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fcr ese AS CONTROVERSIAS oN ata) ra AMPA) ls yee) pica OBJE FANTASIA INCO aD yas ESQUIZOPARANOIDE Satay) ee COLECAO rareerear. ore ce ed Cronologia 1882: Melanie Reizes nasce em Viena, no dia 30 de marco, filha de Moriz Reizes e Libussa Deutsch 1903: Melanie casa-se com Arthur Klein 1904; Nascimento de sua filha Mellita Klein 7: Nasce seu filho ans Klein 910: A familia muda-se para Budapeste, onde Me- lanie Klein toma contato com a obra de Freud 1913: Emest Jones funda a Sociedade Psicanalitica de Londres 1914: Nascimento de Erich Klein. Iniciaandlise com Sandor Ferenczi 918: Realiza-se em Bu- dapeste 0 5° Congresso Internacional de Psicané- lise, sob a presidéncia de Ferenczi 1919: Klein apresenta seu primeiro artigo e torna-se membro da Sociedade de Budapeste. Jones funda 2 Sociedade Britinica de Psicandlise 920: No 6° Congresso Internacional de Psica- nilise, em Haia, Klein conhece Karl Abraham : 1921: Muda-se para Ber lim, onde abre consult6- rio para andlise de adultos 1922: Torma-se membro da Sociedade Psicanalit 2 de Berlim. Divorcia-se de Arthur Klein. 1924: Fundagio do Ins tituto Britanico de Psica- nilise. Klein inicia andlise com Karl Abraham. Em Salzburgo, durante 0 8° Congresso Internacional de Psicandlise, apresen- ta "A técnica de andlise de criangas pequenas". Aos 48 anos, morre Karl Abraham, interrompendo a andlise de Klein 1925: Realiza conferén- cias em Londres 1926: Melanie Klein muda-se para a Inglaterra, a convite de Jones 1927:Eleita membro p no da Sociedade Britinica de Psicandlise 28: Mellita conhece Walter Schmideberg membro da Sociedade de Berlim, com quem se casaria 32: Publicagao de A psicanlise de criangas 1933; Mellita, ja com 9 sobrenome de casada Schmideberg, € eleita membro pleno da Socie dade Britanica de Psica nilise. Torna-se opositora ferrenha de Klein 1934: Hans momre pratt cando alpinismo 1937: Publicacio de Amor, tio rparagao 1939: Muda-se para Cambridge. Freud marre em 23 de setembro 941: Retomaa Londres. A Sociedade Britanica de Psicanélise promove debates, depois conheci dos como "Controvérsias Freud-Klein", sobre as modificagdes introduzi das por Klein na teoria freudiana 1941-1945: Periodo das ‘Controvérsias Freud. Klein’. Anna Freud Melanie Klein divergem sobre vérios pontos, so: bretudo a capacidade infantil de elaborar trans feréncia 1943: Publica "Notas sobre alguns mecanismos esquizéides' 945: Mellita muda-se para os Estados Unidos 1948: Klein publica Con- tribuiges& psicandise 052: Edigio especial do International Journal of Psycho-Analysis em ho: menagem aos 70 anos de Melanie Klein 1955: Criagao do Meanie Klein Trust 1957; Publicagio de Inoe jae gratido. 1958: Morte de Ernest Jones. 1960: Melanie Klein morre, em Londres no dia 22 de setembro VIVER MENTE& CEREBRO Significado de MSEC Klein ONCEITOS COMO OBJETO INTE elanie Klein, em trés décadas de produgio escrita, criou a principal corrente variante da Psicanalise em relacio a freudiana e introduziu pontos de vista originais que alguns consideram comple- mentares € outros, contraversos, Melanie Klein considerava-se uma freudiana, parecen- do nao ter consciéncia dos profundos avangos que estava introduzindo na psicanslis,e se surpreendeu quando uma de suas discfpulas, Betty Joseph, he dise: "Agora éé tarde, vocé é uma kleiniana - acentuando entio que ela estava riando um novo sistema de pensamento. Kleinse distinguiu por muitas coisas. Ela €considerada actiadora da psicandise de criancas por meio da técnicado brincar. Esta consistia em considerar o brincar da crianga durante a sessio como equivalente & associagio livre do adulto, ou seja, como discurso alocut6rio cujo significado émocional era equivalente ao sonho do adulto. Ao analisar seus pequenos pacientes, desenvolveu um entendimento muito profundo do funcionamento emo- cional do self infantil. Sua apreensio do mundo interno infantil e das formas por meio das quais as emogGes ali adquirem significado contribuiu para o entendimento da personalidad adulta com seus nicleos infantis incrustados ‘que persistem por toda a vida. Em scu artigo ‘Nosso mundo adulto e suas rafzes na inféncia’ (1949), sintetiza algumas de suas descobertas Nosse trabalho, acentuou que 0 entendimento profundo da personalidade da crianca é a base para a compreensio da vida social. Escreve ela: ..) a técnica de brincar que desenvolvi na psicandlise de criangas muito pequenas ‘outros avangos resultantes do meu trabalho permitiram. me tirar novas conclusées sobre estégios muito iniciais da infénciae camadas mais profundas do inconsciente (.),em ‘uma psicandlise o paciente revive em relacio ao psicanalis tasituagdes « emacdes muito arcaicas. Portanto, a relacio com o psicanalista de vez em quando encerra, mesmo em ee wry an oni eae | MELANIE KLEIN em 1955, durante congresso da Associacdo | Intemacional de Pica (PA ealzado em Genebra \WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR A CRIADORA DA ANALISE INFANTIL FUNDOU UM PROPRIO, AMPLIANDO A NOGAO DEINCONSCIENTEE RNO E IDENTIFICACAO PROJETIVA SISTEMA TEORICO NTRODUZINDO Por Euiss MALLET pa Rocka Barks & Euzanerh Lima Da Roca Barkos adultos, aspects muito infantis, tais como dependéncia cexcessiva e necessidade de ser guiado, acompanhado de tuma descontfianga bastante irracional Klein considera que a estrutura arcaica das emocdes infantis, muitas vezes datada de um periodo pré-verbal persiste a0 ongo de nossas vidas e interfere na mente adulta A anslise eo entendimento desse funcionamento favorece 0 desenvolvimento ea cratvidade. Para que este modo emo- ional de operarseja perceptivel é necessfrio que o analista desenvolva uma sensibilidade muito acurada e sutil de suas formas de manifestacio na personalidade adulta estudo da arquitetura emocional do bebé abriu as portas para @ investigacio das atividades mentais primitivas caracteristicas dos estados psicdticos e, em alguns casos, Permitiu traté-los. Suas observacdes proporcionaram um desenvolvimento muito grande das possibilidades de se falar a estes aspectos mais infantis e a nticleos mais primi- tivos da personalidade. i Um analista kleiniano procura dirigir-se diretamente ao funcionamento emocional de seu paciente, buscando mostrar nao apenas como ele é como pessoa, mas como std sendo, isto é coma ele estrutura suas emaciesa partir deniicleos internos atribuidores de significado 3s vivéncias € 8s relacdes enquanto estas estio ocorrendo. Klein amplia a nogdo de inconsciente ao propor que este € habitado sobretudo por fantasias consideradas por ela representantes mentais das pulses instintivas. Pascal dizia que 0s instintos sao as razdes do coracao sobre as quais a razo nada sabe. Klein procura decifrar essas ra es do coragio através da compreensio do sentido e do significado das fantasia. Essa tem existéncia sob a forma de uma representagio figurativa, tal como um fragmento de cena, que evoca estadose significados afetivos que por sua vez organizam as emogbes enquanto as vivemos Na perspectiva Kleiniana, todo impulso instintivo € dirigido a um objeto, palavra técnica que designa uma representagio mental de uma pulsdo ou instinto, Ao fa- larmos de objeto, imago, representagdo interna, estamos 1no dominio da fantasia inconsciente. Klein escreve:"Essas imagos, que sio uma imagem distorcida de forma fantéstica \VIVER MENTE& CEREBRO LMENINOS DE RUA BRINCANDO (1890), tela da artista inglesa Dorothy Stanley dos objetos reais em que estao baseadas, se instalam no s6 ‘no mundo externo, mas também dentro do ego, através do processo de incorporacéo’. Elisa Maria de Ulhda Cintrae Luis Claudio Figueiredo (em Melanie Kleines ¢ersaerto) eenfatizam que Melanie Klein tinha uma extraordinéria ‘capacidade para tornat visiveis processos mentais intan- szveis. Eles citam Klein e comentam: ‘Sentir os pais como se fossem pessoas vivas dentro de seu corpo da mesma rmaneira concreta que prafundas fantasias inconscientes sio vividas. Isto 6, se esses pais internos' se amam, se vivem ‘em harmonia, desse mundo interior brota, de forma viva, um prinefpio de ordenacio que ajuda a transformar 0 caos interior em cosmos. Por outro lado, se esto em guerra, cm litigio, o aos se adensa e se aprofunda’ {As fantasias do bebe existem muito inicialmente sob a forma de sensagdes, que aos poucosadquirem uma figurabili- dade interna. Um objeto interno, conceito dos mais centrais (e misteriosos) de seu sistema, é uma espécie de cidadio cdo mundo intemo, uma representagio figurativa capaz de evocar afetos, como se tivesse uma vida propria ‘A mae, ou sua representacio parcial como seio alimen’ tador se constitu nesse sentido no primeiro objeto interno do bebé, podendo adquirir qualidades boas ou més, con- forme a fungio exercida, Tomemos como exemplo 0 caso cde um bebé com fome. Este sente fome como parte de seu funcionamentofsioldgico, Essa fome também é vivenciada primeiras necessidades organicas, o bebé é dominado por tum medo de desintegragio, algo que Klein denomina “ansiedade de morte’, Ela postula que esta € originéria de uma estrutura instintiva, que Freud chamou de ins- tinto de morte e que sé contrapde permanentemente 20 seu oposto, 0 instinto de vida. Do ponto de vista do funcionamento