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204 & preciso controki-los administrar suas contradigées. Seja como for, necessitamos de amos os modelos. Consicleradas enquanto homens e mulheres indivi- duais, nenhum de nés é completamente autonomo € nenhum de nds esta plenamente integrado a, e com- prometide com, nenhum dos grupos de que parti Pa Cada uum de nds 6 tinica, Rasomente um; © esta Mos, a0 mesmo tempo, intimamente ligaclos a “outros especificos, em formas a que tesistimos as vezes @ que as vezes aceitamos. Precisamos de uma teoria politica e de uma politica tao complexas quanto a nos- sa propria vidla APENDICE A critica comunitarista do liberalismo Escrevi este artigo em 1989, publicado em Political Theory em fevereito de 1990, foi republicado muitas vezes desde entio. Por ter desempenhado um peque- no papel nos debates do iberaliemo/eomunitariemo das tiltimas décadas & por fazer parte agora do regis- {10 histérico desses debates, nao modifiquei em nada, Os argumentos que ele apresenta ainda me parecem, basicamente corretos, embora ew tenhi feito algumas revisoes €, espero, aperfeigoamentes, a medida que ‘os desenvolvi nos capitulos deste livro, ‘Todos sabem que, @ semelhanca do que aconte- ce na miisica popular, na arte ou no yestudrio, as mo- das intelectuais tim vida curta, Mas ha certoo modismos: que parecem ressurgir com reguluridade. Assim como 205 as calgas pregueadas ou as saias curtas, eles repre- sentam aspectos varidveis cle um fendmeno predomi- nante mais amplo € mais invariavel — neste caso, um certo modo de vestir, Suas vidas sto breves, mas re- correntes; conhecemos sua transitoriedade e aguarda. Mos 0 seu regresso. E desnecessirio dizer que nao ha vida apés a morte na qual as calgas sejam permanen- Temente pregueadas ou as saiae etcrnamente curtas. Recorténcia & tudo. Embora atue num nivel muito mais alte Gnfinita mente mais alto?) de importincia cultural, a critica comunitarista do liberalismo € como as pregas das calgas: efémera, mas de retorno garantido. Ela € um trago intermitente € constante da politica liberal e da organizayao social, Nenhum éxito liberal eliminara de maneira definitiva os seus atrativos. Ao mesmo tempo, nenhuma critica comunitarista, por mais penetrante que seja, jamais sera algo além de um trago incons- tante do liberalismo, Algum dia, talvez, havera uma transformacio maior, como a passagem dos calcdes dos aristocratas para as calcas dos plebeus, tornando © liberalismo e seus criticos igualmente isrelevantes, Por hora, contuclo, nao vejo neahum sinal de algo des- se tipo, nem estou certo de que devamios esperar por algo assim, No momento, ha muito que dizer a favor de uma critica recorrente, cujos protagonistas espe- fam apenas pequenas vilGrias € inclusdes parciais, € que, quando sao rejeitados, dispensados ou coopta- dos, somem de cena por algum tempo s6 para retor- nar depois. Podemos fazer uma comparago proveitosa entre © comunitarismo ¢ a socialdemocracia, que teve €xito em ectabelecer uma presenga peunaneie, lado a lado 27 com a politica liberal e, a5 vezes, associada a cla. A s0- cialdemocracia tem seus prdprios criticos que entram e saem de moda, € que sao, em grande medida, de natureza anarquista € libertdria. Uma vez que patroci- za certos tipos de identificac2o comunal, ela esté me- nos sujeita a critica que 0 liberalismo. Mas ela nunca consegue escapar completamente dessa critica, pois tanto os liberais coma ns socialdemocratas (@m um compromisso comum com 9 crescimento econbinico € enfrentam (embora de maneiras diferentes) os mo- delos sociais alienantes gerados por esse crescimen- to. A propria comunidade 6, em grinde medida, uma presenga ideolégica na sociedade moderna; ela nao tem seus proprios criticos recorrentes. Esta sujeita a modismos intermitentes apenas porque nao existe em mais nada como forca total 2 € criticada apenas quando isso esti. na moda. Nao obstante, a eriticn comunitaris nao seria recorrente se nao fosse capaz de atrair nos. sas mentes ¢ sentimentos, Neste ensaio, pretendo in- yestigar o poder de suas atuais yersdec americanas também oferecer minha propria versio — menos pode- rosa, talvez, que as teorias pelas quais irei comecar, porém mais passivel de ser incosporada pela politica liberal (ou socialemocraia). Nao pretenclo (€ impro- vvel que consiga) provar que o comunitarismo € fal 50, embora esteja disposto a esperar por seu teapare- cimento numa forma mais coerente e incisiva do que a que adota atualmente. O problema da critica comu- nitarista atual — nao sou 0 primeiro a percebé-lo ~ € que ela propoe dois argumentos diferentes, € profun~ damente coniraditorios, contra © liberalismo. Um cles ses argumentos visa principalmente a pratica liberal, © outro principalmente « wort libetal, suas auubus ado 2. € podeross 200s podem estar certos. f possivel que cada um deles es- ‘cia parclalmente correto — na verdade, insistizei jus- lameme nessa validade parcial -, mas cada um dos argumentos esta correto de uma forma que mina o valor do outro. IL © primeiro argumento afirma que a teoria politi ca liberal represenia fielmente a pritica social liberal. Como se a teoria marxista da reflexao ideol6gica fos- Se literalmente verdadeira ¢ estivesse exemplificada neste caso, as sociedades ocidentais contemporaneas (principalmente a sociedade americana) $20 consice- tadlas o lar dos individuos radicalmente isolados, dos egoistas racionais ¢ dos agentes existenciais, homens © mulheres proiegidos © divididos por seus direitos inaliendveis, © liberalismo diz. 2 verdade sobre a socie- dade associal criada pelos liberais — na verdade, nao ex nibilo, como sugete a teoria dos lihersis, mas numa luta contra as tradigces, comunidades © autoridades que sto esquecidas to logo alguém delas se liberta, de modo que as praticas liberais parecem nao ter his. (6ria, A luta em si é ritualmente celebrada, mas raras vezes objeto de reflexio. Os membros da sociedace liberal nao compantilham de nenhuma tradicao pol ¢a ou religiosa; podem contar apenas uma historia Sobre si proprios, a historia da criagio ex nubilo, que se inicia no estado da natureza ou na posicdo original Cada individuo imagina-se absolutamente livre, desin- Pedido e so ~e entra na sociedade, aceitando suas obrigacoes, apenas a fim de minimizar seus riscos. Seu objetivo é a seguranga, e, como nreveu Maia, 209 seguranca é “a certeza de seu egoismo”, E assim como este individuo se imagina, assim ele realmente 6, “ou seja, um individuo separado da comunidade, ensi- mesmado, totalmente preocupado com seus interes- ses pessoais ¢ que age de acordo com seus caprichos particulares. O Gnico vinculo entre os homens € a ne- cessidacle natural, a privacio e o interesse particular”! (ititizei pronomes masculinos para ajustar minhas frases as de Marx. Mas é uma questo interessante, Mo abordada aqui, saber se essa primeira critica co- munitarista fala 2 experiéncia das mulheres: acaso a necessidade € os interesses particulares seriam seus inicus lagos mituas?) Os escritos do jovem Mars representam uma das primeicas apari¢des da critica comunitarista, e sua ar- gumentzcao, formulada pela primeira vez na década de 1840, tem uma forte presenga hoje. A anilise feita por Alasdair Macintyre de incoeréneia da vida inte- lectual e cultural moderna e da perda da capacidade narrativa levanta uma questio semelhante, numa lin- guagem tedrica primorosa e atual!, Mas a Unica teoria necessiria 2 critica comunitarista do liberalismo é proptio liberalismo, Tudo que os eriticos tm a fazer, assim © dizem, é levar a teoria liberal a sério, © auto- Fetrato do individuo compesto apenas de sua obsti- nacao, livre de qualquer vinculo, sem valores comuns, lacos obrigatorios, costumes ou tradigoes — sem den- tes, sem olhos, sem paladar, sem nada -, s6 precisa ser evocado para ser desvalorizado: ele jd € a auséncia concreta de valor. Como pode ser a vida real de uma 1. Kall Marx, “On the Jewish Question”, em Barly Wrstings, T, B Rottomore (org) (Londees: CA. Watts, 1963), p. 26. 