Sei sulla pagina 1di 3

Documento base para o I Seminário Nacional sobre o Exame Nacional de

Desempenho dos Estudantes


Cassiano “Miau” Ricardo (CAF-UFPR)
Firmínia Rodrigues (Coordenadora Secretária – ENEFAR)
Francisco Gick (Coordenador Administrativo – ENEFAR)

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) é um dos elementos do Sistema


de Avaliação do Ensino Superior (SINAES), instituído pela lei 10.861 de 14 de abril de 2004 e
regulamentado pela portaria 2051 do Ministério da Educação (MEC), objetivando “a melhoria da
qualidade da educação superior, a orientação da expansão da sua oferta, o aumento permanente da sua
eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do
aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação superior,
por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores democráticos, do respeito à
diferença e à diversidade, da afirmação da autonomia e da identidade institucional” 1. Além do
ENADE, compõem o SINAES a auto-avaliação, a avaliação externa, avaliação dos cursos de
graduação e instrumentos de informação (censo e cadastro)2.
Esse ano, os cursos de agronomia, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia,
fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, serviço social, terapia
ocupacional, zootecnia, biomedicina, tecnologia de radiologia e tecnologia de agroindústria
participarão do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE).
No entanto, não basta constatar a realização do Exame, é preciso que o entendamos em termos
de seus objetivos e métodos, para além do discurso do MEC. Avaliar não é algo neutro, e sim um
processo político: se avalia a Universidade em torno daquilo que dela se espera. E o complexo – uma
parafernália de leis, decretos, medidas provisórias – da reforma universitária do governo Lula, no qual
se insere o SINAES, deixa claro qual o projeto que se tem para universidade brasileira nesses tempos
de franca neoliberalização do país: uma universidade que forma, mas para o mercado; que produz, mas
para o mercado; uma universidade que seja crítica, mas até os limites de aceitação do mercado; que
seja transformadora, mas que a transformação seja a melhoria da qualificação dos técnicos para melhor
servir as demandas do capital nacional e internacional.

Objetivos e métodos: qual o papel do ENADE na edificação deste projeto de universidade? E


como ele se dá?