mental, podemos descrever o embate permanente entre o instinto de vida € 0 de morte da seguinte maneira; diante da pressio exercida no nivel mental pelas necessidades fsicas ligadas sobrevivéncia, if MAE, OU SUA REPRESENTACAO PARCIAL COMO SEIO ALIMENTADOR, E O PRIMEIRO OBJETO INTERNO DO BEBE no mundo psicolégico, dentro de uma subjetividade que esté se constituindo, sob a forma de uma representacio figurativa, uma presenga concreta de um objeto que frustra ‘Assim, a fome € vivida como fruto de uma agio concreta de algo realmente existente dentro dele e vivida como uma figura persecut6ra, Este adquire as qualidades de bom ou mau de acordo com os sentimentos que evoca. Bom quando, alimentado e mau quando nao satiseit. Progressivamente, esses objetos internos representan- tes do mundo extemno, associados a mogoes pulsionais {agressivos, amorosos) se organizam em niicleos € vao cconstituiruma espécie de teatro interno onde os significa- dos para as experiéncias vividas sio gerados e passam a dar sentido as ages, crencas e percepgoes, assim como a uma tonalidade afetiva que colore suas relacdes com 0 mundo externo e interno. Esses “climas’ emocionais sao expressos e evocados através das fantasias inconscientes. Logo ao nascer, quando entra em contato com suas VIVER MENTE& CEREBRO © bebé € colocado diante de duas possibilidades: ou se organiza para satisfazé-las ou para negé-las. Klein, pre tendendo seguir Freud, considera que a0 se organizar para satisfazer suas necessidades o bebé esti sob a influéncia do instinto de vida e, a0 negé-las, sob a influéncia do instinto de morte Em Klein, a pulsio de morte vivida como um im- pulso voltado contra si que ameaga a sua continuidade existencial se transforma na base do sentimento de destrutividade, De forma a dar conta dessa ameaca vir vida como ansiedade de morte, a crianga projeta para o exterioras qualidades destrutivas deste estado de espitito ¢, por alguns momentos, a pessoa que dela cuida (a mae, geralmente) € colorida por esta tonalidade ameagadora ‘que agride a crianca. Torna-se, na linguagem psicanali- tica kleiniana, um objeto mau e assim € internalizada Quando esta mae a satisfaz, atendendo-a, contendo sua ansiedade, ela é internalizada como objeto bom, capaz ESPECIAL MELANIE KLEIN, de compreendé-Ia, cuidar dela ¢ se torna fonte de segu- ranga. O recém-nascido vive um mundo de extremos, povoado por objetos bons ¢ objetos maus num embate permanente. Ao postularest tipo de funcionamento mental, Mela- nie Klein cria uma psicanédlise voltada para a descrigéo ea ‘compreensio dos estadosafetivos ea natureza das relaghes estabelecidas com o mundo intemo e externo. Sem negar a importéncia do passado hist6rico, isto €, das repressGes inconscientes acumuladas durante o desen -volvimento como fatores produtores do desenvolvimento, tanto normal quanto patolégico (da forma como Freud 0 faz), Melanie Klein introduz uma concepgao particular do desenvolvimento humano. Nio sio s6 as experiéncias vividas constitufdas no passado histérico que geram 0 desenvolvimento ¢ as patologias. Klein parte do conceito deinstinto de morte ampliando-o e relacionando-0 como edo de nao sobreviver, transformando-o assim em nossa principal fonte de ansiedade Ao fazé-lo, ela redefine nossa relago com o passado hist6rico e com sua funco na constituigio de nossa iden- tidade. Nao séo apenas o passado hist6rico e as represses acumuladas durante a vida que se tornam parte de nossa subjetividade e a perturbam. Antes mesmo da formacio do ego e do superego do bebé, jé existria uma forca ne- sativa (pulsdo de morte) atuando, gerando defesas contra ansiedades iniciais, que Vao, aos poucos, se corporificando em estruturas. Aquele nada que precederia o bebé no é um vazio! Ele ver preenchido de forgas pulsionais que ameagam a integridade do bebé, sua unidade, gerando uma ansiedade deaniquilamento e um intercémbio intenso entre o mundo WWW/VIVERMENTECEREBRO.COM.BR interno ¢o extemo, atuados através de um movimento per- manente de projecio ¢ introjecao de estados de espirit. De certa forma, a ansiedade de morte toma-se 0 motor do desenvolvimento. ESTRUTURAS PRECURSORAS Ao nascer, 0 bebé ainda nfo tem um ego, ou um suf cconstitufdo, mas estruturas precursoras deste, tomando-o ccapaz de sentir ansiedade e de se defender dela por meio de projegies ¢ introjegdes. Essas estruturas precursoras (nunca integralmente definidas por Klein) do ego do bebé podem dividir-se ou excindir-se (split), e ser projetadas para fora. Assim, no sio apenas os estados de espirito perturbadores que sio projetados para fora, mas partes da propria personalidade. Aqui temos mais uma das gran- des novidades da psicanilise kleiniana, Isto significa que podemos perder fungSes mentas, viver parte de nossas vidas projetados (em Fantasia) no mundo interno de outra pessoa. Ou podemos ter parte de nossas vidas vividas «em identficacéo com aspectos da vida de outrem. Klein denomina este mecanismo idetifiacio projeiva Donald Meltzer, um dos continuadores de Klein recen- temente falecido, define a identificagdo projetiva como © nome de uma fantasia inconsciente onipotente que afeta as relagGes entre as partes do stlf e dos objetos tanto no mundo interno como no externo. A importincia desse conceito pode ser avaliada ao dizermos que boa parte da psicandlise de 1950 para cf tem se dedicado a estudar a fenomenotogia da ideificagao projeiva Em Freud, 0 queera projetado perdia-se, pois este con- cebia a projecéo como um processo similar & evacuacao. Jéem Klein, aquilo que é projetado para fora, isto é, para dentro de um objeto, ndo s6 nio é perdido como também confere nova identidade a esse objeto, Um individuo agressivo, porexemplo, que projeta sua raiva para fora, nio se limita ¢ negé-lae aribui-laao outro, Ao dirigir sua raiva em directo a0 outro, o individuo torna-se temeroso do receptor para dentro do quel seus maus sentimentos foram projetados ¢, a0 mesmo tempo, destituido de poténcia, Este conceito modifica tanto a técnica psicanaliti ‘ca como nossa concepgio das relagées humanas ¢ do desenvolvimento, e & responsével pela preocupagao ELIAS MALLET DA ROCHA BARROS € analsa didata da Sociedade Batileita de Psicandise de SdoPauio, membro titular da Sociedade Bitanicae editor do Intemational Journal of Psychoanalysis, Recebeu ‘0Prémio Sigoumey (1999), da Universidade Columbia, pelas suas Contribuigées nos tltimos dez anes. ELIZABETH LIMA DA ROCHA BARROS é analsta didata da So- edade Brasileira de Psicandise de S20 Paulo, membro titular da Sociedacle Britinica, DEA pela Sorbonne, e trablhou na Tavistock Cini, Londres. VIVER MENTE&CEREBRO 10 ROMANCE FAMILIAR. Melanie Klein, aflha Melitta, com quem teria um relacionamento confltueso, e Hans (um de seus filhos homens, '20 lado do cacula Ere ‘com reas até entio no tratadas em psicandlise como seu foco central. A natureza dos afetos envolvidos nas re Jagées humanas em geral, assim como presentes na relacio analitica, toma-se objeto de observacia ¢ investigagao. O amadurecimento emocional depende do estabelecimento de relagdes emocionais genuinas e intimas entre as pessoas. Essas preocupacées originam-se na definigio de identificac3o projetiva que introduz a idéia de que os individuos podem viver simultaneamente em diversos mundos (em fantasia), tais como 0 externo, 0 intemo, 0 mundo interno do objeto interno ou o mundo interno do objeto externo. Isso ocorre em fantasia, mas ‘como as projegdes sio concretamente vividas como reais, estas vivencias adquirem férum de realidade, pois 0 indi- viduo perde a capacidade de discriminar entre a realidade interna ¢ externa Para Meltzer, essa hipétese representa um grande avango sobre Freud, por proporcionay, através da interagdo dos processos projetivos eintrojetivos, uma concepeao de tum teatro interno onde os significados das experiéncias emocionais sfo gerados e que, por sua vez, fornecem 0 cenétio dentro do qual se desenvolvem as relagdes emo- cionais, Este mundo € constituido por um fluxo continuo de fantasiasinconscientes e& construido pelos mecanismos projetivos ¢introjetivos intrinsecos ao modo de operar da mente humana © MUNDO INTERNO Um dos conceitos centrais da teoria de Melanie Klein é, como temos visto, o de mundo interno. © mundo interno, € preciso dizer, nfo € apenas o reflexo subjetivo do mundo extemo, sua representacdo em duplo. Jean Laplanche, um dos grandes mestres da psicandlise con- temporanea, comenta: "Estas imagos (interns) no sio a Jembranca de experiéncias reais mais antigas; si 0 dep. sito introjetado destas experiéncias, mas modificado pelo préprio processo de introjecao", Assim, a representagio interna que o bebe faz do mundo € resultado do proprio processo através do qual ela se internalizou, sendo este, por sua vez, governado pela natureza da ansiedade que 0 gerou. Aquilo que ¢ introjetado serd, por sua vez, nova- mente projetado e coloriré a natureza do receptor de sua VIVER MENTESCCEREBRO projecio, podendo serintrojetado novamente, modificado, € assim sucessivamente. Em sintese, 0 mundo inconsciente, de acordo com Klein, é muito diferente do decalque esquecido da nossa infancia. A representacio da realidade neste contexto € permeada pela existéncia de fantasias inconscientes. Estas