2 Alasclair Macintyre, After Viewe (Notre Dame, Ind: Univer- ‘ty oF Notre Dame Press, 1981) 210 pessoa assim? Imaginemo-la maximizando suas van- lagens, e eis a sociedade transformada numa guerra de todos contra todos, a conhecida corrida de ratos na qual, como escreveu Hobbes, nao ha “nenhum outro objetivo, nenhuma outra coroa, exceto ser o primeiro”’. Imaginemo-la desfrutando seus direitos, © tie a sociedade reduzida a coexistencia de cus iso lads, pois 08 direitos liberais, de acorclo com esta i ‘a, tm a ver mais com a “saida” que com a “voz”, Eles estio simbolizados concretamente na separacao, no divércio, no recolhimento, na soli- aio, na privacidade © na apatia politica, E, finalmen- te, © préprio fato de que a vida individual possa ser descrita nessas duas linguagens filos6ficas, a lingus gem das vantagens ¢ a linguagem dos direitos, € mais um sinal, segundo MacIntyre, de sua incoeréncia. Os homens e as mulheres da sociedade liberal nao rem mais acesso a uma cultura moral unica, na qual pos- sam aprender como devem viver’. Nao ha nenhum consenso, nenhuma assembléia publica de mentes, sobre a natureza da vida feliz — dat o triunfo dos ca prichos privacios, revelados, por exemplo, no existen- cialismo de Sartre, 0 reflexo ideolégico dos caprichos mediocres do cotidiano. 6s, liberais, somos livres para escolher, ¢ temos © diretio de escolher, mas nao temos nenhum critério 3 Thomas Hobbes, The Elements of Law, parts 1, cap. 9, par. 21 Percebl que ¢s dos auores favoritos das erticos comunitanstas desse pimeiro tipo so Hobbes e Jean-Paul Sartre. Sera possivel que a e= séncia do iberalismo seja mais bem revelada por esses dois autores, que nao exam, absolutamente, Hserais 20 sentido usual do terme? 4. Ver Albert Q. Hirschman, Rxit Voice. and Loyalty (Cambwid. ‘ge, Mase: Harvard University Press, 1970) ‘5. Macintyre, After Virtue, caps, 2€ 17, au para administrar nossas escolhas, exceto nossa pré- pria interpretacio imprevisivel de nossos interesses descjos imprevisiveis. F, assim, faltam as nossas esco- thas as qualidades da coesio e da seqiéncia. Mal conseguimos lembrar 0 que fizemos ontem; nao so- mos capazes de prever, com qualquer grau de certeza, (© que faremos amanha. Nao conseguimos dar uma explicagio adequada de nés mesmos. Nao podemos nos sentar juntos € contar histérias compreensiveis, ¢ 86 nos reconhecemos nas historias que lemos quan. do elas sao narrativas fragmentadas, sem enredo, 0 equivalente literdrio da misica atonal © da arte ndo- figurativa. A sociedade liberal, vista & luz desta primeira ert tica comunitarista, € comunidade ¢ 0 exato oposto, © lar da cocréneia, do vinculo da capacidade narrativa. Mas estou menos preocupado, aqui, com as diferentes explicagdes que possam ser dadas a respeito desse Eden perdido do que com a insistancia repetitiva na realidade da fras- mentagio apés a perda, Esse € 0 tema comum de todos os comunitarismos contemporineos: 0 kamento neo- conservador, 2 acusagao neomarxista, @ ansicdade dos neoclassicos ou dos republicanos (a necessidade do prefixo neo sugere, uma vez mais, © cardter inter mitente ou recorrente da critica comunitarista), Penso que esse seria um tema embarageso, pois, se a aborda- gem sociolégica da teoria liberal estd cetta, se a socie~ dade esta realmente decomposta, sem deixar vesti- gios, na cocxisténcia problematica dos individuos, en- tao bem que podemos partir do pressuposto de que a politica liberal € o melhor meio de lidar com os pro- Liemas da decomposigio. Se temoe de criar uma unin artificial e a-hist6rica a partir de uma multidao de eus a [ragmentayao na prdtica; ¢ a zu isolados, por que no tomar o estado de natureza ou a posicio original como nosso ponto de partida concei- tual? Por que no aceitar, 2 maneira liberal conven- cional, 2 prioridade da justiga processual sobre as con- ‘cepcdes substantivas do bem, uma vez que, tendo em vista a nossa fragmentacao, dificilmente podemos esperar chegar a um acordo a respeito do bem? Mi- chael Sandel pergunta se uma comunidade de pessoas que pdem a justica em primeiro lugar poderia, algum dia, vir a ser mais do que uma comunidade de estra- nhos’, A pergunta é boa, mas sua forma reversa tem relevincia mais imediata: se realmente somos uma co- munichde de estranhos, que mais podemos fazer além de pdr a justiga em primeiro lugar? IL Somos salvos dessa linha de argumentagio intei- ramente plausivel pela segunda critica comunitarista do liberalismo. A segunda critica sustenta que a teoria liberal representa a vida real de uma forma radicalmen- te distorcida, © mundo nao é nem poderia ser assim. Homens e mulheres desligados de todos os seus ‘vinculos sociais, literalmente desimpedidos, cada um © tinico inventor de sua prépria vida, sem nenhum critério, sem padrées comuns a guiar essa invencio — eslas sao figuras miticas. Como poderia qualquer gru- po de pessoas estranhar-se mutuamente quando cada mmemnbro desse grupo nasce de seus pais € quando seus GAs €o resume feo por Ritan Rony da argumentici de ce Sine Raye ety of Dayo Palos ‘el . Peterson @ Kobe L.Vaigan orgs Te Vm Slle Jor elon Peed (Carrkige: Canbrge Univers Press, 1982, 213 pais tém amigos, parentes, vizinhus, colegas de traba- Iho, conteligionarios e concidadaos — vinculos, de fato, que nao sio exatamente escolhidos, mas sim transmi- tidos para adiante ¢ herdados? © liberalismo bem pode realgar 0 significado dos lagos puramente contratuais, mas € cbviamente falso propor, como Hobbes as ye- zes parecia fazer, que todos cs nossos vinculos so meras “amizades de mercado”, de carater voluntarist € de interesse pessoal, e qué nao podem durar além das vantagens que irazem’, Faz parte da propria nai tureza da sociedade humana que os indivicuos nela criades venham a descobrir-se capturados por pa droes de relacionamento, redes de poder e comuni- dades de sentido. A condigao de capturado € 0 que faz deles um certo tipo de pessoa, $6 entio é que eles podem tornar-se pessoas de um tipo (marginalmente) diferente, por meio da reflexio sobre o que sio e por meio de atitudes mais ou menos distintas, de acordo com os padres, redes © comunidades que, por bem om por mal, sao suas. A idéia principal da segunda critica € que a esiru- tura profunda da sociedade, mesmo da sociedade eral, é na verdade comunitaria. A teoria