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A Formação do Jovem Corredor de Meio­Fundo 

Dr. Paulo Colaço 
Docente  da  Faculdade  de  Ciências  do  Desporto  e  de  Educação  Física  da 
Universidade do Porto ­ Gabinete de Atletismo 

O  treino  com  jovens  deve  ser  orientado  no  sentido  de  respeitar  princípios  e 
orientações bem específicas e individualizadas. Treinar o jovem pensando no seu futuro 
potencial como atleta é uma tarefa repleta de dificuldades que só pode ser bem sucedida 
com  um  nível  de  conhecimentos  adequado  e  num  processo  de  interrogação  e 
reformulação  constante  do  trabalho  realizado.  Frequentemente  negligenciamos  a 
importância  do  nível  de  formação  de  quem  treina  atletas  jovens,  pensando  quase  em 
exclusivo nos atletas seniores de alto nível e esquecendo­nos que o sucesso no atletismo 
sénior só será possível se antes, modelos de formação adequados forem implementados 
no  treino  de  jovens.  No  meio  fundo  e  fundo  os  riscos  são  maiores  especialmente  se 
tivermos  em  conta  ser  demasiado  fácil  fazer  com  que  jovens  tenham  resultados 
desportivos com níveis por vezes surpreendentes. 

1. Introdução 

A  criança  e  o  jovem  não  podem  ser  vistos  como  adultos  em  miniatura  capazes  de 
treinar de igual forma, com uma simples redução de volumes e intensidades de treino. 
Não podemos ignorar a realidade desportiva actual e a vontade de muitos de fazerem 
dos  jovens  autênticos  campeões  enquanto  jovens,  comprometendo  para  sempre  a 
possibilidade de se consagrarem bons atletas no futuro. Os exemplos que nos chegam de 
jovens capazes de fazer a Maratona com 10 ou 12 anos, têm de servir como exemplos a 
não seguir já que o seu processo de crescimento e maturação não lhes permite estarem 
sujeitos  a  cargas  de  treino  capazes  de  os  preparar  para  realizar  esforços  de  tão  longa 
duração.  Felizmente  a  nossa  modalidade  permite  que  um  jovem  praticante  possa 
desenvolver  as  suas  capacidades  bem  mais  tarde  do  que  noutras  modalidades 
desportivas, cujas exigências competitivas se fazem sentir desde logo muito cedo. 
Contudo,  mais  do  que  constatarmos  este  facto,  temos  de  ser  capazes  de  o  fazer 
reverter  numa  vantagem,  capaz  de  permitir  que  os  nossos  atletas  progridam  com  a 
tranquilidade que lhes permitam ser bons atletas de preferência durante muitos anos. 
Com este artigo pretendemos abordar de uma forma sintética algumas preocupações 
que deverão fazer parte do treino do jovem corredor de meio fundo que numa primeira 
instância  deverá  ser  visto  como  um  praticante  de  Atletismo,  capaz  de  receber  toda  a 
riqueza multidisciplinar que a nossa modalidade felizmente oferece aos seus praticantes. 
É cada vez mais comum constatarmos, quer através de estudos (Rolim R, 1998), quer 
de  relatos  de  casos  individuais  (Revista  Atletas,  2006),  a  existência  de  corredores  de 
alto  nível  que  tiveram  o  início  da  sua  prática  mais  regular  da  corrida  em  idades 
avançadas.  Nem  por  isso  com  menores  níveis  de  rendimento  e  quase  sempre  com  a 
vantagem  de  uma  maior  longevidade  no  alto  nível.  Deste  modo,  treinar  no  presente 
pensando no futuro, permitirá orientar melhor o talento desportivo do atleta, de modo a 
que o aparecimento de um grande resultado suja como uma consequência natural do seu 
talento  e  do respeito  pelos  princípios  básicos  do treino.  Iremos  assim  direccionar  este 
artigo  para  propostas  de  trabalho  que  julgamos  deverem  ser  adoptadas  no  treino  de 
jovens.

