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ORGANIZADORAS Maria Suzana De Stefano Menin Alessandra de Morais Shimizu pos | EXPERIENCIA & REPRESENTAGAO SOCIAL: questies tedricas e metodolégicas ;BLLOTECA PARTIC BIBLIOTECA Fe wi XY 2 Casa do Psicdlogo® 6 TRIENCIA E REPRESENTACOES SOCIAIS cule des Hautes Bindes en Sciences Sociales ~ Paris ‘Tradugio Je Maria Suzana De Stefan Menin ges sociais como formas de conheci- mento do senso comum foi largamente desenvolvido tomando-se em consideragao diversos lugares de ancoragem e diversas ordens de indmicas contribuindo as suas formagdes, suas estrutras, seus Fun cionamentos e seus efeitos. Entre eles, uma grande atengao foi colo- cada sobre a contribuig&o, seja das transformagdes dos saberes cien- Uificos em saberes do senso comum pelos meios de comunicagaoe as Pertinéncias sociais e culturais (MOSCOVICI, 1961/1976, 2001), seja das priticas (ABRIC, 1994), seja das insergdes em relagbes (DOISE, 1992). No entanto, para quem faz estudos qualitat ses fendmenos em contextos sécio-culturais particuares, se impoe um exame mais circunscrito, circunstanciado € cuidadoso dos pro- cessos de produglo das representagbes ¢ de sua eficdcia concreta ‘no campo social, Isso implica que nos aproximemos o mais possivel da complexidade dos fendmenos estudados, sejam eles as proprias representagBes ou situagSes em que elas nascem, ov ainda, operam & asseguram regulagées de comportamentos e de cormunicagses. Para dat conta dessa complexidade, nossa reflexio se centra em dimen= ‘ses ou fendmenos que, sem serem novos, restam POUCO explorades ‘em relago a0 funcionamento das representagdes soviais. Tal é 0 ‘caso, entre outros, da experigncia, a qual me proponho abordar aqui ‘como fenémeno e conceit. Aprofundando a nogio de experiéneia Esta atengdo & nogo de experiéncia foi incrementada por uma interrogagdo surgida do contato com pesquisadores latino-america- ‘nos € com teorias vizinhas a andlise do ct mum, objeto central da teoria das represent to, durante uma reunido com um grupo de pessoas trabalhando no campo da satide no México, um médico que nito trabalho sobre a experiéncia de uma doe! gunlava em que o estudo das representagoes para compreender e mudar essa situagao; em doenga (os doentes e seus pré representagdes compartilhadas sobre alimentagio ou sobre cessidades do corpo: os modos e costumes relativos & pre a0 consumo dos alimentos de modo a conhecer seus modelos de pen- samento e de comportamentos a respeito da alimentago os quais poderiam ser alvo de educagéo. Poderiam ser couhecidos, também, 08 sentidos investidos nas refeigdes compartilbadas; 0s riscos senti- ‘Jo de regimes alimentares entre 08 dos ao se introduzir diferen ; membros da familia; assim como outros elementos que poderiam in- terferir, a0 lado dos limites financeiros, como impeditivos 4 adogao da Aigiene alimentar do diabético. Eu me senti em dificuldade, no entan- to, quando foi abordado o caso de uma mulher, apresentando enurese Denise Jodelet . devido ao diabete, que no podendo mais tomar o énibus para ser atendida, nem se expor sem sentir-se envergonhada, caiu num estado de total apatia, e numa situagao de reclusio e de aceitagao fatalista de sua deteriorizagao fisica © moral. Nesse caso, o estudo da repre- sentago da doenga equivalia a abordar uma experiéncia ¢ os senti- dos que the eram atribuidos subjetivamente. Mas, dessa maneira, nfo ccorterfamos o risco de nos limitar a uma simples descrigio ou a um {estemunho, como nosso colega jéo fazia? Ou, na melhor das hipéte- ses, empreender, através de interaydes com a doente, uma ressi ficagdo de sua vivénci terapeutico ou corretivo, elementos das representagoes partilhadas naquele grupo estavam mobilizados para construir o sentido daquela experiénca vivida? Que valores, que normas estavam sendo contrariados pelo destino daque- la pessoa? Quais transformagées nas representagGes foram provo- cadas por esse destino? A experiéncia dnica daquela pes subjacente nas significagGes saberes comuns? Com o sen gociado no aqui ¢ agora das interagBes se estabilizava? Havia wma especie de vazio te6rico que nfo perma ligaro subjtivo so coletivo; © individual eo social, ‘Assim, esse episido me levou a questiona a relagdes entre ex- perigncia e representagao social. Ainda mais que 0s estudos recentes da fenomenologia social (SCHUTZ,1987, SCHUTZ; LUCKMANN, 1974) eda emometodologia (GARFINKEL,1967), assim como certas perspectivas criticas que emergem na psicotogia social, colocam énfa- se sobre a ieredutbilidade do aqui e do agora e sobre a necessidade de ‘se centrar sobre a produgo de sentido nas experigncias da vida cotidi- ana e no fluxo de sua vivéncia. A questo prética se tormava, assim, ‘uma questi teérica, Como articular uma dbordagem que busca teve- Tar estruturas estiveis de organizagio de conhecimentos, significa dos, valores, atitudes, crengas, proprias de grupos culturale social ‘mente definidos, com a preacupagao de apreender os estados fugitives 26 | Experdncia ¢ representyies socials da experiéncia natural em situagbes da vida cotidiana? Como ler a relagdo entre sentidos e representagdes? Questio dificil, pois a nog de experiencia, nos usos eruditos e populares, polissémica e amb{gua, apesar de certos sentidos co- ‘mans. Assim, a distinguimos da percepetio, porque ndo tem seu card- sobre os modos de organizé-la). Igualmente consideramos que, construida no seio de situagdes concretas com as quais © duas