Vemos o prefixo BIO associado a vários produtos, como biojóias, bioartesanato, biodiesel, e porque não associá-lo ao móvel, junto com todo o seu conceito? Caro Ari Bruno: Afirmei em sua revista que considero enganoso e marqueteiro o termo “Biomóvel". Agora, lendo o Especial Sustentabilidade da Móveis de Valor, soube que o termo foi cunhado por você, profissional que respeito e admiro. Porém, minha opinião não mudou. Continuo acreditando que o termo Biomóvel engana aqueles consumidores que relacionam o prefixo "bio" à vida natural, entendendo que o ciclo de vida deste produto não agride a natureza. Depois de ler sua palavra sobre o Biomóvel continuo considerando o termo marqueteiro, mas entenda como um elogio, já que seu objetivo era mesmo vender uma idéia. Estou torcendo para que o projeto Biomóvel tenha Sucesso!! ILVIA GRILLI “O que nós sabemos é que a sustentabilidade requererá uma mudança profunda na cultura industrial. Nas próximas décadas nós teremos que aprender como viver contando com menos 10% dos recursos ambientais que usamos hoje. Uma mudança radical de padrões de produção e consumo tem de ocorrer. Não acredito que apenas as inovações tecnológicas Carlo Vezzoli, serão suficientes. Temos que inovar também nos professor de nossos padrões de consumo, o que significa que o sustentabilidade projeto tem de adotar um enfoque de ciclo de vida. ambiental da E isso não é somente um re-projeto dos produtos Universidade Politécnica de existentes. O que é preciso é que a nova geração Milão de produtos e serviços confie em valores e padrões de qualidade mais coerentes com o padrão de uma sociedade sustentável.” Os princípios da Biomarcenaria No setor de móveis, a escolha ambiental deve estar sempre vinculada à utilização de materiais e tecnologias naturais: madeiras não tropicais e provenientes de plantios sustentáveis, tratamentos e acabamentos não nocivos à saúde, colas atóxicas, juntas por encaixe. São os princípios da biomarcenaria que baseia a sua filosofia na recuperação de critérios e técnicas do passado. Os princípios da Biomarcenaria O Padrão do Móvel Ecológico (Biomóvel) pretende promover a melhoria qualitativa dos produtos no setor do mobiliário, com base na redução da utilização de recursos não renováveis e das emissões por unidade de produto, em relação aos direitos das pessoas, a partir das comunidades que vivem nas áreas de interesse florestal e no respeito à saúde e segurança dos trabalhadores e usuários finais. Guia Verde do Consumidor “Antes de comprar um móvel (camas, armários, mesas, cadeiras, mobiliário de jardim) certifique-se de que não seja feito de madeira tropical. Entre as alternativas, é particularmente indicada a madeira de eucalipto ou pinus para os móveis de interiores, de bambu e vime para os de jardim. Assegure-se de que o móvel que comprou não foi tratado com produtos químicos perigosos para o ambiente” Guia Verde do Consumidor “Um problema muito sério é o da madeira dos móveis de cozinha componíveis, quase sempre aglomerado com resinas e colas que contêm formaldeído. Trata-se de um gás que pode provocar irritação nos olhos e na garganta, náuseas e dificuldades respiratórias. Está demonstrado que tem efeito cancerígeno nos animais e é suspeito de ser cancerígeno também para o homem” Eco-compatibilidade: um problema complexo A realidade é bem mais complexa. Como em qualquer outro setor, também no do móvel o fato de uma empresa empreender uma política orientada para a sustentabilidade, implica o envolvimento de uma série muito mais ampla de fatores e necessita de uma análise do impacto ambiental de todas as fases do processo Critérios ecológicos prevalecentes Muitas vezes pensamos que é ecológico o retorno aos materiais naturais, madeira, cortiça, (...) Não é verdade que o que mais parece natural, é mais ecológico (...) Devemos pensar na origem do material, no seu desperdício, no consumo de energia e pensar no prolongamento da vida dos produtos, na qualidade, na possibilidade de substituir as peças, nas peças de reposição e na montagem Experiências produtivas Para encontrar experiências significativas no setor do móvel eco-compatível deve-se olhar sobretudo a Alemanha, país onde a sensibilidade sobre este tema existe há algum tempo: Entre os critérios de escolha (dos móveis) emerge a preocupação com a saúde e o ambiente. Para móveis com tais características, quase a metade dos entrevistados estaria disposta a gastar mais. Muitos evidenciam o problema da recuperação dos móveis usados - e uma boa quantidade de empresas já empreendeu o caminho de uma produção sustentável. O exemplo da Wilkhahn Os princípios de base da filosofia da Wilkhahn são: redução das emissões; redução do consumo