liberal dis torce essa realidade, ¢, na medida em que adotamos a teoria, ela nos priva de qualquer acesso facil a nos- sa propria experiencia de incluso comunal, A retérica do liberalismo — essa é a tese dos autores de Habits of the Heart = limita-nos a compreensio dos hibitos de nosso coragao, € nao nos d4 nenhum recurso para formular as convicgdes que nos mantém unidas en- quanto pessoas e que unem as pessoas numa comu- 7 ihoms Holes, De Clee, Umar Weerender Cong.) (Oxted Oxford University Press, 1983), parte L cap, 1 2 nidade’. O pressuposto, aqui, é que de fato somos Dessous € que de fato estamos ligados, A ideologia li- heral do separatismo nao pode tirar de nés a condi- Gio de pessoa e o sentimento de vinculo. O que ela tira de nds € 0 senso de nossa condicio de pessoa € de nossos vinculos, ¢ essa privagio reflete-se endo na por Iitica liberal. Ela explica nossa incapacidade de criar solidariedades coesas, movimentos € partidos esti- veis, que poderiam tornar visivels ¢ efetivas as nos- sas convicsées profundas. Ela também explica nossa dependéncia radical (brilhantemente prenunciada no Leviaté de Hobbes) em relacao a0 Estado central Mas como podemos entender essa dissociacio extraordindria entre a experiencia comunal ¢ a ideolo- gia liberal, entre a conviccao pessoal e a ret6tica pi blica, entre os vinculos sociais e 0 isolamento politico? Essa questio nao é abordada pelos criticos comunita ristas do segundo tipo. Se a primeira eritica depende de uma teoria marxista vulgar sobre a reflexio, a se- gunda critica exige um idealismo igualmente vulgar, A Teoria liheral parece, agora, ter um poder sobre © contra a vida teal que foi concedido a poucas teorias na histona da humanidade. Obviamente, ele ndo foi concedido a teoria comunitarista, a qual, no primeiro argumento, nao consegue superar a realidade do se- paratismo liberal ¢, no segundo argumento, no con- segue evocar as esiruturas preexistentes do vinculo social, Seja como for, as duas teorias criticas sio mu- tuamente incompativeis; naa podem ser ambas ver- dadeiras. Ou o separatismo liberal retrata ou distorce 8 Robert Bellah et al, Habits ofthe Heart (erkeley: University ‘of Galifornta Press, 1985), pp. 21. 290; ver 0 comentirin de Richard Rony am “Priority”, p. IPS) n, 12 213 as condicées da vida cotidiana. Fle pode, é claro, fa- zer um pouco de cada —a confusio costumeira -, mas ‘essa ndo é uma conclusio satisfatéria de um ponto de vista comunitério. Pois, se a explicacio da dissociagio e do separatismo estiver correta ainda que parcial- mente, entdo teremos de perguntar acerca da profun- didade, por assim dizer, da estrutura profunda. F se, no fundo, formos todos comunitaristas até certo ponto, © retrato da incoeréncia social perdera sua forga critica. Iv Mas cada um dos dois arguments criticos e parcialmente correto. Tentarel dizer o que esti corre- to em cada um deles, para em seguida questionar se algo plausfvel pode ser feito com esses fragmentos, Em primeiro lugar, portanto, nao resta duvida que nos (nos Estados Unidos) vivernos numa sociedade na qual os individuos esi20 relativamente dissociados e separados uns dos outros, ou melhor, na qual esto continuamente separando-se uns dos outros — sem- pre em movimento, quase sempre um movimento so- litério © aparentemente aleat6rio, como se imitassem: © que os fisicos chamam de movimento browniano. Dai vivermos numa sociedade profundamente inst vel. Podemos perceber melhor as formas de instabili- dade se rastrearmos os movimentos mais importantes. Consideremos, portant> (imitando 0 estilo chines), as Quatro Mobilidades: 1. Mobilidade geografica. Aparentemente, 0s americanos mudam ‘ie casa com mais freqiiéncia que qualquer outro povo na histéria, ao menos desde as migragdes barbviras, com excegio apenas das tribos 216 némades e das familias envalvidas em guerras civis ou externas, Mudar as pessoas e seus pertences de uma metropole ou cidade para outra é um setor importan- te dos negécios nos Estados Unidos, ainda que mui- tas pessoas cuidem de suas préprias mudangas. Num outro sentido, é claro, somos todos “automudados”, nao refugiados, ¢ sim migrantes voluntarias. Essa am- pla mobilidade geogrdfica deve enfraquecer bastante a percepgio de lugar, embora, na minha opiniao, seja dificil dizer se ela é substituida pela mera insensibili- dade ou por uma nova percepgao de muitos lugares. De qualquer forma, parece proviivel que o sentimen- to comunitério perde um pouco de sua importincia, As comunidades no sio apenas localizagées, mas ‘io, com freqiiéncia, mais bem-sucedidas quando tem. uma localizagio permanente, 2. Mobilidacle social. Uste artigo nao ira tratar dos argumentos acerca da melhor maneira de definir a posicao social ou de como medir as mudangss, seja através da renda, da educaclo, da filiacao de classe ‘ou do lugar que as pessoas ocupam na hierarquia de status. Basta dizer que menos americanos encontram- se exatamente onde estayam seus pais, ou fazem o que estes faziam, que em qualquer outra sociedade para a qual dispomos de termos de comparagio. Pode ser quc 03 americanos herdem muitas coisas de seus pais, mas © grau a que levaram as diferengas em sua vida, ainda que apenas no modo comp se sustentam, significa que a heranca da comunidade, isto é, a tran- missio de crengas e costumes, 6, na melhor das hi- poteses, incerta. Quer os filhos sejam, por esse moti- x0, privades da capacidade narrativa ou mio, & provi vel que contem hist6rias diferentes das contadas par seus pais a7 3. Mobilidade conjugal. Os indices de separacao, divércio e novos casamentos 820 mais altos, hoje, do que jamais foram em nossa sociedlade e, provavel- mente, do que jamais foram em qualquer outta socie~ dade (exceto, talvez, entre os aristocratas romanos, embora eu no conheca nenhuma estatistica da épo- ca, apenas historias). As primeiras duas mobilidadles, a geogrifica e a social, também rompem a viela familiar, Ue forma que os irmios, por exemplo, com freqiién- cia vivem a grande distincia uns dos outros, e, mais tarde, como tios tias, vivem muito distantes de seus sobrinhos e sobrinhas. Mas. 0 que chamamos de “la- res desfeitos” € 0 produto de rompimentos conjugais, de maridos e esposas que deixam o lar —e geralmen- te, em seguida, partem para novos parceiros. Na medi- da em que © lar € a primeira comunidade ¢ a primei- ra escola dla identidacle étnica € da conviegio religio- sa, esse po de rompimento deve ter conseqiiéncias anticomunitaristas. 1ss0 significa que, muitas vezes, as criancas deixam de ouvir historias constantes ou idén- ticas dos adultos com quem vivem, (Sera que a maic- ria das criancas alguma vez Ouviu essay LiswGriast A morte de um conjuge € © novo casamento do outro podem ter sido, algum dia, @o comuns quanto 0 divér- cio € 05 novos casamemtos de hoje. Mas a questo é que temos de levar em conta outros tipos de mobili- dade: tanto os homens como as mulheres de hoje (ém uma probabilidade maior de se casar fora de sua classe, ctnia e religiio; por conseguinte, 0s novos ca- samentos produzem femilias extracrdinariamente com- plexas e socialmente diferentes — as quis no devem ter nenhum precedente histérico.) 