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COLECKO ENFOQUES aay saaveina Gilbert Durand O Imaginario Ensaio acerca das ciéncias e da filosofia da imagem DiFEL A E WW iin apghe © Hater, 1994 “Tin rg: Umar Caps Ra eras PUCRS - BIBLIOTECA 5_ a5 OP = 20 vet sagen et Da Sine DIFE cobs ET Todos os dos eervos pl NCD URIAO DE EDITORAS SA fy Rio Bran, 9 ~ 20 a 204-004 Rode Janeiro ~ Tels (021) 26-2082 Fs (OD) 263-61 Aes Rose Po PUCRSIBIBL ECA CENTRAL - COPIA Ni RMOS DA LEI 9.610/1998 E L Sumario Ivrropugio 3 1.0 PARADOXO DO IMAGINARIO NO OCIDENTE 9 I. Um iconoclasmo endémico 9 >. As resisténcias do imaginsrio 16 5, Ocleito perverso ea explosio do video 31 TL AS CIENCIAS DO IMAGINARIO 35 1. As psicologias das profandezas 35 >. As confirmagbes anatomotisioligicas e etolégicas 40 do sevagem e do comum 46 3, As sociol 4. Ac Novas Criticas”: da mitocritica & inirio da cigncia 68 .agem e do absoluto do simbolo: 6. Os confins dai homo religions 71 s “2961 ‘OIUAIOL ‘tepUL e opupuaLD epapy SempURspUR ‘VET IW } 9p ORSSHUSUER F OpeUISA {€961-0291) tm “21 Fuenop3 sod opewoAit (jens xe} op yeasooue 2) oylaatde OLY no (a1@ soosny sep ‘seSuezquray sep ‘eandaaad urate 2) jeuaut waeun e 21qos — ofDOBDN: ap sossaz0rd so sopor a seoupiar ‘saeequs ap wzanbus outioM> ens wa eiuss9 orSerumuos ep o euaduy ep eweuraadns P 9 owt, ,dioquaine woxep e,, weurwouap surge anb op wepusdop ono pe anb ‘syosory se mused -woo opeuiosuen equa ownsucs o ered sequodd stat ~Pusy 2p opSeqjur eum anb seu “opr v eOFEOUT|G 0 nap SoraU SMS Op 9 (92 ,asoiuis op suaSeuur se, ‘soapy so ‘euram 0 toy -eionoy ©) suse sod sooSnposdas ap seoquay sep 808 ~saifloud souzoua so anb sewuye jeueg ownttt 49g ovSnpo.quy 11 vavesonaig LIT oysMtoNoD QOL HnUPUIas eneq e -oupueu op woruTEUIp Y /J 76 oupuRTeuT op jeMyn010s widor VW /AL 98 OuPUIeUN op ronyUREAS yg 78 onus op wailol y“Z 62, saodeayssep se 9 oaypadse oussyexnyd O°] 62, ougudews op ogi OV 6L OLIW Od WIDVaNORV ¥ vd 04013 OAON 0 1-IVNAFIONOD OSNVTVA O “TIL oupuiBows @ 0 tmagindrio icdnica (0 Bigurativo pintado, desenhado, esculpido © fotogralado.. Fa inowagfo perma recensear, ¢ eventualmente lasificar num trabalho exaustivo e que possibilitou 0 cestulo dos processos de produgio, transmissioe recep- 5o, 0 “muscu” — que denominamos 0 imagindrio — de todas as imagens passadas, posiveis, produ e a serem prodiidas. Contudo, no ter sido este mesmo processo que provocou uma ruptura, uma verdadeira revolugio “cultural”, que consti o privilgio bil As clizagbesnio-ockentais nunca separaram a formagies (gamos, “as verdades") fornecidas pela ima- ‘gem daquelas fornecidas pelos sistemas da escrita, Os ‘deogramas (0 signo escrito copia algo num desenho qua- se estilizado sem limitar-se a reproduzr os signos con- vencionasallabéticnse os sons da lingua fala) dos hie~ rlglfos egipcios ou os caractereschineses, por exemplo, misturam com eficcia os signos das imagens e a snta- es abstatas2? Em contrapartida, antigas ¢ importantes GivlacBes como a América pré-colombiana, a Africa negra a Poinésa et, mesmo possuindo uma linguagern ‘eum sistema rico em objetos simblicos, jamais utiliza- iar do Ocidente? am uma escrita TP Rroneanu, Le Maite des signes (0 mete dos Paris 196% M. Crane, La Pena chioie (O pensamento chines, 193, alin michel, 1988, 6 Introdugio “Todas estas civilizagbes nbo-ocidentais, em vez de nentarem seus prineipios de realidade numa ver- dade Gnica, num nico provesso de deducio da verda- de, num modelo tinico do Absoluto sem rosto © por vezes inominivel, estabeleceram seu universo mental, individual e social em Fundamentos pluralistas, portan 10, diferenciados. Aqui, toda diferenc (alguns mencio- aim tm politesano de valores") uuma figuragio diferenciada com qualidades figuradas © percebida como iris. Portanto, todo “poitesmo" ip facto & receptivo as imagens Gono) quando no 20s dolos (idl, em prego, sgilca“imagens"). Ora, 0 Ocien- te, to 6 chlo que nos sustenta a partir do racio- ciniosocritico sew subseqiente timo cristo, além dd desea ser considera, ¢ com muito onglh, 0 ni co hereto de uma dna Verda, quase sempre desa fiow as imagens. E preciso rsa este paradoxo de uma civlagio, a nossa, que, por um lado, propiciou a0 mundo as téenias, em constante desemvoimento, de reprodugio da comunicagio das imagens e, por outro, do lado da flosofia fundamen |, demonstrou uma des confianga iconodlasta (que “destr6i” as imagens ou, pelo menos, suspeita elas) endémicat 7 Fans expresso do saci alerto Max Wb 1H Corbin, Les Paradoves da monotbelse (Os paradxos do smonotetsmo), Heme, 19 7 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.698/2003. I O PARADOXO DO IMAGINARIO NO OCIDENTE 1, Um iconoclasmo endémico Sem dvida que nossa heranga ancestral mais antiga « incontestivel € © monoteismo da Biblia. A proibicio de crae qualquer imagem (idlon) como um substituto para o dvino encontra-seimpresa no segundo manda- mento da lei de Moisés (soo, XX. 4-5). Outrossim, co- mo porlemos constatar no Cristanismo (Jove, W215 1 Corfoios, VINL 1-13; Atos, XV. 29...) € no Tslamismo (Cor, I 43; VIL. 133-1345 XX. 96 ete), do judatsmo nas relies monotestas € que se origina- ‘am nee foi enorme. O método da verdad, oriando do socratismo e baseado numa liga binéra (com apenas dois valores: um falso © um verdadeiro), uniu-se dese 0 nfcio a esse iconoclasmo rel o, tornancdo-se com a mente, e Platio © Aristé- teles em seguida, o dinico processoeficaz paraa busca da hheranca de Séerates, primei renfade, Durante muitos séulose especialmente a partir 9 PUCRSI/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imaginério de Aristteles (século 4 a.C.), a via de acesso a verdade foi a experignca dos fat e, mas ainda, das certeas da logica para, Finalmente, chega binstio que denominamos de verdade pelo raciocinio cae no qual se de- senrola o prine(pio *da exclusio de um terceiro” na fntegra (“Ou 04", propondo apenas duos solugbes: uma absolutamente verdadeia e outra absolutamente falsa, que excluem a possibilidade de toda e qualquer terceirasolucio). Légico que, se um dado da percep. ‘ou a conclusio de um raciocinio considerar apenas as propostas “werdadeiras", a imagem, que nio pode ser redlucida a um argumento “verdadeiro” ou * fas” for~ imal, passa ser desvalorizada, incerta e ambigua, tor- nando-se impossvel extrait pela sua percepcao (sua visio") uma dnica proposta “verdadeira” ou “falsa” formal. A imaginacio, portanto, muito antes de Male~ branche, é suspeita de ser “a amante do ereo da falsi- dade”. A imagem pode se desenovelar dentro de uma escrigtoInfnitae