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THOMAS E. f SKIDMORE ete) Se SS a oer apreende 0 processo integral de formagio 0 Brasil. Qu SNORE NCO UO uct enw teste) ; CT cee chy 4 UM. internacionalmente cm sua singularidade, mc I S ie oO sa or See Cee tte incessante na construcao de ums identidade , Je) O . Coote er etm ote CSUR eee ee li VAL r © Thomas F. Skidmore Titulo original: A history of Brasil SUMARIO 1P-Brasil_Catalogacio-Na-Fonte (Sindicato Nacional dos Faitores de Livres, KJ Braid Skidmore, Thomas E., 1932- (Una histria do Bra / Thomas. Skidmore; trad de Raul Fer S80 Paulo Pa e Terra, 1938 ISBN 85:219.05138 Incl bibliograia AGRADECIMENTOS 3 sash INTRODUGAO........ 15 j |. NASCIMENTO E CRESCIMENTO DO BRASIL COLONIAL: 1 Bil ~ Historia, 2. Brasil Politica © governo 2 1500-1750 "7 3. Brasil ~ Chileagao 1. Thulo © pais que os porugues criaram no Nove Mundo 8 Como iso foi posi aos portuguese... 20 98-1335 ited inca das fontezas apes! A garantia das fi 2% Como os portuguese administavam acon 26 Os povos do Brasil 7 2» ‘Acconomia ea sociedade colons 36 ‘Acstrutura social do novo mundo portugues 39 sprros va a Mee icing ec a Soi fin So Pl, SP-— CEP 01212010 7 ‘Tels (O11) 3337-8399 A natureza do Estado ¢ da Igreja coloniais. 43 Peet ch Os primérdios de uma cura luso-braser 6 ener 1, CRISE DO SISTEMA COLONIAL E EMERGENCIA DE UM BRASIL INDEPENDENT: 1750-1830 ae) 203 Irene so Bel Phd in Bai : ‘Acconomia ea polltca do Brasil ps-1750 50 5 Tens6es na coldnia no final do século XVI CConspi-agées contra os portugueses A corte portuguesa chega 20 Brasil A criagio de uma nova América portugues. Hierarqias soci. O nove sistema mondrquico Il, REVOLTA, CONSOLIDAGAO E GUERRA: 1831-1870. Insurres Ges sob a Regéncia Recenerligio © papel de Pedro 1 Ascensiodo café (Os problemas emergentes com aescravidio como insiuigo A questi da aboligéo A Guerra co Parag IVA CRIAGAO DO BRASIL "MODERNO™: 1870-1910. Una nova geragio ea questio militar jas; 0 caminho brasileiro. [A abolsio suas conseqién © fim do império, Modemizagio das cidades © "embranquecimento” do Brasil ‘A realidade por tris da fachada Flutuagoe: do café, indstriaemergentee trabalho urbano ‘As rales da industilizagio Onganizagio dos trabalhadoreseestatégia dos cempregadores.. Dissohigéo do consenso oligirquico. 6 97 100 106 no 2 3 nn7 us 12 13 ‘Uma mensagem vinda de baixo. Tensbes econdmicas 25 126 \- PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, A GRANDE DEPRESSAO E ADITADURA: 1910-1945. 0 choque da Primeira Guerra Mundial ‘A economia depos da guctra (0 desenvolvimento desigual do Brasil [Novas crsentes na década de 1920 Modernism ao esl brasileiro. ier [A desinegraco da vetha politica ‘A Revolugio de 1930. Ascensio do pensamento Desvio para centalizagion Polarizagio ideoigica Geto Vargas como ditador © estilo Geto Vargas Avangos corporativistas (Uma nova busca da identidade nacional Malabarismo nas opg6esinternacionais Segunda Guerta Mundial e crescimento da influéncia dos EUA (© colapso da ditadurs domestica, ‘VI. DEMOCRACIA SOB GETULIO VARGAS, DIAS ‘TRANQUILOS COM JUSCELINO KUBITSCHEK E UM GOLPE MILITAR: 1945-1964 As cleigbes de 1945 e 0 periodo Gaspar Dutra Getilio Vargas retorna 37 38 41 43 44 49 51 53 58 58 61 6 6 7 ro) 7 75 81 82 85 De oligarca a populist (© programa legislative de Geno Varga enfrenta difculcades Suicidin 186 189 191 Um peril socioecondmico do Brasil no fim da década de 1940 © inicio da década de 1950 Desequillrios rionaise migrasio Padrée: de erescimento urbano e rural Estaticagio socal ‘Um novo presidente elito Estratégja politica © programa de desenvolvimento econdmico Lidando com a economia mundial breve presencia de Jinio Quadros Asucessio de Joio Goulart Populi versa militares. A excalda da crise econ mica VIL. GOVERNO MILITAR: 1964-1985 [Abusca des generis por uma base politica Oposicio crescent, epressio crescent: 1964-1967 “Triunfs da linha dura © advento das guetilhas Acura cs