias ou a História da ciência e da tecnologia e com elas
subdividir-se até ao infinito: História das doutrinas econômicas, História das doutrinas
políticas, etc.;
Uma das formas de se perguntar qual é o objeto da História é através da escolha do que é
que merece ser mantido na memória, quais são os fatos memoráveis. São todos, ou são
apenas aqueles que o historiador considera transcendentais? Na lista acima, temos algumas
respostas que cada um pode dar.
Algumas destas denominações encerram não uma simples divisão, mas sim visões
metodológicas opostas ou divergentes, que se têm multiplicado nos últimos cinqüenta anos.
A história é hoje mais plural do que nunca, dividida em uma multiplicidade de
especialidades tão fragmentada que muitos dos seus ramos não se comunicam entre si, sem
ter sujeito e objeto comuns:
a Microhistória, que se interessa pela especificidade dos fenômenos sociais a partir de uma
perspectiva que tem sido comparada a uma lupa de aumento;
a História da vida quotidiana, a partir de uma mesma seleção do objeto, abre depois o
campo de visão buscando a generalização;
a História da mulher ou os chamados estudos de gênero, como muitas histórias transversais
que, por vezes, podem ser colocadas como uma história das minorias, ou discriminar-se
tematicamente como a história da sensibilidade, ou a história da sexualidade;
alterações na história econômica como a cliometria ou a história da empresa;
a História cultural, que registra um novo impulso após várias décadas;
a História do tempo presente, criada na década de 1980 e que está interessada nos grandes
avanços do nosso tempo;
a climatologia e a genética, que junto com outras disciplinas, estão se deixando notar mais
no debate historiográfico, através da história ambiental ou ecohistória, nos cada vez mais
utilizados estudos de genética populacional.

Ciências auxiliares da História

A fragmentação do objeto histórico pode induzir, em algumas ocasiões, a uma limitação


muito forçada da perspectiva historiográfica. Levada a um extremo, pode-se reduzir a
história à ciência auxiliar daquela de que se serve para encontrar explicação para os fatos
do passado, como por exemplo a Economia, a Demografia, a Sociologia, a Antropologia ou
a Ecologia.
Em outras ocasiões, a limitação do campo de estudo produz realmente um "gênero
historiográfico":

Gêneros Historiográficos

Pode assinalar-se que há "gêneros historiográficos" que participam da História mas que
podem chegar a aproximar-se mais ou menos dela: num extremo encontram-se os terrenos
da ficção ocupados pela novela histórica, cujo valor desigual não diminui a sua
importância. Outro extremo é ocupado pela Biografia e um gênero anexo, sistemático e
extraordinariamente útil para a história geral como é a Prosopografia. Vinculada à história
desde o começo do registro escrito, uma de suas principais preocupações no momento de
estabelecer os dados foi o que hoje chamamos Arcontologia (as listas de reis e dirigentes).

Correntes Historiográficas: sujeito da história

De modo mais explícito, as correntes historiográficas normalmente explicitam a sua


metodologia de uma forma combativa, como o Providencialismo, de origem Cristã
(convém recordar que, para além da tradição historiográfica grega Heródoto e Tucídides, a
origem da nossa historiografia é a História sagrada) ou o Materialismo histórico de origem
marxista (que triunfou nos ambientes intelectuais e universitários europeus e americanos
em meados do século XX, permanecendo adormecido desde a queda do Muro de Berlim).
[10]
Às vezes a rotulação das correntes é obra de seus detratores, com o que os historiadores ali
identificados podem ou não concordar com o modo pelo qual foram definidos. Este tipo de
coisa poderia ser dito do próprio providencialismo, mas seria mais apropriado para
correntes mais modernas, como o positivo burguês, a história dos eventos (dos
acontecimentos) e outras.
É sempre necessário interpretar a historiografia como parte da atmosfera intelectual da
época em que se coloca. Qualquer produção cultural é dependente do modelo cultural
existente, chamando-se a isso moda, estilo ou paradigma dominante na arte ou na filosofia,
e é evidente que o registro da história é uma produção cultural. A desconstrução, o
pensamento débil ou a pós-modernidade, conceitos do final do século XX, foram a
incubadora da atual desconstrução da história, que para alguns é apenas uma narrativa.[11]
Uma boa maneira de distinguir a interpretação da história que tem uma determinada
corrente historiográfica atual é perguntar-lhe a quem considera "sujeito histórico" ou
verdadeiro protagonista da história.

Agrupamentos de historiadores

Grupos de historiadores que partilham metodologias (e se autopromovem conjuntamente


com o poderoso mecanismo publicação-citação) surgem por vezes em torno de revistas,
como a escola francesa dos Annales, a inglesa Past and Present ou a italiana Quaderni
Storici; grupos de investigação ou as próprias cátedras universitárias, que são a cúspide da
reprodução das elites historiográficas, através do clientelismo e do reconhecimento entre
pares ("peer review").

A História da História

O surgimento da História é equivalente ao da escrita, mas a consciência de estudar o


passado ou de deixar para o futuro um registro da memória é uma elaboração mais
complexa do que as anotações dos templos da Suméria.[12] As estelas e relevos
comemorativas de batalhas na Mesopotâmia e no Egito já são algo mais aproximado.
As demais civilizações asiáticas alcançaram a escrita e a história em seu próprio ritmo, pela
compilação das suas fontes teológicas sob a forma de livros sagrados - por vezes com
trechos históricos (como a Bíblia hebraica) ou sofisticações cronológicas (como os Vedas
hindu) -, registram os seus próprios anais e finalmente a sua própria historiografia, em
especial na China,[13] que tem o seu Heródoto em Sima Qian ("Memórias históricas", 109
a.C. – 91 a.C.) e alcançou uma definição clássica história tipificada, oficial, com o Livro
dos Han de Ban Gu (século I), que estabeleceu um padrão repetido sucessivamente pelos
historiadores dos períodos seguintes, de vinte e cinco "histórias tipificadas" até 1928, data
em que apareceu a última dessa monumental série..[14]
No continente americano, salvo a civilização Maia, não há textos, de forma alguma,
comparáveis. No entanto, o desenvolvimento e a variedade que a historiografia alcançou na
Civilização Ocidental é de um nível diferente a todas elas.
Grécia

Os primeiros Gregos, que se interessaram sobretudo sobre os mitos de criação (os


logógrafos), já praticavam a recitação dos eventos. A sua narração podia apoiar-se em
escritos, como foi o caso de Hecateu de Mileto, na segunda metade do século VI a.C.. No
século V a.C. Heródoto de Halicarnaso diferenciou-se deles pela sua vontade de distinguir
o verdadeiro do falso; por isso, realizou a sua "investigação" (etimologicamente "História").
Uma geração mais tarde, com Tucídides, esta preocupação tornou-se crítica, com base na
confrontação de diferentes fontes orais e escritas. A sua "História da Guerra do
Peloponeso" pode ser vista como a primeira obra verdadeiramente historiográfica.