A Formação do Jovem Corredor de Meio­Fundo  1 
A CRIANÇA E O JOVEM NÃO SÃO UM ADULTO EM MINIATURA 
Treinar no presente pensando no futuro, irá permitir orientar o talento desportivo de 
um  atleta,  respeitando  o  seu  desenvolvimento  maturacional.  Contudo,  muitos  insistem 
em treinar no presente hipotecando o futuro fazendo com que todo o trabalho realizado 
com o jovem atleta seja projectado à imagem do sénior, tanto nos conteúdos de treino 
como na procura desenfreada de resultados, definindo objectivos em tudo idênticos aos 
normalmente projectados para atletas seniores. Na verdade, poderemos ter um jovem de 
grande  nível  regional,  nacional  ou  mesmo  internacional,  mas  com  muito  maior 
dificuldade teremos nesse jovem o atleta sénior que os seus resultados prometeram. De 
casos destes estamos repletos de exemplos em Portugal! 
A  Tese  de  Doutoramento  do  nosso  colega  Ramiro  Rolim,  apresentada  em  1998  e 
intitulada  “Contributo  para  o  estudo  do  meio  fundo  e  fundo  de  atletas  jovens  em 
Portugal”  deixa­nos  algumas  pistas  de  reflexão  muito  importantes:  (i)  ex­  atletas 
Portugueses de nível Europeu e/ou Mundial iniciaram a prática do atletismo numa idade 
muito  avançada;  (ii)  estes  mesmos  atletas  revelaram  uma  prática  desportiva  muito 
alargada  até  aos  18  anos  e  (iii)  estes  atletas  revelaram  uma  participação  competitiva 
enquanto jovens muito moderada. 
Um  outro  estudo  realizado  tendo  por  base  os  atletas  filiados  na  Associação  de 
Atletismo  de  Braga  (Pacheco  A,  2003),  permitiu  ainda  verificar  que  apesar  de 
assistirmos  a  um  esforço  no  sentido  de  se  captarem  novos  atletas  para  a  modalidade, 
parece  não  existir  uma  permanência  desses  mesmos  atletas  ao  longo  dos  diferentes 
escalões etários. Este é um problema que nos toca particularmente enquanto treinadores. 
Para  além  do  dispêndio  de  tempo  que  temos  com  atletas  que  depois  acabam  por 
abandonar a modalidade antes de poderem mostrar os resultados do seu trabalho, temos 
de  ponderar  seriamente  as  idades  de  inicio  de  prática  da  modalidade  e  quais  as 
estratégias de treino mais adequadas de modo a fixarmos praticantes. 
Neste sentido, cada vez mais parece claro que o problema da captação é de facto um 
falso problema no Atletismo em Portugal. Se por um lado se torna importante reforçar 
número  de  praticantes  na  modalidade  a  verdade  é  que  captamos  mais  do  que 
conseguimos manter na modalidade, facto que parece estar em consonância com outras 
realidades. Estudos realizados em França (Feuillepain C et al., 1998) , mostraram que 1 
em  cada  10  atletas  Benjamins  chegam  a  seniores,  1  em  cada  5  Infantis  chegam  a 
seniores  e  que  1  em  cada  3  Iniciados  chegam  à  idade  senior.  A  estes  factos  podemos 
somar  resultados  de  outro  estudo  (Behm,  J,  1999)  que  mostra  que  cerca  de  85%  dos 
atletas  que  praticam  a  modalidade  nos  escalões  mais  jovens  acabam  por  abandonar  a 
modalidade nos 2 primeiros anos de seniores. Dados que importa reflectir. 
Parece­nos  claro  que  se  temos  jovens  captados  em  idades  muito  jovens,  todos  os 
cuidados com as suas actividades serão sempre poucos. O risco de um abandono estará 
sempre  iminente.  A  prática  do  atletismo,  terá  neste  caso  de  passar  por  uma  prática 
alargada  a  várias  modalidades  e  disciplinas  com  características  muito  polivalentes. 
Deveremos  ainda  ter  em  conta  nesta  reflexão  que  dos  700  melhores  atletas  Franceses 
iniciaram a prática da  modalidade aos 15.4 anos! E que desses, 84% não praticaram  a 
modalidade  quando  eram  Benjamins  (Feuillepain  C  et  al.,  1998).  Se  somarmos  outro 
dado  que  nos  mostra  que  ao  fim  de  8  a  9  anos  de  treino  os  jovens  normalmente 
abandonam a modalidade então teremos de ter em conta estes resultados no sentido de 
fazer  com  que  a  constante  redefinição  de  objectivos  e  mostra  de  competência  técnica 
evidenciada  pelo  treinador  os  leve  a  acreditar  valer  a  pena  manterem­se  na  prática  da 
modalidade.