uma contemplacio inesgotivel. Inca- paz dle permanecer bloqueada no enunciado claro de um silogismo, ela prope uma “realidade velada” enguanto <2 l6geaaristotélicaexige “claidade e diferenga” Nao devemos esquecer que a mensagem crista fol difundida em prego, alingua de Aristteles. Para al foi a sintaxe grega que permitia a ligica aistotdlica "Nicos Malebranche (1638-1715) lol cartesian francs. (NT) 10 0 paradoxo do imaginétio no Ocidente Paulo, o “segundo fundador” do eristianismo, era um jusdeu helenizado. O texto dos Evangelhos 86 nos foi transmitido a sua forma primitiva em greg. Além dis- so, antes da grande redescoberta dos textos de Aristte- les pelo Ocidente cristio no século 13, ndo espanta que, partir do século 8, a questio das imagens tena se cO- locado com grande precisio na regiéo mais helenizada da cristandade: 0 Oriente bizantino (a grea ainda no se separara de Roma e do Papa) que estava ameagado tanto espiritual quanto materialmente pela invasio ‘muculmana, Os imperadores de Bizincio, sob o pretex- to de enfrentar a pureza iconoclasta do Isl ameagador, destruirdo, durante quase dois séculos (730-780 e 813- £843), as imagens santas guardadas pelos monges que acabario perseguidos como idélatras. Contudo, € volta- remos a0 assunto mas adiant, os iconélatras (adorado- res de fcones) acabaram triunfando. De certa forma, esta famosa “quercla”® € um exemplo dos motivos € razbes que ao longo dos séculos levaram 0 Ocidente a tminimizar e perseguir as imagens dos seus defensores [io pocemos deixar de lembrar outro momento da construgio da base sida do iconoclasmo: a escolistica medieval. As obras de Aristétles quase desapareceram a0 longo dos treze séculos de peripécias que cobrem a TH Daborge, Ucdne, at et ponsée de Five (© Keone, arte © pensamento do invasive CIERE, Saint-en, 1981 n PUGRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 tmagindrio historia do Ocidente, a qual acompanhou, sucessivamen- te, o naufrigio da cvilzagio grega e do Império de Ale- ‘xandre,o surgimento ¢a destruicio do Império romano, ‘© nascimento do Crstianismo, o cisma de Bizincio ¢ Roma, o aparccimento do Islamismo e das Cruzadas et: De repente, eis que Averroes de Cordoba (1126-1198), tum sibio muculmano da Espanha conquistada pelos rmouros, descobre e traduz. para 0 drabe 0s escritos do fil6sofo prego. Os filésofos etedlogos cristios passaram a Jer avidamente as tradugées. O mais famovo einfluente foi Sio Toms de Aquino, Numa tentativa enorme para conciiar 0 racionalismo arstotéico e as verdes df ‘numa “suma” teolpica, seu sistema tornou-se a filosofia oficial da Igreja Romana e o exo de reflexio de toda a escolistica (a doutrina da escola isto é das universidades controladas pela Igreja) dos séculos 13 ¢ 14 Muito mais tarde, Galilew e Descartes fundaram as bases dafsica moderna eo terceiro momento do icono- clasmo ocidental. Embora corrigissem muitos erros cometidos por Aristételes, nenhum dos dois jamais con~ rads sua meta flosfica nem ade seu sepuidor, Toms de Aquino, pois consideravam a razio como 0 dinico meio de legitimagio e acesso a verdade. A partir do século 17, 0 imagindrio passa a ser exclu dos proces- 0s intelecuais. O exclusivismo de um tinico método, ¢ método, “para descobrir a verdade nas ciéncias” — este € 0 titulo completo do famoso Discurso (1637) de Des- 2 0 paradoxo do imagindrio no Ocidente cartes — invadiu todas as reas de pesquisa do “verda- deiro” saber. A imagem, produto de uma “eas de lou- cos", € abandonada em favor da arte de persuasio dos pregadores, poetas e pintores. Ela nunca ascenderd a dignidade de uma arte demonstrativa, ‘Olegado do wniverso mental, a experiéncias de Ga- Iileu (lembremo-nos da demonstragio da “lei da queda dos corpos” no plano inelinado) ¢o sistema geomeétrico de Descartes (oa geometria analitia, uma equagio algé- brica corresponde a cada imagem ¢ a cada movimento, donde a cada objeto fisico) representam um universo mecinico no qual no hi espago para a abordagem pod tica, A mocinica de Galileu € Descartes decompoe 0 ‘objeto estudado no jogo unidimensional de-uma tinica causalidade: assim, tomando como modelo de base bolas de sinuca que se chocar, o universo eoncebivel seria re- gido por um dnico determinismo, ¢ Deus &relegado a0 papel de “dar 0 empurraozinho” inicial a todo o sistema, (© século 18 acrescentaré outra coluna da tradigio de cinco séculos de aristotélica a esta heranga racionalismo incontornével: 0 empirismo factual (que delimitaré os “fatos" e ferddmenos), Os grandes nomes de David Hume ¢ Isaac Newton permanecem atrelados ‘a0 empirismo e com eles esboga-se 0 inicio do quarto ‘momento (no qual ainda estamos mergulhados) do ico- noclasmo ocidental. O “fato", aliado ao argumento ra- ional, surge como outeo obsticulo para um imaginério B PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imagindrio cada vez mais confundido com o delirio, o fantasma do sonho e 0 irracional. Este “fato” pode ser de dois tipos: © primeiro, derivado da percepgto, poderd ser tanto 0 fruto da observacio e da experiéneia como um “evento” relacionado ao fato histérico. Mas, se 0 século das Laizes® nem sempre atingiu 0 frenesi iconoclasta dos “enraivecidos” de 1793, colocou, cuidadosamente — ‘com Emmanuel Kant, por exemplo—, um limite in transponivel entre © que pore ser explorado (o mundo do fendmeno) pela percepgio e a compreensio, pelos recursos da Rao pra, eo que permanecers desconhe- ‘ido para sempre, como 0 campo das grandes questies rmetaliscas — a morte, o além e Deus (0 universo do “mimeno”).. — as quas, com suas solugBes possves contradiras,constituem as “antinomias” da Razo © ppositvismo e as flosofias da Hist6ria, as quais nossas pedagogias permanccem trbutirias (Jules Ferry cera disipulo de Auguste Comte), serio frutos do casa- ‘mento entre o factual dos empiristas eo rigor iconodas- tado racionalismo clssico, As das flosofias que desva lotizaro por completo o imaginario, o pensamento sim- Délicoe 6 raciocinio pela semelhanca, isto é, a metifora, ‘ho 0 cientificismo (doutrina que s6 reconhece a verda- de comprovada por métodos cientifios) € o historicis- TG. Guadot, tes Princes de a pense au siete des Lumines (Os printpos do pensamento no secu das ze, Pay, 1971 4 0 paradoxo do imaginério no Ocidente mo (doutrina que 9 reconhece as causas reais express de forma concreta por um evento histérico). Qualquer “imagem” que nao sejasimplesmente um clich® modes- to de um fato passa a ser suspeita. Neste mesmo movi- mento as divagagBes dos “poetas” (que passario a ser considerados