Os seguidores do novo género literário inaugurado por Heródoto e Tucídides foram muito
numerosas na Grécia Antiga e, entre eles contam-se Xenofonte (autor do "Anábasis"),
Posidónio Ctésias, Apolodoro de Artémis, Apolodoro de Atenas e Aristóbulo de Casandrea,
entre outros (Ver literatura grega e historiografia helenística)

No século II a.C. Políbio, em sua obra "Pragmateia" (traduzido também como "História"),
talvez tentando escrever uma obra de Geografia, abordou a questão da sucessão dos
regimes políticos para explicar como é que o seu mundo entrou na órbita romana. Ele foi o
primeiro a procurar causas intrínsecas para o desenvolvimento da história, mais do que
invocar princípios externos. Nesta fase do período helenístico, a biblioteca e o Museu de
Alexandria representavam o ápice do afã grego em preservar a memória do passado, o que
significa a sua valorização como uma ferramenta útil para o presente e o futuro.

Roma

A civilização romana dispõe, à semelhança dos gregos Homero e Hesíodo, de mitos de


origem recolhidos por Virgílio que os poetizou na Eneida como um elemento do programa
ideológico desenhado por Augusto. Também, pelo menos desde a República, teve um
cuidado especial pela recopilação de feitos em anais, a legislação escrita e os arquivos
vinculados ao sagrado dos templos. Até às guerras púnicas a recopilação dos principais
sucessos ocorridos estava a cargo dos pontífices, sob a forma de crónicas anuais.

A primeira obra histórica latina completa é "As Origens" de Catão, do século III a.C..

O contacto de Roma com o mundo Mediterrâneo, primeiro com Cartago, mas sobretudo
com a Grécia, o Egipto e o Oriente, foi fundamental para ampliar a visão e utilidade do seu
género histórico. Os historiadores (quer romanos quer gregos) acompanharam os exércitos
nas campanhas militares, com o objectivo declarado de preservar a sua memória para a
posteridade, de recolher informações úteis e de justificar as suas acções. A língua culta, o
idioma grego, foi utilizado para este género, a par da mais sóbria, o Latim.

Salústio, o Tucídides romano, escreveu De Coniuratione Catilinae (A conjuração de


Catilina, da qual foi contemporâneo, no ano de 63 a.C.). Faz um extenso relato das causas
remotas da conjuração, assim como das ambições de Catilina, retractado como um nobre
degenerado e sem escrúpulos. Em Bellum Ingurthinum ("A Guerra de Yugurta" rei dos
númidas, 111 a.C. – 105 a.C.), denuncia um escândalo colonial. Historiae foi a sua obra
mais ambiciosa e madura, parcialmente conservada que abrange, em cinco livros, os doze
anos transcorridos após a morte de Sila em 78 a.C. até 67 a.C.. Não e a precisão histórica
que lhe interessa e sim a narração de alguns factos com as suas causas e consequências,
assim como a oportunidade de esclarecer o processo de degeneração em que a República se
viu imersa. Além dos indivíduos, o objecto da sua observação centra-se nas classes sociais
e nas facções políticas: idealiza um passado virtuoso, e detecta um processo de decadência
que atribui aos vícios morais, à discórdia social e ao abuso do poder pelas diferentes
facções políticas.

Júlio César com o seu "Commentarii Rerum Gestarum", acerca de duas das maiores
operações militares que conduziu, as Guerras da Gália (58 a.C. – 52 a.C.) (De Bello
Gallico) e a guerra civil (49 a.C. – 48 (De Bello Civili).

Tito Lívio (59 a.C. – 17), com os cento e quarenta e dois livros de "Ab Urbe Condita",
divididos em grupos de dez livros, conhecidos como "Décadas", actualmente perdidos em
sua maior parte, escreveu uma grande História nacional, cujo único tema é Roma ("fortuna
populi romani"), e cujos únicos actores são o Senado e as pessoas de Roma ("senatus
populusque romanus", SPQR). O seu objectivo geral é ético e didáctico; os seus métodos
foram os do grego Isócrates do século IV a.C.: é dever da História dizer a verdade e ser
imparcial, mas a verdade deve apresentar-se de uma maneira elaborada e literária. Ele
utilizou como fonte os primeiros analistas e Políbio, mas o seu patriotismo levou-o a
distorcer a realidade em detrimento do exterior e a um espírito crítico pobre. É um
historiador de gabinete, não viaja nem conhece pessoalmente os cenários dos eventos que
descreve.

Tácito (55 - 120), o grande historiador do Império sob os Flávios, é, acima de tudo, um
investigador das causas.

A lista de historiadores da época romana é vasta, tanto em língua latina (Plínio, o velho,
Suetónio e outros[16] ou grega (Estrabão, Plutarco).

Na decadência de Roma, o Cristianismo virá a dar uma mudança metodológica radical,


introduzindo o providencialismo de Agostinho de Hipona. É exemplo Orósio, presbítero
hispânico de Braga ("Historiae adversum paganus").