4, Mobilidade politica. A fidelidade a lideres, mo- vimentos, partidos, clubes e mecanismos urbanos pa- 218 rece declinar rapidamente & medida que o lugar, a posigao social e a filiagio familiar deixam de ser tio importantes na formagio dla identiclade pessoal. Os dadios liberais observam, de fora, todas as ocganiza- ses politicas ¢, em seguida, escolhem a que melhor serve a scus ideais ou interesses. Eles sio, idealmen- itores independentes, ou seja, pessoas que mu- dle pusigau; face suas escolhas por st proprios, em vez de votar como seus pais, @, a cada vez, fa- gem novas escolhas em vez de repeti-las, A medida que seu ntimero aumenta, ajuda a promover um elei- torado volitil e, por conseguinte, uma instabilichicle ins- titucional, particularmente em nivel local, onde, no passado, a organizacao politica serviu para reforcar os vinculos comunais. Os efeitos das Quatro Mobilidades sao intensifi- cados dle varias maneiras por outros desenvolvimen. los sociais sobre os quais provavelmente falamos na metifora comum do movimento: 6 avango do conhe cimento, 0 progresso tecnolégico e assim por diante. Mas estou preocupaclo, aqui, apenas com o movimento real das indiviclios. © liberalismo 6, em sua acepgio mais simples, 0 endosso e 2 justificativa desse movi- mento”, Na visto liberal, portant, as Quatro Mobilida- des representam a decretagao da liberdade e a busca da felicidade (privaca ou pessoal). B € preciso dizer que, concebido dessa maneira, o liberalismo € um cre- do. genuinamente popular. Qualquer esforco. para coibir a mobilidade nas quatro 4reas descritas aqui exigiria uma aplicagao macica € cruel do poder esta- 9. Etambém sin malizacia pedtiea. na eaemim alin ane tale tos, no direito 8 mobilidade, no divércio legalizado e assim por diante tal, Nao obstante, essa popularidade tem um lado ne- gativo de cristeza e descontentamento que se expres- sade maneira intermitente, € © comunitarismo &, em sua acepcao mais simples, a expressao intermitente esses sentimentos. Essa expressio seflete um senti- mento dle perda, ¢ perch é real. As pessoas nem sem- pre deixam seus antigos bairros ou cidades natais de livre € espontinea vontade ou com alegria, Mudar-se pode ser uma aventura pessoal em nossas mitologias culturais convencionais, mas é, com a mesma fre- qiiéncia, um trauma familiar na vida real, O mesmo pode ser dito da mobilidade social, que transporta as pessoas tanto para cima quanto para baixo, € que re- quer ajustes que nunca so ficeis de administrar. Os rompimentos conjugais podem as vezes dar origem a novas unides mais fortes, mas também acumulam o que podemos considerar fragmentos de familias: la- res com apenas um dos pais, homens ¢ mulheres sepa- rados ¢ solitirios e criangas abandonadas. E a inde~ pendéncia na politica ndo é muitas vezes, um isola~ ‘mento tdo espléndido: 0s individuos com opinides alastados dos grupos que dispéem de um programa. © resultado € um declinio no “senso de cficicia”, com efeitos correspondentes sobre 0 comprometi- mento e 0 moral No geral, nds, progressistas, provavelmente nao nos conhecemos do bem, € com tanta certeza, como aS pessoas se conheciam antigamente, embora pos mos perceber mais aspectos do outro do que elas percebiam, © reconhecamos no outro um conjunto maior de possibilidades (inclusive a possibilidade de seguir em frente). Ficamos mais sozinhos que as pes- soas ficavam no passado, por falta le -vizinhas eam quem possamos contar, de parentes que morem perto 20 ‘08 com os quais tenhamos um selacionamento inti mo, de companheiros do trabalho ou dos movimen- tos. Essa é a verdade da primeira tese comunitarista. Precisamos agora determinar os limites dessa verda- de, procurande © que hé de verdadeiro no segundo argumento. Em sua versio mais vulgar, o segundo argumento =o de que, ny funde, sous crtauras de comunicla- de ~ € certamente verdadeiro, embora tenha uma im- portancia duvidosa. Os vinculos de lugar, de classe ou status, de familia € até mesmo politicos sobrevivem as Quatro Mobilidades cle uma forma adminivel. Para citar apenas um exemplo da tiltima das quatro: conti- hua sendo verdade, mesmo nesta que é a mais libe- ral € mével das sociedades, que © melhor indicador de como as pessoas irio votar é saber como seus pais votaram®. Todos esses jovens republicanos e demo- cratas que obedientemente imitam os pais demonstram © fracasso lo liberalismo em fazer da independéncia ou da imprevisibilidacle de pensamento a marca regis- tracla de seus simpatizantes. O valor de previsao do comportamento dos pais aplica-se até mesmo aos eleitores independentes: eles simplesmente herdam sua independéncia. Mas no sabemos até que ponto esse tipo de heranga é um recurso comunal cada vez mais escasso; pode ser que cada geracdo transmita menos do que recebeu. A liberalizacao plena da ordem social, a producao e a reproduicao de individuos 2uro- inventados, pode ser lenta, muito mais lenta, na ver dade, do que os prdptios liberais esperavam. Todavia, nao hd muito consolo, aqui, para os criticos comuni- 10. Ver A. Camphell eral The Amorica Vator (Nea Yorks Wi ley, 1960), pp. 147-8 a taristas; embora consigam reconhecer ¢ valorizar a sobrevivéncia dos estilos de vida mais antigos, nao podem contar com a vitalidade deles - ¢ além disso devem se sentir ansiosos em relagio a eles. Mas existe uma outra abordagem da verdade do segundo argumento critico. Qualquer que seja o al- cance das Quatro Mobilidades, elas nao parecem nos separar tanto a ponto de nos impedir de conversar, Muitas vezes discordamos, é claro, mas discordamas de manciras mutuamente compreensiveis. Penso que € bastante evidente que as contioversias filosoficas que Maclntyre lamenta nao sao, de fato, um sinal de incoeréncia social. Onde hi filésofos, ha controversias, sim como onde ha cavaleiros hi torneios. Mas es- las sao atividades alamente ritualizacas, que com- provam 0 vinculo, nao a dissociaeao, de seus prota- gonistas, Mesmo 0 conflito politica nas sociedades li- berais raramente assume formas extremas a ponto de situar seus protagonistas além da negociagao e do acorrln, da jnstica processual e da propria pocoibilida de do ciscurso. A luta pelos direitos civis nos Estados Unidos é um bom exemplo de conflito em relacio a0 qual nossa linguagem moral e politica era, e é, intei- ramente adequada. O fato de que a luta alcancou ape- nas um €xito parcial nao reflete uma inadequacio lingitistica, mas sim fracassos e derrotas politicos. Os discursos dle Martin Luther King evocavam uma tadic’o palpavel, um tal conjunto ce valores comuns que a discordancia publica so podia se con- centrar na maneira pela qual (ou na velocidade com que) aqueles cliscursos poderiam se tomar realidad": 11, Vera evocagio de Martin Luther King em Bellah et al, Ha. bits ofthe Hear, pp. 249, 252, m2 Mas essa nfio 6 por assim dizer, uma tradigao tradi cionalista, uma tradigao Gemeinschafi*, uma sobrevi- véncia do passado pré-liberal. Ela é, sem davida, uma tradigao liberal modificada por diferentes tipos de so- brevivéncia, As modificagdes tém um carter mais ob- viamente protestante € republicano, embora nao sejam, de modo algum, exclusivamente desse