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Se  tivermos  por  fim  em  conta  que  um  jovem  ao  iniciar  a  prática  da  modalidade 
poderá ter entre 20 a 27 anos de treino (Marques A, 1985), teremos então de pensar o 
treino tendo por base que as nossas aspirações enquanto treinadores serão precisamente 
fazer  com  que  possamos  ter  atletas  a  treinarem  durante  todo  esse  tempo.  Será  essa  a 
única garantia de que poderemos  lutar por sermos  bons treinadores de atletas de élite, 
em  vez  de  treinadores  que  apenas  sabem  explorar  capacidades  de  jovens  que  apenas 
atingirão resultados enquanto jovens. Ao longo de todo esse percurso o treinador terá de 
ser criativo, competente e com uma procura constante pelo conhecimento. 

2. Princípios do treino 

Para  se obter sucesso na prescrição do treino temos de  ser capazes de respeitar um 


conjunto  de  princípios  que  nos  darão  as  garantias  necessárias  para  que  pelo  menos 
possamos  estar  mais  certos  de  não  estar  a  cometer  erros  que  possam  comprometer  a 
evolução de um atleta. Estes princípios devem estar sempre presentes no nosso trabalho 
e  orientar  o  nosso  acto  prescritivo  do  treino.  Podemos  sinteticamente  reforçar  as 
seguintes preocupações, tendo por base os seguintes princípios: 

2.1 Sobrecarga 

O  aumento  da  prestação  desportiva  dá­se  através  do  aumento  da  carga  aplicada. 
Temos  contudo  de  ter  em  conta  que  o  benefício  de  uma  carga  aplicada  pode  apenas 
fazer­se sentir 3 a 4 semanas depois da sua aplicação. Daí que uma avaliação constante 
das  respostas  ao  treino  se  torna  fundamental  de  modo  a  podermos  avaliar  o  efeito 
positivo ou negativo das cargas aplicadas. 

2.2 Progressividade 

A aplicação das cargas tem de ser feita de uma forma muito progressiva, de modo a 
garantir uma constante evolução do atleta. A manipulação de volumes e intensidades do 
treino,  frequência  e  tipo  de  treino  irão  permitir  garantir  a  aplicação  deste  princípio, 
factores  que  associados  a  uma  grande  variabilidade  do  treino  provocarão  um  efeito 
muito  positivo  na  capacidade  dos  atletas  suportarem  um  aumento  progressivo  das 
cargas. 

2.3 Recuperação e regeneração 

Todos os ganhos vindos das cargas aplicadas só terão verdadeiro efeito nas fases de 
regeneração. Deste modo os momentos de recuperação e descanso, são tão importantes 
como  o  treino  em  si  mesmo,  sobre  pena  do  atleta  poder  entrar  em  situações  de 
sobretreino  e  desperdiçar  por  completo  os  efeitos  positivos  que  poderiam  advir  das 
cargas de treino aplicadas. 