Idade Média

A historiografia medieval é feita principalmente por hagiógrafos, cronistas, membros do


clero episcopal próximos ao poder, ou pelos monges. Escrevem-se genealogias, áridos
anais, listas cronológicas de acontecimentos ocorridos nos reinados dos seus soberanos
(anais reais) ou da sucessão de abades (anais monásticos); "vidas" (biografias) de carácter
edificante, como as dos santos Merovíngios, ou, mais tarde, dos reis da França), e
"histórias" que contam o nascimento de uma nação cristã, exaltam uma dinastia ou,
inversamente, fustigam os ignóbeis de uma perspectiva religiosa. Esta história, de que são
exemplos Beda, o venerável ("História Ecclesiástica Gentis Anglorum", século VIII) ou
Isidoro de Sevilha ("Etimologias" e "Historia Gothorum"), é providencialista, de inspiração
agostiniana, e circunscreve as acções dos homens nos desígnios de Deus. É preciso esperar
até ao século XIV para que os cronistas se interessem pelo povo, o grande ausente da
produção deste período, como por exemplo, a do francês Jean Froissart ou do florentino
Matteo Villani.

Idade Moderna

Durante o Renascimento, o Humanismo trouxe um gosto renovado pelo estudo dos textos
antigos, gregos ou latinos, mas também pelo estudo de novos suportes: as inscrições
(epigrafia); as moedas (numismática) ou as cartas, diplomas e outros documentos
(diplomática). Estas novas ciências auxiliares da era moderna contribuíram para enriquecer
os métodos dos historiadores: em 1681 Dom Mabillon indicou os critérios para determinar
a autenticidade de um registro, pela comparação de diferentes fontes em "De Re
Diplomática". Em Nápoles, mais de duzentos anos antes, Lorenzo Valla, a serviço de
Afonso V de Aragão tinha conseguido demonstrar a falsidade da Doação de Constantino.
Giorgio Vasari com a obra "As vidas" ofereceu, por sua vez, uma fonte e um método
historiográfico para a História da Arte.

Neste período a história não é diferente da geografia e nem mesmo das ciências naturais. É
dividida em duas partes: a história geral (actualmente denominada simplesmente como
"história") e a história natural (actualmente as ciências naturais e a geografia). Este sentido
amplo de história pode ser explicado pela etimologia da palavra (ver História).

A questão da unidade do reino que se colocou pelas guerras de religião na França no século
XVI, deu origem a trabalhos de historiadores que pertencem à corrente chamada de
"história perfeita", que mostra que a unidade política e religiosa da França moderna é
necessária, ao derivar-se de origens Gaulesas (Etienne Pasquier, "Recherches de la
France"). O providencialismo de autores como Jacques-Bénigne Bossuet ("Discurso sobre
a história universal", 1681), tende a desvalorizar o significado de qualquer mudança
histórica.

Ao mesmo tempo, a história se mostra como um instrumento de poder: põe-se ao serviço


dos príncipes, desde Nicolau Maquiavel até aos panegiristas de Luís XIV de França, entre
os quais se incluiu Jean Racine.

Iluminismo

No século XVIII, ocorreu uma mudança fundamental: as abordagens intelectuais do


Iluminismo por um lado, e a descoberta de um "outro" em culturas fora da Europa (o
exotismo, o mito do "bom selvagem") por outro, suscitam um novo espírito crítico (embora,
na realidade, fossem circunstâncias semelhantes às que se podiam observar em Heródoto).
São postos em questão os prejuízos culturais e o universalismo clássico.
A descoberta de Pompéia renovou o interesse pela Antiguidade clássica (neoclassicismo) e
fornece os materiais que inauguram uma ciência emergente da arqueologia. As nações
européias distantes do Mediterrâneo buscam as suas origens históricas nos mitos e lendas
que, por vezes, foram inventadas (como em "Ossian" de James Macpherson, que simulou
ter encontrado o Homero Celta).

Também se interessam pelos costumes nacionais os franceses François Fénelon, Voltaire


("História do império russo sob Pedro, o Grande" e "O século de Luís XIV", 1751) e
Montesquieu, que teorizou sobre ele em "O Espírito das Leis". Na Inglaterra, Edward
Gibbon escreveu a sua monumental obra "História do declínio e queda do Império
Romano" (1776-1788), onde fez da precisão um aspecto essencial do trabalho do
historiador.

Os limites da historiografia no século XVIII são a submissão à moral e a inclusão de juízos


de valores, de modo que o seu objectivo continua limitado.

Na Espanha destaca-se a publicação de "España Sagrada", do padre agostiniano Enrique


Flórez, recompilação de documentos de história eclesiástica, expostos com critério
ultraconservador (1747 e continuada após a sua morte, até ao século XX) e a "Historia
crítica de España" do jesuíta desterrado Juan Francisco Masdeu; a partir de uma
perspectiva mais ilustrada temos o regalista Melchor Rafael de Macanaz, o crítico Gregorio
Mayans y Siscar (um dos seus discípulos, Francisco Cerdá y Rico, tentou imitar Lorenzo
Valla ao discutir a veracidade do voto de Santiago medieval), e mais tarde, nesse mesmo
século, ao próprio Gaspar Melchor de Jovellanos, Juan Sempere y Guarinos, Eugene
Larruga y Boneta ("Memorias políticas y económicas"), e ao excelente documento
recompilatório que é "Viaje de España" de Antonio Ponz. A meio caminho entre as duas
tendências encontra-se o exemplo de Juan Pablo Forner, casticista na sua famosa "Oración
apologética por España y su mérito literiario" (1786) e reformista em outras obras,
publicadas após a sua morte.

Século XIX

O século XIX foi um período rico em mudanças, tanto na maneira de conceber a história
como na de escrevê-la.

Na Alemanha, esta evolução havia se produzido antes, e já estava presente nas


universidades da Idade Moderna. Agora, a institucionalização da disciplina deu lugar a
vastos corpos que reuniam e transcreviam as fontes, sistematicamente. Entre estes, o mais
conhecido é o "Monumenta Germaniae Historica", a partir de 1819. A História ganha uma
dimensão de erudição, mas também de actualidade. Pretende rivalizar com as demais
ciências, sobretudo com o grande desenvolvimento que estas atravessam, à época. Theodor
Mommsen contribui para dar à erudição as suas bases críticas, em seu "Römische
Geschischte" ("História de Roma", 1845-1846), além de ter colaborado no citado
"Monumenta Germaniae Historica" e no "Corpus Inscriptionum Latinarum".
Na França, foi considerada como uma disciplina intelectual distinta de outros géneros
literários desde o começo do século, quando os historiadores profissionalizaram-se e
fundaram os arquivos nacionais franceses (1808). Em 1821 fundou-se a "Ècole nationale
des Chartes", primeira grande instituição para o ensino da História no país.