dimensdes: uma dimensiio de conhecimento € w que é da ordem do experimentado, da implicagao ps jeito. Ha esta distingdo ni alema entre erfahi mentago sobre o mundo, e erlebnis, experiencia vivida, Um outro aspecto a destacar, purticularmente bem evidenciado pelo psicélogo comparatista Meyersor cutindo as coloca que “o teérico do pensamet com os fatos sociais € ‘em cada caso concreto, com homens tendo uma ceria forma mental ‘ecom grupos tendo uma certa estrutura social. Nem uma forina, nem outra, nascem no vazio (ex nihilo), elas so 0 prosseguimento de outras forma: € de outras formas mentais. Existiram transformagdes e interagdes. Para uma anslise objetiva, esses efeitos das estruturas sociais e a ago do homem no seio do organismo social sdo outras experiéncias que o homem exerce sobre seu meio ‘humano e nesse meio humano, ao lado de experiéncias que ele faz em seu meio material. Este é, ento, o problema geral da experiencia 10 social e a explicagao pelo social (1995, p.125). gue coloca o fa E preciso, entao, prever que as diferentes acepgies . ae de experiéncia examinadas em seguida conduzem & postulag? 7 iments so comum relagdes diversas com a ordem de conhecimentos do senst Denise Sodetet [27 que a teoria das representagdes sociais se propée a estudar Um Primeiro exemplo para ilustrar essa situacio: tomemos a nogiio de experiéncia como ela é usada na psicologia experimental ou cognitiva, Marco empirico da relago do sujeito com seu mundo de objetos ela determina 0 conhecimento na medida em que ela prové as informa- ges que fazem o objeto de um processo de tratamento Jevando a estruturas ou redes de conservagdo dessas informacdes na meméria. Essas estruturas e redes (que alguns qualificam de representagdes mentais) serdo reativadas para tratar as novas informagGes que sur- zirem em situagSes novas ou desconhecidas, impostas por tarefas a ‘cumprir ou pela estrutura do meio ambiente. Estamos aqui longe da experineia vivida pelo sujeito em seu espago c tempo de vida; como estamos longe, nessa visio mais reducionista do funcionamento men- tal, das representagdes sociais que nds estudamos e que comportam aspectos criativos e imagindrios, dimensies simbélicas refereates & relagio com o outro e com a ordem social, aspectos construives da propria realidade. Como conceber esta experiéncia que vai manter relagSes diversas com as representag6es sociais? Experiéneia ¢ vivido E necessaro dizer, em primeiro lugar, que experiéneia é di tamente associada & dimensio do vivido que pode ser considerada em niveis mais ou menos abstratos. A nogio de experiéncia vivida foi desenvolvida, num primeiro momento, no mbito de teorias fenome~ nol6gicas do conhecimento sobre as quais eu votarei mais adiamte. Ela se refere, ento, & consciéncia que o sujeito tem do mundo onde ele vive, Vygotsky (1994) define a conscineia como a experiéncia Vivida da experigncia vivida"", “uma espécie de eco do organisino & ‘sua ptpria reagio” face ao mundo experimentado; eco que equivale aun “contato social consigo mesmo”, No dominio do senso cornu, ‘Tim rancts: “Texpésience véoue de Yexpérience vésue™ Experiducin © wepresentades sociais Construcdo subjetiva e intersubjetiva da rel Esta dimensio da conscién car pelo fato de que a experi is importante a desta- sua reago ao mundo (©, 0 sentido. Na sua obra 4a vie (1994), onde 0 autor descreve o episidio de seu hum campo de concentragao nazista, 0 esctitor Jorge -xplica que, apesar de ter sobrevivide aos sofrimentos dos te, passou por uma verdadeira experi as experigncias dos outros?, Jorge Se 19 de experiéncia vivida & de dif campos a0 ver e par ca que esta Fa 8 franceses que nao dispdem, ao contrério das outras mpreensio notadamente o espanhol e o portugués, da nope de vi No enlanto, esse conc exemplo seguinte obtido dos pela assisténcia, em m sa pesquisa, a dimensiio da experiencia la satide em contato com os doentes morrendo, se um dado inevitdvel, numa situago nova para os profis- 2» eee ea Mais ainda, ela aparecea como estriturando as pos face ds dificuldades dos papéis desempenados, assim como as rela 6es estabelecidas com os pacientes ¢ com a equpe do hospital, Ae ‘modalidades de coleta de dados aconteceram dentto do referencial da teoria do Behavior Setting de Barker (1968) que permite isolar as PrescricOes normativas associadas as unidades de espago-tempo institucionalmente definidas, Essa orientagiio contextual permite ana- Processos que aparecem num sisteina social de pequenas mensées; 08 “behavior-sertings” constituem unidades de obser- iporais onde todos os componentes (psical6gicos, ionais, ecol6gicos) so integrados sem que se pos- Tarquias entre as pressdes que elas se impsem umas Eu relatarei aqui apenas alguns resultados a respeito das entre- ue for de andlise textual pelo método Alceste', No que concerne & dtica, parece que a experiéacia vivida 6 a temética mais portante, juntamente com as relagées as comunicagdes: cada wt delas recebe mais que um tergo de mengdes emunciadas espon- taneamente pelos entrevistados e se coloca frente aos problemas ét- cose cognitivos das priticas de exidadoc de quesides organizacionais. Avnogiio de expetigacia vivida foi definida nessa pesquisa, como © modo através do qual as Bessoas sentem uma situago, em seu foro intimo,€ modo como elas elaboram, através de um trabalho psiquico e cognitive, as ressonfincias ositivas ou negativas dessa situagao e das relaghes e ugbes que elas desenvolveram naquela