“Pois, quando eu me sinto fraco, é então
O fato de se ter apresentado com
que sou forte.” (2 Coríntios 12, 10)
Neste 14º domingo do tempo comum, dia 5, temos na
segunda leitura um trecho da 2ª Carta aos Coríntios.
Nesta carta (capítulos 10 a 12) São Paulo está se
defendendo de calúnias sofridas por meio de falsos
“superapóstolos” que exploravam a comunidade. Eles
lhe acusavam de ter uma atitude forte através das
cartas, mas de se ter apresentado fraco quando lá
esteve, pessoalmente. (2 Coríntios 10,1)
Estes falsos pregadores, além de causarem confusão e
desunião, foram ocasião para que o Apóstolo abrisse
seu coração à comunidade de Corinto. No anseio de
se defender de seus detratores e restabelecer a
credibilidade de si e do Evangelho pregado por ele,
acaba por revelar vários fatos particulares de seu
apostolado. Estes segredos ele revela à contragosto,
pois absolutamente não acredita que qualidades
humanas possam fazê-lo maior ou melhor apóstolo.
Primeiro, revela que já tinha recebido dos judeus
cinco vezes os “quarenta golpes menos um”; foi
flagelado três vezes; uma vez foi apedrejado; fez
muitas viagens; sofreu perigos nos rios e mares;
perigos por parte dos ladrões, dos irmãos judeus e dos
pagãos; perigos na cidade e no deserto; na terra e no
mar; e pior, perigos por parte dos falsos irmãos. Tudo
por amor ao Evangelho e à missão que havia
recebido de Jesus e sempre salvo pela Providência de
um Deus de amor.
Depois, confessa como uma fraqueza sua no Senhor o
fato de ter escapado do governador de Damasco
dentro de um cesto, dependurado por fora de uma
janela junto da muralha da cidade. Nos revela ainda
(depois de guardar segredo por catorze anos), que foi
arrebatado por Deus ao “terceiro céu”. Este “terceiro
céu”, que fica acima das nuvens e dos astros, é o
Paraíso, onde ouviu palavras inefáveis que não se
pode repetir.
Continua relatando sua experiência pessoal de
apóstolo, revelando que possui um “espinho na
carne”, possivelmente uma doença, atribuída por ele
a um anjo de Satanás. Paulo nos conta que por três
vezes pediu a Deus que o livrasse desta provação,
mas que escutou a negativa Dele em seu coração:
“Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza
que a força manifesta todo o seu poder”. (2 Coríntios
12,9)
Os falsos apóstolos baseavam a sua pregação
enganosa na eloquência de suas palavras e em sua
presença imponente: fazendo-se de importantes,
afirmavam inclusive que eram de famílias israelitas
de pura linhagem. Paulo, que era de tradicional
família de fariseus e possuía cidadania romana,
classificou estas qualificações humanas que possuía
como loucura.
humildade durante sua estadia em Corinto, tendo
inclusive suas despesas pagas por outra comunidade,
foi interpretado como “fraqueza” por aqueles que só
conseguem ver as coisas de modo humano, e
portanto, muito limitado.
A extraordinária graça de ter estado no Paraíso (se
com o corpo ou não, só Deus sabe), para ele não era
motivo de vanglória, mas certamente lhe reforçou a
fé e deu forças para empreender suas viagens
missionárias, lançando os fundamentos de diversas
comunidades cristãs.
Suas orações não atendidas (pedindo que Deus o
livrasse daquele sofrimento), nos demonstram que
nem mesmo os santos pedem sempre coisas dentro
dos planos da vontade de Deus. Em outras palavras,
o fato de não ter sido atendido, não quer dizer que
ele não fosse amado por Deus. Pela resposta de Deus,
Paulo entendeu que aquele “espinho na carne”
representaria um crescimento para ele, e a
oportunidade de que a força divina se manifestasse
com total autenticidade em sua missão.
O Evangelho de Cristo é repleto deste tipo de
constatação: aquilo que é considerado pelos homens
como uma desgraça, é o modo preferido por Deus
para demonstrar seu amor; e o que é considerado
importante pela mentalidade do mundo, para Deus
é desprezível. (cf. Lucas 16,15 e 1 Coríntios 3,19) Paulo
não tem dúvida nenhuma disso:
“Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de
minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite
em mim. E é por isso que eu me alegro nas
fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e
angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco,
então é que sou forte.” (2 Coríntios 12, 9-10)
Todos que vivemos neste mundo sofremos dores e
passamos por angústias. O que faz a diferença entre
as pessoas de fé e os outros é a maneira de passar
pela dor. Não estamos sozinhos em nossas dores: Jesus
se fez o Homem das Dores na cruz por primeiro.
Devemos procurar aproveitar cada contrariedade da
vida para vive-la “por causa de Cristo”, ou seja,
amando aos irmãos apesar das dificuldades, indo
além da dor e da tristeza. Fazendo assim, Cristo toma
o nosso coração por morada e manifesta toda a sua
força.
Mauro Ottoboni