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. i O. nascimento das fdbricas Exar de Decca ecmteaceueen Dentre as utopias criadas a partir do século XVI, a lonficagao da sociedade do mabalho foi a que se realizow mais desgracadamente... Ulerapassando « imagem cristalizcada que 0 pensamento do século XIX produgta sobre a fabrica, reduzindo-a & um acontecimento temoldgico, 0 autor.reencontra a fabrica em todas os lugares ‘g momentos onde esteve presente uma intengao de organizar e disciplinar o trabalho através de uma sujeigéo completa da figura do proprio trabalhador. seis snes ISBN 95-11-02081-9 ere brasiliense Copyright @ by Edgar Salvadori de Decea, 1962 Nenhuma parte desta publicagao pode ser avavada, armazenada em sistemas eieirOnieas, forcopiada, reproduzida por meios mecdnicos ou outros quaisquer ‘som aulorizagac prévia do editor ISBN: 85-11-02051-9 ‘Prmeira edicaa, 1962 10% edigo, 1995 4 reimpreséo, 2004 Revisdi: Newton T. L. Sodrée Jolio D. Gaspar Capa: 123 (antigo 27) Anistas Graficos Dadas Internacionais de Catalogago na Publicagao (CIP) (Camara Brasilaira do Livra, SP Brasil) Dece, Scigar Salvador de (O nascimento-das tabrieas / Edgar Sahadori de Deoca.— ‘SSe Paulo : Brasibonsa, 2006. ‘8 impr 1a 10. ed. de 1985. iogralia ISBN 85.11-02051-9 1 Fébeicas - Historia 1. Tito, ae-ong2 c0e-338.478709 indices para catélogo sistematico: 1. Fébricas : Historias Economia 938476709 tora brasiliense sa. us Ais, 22- Tetuap« CEP 03610-010 - 880 Paulo -SP Fone/Fax: (Qi 1) 6198-1088 E-mail beasiiensaacit@ual.com be ‘wir-edltorebrasiionse, comm br livratla brasiliense s. Fue Erie Marengo, 216 »Tatuape - CEP 03806-000 « Si Paulo SP Fona/Fax (Oext1) 8875.0188 Introducao . ‘Nunca temos tempo parasonhar .... Uma maquina efabricaincrivel ..... A fabrica vitoriosa Indicagdes paraleitura .. morning just at five Gotta get up, dead or alive It's hard times in the mill, my love Hard times in the mill Every morning just at six Dor ' that ole bell make you sick? It's hard times in the mill, my love Hard times in the mill Ain ‘tit enough 1o break your heart? Have io work all day and at night it's dark Jt's hard times in the mill, my love Hard times in the mill (Caneo de rendeiros — Carolina do Sul — 1890) pees GE I I INTRODUCAO Dentre tedas as utopias criadas a partir do sé- culo XVI, nenhuma se realizou tac desgragadamente como a da sociedade do trabalho. Fabricas-prisées, fabricas-conventos, fibricas sem salario, que aos nossos olhos adquirem um aspecto caricatural, fo- ram sonhos realizados pelos patrdes e que tornaram possivel esse espetaculo atual da glorificagao do tra- balho. Para se ter uma idéia da forga dessas utopias realizadas impregnando todos os momentos da vida social a partir do século XVIII, basta considerarmos a transformagao positiva do significado verbal da pro- pria palavra trabalho, que até a época Moderna sem- pre foi sindnimo de penalizago e de cansagos insu- portaveis, de dor e de esforco extremo, de tal modo que a sua origem s6 poderia estar ligada a um estado extremo de miséria e pobreza. Seja a palayra latina € inglesa dabor, ou a francesa travail, ou grega ponos ou a alema Arbeit, todas elas, sem exceg30, assi- 8 Edgar Salvadori de Deeca O Nascimento das Fabricas nalam a dor eo esforgo inerentes & condigao do hhomem, e algumas como ponos e Arbeit ttm a mes- ma raiz. etmolégica que pabreza (penia e Armut em grego e alemAo, respectivamente). Essa transformacao moderna do significado da prépria palavra trabalho, em sua nova positividade, representou também © momento em que, a partir do século XVI, 0 proprio trabalho ascendeu da “mais humilde e desprezada posig&o ao nivel mais clevado ¢ A mais valorizada das atividades humanas, quando Locke descobriu que o trabalho era a fonte de toda a propriedade, Seguiu seu curso quando Adam Smith afirmou que trabalho era a fonte de toda a riqueza, © alcangou seu ponto culminante no ‘sistema de trabalho" de Marx onde o trabalho passou a ser a fonte de toda a produtividade e expresso da propria humanidade do homem” (Hannah Arendt, La Con- dicibn Humana, p. 139). ‘A dimensdo crucial dessa glorificagio do tra- balho encontrou suporte definitivo no surgimento da fabrica mecanizada, que se tornou a expresso su- prema dessa utopia realizada, alimentando, inclu- sive, as novas ilusdes de que a partir dela nado ha limites para a produtividade humana. Essa descoberta delirante da fabrica como Iu- ger, por exceléncia, no qual o trabalho pode se apre- sentar em toda a sua positividade nao sé alimentow as projecdes dos apologisias da sociedade burguesa, como também a de seus proprios critioos, na medida em que ela foi