2.4 Individualidade 

Cada atleta é um caso, que necessita de uma planificação de treino específica às suas 
características,  idade, anos de treino, capacidades, entre outras. A prescrição do treino 
tem  por  isso  de  ser  individualizada  e  suportada  num  verdadeiro  conhecimento  das 
características do atleta.

A Formação do Jovem Corredor de Meio­Fundo  3 
3. O TREINO 

O Jovem como corredor de meio fundo curto. 
A iniciação do corredor de meio fundo é frequentemente direccionada para volumes 
de  corrida  que  aproximam  o  jovem  corredor  de  um  atleta  de  longas  distâncias. 
Perdendo­se  a  noção  da  importância  de  um  desenvolvimento  multilateral  do  jovem, 
frequentemente  colocamos  o  treino  dos  jovens  quase  exclusivamente  dependente  de 
trabalho  aeróbio.  Nesta  perspectiva  defendemos  que  o  treino  de  jovens  deverá  ser 
direccionado para as disciplinas de meio fundo curto tendo em conta a multiplicidade de 
capacidades necessárias nestas disciplinas. A proximidade a que o corredor de 800m se 
encontra dos níveis de velocidade e de força de um corredor de 400m, leva­nos a pensar 
que  esta  distância  será  a  ideal  para  a  construção  de  um  excelente  corredor  de  meio 
fundo e fundo. 

3.1 Treino Aeróbio 

O treino do corredor de meio fundo e fundo está naturalmente muito dependente da 
prestação  aeróbia.  Sabemos  de  há  muito  que  o  desenvolvimento  desta  capacidade  é 
determinante  para  a  obtenção  de  rendimento  em  qualquer  disciplina  de  meio  fundo  e 
fundo,  atingindo  o  seu  expoente  na  prova  da  Maratona.  Contudo  é  igualmente 
importante  no  treino  de  formação  de  um  jovem  corredor  de  meio  fundo,  desde  que 
saibamos evitar exageros especialmente na quantificação de volumes de corrida. Temos 
ainda  de  ter  em  conta  que  o  treino  aeróbio  deverá  envolver  uma  grande  variedade  de 
estímulos  evitando  que  se  suporte  em  exclusivo  na  corrida  contínua  de  média  longa 
duração (figura 1). 

3.1.1 Capacidade Aeróbia 

O  treino  aeróbio  pode  ser  desenvolvido  numa  fase  inicial,  procurando  que  o  atleta 
seja  capaz  de  desenvolver  um  esforço  de  longa  duração,  “poupando”  a  suas  reservas 
energéticas  de  modo  a  lhe  permitir  manter  esse  esforço  até  ao  final  da  distância  ou 
tempo de esforço previsto. Neste sentido, o treino de corrida contínua de baixa e média 
intensidade  permitirá  desenvolver  a  capacidade  de  realizar  esforços  prolongados,  bem 
como  de  modo  a  servir  de  base  ao  treino  de  outras  capacidades  que    terão  aqui  o  seu 
suporte (figura 2). Mais tarde o treino a ritmos mais elevados como o fartlek (figura 3) 
ou o treino fraccionado (figura 4) irão permitir que o corredor adquira noções de ritmo e 
capacidade  de  correr  mais  rápido  aproximando­o  do  esforço  que  irá  encontrar  em 
competição. 

3.1.2 Potência Aeróbia 

A  prestação  aeróbia,  tem  contudo  outra  forma  de  manifestação  de  acordo  com  os 
níveis de intensidade do esforço. Assim, quando o atleta necessita de num curto período 
de  tempo  maximizar  a  utilização  deste  sistema  energético,  estamos  numa  forma  de 
manifestação associada à Potência Aeróbia e ao VO2max, como o indicador fisiológico 
utilizado para avaliar o seu nível  num determinado atleta. Pode ser treinada através de 
ritmos corridos a elevadas intensidades e recuperações incompletas. Temos neste caso, 
o  treino  intervalado  (figura  5),  Fartlek  (figura  3)  e  treinos  combinados  (figura  6) 
normalmente prescritos para o efeito. Esta forma de solicitar o sistema aeróbio está mais 
associada a distâncias competitivas que vão dos 1.500m aos 3.000m.