tipo. Os anos de imigragao macica touxeram consigo uma grande va- riedade de memrias étnicas € religiosas que iiam influenciar 2 politica americana, O que elas mais in- fluenciam, contudo, € o liberalismo, A linguagem dos direitos individuais — a associagao voluntaria, 0 plura- lismo, a tolerancia, a separacao, a privacidade, a liber- dade de expressao, a cameira aberta aos talentos € as- sim por diante — & simplesmente inescapavel. Quem, dentre nés, tentaria seriamente fugir dela? Se somos realmente “cus” situados, como afirma a segunda cri tica comunitarista, entio nossa situacao €, em grande medida, captada por esse vor € aver cade da segunda critica. Faz sentido, portanto, afirmar que © liberalismo nos impede de compreender ou manter o¢ lagoe que nos unem? Faz algum sentido, porque 0 liberalismo € uma doutrina estranha, que parece minar-se continuamen- te, desprezar suas proprias tradicbes € criar, em cada geraclo, esperancas renovadas de uma libertagao ain- ‘da mais absoluta da hist6ria e da sociedade, Muito da teoria politica liberal, de Locke a Rawis, representa um, esforco no sentido de fixar e estabilizar a doutrina de modo que se ponha um fim a infinita libertagao libe- ral. Mas para além de cada versao atual do liberalismo ibulario, E Definida pela solicarisdade que se haseis nas fidelidades sinidades. (N. daT) 223 existe sempre um superliberalismo, que, como diz Ro- berto Unger a respeito de sua propria doutrina, “im- pulsiona as premissas liberais sobre 0 Estado ¢ a socie- dadle, sobre a libertacao, através da vontade, da depen- dencia e do controle das relacdes socials, até © ponto em que elas se fundem numa ambigao maior: a cons- trugao de um mundo social menos hostil a um eu que sempre pode violar as regras geradoras de seus préprins cnastmictos mentais ou sociais"”. Embora Unger tenha sido identificado como um comunitaris- ta, essa ambiclo ~ grande, com efeito! ~ parece desti- nada a impedir nao apenas qualquer estabilizagio da doutrina liberal, mas também qualquer recuperacao ou criagaio de comunidade. Pois uma comunidade que nao seja hostil ao et eternamente transgressor é inima- gindvel, Se 08 lagos que nos unem nao nos unirem, nao pode haver nada parecido com uma comunida- de, Scja ld 0 que for, 0 comunitarisme € antitético & transgressao, E 0 cu iransgressor € antitético até mes. mo a comunidade liberal que v ria © patrocina’. © liberalismo € uma doutrina auto-subversiva; por esse motvo, realmente exlye correyoes Cummunitaris- tas periodicas. Mas nto € uma forma particularmente il de correcao afirmar que o liberalismo € literalmen- te incoerente ou que passa ser substituile por algu- 12, Roberto Mangabeita Unger, The Critical Lenal Studies Move- mens (Cagbaidge, Mass: Harvard University Press, 1986), ps 15. Ch Bulf Coat (Robert Frerarl) nos Debates Putney: “Fos ‘sem quis fossemt a5 esperancas © compromissos gue me vineulas- sein, caso Deus viewe a revelarse eU as remperia prontamente, ain- ddi que 3 razio de cem por dia.” Bm A. S. P, Woodhouse (org), Pu ruavuism and Libeny (Londres: J. M. Dent and Sons, 1938), p. 34 Seria Buff Coat o pimeto supertiberal ou Unger um santo puritan dos ukimos dias? 224 ma comunidade pré-liberal ou antiliberal que esta & espera logo abaixo da superficie ou logo além do ho- rizonte, Nao existe nada a espera; os comunitaristas americanos iém de reconhecer que nao ha nada la fora além de eus liberais independentes, investidos de di- reitos, espontaneamente associados € que se expres: sam livremente. Seria bom, contudo, se pudéssemos ensinar esses eus a conhever-se como seres soctais, 0 produto hiswOrico dos valores liberals e, em parte, a encarnagao desses valores, Pois a correco comunita- tista do liberalismo nio pode ser outra coisa senio um reforgo seletive desses mesmos valores, ou, usan- do a célebre expressao de Michael Oakeshott, uma busca das sugestoes de comunidade neles contidas. Vv Essa busca se inicia com a idéia liberal da asso- ciagfo voluntiria, que nfio me parece ser bem com. preendida nem pelos liberais nem por seus criticos comunitaristas. Tanto na teoria quanto na pritica, 0 liberalismo expressa fortes tendéncias associativas pa- ralelamente a suas tendéncias dissociativas: seus pro- tagonistas formam geupos e desligam-se deles; ade- rem e renunciam, casam-se e divorciam-se. Nao obs- tunte, € um erro, € uum erro tipicamente liberal, crer que 8 padrdes dle associagao existentes sejam inteiramen- te, Ou mesmo em grande medida, voluntarios e con- traluais, ou seja, ta0-somente produtos da vontade. Numa sociedade Liberal, assim como em todas as outras sociedades, as pessoas nascem em certos tipos de ‘grupo muito importantes, nascem com identidades, ho- mem ou mulher, por exemplo, ou membros da classe 25 trabalhadora, catélicos ou judeus, negros, democratas ¢ assim por diante. Muitas de suas futuras associa- s6cs (como suas futuras carreiras) simplesmente ex- pressam essas identidades subjacentes, as quais, repi- to, nao sdo exatamente escolhidas, © sim impostas'' liberalismo caracteriza-se menes pela liberdade de formar grupos com base nessas identidades que pela liberdade de deixar esses grupos ¢, por vezes, até mes- mo essay fdentidades paia vas. Na sociedad liberal, a associagao sempre corre perigo. As fronteiras do grupo nao sao policiad: vém ¢ Yao, ou apenas desaparecem ao longe, sem jamais chegar a admitir completamente que 0 deixaram. E por isso que © hiberalismo € assolado por problemas com os “ca~ ronas” — pessoas que continuam a beneficiarse da fi- liagao e da identidade, embora nao mais pasticipem das atividades que geram esses beneficios”. © comu- nitarismo, em contraposicao, ¢ 0 sonho de uma per- feita auséncia de “carona’ Em sua melhor versao, a sociedade liberal ¢ “a uniio social de uniées sociais” descrita por John Rawis: um pluralismo de grupos ligados por ideras compart- Ihadas de tolerincia e democracia". Mas, s€ todos os aS pesst 14, Nio pretendo apresentar aqui um argumento determinista Movemo-nos dentro de mundos herdados porque achamos esses mundos confortave’s € até propicios & melboria de vic; mas tam- bem os deixamos epuanclo achamos que 0 espaco nito é suficiente ~ co liberalismo torna a safda muito mais fac do que ens nas socieda- des pré-liberais: 15, Descrevo como os “earonas" atuam nos grupos éinices em “pluralism: A Political Perspective’, na Hareard Encyclopedia of American Fibnic Groups, Stephan Thernstrom (org) (Cambndge, ‘Mass.: Harvard Universi: Press, 1980), pp- 7817, 16. John Rawls, 1 /beony of justice (Cambridge, Mass; Harvard Universsy Press, 1971), pp. 527 38 226 grupos forem precarios e estiverem continuamente 4 beira da dissolucao ou do abandono, a uniao maior também seri fraca e vulnerivel. Ou, entio, seus lide- res € funcionarios serio levados a compensat em ou- tros lugares os fracassos da associacéo através do for- talecimento de sua propria unio, ou seja, 0 Estado central, para além dos limites que o liberalismo esta- beleceu, Esses limites geralmente so identificados com os direitos individuais e as liberdades civis, mas também incluem um preceito de neutralidade estatal. A vida feliz € buscada pelos individuos ¢ patrocinacls pelos grupos; 0 Estado preside a busca e o patroci- nio, mas nao participa de nenhum dos dois. Presidir € algo de carter singular; buscar © patrocinar sao plu- rais, Por conseguinte, € uma questio critica para a teo- ia € a pritica liberais saber se as paixdes € energias associativas das pessoas comuns terdo uma probabili dade, a longo prazo, de sobreviver 4s Quatro Mobilida- des e de demonstrar que so suficientes para as exi- géncias do pluralismo, Ha, no minimo. alguns sinais de que clas se mostraiao insuficientes — sem uma certa ajuda. Mas, pata repetir uma antiga pergunia, de onde Vir nesso socoro” Algumas das unides sociais exis- tentes vivem esperando pela assisténcia divina, Quanto a0 restante, podemos apenas ajudar-nos uns aos Ou- tros, ¢ a agéncia através da qual esse tipo de ajuda vem mais prontamente & 0 Estado, Mas que tipo de Es- tado promove as atividades associativas? Que tipo de Unitio social é essa que inclui, sem incorporar, uma va- riedade enorme discordante de unides sociais? Obviamente, é um Estado liberal ¢ uma unidio s0- cial; qualquer outto tipo & perigoso demais tanto para Referéncia ao Salmo 121, (N. dat.) 27 as comunidades quanto para os individuos, Seria uma alitude estranha argumentar, em nome do comunita- rismo, em defesa de um Estado alternativo, pois isso significaria argumentar contra nossas. prGprias tradi- goes politicas € repudiar todo tipo de comunidade que jf vemos. Mas a correcao comunitarista requer, um certo tipo de Fstade Hheral — canceituaimen te, embora nao historicamente, incomum: um Estado que seja, a0 menos sobre parte do territério da sobe- Fania, deliberadamente nao-neutro, © argumento libe- ral convencional em defesa da neutralidacke é induzido pela fragmentacio social, Uma ver que os individuos dissociados nunca chegam a um acordo quanto ao que € uma vida feliz, 0 Esiado deve lhes permitir ver da maneira que acharem melhor, sujeitos apenas ao principio do dano de John Stuart Mill, sem endos- Sar ou patrocinar nenhim entendimento particular do significado de “melhor’. Mas existe um problema aqui: quanto mais dissociados so os individuos, mais forte tende a scr o Estado, uma ver que cate seta Gnica ou a mais importante unio social. E, por con- seguinte, a filiagiio 20 Estado, 0 nico bem comparti- Ihado por todos os individuos, poder muito bem ser percebida como “o melhor’ bem. Basta repetit a primeira critica comunitarista, que ela provaca uma resposta como a da segunda critica: ade que 0 Estado nao é, na verdade, a tinica uniaio social €, para as pessoas comuns com suas vidas co- muns, nem mesmo a mais importante, Todos os tipos de grupos continuam a existir, a dar forma e propésito as vidas de seus membros, apesar do triunfo dos di- reitos individuais, das Quatro Mobilidades em que esse ulunfo se manifesta e da “carona” que torna pos- sivel. Mas esses grupos esto permaneniemente em 228 petigo. E, portanto, 0 Estado, se quiser continuar sendo um Estado liberal, devera endossar e patroci- nar alguns deles, a saber, aqueles que tém uma pro- babilicade maior de fornecer modelos ¢ objetivos compaifveis com os valores compartithados de uma sociedade liberal”, Sem duivida, aqui também existem problemas, ¢ nao pretendo negar sua dificuldade, Mas nao vejo como evitar uma formulago dessas — € no ‘apenas por motivos te6ricos. A historia real dos me Ihores Estados liberais, assim como dos melhores Es- tados socialdemocratas (e estes tendem a ser, cada vez mais, 08 mesmos Estaclos), indica que eles se com- poriam exatamente dessa forma, embora, muitas ve- ze8, (le maneira muito inadequada. Quero citar trés exemplos relativamente familia- res dle comportamento estatal desse tipo. Em primeiro lugar, a Lei Wagner dos anos 1930: ela nao foi uma lei liberal convencional que simplesmente impedisse 08 obsticulos a organizacio sindical, pois promoveu ativamente 2 organizacao sindical e 0 fez precisa- mente 20 resolver 0 problema dos “caronas”, Ao exigit acordlos coletivos toda vez. que houvesse apoio majo- ritirio (mas nao necessariamente unanime) aos sindli- catos e, em seguida, 20 permitir a existéncia de seto- Tes em que $6 0s trabalhadores sindicalizados pudes- sem ser contratados, a Lei Wagner patrocinou a criagao de sindicatos fortes, capazes, pelo menos até um cer- to ponto, de determinar 0 modelo das relagoes in- dustriais E claro que nao poderia haver sindicatos 17, Ver o argumento em delesa de um *perfeccionismo” modes- 10 fem ver da neutralidace) em Joseph Raz, The Morality of Freedion (Oxforc: Clarendon Press, 1986), caps. 5 € 6 16. Irving Demis, Tierbulens Nears Tisiory of we amer= an Worker, 1935-1941 (Hoston: Houghton Milli, 1970), cap. 7 209 fortes sem a solidariedade da classe wabalhador sindicalizagio € parasita de comunidades jé existen- tes, bayeadlas no sentimento € na crenga, Mas essas co- munidades jf estavam sendo corrofdas pelas quatro mobilidades quando a Lei Wagner foi aprovada; por- tanto, a lei servi para contrabalangar as tendénckas dissociativas da sociedade liberal. Ela era, nao ohs- lante, uma lei liberal, pois os sindicatos que ajudou a criar melhoraram a vida de cada trabalhador e, de acordo com os principies liberais, ficaram sujeitas a dissolugao e 20 abandono, caso interrompessem es- sas methorias. © segundo exemplo é 0 uso de isengdes de im- postos e de transferéncia casada de dinheiro dos impos les para permilir que diferentes grupos religiosos mantenham amplos sistemas de creches, zsilos, hos- pitais © assim por diante — sociedades assistenciais dentro do Estado assistencial, Nao finjo crer que es- sas sociedades privadas e pluralistas compensem a coniligio lastimavel clo Estado de bem estar america no. Mas ao tomé-la uma funcao mais imediata da s0- lidariedade comunal elas melhoram, sim, a distribui dos servigos, Nesse caso, © papel do Estado, além de estabelecer padres minimos, € minimizar, uma vez que nao pode resolver inteiramente, 0 problema dos “caronas”. Se alguns homens e mulheres acabam indo para um asilo catdlico, embora jamais tenham contri- buido para uma instituicao de caridacle catélica, terto, pelo menos, pagado seus impostos. Mas por que nao ‘nacionalizar todo o sistema de asistencia social e aca- bar com os “carnas’? A resposta liberal € que a uniao social cle unides sociais deve sempre operar em dois niveis: un sistema de beurestar mando tmetramen- te por associagdes particulares sem fins lucrativos se- 230 ria perigosamente inadequado e injusto em sua co- bertura; € um sistema totalmente nacionalizado impe- diria que as solidariedades Jocais € particularistas se expressassem”. © terceira exemplo é 2 aprovacio de leis que controlam 0 fechamento de fabricas, leis essas dest nadas a garantir alguma proteg’o As comunidades lo- cais de trabalhadores e moradores. Os habitantes fie cam protegidos, embora apenas por um certo tempo, contra a pressio do mercado para mudar de seu anti go baitro € procurar trabalho em outro lugar. Embora © mercado “precise” de uma forga de trabalho alta- mente mével, 0 Estado leva outras necessidades em consideragio; mo apenas de maneira assistencialista (através do seguro-desemprego ¢ de