situacdo. Um matiz dessa experigncia era marcado pela dificuldade e softimento por diversas razies. confron- Tai pec et na roses Sra ee an oe nares oo, tein alacant weg ee Se ea ineen ao Seeeca “lo eee inc ogame sara ee Enperiénee © represemaes suing ‘9 ¢ moral dos pacientes; com seu modo de us; com suas demandas Seu softimento e o de seus prdximos; exposigio repetida a morte € ao luto, as reacdes correspondentes dos Colegas ¢ as reagdes dolorosas ue delas resultavam; queixas diante dos riscos de on ‘aminagi c encias do engajamento profissional sobre a vj * social etc. Esse matiz negativo explicava fi (Conflito, bumout, alta taxa de faltas entre os Profissionais etc.), num Ser¥iGo ara o qual néo exista nentor suporte psicol6gico, enenhu, ima formagio para o acompanhamento dos doentes em fim de vidg tal qual 0s oferecidos pelos tratamentos paliativos*, Com efeito, 0 insuportavel de certas situagées podia est 405 conhecimentos e funebes preenchidas por diferentes profi nals; como fica evidenciado no seguinte exemplo: Utilizu-se de mor- fina para upaziguar a dor; ora, & uma crenga corrente que esse pro- duto leva & morte. Como resultado, muitos profissionais nao tendo recebido nenbuma form: jo de grupo, um -nciou o sentido resultante des: morfina foi substitufda pelo termo ” eas enfermeiras diziam que elas se recusavam a “executar” (no duplo sentido de exe- cular uma ordem prescrita pelos médicos ¢ executar/matar alguém). Alids, a andlise pelo Aleeste evidenciou que as representagbes dos pacientes aos cuidados de diferentes categorias de pessoal eram tr- butdrias do modo de relagao estabelecido com os doentes auma si- tuagao definida pelo status categorial: a atengo ao corpo € ao mal reine agit cujatarefa 6a dese ocupar materiamemte; on enfer- IM Os problemas relacionais e PSICOlOgICos lizados Citegoria da experiéncia se impos nos testemunhos fomnecidos pelos entrevistados; com base clas eram icOes categoriais. Dava-se conta de uma se desempenhiava, também, Pollack (1990) na sua obra iventes de campos de con- Centragho, a experiéncia vivida em “situagdes extremas” permite ve colocar em evidéncia 0 fendmeno idemtitério, freqlentemente mae carado pelo cumprimento de rotinas no contexto da vida ootidiane (GOFFMAN, 1991). As duas dimensies da experiéneia E perceptivel que nesse lugar do vivido, uma reftexio sobre as ligagdes entre experiencia e representagiies, se toma possfvel, Fiquemos, no momento, no Plano dessa experiéncia sentida e com- Partithada com os outros. Notamos, geralmente, que € uma noo ‘aga © amb(gua que liga dois fendmenos contradivérios e comple- mentares. O primeiro fendmeno, o“vivido” ,remete a um estado que © sujeito experimentae sente de maneira emocional;, como si0 exem- plos os casos de experiéncias estéticas, amorosas ou teligiosas. Ain- da que exista uma outra acepgio mais intelectualizada da nogio do vivido sobre a qual eu voltare, nos podeanos ver que esse pica fendmeno, 0 estado sentido pela pessoa corresponde a uma invasion, pela emogao, mas, também, a um momento onde ela toma conscién- cia de sua subjetividade, de sua identidade. Esse estado pode ser estar fisico dos pacientes sendo exclusivamente representada junto para os doentes terminais, um acumpenhanien- 4@ prevengio da dor e da angistia e sobre 0 abandonads os tratumnenios curativos inistaglo de medicamentos visando apariguar # 0s trutamentas paliativos prec 10 global du pessou doeme, centra conlorta psiquica, imtrusivos e indi 05 sofrimentes. 2 Experitneia ¢ repreventages socinis SL Bai : Privado, no limite do indescritivel, mas ele pade eorresponder, como os casos de participagio a ritos reli efervescéncia si classe ou de uma formagao social como um desi elas condigdes de vida, pelas relacoes soci riais © contra as quais as pessoas se opdem. sua correspondéncia cot ‘do em que ela emerge, empresas de pré-constugces ets ede um exegue de saberes que vau dar forma e contetdo a essa experié a Kiva de sentidos que 0 sujeito dd wos acontecimentos, situagdes, objetos.e pessoas ocupantes de seu meio proximo & 7 mundo de vida. Nesse sentido, a experiéncia é social e socialmen arenes lado, com eteito, a experiéncia subjetiva, mesmo se ma cil de expressar, s6 pode ser conhecida a partir daquilo que os sues testemunham em seus discursos, mest»o iores. Ora, esse Denise Jodetet ‘Social das emogdes pela inguagem, Assim, também Moscoviet (19617 1976) mostrou como as categorias da teoria psicanalitien crea lando nna Sociedade fornecem uma, gramatica para interpretar a experiéacia Prépria do sujito e dectar a experiéacia dos outros. Além do ‘mais, Essa experiencia 86 comega a existir aa medida em que € reconheei, a, compatiiada, coufirmada pelos outros. Assim, a expevitnciaee, cial € marcada pelos aspectos soci comunivagdo. Nesse ponto, ela permite, i 8 representagdes sociais. Por outro lado, a experigncia humana comporta uma vertente Av Participa na construgao do mundo; como transparece particu. termente bem na psicologia histricadefendida por Meyerson (1995), do nivel human, a experigncia como o fator mais marcante: “E Pela experiéncia que © homem € vm animal histico; € enquanto experiéncia, seqiéncia de experiéncias, registro das experiéncias ‘Que a historia se refere & natureza humana, que ela penetra na na- {urezat humana e a faz*. Solidario de seu pasado, 0 homem é, as- Sim, agente; isto quer dizer que sua experiéncia“€iniciativa, ntrusto ‘no mundo das coisas € no mundo dos seres, e modificagao inces- Santemente ativa desses mundos” (1987, p. 88). 