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[O Mercosul] é um projeto que não é de governo. É um projeto de Estado brasileiro.

É
um projeto no qual o Brasil está investindo todo o seu esforço, porque sabe que o seu
destino está ligado ao destino desses países da América do Sul, especialmente do Cone
Sul.

Senador Roberto Saturnino em pronunciamento no dia 7


de junho de 2006.

Não por acaso no início da década de 1990 foi assinado o Tratado de Assunção entre os quatro países
latino-americanos do cone sul do continente americano - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O
bloco regional que floresceu desse tratado multilateral prezava inicialmente a liberalização comercial,
sendo, no entanto, ele mesmo uma resposta dos Estados integrantes à aceleração brutal que se verificou
no fenômeno da globalização após a queda do Muro de Berlim ocorrida dois anos antes.

O intuito desse artigo é desmistificar esse paradoxo que circunda o Mercosul, apresentando a formação
e a manutenção do bloco como uma medida ao mesmo tempo reativa em relação à globalização e
positiva no que tange o desejo político de concretizar o trabalho dos libertadores da América. Além
disso, tenho o propósito de aqui delinear as ações do bloco em momentos mais recentes de crise
econômica no cenário global, evidenciando as convergências e também divergências político-
econômicas que vieram à tona nesse contexto, complementando ainda esse esforço com a exposição
das perspectivas oficiais para o Mercosul.

A globalização e seus reflexos

É de grande valor iniciar esse tópico com a explanação do que é a globalização, esse conceito difuso e
contraditório que não encontra consenso no meio acadêmico. Segundo Robert Gilpin, a globalização é
a integração da economia mundial e esta teoria encontra eco, a meu ver, na formulação de Aníbal
Quijano, para quem as tendências econômicas em voga no período histórico atual “indicam um
momento, um grau ou um nível do amadurecimento e do desenvolvimento de tendências inerentes ao
caráter do capitalismo como modelo global de controle do trabalho” 1.

Sendo assim, tendo por base o conceito de globalização desses dois autores pertencentes a correntes
teóricas tão discrepantes, tenho para mim que a globalização nada mais é que um estágio da evolução
capitalista, marcado pela impressionante abrangência geográfica desse sistema econômico e pela
inexorável interdependência entre os países, a qual já havia sido teoricamente elaborada e fatalmente
anunciada nos primórdios do capitalismo pelo expoente do iluminismo escocês, Adam Smith.

Contudo, a divulgação popular das características desse fenômeno econômico – a facilidade de


transporte internacional, a liberdade de investir e comprar no mercado global, a comunicação veloz –
deu-se sob a influência política dos grandes atores capitalistas. Com efeito, a mídia de massa omite os
pontos negativos da globalização, tornando o ideário que dela emana um fator atraente aos povos e
governos espalhados pelo globo. É importante notar que a globalização, ao contrário das afirmações
neoliberais e ortodoxas em geral, não é um fenômeno econômico orgânico (um “maquinismo
impessoal”, segundo Quijano) que naturalmente surgiria ao largo dos anos e, sim, um acontecimento
político vinculado aos desejos e necessidades dos principais players do cenário internacional.

Para auxiliar a difusão do pensamento neoliberal, logo o da globalização, governos “centrais” e


instituições financeiras supranacionais multilaterais publicam regularmente estatísticas sociais que
comprovam os benefícios da globalização. São em geral dados a respeito da pobreza e da desigualdade
social no mundo e que, salvo raras exceções, apresentam tendências de melhora nessas taxas.

O doutor Aníbal Quijano define a dinâmica da globalização nos seguintes termos: o Bloco Imperial
Mundial é um formado pelos modernos Estados-nação democráticos (Europa, América do Norte, Japão
e Oceania), os quais persuadem e manipulam os modernos Estados nacional/dependentes (América
Latina, maior parte da Ásia e a África do Sul) e também os modernos Estados neocoloniais (maior
parte da África) de modo a incluir eles no sistema capitalista neoliberal e por conseguinte na
globalização. Essa inclusão dá-se por meio do que o autor chama de des-democratização e des-
nacionalização desses Estados, o que ocorre quando há a re-privatização dos instrumentos da
autoridade pública, ocasionando a re-concentração da autoridade política total e a transformação dos
Estados “débeis” em agências político-administrativas do capital financeiro mundial e do bloco
imperial mundial.2

O quadro apresentado que evoca tanto a dominação econômica quanto a política é fruto de um enorme
empenho e dispêndio por parte das potências centrais e obviamente seria inviável em caso contrário.
Sendo assim, as estatísticas a que me referi anteriormente – pobreza e desigualdade – as quais têm tão
grande apelo político, representam uma vertente fundamental da dominação capitalista e da
globalização. Talvez por esse exato motivo elas sejam tão suscetíveis ao erro e à distorção.