por sua vez tém sua origem numa determinagio anterior & histéria ¢ a0 desenvolvimento da linguagem. So anteriores, portanto, a0 complexo de Edipo tal qual, o postula Freud. Freud acreditava que o mundo interno da crianca era reeditado na sua relago com figuras de scu ambiente, dentre elas a do analsta durante o tratamento, Chama a ‘este processo de transferéncia ¢ 0 compara a um processo de reedigio de um livro em nova versio. No presente as pessoas reeditam relacdes passadas. Esse processo, para Freud, nao € atuante desde o comeco da vida, mas somente depois da resolugio do complexo de Edipo, que vai instaurar uma diferenciacao entre presente ¢ passado na mente do individuo. Klein acreditava que as transferéncias paraas figuras do mundo externo e, portanto, para 0 analista, so possiveis desde a tenra infancia, tornando a anilise vidvel desde essa época, Esta posicdo gerou uma polémica em 1927 coma fi tha de Freud, Anna, que nio acreditava nessa possibilidade Nesse sentido, a objecao feita por Anna Freud, que insistia nna impossibilidade de analisarcriangas por nao desenvol verem esta transferéncia, Klein responde: “A andlise de criangas pequenas mostrou-me que uma crianga de 3 anos j@atravessou a parte mais importante do desenvolvimento de seu complexo de Edipo, Por conseguinte, a repressio € a culpabilidade jé a distanciaram consideravelmente dos ESPECIAL MELANIE KLEIN objetos que ela desejou originalmente, Suas relagdes com esses objetos jé sofreram modificagbes e deformagbes de tal ordem que os objetos de amor atuais sA0 imagos dos objetos originais”. (traducao livre) Melanie Klein estava, entio, fazendo afirmagées queiriam revolucionara psicandlise nosanos seguintes e que constiti- riam os elementos mais originais de seu sistema. Ela firma, portanto, que a prépria relacdo com os pais reais comporta jé certo grau de transferéncia. A questao essencial envolvida na transferéncia nao € a relagio pas- sado/presente, mas aquela existente entre mundo intemo, onde os signficados s3o gerados, e mundo externo. Decorre desta concepgio a idéia de que o repetido na transferéncia sio as relagoes de objeto vigentes no mun- do interno, e nao comportamentos especificos, simples habitos. Assim, uma mie perfeitamente adequada, cheia de amor cuidadosa pode ser vivenciada pelo bebé (em decorréncia da projecdo da ansiedade e/ou da agressivi- dade deste) como alguém incapaz, persecut6rio e mesmo ameacador. Entre outros temas introduzidos por Melanie Klein na psicanslise, podemos dizer que ela aprofunda, mais do que qualquer outro autor, a problemética das condigoes fas quais nossas ansiedades podem ser (ou impedidas de ser) simbolizadas ‘A pressio exercida pelas forcas instintivas sobre 0 aparetho mental para executar essa transformacao de significados para a experiéncia emocional confronta o ser humano com a insuficigncia dos instrumentos(simbolos) disponiveis para a comunicagao interna, ou seja, para pensar. Nessa confrontacio, cada um de nds € obrigado a alargar seu mundo simbdlico para lutar com a necessidade de comunicagio nos mundos interno ¢ externo, assim como para poder desenvolver uma visio abrangente dos ‘mundos extern ¢ interno em toda a sua complexidade. aparelho psiquico assenta-se sobre uma malha de representagées tomadas como expresses mentais das pul- soes através das quais estas circulam e, por fim, constituem Jase da meméria, uma memoria na forma de sentimentos in fcings) das experiéncias emocionais vividas o base de uma memoria afetiva. Para Klcin, a natureza da ansiedade, sua qualidade NA CONCEPGAO KLEINIANA de inconsiente, a azio <¢ tora colorda plas emocoes,defoemando as percencdes ea imagem que ormamas do mundo, Ao lado, Estado para “Dia” (1898-99), de Ferdinand Hodler -VIVERMENTECEREBRO.COM.BR parandide ou depressiva, determina a natureza da conste lagio defensiva estruturante do ego. Ansiedade parandide €aquela que é vivida como uma ameaca & sobrevivéncia, 2integridade do ego, Neste contexto, a sobrevivéncia do objeto nio esté em jogo, pois ele é s6 fonte de ameaca, rio de amor. O ego € tomado pela ameaca de destruigio, vivido por seus sentimentos, descontextualizado de qual- A NATUREZA DA ANSIEDADE DETERMINA A CONSTELAGAO DEFENSIVA ESTRUTURANTE DO EGO ‘quer contexto histérico, Nao ha a presenca do tempo, no existe antes nem depois, no ha, portanto, historia no espago interno dominado por esta destrutividade. Este tipo de ansiedade determina o tipo de defesa mobilizado para proteger a sobrevivencia do ego, Sio estas a cisdo (divisto do sdf e/ou do objeto) e identficagio projetiva, principalmente. Klein denomina posigio, outro dos con. ceitos-chave, esta constelacao constituida pelo tipo de ansiedade ¢ 05 modos de defesa mobilizados pelo ego para dela se defender. Posigdes definem uma espécie de 6ptica mental. E sia duas: a posigio esquizoparanside, aque jf descrevemos, e a posicao depressiva, Fsta dltima € dominada por uma ansiedade de perda do objeto de seu amor e se organiza para se proteger desta experiéncia dolorosa, mobilizando defesas de natureza diferente da de cardter parandide. : Freud abordou o inconsciente nio-racional adotando as bases epistemol6gicas do racionalismo iluminista, procu- rando estendero dominio da razao para o mundo das emo- Ges. Klein busca descrever como a razio stoma colorida ‘VIVER MENTE CEREBRO u 12 por nossas emogées, deformando nossas percepcoes € a imagem que formamos do mundo e passam a tutelé-la, O significado emocional das experiéncias nio nos € dado por uma faculdade independente idealizada como razao, uma faculdade capaz de operar fora de uma zona de contlitos, [ANNA FREUD afirmava ser impossvelanalisar criangas, ppostura & qual Melanie Klein se contrapds em polémica ‘corida em 1927, Ao lado, Bor dia, querdo pai tela cde Friedtich Edouard Meyetheim (século X0X) nao € negago, mas contra-investimento. ES caracteristica que o distingue de outros mode de operacio inconscientes através dos quais ‘opera, por exemplo, nossa biologia. Os mecanismos de repressio, negagio recusa sdo operacoes mentais defensivas des ritas por Freud que tém por objetivo proteger 0 ego da ansiedade excessiva produzida pelo contato com uma experiéncia que nao pode ser assimilada, Todos estes mecanismos de defesa, a0 eliminar contetidos mentais (idea- cionais ou afetivos) da consciéncia, interfere no acesso & realidade, Klein acrescenta a estes mecanismos de defesa dois outros: a cisio e a {dentificagao projetiva, como ja vimos, Através desta, nao apenas contetidos podem ser elimi- nados da mente humana, mas a propria mente pode prejudicar-se cindindo e projetando suas faculdades. Temos aqui uma nova perspectiva cm relagio a patologia e & questao do sentido de realidad Em Klein, as emogBes passam a ser con- sideradas na personalidade algo compardvel ao tecido conectivo e operam como clos entre os diversos niveis das instancias psiquicas € as vivéncias correspondentes, Bion, tum dos mais criativos continuadores do pensamento klei- niano, desenvolveri este aspecto com grande riqueza MELANIE KLEIN MOSTROU QUE A RAZAO E O PRINC{PIO DA REALIDADE NAO EXISTEM NO VAZIO mas pela organizacio das emoges que vao colorir nossa taz4o transformando-a em crencas ¢ percepcdes. Freud escreve em O futuro desea fusio: "Nao temos outro meio de controlar nossa naturezainstintiva ano ser através de nossa inteligéncia. Como poderemos esperar que uma pessoa sob o dominio da proibigao de pensamento atinja o ideal psicol6gico do predominio da inteligéncia2” Desde o inicio, os psicanalistas colocaram-se a ques- tio de como ¢ por que o individuo se afasta da realidade. Inicialmente 3 resposta era atribuida ao excesso de tensio produzido pela ansiedade, 0 que levava a repressoes. Tudo aquilo que perturbava o equilibrio pulsional era reprimido, isto ¢, retirado da consciéncia e mantido inconsciente, O inconsciente de que a psicandlise fala VIVER MENTE&CEREBRO- Para Melanie Klein e seus continuadores, as pessoas rndo sofrem apenas de caréncias, traumas ou repressbes. Eas sofrem também de falta de experiéncias emocionais que propiciem um desenvolvimento/crescimento, Nesta perspectiva, no basta que a psicandlise seja efetiva no levantamento de represses que possam impedir certos pensamentos ou sentimentos de virem a luz ou que propi- ie um ambiente facilitador que permita reparar situacbes de caréncias passadas que possam criar um sentimento de no aceitacao. A presenca da cisio e da identificagio projetiva aponta para uma mente fragmentada, na qual as diversas instincias psiquicas nao se comunicam, que é incapaz-de simbolizar e, portanto, de pensar as emogoes de forma mais rica, criando uma atmosfera interna de vazio, ESPECIAL MELANIE KLEIN de falta de sentido para a vida. Nestas condigdes certos ppensamentos nio chegam sequer a serem formulados €, portanto, a propria capacidade de pensar fica inibida A liberdade de pensar, segundo as implicagdes das concepcées kleinianas, ngo depende apenas do levan- tamento de repressées (internas e externas, poderfamos dizer), mas também da recuperagio de fungoes mentais perdidas que permitam pensar experiéncias nunca antes vividas ou pensadas Uma das implicagdes das concepgdes de Melanie Klein esti em mostrar que a