A partir da década de 1860, o historiador Fustel de Coulanges escreveu "a história não é
uma arte, é uma ciência pura, como a física ou a geologia". Sem dúvida, a história implica
no debate da sua época e é influenciada pelas grandes ideologias, como o liberalismo de
Alexis de Tocqueville e François Guizot. Sobretudo deixou-se influenciar pelo
nacionalismo e mesmo pelo racismo. Coulanges e Mommsen transladaram para o debate
historiográfico o enfrentamento da Guerra franco-prussiana de 1870. Cada historiador tende
a encontrar as qualidades de seu povo (o "génio"). É o momento de fundação das grandes
histórias nacionais.

Os historiadores românticos, como Augustin Thierry e Jules Michelet, mantendo a


qualidade da reflexão e a exploração crítica das fontes, sem receando espraiar-se no estilo,
mantiveram-na como uma arte. Os progressos metodológicos não impediram contribuir
para as ideias políticas de seu tempo. Michelet, em sua "História da Revolução Francesa"
(1847-1853), contribuiu igualmente para a definição da nação francesa contra a ditadura
dos Bonaparte, assim como para o revanchismo antiprussiano (faleceu pouco depois da
batalha de Sedan). Com a Terceira República Francesa, o ensino da História conformou-se
a um instrumento de propaganda a serviço da formação dos cidadãos, e continuou a sê-lo
durante todo o século XX.

Outro dos fundadores da historiografia no século XIX foi Leopold Von Ranke, que se
destacou pela sua elevada crítica com as fontes usadas na História. Adepto das análises e
das racionalizações, o seu lema era "escrever a História tal como foi". Desejava relatos de
testemunhas visuais, enfatizando sobre o seu ponto de vista.

Hegel e Karl Marx introduziram o viés social na História. Os historiadores anteriores


haviam concentrado-se nos ciclos ciclos de apogeu e crise dos governos e das nações. Uma
nova disciplina emergente trouxe a análise e a comparação em grande escala: a Sociologia.
A partir da História da Arte, estudos como o de Jacob Burckhardt sobre o Renascimento
converteram-se na referência para entender os fenómenos culturais. A Arqueologia pôs em
contacto o mito com a realidade histórica, tanto no Egipto como na Mesopotâmia e Grécia
(Heinrich Schliemann em Tróia, Micenas e Tirinto, e mais tarde Arthur Evans em Creta);
tudo isso em um ambiente romântico e aventureiro que lentamente foi-se depurando para
tornar-se científico, ainda que não desapareça, como demonstra a tardia aparição de de
Howard Carter (Tutankhamon) e a imagem popular dos arqueólogos que se perpetua no
cinema (Indiana Jones). A Antropologia aplicada à explicação dos mitos produziu o
monumental trabalho de James George Frazer ("The Golden Bough; a Study in Magic and
Religion" ("O ramo de ouro", 1890), a partir do qual os historiadores puderam repensar o
seu ponto de vista sobre a relação das sociedades humanas de todas as épocas com a magia,
a religião e inclusive a ciência.

Durante o século XIX, a Espanha conseguiu preservar o seu património documental com a
criação da Biblioteca Nacional de Espanha e do Arquivo Histórico Nacional da Espanha,
mas não se distinguiu por uma grande renovação da sua historiografia que, salvo o
arabismo de Pascual de Gayangos, ou da historia económica de Manuel Colmeiro, aparece
dividida entre uma corrente liberal (Modesto Lafuente y Zamalloa, Juan Valera), e outra
reaccionária, cujo expoente, o erudito e polígrafo Marcelino Menéndez y Pelayo (Historia
de los heterodoxos españoles), é uma digna continuação da tradição que nasceu com Santo
Isidoro e passou pela Historia do Padre Mariana e pela España Sagrada do Padre Flórez.

O século XX

A história vai se afirmando como uma ciência social, uma disciplina científica envolvida
com a sociedade. Nos princípios do século XX, a história já havia adquirido uma dimensão
científica incontestável.

A história, entre o positivismo e o ensaísmo

Instalado no mundo académico, erudito, a disciplina foi influenciada por uma versão
empobrecida do positivismo de Auguste Comte. Pretendendo objectividade, a história
limitou o seu objecto: o fato ou evento isolado, o centro do trabalho de um historiador, é
considerado como a única referência para responder correctamente ao imperativo da
objectividade. Tampouco se ocupa por estabelecer relações de causalidade, substituindo por
retórica o discurso que se pretendia científico.

Simultaneamente, e em contraste, desenvolvem-se disciplinas similares, que tendem à


generalização como a história cultural e a história das ideias, com Johan Huizinga ("O
Outono da Idade Média") ou Paul Hazard ("A crise da consciência europeia") entre os seus
iniciadores. Ensaístas como Oswald Spengler ("O Declínio do Ocidente"), e Arnold J.
Toynbee ("Um Estudo da História") em controvérsia famosa, publicam profundas reflexões
sobre o próprio conceito de civilização, que juntamente com a "Revolta das Massas" ou
"España invertebrada", de José Ortega y Gasset obtiveram extraordinária divulgação, como
um reflexo do pessimismo intelectual do entre-guerras. Mais próximo ao método do
historiador, e não menos profundo, é o trabalho de seus contemporâneos, o Belga Henri
Pirenne ("Mohammed e Charlemagne", em português, "Maomé e Carlos Magno"), ou o
australiano Vere Gordon Childe (pai do conceito "Revolução Neolítica").