de materiais e de energia; reciclagem de materiais; evitar desperdícios. Em particular, para as peças recuperadas é previsto: a reutilização para a mesma função ou para elementos de menor qualidade; a transformação do material para um novo produto; a reciclagem para outros objetos. Nos casos em que não seja possível reutilizar a peça, o material de que é composto é enviado às empresas para a sua reciclagem. O exemplo da Wilkhahn A Wilkhahn oferece também aos seus clientes uma vasta gama de serviços: controles dos produtos vendidos (o último depois de 5 anos), certificação, fichas técnicas, reparação e substituição de peças gastas (é prevista inclusive a possibilidade de atualizar, a pedido do cliente, os modelos antigos), recuperação e reciclagem. A cadeira Picto, uma das mais conhecidas do catálogo Wilkhahn, por exemplo, é feita com metais não cromados, tecidos de lã e poliéster de grande resistência, sem a utilização de colas ou soldas; todos os materiais podem ser reciclados e facilmente desmontados e as peças maiores trazem a indicação do material de que são compostas. A empresa também programou um serviço de recuperação das cadeiras usadas, cujas peças em bom estado são reutilizadas na produção, enquanto as outras são recicladas. A Schlüter, produtora de poltronas e sofás, utiliza em substituição à espuma de borracha, a palha de centeio proveniente de cultivos controlados, não tratados com inseticidas e pesticidas e completamente esterilizada (um material natural e saudável também nas fases de produção, muito duradouro e que permite, após a utilização, uma fácil eliminação através da compostagem, com criação de energia usada para a produção de novos sofás, e reutilização como isolante) e outros materiais todos naturais e regeneráveis como madeira de faia, lã de ovelha, juta, linho, prevendo também, no momento da eliminação, a reutilização de cada componente. Produtos Sustentáveis: mobiliário Linhas guia do RMIT O Centro de Design do Instituto Tecnológico de Royal Melbourne (RMIT) da Universidade de Melbourne (Austrália), publicou um guia específico para o setor do móvel. A atenção é focalizada mais nos impactos ambientais distribuídos ao longo de todas as fases do ciclo de vida de um produto (da pré-produção à eliminação) e nas estratégias projetuais. Os impactos ambientais de um móvel e da sua embalagem podem ser reduzidos através de estratégias projetuais. Linhas guia do RMIT 9 reduzir o uso de materiais diferentes, simplificando o processo interno, aumenta as oportunidades para a reciclagem dos resíduos de produção e a reutilização dos componentes no fim de vida; 9 otimizar o número de componentes e de peças; 9 integrar várias funções num componente, ou projetar um componente útil para mais de uma finalidade, reduzindo a utilização de material e poupando trabalho e energia; 9 escolher materiais e processos de baixo impacto e evitar processos que utilizem materiais tóxicos. Linhas guia do RMIT O projeto/design deve incluir a avaliação dos cenários do fim de vida para minimizar ou eliminar os resíduos no fim da vida do produto. As estratégias-chave incluem: 9design para a durabilidade pode ser obtido identificando e eliminando os potenciais pontos fracos no projeto 9design para a reutilização. O projeto deve considerar a reutilização e reparação; os componentes ou os acabamentos danificados devem ser substituídos: o objetivo é prolongar ao máximo a primeira vida do produto 9design para a desmontagem. Tal estratégia facilita a reparação e a manutenção. É preferível substituir um único componente do que o produto todo 9 design para a reciclagem. Isto significa que os materiais usados podem ter um uso secundário, com a mesma função ou função diferente. Considerar o uso de um único material ou de materiais compatíveis com a reciclagem. Avaliar métodos de construção e procurar evitar colas e materiais incompatíveis 9 design para uma eliminação segura. Assegurar que todos os materiais com componentes tóxicos, produtos que contêm colas e acabamentos superficiais, estejam corretamente rotulados. Os impactos serão diversificados em relação à duração do produto e ao próprio percurso do seu destino final. E por falar em design... Quando se pensa em eco-design logo vem à cabeça determinados projetos de móveis nem sempre de bom gosto. Ao contrário, os móveis sempre podem ter excelente design, independentemente da matéria-prima, dos componentes, acessórios, acabamentos, tipos de uso, etc. Vejam alguns exemplos de idéias criativas: O selo de certificação na Itália ANAB – Associação de Arquitetura Bioecológica e o ICEA – Instituto para a Certificação Ética e Ambiental – elaboraram um padrão de ecologia no setor do móvel. O