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Este documento discute os direitos culturais diferenciados reconhecidos na Constituição Brasileira de 1988 e como a antropologia tem um papel importante no processo de mapear e regularizar as terras de povos indígenas e quilombolas. Também critica alguns veículos de imprensa no Sul do Brasil por disseminar desinformação sobre esses direitos e o trabalho dos antropólogos de forma tendenciosa e sem dar direito de resposta.
Este documento discute os direitos culturais diferenciados reconhecidos na Constituição Brasileira de 1988 e como a antropologia tem um papel importante no processo de mapear e regularizar as terras de povos indígenas e quilombolas. Também critica alguns veículos de imprensa no Sul do Brasil por disseminar desinformação sobre esses direitos e o trabalho dos antropólogos de forma tendenciosa e sem dar direito de resposta.
Este documento discute os direitos culturais diferenciados reconhecidos na Constituição Brasileira de 1988 e como a antropologia tem um papel importante no processo de mapear e regularizar as terras de povos indígenas e quilombolas. Também critica alguns veículos de imprensa no Sul do Brasil por disseminar desinformação sobre esses direitos e o trabalho dos antropólogos de forma tendenciosa e sem dar direito de resposta.
Direitos Culturalmente Diferenciados, Antropologia e tica.
Lus Roberto Cardoso de Oliveira
Presidente
Associao Brasileira de Antropologia
Uma verdadeira campanha de m-f para disseminao da ignorncia
obscurantista tem se espalhado por peridicos do Sul do Brasil, sobretudo, articulando de modo negativo e leviano, povos indgenas, antroplogos e questo fundiria.
A Constituio Brasileira de 1988 reconheceu, por diversos de seus
dispositivos, o carter multitnico da sociedade brasileira e os direitos coletivos terra de coletividades culturalmente diferenciadas, em especial dos povos indgenas e de comunidades quilombolas. Por meio de legislao posterior, de normas administrativas, e ainda pela mais recente da ratificao pelo governo brasileiro da Conveno 169 sobre Populaes Tribais em Estados Nacionais da Organizao Internacional do Trabalho, esses direitos foram sedimentados e transformados em matria de ao administrativa do Estado no Brasil, sendo monitorado e supervisionado pelo Ministrio Pblico Federal. No caso dos povos indgenas, cuja presena na Amrica pr-existe qualquer estruturao em Estados Nacionais, com estabelecimento de fronteiras, lnguas e documentos "nacionais", a agncia do Estado brasileiro responsvel pelo reconhecimento fundirio das terras indgenas a Fundao Nacional do ndio.
Esse conjunto de disposies jurdico-administrativas previu que a parte
inicial desse processo de regularizao fundiria fosse objeto do trabalho tcnico-pericial do antroplogo, profissional no Brasil formado apenas ao nvel de mestrado e doutorado, em cursos especficos, reconhecidos pelas instituies de fomento ps-graduao, como o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnolgico (CNPq) e a Fundao Coordenao de Aperfeioamento do Pessoal do Ensino Superior (CAPES), cujo criterioso trabalho de avaliao qualifica e certifica alguns cursos apenas.
A percia antropolgica um trabalho de carter tcnico, que demanda
slidos conhecimentos cientficos quanto aos princpios tericos da disciplina que o embasa, assente na longa tradio da Antropologia no estudo de sociedades e povos no ocidentais, que tem viabilizado uma compreenso adequada, para alm dos preconceitos do senso comum e dos interesses materiais comezinhos, de seus costumes e modos de vida. Mais que isso, o exerccio da Antropologia, e em especial os trabalhos de percia antropolgica, demandam um comprometimento tico-moral profundo com os povos de cujos modos de vida nos tornamos ntimos ao longo de nosso investimento, seja para fins acadmicos ou tcnicos, em especial, no sentido de levar a srio o seu ponto de vista e suas tradies, tratar o tema e o grupo com honestidade, e assumir responsabilidades, para com o grupo, sobre o resultado de seu trabalho.
Assim, a produo da verdade cientfica em Antropologia, isso estando
consignado em numerosos cdigos de tica de associaes como a nossa, passa pelo ponto de vista daqueles com que estudamos e convivemos, sendo nosso papel traduzir com objetividade esse ponto de vista. So os contedos tericos da disciplina e o mtodo cientfico que possibilitam que o imperativo tico se combine com a viso da imparcialidade demandada pelo Direito, o que tem feito que com freqncia se demande o trabalho pericial do antroplogo na esfera jurdica, em especial na ao do Ministrio Pblico Federal e na ateno a demandas da magistratura.
As matrias publicadas e disseminadas na imprensa escrita, em torno da
identificao da terra indgena Morro dos Cavalos, em Santa Catarina, ou acerca da identificao de terras de quilombos revelam no apenas o desconhecimento sobre a pesquisa e a percia antropolgica. Colocam-se na contramo da ao legalmente definida dos rgos pblicos, demonstrando m-f no imperativo da informao e do esclarecimento do grande pblico quanto aos direitos indgenas e de quilombolas. Assim agindo, esse segmento da imprensa demonstra a violncia de seu poder, ao praticar o exerccio unilateral da crtica, sem dar espao voz dos antroplogos reconhecendo-lhes o direito de resposta nesses e em numerosos casos de que esses profissionais tem sido objeto, colocando-nos a questo: h algum o princpio tico-moral no trabalho desse tipo de imprensa que traveste interesses especficos e econmicos em acusaes regadas a um nacionalismo ralo e a tons desrespeitosos e superficiais?