entendida como o momento de uma | liberagdio sem precedentes das forgas produtives da sociedade. Assim, a fabrica ae mesmo tempo que confirmava a potencialidade criadora do trabalho anunciava a dimensao ilimitada da produtividade humana através da maquinaria. Para esse pensamento movido pela erenga do poder ctiador do trabalho organizado, a presenca da maquina definiu de uma vez por todas a fabrica como o lugar da superagio das barreiras da propria condigdo humana. “A invengao da maquina a vapor e da maquina para trabalhar o algodio"’, escrevia Engels em 1844, ‘“‘deu lugar como ¢ sobejamente conhecide a uma Reyolugao Industrial, que trans- formou toda a sociedade civil.” Essa imagem crista- fizada ja no pensamento dos homens do século XIX apagou todo o percurso sinuoso da organizagio do trabalho da época Moderna, ao reduzir definitiv. mente a fabrica a um acontecimento tecnoldgico. Contudo, os ecos das resistncias dos homens pobres a se submeterem aos rigidos padroes do tra- balho organizado sao audiveis desde o século XVII & assinalam a presenga da fabrica a partir de um mar- co distinto daquele definido pelos pensadores do sé- culo XIX. ‘Aqueles primeires homens, que se viram cons- trangidos pela pregagio moral do tempo atil e do trabalho edificante, sentiram em todos os momentos de sua vida cotidiana o poder destrutivo desse navo prineipio normativo da sociedade. Sentiram na pra- pria pele a transformagao radical do conceito de trabalho, uma vez que essa nova positividade exigi do homem pobre a sua submissio completa ao man- ae EE = STN 10 Edgar Salvadori de Decca do do patrao Introjetar um reldgio moral no coragao de cada trabalhador foi a primeira vitoria da sociedade bur- guesa, e a fibrica apareceu desde logo como uma realidade estarrecedora onde esse tempo titil encon- trou osen ambiente natural, sem que qualquer modi- ficagao teenolégica tivesse sido necessaria. Foi através da porta da fabrica que o homem pobre, a partir do séeulo XVIII, foi introduzido ao mundo burgués. A reflexio que agora propomos visa ulirapassar NUNCA TEMOS a imagem cristalizada que o pensamento de século TEMPO PARA SONHAR XIX produziu sobre a fabrica, reduzindo-a a um acontecimento tecnolégico. Nossointuito 6 desfazer 0 manto da meméria da “Todas as pessoas que se encontram sraba- sociedade burguesa e reencontrar a fabrica em todas thando nos ter da i de mon os lugares e momentos onde esteve presente uma ‘ed sare msds web fd intengdo de organizar e disciplinar o trabalho através outro miador via de regra sdo pessoas cujas ‘familias foram destrufdas ¢ seus interesses ar- ruinados... tém a tendéncia de ir como peque- nas caldnias colonizar esses moinhos."" de uma sujeigfio completa da figura do proprio tra- balhador. Por isso, os leitores nfo devem se sur- preender quando no decorrer do texto encontrarem no engenho de agticar da colénia 0 esbogo da fabrica Inspetor governamental inglés (1834) que itia produzir o futuro operario europeu. Quando nos defrontamos hoje com a impossibi : lidade de criar situagdes de conhecimento que inter- rompam ou invertam a Idgica de um processo, desig nado real, podemos nos perguntar sobre os disposi- tivos que regem a ordem de dominio da sociedade. Sejamos explicitos desde o principio. Estamos fa- Jando, no casa, de uma incapacidade imposta a0 social, por ordem de um determinado dominio que 12 Edgar Salvadori de Decea O Nascimento das Fabricas B retira dos homens a prépria dimens%o do pensar, como algo além do ja dado. Dentro daquilo que nos interessa, determinadas respostas j@ so bastante conhecidas. Por exemplo, quando falamos da produgao de conhecimentos tée- nics que nao conseguem se impor socialmente, bus- camos a resposta, via de regra, no nivel do proprio mercado, Assim, uma tecnologia é ineficaz porque nao consegue romper a barreira da concorréncia im- posta por uma ordem implacavel. Nesse sentido, a conclusao é imediata. Nao existem outras tecnologias além daquelas conhecidas, porque 0 préprio mer- cado. se responsabiliza em eliminar as “menos efi- cazes”. Contudo, deveriamos ser menos ingénuos em quesides que colocam explicitamente em jogo as re~ lagdes de dominagdo social. Em outras palavras, as relagdes de mercado vao bem mais além do que as puras determinagdes econdmicas. O estabelecimento do mercado é também oestabelecimento de um dado registro do real, no qual os homens pensam ¢ agem conforme determinadas regras do jogo. Assim, © mercado nao s6 impde aos homens determinadas teenologias “eficazes”, como também impede que ihes seia possivel pensar outras tecnologias. Dai falarmos em impoténcia social. Nao é isto um mecanismo regulado