propria razao ¢ 0 principio da realidade nio existem no vazio, provém de algum lugar e assim estao também sujeitosa conflitos, bloqueios cinsuficiencia de desenvolvimento. Ao modelo amplifi- cado que incluia nio apenas mecanismos de defesa para climinar contetidos da consciéncia, mas igualmente a possibilidade de o préprio ego € seus objetos intemnos cindirem-se como fungdes mentais que podem ser elimi- nadas, foi acrescida a idéia de que o funcionamento da razio pode ser desafiado pela limitacao das experiéncias emocionaise pela precariedade das fungdes mentais sua disposicao. Nessa perspectiva, a sanidade mental baseada no funcionamento racional e no contato satisfatério com a realidade é sempre duramente conquistada toda vez que 0 ego é submetido a tensdes. REDEFINICAO DA PATOLOGIA Nesse desenho da estrutura psfquica humana, o le- vantamento das repressdes, por si s6, nao conduz nem a sanidade nem a uma capacidade de aprofundamento do contato com a realidade € no torna o uso da razao plenamente efetivo, Una das implicagSes das observagdeschipSteses klei- nianas €a de que a personalidade é constituida de diversos riveis que atuam ora em consondincia e harmonia, ora em confiito aberto que pode inclusive paralisé-la. Assim, aspectos infantis da personalidade atuam simultaneamente com aspectos adultos, ora dominando a personalidade, ora sendo mais bem integrados nesta. Essas diversas instancias podem ou nao estar em comunicacéo entre sie com 0 mundo externo, Os aspectos infantis tm sua existéncia no nicleo da personalidade que se desenvolve mais préximo do contato com as necessidades corpéreas, acompanhadas de sensac6es de urgéncia e impulsos para satisfacao. A crianca ndo espera, ela deseja e quer ser satisfeita imedia~ tamente. Suas necessidades tém um carster imperativo. 'AESTRUTURA ARCAICA das emocGes infantis, segundo Klein, persate ao longo da vida e interfere na mente adulta. Ao lado, ‘Cloude com dezesels meses ra sua cama (1948), de Pablo Passo \WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR E através da sensualidade ¢ da aco que ela experiencia co mundo e dele participa. A capacidade de observagio e de distanciamento da agio, necesséria para a elabo- racio do pensamento, esid quase ausente no modo de funcionamento mental infantil. A crianga €, por assim dizer, refratéria a examinar o significado das coisas € das vivéncias, comportando-se como se s6 existissem objetos externos, Jéo modo adulto de funcionamento opera baseado na relagio com os objetos internos, dos quais tira sua inspi racio e com os quais e identifica. Opera mais através da observacio e da reflexdo e caracteriza-se pela possibilidade de postergar a acao, de examinar a questo por varios an- _gulos, de ser 20 mesmo tempo observador e protagonista em uma relacio ‘Aconcepcio da psicanilise como uma pratica voltada para fendmenos de comunicagao — tanto das insténcias psfquicas entre si como dessas com o ambiente social que permeia o contato coma realidade—demanda, entre outras implicagées, uma redefinicio do que possa ser uma tera- péutica e, conseqtientemente, uma patologia. Patolégico VIVER MENTE& CEREBRO 3 14 E tudo aquilo que impede a comunicacio entreas diversas insténcias psiquicas ¢, portanto, entre seres humanos no nivel emocional profundo ("intimo", na linguagem posterior de Bion) e que, em conseqiiéncia, impede um desenvolvimentolcrescimento emacional Se patologia é auséncia de desenvolvimenta/cresci mento emocional, a pritica terapéutica da psicanélise visa interferir nos fatores que impedem a ocorréncia de situagdes promotoras de integraclo,jé quea desintegragao ‘mental interfere no pracesso de producao de simbolos e toma a comunicagio entre as diversas instancias mentais dificil, sem que se amplie 0 universo dos significados de nossas vivencias, estreitando assim nossas vidas. E a capacidade de simbolizar que governa a possibilidade de comunicacao, j que esta s6 pode ocorrer por meio de simbolos. Isto nos coloca a questio dos fatores que interferem na capacidade de simbolizar. ‘A ideia de cura esté intimamente ligada & nocio da psicandlise como terapéutica, embora a relagio entre estes dois termos seja complexa e demande uma reava- liagéo critica, Curar no sentido terapéutico € privilégio da medicina, em todas as suas acepgdes €, portanto, sugere um modelo médico para a psicandlise. Seria este adequado? Se entendermos por cura o restabelecimento do esta do anterior ao sofrimento, certamente cle néo pode ser aplicado a psicanélise. Nao hé nada equivalente na pratica psicanalitica 3 fungio de um antibidtico, por exemplo. Recusar, entretanto, por esta raz, a idéia de que a psicandlise se constitui numa pratica terapéutica, parece simplista. Os pacientes que procuram uma andlise, na imensa maioria dos casos, o fazem por estarem sofrendo buscam ajuda com objetivo de ter uma vida de melhor ‘qualidade, Nos tltimos anos, cada vez mais pacientes que sofrem de condigées de caréter psicético ou frontetigo (borderline) tém procurado analistas. Hi uma questio epistemolégica presente na definigdo de terapéutica, sobretudo em relagdo aquela de Melanie Klein, quando a vida emocional esté envolvida. De um lado, quando nos propomos como terapeutas, nio pode- ‘mos ter um objetivo previamente definido, como 0 médico pode quando trata, por exemplo, de uma nefrite ou de um céleulo renal, De outro, nossa terapéutica visa tornar atual o que € potencial. Ela objetiva realizé-lo e promover um desenvolvimento. Patologia, no caso, é auséncia de desenvalvimento. Nossos objetivos, ao nos propormos analisar um individuo, no podem ser definidos em termos REPRESSAO, NEGACAO € RECUSA so operacoes defensvas descritas por Freud, as quais Klein acrescentou a cisfo ea Identicagio projtiva, Ao lado, Repressbes (1928), desenho de ‘Austin Osman Spare VIVER MENTE&CEREBRO de mudangas de comportamentos, j4 que € condigao para que possa existir uma situacdo analitica da neutralidade valorativa. A neutralidade pratica ndo € apenas uma das ccondigdes para que ocorra uma andlise, mas a condicao principal para que a transferéncia possa se desenvolver € para que possamos examinar as fantasiasinconscientes permeiam as condutas. Bion utlizou-se da metafora do parteiro da mente para se eferira funcio do analista. Da mesma forma que amie cexerce esta funggo ao cuidar emocionalmente do bebe, co analista deve ser capaz de, através da funglo de réeric, internalizar ¢ digerir as experiéncias emocionais que so intoleréveis para o paciente E a capacidade de simbolizar que governa a possibi- lidade de comunicaggo jé que esta s6 pode ocorrer por meio de simbolos. Isto nos coloca a questéo dos fatores ue interferem na capacidade de simbolizar. ‘A fungio terapéutica da psicanilise se exerce através da interpretagéo que consiste numa constante inves- tigagdo do significado das fantasias inconscientes. A interpretagao sé é efetiva se promove um insight, O que € interpretar? Em trabalho anterior (Rocha Barros, 1991) discutimos esta questdo a partir de versos de. S. Eliot: ut mised the meaning, | And approach tothe the experiece! Ina different way... (Four quate tivemos a experiéncia mas perdemos sua E a busca da significagdo restaura a expe- ‘uma forma diferente...) 40, aludida por Eliot, dentro da perspec- ise Kleiniana, ocorre no mundo interno, operada no sef como resultado da ressonéncia que a percepcio do significado da experiéncia tem sobrea vida temocional e seus sistemas de representagéo. Essa alte- ragio da qualidade da experiéncia promove uma maior integraco, que por sua vez permite que as experiéncias emocionais recuperem seus significados perdidos € se tornem, em conseqiiéncia, diferentes, isto é, mais pro- fundas,ricas e variadas. ‘As fantasias inconscientes interpretadas pelo analista kleiniano so parte do material, isto €, da vida psiquica do paciente e sio constantemente atuadas no seu dia- a-dia. Interpreté-las baseado em evidéncias forn pelo préprio paciente é uma maneira de apresenté-lo a si mesmo, criando condigdes para que ele se recupere. Através de sucessivos insights, 0 paciente vivencia uma ‘gama variada de estados emocionais se familiariza com diferentes aspectos de sua personalidade, tornando-se mais tolerante a estados psiquicos que até entdo evitava. Progressivamente, diz Hanna Segal, (opacent) comecaa conhecer no somente suas pulsdes ¢ a natureza de sua relacio com os objetos internos, mas igualmente o tipo de defesas que utiliza e que lhe so especificas, fazendo dele o individuo que ele é”. Essa vivéncia conduz a uma integracio crescente. Nessa perspectiva, conhecer-se & mudar. A dicotomia que existe entre cura e investigacao. €,a meu ver, falsa, pois 0 proprio processo de investiga- ‘io ao qual analista e paciente se engajam, se for exitoso na produgao de insights, conduz a mudangas, da mesma forma como as exploragées dos grandes navegadores mudaram o mundo. EXPERIENCIA EMOCIONAL INFINITA Ao trabalharmos orientados por um hipotético mo- delo de normalidade, nosso modelo de patologia estaré baseado numa avaliagao do custo que o individuo paga por resistir & assimilagao de novas experiéncias, conde- nando-se, desta forma, a uma superfcialidade emocional que se manifesta na maneira como se