Robert Wade tenta desmistificar o argumento liberal e consegue provar que as taxas floreadas que são
divulgadas pelas instituições intergovernamentais (Banco Mundial, FMI), pelos Tesouros dos Estados
Unidos e da Grã-Bretanha e até mesmo por revistas como Financial Times e The Economist, são em
sua maioria abstrações da realidade que encontram respaldo em fórmulas estatísticas duvidosas e em
dados exacerbados ou intuitivos. Ou seja, Wade comprova que a globalização não reduziu a pobreza e
nem mesmo a desigualdade social.

Para este autor, a despeito das afirmações presentes nos dados provenientes das fontes neoliberais, a
globalização teve repercussões deveras negativas na América Latina: a renda média per capita mantém-
se imutável desde o fim da década de 1980 e em termos relativos ainda sofreu um decréscimo frente à
renda dos países centrais; as taxas de extrema pobreza dos países latino-americanos são em realidade o
dobro das oficiais; há uma tendência negativa na distribuição de renda tanto entre quanto dentro dos
países, incluindo-se aí os latino-americanos.

Portanto, a criação do Mercado Comum do Sul em 1991 pode ser observada a partir de um ponto de
vista anti cíclico, partindo-se do pressuposto de que ela foi uma ação de contenção da globalização e
dos seus reflexos danosos nas sociedades dos países fundadores. Conforme afirmou o ex-presidente
argentino, Eduardo Duhalde, “a assinatura do Tratado de Assunção, em 1991, constitui um dos marcos
políticos e econômicos mais significativos no passado século XX.”3

O Mercosul como resposta


O Mercosul teve início como zona de livre comércio, contando com os instrumentos necessários para
converter-se no curto prazo em uma união aduaneira, e com a vocação de chegar a ser um mercado
comum.

Do ponto de vista econômico, nos primeiros anos de vida da associação o comércio intrazona
aumentou, enquanto o intercâmbio com o resto do mundo se expandiu, consolidando-se a atração de
investimentos para a região. Este processo contribuiu também para garantir e aprofundar as reformas
econômicas internas, incrementando o grau de complementação industrial e permitindo que pequenas e
médias empresas pudessem participar dos negócios internacionais.

Logo o estabelecimento do Mercado Comum do Sul se por um lado estimulou o comércio entre os
quatro vizinhos do cone sul ampliando a interdependência, por outro fortaleceu a independência dos
países da região em relação aos desígnios do Bloco Imperial Mundial, o que se comprovou nas
discussões a respeito da Área de Livre Comércio das Américas. Ademais, essa zona de livre comércio
apresentou-se eficaz na amenização de uma importante tendência do capitalismo mundial nesse período
de globalização, qual seja a alocação de capitais de forma assimétrica entre os países da tríade
(América do Norte, Europa e Japão) e os demais países.

Outras vantagens auferidas pelos integrantes do Mercosul residem na facilitação da manutenção da


estabilidade política, ocasionada por sua vez pela maior entrada de capitais e pela intensificação do
comércio, e na qualificação dos setores privados nacionais. Sobre este último aspecto, Emílio
Odebrecht afirma que o comércio regional tem ajudado muitas empresas a desenvolver a cultura
adequada para sua inserção no mercado global. “Valiosas lições sobre negociação acontecem
diariamente nas relações entre parceiros sul-americanos, o que constitui uma base de conhecimento
inestimável para a expansão dos negócios no âmbito mundial.” 4

O Mercosul e a integração sul-americana

Além de o Mercosul figurar como um fator mitigador dos insustentáveis efeitos sociais e econômicos da globalização no cone sul, há ainda nessa organização uma tendência à
integração sul-americana em geral, como a proposta por alguns Libertadores, a qual foi reforçada pela adesão da Venezuela ao grupo em 2006.

Desde 1996 através de acordos bilaterais o Mercosul tem mantido relações com um número crescente de países do continente, sendo que esses acordos estabelecem um
cronograma para a liberalização econômica através das reduções das tarifas que incidem sobre o comércio entre o bloco e os países associados. Já houve inclusive a
institucionalização desse esforço integracionista simbolizada pela Declaração de Cuzco, que lançou as bases da Comunidade Sul-Americana de Nações, entidade que unirá o
Mercosul e o Pacto Andino, em uma zona de livre comércio continental.

