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Avaliação da intervenção multiprofissional e interdisci-

plinar na evolução do quadro clínico de pacientes com


alto risco de doença arterial coronariana*
Evaluation of multiprofessional and interdisciplinar intervention in the clinical evolution of patients
at high risk for coronary artery disease
Geny Aparecida Cantos1; Claudia de Souza Marques da Silva2; Carmen Dolores de Araujo
Waltrick2; Elizabeth M. Hermes3; Albertina Bonetti4; Manoela Bagestam5 & Claúdia Cavalett6

RESUMO - O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o sucesso da intervenção multiprofissional e interdisciplinar na evolução do qua-
dro clínico de pacientes com fatores de risco para doença arterial coronariana, considerando em especial a dislipidemia e outras asso-
ciações de fatores de riscos, conforme o escore de Framingham. Foram analisados 277 pacientes que estavam inseridos no Núcleo In-
terdisciplinar de Pesquisa, Extensão e atendimento a Dislipidemia (NIPEAD) - Hospital Universitário da Universidade Federal de San-
ta Catarina - SC. Destes, 35 (12,6%) apresentavam alto risco para doença arterial coronariana e somente 25 participaram regularmen-
te do programa. Entre estes últimos, a idade foi o fator de risco que mais se destacou, seguido da hipertensão arterial sistêmica e ta-
bagismo. Em seguida, os fatores mais freqüentes foram dislipidemias e diabetes. Dos 25 pacientes, 60% obtiveram uma diminuição
no risco coronariano, sendo que ainda foi possível observar melhoras nos níveis de colesterol total (68%), colesterol das lipoproteínas
de baixa densidade (64%), colesterol das lipoproteínas de alta densidade (56%) e triglicerídeos (64%). As bases preventivas para do-
ença arterial coronariana, com a identificação dos fatores de risco, permitiu modificar o perfil lipídico e o risco coronariano, sendo que
o alcance de tais objetivos depende da adesão do paciente ao programa e do compromisso dos profissionais da saúde com propostas
de mudança no estilo de vida destes indivíduos.
PALAVRAS-CHAVE - Doença arterial coronariana; fatores de risco; escore de framingham.

SUMMARY - The aim of this study was to analyze the successful multiprofessional and interdisciplinar intervention in the clinical
evolution of patients at high risk for coronary artery disease, with special attention to dyslipidemia and other risk factors, as Framing-
ham score. The study analyzed 277 patients, inserted in the Interdisciplinar Nucleus for Research, Extension and Care for Dyslipide-
mia (NIPEAD), in the University Hospital of Santa Catarina State University. Among these, 35 presented at high risk for coronary ar-
tery disease, and only 25 regularly attended the program. Between these last ones, age was the more relevant risk factor, followed by
systemic arterial hypertension and smoking. In additon, other frequent factors were dyslipidemias and diabetes. From these 25 pati-
ents, 60% presented reduction in the coronary risk, and it was also possible to detect improvement in total cholesterol levels (68%),
low-density-lipoprotein cholesterol (64%), high-density-lipoprotein cholesterol (56%) and triglycerides (64%). Preventive basis for co-
ronary artery disease, with identification of risk factors, made it possible to modify lipidic profile and coronary risk, taking into account
that achieving such objectives depends on the adhesion of the patients to the program and the commitment of healthcare professio-
nals with proposals of change in the lifestyle of these individuals.
KEYWORDS - Coronary artery disease; risk factors; framingham score.

INTRODUÇÃO adotado pelas III Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias


baseia-se em valores numéricos, positivos e negativos, a
partir de zero, de acordo com o risco atribuível aos valores
A s doenças cardiovasculares têm papel indiscutível na
morbidade e mortalidade do mundo ocidental, tanto nos
países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento.
da idade, pressão arterial, colesterol total (CT), colesterol
das lipoproteínas de alta densidade (HDL-c), tabagismo e
A cardiopatia isquêmica e o acidente vascular cerebral são e diabetes mellitus (DM). A cada escore obtido corresponde
serão, de acordo com as projeções para o ano 2020, as prin- um percentual da probabilidade de ocorrência de DAC nos
cipais causas de morte, de anos de vida perdidos e de anos próximos dez anos, com base em dados epidemiológicos.