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3.2 O treino da técnica no corredor de meio fundo 

Ao contrário do que muitos pensam, o treino da técnica de corrida (figura 7) não é, 
nem  deve  ser,  exclusivo  de  atletas  de  velocidade  ou  saltos.  A  técnica  de  corrida  é  de 
extrema importância para o corredor de Meio Fundo, preparando­o para ser capaz de ter 
uma  atitude  de  corrida  tecnicamente  eficaz  ao  longo  de  todo  o  esforço  e 
simultaneamente  de  lhe  permitir  ter  mais  rendimento  e  de  se  proteger  de  lesões 
desportivas  associadas  à  corrida.  A  diferença  apenas  se  fará  sentir  na  forma  de 
organização  das  sessões  de  treino  de  técnica,  já  que  o  corredor  de  meio  fundo 
comparado  com  atletas  de  disciplinas  como  a  velocidade,  terá  de  ser  capaz  de  correr 
bem  tecnicamente  mesmo  em  situações  de  fadiga  prolongada  o  que  poderá  levar  o 
treinador  a  optar  por  sessões  de  treino  mais  longas  e  mais  específicas  para  o  tipo  de 
esforço  destes  atletas.  Podemos  assim  identificar  vários  tipos  de  intervenção  do treino 
da  técnica  de  corrida  no  jovem  corredor  de  meio  fundo:  (i)  Melhoria  da  eficiência 
técnica;  (ii)  melhoria  da  resistência  muscular  específica;  (iii)  melhorias  do  sistema 
neuro­muscular;  (iv)  Melhoria  da  aplicação  de  forças  no  solo;  (v)  Melhoria  no  aporte 
energético;  (vi)  Prevenção  de  lesões  específicas  da  corrida.  Cada  um  destes  pontos 
exigirá uma prescrição de treino adequada e direccionada especificamente para cada um 
destes pontos. Por outro lado a forma como a época se vai desenvolvendo levará a que 
cada  uma  destas  vertentes  vá  adquirindo  progressivamente  diferentes  níveis  de 
importância ao longo da época desportiva. Se tivermos em conta que o jovem corredor 
de  meio  fundo  está  numa  fase  da  sua  carreira  desportiva  em  que  se  torna  mais  fácil 
desenvolver  uma  estrutura  técnica  de  corrida  mais  correcta  e  preparar  o  seu  futuro 
dando­lhe  maiores  capacidades  especialmente  na  sua  capacidade  de  correr  melhor 
mesmo em situações de fadiga estaremos então a dar bases para o aparecimento futuro 
de um bom corredor de meio fundo. Não descurar o treino da técnica poderá significar 
dar ao atleta as capacidades necessárias para explorar no futuro uma atitude de corrida 
capaz de o fazer desenvolver como atleta a níveis de rendimento mais elevados. 

3.3 Treino de Força 

O treino de força no meio fundo e fundo é normalmente associado apenas ao treino 
de rampas, esquecendo­nos que todo o corpo tem de ser fortalecido de diferentes formas 
e respondendo a diferentes problemas. O treino  de  força tem de  fazer parte regular do 
treino  do  corredor  de  meio  fundo,  não  sendo  para  tal  necessário  garantir  grandes 
condições  de  treino.  A  criatividade  do  treinador  na  criação  de  circuitos  de  treino 
realizados  no  local  habitual de treino, pode com  muito sucesso substituir o tradicional 
ginásio  de  musculação,  que  exige  condições  físicas  nem  sempre  possíveis  de  reunir. 
Propomos assim algumas sugestões sobre o treino de força: 
3.3.1 Cargas adicionais 