Padrão do Móvel Ecológico (Biomóvel) pretende promover a melhoria qualitativa dos produtos no setor do mobiliário e decoração, com base na redução da utilização de recursos não renováveis e das emissões por unidade de produto, em relação aos direitos e aos interesses das pessoas sensíveis, a partir das comunidades que vivem nas áreas de interesse florestal e no respeito à saúde e segurança dos trabalhadores e usuários finais. O padrão ANAB-ICEA para o Móvel Ecológico propõe um projeto que: Garanta o respeito à utilização de madeira de florestas ou plantações geridas com critérios de Boa Gestão Florestal Permita realizar produtos de baixo impacto ambiental em sintonia com os seguintes objetivos específicos: 9Redução das substâncias perigosas para a saúde e o ambiente 9Redução da quantidade de material utilizado 9Redução do consumo energético 9Maior durabilidade do objeto 9 Introdução, onde possível, dos conceitos de modularidade e decomposição finalizados para garantir a flexibilidade de utilização e a adaptação aos espaços. 9 Facilidade das condições de uso 9 Desmontagem e Reciclagem 9 Eliminação segura 9 Utilização de embalagens em material reciclado ou redução/reutilização/reciclagem da embalagem 9 Redução das dimensões máximas na fase de transporte. O varejo quer participar O varejo também fará a sua parte neste processo. Já está fazendo, mas vai ampliar muito nos próximos anos. E não por ser bonzinho, não. Porque as pessoas estão exigindo produtos ecologicamente corretos. O Wal-Mart lançará um grande esforço para melhorar os padrões ambientais, éticos e sociais dos fornecedores. Favorecerá aqueles que aceitarem o desafio e se comprometerem com a qualidade e sustentabilidade de seus produtos, mesmo que represente pagar mais. O varejo quer participar O varejo também fará a sua parte neste processo. Já está fazendo, mas vai ampliar muito nos próximos anos. E não por ser bonzinho, não. Porque as pessoas estão exigindo produtos ecologicamente corretos. O Wal-Mart lançará um grande esforço para melhorar os padrões ambientais, éticos e sociais dos fornecedores. Favorecerá aqueles que aceitarem o desafio e se comprometerem com a qualidade e sustentabilidade de seus produtos, mesmo que represente pagar mais. Conforme a revista Exame, mais de 2000 green buildings Empreendimentos imobiliários sustentáveis estão sendo construídos nos Estados Unidos. No Brasil já existem vários empreendimentos como os 2 projetos da Petrobras em Vitória e no Rio de Janeiro, além dos edifícios Eldorado, Rochaverá e Ventura. A previsão é de que em menos de 5 anos a demanda será muito alta. Os edifícios não sustentáveis irão se desvalorizar. O desafio de todos é desenvolver fornecedores regionais capacitados, comenta Roberto Orange responsável pelo desenvolvimento do projeto do primeiro empreendimento certificado no Brasil, a agência bancária do ABN em Cotia/SP. Fórum acontece em São Paulo Nos dias 17 e 18 de JUNHO de 2008 acontecerá em São Paulo o 1º Forum de Empreendimentos Imobiliários Sustentáveis. O público alvo: 9 Construtoras e Incorporadores 9 Arquitetos e Decoradores 9 Designers de Produtos, Interiores 9 Engenheiros 9 Fabricantes de Móveis 9 Tecnologia & Equipamentos 9 Profissionais ligados ao setor A questão da sustentabilidade chegou também à cozinha, o carro-chefe da marcenaria. Uma discussão ampla vai acontecer este ano em São Paulo e Recife. SUSTENTABILIDADE chegou para ficar e isso é uma ótima notícia para quem usar os conceitos da BIOMARCENARIA Consumidores mais conscientes Não só o planeta agradece como também muitos consumidores ficam satisfeitos em comprar produtos e serviços de empresas preocupadas com o desenvolvimento sustentável. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Akatu revelou que 33% dos compradores brasileiros adotam atitudes conscientes na hora das compras. Além disso, 37% dos entrevistados afirmam pagar mais por materiais não-nocivos ao meio ambiente e oito em cada 10 consumidores que manifestaram disposição a pagar mais, aceitariam um sobre-preço de 25% a 35% pela mercadoria com selo ambiental. Com a biomarcenaria todos ganham O Ecodesign - para criar o biomóvel -, aparece como uma forma nova de projeto de produto, tendo por base a questão ambiental. Projetar um móvel ambientalmente correto é uma tarefa que será sempre implementada considerando peso, reciclagem, reutilização, embalagem e processo mais limpo. Com esse processo se dá ao ambiente o mesmo status dos valores industriais mais tradicionais, como: faturamento, qualidade, funcionalidade, estética, ergonomia e imagem. A disputa pelo mercado consumidor está cada vez mais intensa e apostar na biomarcenaria é o melhor que podemos fazer.