relaciona com as ‘pessoas e com 0 mundo. WWWVIVERMENTECEREBRO.COM.BR ‘Como analistas Keinianos, ao interpreta, trabalhamos com a idéia implicita de que nossa comunicacSo $6 sera cfetiva se conseguirmos interessar o paciente por nossa observacio, $6 aquilo que estimula © paciente a pensar sobre suas emogées tem chance de ser internalizado. O novo, quando encontrado, produz, em geral, medo. A presenga de uma mie capaz de transformaros aspectos per- FUNGCAO TERAPEUTICA DA INTERPRETACAO SO E EFETIVA SE PROMOVE UM INSIGHT turbadores da novidade em algo tolerivel criaas condicdes para internalizacio de um objeto que apéiaa curiosidade dda crianga e seu espiito investigador, promovendo entéo seu desenvolvimento/crescimento emocional. Durante uma anilise, esta funcdo é exercida pelo analista através de suas interpretagées. Lima interpretacao s6 serd efetiva se transmitir algo ao paciente que lhe interesse € 0 estimulle a pensar e a fazer novas observagbes/investigacdes sobre sua maneira de sentir 0 mundo e as pessoas Hoje, dificilmente um kleiniano poderia concordar com a idéia de que o objetivo da interpretacao é apenas 0 de tomar conseiente o inconsciente. Nesta funcio, deverfamos incluir 0 objetivo de interessar o paciente pela exploragao de seu inconsciente (e mesmo de sua cons- Giéncia). Ao fazé-lo, estamos despertando nos pacientes a conviceao de que a experiéncia emocional ¢ infinita. Por meio da exploracio de novos significados, os limites da vida emocional podem sempre se ampliar, através de um aprofundamento das emocées. O dominio do inconsciente € muito maior do que o do consciente. Sabemos que no momento hé um retorno ao fanatis- mo religioso, no seio de todas as crencas, um apelo ao. imediatismo e 8 satisfagio peremptéria do prazer, uma crise do pensamento reflexivo sobre nds mesmos ¢ ‘uma superficializagao das relagdes emocionais. Se julgarmos desse ponto de vista, 0 ideal freudiano esté longe de ter estabelecido um espaco real importante no seio da huma- nidade. Poderfamos até dizer que a verdadeira revolugio psicanalitica apenas comegou. Finalizamos citando a frase com a qual Freud termina (Oftura de ana iasdo: ‘No, nossa ciéncia nao € uma ilusio Mas uma ilusto seria supor que aquilo que a ciéncia no nos dé possa ser obtido fora dela’ owe ‘A situagéo analtica. Elias Mallet da Rocha Barras. IDE, 22: 18.29, ‘outubro de 1992. Psychanalyse et thérapeutique. Hanna Segal. Revue Frongaie de Psychanahse, 1991 VIVER MENTES&CEREBRO 15 16 Coy vau Dy: Por REGINA Mania RAHM te, sobrevivente, 6rfao, aquela de quem perdeu seu lugar de origem na protecio da autoridade ppaterna e sua fé quanto 3 imortalidade da alma, assim como em relagio 20 progresso infinito da espécie. eras lutos constantes movem o humano para novos caminhos; por vvezes, ele consegue sair do abandono e do isolamento ese cenvolve em transformacées profundas e radicais.O contato ccom o desamparo e a angiistia delas proveniente pode ser a mola propulsora para novas reinvengoes. Melanie Klein foi uma dessas pessoas que encarnaram a condicdo de desamparo e de reinvencio, valorizando ¢ mergulhando em suas experiéncias de vida para delas retirar 0 caldo vital do qual até hoje nos alimentamos: Foi uma mulher & frente de seu tempo. Revolucionou a técnica de trabalho com criangas e ampliou o aleance da psicandlise para a compreensdo de estados primitives da constituicio do humano. Uma das inovadoras mais ori- ginais da psicanslise, imprimiu nova orientagao 3 teoria € 8 técnica na compreensdo do inconsciente, 0 que pos- sibilitou desdobramentos fecundos & clinica dos estados limites, da psicose ¢ do autismo. Viena, 30 de marco de 1882. Nasce Melanie Reizes, a ceacula de quatro filhos de Libussa e Moriz. A familia era judia: Moriz, 0 pai, proveniente de um meio ortodoxo, dedicara-se & religiao; entretanto, aos 37 anos inicia estu dos de medicina, Seu espirito independente e sua atitude cientifica foram motivo de grande admiracao da filha. A rie, Libussa, mulher inteligente e ativa, auxilia 0 marido para complementar a renda familiar, abrindo um pequeno comércio. A esposa de um médico exercer uma profissao contrariava os padrdes da época. A energia ea indepen- déncia daquela que se opunha a preconceitos arraigados também viriam a influencié-Ia profundamente. No decorrer da infancia, foi muito apegada & mie e & imma Sidonie. Esta foi quem iniciou Melanie na leitura € na escrita, mas cai gravemente doente aos 8 anos ¢ falece pouco tempo depois. Seria a primeira de uma longa série de mortes que pontuaram a vida de Melanie, cada uma reavivando o medo, a dor ¢ a perplexidade. A condigao do sujeito contempordneo € a de imigran: VIVER MENTESCEREBRO NASCIDA NA VIENA FIN-DE-SIECLE, MELANIE KLEIN DESCOBRIU A FREUD EM BUDAPESTE E NO CIRCULO DE BE MUDOU OS RUMOS DA PSICANALISE ATUANDO EM LONDRES RLIM E Seu irmio Emanuel foi, sem divida, uma das prin. cipais influéncias sobre 0 desenvolvimento inicial de Melanie, Era um adolescente inquieto ¢ inteligente, es- ritor e interessado por arte, que a apresentou ao mundo cultural ¢ floséfico de Viena. Faziam parte deste grupo ( dramaturgo Arthur Schnitzler e o filésofo Friedrich Nietzsche. Teve sucesso imediato com a juventude progressista de Viena, que se identificava com a voz de protesto contra a corrupcio € a letargia intelectual do Império Austriaco, Emanuel fot incentivador de sua ambi Gio em estudar medicina e especializar-se em psiquiatra; Melanie sentia-se viva, imbuida da mais profunda paix: o fervor intelectual. i Quando tinha 17 anos conheceu seu futuro marido, Arthur Klein, um rapaz sério, estudante de engenharia quimica, admirado por sua inteligencia. Na mesma época, faleceo pai, que vinha doente,sofrendo provavelmente do mal de Alzheimer: Algum tempo depois, Emanuel faleceria de parada cardiaca, O tema das perdas e a melancolia mar- ccatiam profundamente seu ser, influenciando sua obra, como veremos adiante, Em seguida, Melanie casou-se, a0s 21 anos, 0 seu in teresse pelo estudo e pela pesquisa teria que aguardar um tempo para vir se realizar. Apés 0 casamento, 0 casal vai residir em Budapeste, onde tem trés filhos: Melita, Hans Erich. O distanciamento do ambiente cultural que tanto amava ea impossibilidade de entregar-se aum trabalho que realmente a interessasse, acrescido por desgostos da vida conjugal e familiar, € pela perda da mae, levaram-na & de pressio, marcada por perfodos de desanimo e desespero. Foi por essa época que teve a oportunidade de lero texto de Freud sobre os sonhos, entusiasmada, decide iniciar a andlise com Séndor Ferenczi. Melanie Klein relata: "Durante a andlise com Ferenczi, cle chamou a minha atencao para o grande dom que eu tinha para entender as criancas e 0 meu interesse por clas e dew muito incentivo & minha idéia de me dedicar 2 anilise de criancas. Nessa época et tinha, € claro, és filhos... Nao descobrira que a educacao podia abranger toda compreensio da personalidade € por conseguinte ESPECIAL MELANIE KLEIN i \VIENA FIN-DE-SIECLE. Acima, a capital austraca, cidade natal de Melanie Klein, em 1850 tera influéncia que se desejaria que tivesse. Sempre tivea sensac&o de que por trés estava algo que eu nao conseguia entender’ (O mundo e a obra de Melanie Klein). VOCACAO ANALITICA Melanie possufa grande imaginacao € valorizava 0 conhecimento que se dava na observacio clinica. Seu primeiro paciente foi Fritz, um menino de 5 anos (na verdade Erich, seu filho cagula), que apresentava inibicao intelectual e bloqueios da curiosidade. Dessa experiéncia cescreve Coutibuigdes a andlie na primera infncia, baseando-se na observagao dos esclarecimentos feitos a uma crianca sobre sua curiosidade sexual ‘As observagdesa respeito do desenvolvimento de Erich sfo apresentadas a Sociedade Psicanalitica de Budapeste WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR Um dos participantes, Anton von Freund, reconhece 0 caréteranalitico de suas investigacbes, mas critica o fato de nao ter intervindo psicanaliticamente sob forma de inter pretagdes¢, conseqiientemente, terse limitado ao material consciente. Ele sugere a Melanie que reserve uma hora por dia para esse tipo especial de conversa, distinguindo esse momento dos demais de sua relacao com o filho. Segue-se um perfodo durante o qual Erich continua a se desenvolver, porém repete perguntas cujas respostas jé conhece; logo, os esclarecimentos nao eram suficientes, Klein conclui que certas questées simplesmente ndo sto, verbalizadas e que essas preocupagtes ndo expressas ver- balmente continuam produzindo ansiedade. Passa entio a suspeitar de fantasias inconscientes e de que o brincar seja uma manifestagao delas VIVER MENTESCEREBRO 7 18 ‘A observagio clinica opunha-se 2 idéia vigente na Epoca, em especial de Anna Freud, de que o trabalho com ctiangas deveria ter um sentido mais formal e explicativo Havia também a idéia de que as criangas nfo faziam uma neurose de transferéncia com o analista pois suas transfe- rncias estavam ligadas aos pais reais. O trabalho com as criangas revelava o inconsciente, 0 acesso a fatasias prinitoas ou inatas, que davam expressdo 1 impulgos reagées instintivas. As fantasias primitivas sio experimentadas em sensagBes e mais tarde assumem a forma de imagens, elas