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em revela qu. © futuro causas e as indica das nom esse pres de tanta pela reve do Paul \ é mais 0 ficuldade construiy comoter, aceleradc flexes, ¢ ‘imediato grandes nas artes frase de| conclui ¢ turo day imaginay Ded étraduz! Sésc Senvigo sociat 90 comencio Presidente Goal Reon Dieter ooo! Aaj in cords aia Cn abt Aga Pragati tna Axronio + Francis Wouee Frénénic Gros «G Sates * Jonce Co + Manceio Jasin Gracor Junton Rt + Viapiae Saratie MUTAG O FUTURC ADAUTO NovAEs (oF Mundas possiveis Adauto Novat (0 verdadero fim do muda at destraigta do capri, 0 our canticional pla experincia gue consstecm saber so mde subsistin depois da destruigo do esprit Kort. Kraus, Apa BREVE 1NTRODUGAO No ensaio Notve destin et les lettves, o poeta Paul Valéry narra que, ansioso por saber para onde vamos, quis interrogar 0 diabo, mas desis “je imediato porque, mesmo sendo diabo, certamente nada poderia dizer Acontece, diz.6 poeta, que 0 espirito — esta poréncia de transformagie sabverteu o mundo de tal maneira que acabou por voltarse contra o Pro prio epiitoUum mundo transformado peo esprto, no qual asinvenches vrcleradasnascem e modificam em pouco tempo os costumes, a politica aética, as ment social, enfim, o mundo das transformacdes Técnicas e cientificas “nilo oferece mais ao espirito as mesmas perspect! vas cas mesmas direcbes de antes ¢ impde a ele problemas inteiramente vrovos, inaimeros enigmas”. & que, na realidade, ndo sabemos mais pensar we faeuro com confianga, pofs “perdemos nossos meios tradicionals de pensar e prever’s Assim, 0 futuro € como rodo o resto: nfo € mais 0 vr, Mais que enunciaro fim de urna civlizagao, a célebe frase de Valery wos prope um enigma: fim das idcias de futuro tal como pensamento tnoderno soube construir ou, simplesmente, finn do futuro? Fa estas questdes que os ensaios deste livro procuram responder. Mas, antes de falar do futuro ~ tema central do livro ~, e rigor exigit ‘que alguns ensaistas voltassem as nogécs de tempo: como interrogar de outta maneiea as proposicdes herdadas dos estoicos e de Santo Agos tinho, para quem 0 tempo é sempre um enigma vertiginoso: "Como, seriam o passado ¢ o futuro”, escreveram eles, “uma vez que o passado, no existe mais ¢ o futuro nao existe ainda?”, Entre outros autores que so analisados, Valery traz tuma resposta possivel: 0 que nfo existe mais esti no coracdo do que existe. O futuro ~ o que nao existe ainda ~ se faz no ver. E "ver é prover”, “O objeto proprio, nico e perpétuo do pei samento &: 0 gue no existe.” ‘Tendemos a pensar que, nesta passagem, Valery retoma 0 Livro x1 de Santo Agostinho, que escreve: “O futuro, nao existe, quem o nega? Mas, apesar disso, sua espera jé est em nosso espirito, O passado nJo existe mais, quem duvida? Mas apesar disso a lembranga est ainda em nosso espirito. O presente é sem extensio, € apenas um ponto fugidio, quem 0 ignora? Mas apesar disso a atengio € duradoura’yAo falar da espera, da lembranga © da atengao, Agostinho pe em evidéncia 0 espirito — ou o trabalho permanente da inteligéncia ‘como poténcia de transformagio -, que é a chave para abarcar as trés dimensdes do tempo, Mas 0 que acontece com esta poténcia de transfor macio quando a modernidade procura transformar o espirito em coisa supérflua, como afirma ainda Valéry? Ao escrever no precio as Cartas persas, de Montesquieu, que a barb rie €a era dos fatos € que nenhuma sociedade se estrutura ¢ € organizada sem a coisas vagas ~ 08 ideais de futuro -, Valéry dialogava com outros pensadores: lemos, por exemplo, no Tractatus, de Wittgenstein, que a principal conquista da ética consiste na afirmacdo da intemporalidade da vida isto &, a0 seu nfo pertencimento ao universo dos fatos. B certo que vivemos a era dos fatas produzidos pelo desenvolvimento teenocientii co, Lemos ainda nas notas escritas por ele em 1947: “A visio do mundo verdadeiramente apocaliptica ¢ aquela segundo a qual as coisas nao se repetem, Nao é desprovido de sentido, por exemplo, acreditar que a época ientifica e técnica é o comego do fim da humanidade; que a ideta de um _grande progresso, como a do conhecimento iitimo da verdade, nose que, no canhecimento cientifico, nada ha de bom ou de desejivel, e que a humanidade que o persegue corre para a sua perda, Nada evidencia que isso nfo acomteca hoje Mais adicales rosa entrevista no lia seguinte &s planetiria dos temy termina a historia, assustados, Digo q Mais radical e sombria &a visto de Heidegger sobre o futuro. Na fo ‘mosa entrevista aos editores do semanirio alemao Der Spiegel, publicad no dia seguinte a sua morte, em 1976, Heidegger afirma que a técnica planetiria dos tempos modernos transformou-se na poténcia que de termina a histéria, Diante dessa nova realidade, diz ele, “ndo estamos assustados. Digo que nio temos nenhum caminho que corresponda ao er da técnica”, Mais: no movimento mundial que conduz ao advento do tado absolutamente técnico, fia ndo poder’ produzir eleivo imediato que mude 6 estado pre sente do mundo [...] mas isso no vale apenas para a filosofia; vale tam ‘bém para tudo o que é preacupagio e aspiracso do Tado do home a filosofia dissolve-se em ciéncias particulares a psicologia, a logiea, a ja |. agora, a ebernética toma o lugar da filosof Sobre 0 estado atual 0 futuro do pensamento, Heidegger, par quem a ciéncia nfo pensa, diz que “talvez” 0 Gnico caminho do pensa ‘mento seja osiléncio, para impedir que cle seja espetacularizado: “Talvez sejam necessirios também trezentos anos antes que haja ‘um efeito’ Por fim, ao falar de maneira enftica sobre © papel do pensamento no futuro, Heidegger conclui assim a entrevista io conhego nenhum caminho que leve a mudar de maneira imediata ‘estado presente do mundo, a supor que tal mucdanea seja possive homens [..] O pensamento nio chega a pensar até o fim a incerteza na qual esti, Mas sua maior incerteza consiste em dizer que hoje, tio longe quanto se possa ver nla umn “grande” pensado aquilo que se exige do que & dado a pensar € muito grande, Podemos talvez nos por apenas numa passigem: construir caminhos estteitd nfo indo muito longe Nao saberiamos dizer se seria correto esperar pelo “grande pensa dor”, “sintese” do pensamento, que apresentaria ideias diretivas e org: hizadoras do mundo. Muitos pensadores, observa Jacques Bouveresse ho ensaio “O que é orientar-se no pensamento”, vem vantagens nesta auséncia quase rotal de ideias diretivas: “Musil fala de uma espécie de democracia dos fatos’ que nenhuma sintese consegue mais organizat a parti de agora E preciso acrescentar hoje, wsivelmente, uma eSPEsis “Je “democracia das ideias’, entre as quais nenhuma, ¢ principalmente a5 ‘eins da ciéncia, pode mais ser autorizada a impor as outrassta super sidade, sua autoridade ou sua let Ag observaches de Musil/Bouveresse no seriam 0 reeonheciment® ro plano dos conceitos, de que 0 fituro nda é mais o que era? ‘A tradigio nos diz. que reinventamos sem cessar 0 fuguro, 0 CemPO dio possivel, Seria assim hoje, quando se sabe que a teenien € cae de “Iesencadear processos sem controle ¢ sem volta sem nossa intervensao, sem nossa reinvencgo? Em uum ensaio escrito para oTivro coletivo Repet ‘psa a democraia, 0 filosofo Jean-Pierre Dupuy cita as observasoes feitas pot Kevin Kelly sobre 0 descontrole no processo de convergéneia hie per ono ea bioteenologia: “Foi preciso muito tempo para compreensler {que a poténcia de uma técnica era proporcional & ncontrolabilidade doutaf contalnes)intrinseca, a sua capacidade de nos surpreender engen Cieando o inélto, Na verdade, se no nos inguietamos diante da técnica é porque ela ndo é revolucionéria o bastante Do “SENTIMENTO" DE MUTACAO A EXPERIENCIA dose ita principabmente de ataro fe rompida da trai ou de mre arm suevdineo ltramoero destinato a prcenchero interval ete & pasa far. Ao fog ses execs, prlana a ved avo en suspen; prevcupase apenas em sber como movers MES vert —a dnc wei nave agua a verdad poser parecer wn di Hassan ARENDT ‘Ac escrever sobre 0 futuro, o poeta Paul Valéry expressava tim sent nent parilhado por muitos pensadores de sua paca: a clebre fase 108 vhuillzacbes, sabemos agora que somos mortals” prenuneia ¢ enunels ° ‘ici do fim da civiizacio ockdental (civilizacio europein), eserita loge apés a Primera Guerra Mundial, época de grandes invengOes ~ 3vl008 spas quitmicas et. Fo preciso nna cgneia,esereve Valery para maar dantoshomens earrasartantas cdades em tio pouco tempo, transforms ve mentaidades,alterara politica €a éica, Mas tudo era obscuramente = ta loyo praratar