generais Os efeitos da represio, © governo militar e quesées sobre a cultura politica brasileira (© “milage” econémico forjado pelo aucoritarismo 8 195 196 198 200 (Os beneficios eos custos dos empréstimos esrangeios, (+ vencedores © os perdedores. (© caminho para aredemocratiagio Batalhas no corpo de ofcais Manipulagio do sistema eeioral VIII. REDEMOCRATIZAGAO: NOVAS ESPERANGAS, VELHOS PROBLEMAS: 1985- ‘Uma sucesio inesperada Samey €a nova democracia, © Phino Cruze. A ctse da divda ea economia Iavetimento perdido ‘A figs de crebeos Abismos crescents entre rcos¢ pobres Educagioe side Habitacio ¢ comuniagées Satie publica: 0 peixe que nada conta a corente Madangas relatvas is mulheres Relages de raga ‘Caleuracontemporinea © expect politico na nova democraca A dertocada de Colle A cleigio © plano de aio. O fie Um outro vie-presidente no con ° 251 252 255 256 258 267 267 268 am . m3 ms 279 280 282 283 285 290 24 295 302 303 304 307 309 De volta &estabilizagio: o Plano Real 310 [As eleigdes presidenciais de 1994 314 As politcas do governo Fernando Henrique Cardoso ... 317 ‘As perspectivas de Fernando Henrique Cardoso ....... 321 EPILOGO. 329 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 335 SUGESTOES DE LEITURA . 337 INDICE ONOMASTICO, : i: 353 ILUSTRAGOES: 111. Produgio de ouro brasileiro no séeulo XVIIL 6 IL-1, Exportagdes principais como poreentagem da exportagio total do Brasil, 1650-1950. 9 IIL-2. Porcentagem da distribuigio da populagio esrava por regis e provinciasselecionadias no Brasil, 1823-1887 2 IL-3, Estimativa de importagio de escravos nas Américas por regio, 1451-1870 3 IL-4, Crescimento da populagio brasileira por origem éenica, 1798-1872. . 94 ILS. Déficie Federal, 1823-1880. oh 2 95 IV-1. Imigragio brasileira, 1872-1910 se 129 1V.2. Imigragzo brasileira por nacionalidade, 1872-1909 ... 130 1V-3. Composigio racial da populagio do Brasil, 1872 € 1890 131 IVA, Distribuigio da populagio brasileira por regies principals, 1772-1991.. 132 1V-5. Exportagdes de café brasileiro 133 1V-6, Quantidade e valor das exportages de borracha natural, 1900-1920 fet 1V-7, Populagio e Produto Interno Bruto (PIB), 1850-1913, VAL. Importasdes brasileira de equipamento industial, 1870-1925 (bras eselinas a presos de 1913), V2. Recetas e despesasdo governo federal brasileiro, 1910-1945. V3, Produto Interno Bruco (PIB), 1925-1945 Vi-1, Voto popular para presidente, 1945 ‘VI-2. Balanco de pagamentos do Brasil, 1947-1954 .. \VI-3. Populagio e taxa de crescimento populacional, 1940-1991 7 VI-4. Chegadas de imigrantes 20 Brasil, 18 VES. Representacio dos principas partidos na Camara dos Deputados, 1945-1962 VLG, Taxas anuais de infagio, 1950-1964, Vil-1. Taxas anuais de in asia, 1965-1985, ‘IL-2. Distibuigéo do PIB por setor, 1955-1975 -1950 VIE-3. Balango de pagamentos do Brasil, categorias selecionadas, 1965-1985 _ VIL-4, Distribuigdo de reada para a populagio ‘economicamente aiva por deciles, 1960-1980, \VIIL-1. Texas amuais de inflagio, 1950-1989 VIIL-2, Distribuigio de renda no Brasil, 1960-1990 VILL. Estimativa do nimero de pessoas com fome no Brasil, 1990 VINL-4, Taxas anuais de inlagio, 1986-1995 u 134 135 7 178 179 218 29 20 a 222 23 262 263 264 265 = 325 326 AGRADECIMENTOS Escrever uma histéria em um volume de qualquer pai be belecdo ¢ inevitavelmence um empreendimento coletivo, independen- remente do que posss dizer « pigina de rome, Minha maior divila é para com os muitos brasileiros que durante as dltimas erés décadas fo- ram infalivelmente generosos com seu conhecimento histrico e sa hhospitalidade. Alberto Vendncio Filho ¢ Paulo Sérgio Pinheieo, ambos amigos de muitos anos, lem um esbogo manuscritoe fizeram valosas sugestoes, embora nenhum dels cenha visto a verso final. Varios cole- 88 ameticanos prestaram ajuda semethante. Entre eles Dain Borges, Todd Diacon, Frank McCann, Steve Topike Joe! Wolfe ‘Uma sétie de excelentes assstentes de pesquisa inclui Joel