de vida perdidos com incapacitação (Levy et al., 1998). Assim, indivíduos de baixo risco teriam uma probabilidade
O processo patogênico das lesões ateroscleróticas é com- < que 20%. Essa estratificação determina os valores do per-
plexo, com múltiplas possíveis etiologias, sendo influenci- fil lipídico a serem alcançados. Dentre os indivíduos de al-
ada por uma série de fatores ambientais e genéticos (Pear- to risco estão aqueles com manifestações clínicas de do-
son et al., 1997). A hiperlipidemia tem sido demonstrada ença aterosclerótica, hipertensos com lesões de órgãos-al-
como um fator de risco importante na mortalidade pela do- vo e diabéticos (SBC, 2001).
ença arterial coronariana (DAC) (Goldman, 2000). No nosso meio, são poucos os estudos que discutem a asso-
A estratificação do risco de desenvolver DAC permite raci- ciação da prevalência de dislipidemia com outros fatores
onalizar a abordagem preventiva. Com base em estudos de risco para DAC em uma população específica. A falta de
clínicos, observacionais e prospectivos, é possível classifi- pesquisas sobre fatores de risco na população brasileira re-
car indivíduos de acordo com a intensidade e número de sulta em grande desvantagem em relação aos países de-
fatores de risco causais ou de acordo com a presença de do- senvolvidos. No caso da população economicamente ativa,
ença cardiovascular manifesta. O escore de Framingham a falta de dados é dramática, mesmo em setores de grande

Recebido em 04/07/2005
Aprovado em 01/07/2006
*Hospital Universitário (HU) - UFSC
1
Profa. Dra do Departamento de Análises Clínicas (ACL) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis-SC; 2Cardiologistas do Hospital
Universitário (HU) - UFSC; 3Bioquímica do HU - UFSC; 4Doutoranda do Depto de Enfermagem – UFSC; 5Aluna de extensão - ACL - UFSC; 6Aluna de mestrado do
curso de Farmácia - UFSC.

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importância econômica (Romaldini et al., 2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o exposto anteriormente, este trabalho con-
siderou a possibilidade de alterações positivas importantes O atual estágio de transição demográfico-epidemiológico
nas concentrações séricas de CT, lipoproteínas de baixa pelo qual atravessam as sociedades modernas em desen-
densidade (LDL-c), HDL-c e TG, por meio de ações abran- volvimento, tem-lhes conferido mudanças nos padrões de
gentes relacionadas ao estilo de vida em um grupo popu- morbimortalidade em direção às doenças crônico-degene-
lacional com alto risco para DAC. rativas, destacando-se as doenças cardiovasculares (Mo-
raes et al., 1996). Entre as inúmeras condições associadas à
METODOLOGIA DAC, apontadas na literatura, parece haver unanimidade
em considerar a hipertensão arterial, a hipercolesterolemia
Os pacientes que participaram desta pesquisa eram indivídu- e o hábito de fumar como os mais potentes fatores de risco
os de uma comunidade universitária: estudantes (graduação para a doença isquêmica do coração (Goldstein, 1992;
e pós-graduação), professores e servidores, sendo que todos Therrien & Lavie; Kannel, 1993).
estavam inseridos no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa Ex- Dentro desta perspectiva, este trabalho considerou os ca-
tensão e Atendimento a Dislipidemia (NIPEAD) - Hospital sos de indivíduos que, entre o período de março de 1997 a
Universitário (HU) - Universidade Federal de Santa Catarina. junho de 2004, procuraram no Hospital Universitário, um
No período entre março de 1997 a junho de 2004. Foram aten- serviço especializado em doenças do coração e que tive-
didos 277 indivíduos com idade entre 31 e 74 anos, de ambos ram como diagnóstico um quadro de dislipidemia. A partir
os sexos. Todos os indivíduos concordaram em participar es- disto, os mesmos foram convidados a participar do progra-
pontaneamente desta pesquisa e assinaram o termo de con- ma do NIPEAD que, por meio de uma equipe multiprofiss-
sentimento de acordo com o comitê de ética em pesquisa da
sional e interdisciplinar, vem atuando na prevenção para
Universidade Federal de Santa Catarina, e tiveram acesso a
doenças cardiovasculares.
todos os resultados.