sformar pressentido. Um dos sintomas é descrito por Karl Kraus como indicio d militarizacao definitiva e radical da sociedade; o soldado que volta par: casa no se deixard integrar facilmente & vida civil: “[..] a guerra ter sido para ele um brinquedo de erianga comparada a paz, Deus nos hi a ofensiva que nos espera! Uma atividade terrificante, que no mais seri dominada, pori as mios sobre as armas e prazeres em todas as situ acdes da vida, Verse-4 chegar ao mundo mais morte e doenga do que a guerra cxigiu dele”. Uma doenga particular & apontada por Musil como, © “egoismo organizado", que, para Walter Benjamin, traduz-se no fim da faculdade de trocar experiéneias: “Uma das razdes desse fendmeno’ escreve ele em O narrador, “salta aos olhos:o valor da experiencia caiu de cotagio. E parece que a queda continua indefinidamente, Basta abrir 0 jomal para constatar que, desclea véspera, uma nova queda foi registrada, que nao apenas a imagem do mundo exterior, mas também a do mundo moral sofieram transformagdes que jamais pensamos serem possiveis ‘am a guerra mundial vimos o inicio de uma evolucio que, desde entio, munca mais parou’”. Era apenas 0 esboso do que vitia a ser a civlizacio tecnocientifica (191 milhdes de mortos em guerras e massacres no século x8), um tempo j mareado por audaciosas descobertas através das quaisa ciéncia passou d aio. Foi também um tempo no qual “a atitude contem plativa ou descritiva” ¢ 0s valores cederam o lugar vontade de poténcia Menios de trinta anos depois, novos acontecimentos deisavam mais cla 10 0 “sentimento” de mutagio: era o tempo da ameaga de uma guerra atémica mundial depois de Hiroshima e a crenga no fim do homem e do humanismo, como pensavam a Escola de Frankfurt ¢ a filosofia de Heidegger. Pode-se dizer, sem o tiseo de errar muito, que preseneiamas no a derrocad iu daquela ideologia, mas de todas as ideo! A menos que, como diz. Musil, © dominio dos fatos se transforme em uma “ideologia nao oficial”. A flosofia, escreve ele, ganhow tim ligeiro (! atraso diante dos fatos, “o que a induziu a pensar que o espitito voltado Para os fatos era antifilos6fico; na realidade, nio ter filosofia é a filosofi que convém ao nosso tempo”. Sem ideologia, sem filosofia. E também sem experiéncia porque, como nos lembra Agamben, sabemos que, para a destruicio da experiéncia, uma eatdstrote no & de cedade €, para esse fim, pereitamente sufciente [1 8 esta Ineapac Sade dese traduziem experizncia que torna hoje insuportvel = come cra rmomento algun no passado —a existéncia coriiana [J Uma vt cr seu oa win jug de peregsinagao crsin & desse pono Je wa, partealarmente instru. Post dante dis alors ma ovilbas stern tdigatnoso patio de os anes no Alhambra)» eraadors oe ona da hormanidade rosa se hoje a experiments: refers He soja amu Fagin a ter experiineia delas. Ni se sla 26h veruralmente, de dplorar ess realidade, mas de const Em um comentério aos textos de Agamben, Didi Hubermat atribui outro sentido die de experiéncia, Nao se pode dizen afrma cle, quea txperitncia tena sido destrutdas “# preciso dizer. 20 contrério, que dex periénca indestrtivel, mesmo que se encontre reduzida as sobrevivencias e clandestinidades de simples lampejos na noire”. B este sentido também, aque ele atibui expresso experience interieur€™ Bataille: fssura, nfo saber, prova do desconhecido, errancia nas tevas, Seri e583 ssperiéncia {que nos resta, sem expressio e sem nome, “simples Jampejo” nas trevas? Hoje, com o dominio global datecnociénci, passamos do “sentimento” i cenperiéncia”, ainda que errtica, das muracbes, verdadeira fA olga que sharca todos os dominios: basta passear pelos novos vocibulos: cory aoa yansamanistas, ps humanistas, convergencia das nanorecnologias informatica eiéncias cognitivas, robotica etc, ligadas a desenvol¥vimentos recentes das biotecnologias. ho dizer que o fituro ndo é mais 0 que era, Valéry estava apenas re conhecendo que as imagens que tinhamos do fururo perderam sentido f¢ que a modernidade nao pode mais desdobrar seu pensamentoy "Nin tguém mais sabe que ideas e que modios de expresso estardoinscitosns Fista das perdas, que novidades serdo proclamadas”. Valéry poe no centr? de suas preacupagBes a questio do tempo e escreve que a dificuldade de econstituiro passado, mesmo o mais recente, & comparivel dificuldade lle construiro futuro: "O profeta esti no mesmo saco que o historiador Deixemos os dois ai”. Qu seja, o profeta—aquele que anuncia o fururo =e ‘historiador ~ aquele que pensa o passado ~ esto em baixa. Bis nosso problema: porque estamos em meio a dois mundos, temos difculdade ve vero presente eo futuro: “Os fiscos nos ensinare que em wm Forno neandescente, caso nosso olho pudesse subsistit ~ nada vera [...] Esta formidavel energia leva a invisibilidade, & igualdade insensivel. Ora, uma igualdade desta espécie nfo é outra coisa sendo a desordem em estado perfeito”, Nao sabemos, portanto, vera desordem do mundo atual. Vive- mos a era dos fatos, 0 “presente” eterno, sem passado nem futuro, ¢isso obscurece a visio do mundo. Mais: até mesmo a ideia do presente nao ¢ mais a mesma: em um mundo acelerado, sem o tempo lento do pensa mento, 6 presente & substituido pelo imediato ~ mais precisamente pelo imediatismo das coisas -, pelo provisorio e pelo fim das grandes narrat ‘vase da idefa de estilo nas artes. Dou um exemplo inspirado em Musil, hiv no sentido de elogio do arcaico, mas como tentativa de entender © que acontece com a ideia de presente: dispomos, diz ele, de uma organi zagio técnica e comercial que nos permite construir uma catedral gotic ‘em alguns anos, ow até mesmo em algumas semanas. Mesmo que ela seguisse, coerente, o plano original, ainda assim seria uma obra pobre: faltaria a ela o aporte do tempo € das geragdes sucessivas, “o ilogismo, lo cardier orginico que s6 aparece no inorganico ¢ outras qualidades da ‘mesma ordem. A duracao impressionantemente Tonga dos impulsos da vontade inerente 4 expresso da alma gétiea decorre, pois, da lentidio Uma catedral exigia, muitas vezes, trezentos anos para ser con- cluida.) Musil considera que este novo gosto do imediatismo denota tum espirito grosseiramente mecanicista, urna cvilizacao sem culeura ecinica, Um ganho do saber técnico ¢ uma perda do sentimento lento ce impreciso da vida, Tomemos outro exemplo, no plano politico, que era o uso da sitira, Fla tende a desaparecer? Antes, a sitira anunciava ‘que podia acontecer, no como o adivinho, mas, diz Jacques Bouve resse, “como um sentimento de tentar desesperadamente impedir qu arealidade Ihe dé razao”. Agora & 0 momento, como escreve Musil, no gual o capitalismo invade o dominio do espirito com suas formas mais grosseiras ¢ imediatas; 0 passado € posto no esyuecimento ¢ 0 futuro é a antecipasio sistemitica de acontecimentos presentes. Ou seja, as nogoes: originais de tempo sio substituidas. ‘Devemos, entretanto, ler com cuidado o que Valéry escreve sobre as nogdes de tempo. Ele nos diz, por exemplo, que, por uma generalizagio imaginacia do instante, o homem, criando o tempo, constr6i nao apenas perspectivas aquém c além de seus intervalos de reagio, mas muito mais cle vive nuito pouco no préprio instante, Seu pensamento sobre o tempo € cheio de nuances: Valéry ni chega a afirmar com clareza, mas nos ind a pensar que a modernidade abolia “uma das mais extraondinirias invencées da humanidade —o passado e o fururo”, para em seguida dizer que 6 “o objeto proprio, nico e perpéwuo do pensamento & alo que no existe’, Eo mesmo sentido que Nietasche di idein de passa, Viver saguilo que outros viveram e no apenas no que eles deixaram, “assumir na alma tudo isso, © que ha de mais antigo e o que hi de mais novo, as pperdas, as esperancas, as conquistas, as vitorias da humanidade; reunit tudo isso enfim em uma jinica alma ¢ condensé-lo num sé sentimento: cis que deveria resultar em uma felicidade que o homem, até agora, ig norava ainda —a felicidade de um deus”. O pensamento trabalha a partir daquilo que se conserva do passado nos fatos ¢ nas ideias. Ao analisar os censaios de Valéry sobre passado futuro, Edouard Gaéde pergunta: O que a memoria faz sobreviver? O que guarda este enmeno prodigiosamente banal e obscuro da repetigdo? Como, enfim, “os dados da sensibilidade is de inicio unicamente na sua extensio espacial, adquirem pro fundidade temporal Como o mundo, tal como ele é, desdobra-se de um mundo tal como ele foie 0 eu presente se reconheca em um eu passado?”, Uma das respostas possiveis ¢ dada por Agamben: em seu livro, escrito originalmente em