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RESUMO
O artigo analisa os limites da autonomia didático-administrativa no que tange à restrição instituída
pela Universidade Federal de Uberlândia para o ingresso, pelo mesmo aluno, em dois cursos
concomitantes na mesma instituição. Tem-se em vista os princípios constitucionais da legalidade
estrita vigentes no Estado Democrático de Direito e a hermenêutica do artigo 207 da Constituição
Federal. Analisa-se a lei de modo sistemático e teleológico em consonância com os demais ditames
contidos na Constituição e legislação infraconstitucional pertinente.
PALAVRAS-CHAVE: Vestibular. Concomitância. Legalidade. Autonomia Didático-administrativa.
INTRODUÇÃO
*
Pós-graduado em Direito Empresarial pela Universidade Federal de Uberlândia. Pós-graduando em Docência
no Ensino Superior pela Faculdade Católica de Uberlândia. Graduado em Direito pela Universidade Federal de
Uberlândia. Professor de Direito Civil I no curso de Direito da Faculdade Católica de Uberlândia. Advogado
militante nas áreas de Direito Cível e Empresarial. E-mail: marcotulio@advocaciabatista.com.br
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Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Professor do Curso de Filosofia da Faculdade
Católica de Uberlândia. Orientador deste artigo. E-mail: ferreira_dirceu@yahoo.com.br
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
[...]
RESOLVE
ANÁLISE
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
paga duas vezes pela dupla formação de uma só pessoa, quando estes
recursos poderiam ser usados para atender às necessidades de inclusão
de maior número de egressos do ensino médio que demandam a
universidade.
PARECER
O art. 5º, II. da Constituição Federal, preceitua que ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Tal princípio
visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio das espécies
normativas devidamente elaboradas conforme as regras de processo
legislativo constitucional podem-se criar obrigações para o indivíduo, pois
são expressão da vontade geral. Com o primado soberano da lei, cessa o
privilégio da vontade caprichosa do detentor do poder em benefício da lei.
Conforme salientam Celso Bastos e Ives Gandra Martins, no fundo, portanto,
o princípio da legalidade mais se aproxima de uma garantia constitucional do
que de um direito individual, já que ele não tutela, especificamente, um bem
da vida, mas assegura ao particular a prerrogativa de repelir as injunções que
lhe sejam impostas por uma outra via que não seja a da lei [...] (MORAES,
2005, p. 36)
universidades, ainda que muito bem intencionadas, a adentrar na seara legiferante, criando
regras e impondo-as aos cidadãos, de modo contrário à lei maior, que, conforme supracitado,
consta em seu artigo 206, expressamente, que é princípio a ser seguido pelo Estado o da
liberdade de aprender e acesso e permanência na escola em igualdade de condições.
Sobre os limites da citada autonomia didático-administrativa, instituída pela
Constituição Federal de 1988, o ilustrado doutrinador e jurista, Juarez Altafin, ex-Reitor da
Universidade Federal de Uberlândia, ex-membro da magistratura e do Ministério Público de
Minas Gerais, ex-juiz do Trabalho e juiz aposentado do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª
Região foi convidado para se manifestar especificamente sobre o tema. Insta ainda apresentar
alguns de seus comentários pertinentes ao presente estudo:
impedimento contido no Edital do vestibular ao qual se submeteu, têm como único remédio o
judiciário, através de Mandado de Segurança, ação prevista na lei n.º 1.533/91, que dispõe:
[...]
[...]
[...]
1
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas:
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
classificados em processo seletivo;
[...]
[...]
2
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes
atribuições:
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior previstos nesta Lei,
obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino; (Regulamento)
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes;
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de
extensão;
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade institucional e as exigências do seu meio;
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em consonância com as normas gerais atinentes;
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
VII - firmar contratos, acordos e convênios;
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços e
aquisições em geral, bem como administrar rendimentos conforme dispositivos institucionais;
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma prevista no ato de constituição, nas leis e nos
respectivos estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação financeira resultante de convênios com
entidades públicas e privadas.
Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-científica das universidades, caberá aos seus colegiados
de ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários disponíveis, sobre:
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
II - ampliação e diminuição de vagas;
III - elaboração da programação dos cursos;
IV - programação das pesquisas e das atividades de extensão;
V - contratação e dispensa de professores;
VI - planos de carreira docente.
Pelo que se pode analisar nos fundamentos acostados naqueles autos, vê-se que a
douta relatora seguiu o entendimento da juíza monocrática, a qual, por sua vez, apresentou
argumentos de cunho sociológico, tais como, egoísmo, suposta falta de visão comunitária do
aluno que poderia estar subaproveitando uma vaga em detrimento de outrem.