Considerando que as enfermidades cardiovasculares têm
Inicialmente, houve uma avaliação médica, onde foram obti-
uma etiologia multivariada e que os grandes estudos clás-
das informações dos pacientes, como: idade, atividade física,
sicos (Framingham, Tecumseh) e outros de tipo transversal
diabetes, tabagismo e valor da pressão arterial. Em seguida,
e retrospectivos têm permitido descobrir associações im-
estes indivíduos foram submetidos à realização de exames la-
portantes entre algumas variáveis e eventos cardiovascula-
boratoriais que foram executados pelo setor de Bioquímica do
res (Dawber, 1980), procedeu-se inicialmente uma classifi-
Laboratório de Análises Clínicas do HU. O soro foi colhido
cação dos fatores de riscos dos 277 pacientes atendidos du-
após 12 horas de jejum e o inquérito bioquímico consistiu na
rante este período, conforme a tabela de Framingham. As-
determinação do CT, pelo método enzimático colorimétrico
sim, verificou-se que 50 indivíduos (18,1%) tiveram um
automatizado (Cepa Biotecnologia Ltda); TG, pelo método
baixo risco para DAC em 10 anos (<10%), 192 indivíduos
enzimático colorimétrico automatizado (Dade Behring); HDL-
(69,3%) estavam na faixa do risco intermediário (10% a
c, através do método de precipitação seletiva, acoplado à do-
20%) e 35 indivíduos (12,6%) apresentavam alto risco para
sagem do método enzimático colorimétrico automatizado
DAC (20%). Pelos dados encontrados, pode-se inferir que
(Dade Behring); o valor do LDL-c foi obtido pelo cálculo que
utiliza a fórmula de Friedewald, sendo válida para valores de indivíduos integrantes do NIPEAD apresentam risco mode-
TG até 400mg/dL (SBC, 2001), Também, foi dosada a glice- rado para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
mia pelo método da glicose oxidase, enzimático. A hiper- Assim, os resultados desse estudo permitiram identificar
tensão arterial sistêmica (HAS) foi considerada para os paci- um grupo de fatores que predispunham a um maior risco
entes que apresentaram níveis pressóricos iguais ou superio- do desenvolvimento para DAC, entre os quais desponta-
res a 140mmHg de sistólica e 90mmHg de diastólica. vam como mais importantes como faixa etária, sexo, hiper-
O tabagismo foi definido pelo ato de fumar, independente colesterolemia, HAS, DM e tabagismo. A partir da identifi-
da quantidade de cigarros por dia e do tempo de duração cação desses fatores, foram selecionados 25 pacientes que
do hábito. apresentaram alto risco para DAC e que participaram re-
Para avaliar a dislipidemia, foram analisados os níveis do gularmente do programa oferecido pelo NIPEAD.
LDL-c, considerando alto os níveis séricos maiores que Neste trabalho procurou-se determinar a freqüência e a
160mg/dL e níveis desejáveis os inferiores a 130mg/dL. Para importância com que os principais fatores de risco para
o CT foi considerado valores normais até 200mg/dL e para a DAC apontados na literatura internacional associam-se
fração HDL-c, para os homens > que 35mg/dL e mulheres > com a ocorrência de um maior evento arterial coronariano.