francés, Les corps venir. Lire ce qui n'a jamais été érit, ele desloca o centro da atencao das referéncias historicas para dar aten¢0.a0 curso das coisas fora das geandes teleologias conceituais. Aqui, diante da visto “apoealiptica” do mundo contemporiineo, ele se dedica a pensar a nogio de gesto e sua temporalidade profunda, como observa o filésofo francés Georges Didi: Huberman: ‘Como certos textos seus mais recentes, Giorgio Agamben & um fidso- {, ndo do dogma, mas dos paradigmas: os objetos mais modestos, as imagens mais diversas tornam'se para ele [..] a ocasiio de uma “epis temologia do exemplo”, uma vendadeira “arqueologiafilosofica” que, de maneira ainda bastante benjamsiniana, “retonta em sentido inverso 0 curso da histria, assim como a imaginacio” € restabelece 6 curso das coisas fora das grandes teleologias conceituais. A rewelagdo das fontes aparece aqui como a condicio necessiria ~¢ 0 exercicio paciente ~ de um pensamento que ndo procura de imediato comar partido, mas gue ile que mtempordnee na medida de sua filologia oculta, de suas tradigdes escondidas, de seus impensados, de suas sobreviveneias, Somos, portanto, herdeiros de pesada heranca eee obras grandiosas tanto como sujeitosindividuais como seres universais porque o hemem gue reflece sobre seu passado "E levado, apesar dele, a refltir sobre © pussado do Homem’” Sem nostalgia. Quando se proclama que falta ss tese ao nosso tempo, dominado pelos fatos, corre-se o risco do elogio aos tbons velhos tempos” com sua sintese de uma “filosofia” vulgarizada do ~ Mas sabemos, por definicio e pela prtica da histbria, que & impos percepero e dados do presence de mancita critica, © que se quer dizer é assngern de 100, ainda asim fof um periodo de grande atvidade ica tale de ser outro, de agir de mancia diferente da do homem do passado: serene Frédéric Cros, especular é antecipar um valor a fim de extrair prams evendem se posibilidades de lero", Especula se também sobre a sensibilidade, sobre as aferividades. eh’ pouco, recorriamos atrés modalidades quando flévamos do tempo © pascado como existéncia necesséria: nem Deus pade desfazer o que foi feito + eprsente como existénca factual ele € assertivo: 0 que & & +o fituro como contingente: 0 tempo do possivel. Estas tr’s modalidades serio mais bem explicitadas adiante. ‘Temos, hoje, condicdes de responder a velha questio: “para onde vamos"? & 80 que os conferencistas do ciclo O futuro no é mais 0 que ert pretendem esclatecer:tfendemos a concentrar a reflexio do ciclo sobre a ‘deia de futuro a partir de tes eixos: 1. Breve incursio sobre a natureza do tempo. O que & 0 tempo? 2 Uma anilise da relacao geral que os homens estabeleceram com o futuro ao longo da histéria: mitologias e mitos originérios, profetis ‘mos politicos, milenarismos ete 3. Que relagio podemos ter hoje com nosso futuro quando os ideais revolucionarios e a propria ida de esperanca esto em baixa e quan. do a tecnociéncia, a biotecnologia ¢ a informatica se apresentam como videntes e pretendem (nova ideologia) dar resposta a tudo € amido prever? Mas, a0 propor uma reflexio sobre 0 futuro, € preciso fugir da ar- ‘madilha ou risco de predeterminar a hist. ia. Sabemos que 0 curso da historia permanece imprevisivel e incontrolavel, E 0 que diz, por exemplo, Wittgenstein: “Quem conhece as leis segundo as quais a sociedade se dlesenvolve? Estou comvencido de que o espirito mais inteligente nio t spe iemificamnente” deia, Se voré combate, voce combate. Se vox pera, Pode-se combater, esperar, ¢ mesmo eter, sem crer ‘Um comentirio do filésofo Jacques Bouveresse ajuda a esclarecet nossos propésitos. ile diz que Wittgenstein recusa qualquer interpretacio in- telectualista da histéria e afirma que a evolugao das sociedades “resulta essencialmente de desejos, esperancas, creneas, recusa e aceitagio que nada tém de cientifico...|". Eis o problema: hoje, as promessas cientilicas de futuro abolem desejos, esperangas e até mesmo as crencas, como foi analisado no ciclo e livro A invengéo das erencas Para rentar entender o enigma de “o futuro niio é mais o que era”, leia- ‘mos ainda Valéry:o futuro é a parte mais sens cl do instante, ou seja, 0 que nao existe ainda se tevela no coracio daquilo que existe, como sua "mais sensivel parcels”. Espirito ¢ vida, comenta Edonard Gaéde em seu ensatio “Mascara eespe novo ao qual se Valéry: “Todo n) seré, uma vez ‘menos complex: confundesse, em ‘emiresumo,na0, futuro, pergunte © ENTRE PASSADO Comecemas Lemosno pr que “o apelo 20 afeta o tempo his de um tempo 6+ ‘mais e por coisas dois mundos cra fo", pode desve) isteriosas” leva 10"? Agamben no raneo, que €conte seu tempo, “nem ‘natual; mas, exata ‘edesse anacronist aprender o seu Sejamos, pois, Hannah Arent apenas o que nio. apart dos vestigt [Oimpensado hoje, (bem no “vazio de “Mascara ¢ espelho”, juntam-se assim em um movimento em dizegio ao novo a0 qual se engajam todasas coisas e mesmo todas as ideias. Gaéde cita YValéry: “Todo nosso ser, € nfo apenas nosso espirito, ocupa-se com 0 que seri, uma vez que ele s6 procede por atos, mais ou menos ativos, mais ou menos complexos. Respirar, nutrir-se, mover-se é antecipar.(...]O futuro confuunde-se, em cada um de nés, com o proprio ato de viver:[..] A vida ‘em resumo, nio é seno a conservacio de um futuro” Para projetar nosso futuro, perguntemos, pois: como vivernos hoje? © ENTRE PASSADO E FUTURO Lemos no preficio de Hannah Arendt ao liv Between past and fare fue 70 apelo 20 pensamento sc far esperar no estranko entre-dos” que afro tempo histdrico.Temos conscéncia, dzela, de que ext intrvalo dem tempo é“inteiramente determinado por coisas que nfo existe rms ¢ por cosas que nao exstem ainda". © interval impensado entre dois mundos cia enigmas que 60 espto esa “poténcia de transforma Go’, pode desvendar. Mas, como esereve ainda Hannah Arend, “razbes mristriwaslevam 0 espirito hoje a delzar de exercer suas fungBes. Ela tha Tocqucvile: Porque o passado nfo esclaece mais futuro, 0 exprito anda nas wevas”Ou, como esceve 0 poeta Pal Valery de forma elegan Alogjo das “duas maioresinvengbes da humanidade, 0 pastadoe ofa ro"? Agamben nos ajuda a0 dizer, em sua conferéncia Oque€ ocontempo seu tempo, “nem est adequado is suas preten ido, ele & jnarua; mas, cxatamente por iso exatamente através dese deslocamento es Sejamos, ots, anacronicos, Hannah Arende fala do impensado. Entendemos por impensado no apenas o que no foi pensado anda, e que nos convida a urna retomada parc dos veipios que se abrem para otro vira ser do conhecimento JOimpensade hoje, momento de passagem entre dois mundos, dé-se tam- bém no "vazio de pensamento”. ff certo que vivemos um momento de smuragdo prodvzdo pela revolt tenocienifcaB dic neh a My tenia no mundo contemporaneo,Tendemos 8 concorst sean Heidegger quanso cl dz que hé uma sso entre cléncis ceneamento de out Acizanos sua ase ousada “a nes sta “constatagio” &, segundo ele, parte da sa’ no & wm reproche, mas um maa da ciéncia: & proprio de sua esséncia daquilo que flosofia pensa, mas que, de fo que exige ser pensado inyenges. Sabemc poder de duvidard canismos-ondem, subordiné-los, subs asimesma”. Ora, fee seo ies certeza cientfica, ser explicado e pre de pensar torna-se ciéncia sobre o fut das andlises da neu a pessoa vai morre: futuro ~nenhuma (Bis a fonte de resig na politica, nos cot mudaro que acont | opr: Maeozseadosspe erécnicade | sum lado, no pensa’ Es dda cidncia: “A ciéncia nfo pen! constatagio da estrutura inter aque, de uma parte, ela depends sutra parte, ela mesma esqueca e negligencie Mais: "No que se refeze & téenica, minha defini fos concretos, que as cién do desenvolvimento da esséncia da técnica estrutura interna ia simples icGo da esséncia da técnica cias modernas da natureza moder para dizer em term fundam-se no quadro nae nio 0 inverso” vaovnte das grandes transformagbes produzidas pela tecnocihcis resta nos a tentativa de entender 0 que nos acontece, como aconselha 0 poeta efilésofo Michel Deguy: Bassin, ‘um tiltimo trago de inquie fagdo e de autovigildincia se impbe: "Pode ser que 2 rmutagiio em curso tej to integral tio complesaafetando todos os campos SS instru ea ai poe, conecitos,¢€8, seu interiocutor, sa TO gnorane, HO marginal ‘eurocientistasinsi seatie’, que me tore incapa de compreendéla convenienterett © Pode ser. Resta, en} sé de me veferira ela —para além dessas genevalidades que acompanharn, Bei penseme, fem curso. em incomodé-la, a pan-metamorfose que €° espiniTo D0 TEMPO ‘yem anunciar o n¢ € muitos outros ar entramos no futu a0 Angelus Novus di se daquilo que est, ‘que vé apenas cati; “Masa “tempestade 'A decadéncia da civilizacio europela, os primordios da civilizagio. 