os “malditos"), as alucinagbese os dlitios dos doentes mentas, as visbes dos misticos eas obras de arte sero expulas da terra firme da ciénia, Nae obser- var que nai francesa que regulamentava as construgies dos edificios piblicos, apenas 19 das despesas destina- © 4 decoracio ¢ ao embelezamento atistico, O recal- ‘camento e a depreciagio sio tenazes que ainda influen- ‘iam teoria da imaginagio e do imagindrio de um filé- sofo contemporineo como Jean-Paul Sartre? Embora, por um lado, tenha sido a lenta erosio do papel do imagindrio na flosofiae epistemologia do Oci- dente que possibilitou 0 impulso enorme do progresso técnico, por outro, 0 dominio deste poder material sobre as outras civilizagies atribuit uma caracterstica rmarcante a0 “adulto branco e civilizado”, separando-0, ‘assim como sua “mentalidade liga”, do resto das cul- turas do mundo tachadas de “pré-ligicas, “primitivas” 77-P Sore, imaginal, Gallimard, 1940. Para Sar trea imager no passa de uma “quase obser", um “nad, lima “drag do saber” com um carter “mpaiosoe anti” « “ec ao eno em Spinoza (sc, acrescenta ee, opando asi pl tee elena pt de aittele, 15 s PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.698/2003. 0 imaginério “Todava, esta consolidacio exclsva de um “pensa- sn, de uma rejeigio — da naturezae mento sem im de tantascvlizagbes importantes — dos valores e pode- res do imaginério em prol dos esbocos da razio e da brutaldade dos ftos encontrou muitas resisténcias no préprio Ocidente 2. As resistencias do imagindrio Desde 0 alvorecer socritico do racionalismo oci- dental ¢ com 0 objetivo de dar uma legitimidade & ima- a filoso- _gem, o proprio Patio — no qual reconhece fia de Sécrates, seu mestre — defende uma doutrina ‘mais matizada do que a de Aristteles, seu sucessor. F verdad que os famosos Didogs difundiri e garantrio allegitimidade do raciocinio dialétco. final, nfo €3 ton que Platio é o mestre de Arist6teles! Mas Platio sabe que muitas verdades escapam 3 filtragem logic do mi todo, pois limitam a Razio & antinomia © revelam-se, para assim dizer, por uma intuigio visionsria da alma {que aantigdade grega conhecia muito bem: 0 mito. Ao ccontrério de Kant, ¢ gracas & linguagem imaginsria do ‘mito, Platio admite uma via de acesso para as verdades indemonstrives: a existéncia da alma, o além, a morte, TAB, La Ponte apres Ses chores experiments de Hid Watt Masser ef Buber (0 pensamento Segundo as pesuss experimental de}. Wat, Messre Buhler, lean, 1927. 16 0 poradoxo do tmagindrio no Ocidence ‘05 mistérios do amor... Ali onde a dialética bloqueada ro consegue penetrar, a imagem mitica fala ditetamen- ted alma, Esta heranga platonica animaré uma parte do séeulo 8B: a famosa “querela” dos iconoclastasvitoriosos. Na mais pura tradigio do idealism plténieo, no qual pira ‘um mundo ideal que justifica ilumina o mundo aqui ‘embaixo onde reinam a “reprodugio ea corrupyio", So Joo, © Damasceno (séeulo 8), foi arauto e vencedor da defesa das imagens contra uma teologia da abstragio, da econdugio pelo scone para um “outro lugar” além des- te mundo vl. feone eaj prot6tipo fe eencarnada na pessoa visivel de Jesu, seu filho. Essa mes- a imagem de Deus ‘ma imagem viva, projetada e reproduzida no véu com 0 gual a misericordiosa Santa Verdnica teria enxugado 0 rosto do Cristo supliciado, Gracas 3 encarnagio do Cris- to.em face da antiga tradicio iconoclasta do monoteismo judeu estava criada uma das primeiras reabilitagdes das imagens no Ovidente erst Pais, imagem do Cristo imagem concretada santidade de Deus, logo acrescentar- (aq ‘com Deus), da Virgem Maria, mie dle Cristo (thioros, “a 1 veneracio das imagens de todas as pessoas santas clas que tivessem atingido uma certa semelhanga ine de Deus”), seguida pelas do precursor Joio Batista, dos apéstolos e, por ditimo, de todos os santos... Por- tanto, na cristandade, e paralelamente& corrente to po- derosa do iconoclasmo racionalista, germinavam ao mes- 7 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LE! 10.695/2003. 0 imaginério ‘mo tempo uma estétca da imagem “santa” que a arte bi- antina perpetuaria durante vérios séculos ¢ bem depois ‘do cisma de 1054, assim como, com a marilatra (0 cul- ‘0 da Virgem) e as hiperdulias dos santos, um culto pluralista as virtudes da santidade divina que por vezes beiravaaidoltria ou, pelo menos, introducia as variates politejtas no monotefsmo estrito € originério do juda ‘mo. por dtimo, a oragio diante dos scones privilegia- dos constitufa um acesso direto e no sacramental (pois cescapava 8 administragio ecesidstica dos sacramentos) que ultrapassara 0 sacrossanto.. ‘Acta resisténcia bizantina A destruigio da imagem somou-se, nos séculos 13 ¢ 14 da crstandade do Oc dente, a grandiosa floragio do culto d imaginsria sacra (onodalic)® gética sustentada, em grande parte, pelo ‘éxito da mentalidade da jovem ¢ faterna ordem de Si0 Francisco de Asis (1226). A “época das catedras” pre- sada por Sio Bernardo, com sua rica ornamentagio fi- purativa (estituas, vtrais,iluminuras etc), substitu progressivamente 0 iconoclasmo gentil da estética cis- terciense do século 12. Aos poucos ela suplantars no coracio da cidade a clausura austera dos monast {solados nas terrasagrestes e nos ales rurais. Os francis- TE Darel, op ct * Icandlle 1 cono-Do geld, onosIE, comp: imagem’ eo ena iano; 2. dla [Do gr doula. Teo 1. Cao pest bo aossantos 2305 anos (NT 18 0 paradoxo do imagindrio no Ocidente ‘anos, monges nio enclausurados, serio os propagado- res desta nova sensbilidade religiosa — devorio moderna — e os eriadores de insimeras“transposigBes para ima~ gens” dos mistérios da fé (representagdes teatrats dos “Mistérios", das quatorze estagdes do *Caminho da Cruz”, eriagio da devogio ao presépio da Natividade, tencenagio no Sacto Monte dos episddios da vida do santo fandador, divulgagio das “bibias moralizadas” ricamen- te ilustradas etc.), Entrementes, no Ocidente, os pro- motores de tma das raras filosofias da imagem dara jo Franeiseo 8 abertura para inicio com 0s “fori” de 4 naturera, cantando nosso irmio Sole nossa irmi Lun, ‘que abrangers o Iinearium ments in Deum (Iinerdtio da alma até Deus) de So Boaventura, 0 Superior Geral da ‘Ordem ¢ sucessor de So Franciseo. Ao ser contempla- ‘da, a imager da santidade nio apenas instiga, como em, Joo, 6 Damasceno, ¢ na tradigio plat6nica, a penetrar na prépria santidade (o naturalismo empitico aristoté- Tico j4 passow por isso!). Como toda representacio da natureza e da criagio, la é um convite para seguir 0 ca- ‘minho até 0 Criador. Qualquer