programas de retreinamento no trabalho), mas também de maneira comunitarista. © Estado, porém, nao esté comprome- ido da mesma forma com a preservacao de todas as comunidades de bairro, Eke € inieiramente neutro quan- lo 2s comunidades etnicas € de residencia, € nao ofe- rece nenhuma protecdo contra os esiranhos que de- sejam mudar-se para uma delas. Nesse caso, a mobi- lidade geografica continua sendo um valor positivo, um dos direitos dos cidadaos. Os sindicatos, as onganizacdes religiosas € os bair- ros baseiam-se em sentimentos e crengas que, em principio, embora nem sempre historicamente, prece~ dem 0 surgimento do Estado liberal. Nao sei dizer quio forte sio esses sentimentos © crengas, tampou- co qual seria seu valor de sobrevivéncia. Teriam 08 19, Ver meu ensaio "Socializing the Wellare State’. em Amy Gutmann, Democracy and the Woljare State Princeton Princeton ‘University Press, 1993), pp. 13-26, Bi sindicatos estabelecido tal controle sobre a imagina- ‘co de seus membros a ponto de criar boas hist6rias? Ha algumas boas hist6rias, primeiramente contadas, depois recontadas ¢, as vezes, até revividas. Mas sua linha narrativa ndo parece suficientemente atraente para os trabalhadores jovens a ponto de sustentar algo parecido com a antiga solidariedade da classe traba- Thadora. Também nao basta, para uma organizacao re- ligiosa, oferecer servigos 2 seus membros durante to- das as etapas da vida, se eles nao esto mais interes: sados nos servicos religiosos. Nem os bairros ficam a salvo da pressdo do mercado por muito tempo. Ain- da assim, os sentimentos € as crengas comunais pace- cem consideravelmente mais estiveis do que pens. vamos que seriam, € a proliferacao das associagoes secundarias na sociedade liberal € notdvel ~ ainda que algumas delas tenham vida curta ¢ filiagdes passagei- ras. Percebe-se que as pessoas atuam juntas € tentam lutar, e ndo apenas, como sugere a primeira critica co- munitarista, s2 viram sorinhas, solivirias, uma a uma. VI Um genuino Estado liberal (ou socialdemocrata) aumenta as possibilidades dle luta cooperativa. Joha Dewey apresentou um. proveitoso balango desse tipo de Estado em The Public and Its Problems. Publicado em 1927, 0 livro € um comentario sobre uma rodada anterior da exftica comunitarista, bem como um endos- so parcial deka, Dewey partilhaya com os criticos de seu tempo — os quais se autodenominavam “plu- talistan® — de uma prevcupacdo com o Betado sobe- rano, mas ago tanto quanto 4 maioria deles. Ele tam- 232 bém partilhava de sua admiracdo pelo que chamava de “agrupamentos primarios? dentro do Estado, mas mostravarse mais inclinado que os pluralistas a mo- derar sua admiragito, Os agrupamentos primiirios, es- ereveu, sio “bons, maus e indiferentes", e nao conse- guem, pelo simples fato de existirem, fixar os limites da atividade estatal, O Estado nao € “apenas um arbi- tro com a fungay de evitar © reparar OS abusos le um grupo sobre o outro”, Ele tem uma funcao mais am- pla: “torna a associacao desejavel mais sdlida e mais coerente.., impOe restricdes sobre os grupos prejudi- ciais ¢ toma precdria sua garantia de vida... lel ci acs membros indivicluais das associagdes valorizaclas maior liberdade € seguranca; ele os liberta dos empecilhos... permite que cada filiado saiba 0 que os outros fario, com uma dose razoavel de cereza”®. Embora pos. sam parecer tarefas extensas demais para um Estado liberal, clas sao coibidas pela fixagao constitucional dos direitos indlividuais — que sao, eles proprios (numa percepedo pragmatica), mio tanto um reconhecimen- 10 do que 0s indivicuuos so ou possuem por nature- Za, mas manifestacoes de esperanga quanto ao que SeTiO € farO. A nao ser que os indlividuos atuem jun- tos de determinadas maneiras, a acdo estatal do tipo recomendado por Dewey nao poce comecar, Quan- do reconhecemos 0 “direito dos cidadaos de reunir- se pacificamente’, por exemplo, esperamos que haja assembléias de cidaclaos. Se, em seguida, fazemos disctiminagées entic esas assembléias, agimes assim dentro de certos limites, promovendo apenas aquelas que realmente expressam comunidades de sentimen- 20. Ichn Dewey. The Publir raid te Droblome (Athens, Ohio. Swallow Press, 1985), pp. 71-2 233, fo € crenga € que no violam os prinefpios liberais da associacao Costuma-se afirmar atualmente que o Estado nao- neutro, cujas atividades procurei, de alguma forma, justificar, deve ser compreendido em termos republi- canos. O renascimento do republicanismo neocléss co fornece grande parte do material da politica co- munitarista contempornea. Esse renascimento, devo dizer, é basicamente académico; diferentemente de outtas yersdes do comunitarismo do tempo de Dewey e do nosso, ele nao tem nenhuma referéncia externa, Realmente existem sindicatos, igrejas ¢ baittos na so- ciedade americana, mas praticamente nao ha exem- plos de associagdes republicanas ou de movimentos ou partidos que visem promover esse tipo de asso- ciacio, Dewey provayelmente nao reconheceria seu *pdblico”, nem Rawls sua “unio social", como uma versio do republicanismo, no minimo porque em ambos os casos a energia ¢ © comprometimento fo- ram drenados da associscdo especifica @ estritamente politica ¢ uansferidos para as associagdes mais diver- sas da sociedade civil. O republicanismo, a0 contrario, € uma doutrina integrada © univéria, na qual a energia © © Comprometimento concentram-se principalmente na esfera politica. uma doutrina adaptada (nus for- mas dlissica ¢ ncoclassica) as necessidades das co- munidades pequenas ¢ homogéneas, nas quais a so- ciedade civil € radicalmente indiferenciada, ‘Talvez a doutrina possa ser ampliada para responder por uma “repiiblica de repiblicas”, uma revistio descentraliza- da e participativa da democracia liberal. Um fortaleci mento considerivel dos governos locais seria entio necessirio, na esperanga de estimular o decenvolvi mento € a demonstracao das virtudes civieas numa va- 28 riedade pluralista de cenérios sociais. Essa €, de fato, uma busca das sugestées de comunidade no interior do liberalismo, pois tem mais a ver com John Stuart Mill que com Rousseau, Agora devemos imaginar 0 Es- lado nao-neutro fortalecendo as metrspoles, as cida- Ces € 0s distritos administrativos; promovendo os co- mites de baitro ¢ as juntas de fiscalizacao; e sempre a Procura de grupos de cidaclos prontas pari respan- sabilizar-se pelos assuntos locais", Nada disso representa uma garantia contra a ero- sio das comunidades subjacentes ou a morte das fi delidades locais. © fato de as comunidades estarem sempre em perigo € una quesiao de principio, E o grande paradoxo de uma sociedade liberal € que ninguém pode posicionar-se contra esse principio sem também posicionar-se contra as priticas tradicio nais ¢ os acordos compartilhadas dla sociedade. Nes te caso, 0 respeito pela tradicao requer a precarieda de do tradicionalismo. Se a primeira critica comunita- rista fosse inteiramente verdladeira, se ndo houvesse nem comunidacles nem trarlicaes, eniio poderiames simplesmente passar a criar novas comunidades ¢ tra digoes. Na medida em que a segunda critica é, ainda 21. E provivel que esse Epo de republicanismo