0 definidos como o momento no qual tecnica e suas grandes mutacdes ‘esprit tornase coisa spf, ease mais expanvooa Se pensarmos que sformacio”, mas porespirit Valery entendia nfo ap ponent eprincipakmente a iveigencia das coisas. As ideas de PI Srempo sempre esiverm juntas no pensamento de Valery: °C ave hi Se aperir, de melhor em nos tem sempre o valor de Rune como o Mga dias costa: pasate €0rempo daimpoténcia, ofuuro éorempo 40 “dopo | até céu", Relacio: a cal puro, o tempo do esprit”, observa Edouard GuBde eee Miers inale ser ny seo pasado fro homem, é ele quer fro four, Mais: tea puro const em ser niversal porgue, somos diferntss Por GS oitkiro peloe Jenas “poténcia de trans 2 Mansi Batic negar 0 pre- emos a concordar Kiéncia e técnica de ousada: “a ciéncia estrutura interna znas uma simples Hode sua esséncia esa, mas que, Page ser pensado! estncia da té as da natureza ia técnica moder Pl tecnociéncia, Kono aconselha o ago de inquie aco em curso te tio marginal jnientemente e companham, a cvilizagao mento no qual Peosarmos que is de espirito ‘0 que ha nosso passado, somos iguaisdlante do futuro”. Iguais em possbilidade de imvengSes.Sabemos também que, no fundo expirito€aquilo que tem o poderde duviar de do. Como diz Alin ele esti acims de todos os me Canismos--ordem, virtudes,devere, dogmas-e, poristo, pode “july, snoring ous ospelaprps herded, ue maa deve ano se mais contra 0¢ st aueo epinio “osose en Tempo de cre ci, A prmcide tl acerca game au topo a Src on deca H Els rome at meso ds. par ‘pessoa vai morrer thuma mancira de dizer que ce pode mos mudaro futuro nenhuma agio de homem conta, Até mesmo 0 acaso ¢ abode. “is afonte de resignacSo e passividade na vida cotiiana, com reflexos dare que acontece eo que acontecer, Esta pode ser uma das passives texplicagbes para aida de espirito como coisa supérflua, Mas cienisase Pode ser Resta, entretamto, a pergunta: onde esto espirito que nega? Dois pensamentos de Valery, aparentemente enigméticos, podem servr de esposta: durante toda uma eteridade,o anjo (proprio Valery, *entramos no futuro de costas”(Valéry), © anjo de Valéry nos remete 20 Angels Novus de Walter Benjamin, anjo que “parece querer afastar se dagilo que extéolhando”,anjo da histria voltado para o pasado, que vt apenas catistrofese ruinas e parece nifo compreender 0 que Masa "tempestadeo impele de maneirairesistivel para o futuro, para auilele dias cosas, enquanto diante dele o monte de escombros cresce compreendet” avez a ‘itima frase do ikimo poema do poets, aout: "0 espitito nal realiza por si mesmo”, que significa que o que foi feito ugar da experiéneia, adverte Alain, Mas 0 problema € que oespirito vem sempre a reboque ¢, poriss0, conhece as coisas, mas nfo as comprecnde Ele precisa de um segundo momento para refazer a8 cosas através d& andlise, fazé-las de outra maneira, © pensamento das coisas nasce desta experiencia em vez de precedé-las, O espirto cinde-se, pois, em dois: como escreve Michel Deguy: “Da mesma forma que as leis do ‘livro da ratureza’ nfo sio lidas a olho nu, as leis do intelecto no sto lidas ime: tdiatamente nas produgdes do espirito falante; existe ai uma diferengs ireitante, uma vez que nada parece mais préximo, mais homogeneo, do que os pensamentos do espirito eas eis do esptito”. Da mesma mancia, © "Bu" de Valéry cinde-se em dois ~ aquele que se deixa levar por toda sorte de fabricagdes do pensamento, e aquele que controla, restabelece. ‘Seriam as leis do espirito 0 pensamento do pensamento? Ora, tudo hoje se processa no campo da evidenciaimediata, A vida social ea vida politics cetruturam-se no jé feito, na representacio apenas € nos simbolos sem reconhecer que existem nelas um “segredo”, coisas dessimbolizadas que “devem ser chamadas & expresséo, A tecnociéncia niio quer ¢ no pode penetrar nas leis do espfrito, ‘A tarefa politica primordial consiste, pois, em desdobrar o trabalho do espirito, nfo ficar apenas nos pensamentos propostos pelo espirito {iso a tecnocincia faz de forma adimiravel), mas i s leis do espirco€ das préprias cosas, Mais: é evidente que vivemos a era dos at0s. ‘mundo aquilo que Valéry designa, no ensaio “A politica do esprit mitos, ou coisas vagas (ideais politicos, utopias ete.). Nao ha politica sem mitos, diz ele, uma vez que toda sociedade s6 existe, funcionalmente base de mitos {toda estrutura social éfundada sobre a crenga ou sobre a conan ‘cu Todo poder se estabelece sobre propriedades psicolbgics, Pode-se fier que o mito socal, - muro juice, © mundo politico sto essen ‘cialmente mundos miticos, isto é, mundos cujas leis, as bases, as relages que as constituem nfo sio dados propostos pela observaglo das coisas por uma constatacfo, por uma percepgo direta; mas, a0 contro, re febem sua existéneia, sua forga, sua acZo de impulsio e de repression ‘esta existéncia€ esta acto sio tio mais potentes quanto mais ignorar ‘mos que elas vém de nbs, de nosso espirito. TEMPO E HISTORIA A idcia de decadéncia ganhou forga na virada do século xx e con quistou a imaginacio de muitos pensadores ¢ poctas. No centro de tudo esti 0 dominio izacio cientifico-técnico-industrial do Ocidente em contraposicio ao espirito, isto 6, 8 cultura, as artes e ao pensamento, Ainda que volte seu olhar para um passado perdido, Wittgenstein pensa que o espirito de alguns poucos pode sobreviver: “Disse um dia, ¢ talvez estivesse certo: da antiga cultura s6 restara um amontoado de escombros, «para terminar, um amontoado de cinzas, mas havers espiritos que flu tuario sobre essascinzas”. Em outra frase, “fortemente agressiva”, como observa Bento Prado Jinior, ele conclu: “Que eu seja compreendido ou apreciado pelo cientista ocidentaltipico, isto me é indiferente. Porque cle nfo compreende o espirito segundo o qual escrevo”, E mais: “Meu proprio pensamento sobre a arte e os valores é muito mais desencantado do que podia ser o dos homens de ha cem anos. O que nio quer dizer que, porisso, seja mais justo. Isto significa apenas que, no primero plano de meu espirito, esto os fendmenos da decadéncia, o que justamente no era o caso para cles”. Isso, Wittgenstein escreveu em 1948. Ora, so bre 1848, cem anos antes, Paul Valéry escreve a célebre frase: “O fim do mundo finito comeca”. Por mundo finito pode-se entender 0 mundo da fcultura europeia ou mesmo o humanismo iluminista, Talvez sj aproptiado concordar com Michel Deguy: €0 “fim do mundo ‘inito™. A | era da globalizagao, que comeca em 1500 com os descobrimentos, conclui seu trabalho com o dominio da tecnociéncia, Como estamos entrando no futuro de costas, como diz: Valéry, ten demosa concentrar o novo ciclo de conferéncias no “tempo futuro". De {que maneira a ideia de futuro é traduzida hoje no mundo dominado pela tenia? Repetimos: 0 “fururo” esti nfo apenas banalizado, mas, antes, dominado por “certezas cientificas’: ele aparece como absolutamente predeterminado, Haveria uma passagem da ideia de probabilidade ao das estatisticas? No projeto de um livzo ~ A forma do tempo -, Jean-Pierre Dupuy dedica um capitulo a ideia de futuro. Ele descreve © que deno- mina “metafisica do fururo” e analisa também o que chama de profecia no sentido puramente laico ¢ téenico, Os profetas formam hoje “uma legifo nas sociedades fundadas na ciéneia e na técnica: a experiéncia do facilitada, encorajada, organiza ‘os de nossas instituigdes. POF sm o que seria © cia”, escreve DUPUY posta por muitos clement ‘menos autorizadas Pro sximor 0 tafego da estra tempo da profes lana da do dia seguinte, os dda e mesmo imy todo lado, vozes mais 02 fararo mais ou menos proxi tarde das préxias cies 8 (a5 36 inflagfo crescimento do & préximo ano". Profecias mals Srpetaclares ao feiss pela biwe=nols ‘0 outro através da nogio jal serd equiparada & “tal proposta diane dota cat breve, a inteligencia artic pla umainas no futuro, cizem os Cems seri possivel a eérebro, conectar dois ou mals crebros uns 205 ss peurociencia da interagio social» PAP ‘eda ideia central proposta a planificagao Mia e pela aeurociens intelig erat velagao direta cércbr tuts Bogue eles de fundamentar sua “pro! 0 QUE € ESTE TEMPO DE fecialaica”, Dupuy Pa" tearico, Pierre Massé, que diz: nara pelo estado, via imagem Jo futuro rae desejavelesuficientement HVE] FATS ragenrardo sua propria sealizasho™ Por fim, partir do que aconteceu durante a que, por dezenas de wezes lkou TT pou “ade desaparecesse em vapores rackathves Dupuy Robert McNamara, Fracasso