contemplagio, qualquer visio da Criagio, mesmo no seu grat mais baixo, & um “estigio” (wstigium) de Toda a Bondade do Criador. Mas, pela imagem (imago) que a alma humana representa ‘com maior exatidio ainda as virtudes da santidade. Por fim ating e a etapa suprema do caminho: Deus tem 0 poder de conceder 4 alma santa uma “semethanca” 19 PUCRSIBIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imagindrio (imlicado) «sua propria imagem e a alma criada ser reconduzida ao Deus Criador segundo os graus das és representagbes imaginsrias: 0 vestgf, a imagem pro- prlamente dita e a semelhanca. Esta doutrina propiciaré ‘6 impuiso para as vias recetas de uma Imitatio Christie ‘o florescimento de cultas aos santos nos quais os domi- “lendas dou- nicamos efranciscanos rivalizario com suas radas”! concorrentes Ela pasar ser tio determinan~ te, especialmente na esttica da iconografia eda crstan- dade ocidental, quanto a estétca € 0 culto a0 fone foram para a grea do Oriente. De certa forma essas ade Bizincio e da cristandade das esttcas da image dde Roma, desenvolveram-se em sentido inverso, En= quanto Bizincio concentrava-se na figuragio © comtem = plagio da imagem do homem transfiguraclo pela santia~ de, da qual Jesus Cristo 60 protstipo vivo, Sao Francisco de Assis e uma Roma pontifical intrduziam a “senbora” natureza nas pinturas, Ea sensiblidade dos pafses celtas (@ Franga, a Bélgca, 0s Ptses Baixos, a Tlanda, a E> 6cia.) mergulharé delicada nessa opgo, pois a men~ talidade da antiga cultura dos celtasinvestia-se, em gran de parte, do cultoe das mitologias das divindades da lo- resta, do mar, das tempestades...1" A preferéncia por Dee uss a macabre 6 do dominican Jacques de Vo- ne que, chen, excl qualquer alsdo @ordem concorente deSto Francncos 9G Durand, iu Ansa archatypeslvelgion de Yr As bela anes eos argutpos, algo da ao, PUP, 1980 20 0 paradoxo do imagindrio no Ocidente ‘cemas ao ar livze passars a dominar paulatinamente nas pineuras de temas religisos (a Fuga do Egito, 0 Serméo dla Montanha, as Peseas Milagross, os Judeus no Deser- {o,aSarga Ardent et) ¢ predominaréprogressvamen- te até invadir toda a superficie da imagem. A tiberdade ‘da abertura votada paraa naturezae suas represenagBes provocars uma espécie de efeitopervers duplo: por um Jado, a imagem do homem apaga-se cada vez mais da paisagem natural das éguas, forestas e montanhas; por ‘outro, paradoxalmente, o culto & naturezafacilita 0 retoro das dvindades elementais mas antropomérficas dls antigos paganismos. O humanism do Renascimen- to do Quatoxento(séeulo 15) ver, sempre paradonal- mente, a exaltagio ao homem naturale sua paisagem agreste, mas, também, o retorno ao paganismo e & teo- logia natural das forcas antropomérficas que regem a naturesa. ‘A necessidade de uma Reforma e o que denomina- remos de terceira resisténcia& imagindria sacra explodi- io neste momento de crise da teologia erste provoca- +o a Contra-Reforma, A Reforma Luterana, sobretudo a dos seus sucessores, como Calvino, representa uma ruptura com 0s maus habitos adquiridos pela greja a0 longo dos séculos, notadamente pela contaminagio, dos grandes papas do Renascimento (Pio 1, Alexandre Borgia, Jilio I, Leio X, filho de Lourengo, 0 Magnifico). A Reforma combateré a estética da imagem, a PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LE! 10.696/2003. 0 imagindrio © aextensio do sacrilégio do cult aos santos. O icono- lasmo evidente traduz-se nas destruigées das esttuas € dos quadros. Todavia, devemos assinalar que, no meio protestante, este iconoclasmo, no sentido estrito de “destruigio de imagens”, diminui de intensidade com 0 cto as Escrturase também & mesica!? — Lutero, que também era misico, colocava a Senhora Misica (Faw ‘Masika) imediatamente atrs da teologial De passagem, ppodemos observar que, nas grandes religibestefstas com ‘um iconoclasmo bem soidifcado como no Islamism € Judaismo, a necessidade de uma representagio relacio- na-se tanto A imagem Iiterdria quanto & linguagem musi- cal. Henry Corbin, protestante francés e grande estuli 50 do Islamismo, no se enganou neste ponto. O [slamismo compensava a proibigi das imagens pintadas ‘ou esculpidas com poetas de primeira grandeza (Attar, Hafiz, Saadi), a prética de recitaissagrados da rnisica spiritual amo) e a “recitacio visionéria” por meio dle imagens literérias, portanto sem um suporte icdnico, {que consistia em uma técnica de reconducto (saw) & santidade inefivl. Da mesma forma hi no Judaismo, 20 ‘uma exegese *poé- © 08 “livros” lado das exegeses puramente lega tea” das Eserituras (nas quais incluem poéticos tais como o famoso e tio decantado “Cantico TE. Webs, La Musique proestante en langue allemand (A misc ‘protestant er alemao), Champion, 1980, 2 0 paradoxo do imagindrio no Ocidente dos Canticos") e, sobretudo, um investimento igioso nna misica do culto e mesmo na misica denominada profana, ‘Como ponto de comparagio com essas “imagens” dos monotefsmos judeu ¢ muculmano, que poderiamos denominar “espirituais, podemos citar a imensa exege- se musical — e to poétical — da obra de Johann- Sebastian Bach (1685-1750), 0 maior compositor pro- testante, Bach, misico e protestantetardio da Reforma, rmanteve intactas a nspiracSo e a tora estética de Late- ro, Os textos € as misicas de suas duzentas cantatas € “Paindes” so testemunhas magnificas da existencia de tum “imaginsrio” peotestante de uma profundidae in- crivel mas que se destaca na purezaieonodasta de um Jugar de oracSo do qual as imagens visuais — os qua- dros, as esttuas e os santos — foram expulos ‘A Contra-Reforma da Tgreja Romana tomou exata- mente a attude oposta a essa decisio iconoclasta dos Reformadlores. Num primeiro momento, flizmente lo 0 esquecido, chegara mesmo a suspetar da onipresen- te Senhora Mésia no oft luteran.!? Mas ser princi- palmentea imagindvia sara das imagens eaenais da San- ta Familia “jesutica” (Jesus, Maria e José), dos santos Doutores ¢ Confessores da Igreja que se opors ao imagi- ‘70s Oradores (dato temo oti des Felipe Ne impuserary 4 miscaeligosa como um poderoso isrumerto de conve pregagio conta Conta elo. 23 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2008, 0 imaginério ivi “espritual” protestante do eulto. Com a codific- Ho do famoxo Coneilio de Trento, no século 16, 0 triunfo da Contra-Reforma pode ser consideralo como 6 terceiro grande momento da resisténcia ao iconocls- mo do Ocidente. A partir de agora, esta resisténcia pos: sui um alo preciso. Ela opora ans excessos da Reforma ‘0s excessos inversos da arte ¢ da espirtualidade barro~ «a, Dols fimososespecalistas neste perfodo! deram 3s suas anes subtitulos que cieunscrevem er das ia ‘gens as qualidade deste novo imaginiio. O Barroco & realmente “um banquete dos anjos” — ttulo que une dhs imagens antitéticas (ou “oximoros”): as dos seres de esprito puro, os anjs, € aquela do banguete, total rofundi- mente carnal — mas, 0 mesmo tempo, dade da aparéncia” (titulo no menos enig profundidade nos ¢ sugerida polo que hide mats super- ficial: apesar de toda pompa a aparéncia nega em mos- trar-se,.). Estas sio as qualidades da imagem propostas pelo Barroco: uma pletora profundamente carnal, trivial tico, poisa ‘mesmo, da representagio, mas que também di acesso 3 profundidade do sentido por meio destes efeitos super- de jogos de epiderme e virtuosismos triunfalistas, Diante desse imagindrio protestante voltado para WEG, Datos, te Barve, profondeu de Fapparence(O batoco a profundiade da apartci), Larouse, 1973; D.Ferandez, Le banquet des anges, FEwope baroque de Rome 2 Prague (O ba quate dos anj, 0 Europa buroca de Rama a Praga, Pion, Par, 24 0 paradoxo do imaginério no Ocidente texto literério ou musical, a Contra-Reforma também ing exagerar o papel espiritual conferido as imagens € a0 ceulto aos santos. As imagens esculpidas ou pintadas, ou As vezes as imagens pintadas que imitam esculturas & trompe-Tosl,invadem 0 vasto espaco desocupado das naves das novas baslicas de “estilo jesulta” e 0s virtuo- sismos arquiteturais com os quais © Barroco beneficiaré 1 Europa — o famoso “crescente barroco”!5 —, e que se estenders durante quase trés séculos pela Itélia, fea do Sul. Por tris das obras de nini eo cavalheiro Bernin & Europa Centrale... Am arquitetostais como Borr pintores como Veronese, Ticino e Tintoretto, Rubens & Andeéa Pozzo encontran-se 0s Fieri spirtuaia (1548) de Samto Inicio de Loyola, o Fundador da sociedade — ‘04 Companhia — de Jesus. Tiata-se de um verdadeiro tratado de contemplagéo imaginatva que, com o fine- rorium de Sio Boaventura, tornou-se uma das duas Car- tas mals importantes apoiaas primeiro pelos francsca- nos € depois pelos jesuitas, as duas ordens religiosas tmais poderosas da devogio moderna e do imaginévio initio do Ocidente erst, © companbeiro de Jesus & sulbmetido a exereicis de imaginagio sistemiticos des- «de o noviciado: viualizagio seguida de contemplagio de ‘eenas do Inferno, da Natividad, da fuga do Egto, da rival, Baroque (0 baroco}, Office ds Ue, Faburg, 25 PUCRSIBIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imagindrto cruciticagio e da rarssima representagio da apaigio de Jesus sua mie (uma aparigio conereta, segundo um exercicio de aparigBes).!6 Nessa mesma época, 0 imagi- iri teatral de um certo Shakespeare apresentaré duran tea encenagi principal de uma pega uma cena secu ria Isso € tio verdadero que, para atngir a profundida- ‘de da iluminagio pela propria aparénciae pelo sentido, a sensibilidade ea espiritualidade “barrocas” comprazem- se na multiplicagio das aparéncias “por abso” No entanto, apesar da concorréncia to proveltosa do imaginirio da Reforma e da Contra-Reforma, a rup- tura defnitiva com a cristandade medieval, as “Guerras das Religides” e a Guerra dos 30 Anos particularmente —que arruinou e cobriu de sangue a Europa até 0 tra~ tado da Westflia (1648) — obrigou os valores visions ros do imaginsrio a procurarem refigio longe dos com bates fatrcidas das Igreas. Eram individualismos rei- vindicando a independéncia, hostilidades contra os jesuftas ou calvinistas ou movimentos a mangem de qual- quer instituigio religiosa. Claro que este imagi autdnomo junto com a desvalorkagio dos seus suportes ‘confessionas enfraqueceram os poderes da imagem, € 0 ‘Prego desta autonomia foi, com freqiéncia, oneo-racio~ nalismo dos fildsofos que, no século 18, retomaram a ‘Sima de Feta, 575, flew du mio, a et uméolopie G15, 0 lugar do espeho, de ate da rumerloga) Allin Michel, 1993 26 0 paradoxo do imaginério no Ocidemte cstética de um ideal liso, O neodasscismo reintro- dus o desequilibrio iconoclasta entre os poderes da Rasio ea parte devil maginacio no século das Las. ‘Objetivanco desde logo uma funcionalidade pura!” 0 simbolo das arquiteturasaustras€substituido pela ale- poria insipid Contudo, no séalo das Luzes, 08 movimentos co sno 0 pré-romantism (Stamm und Dron na Alemania) ‘0 Romantiamo foram portos priilegiadosetrunfantes, Acestética pré-romintica e os movimentos rominticos dai decorrentes demarcam perfeitamente a quarta resis- téncia do imaginsrio aos ataques macigos do racional mo © do positivismo. Pela segunda vez, esta estética reconbece e descreve um “sexto sentido” além dos cin- ‘co que apéiam classicamente a percepgio.!# Mas este “sexto sentido”, que possi a faculdade de atingir o belo, cra, jpm fact, a0 lado da razio eda percepgio costumei- +a, uma terceita via de conhecimento, permitindo a en- ‘ada de uma nova ordem de realidades. Uma via que privilegia mais aintyicio pela imagem do que a demons- tragio pela sintaxe/Seré com a Rao pura e pritica que Emmanuel Kant iri teorizar este procedimento de 7G, Durand, °Notes pou ude de a romanamane” (Notas pra ‘© esudo dt romanoman), in Les Imaginares ce ais [Os ima finrios latina] EPRI, Université de Perpignan, 1992 10'V. Basch Esai erique sur esteique de Kant (nso crc se esta de Kant, Vin, 1927, 27 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imagindvio conhecimento pelo *juizo de gosto”! Mas no apenas. [No amago do processo do juéz racional da Razio pura, «para permitira unio entre as “formas prion!” da per- ‘epcio (espagoe tempo) e as categorias da Ravi, Kant reabilita a imaginagio como uma “esquematizagio” pre- parando, de certa forma, aintegragio da simples per- ‘epcio nos processos da Razio. Os sistemas floséficos ‘mais importantes do século 19, como os de Schelling, Schopenhauer ¢ Hegel, terdo uma participacio re ‘obras da imaginagio e da estética!