0 elemento de transformagio (que nés esquecemos, muito freqientemente, de ‘considerar nas abordagens psicossociologicas da prética) aproxima as nogies de experiéneia ¢ de prixis, permitindo se dar um sentido ‘ais amplo & nogio de pritica e abrindo uma dimensio criativa da experiéncia: “A ciéncia social e a pritica social sabem, atualmente, que toda experiéneia social traz. 0 imprevisto € 0 novo & que oe nove essencial tanto para o pensamento social como para a agi 34 Experidncia ¢ represeutagbes sociais (1987, p. 90). Eis uma outra dimensdo, referente & propésito da qual a abordagem da experiéncia pode c estudo das representagdes sociais, sabendo-se que essa dimensio é paradigmitica na teoria, mas resta, freqiientemente, negligencia- da nas pesquisas. Avolla a experiéneia social Isto posto, é principalmente no pensamer pordneo que podemos observar um retorno & nogao de experi de experiéncia social (DUBET, 1994), fendi duas maneiras. E verdade, os autores class Durkheim, Weber, Simmel ~ que escreveu uma obra intitulada logia da experiéncia do mundo moderno” (1986) ~ ndo se privaram de recorrer a essa nogdo; mas ela é novamente re-elaborada sobre os efeitas do declinio dos paradigmas determit ou ator social, cessa, desde entdo, de ser considerado c undo a expresso de Garfinkel (1967). inteiramente subn doa determinagao do social. Sua definigao nao se redwz mais, interiorizagdo das normas e de valores pela socializa¢io, nem a uma articulago de papéis e de st . Apesar disso, ele nao esté menos submetido as press6es do ‘Mas essas presses inscrevem sua ago em registros diversos que ndo so, forgosamente, vonerentes. Disso resulta que um espago € deixado ao sabor da subjetivida para elaborar, numa experiéncia particular, a multiplic idade de pee pectivas que se oferecem @ ela. Essa nova orientagao a os o cidlogos a se centrarem sobre a consciéncia que 0s sueltos =o tém de seu mundo e deles mesmos. Bem ilustrada nos tabs eke pirados pela obra de Tourraine (1995), ela nao deixa Cie os atuais correntes da fenomenologia e da etnomnerodologia “ ae buiram a definigdio de experiéncia umana como “mundo de (lebenswelt). jologia, ocio- Denise Jatt as ' CorrenteS Se encontra no pensamento 1931)* que coloca “a correlagao universal do sujeito edo Sua abordagem analitica da atitude natural do conhecimento distingue nela duas esferas de existéncia: 0 mundo exterior das coi- ‘sas © a consciéncia vivida que corresponde a um foco intencional” do teflexdo. Mas 0 objeto focado como realidade no pertence ao vivido Pela consciéncia; sua existéncia nada mais € que 0 comrelato de uma estrutura do vivido que se desdobra no movimento de uma experiéa- Cia efetiva. As coisas so “para” as pessoas, nilo como realidades fenomenolégicas”. Isto quer di © sujeito por suas propriedades cr sr que as coisas ndo se definem para isicas, mas por seus aspectos vivi- som seus predicados de valor e de ago. Elas $6 esto “para nna medida em que ele as percebe com o sentido que elas tém para sua vida concreta. O que supde que a atitude natural € prética, uma vez que real s6 tem sentido em suas relagdes com o sujeito concreto na sua vida efetiva. A pritica vivida num mesmo mundo faz ‘com «que as subjetividades interajam ¢ se influenciam: “as pessoas se tomas as outras ao se fazerem compreender”. Daf vem o tersubjetivo do conhecimento que os sucessores de Hussert desenvolverao. Convém destacar que @ andlise da intencionalidade conduz @ uma referéncia & representagdo, em dois niveis: o da percepgdo & dos modos de intencionalidade. De um ado, a nogo de intencionalidade que permite ultrapassar a teoria psicolégica da associagio, nfo sendo, ‘concebida como uma composigio de dados sensoriais, mas como a Tire aps, pre eat atest, sobre otto do sto Tian Due Ta La rncthodephnomenlogiaus et so conten efectvamet rl . ine nia tema wa feromensogn, 1 een, ome oe csi coe cae aa um css the & heterogeneo” (GURVITCH,1949, p45. 36 | configuraga em conheciment Os objetos desse mundo (da vida cotidiania), mesmo quando nds no Iransposigio desse 18 is, fazer apasceer, nun Wd. no caso de lembranga ou de testemo- lica onde 0 con- experi 1. no mundo de evidéacia da vida significagio plena das coisas € indissociével de sua representogdo. tum tanto esquecida cm certos modelos ligados & ido no aqui e no agora da interagao social ee icicle de vida v a motivardo pragimétiea da experiéncis tarde, a pesquisa das condigées & priori da verdate leva Husserl a abandonar 0 estudo da atitude natural (em r27%0 de 1e da atitude natural do con da vida cotidiana. Fl ficagies slo pré-construtdas e pré-dadas sovial- da vida no € somente composto or objetos materiais e 08 acontecimentos que constituem o meio: © mundo que me radeia compreende, também, os estratos de ain a coisas naturais em objets cultura, (8 corpos husnanos etn parceiros eos los, gestose € peda hin to evidente quanto 0 mundo 1974,p.5), wunicagbes...0 mundo social e cultural estratificado De outro lado, o mundo da vida cotidiana é um mundo intersub- cu inuindo social de intersubjetividade mundana se consteéi iprocos onde se coloca e se interpreta a significa também, © mundo dos outros € todos os outros fendmenos seciais € esse mundo, como arena tes das rmesmas; segue-se undo € que a atitude natural da vida cotidiana 6 determinada poe uma motivagao “pra (SCHUTZ; LUCKMANN, 1974, p. 5). NOs reencontramos, aqui, uima