da pol aque conclu“ Jnanga do buraco neBro * dissuasivo. Foi esse flerte scessirios para et 20 trabalho do espirito! trevas);por que otempe rememora¢io € contra futuro, transformandk ¢ impossivel? Que mur wesente eterno? Como os fildsofos tém inteit ‘vida senfo retornando 3 nfo menos verdadeira, -seno futuro”? Logo depois da Pri ‘ago teenocientifica qt ‘na, uma ideia toma-se Arend, Spengles, Witt i ‘Duras questoes se pO por seu primeiro grande visa a obtes, pela concen suficientemente otimista Pe desencadear as aces que ¢# bre destino €acaso @ Dupuy escreve 8 Guerra Fria a0 rel co para que a human ‘Memérias escritas POT pengunta Dupuy vizinl vatuo seu pode! alvou. Acidentes sto ne ratrariamente #0 destino, ‘© contrario: foram apoia-se nas gue deram tica de dissuasio?, amente essas incursdes M2 ilamento m ocalipse que nos 5 exat aameaca de aniqi repetido com ope preipitar 0 destino apocaiPlco- Prjdente pode no se produzit™ sasprimeiras palavFas er spsfonas no seulivro O princi sons Frankfurt e muitos out nei conte foresja™s fecieemiceared Prometet, 24) Tidade mos advertem que as, esta definitivament rearrentado. O vazio do pens também através do atual ceativism? dos valores, se re santceipacto da propria amen primeiros clardes de sus fo planetaria |e agora, dominado p conhecid ‘Edouard Gaede no en, to, que se express ggundo Jonas, 6 pode se curado cor tecnocientifica qu “apenas nos ‘nos vém do Fut de saa amplid sie auas apostas Fumanas, ge podem St descobertos “sso dou o nome de heurisica ‘do medo’. Apenss n nos fornece o conceito do home da ameaga da proprit cia do Je nos cerca ro, aurora rempestade que ena profundezs ‘8 principios éticos. a previsio da deformasio do homes que nos permite premenit™ Diane ze Macrame arf, fiance a jo pou hhumano, Jonas vai além: a fundagiio de tal ética deve estenderse até a rmetafsica; s6 ela permite ao homem se penguntar por que homens devem existirno mundo e, “portanto, por que vale o imperativo incondicional de preservar sua existéncia para o futuro”. A ética, para Jonas, consiste em intra existéncia do futuro. Mais: garantira existéncia do futuro para outro através da nocao de medo. Reconhecamos o alcance limitaclo de tal proposta diante do tamanho do problema. 0 QUE E ESTE TEMPO DE PASSAGEM OU INTERVALO? Duas questdes se péiem de inicio: por que a ideia de tempo esta } a0 trabalho do espirito? (sem passado nem futuro, o espirito anda nas { reva) por que o tempo presentc esta em luta em dus fentes— contra a rememoracio e contra a experiéncia ~¢ tende ainda a abolir passado ¢ o futuro, transformando, assim, o espirito em coisa supérfua, descartive impossivel Que mundo é este que se contenta em exist apenas no presente cterno? Como nio dar razdo a Kierkegoard quando afirma que “osfilésofostém intra razio ao dizer que no se pode compreender a vida eno retomando ao passado, Mas eles e esquecem desta proposicio ‘no menos verdadeira,a saber, que a vida s6 pode ser vivida projetando- -sen0 futuro"? Logo depois da Primeira Guerra Mundial, ponto de part tacio teenocientifica que domina hoje todas as dieas da atividade huma na, uma ideia tomna-se central no pensamento de Valéry, Musil, Hann. Arendt, Spengler, Wittgenstein, Adorno, Waltet Benjamin, a Escola de ree muitos outros: O Espirito esti em perigo mortal. A pergunta é de onde vem este perigo? E que estamos vivendo, como define Vary. “uma imensatransformacio das ideias e dos valores. O saber é,a parte de agora, dominado pelo poder de acio”. O trigico, como nos lembra Edouard Gaede no enssio O paradaxo da eiviizago, & que aquilo que 6 espirito produziu de mais racional “provoca uma separacio cada ver maior entre as forgas postas a servico do homem e as inceligéncias que as comandam’( No mundo no qual predomina aida de forga, que & feito do epirito? A resposta de Valéry & clara: o espiito torna-se impossive impossvel porque supéflua Lemos em quase todos os seus escrtos sobre a atualdade a adverténcia: O Fspiritaesté em porgo mortal. € cero também isto 6, a fabsicacio dos objetos ‘contra 0 proprio espirito: afirmam que Jpalho do espitito, ossa disposiclo, voltas os, Hannah Arendt alertava: cientistas ceéxebro humano nio pode que o resultado do tral écnticos que estio 4 no ‘na mais de sessenta ano fazer coisas que um Jarmante, diz ela, “porque 1o espirito, jamais © re clos de miquinas que nao pod ‘amos concebido e construido. ezaem seu mais computadores podem fi compreender. Proposicio al veisiadeframente uma funcio 4 a compreensio & nado automatico fazem, ainda que as tent ibaracas teéricos das ciéncias da natu \Valéry vai além: “As mais pert transportam ou preender o que isso significa que emt am nossa vida cotidiana aquelas que rodam, que alto nivel invadir gosas miquinas talvez nao sejam a transformam matéria ou energia. ‘cobre ou de aco batido, mas de individuos: as administrativas, cons [Existem outros engenhos que 10 #0 estritamente especializacos: organi struidas imitando 0 espirito agi que ete tem deimpesseal”. O que hi dem is arerrador para o espirito vordneo nao S30 apenasas guerras € 08 MASSACTeS, MAS ‘denominar, como nos lembra Jacques Bouveresse, & mobilizagdo administraiva total em tempos de paz © ‘riunfo definitive vi onganizago" que correspond a0 advento do Estado form's de qh maneira premonitéra: “Uma confusio reina ainda Jarara; veremos enfim aparece © de goes, maquin ‘no munelo contemp’ aguilo que se pode que fala Valéry mais um pouco de tempo e tudo s trilagre de uma sociedade animal, um perfeto © Mais trigica para a ideia deste "tempo fururo sgenstein entre cgnci e futuro, Ble esreve em 947: definitivo formigueiro’ a relagio que faz Witt: ajptea do mundo consise em dizer que a8 cost de sentido, por exemple, pensar que do fim da humanidades que & [A concepcio apoct fio € desprovide ‘0 comeso no se repetem. Ni a dpoca cientifica e técnica & dea do grande progress & uma cegueira, como ro fino da verdad: que no coneciment cietfco nade ENE wade desejivel e que a humanidade: Fao & claro que este 120 Sef 0 €380. aquela do conhec: debomo que se esforga em buscalo precipitase numa armadilha, Ni undo esti muito proxima dos catastrofistas po", segunclo Jean-Pierre ia da Esta visio tragica do mi js que anunciam o “desa Dupuy, isto &, 0 autoaniquil parecimento do tem famento da humanidade, em decorrén utilizagio da tecnot ‘mento e dética) est TEMPO E ACONTECI No livro Les ta) filosofia ocidental d dade fascinante” qu ‘analisadasporele,d ‘entre tempo.eacon © erro da lings: 20 pespio temp. lero 6 cont sbreconbece ext ce ndeoendcs garante o mes eet qual afsica nfo Por flecha dot tempo, mas Aquilo ‘no “seio do tempo” historia, maso recal todos os momente verdade que édoac dito de maneira iny ‘mento e & étca) ¢ sem nenhum limite. (Ora, otiunfo “impessoal” da oxpanizagio, mais que te |do espitito coisa supésfhua, leva a seu aniquilamento, ums / que verdadeiramente podemos saber no é seniio o que nés mesmos pode: os ize: “a obra do espirto s6 existe em ato” ea cigncia tende a abit | miodo trabalho do esprto. Em relagdo ao tempo, vivemos hoje omundo | cs fncldaes amines, como nae Valery no seu Balan dang cia, que reduzem cada vee-maisa forga da atencio eda capacidade mental eda duracio. & 0 momento da “impaciéncia, da rapidez de execugio, da [Luariagdo Brusca da técnica que apressa as obras’, Tempo da velocidade TEMPO E ACONTECIMENTO No livzo Les transformations silenccuses, Francois jllien nos diz. que a filosofiaocidental dedicou o melhor do seu pensamento a esta “obscuri- dade fascinante” que é a nocio de tempo. Sem me referiras virias noes amalisadaspor ele, destaco uma que nos interessa mais de perto—arelagio entre tempo e acontecimento: © erro da linguagem comum, dizem os Fisicos, consiste em atribuir 30 proprio tempo as caracteristicas dos fendmenos temporaisalojados rele; isto, confundi o “tempo” com o que se desentola nele. A fis 6 reconhece este curso do tempo desvestido de tudo o que nos acon tece, independentemente de tudo 0 que se passa nele, ¢ cujaestrutura garante 0 mesmo estatuto a todos os instantes: enquanto & apenas se gundo a flecha temporal dos fenémenos, constituindo 9 vira ser e do qual afisca ndo se ocupa, que se entendem os “acontecimentos Por flecha do tempo entenda-se aquilo que nio se refere ao proprio tempo, mas aquilo que se desdobra em seu seio. Ora, o que se desdobra no “seio do tempo” hoje € nfo apenas a sucessio de acontecimentos sem. historia, mas o recalque “na sombra, tornando secundarios e dependentes todos os momentos adjacentes”. A conclusio é de Frangois