° 0 poeta Hilden afirmars, no akorecer do século: “Os poetas atenticam retomado por Baudelaire © ‘© que permanece"* e se Rimbaud. O primeiro coroars a imaginacio com o tita= lo de “A Rainha das Faculdades”, enquanto 0 segundo constataré que “qualquer poeta tende a tornar-se um visiondrio”. Nao hé diivida de que 0 artista tornou-se “maldito” devido ao sucesso insolente das ciéncias etée- so politica e uma nleas que inauguraram uma ing ditadura econémica novas. Mas nem por sso todos os artistas deixam de reivindicar Ferozmen “genio”, “vidente”, “profeta”, “mago” e “gui final do século 19, a arte passa a uma “religiio" auténo- 1 titlos de No 'ma, revezando-se com seus censculos e suas capelas com TL Gulch, La Mesgue of ls Stes a trys A romantsne (Amis es its na epoca do Romantsmo), PU, 1955 Ce gl deme es pote eon (NT) 28 0 paradoxo do imagindrio no Ocidente 4 nova Igreja postivista e 0 esgotamento das religides tradicionais do Ocidente, Mas isto no aconteceu de um dia para o outro, Embora as primeiras insurreigbes do Sturm und rong (1770) — a ctapa da doutsinaromntca da “arte pela arte” seguida de seu herdeiro imetiato, 0 perfec- smo “parnasiano” —explorassem ¢ consoidassem {trio imaginal do “sexto sentido”, elas no foram da perfeicio imanente das imagens. Seré preciso aguardar a chegala da corrente “simbolista” para des- prezar a perfeigio formal e eevar a imagem icdnica, poética, até musical, avdénciae conquista dos sentidos. Dar 0 titulo de “sfmbolo” & imagem artistica significa apenas fazer do signficante banal a manifestagio de um simbolismo inefivel. Segundo um especalsta em Sim- bolismo, seria 0 mesmo que reencontrar “a galixia das significincias [..] 0 rumor dos deuses..”20 A obra de arte ira libertar-se aos poucos dos servigos antes presta- dos religifo e, nos séculos 18 e 19, a politica. Esta ‘emancipagio licida das artes seréo feito tanto de um. Gustave Moreau, Odilon Redon ou um Gauguin na pin- tura como de um Richard Wagner ou seu rival Claude Debussy na misia.. O Surrealism da primeira metade do século 20 seré o resultado naturale reconhecido do RL Deloy, Le Jounal symbalme (0 dio do simbaie), ‘kira, 1977, 29 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imagindrio Simbolismo. Este “sexto sentido”, que no século das fica, desabrochou Luzes revelou ingenuamente a e numa filosofa de um universo “completamente diferen- te” do pensamento humano e definido por André Breton, no Manso de 1924, como o “funcionamento realista do pensamento”.2! Contudo, podemos imaginar (08 constantes entraves sofridos por este movimento de ‘um retorno ao Surrealismo, que se posiciona do outro Indo de um empirismo institucionalizado na tolo-pode~ +osa corrente positvista com sua pedagogia obrigatéra, até ser inalmente marginalizado durante quase todo © século 20, A prova encontra-se no campo das belas-artes «6, por vezes, entre os detentores do Surrealsmo © no desenvolvimento dogmatico de toda uma pintura e , cus abstragbes geomeétricas rmiisica no imagin: como 0 Cubismo, 0 dodecafonismo e 0 desconstrutivis- mo foram, até 0 timo quarto do século, suas manifes- tages mais Ferrenhas.?? FG. Reon, Le Joural dy sunéolisme (© dhiio do sates, 1919-1919, Ska, ened, 1974 2M Ragon, Aventure de ft abstait(A aventura ds ate abst) Pars, 1956; Lebowitz, Insoducton 2 fo musique de doze tons (toducao a misica de dazetons, Arche, 1945, 30 0 paradoxo do imaginério no Ocidente 3. 0 feito perverso e a explosdo do video Na conflugncia desta corrente dupla poderosisima continua do iconoclasmo ocidental eda afirmagio do papel “cognitivo” (que produz conscigncia) da imagem — esta muito mais esporsdica e dominada por aquela —explodirs passido mais de meio século, sob nossos clhos, 0 que podemos denominar de “a revolugio do video". O que nio deixa de ser extraorindrio € que esta cexplosio da “ivilizago da imagem’ tenha sido um efe- to, € um “eleto perverso” (que contradi ou desmente as conseqiéncias tedricas da causa, do... iconoclasmo éenico-cientfico, cujo resultado triunfante seré a pedagogia positvista, A descoberta da imagem fotogrsfi- ro em preto (N. Niepee, 1823; J. Daguerre, 1837) e depois em cores (L. Ducos de Hauron, 1869; G. Lippman, 1891) estéestreitamenteligada ao progres- so quimico que permit a gravacio da imagem projeta- a, prin dda "isavesss" pela objetiva da eémaraescura numa pla- «a sensibilizada — um fendmeno muito conhecido a partir do século 15. A animacgo da imagem reprodvida dquienicamente (A. L.Lunsire 1885) resulta da apica- «io meciinica de um fendmeno fisiolégico conhecido, tworizado em 1828 por Joseph Antoine Plateau, o er ddor de um clos primeiros cinematégrafos ofenacstocs- Pio, um aparelho formado por dois discos que oa iu so de movimento pela continuidade das imagens da 3 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imagindrio retina, A transmnissio instantinea destas imagens ¢ “fk mes? distincia sero fruto da aplicagi da telecorma ‘acho oral (E. Branly 1890; A. S. Popox 1895; G. Mar- ‘oni, 1901) e depois das imagens na televsio (B. Rosin, 1907; V. K. Zworykin, 1910-1927) e a descoberta da ‘onda eletromagnética considerada “inétil e puramente teérica" por H. Hertz (1888), seu inventor. Eis um belo cexemplo de cegucira de um sibio educado nas escols © laboratrios positivistas que se recusou a ver — € prever —o importante resultado civilizacional de sua descober- ta, que permitiré a inesperada “explosio” da comunica- Go e difusio das imagens. Estas receberiam ainda os suportes magnéticos dos progress da fisicae passariam por uma expansto gigantesca com o alvento do videocas- sete (1972) e videodisco. Se nos detivemos detalhada- _mente nesses inventorese suas invengbes foi para marcar bem a “perversidade” dos efeitos do progresso da sca © da quimica, bem como das experiéncias € teorizagbes :matemsticas do racionalismo iconoclasta do Ocidente. ‘Aos nossos olhos, a ultrapassagem, quando nio 0 ‘fim’ da “gilxia de Gutenberg”, pelo reino onipresen- te da informaggo e da imagem visual teve conseqiénctas ‘eujos prolongamentos slo apenas entrevistos pela pes~ 4quisa.2 A razio é muito simples: este “efeito perverso” BA Teor Gourhan, Le Ges eta pole (0 gest « a pala, 2 ols, Ain Michel 1968 32 0 paradoxo do imagindrio no Ocidemte jam pesquisa triunfal decorrente do positivismo tenha se {oj previsto nem mesmo considerado./Embora a apaixonado pelos meios téenicos (Atcos fisico-qut os, eletromagneticos ete) da produgio, reprodugio & transmissio das imagens, ela continuou desprezando & ‘gnorando o produto de suas descobertas. Fato comum nas nossas pedlagogias téenico-centifias foi necessrio que uma parte da populagio de Hiroxima fosse des- ‘ruida para que os isieos se horrorizassem com os efei- tos de suas descobertas inocentes sobre a radioatividade provocada. © que nio ocorreu com a “explosio” do imagin’- rio, Como a imagem sempre foi devalorizada, la ainda no inguietava a consciéncia moral de um Ocidente que se acreditava vacinado por seu iconoelasmo endémico. A enorme produgio obsess de imagens encontr-se Aetimstada ao campo do “distai”. Todavia, as difusoras de imagens — digamosa“midia” — encontram-s oni- presentes em todas os nives de representagio e da pst {que do homem ocidental ou ocidentalzado, A imagem redistica ests presente desde 0 bergo até 0 témulo, dlitando as intengoes de produtores andnimos ou ocul- tos: no despertar pedagigico da crianca, nas escolhas ‘econsmicas¢ profisionais do adolescents, nas escolhas tipoléicas (a aparéncia) de cada pessoa, até nos us0s e ‘eosturnes pablicos ou privados, 3s vezes como “informa ‘Gio, wees veland a ideologa de uma “propaganda”, 33 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LE! 10.695/2003. 