Kalin, Helan Gaston, Nelly Lees, Lisbeth Pimentel, Chi Wats, Talia Ander son e Barbara Martinez. Apoio logitico foi oferecido por Ron Rathiet Sheldon Meyer, anteriormente editor sénior na Oxford University Press «€ meu amigo de longo tempo, forneceu aquele estimulo sibio que tem sido cio importante para tantos historiadores americanos. Tenho uma diva especial para com minha esposa, Feliciry, que mais uma ver demonstrou suas formidiveis speidées como parte de livros, Com a mio esquerda ela edita ecom a dicia culkiva 0 coras. ‘© que mais um esposo poderia pedir? INTRODUGAO (© Brasil criou, sob uma fachada de harmonia, uma sociedade contraditéria. As concradigdes tm virias fontes. Elas slo um produro dla miscigensgio de povor — indigenas, europeus e afficanos — da cultura derivada dos portugueses que mantém o Brasil unio. As con- tradigGes sio também produzidas por promessas pasadas de oportuni- dade, que sio negadas pelas realidades presences de discriminasio, vio lencia e pobreza generalzada. A contradigio decisiva & enue a reputago justificivel do povo brasileiro de generosidade pessoal ("cordalidade’) <0 fato de ter de viver em uma das sociedades mais desiguais do mun- ddo. Em suma, o Brasil exemplifica todos os problemas do capitalismo no mundo em desenvolvimento A sociedade brasileira demonstrou ser integrada de modo variado potém notivel, no em termos igualiris, mas hierirquicos. A cukura Jnculca um sentido de intimidade 20 lado de um sentido de distinc, ppermitindo, assim, que a elite domine a sociedace com pouco temer de esafio, Nossa meta & indagar como essa sociedade emergiu e 0 que a impede de tomate mais aberta ¢ igualitria — a mesma meta de clarada de lideres nacionais pelo menos desde a proclamasio da rep blica em 1889. Ha muitos outros temas a explorar. © primeiro é a questio de ‘como Portugal manteve unido um tervitério tio imenso — 0 Brasil modemo € ainda maior do. que os Estados Unidos continentais — ‘enquanro a América do Sul espankola fragmentou-se nas muitas nagbes difeia muito da politica brtdnica de apenas poueas décadas antes). Mas a monarquia {stava realmente consolidada e sua autoridade universalmente econhe- ‘ida, mesmo que apenas implicicamente, pelo pas. O Partido Conse ‘adr foi dominante entre 1850 ¢ 1863, liderando com éxito © que ‘io a ser conhecido como a “conciliagio” — um abafamento do con- fico partitioe um acondo para evitar questBes comtrvertids. A politica tomou-se rotinizada. Enguanco isso a produgio de af subia, aumen tando os ganhos com a exportacio — e permitindo & Corea postergar nite 1840 e 1870.0 ulterior endividamento estrangeto com Londres. A ascensio do café ‘A cxaustio das minas de ouro e diamantes na segunda metade do séeulo XVII tornou a economia brasileira novamente dependente de cexportagéesagricolas, com o algodio e o arror complementando agora as tradicionais exportagdes de tabaco e agticar. Por volta de 1830 um ‘novo produto havia aparecido — 0 café, um produto de exportagio {que abusteceria a exonomia de exportgia da Brasil pelos préximos 140 anos (veja Figura I-1). © café foi pela primeira vex comercializado com éxito (em fins do séeulo x¥in) no Brasil na provincia do Rio de Jancito, onde o solo era altamente adaprivel a0 sea arbusto. Nas dé cadas de 1830 e 1840, aquela provincia tornou-se centro do cultivo dle café, coma cidade do Rio como o centto exportadr. O Rio sediava os hancos,corerora € docas que conectavam o Brasil av mercado mundial n de café na Europa ocidental ¢ América do Norte, Os escravos eram a principal fonce da considerdvel mo-de-obra necessiria para plantar as frvores de café, culivisase colher os gros. Alguns excravoseram adquid dos no comérco de escravos, © qual, emboratecnicamente ilegal desde 1826, continuou até 1850. Outeos eram adquiridos das menos lurati- vas plantagées de acicar, especialmente no Nordese s solos da provincia do Rio de Jancio foram progressivamente ‘exautidos pelo cultivo