por leis econdmicas do mer- cado, mas uma esfera de dominio social na qual os homens se véem impossibilitados de pensar além de registros que se impdem & vista de todos como uma ordem natural. Portanto, quando nos sentimes ineapazes de fa- bricar balas, por exemplo, nao significa imediata- mente que nfo tenhamos condigdes de impor téc- nicas de produg%o eficazes para a concorréncia no mercado. Um outro mecanismo antecede essa ilusdo. O que nos é vetado, antes de mais nada, é justa- mente a possibilidade de pensarmos 0 ato mesmo de poder fabricar balas. Alguma coisa jé se hipostasiou, ganhou aparéncia de “condigdes objetivas’’: 0 fa- bricar balas ji encontrou socialmente um determi- nado estatutoe, a nao ser para alguns espiritos recal- citrantes que insistem em fazer festas, balas devem ser reconhecidas como produto da eficiéneia de in- dustrias altamente conceituadas, segundo seus pa- drées de qualidade. Somos induzidos, entdo, a pensar dentro de uma légica definida, que nfo ¢ ditada por leis de mercado, mas sim regida por mecanismos sutis de controle social. Portanto, vejamos bem o que é esse pensar, pois ha nisso tudo um mado de pensar, pro- prio da esfera desse controle. Até agora nos referimos A possibilidade de emergéncia de saberes que inter- rompiam uma légica de identificagao social. Isto é, um ndo-saber, porque se situava na esfera daquilo que no poderia ser pensado. Pensar, portanto, é pensar segundo regras ja definidas, ¢ o seu contra- ponto, no nivel da sociedade, é justamente a impos- sibilidade de pensar além das regras. Portanto, ao falarmos em mercado ou em divi- sdo social do trabalho no estamos nos referindo & questio de maior ou menor produtividade do tra- I RY ETRE ET TS allo, mas sim A apropriacdo mesma dos saberes. 14 Edgar Salvadori de Decea O Nascimento das Fabricas Deve, assim, existir um mecanismo social no qual aquele que detém um saber se torna imprescindivel para a imposigao do proprio proceso de trabalho, ja que aos outros homens esta vetada a possibilidade desse saber. ‘Evidentemente, a solugao para este impasse nao éreivindicar um direito para todos produzirem ba- Jas, j4 que isto seria uma saida edulcorada para 0 problema. Contudo, até nisso ha uma dose de refle- xo. Como restituir aos homens saberes que lhes foram retirados e que hoje servem para reger uma ordem de dominio politico, técnico, cultural ete., que thes é estranha e antagdnica? Mas nao estamos aqui para oferecer respostas acabadas, Preocupemo-nos mais em levantar algu- mas questdes que permitam pensar a problematica da tecnologia para além dos estreitos limites impos- tos pela légica da eficdcia, da produtividade e da neutralidade. Pensamos, isto sim, na apreensiio do problema como uma estratégia de controle da socie- dade imposta por uma determinada classe no mo- mento mesmo do seu engendramento e afirmagao no mundo, Assim, conceber uma classe de capitalistas e uma sociedade capaz de se engendrar e ser engen- drada por ela supde, de inicio, registras determi- nados pelos quais se torne possivel a criagio de um munda. Isto é, a sociedade, para se tornar reconhe- cida por ela mesma, passa pelo imperative de insti- tuigdo de mecanismos capazes de identificd-la. Contudo, tais mecanismos que permitem esse reconhecimento supdem a imposigao de normas € valores préprios de determinados setores da socie- dade e que vio aparecer dotados de universalidade. Per exemplo, quando pensamos o desenvolvimento da ordem burguesa na seio da sociedade feudal, logo jmaginamos a instituigdo do mercado como esfera universalizante e universalizadora de uma nova or- dem que se imp6e. Essa imposictio de normas ¢ valores por um determinado setor da sociedade pode ser percebida decisivamente quando tomamos a nogdo de tempo iil, produzida pela ampliac&o da estera do mercado ¢ que nao sé disciplina a classe burguesa como tam- bém procura se introjetar no 2mbito da gente traba- Ihadora. Essa introjegao de um reldgio moral no corpo de cada homem demarca decisivamente os dis- positivos criados por uma nova classe em ascensao. ‘Autodisciplina, controle de si mesmo, critica A ocio- sidade, sio exigéncias imperiosas para 0 comerciante que se envolve na esfera do mercado. “Utilize cada um dos minutos como a coisa mais preciosa, E em- pregue-os todos no seu dever.” Pregacies desse tipo ou aquelas em que o tempo se relaciona com o di- nheiro nos mostram todo 0 artefato moral de uma classe de mercadores que se imp6e a si mesma os cri- térios de sua identificacio: “Recordai quiio recompensadora ¢ a Redengio do Tempo... no mereado, ou no comerciar; na lavoura ou em qualquer ccupagio remunera- dora; s6 nos