0 imagindrio noutras escond ndo-se atris ce uma “publicidade” sedutora... A importincia da “manipulagio icbnica” (relativa imagem) todavia no inquieta. No entanto & dela que dependdem todas as outrasvalorizagdes — das “manipulagBes genéticas”, inclusive. Felizmente © apesar de tudo, nos itimos 25 anos uma minora de pesquisa- ores, que cresce a cada dia, interessou-se pelo estudo deste fendmeno fundamental da sociedade e pela revor Jugio cultural que implica M4 II AS CIENCIAS DO IMAGINARIO 1. As psicologias das profundecas ‘Os bastides da resistencia dos valores do imaginssio no seio do reino triunfante do cientificsmo racionaista foram 0 Romantismo, o Simbolismo e o Surrealismo. E fot no cerne desses movimentos que uma reavaliagio positiva do sonho, do onirco, até mesmo da alucinagio — € dos alucindgenos — estabeleceu-se progress mente, cujo resultado, segundo o belo titulo de Henri Ellenberger2* foi a *descoberta do inconsciente™. A as experiéncias do “funcionamento concreto do pensamento” comprovaram que o psiquismo humano a apenas @ luz da percepgio imediata e de ento racional de idéias mas, também, na rio fianci penumbra ou na noite de um inconsciente, revelando, ‘aqui € ali, as imagens irracionais do sonho, da neurose 5 eng, ee Biblogata 5 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 0 imagindrio cou da criagio pottica, Claro que esta descoberta funda mental esté ligada ao nome de Sigmund Freud (1856+ 1939).25 Os estudos elinicos de Freud e a repeticao das ‘experiéncias terapéuticas — 0 famoso “di provaram o papel decisivo das imagens como mensagens (que afloram do Fando do inconsciente do psiquismo recalcado para 0 consciente. Qualquer manifestagio da imagem representa uma espécie de intermedistio entre tum inconsciente no manifesto € uma tomada de cons- éncia ativa, Daf ela possuir 0 status de um sfmbolo constituir 0 modelo de um pensamento indireto no qual ado obscuro. tum significante ativo remete a um signifi fica um “sinto- Em termos médicos, este simbolo si ma”, Por conseguinte, a imagem perde sua desvaloriza (Bo dlissica e deixa de ser uma simples “louca da casa” para transformar-se na chave que di acesso a0 aposento mais secreto e mais recaleado do psiquismo. Contudo, a imagem limita-se a ser 0 indicador dos virios estigios do desenvolvimento da pulsio vinica fundamental (a “ibi- do") onde a concretizagio normal do desejo encontra-se reprimida por um traumatismo afetivo. Maitos discfpulos de Freud esforcaram-se para mostrar que, por um lado, psiquismo humano nao era passfel de uma tinica libido (0 pansexualismo) e, por 37, Freud, ver Bibiogaia N. Dracoulides, LAnayse de Fate de on one (aise do ata sua obra, Mont Blanc, Ge ta, 1952 36 As eifncias do imagingrio 6 formas & as me- outro — segundo o titulo eélebre, tamorfoses da libido” —, que a sinica virtue da ima- gem nio consistia na sublimacio de um recalcamento neurdtico, pois © psiquismo normal continha uma fun- «io construtiva e postica (pais: “criagio") Nio podemos deixar de mencionat 0 papel do psi= guiatra suigo Cad-Gustay Jung (1875-1961), 0 qual 1 imagem e foi o primeivo a ple “normalizou” o papel ralizar a libido com clareza. Para Jung, a imagem, por construgio, é um modelo da autocons- sua propr trugio (ou “individuagio”) da psique. Os doentes com perspectivas le cura tém sonhos espontineos ou dese- nnham circulos quadrangulados como aquecles usados nas meditagées do budismo tibetano (mandala). Portanto, dle algama forma, a imagem representa um “sintoma 20 contririo” e um indicador da boa sade psiquica, Mas por ser tio terapéutica e como o psiquismo nio é orien taco por uma libido Gnica e totaitéria, ela abandona a unicidade obsessiva e se pluralza. O psiquismo divide se em, pelo menos, duas série de impulsos: aqueles que re mais ativa mals conquistadora, «quando 0 animus mostra-se freqlentemente sob os tra ‘qos da grande imagem arquétipa (do tipo arcaico, pri- rmitivo e primordial) do heréi que derrota 0 monstr ¢ por outro lado, aqueles claborados na parte mais passi- 9 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.696/2003. 0 imagindrio + mals feminina e mats tolerant, a anime, a qual surge smuitas vezes soba figura da mae ou, ainda, da Virgem Por conseguinte, a imagem passou de um simples papel dl sintoma ao de agente terapéutico,e toda uma escola de pesquisadores, os estudiosos do “sono acordado” 2? tentaré guiar os sonhos de um paciente para que este libere, por meio de uma secregio, por assim dizer, as Jmagens-anticorpos que contrabalancarao ou destruirio as imagens neurétieas obsessivas. Os seguidores de Jung aperfeigoaram ainda mais 0 pluralism psiquico do mestre de Zurique. Nao s6 bi dduas matrizes arquetipicas produtoras de imagens © que se organizam em dois esquemas miticos, animus € ania, ‘mas que se pluralizam num verdadeiro “polit psicol6gico: a anima, por exemplo, pode ser Juno, Diana ‘ou Venus... O psiquismo no se limita a ser “tigrado” por dois conjuntos simblicos opostos, mas & também ‘mosqueado por uma infinidade de nuancas que tem a0 pantedo das religibes politeistas e das quai as astrologias modernas mantiveram alguns tragos.2* 7H Desai, te Rove él enpsychasthérapie © sonbo acral a pcoterapia),PUF, 1945 2) Hillman, Le Poythsme de me (0 pote da alma. Me cre de Fane, Pari, 1982; Durand, Ure tigre fes pres de ‘psyche (ama trad ox plurais da pique! Denoe, 1981 P. Solis, La Famme essemile, myanayse de lo grande mire ef de ses fib amants (4 mulher essen, mitanalise da sande mie © Seas fihos aman Ses, 1948 38 As ciéncias do imoginério (0s resultados clinicos foram confirmados pelo método ‘experimental dos testes “de projegio”, nos quais um s- ‘ulus provoca uma manifestagio espontinea dos con- tesidos psiquicos latentes. O teste mais conhecido & 0 que foi aperfeigoado pelo. psiquiatra suigo Hermann Roschach, em 1921. O sujlto recebe dex pranchas com tua mancha de tinta em cada uma (slecionadas, & ca +o), nio-figurativas, sendo algumas coloridas. Depen- ‘endo da escolha de cor ou forma, do eonjunto ou dos detalhes ete, © profssional classficaré 0 sujeito num dos quatro tipos psicol6gicos. Além deste teste famoso, virios outros “testes de figuras” costumam ser usados para provocar asociagBes livres por imagens. Tanto pode sera construgio de uma “aldeia” com um jogo de construcio pronto, ou 0 dese rho de uma érvore, casa ou paisagem, Neste florlégio abundante de testes de projegio devemos ainda assina- lar, por se tratar de um dos flordes. da Escola. de Grenoble, o “teste arqué ipo dos nove elementos”? do psicdlogo Yves Durand, que consiste em enunciar nove palavras que correspondem a imagens (uma queda, um incéndio, égua, um monstro que devora..) © pedi a0 sujeito que, a partir desta cas semanticas, faga um de~ senho livre seguido de uma narrativa. Este teste no apenas constitui um diagnéstico psiquistrico excelente BY, Durand, ver Bibliogatia 39 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LE! 10.695/2003. 