O treino com cargas adicionais (figura 8) não é muito comum nos corredores de meio 
fundo Portugueses. Contudo existem vários trabalhos de grande interesse que mostram 
o efeito positivo que o treino com cargas adicionais pode ter no treino de corredores de 
meio fundo. Havendo o cuidado de evitar hipertrofias musculares indesejáveis, este tipo 
de trabalho pode provocar estímulos  musculares  muito proveitosos e desenvolver uma 
maior  capacidade  do  atleta  preservar  bons  comportamentos  posturais  na  corrida  e  em 
diferentes situações de treino. Neste caso a utilização de cargas livres em detrimento de 
máquinas  de  musculação,  tem  naturalmente  um  interesse  acrescido  justificado  pelos 
desequilíbrios que têm de ser compensados na sessão de treino.

A Formação do Jovem Corredor de Meio­Fundo  5 
3.3.2 Procurar a instabilidade 

Esta é uma preocupação que nos parece particularmente importante, já que o treino 
de  força  para  estes  atletas,  deverá  ser  desenvolvido  prioritariamente  em  situações  de 
instabilidade  que  exija  um  trabalho  muscular  de  compensação  constante  (figuras  9  e 
10).  Particularmente  quando  criamos  situações  de  instabilidade  ao  nível  da  anca,  o 
trabalho  muscular  necessário  para  compensar  esses  desequilíbrios  vai  ter  um  efeito 
muito  importante na estabilidade do atleta durante a corrida, aproveitamento de forças 
no solo, bem como na protecção de muitas das lesões normalmente comuns ao corredor 
de meio fundo e fundo. 

3.3.3 Força isométrica 

O treino de força estático assume igualmente uma grande importância no corredor de 
meio  fundo  (figura  11).  Aliás  algumas  estruturas  musculares  que  frequentemente 
provocam sintomas de dor e lesão no corredor têm  fundamentalmente uma   função de 
suporte ao longo do esforço da corrida. A musculatura abdominal, dorsal e lombar não 
exerce movimentos de contracção dinâmica pronunciados ao longo da corrida. Daí que 
estas estruturas musculares devam ser alvo de grandes cuidados de desenvolvimento de 
força estática capazes de dar ao atleta a capacidade de terem posturas que o protejam e 
lhes permitam manter esforços prolongados sem situações de desconforto ou de lesão. 

3.3.4 Rampas 

A  utilização  de  rampas  para  o  treino  de  corredores  é  muito  frequente  e  uma  das 
melhores  formas  de  melhorar  os  níveis  de  força  dos  atletas,  com  a  particularidade  de 
podermos reforçar a musculatura das pernas em situação específica de corrida. Podemos 
contudo, utilizar o treino de rampas subindo­as ou optando pelas adaptações provocadas 
pela descida. Qualquer uma das situações nos dá determinadas vantagens e cuidados a 
ter. Vejamos então: 

Subidas 

. Em fase inicial do treino para desenvolver potência. 
. A meio do treino para aumentar os níveis de força. 
. Final do treino para aumentar a capacidade de terminar rápido a prova. 
. Fundamental uma boa atitude técnica para transferir os ganhos. 
. Incluir rampas ao  longo de todo o ano. Estudos recentes  mostram que a optimização 
dos ganhos se pode dar ao fim de 6 a 9 meses. 
. Manter registos dos tempos e distâncias percorridas. 

Descidas 

.  Uma  forma  de  aumentar  os  níveis  de  velocidade  com  o  desenvolvimento  da  força 
excêntrica e a possível melhoria da mecânica da corrida. 
. Este trabalho adiciona intensidade ao programa de treino. 
. Elaborar um bom programa de flexibilidade prévio para proteger o atleta de lesões. 
. Maximizar velocidade e evitar travagens. 
. Não realizar este treino em rampas muito inclinadas. 
. Não incluir mais do que uma sessão de treino por semana. 
. Não fazer este trabalho no final da sessão de treino em situações de fadiga acumulada.