resta dizer que 0 homem se torn: 18 16 Edgar Salvadori de Decca rico quando faz bom usa do seu tempo” (E. P. Thompson, Tiempo, Disciplina de Trabajo y Capitalismo, p. 280). ou entdo; “Observai as horas de intercAmbio, atendei aos mercados; ha €pocas especiais que serio favo- rdveis para despachar wossos negécios com faci- lidadee fartura;... as épocas de fazer ou receber bens n&o duram sempre" (E. P. Thompson, p. 281). Contudo, essa autodisciplina de uma classe de mercadores que afirma o seu lugar no mundo através da instituigdo do mercado aos poucos transforma-se em um artefato moral que procura prescrever uma nova diseiplina para a gente trabalhadora. Nessa medida, destinatario do discurso moralizante do tempo itil deixa de ser exclusivamente o mercador € acritica ociosidade procura atingir todas as esferas da sociedade. “Preguiga, silenciosa assassina, nae mais tenha minha mente aprisionada Nao me deixes nenhuma hora mais contigo, sono traidor (E. P, Thompson, p- 282). Essa mudanga de destinatatio do discurso mora- lizante do tempo titi] nos da a medida de come as idéias de uma classe dominante tornaram-se as idéias O Nascimento das Fabricas dominantes de toda a sociedade através de um persis- tente e minucioso trabalho de introjecao de novas normas¢ valores, isto é, pela introjegdo definitiva da imagem do tempo como moeda no mercado de tra- balho. “Posto que nosso tempo esta reduzido a um Padrao, e os Metais preciosos do dia acunhados em horas, os industriosos sabem empregar cada parcela de tempo em verdadeiro beneficio de suas diferentes profissdes; e aquele que € pro- digo com suas horas é, na realidade, um perdu- lario. Eu me recordo de uma mulher notavel, que era muito sensivel ao valor intrinseco do tempo. Seu marido fazia sapatos e era um exce- lente artesiio, mas no se preocupava com a pas- sagem dos minutos. Em vao ela inculcaya-lhe que Tempo é dinkeiro. Ele tinha muita destreza (habilidade) para compreendé-la, ¢ isto foi sua ruina, Quando estava na taverna com seus ocio- sos companheiros, se alguém observava que o re- légio havia tocado (dado) onze horas, ele dizia, © que ¢ isso para nds, companheiros? Se ela Ihe mandava um aviso por seu filho de que j& pas- sava das doze horas do dia, ele respondia, diz- Ihe que fique tranqiiila, que as horas nae podem ser mais. Se havia dado uma hora, ele ainda respondia, peca-lhe que se console, que nZo po- de ser menos’ (E. P. Thompson, p. 283). Entretanto, a instituigio do mercado também iW 8 Edgar Salvadori de Decca O.Nascimento das Fébricas 19 supse desde © principio a divisfo social do trabalho, ¢ portanto a afirmagao da classe burguesa. O met- cado iransforma-se, assim, em uma entidade uni- versal através da qual os homens se reconhecem 4 si préprios e se opdem a qualquer dispositivo imagi- nario que coloque a ordem social fora do ambito desse novo universo ‘Mas tenhamos cuidado com essas reflexdes. Se esse mercado designa 0 registro de real, pelo qual sociedade recomhece a si mesma, isto €, tornase 4 dimensio normativa a partir da qual os homens pen- sam ¢ agem, no devemos perder de vista que essa universalizagao que ocorre no interior do social re~ presenta, fandamentalmente, o modo pelo qual as idéias de uma classe dominante se tornam idéias dominantes para toda a sociedade. Por isso podemos falar de um imaginario do mundo burgués e, desde ja, descartar a idéia de que, por exemplo, os setores ‘dominados desta mesma sociedade estejam subme- tidos a uma enorme mentira ou a wm engano whi- versal, isto porque a presenca histérica das classes nessa sociedade se dé justamente a partir da univer- salizagao desse imaginario burgués, ©, nessa medida, a produgdo mesma das classes esté intimamente li- gada ag mode pelo qual essa sociedade impde os regisiros do imaginério para o seu. préprio reeonhe- cimento. Portanto, ha wma wee ali mesmo onde as classes se produzem, Isto quet dizer que, se pensarmos na nestagha da sociedade burguesa, a ordem do mer- ado, dimensao na qual os homens pensam e agem, torna-se também o lugar (imaginario e real) onde se opera efetivamente a divisdo do social. Em outras palavras, a producao histérica de uma classe de pro- prietarios dos meios de produgo, 20 mesmo tempo que uma outra classe se constitui como assalariada e despossuida, decorre de um confronto que, no final, faz aparecer para os su jeitos sociais a itmagem de que existe a imperiosidade da figura do capitalista, como elemento indispensavel para o proprio proceso de trabalh ‘Varios autores estudaram esse: processo de en- gendramento das relagdes sociais da ordem burgue- sa. Contudo, nem todos pensaram esse processo, justamente, na