Além disso, chamou a atenção à douta juíza a quo argumentos de ordem política
como, por exemplo, a necessidade de restringir o acesso à educação tendo em vista a escassez
de recursos fornecidos pelo Estado para promover a educação para todos de forma irrestrita.
Ao final, tenta salvar-se com a interpretação neste contexto dos mesmos artigos da
Constituição que fundamentam exatamente as decisões em sentido contrário, ou seja, de que a
educação é direito de todos e, por isso, têm legitimidade as Universidades para, por si,
dizerem quem pode se matricular em curso superior e quem não pode.
Por derradeiro, insta ressaltar que é minoritária essa opinião esposada, no último
acórdão citado, de que se afigura legal a vedação de matricula de candidato classificado em
processo seletivo para freqüentar curso de graduação em Universidade pública e que já esteja
matriculado em outro curso regular de graduação na mesma instituição de ensino. Tal posição
está consagrada, inclusive, nas mais recentes decisões da própria 5ª Turma do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, conforme consta da primeira Ementa citada, malgrado o
Supremo Tribunal Federal, última instância para discussão de assuntos que versem sobre
questões afetas à Constituição Federal ainda não tenha se pronunciado especificamente sobre
o tema.
3
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho. (grifo nosso)
4
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao
desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à:
[...]
II – universalização do atendimento escolar;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
vagas, ou ainda privilegiar os mais carentes, ao invés de exigir do Poder Público a abertura de
mais vagas para atender às necessidades de todos os cidadãos.
Outrossim, é absurda e utópica a afirmação de que o aluno que freqüenta dois
cursos simultâneos estará fatalmente subaproveitando um dos cursos, ainda que a carga
horária dos mesmos não seja conflitante.
Ademais, não é razoável afirmar que é injustificado o interesse pela graduação em
dois cursos distintos, ou mesmo, em cursos de pós-graduação, que estes serviriam apenas para
fins egoísticos, quando na realidade do mercado cada vez mais competitivo, o aluno se sente
pressionado a capacitar-se de modo cada vez mais abrangente para as atividades profissionais.
De modo que a restrição em discussão, instituída pela universidade, extrapola os
limites da autonomia didático-administrativa, pois vai além do que previu o legislador e não
deve prosperar, ainda que aparentemente bem intencionada, pois promove, em verdade, um
verdadeiro racionamento do conhecimento e fomenta a continuidade da desigualdade social
no país. De modo algum, tal restrição confirma a vontade do legislador, que é atribuir ao
Estado o dever de promover o acesso de todos à educação, proporcionando a todos as
condições de igualdade no acesso à educação.
O ponto polêmico da questão, a nosso ver, deve ser dissolvido mediante respeito
às esferas de atribuição aos poderes condizentes com suas determinações. O que nos leva a
pender de modo bastante operacional para a disponibilidade de capacitação encontrada em
alguns alunos (não a maioria) no esmero de cuidar de sua formação com a competência
exigida para os cursos que pretenderam realizar de forma concomitante.
Não se tem condições de afirmar sobre o entrave promovido no sistema
educacional, pelo menos o superior que é o caso, como responsabilidade aos participantes em
dois cursos de forma simultânea. Provavelmente, se queira com essa proibição (assim como
na maior parte das proibições) elevar o nível de poder em exercício aviltante da função, dando
uma demonstração da escassez de democracia existente nas micro relações sociais e de
mando.
Somados tais argumentos, evidencia nosso posicionamento sobre tema polêmico e
de relevância notável para a dinâmica do ensino superior e cuja satisfação pretende-se
extensiva aos demais níveis educacionais em vigência no país.
REFERÊNCIAS
_____. Lei nº 1.533 de 31 de dezembro de 1951. Altera disposições do Código do Processo Civil,
relativas ao mandado de segurança. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 de dez. 1951.
______. Tribunal Regional Federal da Primeira Região. Ensino superior. Matrícula concomitante nos
cursos de educação física e ciências sociais oferecidos por universidade federal. Impossibilidade.
Princípio da universalização do atendimento escolar. Óbice afastado. Peculiaridade. Impetrante
concluinte do curso de ciências sociais. Processo: REOMS 2005.37.00.003936-1/MA; Relator:
Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida Órgão Julgador: QUINTA TURMA Publicação:
28/03/2008 e-DJF1 p.299.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 33. ed. Rev. E atual. São Paulo:
Saraiva, 2007.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 17. ed. São Paulo: Malheiros,
2000.