estao o tempo todo presentes (mas rio dependem de palavras). Manifestam-se por meio de ages ou, ainda, acabam fazendo parte do que se sente ser a realidade (psiquica). ‘A observacia desses primeiros contatos trowxe a neces- sidade de encontrar alguém (um analista) que estivesse apto acaptar emogées que se apresentavam de forma pré-verbal e que fosse capaz de mobilizar-se, a fim de recebé-las em seu corpo eem sua mente para, em seguida, transformé-Las, em palavras, abrindo, assim, espago para asimbolizacao. A prinefpio, Klein teve muita cautela com as interpretagdes foi surpreendida com o alcance das mudancas que ocorre- DESENHOS DE CRIANGAS util dos por Melanie Klein para ‘estudar téenicas que possblitassem a psicanslse infantil VIVER MENTES CEREBRO ram no surgimento de fantasias ¢ brincadeiras espontineas Histérias fantésticas apare- ceram, € a crianga, até entio silenciosa, se revelou. Em 1922, Melanie divor- cia-se de Arthur Klein e passa a residir em Berlim, a convite de Karl Abraham, com quem mais tarde, teria sua segun- da experiéncia analitica. Em 1924, no Congreso Inter- nacional, apresenta um texto sobre a psicanilise de criangas Sofreriaduras criticas dos membros mais conservadores, que afirmaram que suas idéias inova- doras violentavam a inocéncia das criangas perturbavam a relacdo com os pais. Enfrenta resisténcia por parte de outrosanalistas, pois, no era médica nem possuia outro diploma universitirio. Ingressou na Sociedade Psicanalitica de Berlim, tornan- do-se um de seus membros, 0 que legitimou sua entrada no mundo da psicandlise mundial. Nessa época sta filha ‘Melitta, termina seus estudos de medicina ¢ acompanha a mie nas reunises psicanaliticas. Essa mulher notavel cconseguiu superar dificuldades pessoais e profissionais liberando seu potencial criativo, dando inicio a uma fase ‘em que publica vrios artigos. A idéia de fazer nome e terreconhecimento the permitiria mobilidade para novos ccentros. Era necessério imprimir sua marca, € assim acon- teceu, Apurou sua técnica ¢ elaborou conceitos como introjego e projegao. Depressao, culpa, angtstia e natureza compulsiva da fantasia seriam temas que investigaria cada vez mais, A agressividade, e nao a libido, comeca a assumir, em sua teoria, a principal forca da angiistia. Com base nessas primeiras anilises, aprende que seu papel seria dar liberdade 3s criangas para que elas puclessem expressar suas emogées e Fantasias, sua fungio seria compreender aquilo que se passava na mente delas e transmitir-lhes 0 que ocortia AINVENCAO DA TECNICA DO BRINCAR A técnica do brincar foi, de certo modo, sugerida pelas ccriangas analisadas, que se ocupavam espontaneamente ‘com seus brinquedos. No ano de 1923, Klein recebe as criangas em sua prépria casa a fim de evitarainterleréncia da familia no tratamento, decide entéo forecer-lhes brin- quedos, ransformando, assim, um fendmeno espontineo fem uma técnica planejada “Estes brinquedos de tamanho reduzido, sew niimero e sua grande diversidade, deixam 0 campo livre para os ESPECIAL MELANIE KLEIN jogos mais variados, enquanto a simplicidade permite uma infinidade de usos diferentes. Assim, tais brinquedos podem exprimircom variedade e em detalhes as fantasiase as experiéncias infantis. Os diversos ‘temas kidicos’, como os afetos que os acompanham e que podemos, ao mesmo tempo, observar e deduzir do contetido mesmo do jogo, se apresentam numa vizinhanca € num quadro estreitos; assim, nada nos escapa do encadeamento e da dindmica dos processos mentais em aco nem da cronologia das experiéncias e das fantasias da crianca." (Julia Kristeva) Ela enfatizava.a idéia de que os brinquedos fossem de tamanho pequeno, "nao mecénicos’, t2o simples como 0 do préprio quarto da crianga, para poderem ser util zados durante 0 jogo. Mostrava-se atenta & expressio da agressividade do jogo, tendo um interesse especial pelos objetos danificados. Interpretava os elementos do brincar respeitando o valor simbslico como os de um sonho. Uti lizava uma linguagem diretae franca como as empregadas pela crianca para referir-se a partes do corpo e a assuntos sexuais de ordem amorosa e agressiva. Consta que era bastante ativa no brincar com os pacientes, dispondo-se a desempenbar papéis nas fantasias, eeencenando os dramas também representados com brinquedos. Esse cendrio revela um mundo interno repleto de per- sonagens que manifestaiam a trama secreta dos conflitos. Outras vezes, os personagens so sentidos como tendo existéncia prépria, ea crianga nao distingue o que é fruto de sua fantasia € 0 que é real, verdadeiro, Ela verificou que, se interpretasse constantemente as brincaderas, a angdstia que sentiam diminufa, Em criangas muito pequenas, observava uma capacidade de compreensio maior do que a de muitos adultos, acreditava que isto acorria vide a0 fatale o vinculo entre consciente ¢ inconsciente ser mais estreto € por, num estigio pré-verbal, abrincadeirase revelarequivalente’asso- supost WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR 1na mesma pessoa. E com isso sepultou a possibilidade do desenvolvimento da anilise infantil. Sio casos que ocorrem na histéria da ciéncia, na qual o pesquisador descobre, mas deixa escapar sua descoberta Melanie Klein, com base em suas observacées eem sua intuigdo genial para captar 0 inconsciente (fato percebido por Ferenczi e Abraham, seus dois analistas), props usar brinquedos como instrumentos intermediarios de comuni- cagio para obter associagbes da crianga. E postulou {com sua criatividade excepcianal) que 0 brincar da crianga € equivalente ao sonhardo adulto. Portanto, a crianca(e por que nio o adultor), ao brinear, sonha, Resta a0 analista, com sua intuicao, desvendar o sentido do brinquedo. Mas isso nao € tio fécil (como bem sabe quem trabalha com psicoterapia infantil), porque a comunicacio do brincar se faz em nivel muito primitivo, conereto, e 0 analista precisa renunciara seu pensamento abstrato, acional, ¢ ter bom contato com seu préprio inconsciente arcaico. Além disso, deve ter acesso criativo ao préprio simbolismo de seu inconsciente, A obra A psicandlise de criangas € dividida em duas artes: técnica, na qual aborda os principios da andlise de criancas € oferece diretrizes priticas ~ vélidas ainda hoje - para o atendimento da crianga pequena (além da crianga nas fases de laténcia eadolescéncia);¢ teérica, na qual oferece uma visdo da vida psiquica sob a tensio das situagdes arcaicas geradoras de angistia, influenciando a estruture do ego e do superego, ¢ 0 desenvolvimento da sexualidade da menina e do menino. Aqui revela sett modelo para efetuar 0 que propde serem as bases de qualquer andlise: no dirige, ndo educa, nao critica nem aprova, nio afaga nem rejeita, deixa o paciente expressar o que vive no momento, favorecendo a cria a0 do que chamou de "situagao analitica’, que permite 0 desenvolvimento da transferéncia, ¢ eria 0 ambiente para o deslindamento do inconsciente através de inter- pretagoes sucessivas. Sua bissola para alcangar as fontes dos distirbios € a angiistia. A angtstia € decorrente dos ataques destrutivos efetuados pela fantasia onipotente da crianga. Ataquesao corpo da mie, aos bebés, ao pénis do pai — que a fantasia localiza dentro do corpo da mae —, visando 20 roubo aua destruicao desses objetos. Mas, por no possuir ainda instrumentos te6ricos para discriminar as espécies de angistia, nessa obra Klein ainda confunde perseguicio e culpa RYAD SIMON é professor titular do Departamento de Psicologia Giinica do Instituto de Psicologia da USP, orientador académico- Gentico do curso de pés.graduacio e especialzagao em prico- terapia psicanaltica do Instituto de Pscolegia da USP e membro cfetive da Sociedade Brasileira de Psicanlse de Sao Paulo, VIVER MENTE&CEREBRO- 25 26 [AANALISE DE CRIANCAS revela que o superego é construido por identificagoes de natureza contractéra. Ao lado, estatueta ‘asteca do século XV representando a dualidade Essa distingio tornou-se possivel pelo avango € apro- fundamento da teorizacio a propésito da angst e de suas corigensna fantasia inconsciente. As investigagdes de Klein naanilise de criangas permitiram-Ihe teracesso a0s estratos profundos da mente, abrindo caminho paraa compreensio do funcionamento pstquico do psiedtico. Conjecturou que 6 psicético regride a um modo de pensar, de sentir, de se relacionar com 0 mundo interno e externo de uma forma tmuito préxima & do comportamento do bebé. Essas concepgbes fecundas foram apresentadas em seu artigo de 1935 "Uma contribuicaoa psicogénese dos esta dosmaniaco-depressivos". Aqui jése pode afirmar que teve inicio outra ‘escola’ dentro da psicandlise: um conjunto de concepgdes novas, no uma rejeigao, mas um deser volvimento das teorias freudianas, uma Construcao tedrica relativamente coerente esustentada em novas descobertas, que fornece uma visio mais ampla da estrutura ¢ funciona: ‘mento da vida animica, Freud conheceu a crianga através da analise do adulto, Suas investigagOes permitiram-Ihe apreenderas condigées da origem c evolugio do psiquismo até o nivel neurético, por assim dizer. Klein, abordando diretamente actianga, teve condigdes de deduzira origem € as evolugdes normal ¢ patolégica do bebé, ampliando ‘co conhecimento