dimensao de uma fura. Stephen Marglin, preocupado com a anélise da constituico do sistema de fébrica, como sistema, por exceléncia, da divisto e do parcelamento do tra- balho, isto é, como Jocus privilegiade do controle social no Ambito da sociedade burguesa, procura pensar, em seu livro Para gue Servem os Patrdes, quais os caminhos desenvalvidos por um confronto que produz. as classes sociais. Seu ponte de partida é, justamente, 0 movi- mento de constituigio do mercado no interior da ordem feudal e a progressiva constituigio da figura do negociante como elemento indispensavel para 0 funcionamenta do proprio processo de produgao ar- tesanal. Em outras palavras, Marglin esta preocu- pado em acompanhar 0 desenvolvimento classico do “putting-out system", primeira configuragao da pro- dugiio capitalista. Os passos de Marglin sao extre- ee RE TTT TT LT 20 Edgar Salvadori de Decca O Nascimento das Fébricas nu mamente importantes, poste que a interposigao da figura do negociante entre o mercado ¢ a produgio artesanal, segundo ele, representeu o momento pelo qual se impés a essa produgao a figura indispensavel do capitalista, criando uma hierarquia social sem & qual, desde entao, o proprio processo de trabalho fica impossibilitado de existir. Isso ocorreu porque 08 produtores diretos, embora dominassem 0 processo de trabalho, se viram obrigados a depender da figura do negociante para que sua producao se efetivasse, uma vez. que a eles estava yetado 0 acesso ao mer- cado, tanto para a obtengio das matérias-primas indispensaveis para a produgao como para a comer- cializacdo de seus produtos. ‘Este autor, enfatizamos mais uma vez, esta preocupado com o estudo das origens do sistema de fabrica, posto que ai encontram-se substantivados os ‘varios mecanismos de poder que tornam possivel ao capitalista o controle sobre o operdrio. Por isso mes- mo, seu ponto de partida é o “putting-out system”, ja que, ai, o papel imprescindivel do capitalista € ‘evidente, embora o trabalhador ainda detenha 0 do- minio das técnicas de produgia e do processo de trabalho. Problema bastante importante para a nos- sa discussiio, pois estamos diante de uma situagdc histérica na qual o dominio da sociedade, embora esteja delimitado pelo dispositive do mercado, nao se transformou ainda em dominio técnice. Em outras palaveas, no interior da sociedade do i cio do século XVI, embora seja imprescindivel a figura do capita- Ferreiro forjanda metal. (In: Historia General del Tea- lista, seu dominio se realizou numa diregio que nao bajo.) Pot fe RE SS ET STE TTI TO I 22 Edgar Salvadori de Decca O Nascimento das Fabricas se resume no controle teenolégico do processo pro- dutivo. No “putting-out system”, o capitalista tem © ‘acesso a0 mercado e veta aos trabalhadores diretos esse contato, mas, ainda assim, esses tltimos ditam o proceso de predugao. Essa divisdo social torna im- periosa a figura do capitalista no interior do processo produtivo, ¢ @ trabalhador, distante do mercado, tanto para a obtengio de matéria-prima como ma- téria-prima como para a comercializagao de seus produtos, detém, tinica e exclusivamente, o controle Go processo de trabalho. Claro estd, nese caso, que a tavio técnica, estanda sob 0 dominio de quem parti- cipa do processo de trabalho, ainda nfo representa um instrumento através do qual se possa exercer 0 controle social. Entretanto, seguindo as pistas do autor, vale a pena indagar por que esses irabalhadores foram reu- nidos a partir de um determinado momento num mesmo local de trabalho, constituinde aquilo que ficou conhecido como sistema de fabrica. Mais uma vez, Marglin sugere algo muito im- portante. Para ele, a reunido dos trabalhadores na fabrica ndo se deveu a nenhum avango das técnicas | 0 que estava em jogo era justamente um alargamento do controle e do poder por parte do capitalista sobre 0 conjunto de trabalhadores que ainda detinham os conhecimentos téenicos e impunham a dinamica do proceso produ- tivo, Eisso é muito importante, uma vez que do lado dos trabalhadores estava a resposta ao problema da eficdcia técnica e da produtividad Ora, transferir esse controle da produgio que estava nas mfos dos trabalhadores para as maos do capitalista nfo significou, absolutamente, segundo Marglin, maior eficdcia tecnolégica nem tampouco uma maior produtividade. O que se verificou, isto sim, foi uma maior hierarquizagao ¢ disciplina no trabalho e a supressao de um controle determinado: ‘o controle téeni¢o de processo de trabalho € da pro: dutividade ditado pelos proprios trabalhadores. En- fatizamos, mais uma vez, que essa transferéncia, ainda conforme esse autor, nao