caracteristica da experitncsa jé destacada como préxis transformadora e que deveriareter a atengio nos estudos de representagiies sociais. O cardter social ¢ culturalmente pressuposto do mundo € 0 rater intersubjetivo € socializado do conbecimento que consti a 38 realidades da vida corrente, ¢ transforma os estados do mundo, apro- xima a visio de Schutz da perspectiva das repres, Esse conhecimento intersubjetivo, construido ec sivel, gracas & reciprovidade de perspectivas 08 atores sociais; ‘a reserva atual de Onde s%o contidos os conhecimentos socialmente Getivados ¢ aceitos pelo grupo de pertenga, Esses titimos vém, dizo autor, “fazer parte, intimamente, do conceito de mundo que ns em- Pregamos na vida cotidiana”. A interpretagiio de situagdes novas con- contexto de sentidos ), mas pré-dado. Hd lugar, aqui as represen- tag6es sociais como fundamentando (veja-se © processo de ancora- gem, por exemplo, no par ‘gbes feitas do mundo vivido no aqui e no agora cotidiana, jalmente elaborados. Ele admite, com Schutz, a existéncia de terior de conhecimentos compantilhudos, necessérios para isa esta compreensio de uma seja, cle relaciona a compreensio as ati cas que regem os procedimentos permitindo coordené-las e alcangé- Jas. Os conhecimentos comuns sao considerados como constituindo a competéncia dos individuos que autoriza a cooperagiio na constr 40 de significagées e de interpretagGes locais. Elas sao reduzidas a meios de interpretagdes internas, a mediagde: a das por raciocfaio pratico, a medida em que se desenrola a = ; dos individuos produzida e reconhecida como atividade ponderada. Notemos que essa individualizagao da base de conbe' uns tem, por conseqiiéncia, uma limitagao dupla: a a rom conhecimentos comuns (das representagdes compartilhadas) € ¢ Denise Jadetet a Le ira pela qual as mas privados resta intocavel, le senso comum como de receitas, de modos de dizer e mados de fazer, nfo se limita s6 a andlise da linguagem, mas quer Provar que o 0 saber dizer naturais sao dominados praticamente pe- ivelmente racionais € relaciondveis 6, descrittveis” (GARFINKEL, “d'accountability” (traduzido geralmente como “dese Condigo da observagao, da descrigdio, da visibilidade e da narrabilidade das ages € uma realizagao pritica. Produzida e realizada em situa. fo, a deseritit context mundo e1 Se bem que Garfinkel reconhece, com Schutz, que a compreenso e os sentidos dependem de um plano anterior formado por propriedades rat 08 conhecimentos compartithados na sociedade (que podemos apro- ximar das representagées sociais), ee coloca que a possibilidade de antes de tudo, na necessidade de agir de acordo com as expectativas da vida cotidiana que sfo wtiliza- das como esquemas de interpretagio e sio completadas por acordos jd compartilhados entre os parceiros de interagdo, Essa abertura so- bre a pragmatica redne certas propriedades das representagSes s0- ciais como forma de conhecimento social pritico estabelecido na Descri ‘ho Orginal, Nota da teadutora, 40 5 comunicagtio social. Podemos apenas repetir que es: lica da experigneia é ica sobre as rela cepgiio de atores sociais como “im mente ao a de mormas e de ‘que testa exterior ao social eexplicative do mesmo, Entretanto, varios criticos colocaram em questio certos de processos que si al cone eee articipantes poxlem, em eontexios de agio estiveis, se prender 3 7 ituagdo que eles possuem por habito, Mas, sobre o visordo microseépio, toda intexpretagd se verifica ocasional e vulnerdvel (p. 28) ido, sem sermos capaes de dar conta ndmenos que emergem das interagoes, 1a realidade estavel, nem da maneira como as .dem ser adotadas pelos sistemas de conhecimento comuns, con: competéncia dos individuos. Essa insuficiéncia pode ser ultrapassada pelo estudo das condigbes Ls S as significagGes emergentes na interagio, vao se ancorar no sistema de saberes constituidos, prestes a transformar imo, € se cristalizar em novos quadtos de referéncias para a Kerpretagiio dos estados do mundo. E para isto que a teoria das Fepresentacdes sociais pode contribuir, Algumas articulagies entre experiéncia ¢ representagées socials Essa revisdo répida das nogdes de experiéncia e do vivido per- site destacar que elas se situam, logo numa primeira abordagem, no campo de estudo do conkecimento do senso comum e que o exame de sua articulagao com as tepresentagées sociais é, nio somente, pertinente, mas suscetivel de contribuir para um enrique abordagem das representagdes sociais. Os fenOimenos que essa ‘noges demarcam me parecem oferecer um terreno fErtil ae or varias razbes. Elas remetem ‘como uina totalidade que: 1) lenses emocionais, ‘dos aspecios do conheci- seme de discurso: 2) exi- mente, a consideraglo das priticas e das agdes, assim como, 4 consideragio dos contextos e do ambiente de vida; 3) permite ob- servar a emergéncia da subjeti ria inscrigZo social. Somos, assim, éonvidados a examinar as rela- ees dl Cretas de existéncia onde & necessério explicar arelago com 0 man- do de vida e @ elaboragio dos estados desse mundo come mundo conhecido. © campo da educagio oferece um espago privilegiado para o estudo dossas relagdes dialéticas. Pode-se observar, em efeito, 0 jogo das representagdes sociais nos diferentes niveis do sistema educative: © nivel politico, onde sto definidas as finalidades e modalidades de organizagio da formagio; nivel da bierarquia institucional, na qual 05 agentes so encarregados de colocar em pratica essas