O SINAES como um todo não é um mecanismo de avaliação que preveja a real melhoria da
Universidade brasileira, ao contrário, o Sistema encaminha um aprofundamento do sucateamento do
ensino superior no país. Essa tese se sustenta pela omissão nos marcos regulatórios do SINAES de um
mecanismo claro para suprir as necessidades evidenciadas pelos resultados da avaliação; o que se
encontra nesses textos, isso sim, é a previsão de punições para as Instituições de Ensino Superior (IES)
que obtiveram maus resultados. E também o Projeto de Reforma Universitária (tanto os anteprojetos,
quanto o PL 7200/2007) não prevê um aumento de verba para o Ensino Superior no Brasil, o que
prevê, no entanto, é a “autonomia” da Universidade, que não é uma verdadeira autonomia, mas uma
autonomia financeira – para captação de recursos, e deve-se perguntar: onde? A resposta é óbvia: no
mercado.
Pois, se o SINAES não se propõe a – a partir da análise da realidade das IES – construir uma
política de financiamento e acompanhamento das universidades com vistas a suprir as deficiências
evidenciadas pelo processo de avaliação, a que se propõe então o SINAES? Para entender e responder
a essa questão, temos que ampliar um pouco nosso foco nesta reflexão, tendo a clareza de qual é o
papel do Estado neoliberal na vida da sociedade: regulamentar, mas fazendo-o dentro dos limites
ditados pelo mercado.
A partir do exposto, não é difícil perceber que, se não se aumenta as verbas para as IES, a
avaliação não se propõe a melhorar as condições das universidades e a elas se “dá” autonomia para
captação de recursos (o que não só figura no projeto de Reforma Universitária, mas já faz parte do
cotidiano das IES com as fundações de direito privado), o que se está fazendo é desresponsabilizar o
Estado pela manutenção das Universidades que são assim jogadas aos apetites do mercado.
O ENADE se propõe a “aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos
conteúdos programáticos, suas habilidades e competências”3, mas qual o objetivo de “aferir o
rendimento dos alunos” no contexto de um sistema de avaliação que não se propõe a efetivamente
solucionar os problemas apresentados pelas universidades brasileiras?
No SINAES se percebe uma centralidade do exame de desempenho dos estudantes, o que
parece uma continuidade da lógica do Exame Nacional de Cursos (ENC), o Provão, e as avaliações,
interna e externa, parecem acessórias ao ENADE. Mas será que avaliar o desempenho dos estudantes
é tão mais importante que avaliar as condições em que se dá sua formação? A centralidade do ENADE
no SINAES vem de uma opção de fechar os olhos à profundidade dos problemas por que passam as
universidades brasileiras, jogando sobre os estudantes a responsabilidade de serem “bem” formados,
além da responsabilidade pelo desempenho de seu curso de forma geral. Não é raro ver nas faculdades,
centro e departamentos de nossas IES faixas exaltando as notas altas dos estudantes de determinado
curso no ENADE, assim como não é raro ver painéis nas movimentadas ruas das cidades
propagandeando a qualidade dos cursos de universidades privadas como base nos resultados do
ENADE. E se o ENADE se apresenta, na prática, como o centro no SINAES, ele se apresenta na mídia
como o único elemento de avaliação das IES, assim como o Provão se apresentava.
Avaliar os estudantes é de extrema importância, assim como o é avaliar as IES como um todo.
Mas, e isso foi dito já, avaliar é um processo político, se avalia os estudantes a partir do que se espera
deles, e isso não está dissociado do projeto de universidade e de sociedade que se tem. Se esperamos
formar estudantes éticos, críticos, comprometidos com a transformação da realidade e a superação das
contradições que esta nos impõe, construiremos uma avaliação que supere os conteúdos técnicos
específicos da profissão – sem, é claro, deixa-los de lado, que considere as peculiaridades e
necessidades regionais, que seja realizada no contexto da própria universidade sem, com isso,
comprometer a possibilidade de uma comparação interinstitucional – mas sem constituir um
ranqueamento – entre os resultados de diferentes IES. No entanto, se esperamos formar meros
técnicos, homens e mulheres-máquinas moldados nas formas que o mercado fornece, então podemos
nos contentar com uma avaliação dos estudantes que seja ranqueadora, superficial, não equânime pelo
desrespeito às peculiaridades regionais e mesmo das universidades dentro de uma mesma região,
obrigatória, punindo os estudantes que se neguem a ser por ela avaliados. Se quisermos formar meros
técnicos alienados e alienantes podemos nos contentar com o ENADE.
E se a universidade que queremos se aproxima tanto de uma linha de montagem, produzindo
um monte de objetos iguais – ou muito parecidos – podemos conceber a avaliação das IES com uma
espécie de controle de qualidade em que se comparam os produtos, se destaca os melhores e se
descarta os piores.
E os estudantes-objeto formados nestas universidades poderão facilmente ser comparados e
ranqueados. E quem determinará o uso ou não desses estudantes-objeto? O mercado, a lei da oferta e
da procura.
É por não acreditar que a universidade seja uma máquina de formatar para o mercado, mas um
elemento da superação das contradições que essa realidade nos apresenta, sendo elemento da
emancipação do povo, que o Movimento Estudantil organizado, independente e combativo do Brasil,
não legitima o SINAES e encaminha o boicote ao ENADE na perspectiva da construção de uma
avaliação de verdade para a Universidade brasileira, pautada num projeto popular de universidade,
uma avaliação que supere o ranqueamento e a meritocracia e que sirva de subsídio para real melhoria
das nossas IES e não de subterfúgio para precarização e privatização das mesmas.
Educação não é mercadoria que possa ser subordinada aos sabores e dissabores do mercado,
mas um direito que deve ser garantido a todos!
POR UMA AVALIAÇÃO DE VERDADE!
BOICOTE JÁ!

“QUE SE PINTE DE NEGRO, QUE SE PINTE DE


MULATO, QUE SE PINTE DE OPERÁRIO... POIS A
UNIVERSIDADE NÃO PERTENCE A NINGUÉM E SIM
A TODO POVO”. Ernesto Guevara

________________________
1
Lei 10.861, de 14 de abril de 2004, artigo 1º, parágrafo 1º.
2
Retirado do sítio do INEP: http://www.inep.gov.br/superior/sinaes/
3
Retirado do sítio do INEP: http://www.inep.gov.br/superior/enade/enade_oquee.htm

Potrebbero piacerti anche