Jullien: "i Yerdade que é do acontecimento que se fala e, mesmo, s6 se fala dele; ou, dito de maneira inversa e valendo como definiao: a partir do momento que o resultado do trabalho do espirito, isto 6, a fabricago dos objetos téenicos que esto & nossa disposi¢ao, voltae contra o proprio espirito: hha mais de sessenta anos, Hannah Arendt alertava: cientistas afirmam que computadores podem fazer coisas que um cérebro humano nao pode compreender. Proposicao alarmante, diz cla, “porque a compreensio & verdadeiramente uma fungio do espirito, jamais o resultado automitico ‘a inteligéncia, Se estamos cercados de miquinas que nio podemos com: preender o que fazem, ainda que as tenhamos concebido e consiruido, isso significa que embaragos tebricos das ciéncias da naturcza em seu mais alto nivel invadiram nossa vida cotidiana”. Valéry vai além: “As mais peri _gosas méquinas talvez nao sejam aquelas que rodam, que transportam ou twansformam matéria ou energia, Existem outros engenhos que no sio de cobre ou de ago batido, mas de individuos estritameente especializados organizages, maquinas administrativas, construidas imitando o espirto rnaguilo que ele tem de impessoat O que hi de mais atereador para o espirto no mundo contemporineo nao sio apenas as guerras e 0s massacres, mas aquilo que se pode denominar, como nos lembra Jacques Bouveresse,a ‘mobilizagdo administrativa total em tempos de paz, 0 “triunfo definitivo da organizacio” que corresponde ao advento do Estado-formigueiro de ‘que fala Valery de maneira premonitéria: “Uma confusio reina ainda mais um pouco de tempo e tudo se aclararé; veremos enfim aparecer 0 ‘milagre de uma sociedacle animal, um perfeito ¢ definitivo formiguciro™, ‘Mais trégica para a idleia deste “tempo futuro” é a relagio que faz Wit sgenstein entre ciénciae Futuro. Ele escreve em 1947 A concepcio apocaliptica do mundo consiste em dizer que as coisas no se repetem. Nao é desprovido de sentido, por exemplo, pensar que 8 €poca ciemtifica e téeniea é 0 comeco do fim da humanidade; que a fdeia do grande progresso & uma eegueira, como aquela do conhect ‘mento finito da verdad; que no conhecimento cientifico nada existe e bom ou de desejavel e que a humanidade que se esforca em buseito Precipita-se numa armadilha. Nio & claro que este no seja 0 caso. Esta visio trdgica do mundo esti muito préxima dos catastrofistas atuais que anunciam 0 “desaparecimenco do tempo", segundo Jean-Pierre Dupuy, isto é, 0 auttoaniquilamento da humanidade, em decorréncia da is pss fistas cia da utilizagio da teenociéncia de maneira autdnoma (em relagio ao pensa mento e ética) e sem nenhum limite. Ora, 0 triunfo “impessoal” da organizacio, mais que tornar o trabalho | 0 espsito coisa supérflua, levaa seu aniquilamento, uma vez.que aquilo | que verdadeiramente podemos saber nao ¢ senao o que nds mesmos pode: 1m0s fazer: “a obra do espirito s6 existe em ata” e a ciéncia tende a abris ‘mo do trabalho do espiito, Em relagio ao tempo, vivemos hoje o mundo das faclidades admiréveis, como narra Valéry no seu Balango da intelgén- fa, que reduzem cada vez mais a forca da atenclo ¢ da capacidade mental eda duracio. 0 momento da “impaciéncia, da rapidee de exe variagio brusca da técnica que apressa as obras”. Tempo da velocidade. TEMPO € ACONTECIMENTO No livro Les transformations slencieuses, Francois Julien nos diz que a filosofia ocidental dedicou o methor do seu pensamento a esta “obscuri dade fascinante” que é a nogio de tempo. analisadas por ele, destaco uma que nos interessa mais de perto—arelagio entre tempo € acontecimento: O erro da linguagem comum, dizem os fisicos, consiste em attibuir 0 proprio tempo as caracteristces dos fendmenos temporais slojados re; ito &, confundir 0 “tempo” com o que se desentola nele. A Fisica s6 reconhece este curso do tempo desvestido de tudo 0 que nos acon: tece, independentemente de tudo o que se passa nele, ¢ cuja estrutura _garante o mesmo estatuto a todos os instantes; enquanto & apenas se _gundo a flecha temporal dos fendmenos, constituindo 0 vira sere do quala fisica nfo se ocupa, que se entendem os “acontecimentos Por flecha do tempo entenda-se aquilo que nao se refere ao proprio tempo, mas Aquilo que se desdobra em seu seio, Ora, 0 que se desdobra no''seio do tempo” hoje é nfo apenas sucessio de acontecimentos sem historia, mas orecalque “na sombra, vornando secundarios e dependentes todos os momentos adjacentes”. A conclusio & de Frangois Jullien: “E verdade que é do acontecimento que se fala e, mesmo, s6 se fala dele; 04, dito de maneira inversa ¢ valendo como definicio: a partir do momento que se fala dele, a propria fila ‘faz acomtecimento™, Fst dela de acon teimento que nos cerca redefine a nacio de “tempo. Em que meclda, no mundo veloz e volitil, “o acontecimento nao seria feito de aparecimente brupto, como cle mesmo se define (even mas que uma marrage? On» tem que medida devernos conceber como um evcontro com aquilo que ela supose de Exterior, € mesmo de nfo integrivel, no lugar des tado?”, Entendamos por resultado aquilo que diz Valéry: 0 qu mais esti no coragdo do que existe,"o passado sendo o proprio ser “eneontro Exterior”, Jullien quer certamente dizer acontecimento sem fundamento, sem passado nem futuro. SONHO, RELIGIAO, FETICHE Borges no cessou de eserever sobre 0 tempo ¢ 0 sonho, Mais do que conteaporrealidade eimaginagSo, soni ¢fasto de tempos ou de oer dos alterados do proprio tempo. Osonho ce Coleridge € um belo exer plo. Borges narra que, no verdo de 1797, 0 pocta inglés Samuel Taylor Coleridge, momentos depois da Teirura de uma passagem de Purchas te se refera A edficaciode um palicio por Kubla Khan, cal ery sono et hou, O texto de Purchas germinou sonhos: imagens visuals epalavras saorabo de algumas horas acordou com a certeza de ter composto, 8 rccbide, um poema com cerca de trezentos versos. Recordava-0s com Singular clgezae pode tanscrever 0 fragmento que periura em Sa sree Uma visita inesperada ointerrompeu e The fl impossivel, depos oerandar o resto". Em outto texto, Borges cita ainda Coleridge: “Se ow hhomem atravessa 0 Paraiso em um sonho ¢ the derem uma flor com prova de que I estevec, a0 acordar, encanta ums lor em sus mio. Entao?". Coleridge possuido por outro tempo. A Igreja, por seu lado, teme mais o devancio que 0 sono, No com pave ao devancio e a0 tempo livre, ela propoe formas muito efiazes as tim como eftto ocupar 0 corpo ¢fatigar 0 espitito, controlar 0 tem Py MResare rabalhat”, Em um ensaio sobre a melancolia, Jean Starobinsy nowira que, sem tempo para pensar eer prazer, ou melhor, sem “em a a homem que rezaetrabalha aprisiona oddevaneio ea melancol ‘Gam efeito,esereve ele, o trabalho tem por tarefa ecupar intelramented tempo que nao & dado & oracio e aos atos de devosto: ‘sua fangfo consiste em tapat as fendas por onde o deménio podria entrar, por onde também o pensamento preguigoso poderia escapat Assim, 0 devaneio, que se arrscaria a tornar-se vagabundo ¢ culpado, absorve-se e se fecha em uma atividade fra: uma implantacio salu tarse realiza, O trabalho orienta, em um sentido concreto ¢ inocente energias que sem ele se dispersariam a todos os ventos ¢ a todas as tentagdes. Ele interrompe o vertiginoso diflogo da consciéneia com seu proprio vazio, interpbe resistencias ¢ obsticulos. Simplificando: tempo livre & coisa do diabo. Muitos autores associam a religiio ao mito, E certo que os dois tr: balham com a idefa de futuro: uma e outro sempre buscaram obscuros étodes para que o homem pudesse conjurar a sorte e, de certa maneira, saberem de antemao 0 que aconteceré: céu para os bons, inferno para os desavisados; mataris o pai e transaris com a mae... Os mitos si0 in~ temporais porque impenetsaveis: para falar da origem do mundo ou do hhomem, dis instituigGes ou mesmo dos costumes, recorre-se a herdis, deuses ¢ lendas imemoriais, O carter anistérico ~ outro tempo, outro ‘mundo seria o traco peculiar do mito? Podemos, também, de certa mancira, estabelecer uma relacio en: tre mito ¢ fetiche, e, assim, falar de fetichismo religioso, fetichismo dos objetos miticos, da mesma maneira que podemos falar do fetichismo da mercadoria: todos s20 dotados de propriedades mégicas sem relagao com seu uso ou sua utilidade. O fetichismo, neste sentido, é promessa de realizagao de felicidade futura sempre adi MAS, AFINAL, 0 QUE SE ENTENDE POR TEMPO? Muitassio as imagens que temos do tempo: dizemos com simpli cidade; “o tempo passa”, ou, como quer Pascal, “o tempo curs as do- res". Seria mais correto dizer, com Ronsard, que nfo é 0 