45mg/dL. Os valores de TG foram considerados normais de Há falta de estudo similar, sendo que as campanhas e a po-
10 a 150mg/dL. lítica de prevenção para DAC, tanto promovidas pelas
Para todos os pacientes foi calculado um valor percentual do agências oficiais como pelas organizações não-governa-
risco de desenvolver DAC nos próximos dez anos por meio da mentais, têm se baseado nos resultados do estudo de Fra-
tabela do escore de Framingham. Cada escore obtido corres- mingham (Silva et al., 1998).
pondia a um percentual de probabilidade de um evento car- Embora muitos fatores de risco tenham atividade aterogê-
diovascular nos próximos 10 anos. Assim, os indivíduos foram nica autônoma, a associação de um ou mais fatores aumen-
inseridos nas seguintes categorias: baixo (<10%), médio (10% ta enormemente o efeito nefasto sobre o aparelho cardio-
a 20%) e alto risco (20%). vascular. Não há uma causa única para as doenças cardio-
Para avaliação do tratamento multiprofisssional e interdisci- vasculares, mas sabe-se que existem fatores que aumen-
plinar foram considerados apenas 25 indivíduos que apresen- tam a probabilidade de sua ocorrência. São os denomina-
tavam alto risco coronariano e que participaram regularmen- dos fatores de risco cardiovascular. Entre estes, os princi-
te do programa oferecido pelo NIPEAD. Para esta avaliação pais são: HAS, dislipidemia, DM e tabagismo. Quanto mais
foram considerados os valores séricos de CT, LDL-c, HDL-c, fatores de risco o indivíduo tiver, maior será a chance dele
TG e o risco coronariano. Além disto, foram consideradas as desenvolver uma DAC e evoluir para um quadro de angi-
variáveis de risco como idade, HAS, DM e tabagismo. na ou de infarto (Guimarães, 2002).

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dos CT e TG alterados. O atual levantamento da prevalên-
cia de fatores de risco numa subpopulação de indivíduos já
com alto risco para doença coronariana e com anormalida-
des da homeostase glicêmica mostra a importância de di-
agnosticar essa entidade e, a seguir, rastrear os indivíduos
diagnosticados quanto aos demais agravantes freqüente-
mente presentes. É essencial a identificação desses indiví-
duos como um grupo-alvo para a tomada de ações preven-
tivas cardiovasculares em nível individual e populacional.
Em nível mais precoce ainda, a intervenção ideal é a pre-
venção do DM, HAS e dislipidemia. Ela pode ser obtida,
pelo menos parcialmente, a partir de programas de saúde
dirigidos às populações com maior risco para a doença (in-
divíduos com sobrepeso e obesidade, em especial), que es-
Figura 1: Percentual das variáveis de risco em pacientes de uma
timulem a atividade física e a redução de peso corporal
comunidade universitária com alto risco para DAC.
(Schaan et al., 2004; Cantos et al., 2000).
A Fig. 1 mostra que nos indivíduos de maior risco de desen-
volvimento para DAC, a idade foi um fator de importante aná- Tabela I
lise. Pode-se notar que 84% dos pacientes tinham idade con- Avaliação do perfil lipídico e do FRDAC (fator de risco
para DAC) de pacientes atendidos no NIPEAD, que apre-
siderada como risco para DAC. Todos os homens e mulheres
sentavam alto Risco coronariano, considerando o trata-
tinham idade superior a 45 e 55 anos, respectivamente.
mento multiprofissional e interdisciplinar, durante o perío-
No Brasil, investigações de grupo etário são importantes, do de março de 1997 a junho de 2004.