pluralista tame bhém favoroga as perspectivas do que charnei de “iguckdade comple xa em Spheres of fustico (Nova York: Basic Books, 1983) {Tad, Leos 4s exforus da justea, S20 Paulo, Natins Fentes, 2063.) Nao posse Prosseguir com essa questio neste momento, mas yale notar que la {o 0 liberalsmo quanto 0 comunitarismo pedernassumit onus ia ‘as, ndo-igualiiias ou anuiigualianas, Da mesma forma, 4 come. $20 comanitarista do libersismo pode fortalecer as unui esta ddadles das manciras traclicionais de vida ou neuitralizar as novas desi Bualdades do mercado liberal ¢ do Estado burocritico. Embora nao S* poss de modo algum, afirmé-to com conera, & provivel que # Teepillies dae repSblicns’ tenia v segundo po de consealench: 25 ue parcialmente, correta, ¢ 0 trabalho da invencio Comunal esta bem iniciado ¢ em progresso continuo, devemos nos contentar com os tipos de correcdes melhorias descritas por Dewey — as quais seriam, na verladle, mais radicais do que esses termos suigerem, Vil Evitei, até agora, o que muitas vezes € considerada @ questdo central entre os liberais € seus criticos co- munitaristas — a constituigao do eu”, Costuma-se dizer que © liberalismo tem seu fundamento na idéia de um eu pré-social, um indis ério, e As vezes ‘duo soli herdico, em confronto com a sociedade ¢ que estava plenamente constituido antes do inicio dese con- fronto. Os criticos comunitaristas em seguida afirmam Que, em primeizo lugar, a instabilidade © a dissociagio 'o a verdadeira e desalentadora conquista de indivi. ‘iuos desee tipo, © que, cut segundo ligar, no pode realmente haver ninguém assim, Dos criticos, por sua ver, costuma-se dizer que crem num eu racicalmente Socializado, que no pode jamais “confrontar’ a socie- clade porque esti, desde © principio, nela entranhado © € a propria encarnagio dos valores sociais. Embora essa discordincia pareca bastante aguda, na pritica, de fato, niio é, em absoluto — pois nenhum desses pon. tos de vista pode ser defendido por muito tempo por alguém que deseje ir além da tomada de posicées 22, Essa questio « upresentada cruamente er Michael Sandel, Liberalism and the Limits of Jusice (Canibrige: Cambridge Univer, ‘ity Treas, 1962); grande parte da discussio recente comenta ou de bate 0 livro de Sandel, 236 tente elaborar uma tese®, Nem as teorias liberal co: munitarista exigem esse tipo de ponto de vista. Os liberais contemporaneos nto estio comprometidos com um eu pré-social, mas apenas com um cu capaz de refletir criticamente sobre os valores que influen- ciaram sua socializacdo; ¢ 08 criticos comunitaristas, que estio fazendo exatamente isso, dificilmente po- derio afirmar que a socializacao é tudo. As questoes filoséficas ¢ psicolégicas aqui envolvidas s80 muito profundas, mas, no que diz respeito a politica, ha pouco a ser ganho nesse campo de batalha; as con- cesses dlo outro lado vem ficil demais para serem consideradas vitGrias A questo central para a teoria politica nao € @ constituigio do eu, mas sim o vinculo entre os eus constitufdos, 0 padrao das relagdes sociais. © melhor € compreender o liberalismo como uma teoria do tela- cionamento, que tem a associagao voluntéria em seu niicleo € que interpreta a voluntariedade como © d reito de rupiura. ou afastamento. O que toma “volun- Hario” tim casamenta # 4 possibilidade permanente do divorcio. O que torna qualquer identidade ou filiagao yoluntrias ¢ a disponibilidade facil de identidades e filiacdes altemativas. Porém, quanto maior for essa fa- cilidade, menos estéveis tenderao a ser todos os nos- sos relacionamentos, AS Quatro Mobilidades se instalam € a sociedade parece estar em perpétuo movimento, de forma que o verdadeiro tema da pritica liberal, por assim dizer, nao € um eu pré-social, mas sim um eu pos-social, finalmente livre de tudo, exceto das alian- as mais efémeras ¢ limitadas. Ora, o eu liberal refle- 23, Ver Will Kymlicka, “Liberalism and Communitarianism", Cae nacdian Joursrel af Philosophy Guuslos te 1988). 181-204 237 te a fragmentacio da sociedade liberal: € radicalmente indeterminado € dividido, forgado @ seinventarse para cada ocasiao publica, Alguns liberais comemoram essa liberdade © auto-invencdo; todas os comunitaristas la- mentam 2 sua chegada, mesmo enquanto insistem que nao € uma condi¢o humana possivel. Afirmei que, na medida em que o liberalismo pende para a instabilidade @ a dissoriacan, ele exige uma correcao comunitarista periddica. A “unido so- cial de unioes sociais” de Rawls reflete e consir6i-se sobre uma comregio anterior desse tipo, a obra de au- Tores americanos como Dewey, Randolph Bourne ¢ Horace Kallen, Rawls nos deu uma versio generali- zada do argumento de Kallen que diz que, apés as grandes imigracdes, os Estados Unidos eram e deveriam continuar sendo uma “nagio de nacionalidades™. Na verdade, porém, apesar de renascimentos €nicos in- termitentes como os do fina! dos anos 1960 ¢ 1970, a erosio da nacionalidade parece ser uma caracteristica la vida social liberal. Podemos, a partir disso, fazer uma generalizagio que aponte para © cnfiaqueci- mento mais ou menos estivel de todos os lagos sub- jacentes que tomam as unides sociais possiveis, Nao existe uma solugio vigorosa ou permanente para o enfraquecimento comunal, exceto uma redugio anti liberal das Quatro Mobilidades e dos direitos de rup- tura e divércio sobre os quais elas se baseiam. Os co- munitaristas sonham, as vezes, com essa redugic, mas raramente a defendem. A Gnica comunidade que a maioria deles realmente conhece, afinal, é somente essa uniao liberal de unides, sempre precétia e sem- 24, Horace Kallen, Culture aind Democracy tn the United States ‘oyoya rorke Bom ard Livengnt, 1920), 238 pre em perigo, Eles nao podem vencer esse liberalis- mo; podem apenas, de vez em quando, fortalecer suas capacidades associativas internas. O fortalecimenta é apenas temporitio, pois a capacidade de dissociacao também esti fortemente internalizada € € altamente valorizada. E por isso que a critica comunitarista esti condenada - © que provavelmente nao é um destino tao tenivel ~ a elena recorrencia, ADECIMENTOS Os capitules 1, 2 € 6 foram originalmente apresen- tados nas Palestras Max Horkheimer da Jobann Wolf- gang Goethe Universitit de Frankfurt, Alemanha, € pur blicados em alemio pela Fischer Tashenbuch Verlag sob 0 titulo Vernunft, Politik und Leidenschaf?, em 1999. Lima versio anterior do Capitulo 3 foi apresen- tuda como uma palestra no Tai Hai Academic College, em Israel, € publicacla em hebraico numa coletanea or. ganizaca por Ohad Nachtomy: Muiticulturalism in the braeli Context (Jerusalém: Magnes Press, 2003); uma versio revisada e muito mais extensa aparcceu em Forms of Justice: Critical Perspectives on David Miller's Potitical Philosophy, organiada por Daniel A. Bell « Avner de-Shalit (Lanham, Md.: Rowman and Littlefield, 2003). O Capitulo 4 foi originalmente escrito para uma conferéncia clo Ethikon Institute © publicado em Alter native Conceptions of Civil Society, organizado por Si- mone Chambers ¢ Will Kymlicka (Princeton. Prinecton University Press, 2002). O Capitulo 5 também apareceu

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