Contudo, a grande transformação na história dos eventos vem de contribuições externas:


Por um lado, o materialismo histórico de inspiração marxista, que introduz a economia nas
preocupações do historiador. Por outro lado, a perturbação provocadas pela historiografia
pelos desenvolvimentos políticos, técnicos, económicos ou sociais vividos pelo mundo,
sem esquecer os conflitos mundiais. Novas ciências auxiliares surgem ou desenvolvem-se
consideravelmente: a Arqueologia, a Demografia, a Sociologia e a Antropologia, sob a
influência do estruturalismo.

A Escola dos Annales

Uma escola de pensamento conhecida como Escola dos Annales formou-se em torno da
revista "Annales d'histoire économique et sociale", fundada por Lucien Febvre e Marc
Bloch em 1929, alargou o âmbito da disciplina, solicitando a confluência das outras
ciências, em particular a da Sociologia, e, de maneira mais geral transforma a história
ampliando o seu objeto para além do evento e inscrevendo-o na longa duração ("longue
durée"). Após o hiato da Segunda Guerra Mundial, Fernand Braudel continuou a editar a
revista e recorreu, pela primeira vez, à Geografia, à Economia e à Sociologia para
desenvolver a sua tese de "economia-mundo" (o exemplo clássico é o "O Mediterrâneo e o
mundo mediterrânico na época de Filipe II").

O papel do testemunho histórico muda: permanece no centro das preocupações do


historiador, mas já não é o objecto, senão o que se considera como um útil para construir a
história, útil que pode ser obtido em qualquer domínio do conhecimento. Uma constelação
de autores mais ou menos próximos à "Annales" participa dessa renovação metodológica
que preenche as décadas centrais do século XX (Georges Lefebvre, Ernest Labrousse).

A visão da Idade Média mudou completamente após uma releitura crítica das fontes, que
têm a sua melhor parte justamente no que não mencionam (Georges Duby).

Privilegiando a longa duração ao tempo curto da história dos eventos, muitos historiadores
propõem repensar o campo da história a partir dos "Annales", entre eles Emmanuel Le Roy
Ladurie ou Pierre Goubert.

"Nova História" é a denominação, popularizada por Pierre Nora e Jacques Le Goff ("Fazer
a História", 1973), que designa a corrente historiográfica que anima a terceira geração dos
"Annales". A nova história trata de estabelecer uma história serial das mentalidades, ou
seja, das representações colectivas e das estruturas mentais das sociedades.

Outros historiadores franceses, alheios aos "Annales" como Philippe Ariès, Jean Delumeau
e Michel Foucault, este último nas fronteiras da filosofia, descrevem a história dos temas da
vida quotidiana, como a morte, o medo e a sexualidade. Querem que a história escreva
sobre todos os temas, e que todas as perguntas sejam respondidas.

De uma orientação completamente oposto (a da direita católica), Roland Mousnier realizou


uma contribuição decisiva para a História Social do Antigo Regime, negando a existência
de luta de classes e inclusive dessas mesmas classes, em benefício do que descreve como
uma sociedade de ordens e relações clientelistas..[21]

A historiografia francesa repensa a sua Revolução

Foi dito que cada geração tem o direito de reescrever a história.[22] Na esfera académica, a
revisão das maneiras de compreender o passado é parte da tarefa do historiador
profissional. Até que ponto é que essa revisão surge cientificamente, como uma distorção
das certezas anteriormente estabelecidas (Karl Popper) e não pseudo-cientificamente, como
faria o que se denomina pejorativamente de revisionismo historiográfico, é algo difícil de
avaliar. Uma prova de toque seria detectar se o revisionista é um estranho ao mundo
académico, que se dedicada ao uso político da história, o que aliás é um vício comum: a
história sempre foi usada como uma arma para a transformação social e os meios
académicos nunca foram uma excepção. Na historiografia, ciência social, é difícil perceber
se nos encontramos diante de uma mudança de paradigma como os que estudou Thomas
Kuhn para as ciências experimentais ("História das Revoluções Científicas"),
principalmente porque nunca há um consenso tão universalmente partilhado como para
entender que o desvio dele seja uma revolução..[23]

Uma das grandes polémicas revisionistas (no bom sentido) veio com as comemorações do
segundo centenário da Revolução Francesa (1989). Autores de tendência estruturalista,
próximos à "Annales" (François Furet ou Denis Richet), sintetizaram os estudos das
décadas de 1970 e 1980, em que se pretendia ser um novo paradigma interpretativo
alternativo ao marxismo que havia dominado a história social do período: Albert Soboul,
Jacques Godechot, e, mais recentemente Claude Mazauric, Michel Vovelle ou Crane
Brinton ("Anatomia de uma Revolução"). Distante de ambas as tendências, Simon Schama
e os novos narrativistas fazem uma história cultural do político e muito narrativa,
antiestructuralista e de tintas tendencialmente conservadoras (iniciada por Richard Cobb já
na década de 1970). Além disso, mantém à frente a "Nouvelle Histoire Politique" de René
Rémond. Arno Mayer lamenta que a revisão haja dado lugar um uso político da história, no
qual se condenam, "a priori", as revoluções como intrinsecamente perversas.[24]

Um subgénero: as comemorações

Por outro lado, a utilização da história para celebrar acontecimentos que atendam a anos
"redondos" (centenários, decenários, etc.) constitui-se numa oportunidade de destaque
profissional para os historiadores, de aproximação da disciplina do grande público e de álibi
para diferentes tipos de justificações. O bicentenário dos Estados Unidos da América
(1976) havia sido um precedente difícil de superar, em termos de cobertura mediática e
custos económicos. A mais recente, no caso da Espanha foi a da Guerra Civil Espanhola
(1976, com a inovadora exposição do Palacio de Cristal do Retiro da qual foi curador
Javier Tusell; 1986, o cinquentenário que se aproveitou para recordar, particularmente, a
Machado e a Garcia Lorca com a esquerda no poder; 1996; 2006, com discussões sobre a
memória histórica), Carlos III de Espanha (1988, na emulação da paralela preparação do
bicentenário francês), o "Quinto Centenario del Encuentro entre dos Mundos" (1992),
Cánovas (1998), o "Año Quijote" (2005). Existe mesmo a Sociedad Estatal de
Conmemoraciones Culturales, que mantém um movimentado calendário..[25]