politicas; © ide na negociago de sua necesss- ge Experitncia repre © nivel dos usuarios do sistema escola , alunos e SentagDes slo reconheciveis nos contexios instinn Para esse autor, o sistema escolar tem a. Tr8s fungdes sio ma educativo frente as quais se coloc: la € a fungao de selecdo a partir da hierarq . A terceira fungio & a que define as modalidades de fu direitos, os deveres dos agen tes vo ou nao coincidir com 0 fambém, aproximar os problema ances que ele permite realizar, da Disso resulta que se deve considerar a expei situados nos entrecruzamentos de diferentes dos atores que est légicas. AS represemtagioes das fungdes de aluno € de professor sto ‘as escolares, diretamente is transformagdes da selecdo dos alunos ¢ ds necessidades Até 0s anos 80, a escola obedecia um modelo hierdrquico ¢ elitista. O papel do professor era detinido por normas institucionais dhe conferindo um eum lugar estaveis dentro do sistema esco- Denise Jodelet ts ‘lo conhecido de Gilly (1980) demonstrou que a apreen- INOS, qual que seja 0 nfvel das séries, foi orien. ja da politica escolar, a partir da década de 1980, Selegiio se modificaram em funcao do novo o le de oportunidades para 's de alunos que esca- dos conhecimentos 0 para a escola: promo- I. Para poder compreender a estratégia de agio nos, foi pre agentes sociais. A transformagio do p Sobre as representagdes da fungio de pro- fessor: a identidade professional nao é mais definida pelo status, mas Pela experiéncia ; como as atitudes e as ‘expectativas dos alunos nao. cotrespondem mais aos atributos ligados ao status: a fungio de pro- fessor € vivida como um desafio pessoal ¢ um distanciamento indivi- ual dos papéis prescritos pela institvigdo, Assim, € a experincia social da vida escolar no contexto local dos estabelecimentos, sob a dependéncia de poltticas educativas (recrutamento e pedagosia) € das ideologias que clas ativam que, em diltima instancia, ira reger & interpretagao que os parceiros, mestres e alunos, dato & situagio de interagao pedagégica. aa i Uma vez estabeleci mundo ds vida e os dofreptesentagdo social, Nés vimos que a precedéncia da experién- cia, como submissao a uma objetividade emp pelas abordagens behaviorista e coy a, corresponde a uma re- dugio prejudicial & andlise dos dois trabathos conduzidos em nosso laborat corpo e da saide, eu gostaria, agora, de 0 (es entre representag soe dalidades de experiéncia e de cor intecedem e dio forma, de modo ima- rigncia sexual ¢ reprodutora efetivamente a0 caso de um objeto que ainda niio penetro social como a contracepgao masculina medi tratar dessas inter-relagées, eu d * i aJas, ou seja: a experiéncia local concreta; ela é uma for- arei o que ressalla vivida remete se ‘ma de apreensio yetem As subjeti' ticulares; ela & elaborada em sua expresso € st através de cédigos e categorias de natureza soci meme, analisada a partir do reencontro intersubjetiv base de saberes e de significacdes comuns; ela reclam ¢4o pelos outros; ela tem fungées préticas na vida cotidiana, reme- Les de existéncia dos sujeitos em sua realidade concreta ArGiculagto do vivido ¢ dos conheeimentos © caso das representagtes do corpo permite dar um exemplo bem centrado no efeito das transformagées da experiéncia corporal sobre os conhecimentos andtomo-patoldgicos. Este exemplo é forneci- do por uina pesquisa jé antiga e bastante apresentada (JODELET, 1982, 1983, 1984, 1994) que compreende wma comparagiio diserénica sobre dduas séries de entrevistas em profundidade realizadas com quinze anos ‘de intervalo (comego dos anos sessenta e meio dos anos setenta), em amostras parecidas, assim como, numa investigagio quantitativa em larga escala para corroborar os resultados. ‘dos movimentos de liberagao sexual, da revolugio feminista, da difu- ‘ilo de conhecimentos psicolégicos e psicanaliticas, da introdugo de Novas técnicas corporais etc. ocasionou fortes modificagées na rela- ‘slo com compo, Passamos de uma apreensio de préprio corpo centrada no sofrimento e na doenga, na domin ‘uma abordagem mais aberta as do hedonismo € a um declinio do interesse por jgicos em beneficio de uma leitura do corpo & luz slégicas e sociais. Essa modificagdio aconteceu tanto. ‘em homens como em mulheres. Isto quer dizer que o corpo, tal como é vivido na experiéneia cotidiana, 6 apreendido através de signos que sio codificados pela sociedade. As representagies sociais circulantes nos eespagos publicos aparecem, assim, como “teorias”atuando como"pro- gramas de percepcio”, pegando uma expresso de Bourdieu (1982). De outro lado, foi evidenciado que a experiéncia do corpo se- xual sofreu, igualmente, transformagGes. Una mudanga do esque corporal de mulheres e homens pode ser observada gragas & um 46 teste de associagiio de palavras dado aos sujeitos da segunda amos- ‘ta, Entre as mulheres, a§ associagées demonstravam um jeto, feito de partes extemas ligadas & aparéncia e & apresen si, ou geralmente erotizadas (nidegas, seio jamais mencionar elementos de estrutura interna do corpo. A isso se somaya uma visdo energética do corpo e uma forte afi \agaio de vitalidade e de poténcia. Entre os homens, a imagem era inversa: nada de partes externas, mas muitas referéncias _Experincia © sepnesentagtes sociais po-ob- a evocagdes ansiosas de fragilidade, de fraqueza, de perda. Em contraposicio ¢ paralelamente a esas associagdes que faziam eco a0 modo de relagao com 0 corpo expresso nas entrevistas re nna primeira amostra quinze