Nas palavras dos presidentes Hugo Chávez e Tabaré Vázquez, "[c]remos, querido Amigo, que chegou o momento de síntese desses grandes esforços [latino-americanos na
contenção da desigualdade, da exclusão e do desamparo social]. A hora da unidade continental está soando em todos os relógios: temos de insistir na construção de um caminho
que seja o nosso caminho. Palpitam ainda as palavras iluminadoras do General José Artigas: 'Nada podemos esperar senão de nós mesmos.' Seguramente de nada serviram os
modelos impostos ou reproduzidos acriticamente, de forma que o que vivemos como resultado de um modelo alheio é também nossa responsabilidade." 1

No atual estado de coisas, em termos numéricos, o Mercosul e seus membros associados já respondem
por 365 milhões de pessoas e por 3,9 trilhões de dólares de produto interno agregado.5
As perspectivas oficiais para o Mercosul

A partir do início do novo século tem sido evidenciada a vontade dos integrantes da organização de
reforçar os instrumentos políticos e jurídicos do Mercosul, principalmente porque, na visão do ex-
presidente Duhalde, ele é “uma ferramenta estratégica para alcançar a estabilidade
política, o crescimento econômico e a justiça social nos países que o integram, e é
o meio que permite que a região tenha uma identidade e um papel protagônico
no cenário mundial.”

Dado o teor vantajoso da integração ela não poderia restringir-se a


termos meramente econômicos, como ocorreu no decorrer da década
de 1990, sobretudo por conta da instabilidade econômica típica dos
países em desenvolvimento, a qual mostrou-se catastrófica para a
união latino-americana principalmente na crise financeira brasileira do
fim da década de 1990 e na crise argentina de 2001.

Sendo assim, tornou-se indispensável a formulação de órgãos para a correção


das lacunas na tarifa externa comum e das lacuna jurídicas que foram
inadvertidamente renegadas durante o processo inicial de aproximação e
estrondoso crescimento comercial intrazona. O “Relançamento do Mercosul”
teve por base a eliminação de entraves ao acesso ao mercado regional, o
estabelecimento de disciplinas para os incentivos à inversão, a produção e
a exportação; a revisão da tarifa externa comum; a reforma
institucional e a coordenação de políticas macroeconômicas.

Dentre os avanços desse projeto de reestruturação e fortalecimento é notável a


criação das seguintes instituições: o Tribunal Permanente do Mercosul,
responsável pela arbitragem de conflitos; a Secretaria Técnica, a qual reunirá
técnicos de várias áreas do conhecimento e dos cinco países destinados a
focalizar os problemas do grupo; o Parlamento do Mercosul, instância
representativa das populações da organização; a Comissão de Representantes
Permanentes do Mercosul, órgão que visa a trazer uma abordagem ainda mais
comunitária às decisões do Conselho, o órgão decisório máximo do grupo.

A crise e o Mercosul

Embora os últimos anos tenham sido marcados por essa força de


vontade em relação ao estabelecimento de bases políticas e
institucionais mais sólidas no Mercosul, a atual crise econômica global
tem se mostrado um obstáculo à tal.
A crise teve como conseqüência a redução nos preços das commodities
e também a queda da demanda por matérias-primas no mercado
global. No geral, os preços das matérias-primas são provavelmente os
maiores fatores determinantes do crescimento econômico de médio
prazo na América Latina.1

http://www.estadao.com.br/economia/not_eco267815,0.htm

http://www.estadao.com.br/economia/not_eco267822,0.htm

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081120/not_imp280816,0.
php

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081123/not_imp282068,0.
php

Hugo Chávez e Tabaré Vázquez em Carta dos Presidentes Hugo Chávez e Tabaré Vázquez aos
Presidentes dos países da América de Sul, Revista DEP n° 3, 2005, p. 194.

http://www.estadao.com.br/economia/not_eco263060,0.htm

1Aníbal Quijano em Colonialidade do poder, globalização e democracia, Revista DEP nº 6, 2007.

2Aníbal Quijano em Colonialidade do poder, globalização e democracia, Revista DEP nº 6, 2007, p.


148.

3Eduardo Duhalde em Perspectivas do Mercosul, Revista DEP nº 2, 2005, p. 6.

4Emílio Odebrecht em A integração regional: fator de desenvolvimento sustentável, Revista DEP nº6,
2007, p. 54.

5Dados extraídos do sítio http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2007/02/weodata/index.aspx ,


acessado em 3/12/2008.

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