principalmente em Estados com um contingente significa-
CT HDL-C LDL-C TG FRDAC
tivo de idosos, uma vez que, associado ao fenômeno do en- Pacientes A D A D A D A D A D
velhecimento populacional, ocorre aumento na prevalên- 1 201 216 60 52 126 150 76 72 20% 25%
2 266 267 34 40 170 206 312 106 20% 18%
cia de doenças crônico-degenerativas associadas à idade, 3 324 241 65 66 242 159 85 80 25% 10%
principalmente as doenças cardiovasculares (Marafon et. 4 220 167 27 22 175 114 92 156 24% 28%
5 235 173 34 43 147 93 269 186 31% 25%
al., 2003). Por outro lado, é possível que na fase de meno- 6 311 356 44 48 209 273 290 177 20% 18%
pausa, nas mulheres por volta dos 50 anos, ocorra aumen- 7 306 293 13 22 0 0 985 685 20% 20%
8 273 252 29 40 210 169 170 215 27% 20%
to da obesidade, hipertensão e dislipidemia. No sexo mas- 9 286 301 39 36 226 232 103 166 20% 31%
culino, o número médio de fatores de risco atinge o ponto 10 280 197 46 36 204 128 152 163 24% 18%
11* 171 199 34 42 95 137 210 100 16% 16%
máximo aos 60 anos e passam a diminuir acentuadamente 12 291 226 47 61 217 148 133 85 28% 15%
(Martins et al., 1996). 13 323 230 42 33 246 0 175 684 37% 53%
14 362 192 40 31 248 135 370 129 27% 28%
Embora este fator isoladamente já influencie diretamente 15 304 259 47 48 241 191 80 98 31% 25%
no aumento do risco para DAC, é importante considerar 16 165 165 18 22 81 78 332 327 20% 31%
17 281 248 32 54 219 172 149 112 24% 18%
que a idade está associada ao enrijecimento da parede ar- 18 354 362 32 43 289 279 163 198 20% 15%
terial e que essa alteração anatômica poderia ocasionar um 19 299 227 34 39 219 144 230 220 31% 20%
20 284 211 34 33 221 151 143 133 25% 16%
aumento dos níveis da pressão arterial (Mencken, 2000). A 21 305 262 65 52 207 174 165 182 20% 20%
HAS tem sido considerada o maior fator de risco para aci- 22 299 234 10 16 0 143 999 377 20% 13%
23 312 268 54 49 223 189 173 148 20% 13%
dente vascular cerebral (Zétola et al., 2001; Pires et al., 24 269 266 43 39 194 204 159 117 20% 18%
2004) e está presente em cerca de 70% dos casos de do- 25 184 176 27 25 118 110 193 204 25% 25%
Onde, A e D significam os valores bioquímicos obtidos dos pacientes antes e depois do tratamento interdisciplinar e
ença cardiovascular (Radanovic, 1999, Lessa, 1999). Sousa multiprofissional; 0= cálculo do LDL-c impossibilitado pelo valor do TG; *= paciente portador de doença arterial coronariana.

et al., 2004 avaliaram as pressões sistólica, diastólica e De fato, a literatura mostra que a hipertensão arterial é a
pressão de pulso como fator de risco para doença ateroscle- maior determinante da ocorrência de eventos cardiovascu-
rótica coronariana grave em mulheres com angina instável. lares em pacientes com DM do tipo2, sendo duas vezes
Neste trabalho, a HAS em pacientes com alto risco para mais prevalente entre os indivíduos diabéticos, além disso,
DAC foi o segundo fator mais freqüente. O tabagismo foi o a sua presença aumenta a ocorrência de complicações mi-
terceiro fator de risco mais freqüente para DAC, seguido cro e macrovasculares, sendo a dislipidemia um importan-
da hipelipidemia secundária e DM (Fig.1). O tabagismo é te fator de risco para o DM. (SBC, 2001)
um fator de risco que chama a atenção, pois depende dire- Levando-se em conta que é freqüente a existência de três,
tamente do comportamento do indivíduo. quatro ou mais fatores de risco em um mesmo paciente, al-
Em diferentes populações, estão bem estabelecidas as corre- tamente relacionados entre si, não é difícil compreender a
lações entre o risco para DAC e concentrações séricas eleva- necessidade de intervenções múltiplas. Assim, o desenvol-
das de CT, particularmente de LDL-c, assim como, concen- vimento de programas de saúde de caráter preventivo, com
trações reduzidas de HDL-c (Menotti, 2000). Vários estudos enfoque na mudança do estilo de vida, pode ser um meio
relacionam as concentrações de colesterol presentes na in- eficaz para sensibilizar o indivíduo quanto à mudança de
fância com as encontradas na vida adulta (Webber et hábitos de vida nocivos à saúde (Matos et al., 2004).