anos antes, os discursos dos entrevist dos na nova amostra, diretaménte inspirados em novos modelos do corpo, revelavam uma abordagem diferente: as mulheres reivindi- stow por um maior investiment 'a imagem. As novas normas rege! jos na identidade de género modi i, 10 sexualizado. sa mudanga na experiéncia vai ter um efeito direto sob 0 modo pelo qi ificas a respeito da an: ‘ eles sabiam, os sujeitos das duas amostras falaram mais das partes externas e de 6rgidos internos que de sistemas funcionais; a implicagao pessoal prevalecendo sobre a abordagem abstrata, Além disso, observamos?, entre as duas fases do estudo, uma inversio da préprio corpo eno de dade e os dos conhecimentos anéto componentes do esquema tivo das referencias feitas nas Denise Jodelet $f ia conferida pelas mulheres ¢ pelos homens aos dois pri- meiros tipos de informagao, As mulheres, que na primeira amostra nao citavam praticamente nenhuma parte interna em beneficio de artes externas remetendo a aparéncia, vio, na segunda amostra, dimin ivamente as referéncias a essas iltimas em benefi- isista com seu corpo, eles privi- ia © suas partes externas, notadamente subesti- ‘madas em relago aos érgios interos na primeira amostra. sse exemplo ilustra a relagio cia, vivido e conhecimento. A represen ser subordinada a experiéneia como forjada nos moldes de categorias socialme: sistemas de repress Dialética entre vivido, experiéncia e representacao social Moscovici (1976) j4 mostrou, com o processo de objetivacao, a relagdo entre 0 meta-sistema normative e o processo de selegao de elementos da representacao (a selegao operando no sistema de s+ pressdo dos elementos nao consistentes com o meta-sistema). Schutz, or outro lado, colocando em evidéncia a questio da pertinéncia,re- ferida & pritica, na selecdo das informagdes: falando “daquele que, age no mundo social”, 0 autor insite sobre o fato de que “ele oexpe- rimenta, primeiramente, como o campo de suas agdes atwals ¢ possi: . cimento gradual dos elementos significativos, to desejado ia foi pega por Sperber e Wilson (1989) fazendo referencia as conunicagdes que orientam a atengio do suj Seu movimento dialético, a relago representaco social’ experiéncia poe em jogo diferentes insti Deum lado, sobre 0 plano co} GODELET, 1989). Disso resulta que cla pode ter um caréter cria- que, geralmente, negamos & experiéncia nos modelos empiristas ‘Ges vindas do mundo exterior, por via dos semtides. Noutra implicagao, a experiéncia vai motivar, ao lado a pratica, a pertinéncia dos elementos constituintes do mundo vivi- do e estruturar de maneira original as informagées distribuidas pela comunicagao social. 9 Experiéneia ¢ representacio imaginéria ‘Tomeinos um outro exemplo dessa dinémica: uma pesquisa so- bre as representagées sociais do cor igio € do papel das crengas nas ‘ConcepgGes sobre a contaminagao da Aids (ODELET et al. 1994; JODELET, 19986). De ui lado, essa pesquisa confirmou outras pes quisas a respeito da ligagdo entre as preocupagées relativas a0 ‘corpo © 0 baixo nivel de curiosidade e de informagao em matéria médica GODELET, 1982; VINCENT, 2000), ilustrando a influénci |impli- cago emocional sobre a selegio e a relengao de informacdes, De Outro lado, a dificuldade em abordar, em razio da ansiedade susci da pela evoeagio da Aids, a questio da transmisséo e uma tendé, induzida pelas representagdes circundantes sobre as pessoas atingi. das pelas Aix Pensar a contaminactio em termos sociais mais que medicamer Para aquilo que é talsa crenga a respeito de Aids (transmissao por mosquitos, na piscina, nas toilettes, bebendo no mes- mo Copo etc.) foi evidenciado que sua adogo e sua manutengio, ‘apesar das campanhas de informagao, se relacionava ao tipo de rela- gio mantida com as pessoas ingidas pela Aids ¢ os valores que af estHo envolvidos. Eu falarei aqui apenas de dois grupos opostos ¢ que, embora compartilhem das mesmas falsas erengas, ao mesmuo tempo lhes conferem sentidos diferentes: lados a dimensdes psi- coldgicas ¢ sociais. Um primeiro grupo aplicando aos soropositives ‘uma categorizagao infame e discriminante, em nome de valores mo- rais ¢ de uma defesa identitéria, 6 incitado a justificar a exclusio eo isco de transgredir uma proibigo de contato social pela ameaga de outra contaminagao que nfo a sexual. O segundo grupo, em nome da aceitagfo do outro, se opSe contra toda a forma de rejeigdo aos do- entes ¢ afirma 0 dever ou o desejo de manter relagdes sociais e inti- Tas com os doentes. Esse grupo recorre a “falsas crengas” para Justificar, no caso de relagdes sexuais intimas, a recusa de utilizar 0 ‘Preservativo, sinal de falta de confianga ou de Aiscriminagao. As fal ‘sas crengas permitem concluir que,o uso do preservative nio € a 30 Experidocia ¢ rpees panacéia universal e permitem preservar a relagdo com os outros. Nesses dois casos, a experincia do contato, modelada por refer éticas e sociais diferentes (preservagaio do proprio grupo, preserva- Go do outro), convocard construgées do sentido vivido na relaggo Com os doentes de Aids que sdo diferentes, ao mesmo tempo que fazendo apelo aum fundo comum de informagao circulando no espa- {90 social. O recurso a um conjunto de saberes e de experiéncias compar- tithadas pode intervir, assim, na construgio imaginaria da relagfo com ogBes socinis tiva masculina (0 coitus interruptus, por exemplo}, 0 mesino niio ocorre para 0 controle medi progressos técnicos nesse dominio so ignorados em suas