tempo, mas somos nés que passamos? Ainda assim, esté posta, para estes autores, aprevaléncia do tempo sobre o sujeito (Pascal) ou do sujtto sobre © tempo (Ronsard). Penso que um poeta — Jorge Luis Borges ~ desfaz esta contradicfo: “O tempo é a substancia da qual sou fete. O tempo é um ri que nel, mas sow o rio; é wm tigre que me dilacera, mas sow o tigre; € wm foge que me consome, mas sm 0 fogo”, Melhor sintese, imporssivel. O poeta diz eapressamente que o tempo no € uma coisa (0 Fo que flu), nem pura subjetividade. A subjetividade é 0 proprio tempo, da mesma maneira que “o mundo... onicleo do tempo", como esereve Merleat:Ponty na FFenomenologia da percepgdo: “o tempo natural, diz-cle, no é um tempo das coisas sem subjetividade”. Mas Merleau-Ponty nos alerta:2 subjetividade ao é a origem: “E visivel, com elite, que nao sou autor do tempo |] nfo sou eu quem toma a inicitiva da temporalizacio... ee funciona sozinho [J repousa sobre si mesmo (.. ele € apenas esboco natural de tuma subjetividade”, Merteau-Ponty fala de um “naturante eterno”, no qual “cada presente reafirma a presena de todo © passado © amtecipa todo 6 futuro”. Lidamos, pois, permanentemente com 0 tempo natural to tempo historico. Mais: rempo natural funda o tempo hist6rice "m0 sentido de que ele € seu solo”, da mesma mancira que o tempo histérico funda o tempo natural no sentido de que cle & condo de sua aparéncis “s alternativa do naturado e do nacurante transforma-se pois em uma dialética do tempo constituido e do tempo constituinte”. O tempo seria, pois, uma construc de linguagem, o que levou Faulkner a escrever que o passado jamais morreu, cle nem mesmo passou. © espiito de sintese de Alain nos diz: 0 tempo & a forma universal da mudanga: ‘abemos moitas coisas sabre 0 tempo, por exemplo, que jamais exis tem dois tempos simulténeos, que © tempo nfo vem rapidez, que tempo nio pode ser revertido, que néo existe tempo imaginério; que ‘o tempo & comum a todas as mudangas € a todos os seres e que, Por cexemplo, para se chegar présima semana é preciso que todos 0s ho- mens ¢ todo 0 universo caminhem juncos. Ha abundincia de asiorses sobre o tempo, mas que so obscuros comio todos os axiomas, O pri diz Descartes, nilo pode fizer com que o que aconteceu scontecido. E certo que o tempo existe em ndse que pode ser medido, por exem plo, na distancia entre 0 desejo e a posse do seu objero, que no & out senio 0 sentido da duracdo, “este sentimento do tempo que antes s contentava com a velocidade da cortida dos cavalos ¢ hoje pensa que rapidez & muito Tenta € que as mensagens elétricas nos fazem more arts io & outra pe antes se pens que @ morrer de tédio” (Paul Valery). O tempo toma forma, pois, através dos nossos sentidos. Os estoicos nos dizem que temos apenas o presente a suportar. Passado ¢ futuro nao podem nos atormentar “uma vez que um no existe mais ¢0 outro nao existe ainda”. Alain nos adverte: aqueles que se tort ram com 0 passado € o futuro deveriam pensar no presente: ste amoroso maltratado, que rola na eama sem dormir e que pensa em vingangas, 0 que restaria da tristeza se le nto pensasse no passado ‘nem no fatto? ...] Os acontecimentos jamats sio aqueles que espere: mos; quanto A pena presente, justamente por ser muito viva, vocé pode estar certo de que ela diminuied, Tado se transforma, tudo passa, Esta mixima nos deixou tristes muitas Vezes; consolar-nos & 0 minimo que As vezes ela pode fazer Eis o problema: estariamos vivendo a disjungio entre tempo naturado ce tempo naturante? Relembremos Merleau-Ponty: 0 sujeito € narurante na medida em que & "o movimento de uma vida que desabrocha” e no {qual “ele faz. o tempo no lugar de se submeter a ele". Até ber pouco, viviamos tempos plurais ~ narurado e naturante: pergunta-se: vivemos hojea instauragdo de um tempo sem relagio com o tempo historico que toma forma no veloz, no volitl, na rapidez técnica que acelera nossas vidas? Tempo naturado quer dizer tempo fixo, “acabadio”, que pode “es quecer” passado ¢ futuro, Tempo imével, Ora, como diz Bergson, jamais existe mobilidade verdadeira se entendermos, com isso, uma auséncia de movimento, Talvez 0 que se passa hoje seja uma cisio entre pensamento eciéncia que dficulta a percepcio do tempo. Esta cso podle ser express rabela imagem de Bergson tomada aqui, no no seu carter cientifico, mas como uma metifora: (© movimento é a propria realidad, € 0 que chamamos imobilidade E certo estado de coisas idéntico ow andlogo a0 que se produ quando ois trens andam na mesma velocidad, no mesino sentido, em duas vis paralelas: 2 ons aparece eto come imével aos viaja tes em cada trem, Mas tama situacio deste género, que é excepcional, parecesnos uma situagio regular e normal, porque é a que nos permite agir sobre as coisas € que permite também 3s coisas agirem em nés ce viajantes dos dois tenes podem st dar as aos stands dt Pome t aiaogar ee esto “imodiizados", se arsdarn no mesmo sentido € na mesma velocidad © wem do pensamento vem a rebogue do trem da teenociéncia. 0 trem da teenociéncia age sobre 16s, mais que agimnos sobre cle 1) ceria & que hoje espaco livre «tempo livre rendem a desiParsSe° astm, coma pena do tempo live, © homem perde tamer alibendade: para sentir o tempo, ele busca excirantes: Atul confasio mental vezes ns dominam canto quetendees a amen ingenamente os Tai os parasos de simplicidade « rc aids na fore lent eHnesata ce jamais inbaros combi Oeprimitivosignorama necessidade de um vempo Hs nte dividio. ay havia minatos nem segundo para os antiga [J Mas nassos me" renos hoje sto reguados em fagBes exatas do tempo [--] Nes von &abmtido uma mepao perp pass de aor ele resins de exitantes tas bebidas infra, emosiss FEES COS seiras para sentir e agit Em iiltima anilise, 0 que esti posto em questo € a liberdade do espirito, sr ragio de tempo & uma das mais problemticas ela & dizer ¥ ‘si pensadores, uma construgio de Hinguager 20 mes? tempo, uni palavea que guarda grande diversdade de sentido © iorma, Seu enignal oanna pensado por Valery: “Uma vez que as coisas se transform an 20 percebemos apenas em parte. Chama-s tempo esta parte oculta, sem ta, de qualquer coisa” Traduzamos esta “parte acuta’ come 0% rpem de um regime de uncionamento outro, “passagem 1 livers signos nos tornam sensiveis”, Durante ums cise, Si" ainda Valery tempo mio tem o meso papel que no estado oniinario das coisas Ni hugar de media permanénciaele mede avaracae ‘medida que dé oem po long ox ozempo curto. A marcainite do tempo curio“ retornod Mipint sobre 0 qucaconteceu pars se dar conta aque asouse00 : Seen House desoniem por densa Ninguém &capaz de N89 roersnos um tempo ae desordem por densidade, Maravihosas ma ands fberdade do fizem varios Diempo, uma Sev enigma & ul, sempre b' como a pas que diversos finda Valery, 0 Pods coisas. No aque do tem: fagoretarnodo jeonceceu ~ (Sur pa de negar que osas miquinas que “economizam 0 trabalho de cilculo, 0s 08 mérodos que permitem fazer entrar toda uma ciéncia e alguns signos, as faclidades admiriveiscriadas para fazer vero que era preciso antes fazer compreener, registro direto ea restituico vontade de imagens” produzem também outro funcionamento temporal: a accleracfo do tempo. Valéry pergunta se tantas poténcias auailiares nfo viriam a reduzir pouco a pouco a forga dienossaatengio e a capacidade mental continua ou-a duracio ordenada. ‘Oexemplo que ele dé do tempo acelerado que afetao trabalho de criagSo deobra de arte e de obra de pensamento é 0 da auséncia de estilo Como se eriaria um estilo, isto & como seria possivel a aquisigio de ‘um tipo estivel, de uma formula geral de construcio e décor (que si futos apenas de experiéncias muito longas ¢ de cesta constincia nos gostos, necessidades, metos), se a impacincia, a rapidez na execucKo, as variagbes bruseas da técnica pressionam as obras [..] De onde vem sta impacitneia do now? isa resposta: "E que passou o tempo no qual o tempo niio contava’ Hoje o tempo é contado em néimeros através de miquinas que nos gover- nam, Elas moldam seus eriadores, isto é, os homens contemporineos, se undo elas mesmas. Asideias de precisio ¢ exatidao, que sio sua essénci, “no podem tolerar 0 vago e o capricho social; seu bom fancionamento Eincompativel com situacées itregulares”. Eis a grande mutagio por que passaa ideia de tempo: como somos 0 tempo, ou melhor, como ohomem Eaencamacio e o ser que di forma ao tempo (“O tempo é asubstancia da {qual sou feito; 0 tempo é um rio que me leva, mas sou o rio..”), a tecno Gacia tende a eliminar os individuos “imprecisos, do seu ponto de