significou progresso técnica (coisa que muitos afirmam), resumido nos termos de um desenvolvimento tecnoldgica que teria posto por terra o “putting-out system” ante 0 sistema de fabrica. Muito pelo comtrério, Marglin nos mostra que nenhuma tecnologia muito avangada determinow a reunido dos trabalhadores no sistema de fabrica, e aponta na direedo de come esse sistema possibilitow a disciplina e a hierarquia na praducio, 4 que o “put- ting-out system", baseando-se na dispersé0 dos tra- bathadores domésticos, criava algo muito problema- tico para o capitalista, isto é, 0 desvio de parte da producao, a falsificagaa dos produtas, a utilizagao de matérias-primas de qualidade inferior aquelas forne- cidas pelo capitalista etc. etc.; enfim, varios tipes de “sabotagem™. Contudo, quando Marglin fala de sabotagem, refere-se a perspectiva dos capitalistas, j4 que do ponto de vista dos trabalhadores domésticos do “put- ting-out system” ela representava uma resisténcia perda do proprio controle do processo de trabalho. ecg ET TE Bx} Edgar Salvadori de Decca O Nascimento das Fébricas E, nesse sentido, o sistema de fabrica repre- sentou, justamente, a perda desse controle pelos tra- bathadores domésticos. Na fabrica, a hierarquia, a disciplina, a vigilancia e outras formas de controle tornaram-se tangiveis a tal ponto que os trabalha- dores acabaram por se submeter a um regime de trabalho ditado pelas normas dos mestres e contra- mestres, © que representou, em tltima instfincia, dominio do capitalista sobre 0 processo de trabatho. Um outro autor, David Dickson, em seu livro Tecnologia Alternative, resume muito bem as raades que tornaram imperativa a constitui¢ao do sistema de fabrica. Segundo ele, seria possivel enumerar pelo menos quatro razdes importantes para o estabele- cimento do regime de fabrica. Em primeiro lugar, os comercianies precisavam controlar e comercializar toda a produgde dos artesdos, com o intuito de redu- zir ao minimo as praticas de desvio dessa produgao. ‘Além disso, era do interesse desses comerciantes a maximizagio da produgdo através do aumento do numero de horas de trabalho e de aumento da yelo- cidade e do ritmo de trabalho. Um terceiro ponto muito importante era o controle da inovagao tecno- logica para que ela s6 pudesse ser aplicada no sentido de acumulacao capitalista; e, por dltimo, a fabrica eriava uma organizacao da produgao que tornava imprescindivel a figura do empresario capitalista. £ indiscutivel que s6 a concentragao do traba- Ihador num mesmo local de trabalho poderia pro- porcionar todas essas vantagens para o empresario capitalista. Nesse sentido, a fabrica transformou-se no nosso marco organizador desses desejos empre- sariais. Por isso mesmo, embora pudessem ser en- contradas méquinas nas primeiras fabricas, muito raramente essas maquinas chegarem a se constituir na raz&o do surgimento das fabrieas. Enl gimento do sistema de fébrica parece ter sido ditado por uma necessidade muito mais organizativa do que técnica, ¢ essa nova organizagao teve como resultado, para o trabalhador, toda uma nova ordem de disci- plina durante todo o transcorrer do processo de tra- balho. Contudo, esse autor nio para ai. Mostra-nos, inclusive, como a partir da constituigfo do sistema de (fabrica vai se impondo, progressivamente, um deter- minado padrao tecnaldgico, isto é, um padrao que, acima de tudo, garantia ordem, disciplina ¢ controle de produgao por parte do capitalista. Assim, existem dois pontos fundamentais na constituigao do sistema de fabrica: em primeiro lugar, ele nfo decorrew de um grande avango tecnoldgico; em segundo, as tec- nologias empregadas constituiram-se em elementos de controle e de hierarquia na produgio. Retomemos David Dickson nos seus argumentos sobre o surgimento das fabricas téxteis durante o periedo de Revolucio Industrial. Segundo ele, “a organizacao da industria téxtil baseada no estabele- eimento de fabricas n&o foi, como deixam supor alguns historiadores, um desenvolvimento direto @ partir de uma base técnica mais eficaz, pelo contré- rio, muitas das maquinas s6 foram desenvolvidas © introduzidas depots que os teceldes j4 haviam sido 6 Edgar Salvadori de Decca Nene ee En concentrados nas fabrieas” (Dickson, p. 58). Ora, se considerarmos 0 surgimento da fabrica a partir de uma necessidade mais organizativa do que técnica ¢ levarmos em conta ainda as pressdes sofri- dag pelo trabalhador inglés para seguir inexoravel- mente esse caminho, podemos inclusive compreender algumas diferengas entre a industrializacao na Ingla- terra ¢ na Franga. No caso francés, as fortes lem- ‘brangas da Revolucao Francesa influiram