Sem a necessidade de celebrar algo mais concreto do que a sua próprio intemporalidade,
mas com o mesmo zelo justificativo (no que leva milénios de vantagem), a Igreja Católica
espanhola tem feito o mais notável conjunto de exposições: "Las Edades del Hombre",[26]
uma revisão temática dos assuntos religiosos ilustrada sucessivamente com diferentes
suportes histórico-artísticos elegantemente seleccionados e expostos (livros, músicas,
esculturas, etc.) de maneira itinerante pelas catedrais de Castilla y León, as quais em si
mesmas já justificam as visitas. O mesmo formato e curador teria "Imaculada", para
assinalar os 150 anos de aniversário do dogma (Catedral da Almudena, Madrid, 2006) e que
serviu para compensar a recente inauguração do edifício, de gosto e decoração discutíveis.
Inspirada nelas foi realizado pelo Governo de Navarra a exposição "Las Edades de un
Reino" (Pamplona 2006, coincidindo com o centenário de São Francisco Xavier em Javier).
A historiografia anglo-saxónica

Os Estados Unidos são muito pródigos na experimentação de novas abordagens


metodológicas, entre as quais:

• o quantitativismo da cliometria ou "new economic history" ("nova história


económica") estadunidense de Robert Fogel e Douglass North, laureados com o
Prémio Nobel de Economia de 1993 (dos poucos historiadores que receberam o
Nobel, com os de literatura Theodor Mommsen e Winston Churchill).
• os estudos de caso (a partir da década de 1970). Um estudo de caso é um método
particular de investigação qualitativa. Em vez de utilizar grandes bases de dados e
rígidos protocolos para examinar um número limitado de variáveis, este método
envolve um corte longitudinal de um caso: um único facto. A história se aproxima
do método experimental.[27]
• a chamada "World History" (desde a década de 1980), que compara as diferenças e
semelhanças entre regiões do mundo e chega a novos conceitos para descrevê-las
(considera-se Arnold J. Toynbee como um precursor).

Também é digno de nota o papel dos Estados Unidos como anfitrião dos intelectuais
europeus antes e depois da Segunda Guerra Mundial, como foi o cado de Mircea Eliade, o
maior renovador da história das religiões ou história das crenças ("O sagrado e o profano",
"O mito do eterno retorno").

Mas a grande contribuição dos historiadores ingleses, que têm publicações comparáveis à
da "Revue des Annales" ("Past and Present"), está no cerne da principal corrente de
produção historiográfica, no caso desta revista, de tendência marxista, entre cujos destaques
se incluem autores da estatura de E. P. Thompson, Eric Hobsbawm, Perry Anderson,
Maurice Dobb, Christopher Hill, Rodney Hilton, Paul Sweezy, John Merrington e outros,
que, de modo algum devemos entender como uma tendência unitária, uma vez que, nos
anos da Segunda Guerra Mundial e nos do pós-guerra (em que muitos deles funcionaram
como o Grupo de Historiadores do Partido Comunista da Grã-Bretanha) foram se
afastando entre si e das posições marxistas ortodoxas, dando origem ao que tem sido
chamado de tendência "marxiana". As polémicas entre eles e com autores não-marxista
como H. R. Trevor-Roper, tornaram-se, merecidamente, famosas.

Cada autor deve ser visto através de sua posição pessoal, como a do estadunidense
Immanuel Wallerstein (também no domínio da história económica e social, que tem
desenvolvido um conceito de "sistema mundial" na linha de Fernand Braudel), o britânico
Steven Runciman (medievalista imprescindível para o estudo das Cruzadas), ou dos já
mencionados Arno Mayer, Richard Cobb, Crane Brinton ou Simon Schama.

História excêntrica. A mistificação. Falsear a história

Não pode deixar de referir-se o que poderia ser chamado de "história excêntrica", ou fora
do "consenso" ou campo central do trabalho dos historiadores "oficiais". Sempre existiu
literatura semelhante e poderia ser recordado um exemplo notável, como Ignacio Olagüe e
o seu livro "A Revolução Islâmica no Ocidente", que pretendeu provar a inexistência da
invasão árabe no século VIII, e que obteve alguma repercussão nas décadas de 1960 e
1970.[30]

Actualmente, o debate sobre a Segunda República Espanhola, a Revolução de Outubro de


1934 e a Guerra Civil Espanhola, que afecta inclusive questões como que data assumir
como o início da mesma,[31] está enchendo as prateleiras dos supermercados com uma
literatura que alguns chamam de revisionismo histórico, em paralelo com o negacionismo
do Holocausto.

Não é a espanhola a única historiografia que se defronta com a excentricidade: o caso mais
chamativo dos últimos anos foi, seguramente, a da atribuição da descoberta da América ao
almirante chinês Zheng He.[32]

Ultrapassar a fronteira da história excêntrica é ingressar em cheio na fraude histórica,


terreno em que há egrégios precedentes: a partir da "Doação de Constantino" (que pretendia
justificar o poder temporal dos papas) ao "Os Protocolos dos Sábios de Sião" (que
alimentaram o anti-semitismo e estão na origem da Conspiração Judaico-Maçónica). O caso
estapafúrdio mais recente (sem lograr alcançar o sucesso dos anteriores, na medida do
possível, em comparação com as tentativas fracassadas de falsificação da história, como os
plomos del Sacromonte), e o dos casos famosos (e falsos) dos "Diários de Hitler",
publicados pela revista alemã Stern em 1983, com os que um historiador tão sério como
Trevor Roper foi enganado ou deixou-se enganar.

A utilização da historiografia para falsear a história é tão antiga como a própria disciplina
(que teria que remontar pelo menos a Ramsés II e à Batalha de Kadesh), mas no século XX
a capacidade que o Estado e os meios de comunicação de massa (chamados de quarta
potência) alcançaram, permitiram aos regimes totalitários jogar com a capacidade de mudar
a história, não só em direcção ao futuro, mas para o passado. A novela 1984 de George
Orwell (1948) é um testemunho de que isso era credível. As fotografias retocadas foram
uma especialidade, não apenas de Stálin contra Trotsky, mas de Franco com Hitler.[33] O
próprio Winston Churchill tinha claro, mesmo dentro da democracia, que "a História será
amável comigo porque tenho a intenção de escrevê-la"[34] Reflectir sobre se a história é
escrita pelos vencedores é uma tarefa mais própria da filosofia da história.