al.,1991). Marafon et al., 2003, ao realizar a análise multiva- Estes últimos têm como alvo a modificação de comporta-
riada, observou que o CT e o LDL-c foram marcadores de mentos precursores de doenças cardiovasculares, como di-
mortalidade independente das demais variáveis analisadas. eta, exercícios físicos e controle do tabagismo. Segundo
Entre os pacientes analisados neste trabalho, 40% apre- Sixt et al., 2004 uma intervenção multifatorial, incluindo
sentavam concomitantemente CT>200mg/dL e HDL- medidas dietéticas, controle glicêmico, tratamento anti-hi-
C<35mg/dL (Tab. 1). pertensivo e exercícios físicos regulares têm influência po-
O DM, seja ele do tipo 1 ou 2, foi um fator presente em 24% sitiva nos fatores de risco modificáveis, na melhora de ou-
dos pacientes analisados. Neste caso, mesmo com o contro- tras funções cardiovasculares e na tolerância ao exercício
le da glicemia, os pacientes apresentavam os níveis séricos livre de angina.

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Os estudos mais amplos, feitos até agora, mostram um cer- pertensão, v. 5, n. 3, 2002.
to benefício no combate aos fatores de risco e servem de 6. Kannel, W. B. Hypertension as a risk factor for cardiac events. Epidemiologic
base para o tratamento clínico destes fatores. Segundo results of long-term studies. J. Cardiovasc. Pharmacol., v.21, p.27- 37, 1993.
7. Lessa, I. Epidemiologia das doenças cerebrovasculares no Brasil. Rev. Soc.
Goldman, 2000, o benefício é maior nos pacientes que já
Cardiol. Estado São Paulo, v.4 p.509-518, 1999.
apresentam alguma forma de aterosclerose, especialmente
8. Levy, D.; Wilson, W. F. Atherosclerotic cardiovascular disease - an epidemio-
coronariana. logic perspective. In: Topol EJ, editores. Textbook of Cardiovascular Medici-
Neste trabalho, procurou-se realizar intervenções correti- ne. 2ª ed. Philadelphia: Lippincott-Raver, p.13-29, 1998.
vas de forma a reduzir a incidência de coronariopatias. A 9. Matos, M. F. D.; Silva, N. A. S.; Pimenta, A. J. M. et al. Prevalência dos fato-
respeito dos 35 indivíduos que foram classificados como al- res de risco para doença cardiovascular em funcionários do Centro de Pes-
to risco para DAC, 10 foram excluídos que, por motivos di- quisas da Petrobras. Arq. Bras. Cardiol., v.82, n.1, p.1-4, 2004.
versos, não puderam comparecer ao exame laboratorial. 10. Marafon, L. P.; Cruz, I. B. M.; Schwanke, C. H. A. et al. Preditores cardiovas-
Assim, a avaliação feita após o tratamento mostrou que culares da mortalidade em idosos longevos. Rev. Cad. Saúde Pública, v.19,
60% dos pacientes melhoraram o percentual de risco coro- n.3, p.799-807, 2003.
nariano. Diga-se que os pacientes que obtiveram dimi- 11. Martins, I. S.; Marucci, M. F. N.; Cervato, A. M. et al. Doenças cardiovascu-
lares ateroscleróticas, dislipidemias, hipertensão, obesidade e diabetes me-
nuição do risco cardíaco, também foram aqueles que tive-
lito em população da área metropolitana da região Sudeste do Brasil: II -
ram maior adesão ao atendimento oferecido pelo NIPEAD. Dislipidemias. Rev. Saúde Pública, v.30, n.1, p.75-84, 1996.
Em relação ao perfil lipídico, pode-se notar na Tabela 1 que 12. Mencken, H. L. There is a non-linear relationship between mortality and blo-
68% dos pacientes tiveram uma melhora nos níveis sericos od pressure. Euro. Heart J., v.21 p.1635-1638, 2000.
de CT, 64% diminuíram o LDL-c, 56% aumentaram o HDL- 13. Menotti, A.; Lanti, M.; Puddu, P. E.; Kromhout, D. Coronary heart disease in-
c e 64% melhoraram os níveis de TG. cidence in northern and southern European population: a reanalysis of se-
A conscientização por parte das pessoas sobre a presença de ven countries study for a European coronary risk chart heart. v.84 p.238-
fatores de risco coronariano como hipertensão, obesidade, 244, 2000.
