Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
É
um projeto no qual o Brasil está investindo todo o seu esforço, porque sabe que o seu
destino está ligado ao destino desses países da América do Sul, especialmente do Cone
Sul.
Não por acaso no início da década de 1990 foi assinado o Tratado de Assunção entre os quatro países
latino-americanos do cone sul do continente americano - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O
bloco regional que floresceu desse tratado multilateral prezava inicialmente a liberalização comercial,
sendo, no entanto, ele mesmo uma resposta dos Estados integrantes à aceleração brutal que se verificou
no fenômeno da globalização após a queda do Muro de Berlim ocorrida dois anos antes.
O intuito desse artigo é desmistificar esse paradoxo que circunda o Mercosul, apresentando a formação
e a manutenção do bloco como uma medida ao mesmo tempo reativa em relação à globalização e
positiva no que tange o desejo político de concretizar o trabalho dos libertadores da América. Além
disso, tenho o propósito de aqui delinear as ações do bloco em momentos mais recentes de crise
econômica no cenário global, evidenciando as convergências e também divergências político-
econômicas que vieram à tona nesse contexto, complementando ainda esse esforço com a exposição
das perspectivas oficiais para o Mercosul.
É de grande valor iniciar esse tópico com a explanação do que é a globalização, esse conceito difuso e
contraditório que não encontra consenso no meio acadêmico. Segundo Robert Gilpin, a globalização é
a integração da economia mundial e esta teoria encontra eco, a meu ver, na formulação de Aníbal
Quijano, para quem as tendências econômicas em voga no período histórico atual “indicam um
momento, um grau ou um nível do amadurecimento e do desenvolvimento de tendências inerentes ao
caráter do capitalismo como modelo global de controle do trabalho” 1.
Sendo assim, tendo por base o conceito de globalização desses dois autores pertencentes a correntes
teóricas tão discrepantes, tenho para mim que a globalização nada mais é que um estágio da evolução
capitalista, marcado pela impressionante abrangência geográfica desse sistema econômico e pela
inexorável interdependência entre os países, a qual já havia sido teoricamente elaborada e fatalmente
anunciada nos primórdios do capitalismo pelo expoente do iluminismo escocês, Adam Smith.
O doutor Aníbal Quijano define a dinâmica da globalização nos seguintes termos: o Bloco Imperial
Mundial é um formado pelos modernos Estados-nação democráticos (Europa, América do Norte, Japão
e Oceania), os quais persuadem e manipulam os modernos Estados nacional/dependentes (América
Latina, maior parte da Ásia e a África do Sul) e também os modernos Estados neocoloniais (maior
parte da África) de modo a incluir eles no sistema capitalista neoliberal e por conseguinte na
globalização. Essa inclusão dá-se por meio do que o autor chama de des-democratização e des-
nacionalização desses Estados, o que ocorre quando há a re-privatização dos instrumentos da
autoridade pública, ocasionando a re-concentração da autoridade política total e a transformação dos
Estados “débeis” em agências político-administrativas do capital financeiro mundial e do bloco
imperial mundial.2
O quadro apresentado que evoca tanto a dominação econômica quanto a política é fruto de um enorme
empenho e dispêndio por parte das potências centrais e obviamente seria inviável em caso contrário.
Sendo assim, as estatísticas a que me referi anteriormente – pobreza e desigualdade – as quais têm tão
grande apelo político, representam uma vertente fundamental da dominação capitalista e da
globalização. Talvez por esse exato motivo elas sejam tão suscetíveis ao erro e à distorção.
Robert Wade tenta desmistificar o argumento liberal e consegue provar que as taxas floreadas que são
divulgadas pelas instituições intergovernamentais (Banco Mundial, FMI), pelos Tesouros dos Estados
Unidos e da Grã-Bretanha e até mesmo por revistas como Financial Times e The Economist, são em
sua maioria abstrações da realidade que encontram respaldo em fórmulas estatísticas duvidosas e em
dados exacerbados ou intuitivos. Ou seja, Wade comprova que a globalização não reduziu a pobreza e
nem mesmo a desigualdade social.
Para este autor, a despeito das afirmações presentes nos dados provenientes das fontes neoliberais, a
globalização teve repercussões deveras negativas na América Latina: a renda média per capita mantém-
se imutável desde o fim da década de 1980 e em termos relativos ainda sofreu um decréscimo frente à
renda dos países centrais; as taxas de extrema pobreza dos países latino-americanos são em realidade o
dobro das oficiais; há uma tendência negativa na distribuição de renda tanto entre quanto dentro dos
países, incluindo-se aí os latino-americanos.