formas € efeitos colaterais. Disso resulta, que, para tomar posigiio sobre esse novo objeto ou pensar sobre ele, os sujeitos fazem refer tipos de conhecimento ou a praticas j4 conbecidas e perten essencialmente, a0 dominio da contracepeao feminina. Un coragem, previsivel em se tratando da formagio de uma representa 40, oferece a particularidade de mobilizar, no somente conheci- mentos ligados 2 hist6ria da contracepedo feminina e seus efeitos sobre a sade da mulher, mas, também, conflitos que marcaram Denise Jodeler 31 € outros dizem as mesmas coisas, exprimem os lores, repetem os mesmos argumentos médico, uma Gnica forma de (0s hormonais sobre 0 monais (que +). Se uma outra forma de Ja se reduz numa intervengao, operagtio ou injegdo, sobre o pénis, por referéncia & vasectomia. Isso coloca diretamente em perigo virilidade pela diminuiglo ou desapareci- mento dos espermatoz6ides (portadores da vida como os Svulos). Ora, se acredita que 0 espera sem os espermatoz6ides nio é mais esperma ¢ teme-se que isto prejudique a vida sexual; o homemi nfo podendo mais ter eregao ou niio sendo mais capaz de ter prazer. Nés estamos na presenga de verdadeiras experincias imagindrias que as que impedem a adogio de jinérin dé forma a uma vivencit obsticulo & novidade. O mesmo acontece com as relagbes de gene- ro, A contracepgao é vista como coisa de mulher, sua conquista como ‘uma hist6ria feminina. Os homens, em sua identidade, nflo se sentem $ na contracepgio, como acontece com as mulheres, para quem delegar a responsabilidade da conteacepcao eq uma liberdade € um controle sobre © poder maser ainda marcam as relagdes de género na gesto da procriagao, e, so- antecipagdes de uma in- isdes Fantasméticas que colocam em jogo # ideatidade mas- wutra particularidade reside no fato de que essa dindmi- ca de construgao de uma representagdo é semelhante nos homens 6 inconvenientes da contracepgio, a mascara de uma experiéncia perigosa. Esse exemplo permite, também, situar o lugar da experitn- cia na construgio de representagtes dos cbjetos que ainda se origh- ‘nam de um conhecimento socialmente construido. A antecipagio passa | Gaia pesulaa Teal Jb minha diregao pi ponder uma solicitsg3o do pela construcio de uma experigacia imaginada que fornece marcos Squisa realizou-se sob minha diregdo para responder s uma so é s : eee Cn rp os poten de aceitagio pelo piblico dessa forma de contracepyio eujas técnic novas foram recentemente testadss (APOSTOLODIS ct l., 1999). Conclusao As considerages © ilustragdes precedentes sie de dar cont do modo como a exper ima forma elaborada por represcatay fandamentam a colocagio d 2) imervém em jogo elementos em © conjunto de sujeitos im; modulagdes siio regia: espaco social assip 4) pode ser construida sobr indo imagindtio por transferéncia de representagSes de uma situagio & outra onde a identidade dos suj situagGes novas ou desconhecidas até entao, uma fungiio “reveladora” que conduz a criag&o de novas representagdes como acontec Hi, ainda, todo um campo de pesquisa a um programa de pesquisa conduzido com cole- gas brasileiros (BELLO; JODELET; MESQUITA; SA, 1996) sobre representacdes associadas, sobre as significagdes emprestadas ¢ a experiéncia vivida na prética de ritos religiosos afro-brasileiros, Eu espero ter demonstrado a utilidade de recorrer & andlise da experiéncia, como conhecimento e como vivido, para compreender como 0 sentido se produz, em situag&es ¢ contextos sociais ¢ espaco- temporais particulares, pela elaborago de estados psicol6gicos e pelo suporte das representagdes sociais disponfveis como recursos interpretativos & competéncias cognitivas. Eu espero ter mostrado, tainbém, que a experiéncia, compreendida em suas dimens6es psico- Jdgicas ¢ sociais, 86 pode ser analisada a partir de referéacias e c6di- RSS As F sistemas de representagi em vigor na esfera inclui valores ¢ iWentidades de seus mem- em nada fato de que ela pode ser o centro lescoberta e de criago, o lugar de wma préti- We 0 ideal dé forma a0 real, 16 respond a todas as questies que 0 caso da seu diabete levantava, despertando divida, relagbes estas cdo, a estabilizagao de significagdes produzidas na experincia e 0 peso dos estratos culturais como referencias do julgamento feito sobre. 4 situagdo, 0 papel que os aspectos sociais desempenham na constru- 40 da identidade © nas normas de apresentagio de si etc. Tantos Pontos que requerem o apelo as representacdes sociais. Outras ques- ‘es que remetem & passagem da subjetividade social & particularidade individual pela qual a compreensao clinica do caso deve ser realizada, Permanecem abertas, Se o enfoque terap2utico afio entra, propriamen- te falando, no paradigma das representagbes sociais, este paradigma Pode ser colocado ao servigo de um esclarecimento social sobre o do mal estar sentido pela pessoa que sofre, ajudando a alivié-la pela conscientizacio de sua depeadéncia aos outros e pela reformulacao de sua identidade social através de uma nova representagao de si, reivin- dicando sua marginalidade como estado de direito. As representagSes sociais servein, também, & colocagio de novos valores. Referéncias bibliogréficas . Pratiques sociales et représentations. Paris: Presses itaires de France, 1994, APOSTOLIDIS, T., BUSCHINI, F y KALAMPALIKIS, N. (Sous lt direction de D, Jodelet) Représentations ef valeurs engagées dans lt contraception masculine médicalisée. 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