A verdade é que, na história, tudo muda, nada é permanente, e muito menos a sua
ocultação, como evidenciado pelo debate sobre a escalada da malignidade, entre a esquerda
e a direita, que ainda dará tantos livros como o de Stéphane Courtois ("O livro negro do
comunismo", 1997).

ARCONTOLOGIA

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


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Arcontología (de a???? arconte, magistrado da pólis grega clássica e logos, ciência, tratado,
estudo), é o estudo histórico dos ocupantes de altos cargos e postos noEstado, na sociedade,
nas organizações políticas, religiosas, internacionais e demais espaços. Geralmente
apresenta uma cronologia e biografia dos indivíduos que ocuparam estes cargos, bem como
uma lista de sucessão destes e dado semelhantes. A arcontologia também é chamada de
cronologia institucional.

Se tomarmos como pressuposto que os governantes e representantes de um povo, nação ou


grupo expressam o resultado da disputa por poder entre diferentes atores sociais, ao
governante cabe exercer, por lei ou tradição, o exercício deste poder coletivamente
conquistado. Estudar estes indivíduos é prática característica da arcontologia desde a
antiguidade clássica, caracterizando estudos em história, em ciências políticas e em direito

Uma das primeiras terefas dos historiadores antigos foi estabelecer a cronologia dos
governantes anteriores e seus predecessores, situando-os em uma mesma linha de
desenvolvimento histórico. Como exemplo desta prática, temos as listas de reis Sumérios,
Egípcios (lista de Maneton, por exemplo, ou a Lista Real de Abidos) e Romanos (sua lista
de consules e o livro A vida dos doze cézares, de Suetônio). Outro exemplo é a obra do
século XVII Histoire de la maison royale de France et des grands officiers de la Couronne
(literalmente, História da casa real da França e dos altos funcionários de Corona, de R.
Anselme) é um exemplo de delineação do estado através dos indivíduos que ocupam (ou
ocuparam) seus principais cargos.

Serão nos séculos XIX e XX que aparecerão os trabalhos de caráter generalista que visam
compilar a lista de governantes por nações e épocas. O exemplo mais "enciclopédico"
destes trabalhos é Regenten der Welt, (literalmente, Regentes do mundo, ou Governantes
do mundo, de 1985 e 2001), livro tido como referência universal para chefes de estado de
todas as nações e épocas. Outro exemplo do século XX é o Handbook of British
Chronology (literalmente, Manual de cronologia britânica), combinando metodologia
cronológica, histórica e aportes teóricos.

Filosofia da História
Filosofia da História é o campo da filosofia ou da história (dentro da 'teoria da história')
que observa sobre a dimensão temporal da existência humana como existência humana
sócio-política e cultural; teorias do progresso, da evolução e teorias da descontinuidade
histórica; significado das diferenças culturais e históricas, suas razões e conseqüências.

Segundo Martins Filho,[1] conceitua-se a Filosofia da História como sendo a interpretação


da realidade histórica com base nas concepções filosóficas. Seriam várias as visões de
mundo a modelar a história, vendo, ou não, no caminhar do homem sobre a Terra um
sentido e qual é ele. "Somente se se admite esse sentido norteador do caminhar terreno do
homem é que se consegue dar unidade aos fatos históricos, compondo o quadro da
existência humana sobre a Terra."

No estudo da história devem ser levadas em conta, principalmente, duas dimensões: a


História como "realidade" - res gestae, ou seja o complexo dos fatos humanos no seu curso
temporal; e a História como "conhecimento" - narratio rerum gestarum, ou seja o relato
desses fatos humanos históricos.

Índice
• 1 Hegelianismo
• 2 Mudanças na Filosofia da História a partir do Positivismo
• 3 Referências
• 4 Bibliografia

• 5 Ligações externas

Hegelianismo
No livro Filosofia da História, de Hegel, logo na introdução se desenrola uma apreciação
de uma teoria sobre a história, dividida em cinco capítulos. Para Hegel haveria três formas
de tratar da história, que a encaram diferentemente: a história original, a história refletida e
a filosófica.

Na história original ele cita como exemplos Heródoto e Tucídides, "que descreviam
principalmente os feitos, os acontecimentos e as situações que tinham diante de si"
traduzindo-os em uma obra de imaginação. Os mitos e outras representações populares,
como canções, são excluídos por serem principalmente imaginação, a história original é
tratada por povos cientes de sua real existência e vontade, descrevendo o que foi
vivenciado, sem reflexões, para que se mantenha para a posteridade.

Mudanças na Filosofia da História a partir do


Positivismo
A Revolução Industrial e o Iluminismo são as duas fontes históricas do Positivismo. Como
corrente filosófica, as idéias e proposições de Augusto Comte não podem ser dissociadas
destes movimentos sociais, políticos, econômicos e ideológicos. A Inglaterra e a França
contribuíram com relevância extraordinária no processo histórico que culminou na
consolidação da modernidade. O século XIX consiste num tempo de intensa produção
teórica filosófico cientifica e transformações econômicas e sociais. Nesse cenário
convulsionado ocorrem os processos de unificação da Alemanha e da Itália, bem como, um
intenso fluxo migratório da Europa para América. O Positivismo, um filho do Iluminismo,
é formulado por Augusto Comte nesse cenário de transformações (Iluminismo, Revolução
Industrial, grandes migrações).

Segundo Cotrim (1991, p. 177), "O termo positivismo foi adotado por Augusto Comte para
designar toda uma diretriz filosófica marcada pelo: culto da ciência e pela sacralização do
método científico."
Outro dado relevante do pensamento de Augusto Comte (1798-1857) é a afirmação
categórica de uma visão materialista e naturalista, negando o metafísico e o transcendente
ao fazer a exaltação das ciências sociais.