Portanto, a criação do Mercado Comum do Sul em 1991 pode ser observada a partir de um ponto de
vista anti cíclico, partindo-se do pressuposto de que ela foi uma ação de contenção da globalização e
dos seus reflexos danosos nas sociedades dos países fundadores. Conforme afirmou o ex-presidente
argentino, Eduardo Duhalde, “a assinatura do Tratado de Assunção, em 1991, constitui um dos marcos
políticos e econômicos mais significativos no passado século XX.”3
Do ponto de vista econômico, nos primeiros anos de vida da associação o comércio intrazona
aumentou, enquanto o intercâmbio com o resto do mundo se expandiu, consolidando-se a atração de
investimentos para a região. Este processo contribuiu também para garantir e aprofundar as reformas
econômicas internas, incrementando o grau de complementação industrial e permitindo que pequenas e
médias empresas pudessem participar dos negócios internacionais.
Logo o estabelecimento do Mercado Comum do Sul se por um lado estimulou o comércio entre os
quatro vizinhos do cone sul ampliando a interdependência, por outro fortaleceu a independência dos
países da região em relação aos desígnios do Bloco Imperial Mundial, o que se comprovou nas
discussões a respeito da Área de Livre Comércio das Américas. Ademais, essa zona de livre comércio
apresentou-se eficaz na amenização de uma importante tendência do capitalismo mundial nesse período
de globalização, qual seja a alocação de capitais de forma assimétrica entre os países da tríade
(América do Norte, Europa e Japão) e os demais países.
Além de o Mercosul figurar como um fator mitigador dos insustentáveis efeitos sociais e econômicos da globalização no cone sul, há ainda nessa organização uma tendência à
integração sul-americana em geral, como a proposta por alguns Libertadores, a qual foi reforçada pela adesão da Venezuela ao grupo em 2006.
Desde 1996 através de acordos bilaterais o Mercosul tem mantido relações com um número crescente de países do continente, sendo que esses acordos estabelecem um
cronograma para a liberalização econômica através das reduções das tarifas que incidem sobre o comércio entre o bloco e os países associados. Já houve inclusive a
institucionalização desse esforço integracionista simbolizada pela Declaração de Cuzco, que lançou as bases da Comunidade Sul-Americana de Nações, entidade que unirá o
Mercosul e o Pacto Andino, em uma zona de livre comércio continental.
Nas palavras dos presidentes Hugo Chávez e Tabaré Vázquez, "[c]remos, querido Amigo, que chegou o momento de síntese desses grandes esforços [latino-americanos na
contenção da desigualdade, da exclusão e do desamparo social]. A hora da unidade continental está soando em todos os relógios: temos de insistir na construção de um caminho
que seja o nosso caminho. Palpitam ainda as palavras iluminadoras do General José Artigas: 'Nada podemos esperar senão de nós mesmos.' Seguramente de nada serviram os
modelos impostos ou reproduzidos acriticamente, de forma que o que vivemos como resultado de um modelo alheio é também nossa responsabilidade." 1
No atual estado de coisas, em termos numéricos, o Mercosul e seus membros associados já respondem
por 365 milhões de pessoas e por 3,9 trilhões de dólares de produto interno agregado.5
As perspectivas oficiais para o Mercosul
A partir do início do novo século tem sido evidenciada a vontade dos integrantes da organização de
reforçar os instrumentos políticos e jurídicos do Mercosul, principalmente porque, na visão do ex-
presidente Duhalde, ele é “uma ferramenta estratégica para alcançar a estabilidade
política, o crescimento econômico e a justiça social nos países que o integram, e é
o meio que permite que a região tenha uma identidade e um papel protagônico
no cenário mundial.”
A crise e o Mercosul
http://www.estadao.com.br/economia/not_eco267815,0.htm
http://www.estadao.com.br/economia/not_eco267822,0.htm
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081120/not_imp280816,0.
php
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081123/not_imp282068,0.
php
Hugo Chávez e Tabaré Vázquez em Carta dos Presidentes Hugo Chávez e Tabaré Vázquez aos
Presidentes dos países da América de Sul, Revista DEP n° 3, 2005, p. 194.
http://www.estadao.com.br/economia/not_eco263060,0.htm
4Emílio Odebrecht em A integração regional: fator de desenvolvimento sustentável, Revista DEP nº6,
2007, p. 54.