decisiva- mente para que se retardasse o surgimento das fi- bricas, uma ver que a mera concentragio de traba- Ihadores reeriava as imagens do perigo que essa massa de homens reunidos podia represeatar para as instituigses de poder da sociedade burguesa. Entretanto, nao foi apenas a industria téxtil in- glesa que adotou o regime de fabrica muita mais ‘come novo marco de organizacao do trabalho do que por imperiasidade téenica. Para Dickson, também no ramo da ceramica pedemos encontrar exemplos semelhantes de adogaio do regime de fabrica. J4 na segunda metade de século XVIII, Josiah Wedgwood estabelecia uma grande fabrica no Midiandes, con- yencide de que “o Gnico mode possivel pelo qual se podia obter os modelos e as quantidades de bens necessarios, devido ao rapido crescimento do mer- cado, era através de uma divisio do trabalho cuida- dosamente calculada, implicando a separagio de to- dos os diferentes processos nos quais se baseava a produgdo de cermica”. E isto, sem dtivida, so podia ser conseguido através da imposigaode uma férrea disciplina fabril. Nas Fabricas de Wedgwood foi de- O Nascimento das Fabricas As fiandeiras, por Veldzques (1599-1660), (In: Historia General del Trabajo.) Edgar Salvadori de Decca senvolyido um sistema de fichas, além da criaco de umaampla e detalhada série de instrugdes relativas & disciplina do trabalhador dentro da fabrica, estabe- lecendo inclusive a categoria especial dos capatazes responsaveis pela yigilancia do processo de trabalho. Assim como os teceldes, os ceramistas no esta- vam acostumados com esse novo tipo de disciplina. Segundo um historiador inglés, “os ceramistas ha- viam gozado de uma independéncia durante muita tempo para aceitar amayelmente as regras Wedg- wood procurava implantar, a pontualidade, a pre- senga constante, as horas prefixadas, as escrupulosas regras de cuidado e de limpeza, a diminuicao do desperdicio, a proibicdo de bebidas alcoélicas". Mas apesar de todas as resisténcias desse trabalhador an- te o regime fabril, Wedgwood, aferrado em seus principios, afirmava, apés 10 anos de existéncia de sua fabrica, que havia transformado esses “‘traba- Ihadores lentos ¢ bébados e intiteis™ em um “magni- fico conjunto de maos’ Nas préprias palavras de Wedgwood, a fabrica se materializa como uma nova organizacao do tra- balho, sem a necessidade de ocorréncia de qualquer transformagio profunda do aparato tecnolégico. En- tretanto, ainda podemos avancar alguns esclareci- mentos a respeito do uso das mAquinas durante a Revolugao Industrial. Tanto Dickson como Marglin nos fazem supor que as mAquinas criadas ¢ usadas durante os anos cruciais da revolugao industrial nao foram apenas e tdo-somente aquelas que substitul- ram o trabalho manual, mas, principalmente, aque- SR RET EI RAST IEE STE A I O Nascimento das Fabricas 29 las que tornaram inevitavel a concentracio das ativi- dades produtivas sob a forma de fabricas. Dickson afirma, por exemplo, que “um tear holand@s que podia tecer de modo simultiineo vinte e quatro tiras estreitas, e uma complexa estrutura manual para a elaboragdo do ponto para 0 tecido de malha para a confecgfio de calgas e meias, ambos instrumentos perfeitamente adaptados a industria doméstica, fo- ram abandonados rapidamente dando lugar a ma- quinas mais amplas, cuja superioridade mecinica eliminou paulatinamente as formas tradicionais de produg&o manual" (Dickson, p. 60). E acrescenta, “os exemplos mais importantes destas inovagdes me- cfnicas foram a estrutura hidraulica de Arkwright (1768), desenhada a fim de utilizar a energia hidriu- lica para a fiacdo de algeddo, 0 teat mecdnico de Cartwright (1784), que podia funcionar por meio de rodas hidréulicas, ou de maquinas a vapor, ¢ as mAquinas intermitentes de fiar, de Crompton, desen- volvidas em 1779 e capazes de produzir fios fortes e finos apropriados para numerosos tipos de elabo- ragées téxteis. A comparativamente ampla produg’o dessas mdquinas representou uma raépida superagao da capacidade das pequenas correntes de 4gua que faziam funcionar os moinhos. Em 1875 se realizou o tiltima passo légico ao se adapiar a maquina de vapor de Watt as fungdes de proporcionar energia para aquelas outras méquinas, Cada um desses de- senvolvimentos foi crucial no que se refere ao esta- belecimento do sistema fabril, e contribuiu para a eletivagaio de uma disciplinarizagao geral na forga de 0 Edgar Salvadori de Decca Co trabalho, De acordo com Ashton, ‘foi somente sob © impacto de poderosas foreas, atrativas ou repulsivas, que o trabalhador ow artesdo inglés se transformou em mao-de-obra fabril” (Dickson, p, 60). Por isso mesmo a Revolucao Industrial foi