intensivo de café, com a topografia montanhosa ajudando 2 aceerar a erosio. Mas o Brasil no tinha fala de terra no (ou sub) utilizada. Embora a producio no Rio permanecesse alta, em ‘meados do século 0 centro de cultivo de eafé mudava-se para o sul e ‘este do Rio. Ele se espalhou pelas provincias de Sio Paulo e Minas Gens, onde 0 solo revelou-set30 pradutivo quanto 0 melhor solo do Rio. ‘A “marcha” do café para o Sul gerou uma erescente demanda por rmio-de-obra. A produsio brasileira crescia rapidamente, Com o fim do comércio de esravos em 1850, as proviacias do Sul se viram forsae das a depender da compra de escravos de fontes doméstias, especial mente no Norte ¢ Notdese. Isto gerou um deslacamento demogrifico para o Sul, semelhante (se bem que em menor escala) a0 deslocamento do século XVII para Minas Gerais durante © boom da mineragio (veja Figura 112). Os senbores nordestinos que vendiam seus scravos rece- biam pagamento, mas ese influxo de capital nio impediu que os po- litcos nordestinos denunciassem a “perda” de sua forsa de trabalho, que migrava para o Sul mais prdsper. ‘A continua esasser de mo-de-obra em Sio Panlo lerou uns poucos fazendetos a importr imigrantes europeus para trabalharem como meci- roe em fazenda de café. O mals fmoso farendico que tentou essa abordagem foi o senador Nicolau Vergueito, que ecrutou um grupo de iigrancesalemaese sugos na década de 1840. Os fazendeitos brasle- ros pagavam a passagem para eses imigrantes e prometiam emprego, condigées de wabalho acvtiveis e ganhos razoiveis em roca do tra bualho. A experiéncia fracassou, alvex por causa da inerente incompati- bilidade do trabalho escravo ¢ livre numa mesma plantagio, De todo modo, muitos desses imigrantes reclamaram a seus governos que es tavam sendo tratados como escravos — e com tanta veeméncia que a Prissia teagiu proibindo o recrutamento de imigrantes pelo Brasil. O %6 fracasso dessa e de outtas experince com colonos imigrantes euro- peus reforgou a concepsio conservadora de que nio haviaalterativa to trabalho esravo. A conclusio oposta — que a escassez de mio-de- ‘bra nfo pods mais ser solucionada por scravos e a abolicio poderia ‘er um pré-recuisit indispensivel —levou mais tempo para ser aceta, (O siscera de posse de tera no Brasil colonial — uma sucessio de oases reais de tera feitas pestoalmente pelo monarca — havia con- ddurido a um padrio de reivindicagées de cerra ad hoc que tinham mais a ver com posssio fsica (ais como usocapiio) do que com reconhe- timento legal. Por volta 1850, o crescimento da agrculrura de expor- tagio comercial, especialmente do café, aumentara dramaticamente 0 jnteresse pela posse da terra, e @ perspectiva de crscente imigragio de nio-de-obra livre da Europa (com a interupgio do comércio de escra- vos) levaneavaa questio urgente de o que fazer para que as novas ondas de ttabalhadoresficassem nas fazendas em ver de se assentar nas terras sem uso, ainds abundantemente disponivels. 1850 foi aprovado no Brasil a Lei de Terrs, deretando que a cerra pliblica 38 poderia agora ser adquitida por compra do governo ou por pagamento de impostos para regularizar os acordos de terra jf tos, dficulando, asim, o acesso 8 cerra para pequenos propretiios. ‘Sua aplicagio fivorecia 0s grandes proprieciios, especialmente aqueles cnvolvidos na agriculeura de exportagio, E esta era exatamente ain tengio, De fato, 0 propésto principal da lei era promovero sistema de grandes plantas. A tnica maneira de diminuit 0 poder dos grandes proprietitios de tera teria sido cobrar um alto imposto sobre 2 terra ni cukvads. Tal imposto foi proposto diversas vees depois de 1850, mas foi sstemiticae sucesivamente bloqueado pelos intereses dos gran des proprietiras de eras Doze anos mais tarde, os Estados Unidos, onde o acesso a tera Para pequenos proprietitis sempre fora mais ficil do que no Brasil assutniu uma politica bem diferente, O governo dos ELA aprovou 0 Homestead Act de 