da mente até o nivel psicético. (Talvez, se encontrarmos uma forma de analisar o bebé, estejamos em condigdes de conhecer a origem e a evolucio do fun cionamento mental da espécie humana...) OBJETOS PARCIAIS Noartigo de 1935, Klein lancaas bases da nova teoria da formagio da mente, desde o nascimento. E uma construcéo relativamente ristica, comparada com a sofisticagao meta psicoligica de Freud no capitulo VII da nteretaga ds sonbos (1900) e, mais tarde, de O ego eo id (1923), mas suficiente mente articulada ¢ coerente para permitir um vislumbre das estruturas e processos psicol6gicos da mente arcaica (Bion se incumbird de prover a sofisticagio do aparelho psiquico do ‘grupo Kleiniano em O aprender da expridicin, de 1962.) Prope Klein que nas primeiras semanas de vida esta belece-se a posicdo parancide (que seré chamada esquizo- parandide, posteriormente, em reconhecimento ao fato de que 0 bebé, 20 efetuar a divisio do objeto, também fica dividido). Ao nascer, o bebe ja estabelece uma relagio de objeto com a mie (contrariando a teoria do “narcisismo primério”, de Freud, na qual o bebé vive dentro de seu universo subjetivo, sem contato com 0 mundo externo) Apenas, como o ego primitivo € incoordenado, as impres- ses sensorias sio dispersas, no se juntam para formar um VIVER MENTESCEREBRO i i i i : objeto coerente. A percepgio do bebe, nos trés primeiros meses de vida, é fragmentada, controlada pela cisto,crian- do 0 que Klein chamou de “objetos parciais’ {A projegio do instinto de vida no objeto externo cria 0 objeto que gratifcaalimenta, ama e protege obebe;é const cerado um “peito bom’, éamado. A projecio do instinto de morte no objeto externo cria o objeto frustrador, que rejeita cameacao bebé; é considerado um ‘peito mau’, e€odiado. (Melanie Klein esclarece que a palavra “peito” é atribuida pelo adulto ao bebé - que ainda nao forma palavras — para esignar um suposto objeto psiquico, nada tendoa ver com © peito anatémico.) Dada a ‘qualidade rudimentar do apa- relho perceptivo do bebé, as imagens criadas nesse contato com 6 mundo extemo sio impregnadas de projegies da fantasia inconsciente. E sio simultancamente introjetadas, isto 6, incorporadas concretamente, engolidas, por assim dizer, criando um mundo interno de objetos antésticos, ora cextremamente generosos, ora excessivamente crud, assim ‘como se vé nos deliios e alucinagbes dos psicdticos. ‘A angistia predominante nos primeiros meses de vida é a“angéstia de aniquilamento’, culo prot6tipo € 0 trauma do nascimento, também designada “anggistia persecut6ria’, ot *anggistia parandide” (dat o nome de posigio paranbide). As angistias mobilizam 0 ego a criar “defesas’. As principais, neste inicio da vida, G0 acisio (spitng), que procura separar o "'peito bom’ do "peito mau" para que este no o destrua; a projegéo, que procura colocar fora da mente os persezuiores, a negagio, para aniquilara percepcio quando o perseguidor nfo € diretamente destruido, a idealizacio, que cria objetos muito poderosos para proteger 0 ego do aniquilamento visado pelos objetos persecut6rios. A patologia da posigio esquizo-parandide constitu a base para 0 desenvolvimento da esquizofrenia e de quadros assemelhados. ESPECIAL MELANIE KLEIN ‘Como crescimento do bebe, pela maturagao do sistema nervoso, e pela tendéncia a sintese caracteristica do ego, vai se constituindo, aos poucos, desde o terceiro més de vida, um modo de funcionamento e estruturagio da mente ue Klein designou como posicio depressiva. Isso porque 2 angiistia predominante nesse estégio de desenvolvimen- to — que se encontra plenamente instalado no sexto més de vida do bebé, ¢ na evoluco normal, aleanga o fim do primeiro ano~ éa“angiistia depressiva’, gerada pelo temor de que 0 objeto amado do bebé tenha sido ou venha a ser destruido por seu 6dio, E como se estabelece essa posicio depressiva? Pela tendéncia & integracio, as imagens do ‘peito bom’ e do peito mau” vo se aproximando na mente do bebé. Ele comega a perceber que o objeto amado, que ele quis proteger,¢ 0 objeto odiado, que ele quis destruir, so componentes de um 56 objeto, 0 "peito total. E assim fundamental para obom relacionamento humano ea preset ‘ago € evolugio da cultura, Por outro lado, e os impulsos dlestrutivos do bebe forem excessvos, sea por édio, sea por voracidade, seja por citime (mais tarde ficaré mais explicito 0 pape dainveja), amie ser percebida como morta, ou agoni- zante, ndo sendo possivelrecupers-la pelos meios da repara- lo. A figura da mae interna danificada se tomaré um objeto «que provoca uma relagio de ‘culpa persecutériirrepardve Nada do que o bebé faa poderé rstauré-la adequadamente. Naimpossibilidade de reparar a mae interna destruida, restaré a0 sujeito apenas indenizé-la continuamente, numa divida sem possibilidade de remissio, Na melhor das hipsteses, 0 estabelecerd posteriormente relagées masoquistas de submissdo e condescendéncia com a prépria mie, ou pessoas ‘que a substtuam co-transferencialmente no futuro, Na pior cas hipSteses,deservolveré um estado psicéticomelancslico, [ A PERDA DO OBJETO AMADO PELO ADULTO FAZ | REVIVER A POSICAO DEPRESSIVA INFANTIL. vai ocorrendo com os outros objetos parciais amados ¢ odiados, temiddos ¢ desejados, que, 20 serem integrados, tornam-se amados ¢ odiados simultaneamente, de modo que 0 sujeito ingressa num novo mundo, com novas di- fato de as pessoas serem tio contraditérias e complexas Com a integracio dos objetos parciais vai-se gradativa- mente compondo a mie completa, Como esse processo coincide com 0 desmame, com o nascimento dos dentes, que 0 levam a morder o abjeto, exacerbando as fantasias canibalisticas, 0 bebé forma a impresséo de que com set 6dio destruiu # mae amada, Daf surge um sentimento de culpa, um arrependimento pelo dano causado na fantasia onipotente, acarretando um estado de luto pelo mundo destruido, interna extemamente, vivido com muita dor € remorso, muito semelhante ao adulto quando perde um objeto amadbo. Alids, para Melanie Klein, a perda do objeto amado do adulto seria a revivescéncia da posicio depressiva infantil Sea destrutividade do bebé nio for excessive, a mic atacada ainda tem vida, estéparcialmente intacta e pode ser reconstruda. © amor ¢ a culpa pelo dano causado 3 mie, sua identificagio com 0 sofrimento dela, mobilizam um rmecanismo de “reparagao’, pelo qual o bebé renuncia& sua destrutvidade inicia um movimento de lenta restauracéo do objeto amado prejudicado, Esse proceso de reparagao é EM A PSICANAUISEDE CRIANCAS, a angistia € a isola para os distros psiquicos. Ao lado, cena de sofrimento infant ‘em tela de Sofonisba Anguisiol, primeira mulher a bier reconhecimento como pintora durante Renascimento WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR. que poderé eventualmente ser revertide.temporariamente para outro quadro psicético de tipo maniaco, este mais ins tavel e que desemboca em novo perfodo melancélico, com risco de sci. ‘Apésaapresentacao de suas concepcdesem "Uma con- tribuigdo & psicogénese dos estados maniaco-depressivos", em 1935, a trangiilidade e2 aceitacio das idéias de Mela nie Klein nunca mais foram as mesmas entre os londrinos (cla se mudara para Londres em 1926, aconvite de Ernest Jones, Joan Riviere, James e Alix Strachey, entre outros) (Os ataques mais furiosos vieram de Edward Glover, até entao apreciaclor das contribuicdes de Klein. Sua objecio mais preconceituosa ¢ raivosa vinha de sua indignacio: "Como pode uma pessoa sem formagio médica, e sem ‘VIVER MENTE&CEREBRO- a i : é 28 CCONTROVERSIA SEM RUPTURA. experiéncia, falar de psicose2", Glover pretendia excluir Melanie Klein da Sociedade Briténica de Psicanalise, e talvez tivesse conseguido, ndo fossea defesaintransigente de Ernest Jones, entio presidente da instituicao. Depois vieram 05 refugiados do nazismo, entre eles a ferrenha adverséria de Klein, Anna Freud, em 1938, acompanhando seuvelho e glorioso pai, Sigmund Freud, que viriaa falecer tem Londres, pouco depois, em setembro de 1939. Enire 1943 ¢ 194, Klein participou do duelo de ideias entre os grupos klciniano ¢ annafreudiano, conhecido como Discusses Controversas (Controversial Discussions), concebido por Emest Jones como uma forma de busca de entendimento entre essas duas correntes de pensamento psicanalitico, Nao resultou no esperado entendimento, mas forcou Klein ¢ scus colaboradores a refinarem e apurarem mais suas concepgdes. Disso resultaram varios trabalhos, que foram sendo publicados periodicamente O resultado mais notével do esforgo de Klein para fazer uma transposigio de suas descobertas com a anilise de ctiangas ~ base para a compreensio do mundo mental do bebé — para a patologia do univetso ca6tico do psicético foi o artigo "Notas sobre alguns mecanismos esquizGides' (1946). Ela descreve um tipo de projecio —a "identficacio projetiva" — que cansistena fantasia onipotente de divisio A CLINICA KLEINIANA DOS PSICOTICOS TEVE CONTINUIDADE COM ROSENFELD, HANNA SEGAL E BION de partes do sf, langando-as dentro dos objetos externos, controlando-os¢transformando-os em objetosparcialmente idénticos a0 sujeito. Ali ela esmiuga os meandros da intera- ‘go entre impulsos, fantasias, anxistias e defesas, nos tes primeiros meses de vida, ¢ relata formas