sedentarismo, tabagismo, diabetes e dislipidemia são sinais 14. Moraes, S. A.; Souza, J. M. P. Efeito dose-resposta de fatores de risco pa-
importantes, ressaltando a necessidade de uma avaliação ra a doença isquêmica do coração. Rev. Saúde Pública, v.30, n.5, p.471-
478, 1996.
médica imediata. A extensão dos benefícios da prevenção
15. Pearson, T. A.; Crique, M. H.; Lueque, R. V., et al. Compêndio de cardiolo-
para DAC depende de um esforço multidisciplinar que en-
gia Científica Preventiva. Ed. de Publicações Ltda, p1-81, 1997.
volve sistematização de rotinas, educação médica, interação 16. Pires, S. l.; Gagliardi, R. J.; Gorzoni, M. L. Estudo das freqüências dos prin-
com a comunidade, educação pública, recursos diagnósticos cipais fatores de risco para acidente vascular cerebral isquêmico em ido-
utilizados de modo racional e, principalmente, extremo em- sos. Arq. Neuro-Psiquiatr. v.62, n.3, p.844-851, 2004.
penho por parte da comunidade médica para mudança de 17. Radanovic, M. Características do atendimento de pacientes com acidente
toda uma estratégia em prática por uma nova filosofia, base- vascular cerebral em hospital secundário. Arq Neuropsiquiatr., v.58 p.99-
ada em sólidas evidências científicas acumuladas. 106, 1999.
Finalmente, em vista da amostra analisada ser representa- 18. Romaldini, C. C.; Issler, H.; Cardoso, A. L. et al. Fatores de risco para ate-
tiva da comunidade universitária, todas as conclusões e co- rosclerose em crianças e adolescentes com história familiar de doença ar-
mentários são extensivos a esta população que, apesar de terial coronariana prematura. J. Pediatr., v.80, n.2, p.135-140, 2004.
19. SBC. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Resumo das III Diretrizes Brasi-
conviver com profissionais da saúde bastante diferenciados
leiras sobre Dislipidemias e Diretriz de Prevenção da Aterosclerose do De-
e com portadores de moléstias cardiovasculares resultantes
partamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq.
de prevenção inadequada, não difere substancialmente no Bras. Cardiol, v.77, p.1-48, 2001.
comportamento em relação a população em geral, necessi- 20. Silva, M. A. D.; Sousa, A. G. M. R.; Schardgosky, H.; Fatores de risco para
tando portanto de maiores e mais enfáticas informações. infarto do miocárdio no Brasil: estudo FRICAS. Arq. Bras. Cardiol., v.71, n.5,
Onde, A e D significam os valores bioquímicos obtidos dos p.667-675, 1998.
pacientes antes e depois do tratamento interdisciplinar e 21. Sixt, S.; Korff, N.; Schuler, G. et al. Opções terapêuticas atuais para diabe-
multiprofissional; 0= cálculo do LDL-c impossibilitado pelo tes mellitus tipo 2 e doença arterial coronariana: prevenção secundária in-
valor do TG; *= paciente portador de doença arterial coro- tensiva focada no treinamento físico versus revascularização pericutânea ou
nariana. cirúrgica. Rev Bras Med Esporte, v.10, n.3, p.220-223, 2004.
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pressões sistólica, diastólica e pressão de pulso como fator de risco para
CONCLUSÕES
doença aterosclerótica coronariana grave em mulheres com angina instável
ou infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST.
Os resultados do estudo confirmam que a detecção e o con- Arq. Bras. Cardiol., v.82, n.5, p.426-429, 2004.
trole dos fatores de risco são tarefas prioritárias na pre- 23. Schaan, B. D.; Harzheim, E.; Gus, I. Perfil de risco cardíaco no diabetes mel-
venção da evolução da DAC, havendo, assim, necessidade litus e na glicemia de jejum alterada. Rev. Saúde Pública, v.38, n.4, p.529-
de buscar medidas preventivas e educativas que condu- 536, 2004.
zam a mudanças no estilo de vida desses indivíduos. 24. Therrien J. M. & Lavie, C. J. Smoking and ischemic heart disease. Postgrad.
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