vitoriosa, uma vee que representou uma mudanga crucial nae apenas no aparato técnico produtivo, mas, pri cipalmente, nas estratégias de administractio das empresas fabri Em outras palavras, o éxito da revolugdo estava int mamente ligado a afirmacio de novas relagdes de poder hierarquicas ¢ autoritarias. Alguns historiadores ingleses afirmam mesmo que o éxito alcangado por alguns empresirios capi- talistas, em meio a tantos fracassos que rodearam as primeiras tentativas de instalagio das fAbricas, de- veu-se muito mais & qualidade de diregio dessas empresas do que a uma substancial mudanca de qualidade do trabalho ou das méquinas. Nesse sentido, a despeite de a historiografia tra- dicional sobre a revolugio industrial negligenciar as dimensdes do fracasso das primeiras experiéncias fa- bris, ainda assim podemos afirmar que a resisténcia do trabalhador ante 0s avangos do sistema de fabrica foi decisiva durante esse perfodo. Afinal, nem todos ‘os homens se renderam diante das forgas irresistiveis de novo mundo fabril, ¢ a experiéncia de movimento dos quebradores de maquina demonstra uma inequi- voca capacidade dos trabalhadores para desencadear uma luta aberta contra o sistema de fabric, Essa luta ganhou contornos draméticos mas, acima de tudo, muito difusos, se procurarmos levar em conta oh ae pene EI EE I TET O Nascimento das Fabricas 31 as motivagdes que levaram os trabalhadores a des- truir o maquindrio das instalagies fabris. Se, de um lado, esse movimento de resisténcia visava investir contra as novas relagtes hierarquicas e autoritarias intreduzidas no interior do processe de trabalho fa- bril, ¢ nessa medida a destruigao das maquinas fun- cionava como mecanismo de pressio contra a nova diregdo organizativa das empresas, de outro lado, imimeras atividades de destruigéo carregartm impli- citamente uma profunda hostilidade conira as novas méquinas e contra © novo marco organizador da roduc que essa tecnologia impunha. Nesse caso, s maquinas nao sé supunham uma ameaga com respeito aos postos de trabalho, mas contra tode um modo de vida que compreendia a liberdade, a digni- dade eo sentido de parentesco do artesfo"’ (Dickson, p. 61). Os destruidores de maquinas da regiao do Laneashire nos anos de 1778 a 1780 ilustram, inelu- sive, a maneira criteriosa.de como essa Iuta era de- sencadeada nao contra a mecanizagfo em geral, mas em diregio a determinadas méquinas em particular. “Estes destruidores de maquinas distinguiram entre aqueles tornos de fiar que tinham vinte e quatro ou menos fusos, apropriados para a produco domés- tica, ¢ que na destruiam, e entre aqueles outros mais amplos, apropriados exclusivamente para @ sua utilizagdo em fibrieas, que destruiam” (Dickson, p. 62). Apesar de toda a resisténcia e das vitdrias al- cancadas pelos quebradores de maquinas ja por volta de 1820, “os avangos tecnolégicos adicionais muda n Edgar Salvadori de Decea ram de nove a composig&o da forga de trabalho, e j4 havia crescido uma nova gerac&o de operirios, acos- tumada A disciplina e 4 preciso de fabrica” (David Landes, Unbound Prometheus, p. 317). Deveriamos considerar, agora, algumas ques- tdes, Em primeiro lugar, tudo leva a crer que a fabrica surgiu muito mais por imperativos organiza- cionais capitalistas de trabalho do que por pressdes tecnolégicas. Segundo, a tecnologia teve papel de sivo onde e quando a sua utilizacdo facilitava e obri- gava a concentragao de trabalhadores e portanto a afirmagao do sistema de fibrica. Mas ainda valeria intreduzir, aqui, uma outra questio, a saber: a ino- vaedo tecnoldgica come resposta contundente do em- presirio capitalista ante as pressdes de irabalhadores que ja estavam acostumados com o regime fabril. Essa nova utilizagdo da maquinaria nfo s6 vir sava conseguir a docilizagio ¢ a submissio do traba- thador fabril e, nesse sentido, assegurar a regula- ridade e a continuidade da produgao, mas repre- sentou também um forte obstdculo aos movimentos de resisténcia do trabalhador fabril, j& no séeulo XIX, “As maquinas comegaram a ser introduzidas nao-somente para ajudar a criar um marco dentro do qual se podia impor uma disciplina, mas também, muito freqlentemente, sus introdugdo se deveu a uma ago consciente por parte dos patrdes para con- irolar as greves e as outras formas de militancia industrial. Inclusive, a ameaga da mecanizagao, com o desemprego implicito que levava consigo, era fre- qientemente utilizada pelos patrées para manter os O Naseienento das Fabvicas Fabrica de facas em Sheffield, (In: Eric J. Hobsbawn, Las Revoluciones Burguesas | a 1 hE RSE ERIE ETT TET ITS

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