de perturbacio do funcionamento mental do psicético, principalmente a cisio estilhacadora dos objetos, resultando em mirfades de perse- uidores, a dentificacSo projetivaexcessiva(gerando objctos estranhos que Bion iria chamar de “objetos bizarros’), que cesvazia a mente do sujito, acarretando a despersonalizacio. ‘A identiicacio projetiva patol6gica cinde o sef, partes suas invadem os objetos extemos resultando em relacbes objetais natcfsicas. Seureverso, aidentilicagdo intojetiva patol6gica, produz uma intromissio do objeto dentro do ego criando tuma pscudoidentidade (Sobre a ldvifcacio, 1955). "Notas sobre alguns mecanismos esquizGides'¢ "Uma contribuigéo Aapsicogtnese dos etados maniaco-depresswvos’ consituram a base para inicio de um trabalho proficuo deatendimento analtico de pscsticos, adotando uma sisteméticaestritamente VIVER MENTES& CEREBRO psicanalitica. Ou seja, 0 paciente era atendido nos moldes clicsicos da psicoterapia psicanaltica, por meio do uso da -verbalizagio, em virias sessées semanais, com interpretagao sistemética das angtstias, das defesas, dos impulsos eda trans- feréncia, dentro de uma situacio analitica com caracterstcas de uma "psicose de transferéncia’.O primeiroa apicar essas teorias Kleinianas foi Herbert Rosenfeld, secundado por Hanna Segal, depois Wilfred Bion, com relativo sucesso, conseguindo, seno uma cura, pelo menos a possibilidade de o paciente esquizofrénico viver fora dos sanatorios e ser capaz de prover seu préprio sustento. Em 1937, quando jé ndo se esperavam grandes avan 05, Melanie Klein, aos 75 anos publica Irae egratido, surpreendendo seus colegas com um trabalho notavel no qual ressalta a importéncia da inveja na primeira relagéo do bebé.com o peito. Sea inveja do bebe ¢ excessiva, este ataca 0 peito que 0 prové, estragando suas qualidades, introjetando um peito prejudicado, e perturbando defi- nitivamente suas relacées posteriores. Klein admite que a inveja éuma manifestacio direta do instinto de morte, que pode ser atenuada pelo instinto de vida, tornando-se um. fator de estimulo para o progresso. Mas quando a inveja atua em demasia, o que significa que as pulsbes de morte assumem a primazia, 0 estrago do objeto interno nao permite um aproveitamentoadequado de suas qualidades, € 0 ego, identificado com ele, induz a que o sujcito seja ccondenado a uma vida vazia e pouco produtiva. Ao passo que sea gratidio prevalece na relacio do bebé como pei to, este internaliza um “peito bom" amado, que formard o alicerce de uma estrutura mental saudavel, com capacidade ESPECIAL MELANIE KLEIN, dde amar, construir ¢ usufruir a vida, As consideracbes de Klein sobre a inveja, uma das quais a auto-inveja isto é 0 estabelecimento no mundo interno do bebé de um objeto invejoso, faz com que a pessoa sempre sc critique, nunca considere boa sua produgio, nunca consiga usufruir das coisas que consegue com imenso sacrificio, OBJETOS TERRORIFICOS A auto-inveja € um dos conceitos mais dificeis de compreender, mais dificeis de tratar, de explicar para os pacientes, porque contém em si, a meu ver, a esséncia da Joucura. Isso me lembra um colega dos tempos em que eu trabalhava no Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina. Numa ocasiao, durante o perfo- do entre 1967 e 1973, em que eu criava ¢ desenvolvia um teste projetivo usando figurasa serem pintadas com lapis de or (Teste Estilocrémico), esse colega, que trabalhava em estatstica, dizia-me: "Voces, psicdlogos, ficam perdendo tempo fabricando testes. E muito fécil. Vocé pode fazer um teste assim. Vocé pega uma nota de cem e dé pro sueito. Se ele rasgar, é louco!’. Com isso, ele captava intuitivamente a importancia patogénica da auto-inveja. Melanie Klein trabalhou até o dltimo alento de vida para concluir a obra que seria um modelo de trabalho para seus continuadores em psicoterapia psicanalitica de criangas: Narration da anise de uma crianga, publicada postumamente, em 1961. Mas, para néo morrer e deixar trangiilamente embalados seus colaboradores, Klein publicou em 1958, um controvertido artigo intitulado ‘Sobre o desenvolvimento do funcionamento mental” Nele, ela lanca 0 conceito de “objetos terrorificos", que seriam fruto de um tipo de cisio em que o instinto de morte predomina, Esses objetos aterrorizantes devem ser relegados pela cisio &s profundezas da mente para permitirem o funcionamento mental com relativa tran: WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR EXILIO INGLES. Freud entre Anna e Ernest jones ‘ante da casa para onde o pai da psicanalse se mudou em 1938, fugindo do nazismo aiilidade, Durante toda a sua obra, Klein propunha que a satide mental é fruto da integragao, do predom{nio das forgas de vida, que o trabalho da anilise visa aproximar as, partes da mente que esto cindidas, que a patologia ¢fruto dessa divisdo da mente e que sua reversio s6 € possivel ‘quando a mente se recompde, restaurando a savide mental Nesse artigo ela coloca em diivida a universalidade da integracao como condicao da normalidade. Isso porque esses objetos aterrorizantes sio de tal natureza destrutivos «que nenhuma possibilidade de conciliagao € possivel. Ha: bitualmente eles sio postos a distancia, quando as forcas psfquicas positivas preservam o equilibrio, Contudo, em situagdes de crise emocional, esse estado de alastamento dos objetos terrrificos fracassa, eles invadem mais espa: {¢0s da mente, causando 0 estado de pavor caracterstico dessas situagdes instaveis da vida. (Em meu livro Paico logis clinica prevestioa, publicado pela Editora Pedagégica Universitéria, utilizei esse conceito de emergéncia dos objetos terroriicos para fundamentar minha teoria da rise adaptativa.) O controle somente se restabelece por nova cisio e recondugio desses objetos inconciliéveis de volta 20s confins do universo psiquico. Alguns colegas kleinianos acreditavam que "Sobre desenvolvimento do funcionamento mental” tinha a fina. lidade de abrandar a distancia entre as teorias de Kleine dos seguidores de Freud, porque foi apresentado no Con: gresso Internacional de Psicanélise em Pars, esupunham que cla estivesse pleiteando a presidéncia da Associagao Psicanalitica Internacional. Essa é uma alegacio que nao procede, ameu ver. Tendo demonstrado a0 longo da vida uma coragem ¢ um amor & verdade a toda prova, tendo doado generosamente seu sangue e seu suor, retirando do pr6prio sofrimento e da capacidade de amar, através de sua genialidade, suas concepgdes mats crativas, nlo seria para bajular um punhado de colegas, no fim da vida, que ela alteraria suas idéias, De fato, penso que Melanie Klein deixou uma mensagem: nunca se acomodem, a verdade é inapreensivel, com o maximo de empenho conseguimos colher mintisculo progresso; ¢ somente a luta incessante permite aproximacoes sucessivas &realidade humana.soe Introduglo & psicandlise: Melanie Klein. Ryad Simon. Editors Pedagégica Universitaria, 1986. Introdugdo & obra de Melanie Klein. Hanna Segal. Imago, 1975. Desenvolvimento clinico de Melanie Klein. Donald Melzer. Escuta, 1989, Melanie Klein le Il Jean Michel Petot.Perspectva, 1987. VIVER MENTE& CEREBRO 29 30 "De wn modo geal, os progress de Melanie Klin eda Sociedade PsicanalticaBritaica caninbaram de mos dada Hanna Segal elanie Klein foi a protagonista daquela que ficou conhecida como a Escola Inglesa de Psicandlise, uma perspectiva tedrica € clinica que influenciou, a partir de Londres, parte significativa do campo psicanalitico internacional A histria da formac3o de Melanie Klcin como psi canalista e da constituigéo da Sociedade Psicanalitica Britanica esto muito entrelacadas e necessitam ser vistas a partir dessa Optica As passagens mais significativas dese encontro entre Melanie Klein e os ingleses so como um retrato de uma terra fértil 3 espera de uma mie criativa e geradora de muitos frutos, Desse encontro nascem a teoria € a clinica dda chamada Escola Inglesa Inicialmente, devemos salientar que os primérdios da formagio da Sociedade Psicanaltica Briténica séo ante- riores chegada de Melanie Klein a Loneres. Sua origem nos remete diretamente a figura de Ernest Jones, fundador dessa sociedade, bi6grafo de Freud e "embaixador' da psi- candlise para questées internas e externas do movimento psicanalitico internacional. (Os atributos de Jones, desenvolvidos ao longo do seu percurso psicanalitico, podem ser pensados como marcas indeléveis da importancia de Freud. Ambos mantiveram uma longa relaco pessoal e cientifica que durou até a morte de Freud, na Inglaterra, no ano de 1939. Jones fundou, em 20 de fevereiro de 1919, The British Psycho-Analytical Society e foi seu presidente até 1944. Enquanto Jones fundava a Sociedade Psicanalitica Britanica, ‘Melanie Klein, em andlise desde 1912 com o psicanalista Iningaro Séndor Ferenczi (que iria até 1919), apresentava ‘seu primeiro artigo “The development of a child” (O de- seavolvimento de umia crianca), através do qual se tornou VIVER MENTE& CEREBRO versus POR MARINA Masst memibro da Sociedade de Budapeste. Vale lembrar que Jones, em 1913, fez sua andlise didatica com Ferenczi, tornando-se o primeiro analista a ser analisado. De Ferenczi, que a incentivara a fazer observacao de

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