A Formação do Jovem Corredor de Meio­Fundo  6 
4. Considerações finais 

Afinal o segredo do treino de formação dos jovens, pode­se resumir a um trabalho de 
paciência  orientado  sobre  princípios  bem  definidos  que  acima  de  tudo  permitam 
proteger as qualidades inaptas do jovem corredor. 
A isto devemos adicionar variedade de estímulos, e volumes e intensidades de treino 
que  nos  dêem  uma  margem  de  segurança  capaz  de  nunca  corrermos  o  risco  de 
prejudicar a afirmação desses jovem como atleta sénior de qualidade. 
Podemos ainda deixar algumas considerações que nos parecem  importantes quando 
falamos de treino com jovens no meio fundo: 
(i) Não existem números mágicos de volumes de corrida que garantam sucesso. 
(ii) A corrida é uma habilidade, não apenas treino aeróbio. 
(iii) O jovem atleta tem de ser treinado para saber ser rápido. 
(iv)  O  tempo  que  o treinador  gasta  na  planificação  é  mais  importante  que o tempo 
gasto no treino. 
(v) Temos de ser capazes de entender a ciência, mas  igualmente a “arte” de treinar 
jovens. 
(vi) Procurar Concretizar objectivos de treino bem definidos. 
(vii)  Estruturar bem os mesociclos até um máximo de 6 semanas. 
(viii) Termos objectivos finais e parcelares bem definidos.

A Formação do Jovem Corredor de Meio­Fundo  7 
NOTA DE RODAPÈ – Este artigo é baseado na comunicação apresentada no dia  17 de 
Dezembro de 2005, no Seminário Nacional de Treino de Jovens no Atletismo, realizado 
em Guimarães. 

LEGENDAS 
Figura  1  –  Resumo  esquemático  de  diferentes  formas  possíveis  de  desenvolver  a 
prestação  aeróbia  em  corredores  de  meio  fundo  e  fundo  e  a  sua  relação  com  alguns 
indicadores fisiológicos. 
Figura 2 – Esquema referente à prescrição do treino de corrida contínua. 
Figura 3 ­ Esquema referente à prescrição de treinos de fartlek. 
Figura 4 ­ Esquema referente à prescrição de treinos fraccionados. 
Figura 5 ­ Esquema referente à prescrição de treinos intervalados. 
Figura 6 ­ Esquema referente à prescrição de treinos combinados. 
Figura  7  –  Os  exercícios  técnicos  de  corrida  baseados  numa  grande  variedade  de 
skippings e exercícios coordenativos devem fazer parte do treino regular do corredor de 
meio fundo e fundo. 
Figura 8 – Afundo com carga adicional. 
Figura 9 – Abdominal na bola Suíça. 
Figura 10 – Skipping alto em plataforma instável. 
Figura 11 – Exercício de força isométrica. 

BIBLIOGRAFIA 

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Feuillepain C, Gilbert J, Guilbaud P e Nartus C (1998). Rappel dês Chiffres. Revue de 
l’Association dês Entraîners Français d’Athletisme. Avril: 5. 
Marques  A (1985). A carreira desportiva de um  atleta de  fundo. Revista Horizonte, II 
(9): 84­89. 
Pacheco  A  (2003.  Estudo  exploratório  sobre  a  evolução  do  número  de  clubes,  atletas 
filiados  e  treinadores  no  activo,  na  Associação  de  Atletismo  de  Braga  entre  1992  e 
2002. Tese monográfica apresentada na cadeira de seminário, Desporto de Rendimento 
(Atletismo). 
Revista Atletas (2006). Entrevista a Hélder Ornelas. 2: 18­21. 
Rolim,  R  (1998).  Contributo  para  o  estudo  do  treino  de  meio  fundo/fundo  de  atletas 
jovens em Portugal. Dissertação apresentada às provas de Doutoramento. Faculdade de 
Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto.

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