Segundo Comte (OS PENSADORES, 1996):

A verdadeira filosofia se propõe a sistematizar, tanto quanto possível, toda existência


humana, individual e, sobretudo coletiva, contemplada ao mesmo tempo nas três ordens de
fenômenos que caracterizam pensamento, sentimentos e atos. Sob todos esses aspectos, a
evolução fundamental da humanidade é necessariamente espontânea, e a exata apreciação
de sua marcha natural é a única a nos fornecer a base geral de uma sábia intervenção.

O Positivismo foi uma das correntes filosóficas mais influentes em vários campos do
conhecimento. No campo da História seu legado reverberou durante todo século XX
(principalmente no Brasil e outros países sul americanos).

Na Filosofia da História segundo o Positivismo: há uma linearidade; tem como


peculiaridade uma evolução da humanidade em três estados, o teológico, o metafísico e o
positivo; as fontes históricas devem ser os documentos oficiais; a própria construção
historio gráfica não pode ser separada da figura do herói, do grande homem que conduz a
sociedade e a própria história; o foco político é absoluto na visão positivista. Somente com
o advento da filosofia de Marx e Engels, e na década de vinte do século XX com a Nova
História, é que o Positivismo teve seus fundamentos abalados e a Filosofia da História tem
seus parâmetros redirecionados.

Referências
1. ↑ MARTINS FILHO, Ives Gandra S. Manual Esquemático de Filosofia. 3a. ed. São Paulo:
LTr, 2006, pg. 312. ISBN 85-361-0825-8

Bibliografia
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: para uma geração consciente. 6. ed. São
Paulo: Saraiva, 1991.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.

LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil. 2. ed. São Paulo: Nacional, 1964.

OS PENSADORES. Augusto Comte. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

VALENTIM, Oséias Faustino. A Influência da Filosofia Positivista nos Fundamentos


da Constituição de 1891. 2009. 64 f. Monografia (Graduação em História) - Universidade
do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2009.
Ligações externas
• Portal sobre a filosofia da história, historiografia e cultura histórica.

Escola dos Annales

A chamada escola dos Annales é um movimento historiográfico que se constitui em torno


do periódico acadêmico francês Annales d'histoire économique et sociale, tendo se
destacado por incorporar métodos das Ciências Sociais à História.

Fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da visão
positivista da história como crônica de acontecimentos (histoire événementielle),
substituindo o tempo breve da história dos acontecimentos pelos processos de longa
duração, com o objetivo de tornar inteligíveis a civilização e as "mentalidades".

A escola des Annales renovou e ampliou o quadro das pesquisas históricas ao abrir o campo
da História para o estudo de atividades humanas até então pouco investigadas, rompendo
com a compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia,
Geografia humana e assim por diante) e privilegiando os métodos pluridisciplinares. [1]

Em geral, divide-se a trajetória da escola em quatro fases:

• Primeira geração - liderada por Marc Bloch e Lucien Febvre


• Segunda geração - dirigida por Fernand Braudel
• Terceira geração - vários pesquisadores tornaram-se diretores, destacando-se a
liderança de Jacques Le Goff e Pierre Nora, além de Philippe Ariès e Michel
Vovelle; na arqueologia, destaca-se Jean-Marie Pesez.
• Quarta geração - a partir de 1989.

Índice
• 1 História e características
• 2 Principais nomes
• 3 Bibliografia
• 4 Referências
• 5 Ver também

• 6 Ligações externas

História e características
Os fundadores do periódico (1929) e do movimento foram os historiadores Marc Bloch e
Lucien Febvre, então docentes na Universidade de Estrasburgo. Rapidamente foram
associados à abordagem inovadora dos "Annales", que combinava a Geografia, a História e
as abordagens sociológicas da Année Sociologique[2] muitos colaboradores eram conhecidos
em Estrasburgo, para produzir uma análise que rejeitava a ênfase predominante em política,
diplomacia e guerras, característica de muitos historiadores dos séculos XIX XX, liderados
pelos sorbonnistas - designação dada por Febvre.

Os historiadores dos Annales foram os pioneiros na abordagem do estudo de estruturas


históricas de longa duração ("la longue durée") para explicar eventos e transformações
políticas. Geografia, cultura material e o que posteriormente os annalistas chamaram
mentalidades (ou a psicologia da época) também eram áreas características de estudo. [3]

Um eminente membro desta escola, Georges Duby, no prefácio de seu livro "O domingo de
Bouvines", escreveu que a História que ele ensina, "rejeitada na fronteira do
sensacionalismo, era relutante à simples enumeração dos eventos, esforçando-se, ao
contrário, por expôr e resolver problemas e, negligenciando as trepidações da superfície,
procurava situar no longo e médio prazos a evolução da economia, da sociedade e da
civilização."

Bloch foi morto pela Gestapo durante a ocupação alemã da França, na Segunda Guerra
Mundial, e Febvre seguiu com a abordagem dos "Annales" nas décadas de 1940 e 1950.
Nesse período, orientou Fernand Braudel, que se tornou um dos mais conhecidos expoentes
dessa escola. A obra de Braudel definiu uma "segunda geração" na historiografia dos
"Annales" e foi muito influente nos anos anos 1960 e 1970, especialmente por sua obra de
1946, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe II.[4][5]

Enquanto autores como Emmanuel Le Roy Ladurie e Jacques Le Goff continuam a carregar
a bandeira dos "Annales", hoje em dia a sua abordagem tornou-se menos distintiva
enquanto mais e mais historiadores trabalham a história cultural e a história econômica.

A 3° geração dos Annales é conduzida por Jacques Le Goff. Ficou mais conhecida como a
"Nova História", segundo a qual, toda atividade humana é considerada história. Além de Le
Goff, nesse período se destaca Pierre Nora.

Principais nomes
• Marc Bloch
• Fernand Braudel
• Pierre Chaunu
• Georges Duby
• Lucien Febvre
• Marc Ferro
• Jacques Le Goff
• Pierre Nora
• Emmanuel Le Roy Ladurie
• Jacques Revel

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