vista, € a reclassificar 0 outros, sem levar em conta o passado ~ nem mesmo futuro da espécie”. Passado e futuro deixam de participar do tempo; enim, € poténcia de um presente eterno que nos domina, Esta hipétese =pormais radical que possa parecer—é bem menos trigica que a hipotes proposta por Jean-Pierre Dupuy em seu projeto de livro sobre o Tempo: tlenfo afasta a ideia de uma catistrofe tiltima que seria 0 desaparecimen- todo tempo no sentido do autoaniquilamento da humanidade. O que, de ceria mancira, nao deixa de ser uma tautologia: se o tempo é o proprio hhomem, 0 fim do humano... Pensamos que, mesmo que dominado pela teenociéncia, o homem guarda ainda vestigios de humano, vestigios do tempo. Pelo menos, cle no consegue definir “o tempo que nos rests Sejamos, pois, imprecisos, nfo programados e de duracio infinit Mais: somos, sim, 0 presente, sujeitos a flutuagées: eis a trajetdiria pro: posta por Valery Afastamencos. Distragdes, Intensidades. A lembranga, 0 recorne 8a Presente. O presente & disputado por seus contetidos possiveis [oI aquilo que tenho.em comum comiga mesmo, Todo o “tempo esti com tide no presente, do qual ele constitu, sob diversas aspectos, a forma _grosseita dos desvios [..] A lembranca € uma das vibragdes da cord cuja tensio € o presente, 4 ideia ea invengio so uma outra, A varia 10 da tens i a ideia da rapidez ou da lentikio do tempo? |] O tempo verdadeiro nla ¢ sucessio de acontecimentos, mas 0 contri sucesso do Mesmo, & restituigdo do Mesmo, 0 re-conhcinento do Mean pelo mesmoé 010 fundamental |..]O presente seria o sistema de forgas que tesistem 8 dispersio, § propagacio ao infinite das exeitagdes. Ele & forcado a nao se dstanciar mais do que certa grandeva, de certo ponto, “Todo tempo & compreendlido no intervalo de das tensdes Em outro fragmento do seu Cabier, Valéry anota: “A duragio & a natureza de uma resisténeia. O homem que sustenta um peso no brad estendid opde-se a algo. A qué? ~ Nao diretamente & questa do peso ~ ma 4 Igo. Aq dor crescente TEMPO E PERCEPCAO Em suas notas de crabalho para um curso sobre a passividade, Med leau-Ponty escreve sobre a relagio entre tempo e percepcio e nos aler a no nos limitarmos a imagem estitica do mundo percebido presa a ua} instante: “Considerar”, escreve cle, “no percepcdes abstratas, em att isolante [...| mas retomar a andlise do mundo percebido mais que senso ial, Por exemplo, toda minha percepedo, a cada momento, niio & sent relagio de uma ago humana, a plenitude abyoluta é resultado de anil {solante; (0) mundo sensivel (esti) cheio de Iacunas, de elipses, alusses (08 objet0s sio “fisionomias’, ‘comportamentos’ — ( existe) espaco anti idede, Met fo enos alerta Bidopresa a um: ipses, alus0es, Bs) espago anit polégico ¢ espaco fisico”. Merleau-Ponty nos mostra ait Ja que a nocto Ge instituicdo da verdade xige que a subjetividade ni seja inicialmente parasi,“maso titular = x de uma experiéncia |... idealizagso ov generat zagao lateral”. Em conse objeto seja no correlato a meus tos apenas, mas provido de um duple horizonte au és do qual ele pode tomar-se objeto para outrem € nao para mim as". Por fim, Merleau ‘Ponty evoca Paul Valéry para reafirmar que 0 sujeito, ao entender a p cepeao do mundo dessa maneira, di mais do que ele tem porque prope aos outros enigmas a serem decifrados, ¢ 08 faz trabalhar. Estes enigmnas eso no passado eno fituro, Reeebe-se apenas incitagie 20 novo, FAZER, REFAZER, RECRIAR Paul Valéry um pensador que tratou 0 tempo de maneira original durante todo 0 tempo. F é ele que ocupa grande parte de seus famosos Cahiers Sfo de Valery as famosas frases em que um olhar atento vé mais que boutades:“Entramos de costas no futuro”, “O Futuro ngo & mais 0 aque era”, “Passourse 0 tempo no qual 6 tempo mio contava”, “Ao ctiat 6 tempo, o homem constri nao apenas perspectivas aquém € além de seus intervalos de reacio. E mais que isso ele vive muito pouco ne proprio instante, Sua morada principal esta no passado ou no futuro". Tembra fidouard Gade em um de los ensaios sobre a relagso Nietzsche € ‘Valery, as perguntas postas por Valéry so: o que se conserva do tempo nos fatos ¢ nas ideias? O que a meméria faz sobreviver? O que guano fendmeno prodigiosamente banal ¢ obscuro da repeti¢do? Como Bergson Valéry propie a ideia de duraclo para falar do tempo dus coisas. Ele ¢ reve, por exemplo, no Preimbulo para uma exposicio de arte italiana no Petit Palais em 1035, sobre os efeitos de confusdes e dissipacdes que nos infige o movimento desordenado do mando moderno. Asartes, escreve tle, nfo se acomodam coma precipitacdo ¢, horrorizaclo, sem poder ima ginar o que nos acontece hoje, quando as coisas dur am dias, e, na melhor das hipdteses, meses, Valéry exclama’ ‘Nossos ideais duram dez anos! Em outro texto, Pests sobre a arte, ele eserexe ainda: CO cuidado da duracio das obras jf se enfraqueia e cedia, nos esptito aodesejo de espantar:a arte se viu condenada a um regime de rupturas sucessivas, Nascew um automatism sem fieio[..] Enfim, a Moda, que a nmudanca em alta frequéncia do gosto de uma clientela, substituit sua mobilidade essencial as lentas formacdes dos estos, das escolas, dlos grandes renomados, Mas dizer que a Modase encarrega do destino das Belas-Artes equivale a dizer que o comércio a se mistura Mas eis uma das questdes fundamentals: “Como 05 dados da sen sibilidade, concebiveis de inicio unicamente na sua extensio espacial, adquirem uma profundidade temporal? Como 0 mando, tal como ele & desdobra-se de um mundo tal como ele foie 0 eu presente se reconhece ro eu passado?”. & que o espirito esté sempre em busca de coisas vagas « isto 0 aasta do instante porque “o objeto priprio, nico e perpetuodo pensamento & 0 que do existe” Enfim, “somos feitos de dois momentos € como atraso de uma ‘coisa’ sobre si mesma No mesmo ensaio, Gaédecita a segunda Considevagteintempestivs de Nietzsche, que nos faz lembrara situacio de um mundo que se basta no presente, sem buscar pensar a condido luumans ‘Veja a manada que pasta € passa diante de vocé: ela nfo sabe 0 que & ontem, o que & hgje. El se movimenta, come, repousa, digere, movi rmenta-se de novo, ¢ assim, de manba A noite, ea cada dia, conhecendo apenas prazeres e doves efémeris que a sujetam a0 instante ignorando em consequéncia a melancolia ¢ a saciedade [.. Assim, o animal vive dle maneita «-histérica: porque sua existéncia resume-se inteiramente no presente, tal como um aiimero sem que subsista uma estranha fre ‘Go; ele nfo sabe enganars nada dssimula ¢ aparece em cacla momento tal como é sé pode, portamto, sersincere, Mas a originalidade de Valéry est na forma material que ele di nogdo de tempo. Para ele, tudo acontece através do fazer: Mais: tudo) ‘gira em torno do que ele denomina “Fungo 1x": repensar, rever, reco nnhecer, reencontrar etc, Como nota Jean-Michel Rey no seu livro Pas Valery —Vaventwre d'une oeuvre, tudo acontece na reromada e no retorno| nna repetgao intensiva: "O efeito mais geral desta fungio é o movimento ordem de uma re-composicio que se efetua no tempo, dando sentido’s diferentes interpretagbes [...] O fazer niio anda sem o desfazere o eventual uns pines que ele dia er Mais: tuclo Jr seu livro Pal Bomovimento da pando sentido is, refizer” A diferenca do que acontece com a gerasio atval, para quem ‘oque importa é a ideia de que 0 tempo deve ser medio, reduzido a0 instante presente, e mesmo dominado pelo time is money, Valéry adota a fdeia de sefazer 0 tempo e a duragdo como método: “O uso, ou a mania, ométodo de muitos ‘jovens’ de minha geracio era a de no aceitar de si ‘mesmo nada que nao fosse longamente estudado, feito e refeito em um rlimero infinito de vezes, como no tempo no qual o tempo nada custava, {quando os artistas consumiam sua duracio a completar suas obras”. Pa cientemente, pensadores ¢ artistas buscam nas obras feitas significagbes novas que elas guardam em estado de vestigios. Isso exige tempo. Muito se escreveu sobre a ideia que os estoicos tém do tempo, Eles dizem: “$6 temos o presente a suportar. Nem passado nem futuro podem os aflgir, uma vez que um nio existe mais ¢ outro nfo existe ainda”. B vyerdade, comenta Alain, Passado ¢ futuro s6 existem quando pensamos, ‘SGo opinides e nio fatos, e temos muito trabalho “para fabricar nossos Jamentos ¢ nossos temores”, Isso no quer dizer que nto podemos ou devemos pensar o passado ¢ 0 futuro. Se 0 tempo é uma “ficc30", a au séncia de pensamento sobre cle ~ passado, presente ¢ futuro ~é 0 grande problema do nosso tempo.

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