1862, estimulando pequenas propriedades 20 fazer concessbes de teras a pequenos agricultores que se comprometiam em cultvi-las. O caminho oposto, seguide pelo Brasil, reve implicagbes importantes para a desigualdade econdmica no Beasil moderno, pois institucionalimu a concentragio da propriedade de terra em um pais ‘onde esta era a principal fonte de riqueza. Os problemas emergentes com a escravidio como instituigao Em 1830 o Brasil era a maior economia de escravos do mundo, ‘com mais escravos do que pessoas livres. Mas a populagio de escravos do Brasil nao se renovava, exigindo que o pats dependesse pesadamente de sua importagio (veja Figura III-3), Havia erés importantes razdes para essa dependéncia de importagbes, Primer, em virtude da sua de- ppendénca histérica do comércio de esravos,havia muito mais escravos do que escravas no Brasil, 0 que reduzia a taxa de nascimentos, Se sgundo, os esravos braleiros eram mantdos em condigGes to adversas que sua sie era prejudicada,reduzindo ainda mais a capacidade repro- durora da populagio de escravas braieias. Em meados do século XIX, Por exemplo, a expectativa de vida de um escravo brasileiro era de ape. as dois tergos da de um brasileiro branco (em falar dos nio-brancos livres), em comtraste com os Estados Unidos no periodo da escravidso, fem que um escravo podia ter a expectativa de viver quase 90% da dluragio de vida de seu senor. Finalmente, a despeito de sua insensi- bilidade quanto as condigdes dos escravos nas fazendas, os senhores brasileros eram muito mais inclinados a libertar seus escravos do que 0s senhores norte-ameticanos, cave por estarem tio habitusdos a repor ‘scravos perdidos pels freqientes (mensis, segundo a maiotia das etima- tivas)entregas de novos esravos da Aftica A pressio britinica para encerrar o trifico de escravos, poréan, ameagava o proprio cerne da economia braileira, Os britinicos, como 9s outros europeus que tinham se estabelecido no Novo Mundo, ha- viam, € claro, lucrado com a escravidio africana durante séculos por imtermédio de suas colnas escravagistas na América do Norte e Caribe Eles também haviam tucrado com investimentos dle escravos, E era raro um politico ou céxigo britinico que encontrasse algum argumento moral convincente conta a escravidio antes do século XVIlt. No fim do século XV, contudo, a opini pablica britanica em geral havia mudado para o lado da aboligio. Com as idéasiluministas Produzindo novas attudes quanto as relagdes humanas, a redugio de ppestoas a um estado sub-humano em prol do ganho econdmico comesava «8 desperar opasgoapaivonad na Ingaera como agp imoral e ni-ctso, préprio comércio 7" ssa mudanga moral wornou-se tio forte que em 1833 0 parla mento britinico proibiu a esravido nas colbnias do Atlantic br rico. A opinizo pablca também presionava o govern inglés para su- primir 0 florescente comércio de escravos da Africa ocidental para 0 resto do Novo Mundo escavagsa. A principal motivago para 43580 bricnica ea de ito moral e ideolgica, mas uma dimensio econémica também entrar no cil politica. Os Estados Unidos havi proi bdo 0 comércio em 1807. Ito dear as coldniascaribenbasbritini- ‘as sem um cométcio de escravos, colacando-as em desvantagem com- pertiva (em custos de mio-de-obra) vird-vis economias como as de (Cuba e do Brasil, Acabar com o comércio de esravos no mundo teria a cm coincidente de restabelecer esse equiloio competitive, ‘Assim, os ingleses aumentaram a pressio sobre o Brasil, que a sentia de virias maneiras Primeiro, em 1826, a Inglaterra pressionou © Brasil a assinar um tratado concordando em encerrar 0 comércio de cescravos em 18s anos. Embora nio houvesse apoio para essa medida entre a elite brasileira, esta dficilmente poderia resistir aos ingleses, ‘com quem estava por demais endividads, tanto politica quanto finan ceiramente, Sucessivos governos brasietos lidaram com 0 problema simplesmente deixando de implementar 0 tatado de 1826, uma negli- géncia