0 imaginério ‘como confirma os resultados tebricos que haviamos ‘riado pessoalmente para as “estruturas” do imaginsrio: todo imaginério humano artcula-se por meto de estru- turas pluras ¢ irredutiveis limitadas a trés classes que gravitam ao redor dos processos matricais do “separar” (herdieo),*incluie™ (mfstco) e “Aramatizar” (issemi- nado), ou pela distribuigSo das imagens de uma narra~ tiva ao longo do tempo. 2. As confirmasées anatomofisioldgicas e etolégicas © eestulo anatomofisiolégico do sistema nervoso ‘humano, em particular do encéfalo, confirmou © espe cificou algumas observagies clinicas dos psicdlogos. Por ‘um lado, oestudo demonstrou a singularidadeanat6mi- «a do “cérebro humano volumoso”, segundo 0 termo tusado H. Laborit. Podemos afirmar tratar-se aqui de um “volume” a0 “quadrado", Ele eapitaliza sob 0 “cétebro pré-frontal” (ou “terceiro cérebro") os dois outros rebros: o palencéfalo (centro da agressividade “rept liana”) ¢ 6 mesencéflo (centro da emotividade “mami fera”), Este “terceiro cérebro” ocupa dois tergos da massa cerebral e controla todas as informagivs filtradas pelas outras esferas do sistema nervoso por meio de suas ligagBes neurolégicas (as fibras de mielina). A rie queza das aticulagées permite a ligaio simbélica entre dois objetos diferentes — fat comum a muitos aniais 40 As cléncias do imagindrio (cf. as experiéncias de Pavlov asarticul ages «pratense tentes no Homo sapiens adulto, tao exis ‘especialmente a tgacto entre dois dos sistas representation vale 0 audiivo, sendo este éltimo muito pobre nos outros antropéides (J.C. Tabary), No ma fero nio-humano — réptese peies afr {ori — 0 imulusprovoca uma reago deta: a agressi= dade no crocodilo, a emotividade no cio ete. No ho- mem, como todas as informagées so contrladas pelo “terceiro cérebro” (ou “cérebro noemético”) (P Chau- chard), elas passam a ser indiretas. Todo pensamento hhumano é uma r-presentagio, isto & passa por artical S8es simbélicas. Ao eontrério do que afirmou um ps Quinta que esteve durante algum tempo na moda, 10 homem nio hé uma solugio de continuidade entre © ‘imaginirio” e 0 “simbélico”, Por conseqiéncia, o ima- BinSo constitu © conector obrigatrio pelo qual f= Ime lq oreo hana ~~ 'm segundo lugar, «embora hoje sejamos extrema= "mente prvdentes quanto ds “locales cerebras” SO “iticadas pelo fiésofo Henri Bergson e prefiramos ‘Siderar as influéncias do meio exterior sobre as especial ‘ages nerocercbrals (a emergénca “epigendtic, JC “OT Chacha, Pcie blog buraine nuncio lot humana}, Pas, 1952 4a PUCRSIBIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LE! 10.695/2063: 0 imagindrio tes (postural, digestivo, copalativo), nas quais a matoria dos psicofsiélogose psicdlogos, partidirios ee uma oF ‘gem central e exclusiva do fendmeno da dominancia ou ‘le uma teoria periférica (onde o corpo inteiro participa na construgio do fenvmeno), observaram 0s processos _maticiais das grancls cateporias das re-presentacbes. Devemos ainda acrescentar aos resultados destas observagbes que confirmam de forma extrema 0 impe- rialismo da re-presentagio, portanto da imagem e da cexisténcia de esquemas imaginérios distintos. 0, homo sapiens, as observagbes dos etdlogos (especialistas que se interessam pelos usos, costumes © comportamentos), ‘que constataram a existéncia de grandes imag is (Urilder), que si as diretrizes dos gestos das atitudes espectficas nos comportamentos dos animats, (Os trabalhos de K. Lorenz!?, N. Tinbergen eK, von ies que immplicara um Friesch sobre estas imagens dirt mecanismo inato de desencadeamento” muito préxi ‘mo a0s arquétipos junguianos ¢ aos “esquemas arqueté picos® que ns havfamos assinalado (1959) seriam co- roados por um Prémio Nobel (1973). Nos conhecidis- simos estudos sobre o comportamento dos gansos selva- gens, do lagarto verde e do peixinho carapau, eles des- ccobriram as imagens stimuli desencadeadoras los poste- ros0s rellexos dominantes. Por exemplo, uma pequena {7% Lorenz, ce comportement animal human ( comprtmesio animale hamano, Sul 1976 44 As eléncias do imagindtio rmancha azul at sda abertura auricular do lagarto verde ‘macho provocava a agressvidade de um outro macho, como foi demonstrado quando pintaram propositada- mente uma dessis manchas numa fémea, provocando a agressvidade no macho em vez de uma atitude que se- +i, porinstint, muito mas glante. O mesmo fendme- no fo observado no carapau macho, desta vez com a cor yermelha, 0 que provocou um ataque de eélera he- ico, pois tratava-se de uma bola dle celulide dez vezes maior do que ele, Portanto, se no mundo das vértebras inferiores no h& “articulagBes simbélieas” complexas, jgngbessimbélicas”inatas e rudimen- tares que formam a base de um universo imaginétio 1, pelo menos, regularizador dos comportamentos vita da espécie. Por fim, devemos levar em consideragio um fend ‘meno que justfiea amplamente as afirmativas de uma teoria epigenética da representagio estudada por todos ‘05 neurofisiologistas: a formagio do “grande aétebro” hhumano é muito lenta (neotenia). Se a ligacto simbélica ‘ocorre a partir dos devoito meses a articulagio simbdli- ca somente se manilesta por volta dos quatro ou cinco anos. A formagio anatémica do eérebro humano se en- certa por volta dos sete anos, e as reacBes encefilogrfi- «as se normalizam aos vnte anos... “0 homem €0tinico ser com ua maturagio to enta que permite ao meio, especialmente ao meio social, desempenhar um grande papel no aprendizado cerebral” (B Chauchard, ep. c) PUCRSIBIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003.

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