que aplicaram também a uma lei de 1831 que declarava auto ‘maticamente lives 0s esravos que entrassem doravante no Brasil. Navios hegretos continuavam a descarepar suas cargas humanas na costa brasi- leita, em aberto desafio & proibigio legal. A Marinha Real Bricinica, maior forga naval do mundo, passou a interceptat os navios negreiros € a ibertar as cargas de escravos. Embora ela tivesetido algum éxito, um fuxo macigo continuou a chegar nas décadas de 1830 e 1840, A des Peito da indignagio manifesta pela imprensa e pelo paslamento da In- slaerra, cerca de 712 mil novos escravos entraram no Brasil durante esas duas décadas (como o comécio era tecnicamente iegal desde 1831, ‘ses mimeros sio apenas estimativas), uma média de 35 mil por ano. Sob pressio dos fazendeicos de café ¢ de outros propretitios de ‘erras, que alegavam que a economia do Brasil entraria em colapso se fosse privada de um suprimento seguro de escravos, o governo brasi- iciro continuou a ignorar seu compromisso diplomitico até 1850, quando © parlamento brasleico Finalmente aprovou legislagio (a lei Eusebio de Queiror) pondo defintivamente fora da lei @ comércio de eseravos. ” Diversas eram as rardes. A mais importante ea a crescente pressio na- val britinica depois de o governo brasileiro ter-serecusado, em 1845, a renovar o tatado que o obrigita a suprimir 0 comércio. Cruzadores da imarinha brtinica incerceptavam navios negreiros que se dirigiam 20 Brasil, derendo quase quatrocentos entre 1845 ¢ 1850, Esa crescente incervensio, que se estendia 20s portos braileios, representava uma ameaga considerdvel 3 soberania brasileira. Uma segunda preocupasio {que mocivava a lite brasileira era a perda de confianga em sua capaci dade de controlar os ecravos depois que estes chegavam ao Brasil. A bem-sucedida rebeliéo de escravos no Haiti, na década de 1790, havia infundido medo nos coragbes dos propritirios de escravos das Américas. (© medo foi reforgado no Brasil pela revolt de escravos malés em Sal- vador, Bahia, em 1835. Dai em diante a poicia eos politicos, especial- mente no Rio © na Bahia, passaram a alert que os escravos africanos recém-chegados tinham um grande potencial explosive — avisos que foram confirmados por uma revolea de escravos fugitives na provincia do Rio de Janeiro em 1838 e pela participagdo de esravos foragidos na revolta da Balaiada (1838-1841) no Maranhio. Finalmente, as autor dades brasileras aarmaram-se com as iupgBes de febre amarela ede célera na década de 1840, Pesquisadores médicos identificaram os es cravosafficanos recém-chegados como a Fonte dessas epidemias,forne- cendo outro fore elemento de auto-interesse para encerrar 0 comércio, Em 1850 o gabinete brasileiro finalmente concordou em suspen- der o rifico de escravos, que, mesmo pela lei brasileira, jé era ilegal hi quase duas décadss. O governo brasileiro estava agora verdadeiramente compromerido em implementar ale, e estimou-se que apenas mais 6,1 ‘mil escravos entrram no Brasil (clandestinamente) de 1850 2 1855. comércio de escravos continuow apenas para Cuba, onde fi finalmente climinada na década de 1860, por meio da pressio combinada dos {governos brtinico © espanol. (0 fin dense comércio tve graves implicagSer para © Brail. Co- ‘mo jf foi discutido, as imporagées continuas de esravos eram essencais para stisfzer as nocesidades de mio-de-obra das plantagdes. Embora os fazendeiros,cujos portos exavam sob presio da marinha britinica, acei- assem a aboligio final do cométcio, eles permaneceram pessimists sobre seus efeitos sobre o fucuro da agricultra brasileira. Como havia ‘obscrvado dois sclos antes jesulta italiano Anconil, os escravos exam 80 1s mos ¢ pés do Brasil, Como poderia 0 pais sobreviver sem partes de seus membros? A questio da aboliso ‘Quando o Brasil extabelece se impétioindependente em 1822 2 escavidiestaa firmemente implancada. A esravidio era central 4

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