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Consetho Editorial da ren de Servigo Social Ademir Dilséa Adeodata Bonet Mirla Cisne FEMINISMO E CONSCIENCIA DE CLASSE NO BRASIL Catalogacéo na Publicagie (CIP) ra do Livro, SP, Brasil) RUA SNE je capitulo encontramos uma consistente sintese da histéria do Wimento feminista no Brasil até os dias de hoje. No terceiro capitulo, verdadeiramente apaixonante, revela-se “a © a alegria de ser 0 que 6” (Caetano Veloso) das mulheres de We € 0550 que militam no Movimento de Mulheres Camponesas IC), na Marcha Mundial de Mulheres (MMM) e na Articulagao lulheres Brasileiras (AMB), os trés mais expressivos movimentos dos depoimentos dessas mulheres, es em niveis diferenciados desses movimentos, é possivel ir seus processos de formagio da consciéncia, as rupturas isaram fazer € © que as moveu a fazé-las. A anélise extrai da da vida das mulheres e dos documentos e das manifestagoes dos movimentos em foco, o modo de ser desses movimentos, io no debate politico, sua relago com o Estado e os gover- mente no presente momento de transformismo do PT sobre os movimentos sociais e suas pautas. A anélise 'es contemporineas dos sujeitos 08 a partir da INTRODUGAO Criar € tao facil ou to dificil quanto viver, E € do mesma modo necessério, Fayga Ostrower (2004) {A formagio da consciéncia de classe na sociedade capitalist ¢ dos movimentos de mulheres. Destaco, por fim, a lin- difcltada pelasrelagbes de alienagio que a permelam, Bem como la, clara e poética, 0 que torna o con! e ae texto pela ideologia dominantea ela associada, ee ee livel. Por tudo isso, trata-se de um livro que tem todos sociais a naturalizarem e até Ss ites para se tormar uma referencia do debate académico minagao. Assim, a0 contrério de se rebel eee eae i tro © fora da area de Servigo Social, bem como para os os domina, adequamse e, aus pee eee Sociais. Falar mais seria retirar 0 prazer da degustacdo, nao, Flizmente, alguns, também, no process de fomasio de ‘0 € convidar & leitura! Bonne aventure! consciéncia e da luta de classes, rebelam-se con i {que esse nao seja um processo hegeménico. Mauro Iasi (2002, p. 18), estudioso do processo de formacio da consciéncia, parte da seguinte inquietacéo investigativa: “Como os individuos moldados para a conformidade e o consentimento podem se rebelar contra a ordem que os moldou?”. Passemos a refletir essa lade da vida das mulheres. Além de todas dominagio ideolégica vivenciadas pelos Inverno leve, Botafogo, Rio de Janeiro, Profa. dra. Elaine Rossetti Behring FSS/UERJ ~ CNPq RUA she _Consiclerando que essa consciéncia é mediada pelos movimentos las na dindmica da luta de classes, o que envolve, portanto, coletivos de formagio de uma consciéncia voltada para a ormagao social, acrescentamos & pergunta anterior: Como ocor- Heesso de formacao da consciéncia militante? feminista em uma dade patriarcal e capitalista? Para adentrar na compreenséo mais aprofundada sobre essa 1, consideramos importante compreender os diferentes projetos Oeletirios em disputa e seus fundamentos que consubstanciam as diferentes configuragdes da luta de classes. Delimitaremos, nes- mirio, a andlise do movimento feminista. Mais particularmente, litamos apresentar 0 projeto societério feminista-socialista em ista, incontestavelmente hegem Sociedade, Partimos do entendimento desses projetos socie- 6 podem ser compreendidos no seio da dinamica da luta de que, Por sua vez, envolvem o processo de formagao de cons- Assim, trabalharemos classe, luta de classes e consciéncia de mo categorias c ndispensaveis para o entendimen- em disputa. a0 longo de sua historia trouxe a tona € lutas que, obviamente estavam ligadas aos interesses "6, Mas que também confrontavam diretamente 0 capi- IMos especialmente a contestacao a propriedade privada nuclear burguesa e monogamica, condicionalidades 3 Porn de Ph grad re UTR), com otk Foinb, fe an ea cetsk ds rots Hae Bg hs a Univer dah ; FEMINSMO E CONSCIENCIA DE CLASSE NO BRASH, fundamentais para a sustentabilidade do capitalismo. Além di ressaltamos a dentincia a apropriagio do corpo da mulher e & ploracdo da forca de trabalho feminina, tanto na esfera produti como reprodutiva. A televancia do feminismo ganha maior visibilidade quant compreendemos que as mulheres sao, segundo Mészaros (200: dos pobres do mundo. Sao também as maiores vitimas da precal gio do trabalho e das politicas piblicas. Sao elas que enfrent: filas de madrugada nos hospitais puiblicos para levarem seus( filhos(as), bem como em busca de vagas nas escolas; so muitas d que nao chegam a previdéncia, seja por serem as que mais se tram na informalidade, nos empregos mais precarizados sem direl trabalhistas assegurados, ou até mesmo por nao terem sequer as documentagées, especialmente as rurais; sao elas que esto no diano da assisténcia social buscando a garantia minima das cond de sobrevivéncia da sua famili Acreditamos que a cago de focos de resisténcla sujeitos politicos coletivos contrérios ao capitalismo, ao r ao pattiarcado, é um fecundo meio para percebermos a e de aliados politicos que oxigenam nossa luta pela ema humana. Essa identificagao é importante, em espe de capital fetiche — em que séo obscurecidos 0 mundo do € suas lutas —, e de radicalizagao das desigualdades soci moto, 2008). Afinal, h4, no seio das contradigdes dessa so yupeiras” que resistem na tentativa de corroer do capital e construir uma sociedade substantivamente | litéria. Desta feita, enquanto houver homens e mulheres, possibilidade de construirmos relagdes sociais igualitérl 4 plena convie le icleoldgica de q MARL SNE a luta de classes no Brasil lentificar as ia do feminismo no Braslbanalisn se princees ‘as da institucionalizagaio do movimento feminista fia lula pela emancipagio das mulheres; ¢ identificar element, titutivos da consciéncia militante femini aa Ho de Mulheres Camponesas (MMC), da Marcha Mundial mneres (MMI) ¢ da Articulagio de Mulheres Brasileiras (AMB) | relaglo (cle resistencias e subordinacdes) com a lata de cla Romo método de exposicao, dividimos nosso livro em t#és capt. No Capitulo 1, trabalhamos as categorias consciéncia, clan lo classes, alienacdo e ideologia Todas embasadas pola perspect, ‘ a aqui nos diferenciar da perspectiva que ho- - Por isso, ibaladora poss oxo ese ae aE Ci dee eset @ formagio da consciéncia das mulheres em lace nao apenas capitalista, mas, também, patriarcal e ra- tanto, consideramos fundamental a critica & ideologia da ‘bem como a compreensio da divisio sexual do trebalho, iso familia e do préprio patriarcado como um sistemmg 0 smo eo racismo. Assim, buscamos compreen- ma categoria tea, que tem feito do biolG- Por fim, apresentamas FEMUNSI0 E CONSCIENCIA DE CLASSE NO BRAS. 9 der as relagdes sociais de sexo,‘ “raga” e classe como relagdes con- substanciais, como nos aponta o feminismo materialista franc6fono. Ainda nesse capitulo, tragamos um breve periil histérico-politico do feminismo no Brasil ¢ ressaltamos a importincia da relagio entre feminismo e socialismo para a emancipagio humana. No Capitulo 3, mergulhamos mais diretamente no nosso objeto de estudo: a formagao da consciéncia militante feminista na luta de classes no Brasil contemporaneo. Aqui, apresentamos, em especial, 05 resultados de nossa pesquisa documental e de campo, junto a miilitantes da Articulagdo de Mulheres Brasileiras (AMB), da Marcha ‘Mundial de Mulheres (MMM) e do Movimento de Mulheres Cam- ponesas (MMC), nossos sujeitos da pesquisa. Tracamos um breve perfil dos movimentos investigados; identificamos os principais elementos da formagao da consciéncia militante feminista; ressaltamos a importéncia do feminismo e da auto-organizacio das mulheres para a luta de classes; destacamos as principais lutas feministas desenvolvidas na primeira década dos anos 2000; avaliamos a rela~ do entre os movimentos feministas investigados bem como sua relagdo com outros movimentos sociais e partidos politicos; identi- ficamos as formas de financiamento desses movimentos; e, por fim, destacamos os principais avangos, desafios e dificuldades do femi- nismo na contemporaneidade. Esperamos com a reflexio em torno desses contetidos contribuir com o debate do feminismo e sua relaco com um projeto societério alista; 0 debate em relagao aos estudos feministas em uma RA Cisne fim, gostarfamos de registrar nossos agradecimentos a(s): Guerra Cisne (in memorian), minha av6, pelos eternos ices e pela teimosia de amar e cantar a vida, até o fim... yequena-grancle familia, certezas de forca, acolhimento ¢ Maria Cisne Alvaro, minha mae; Katia e Andréa, minhas Tafs e Saul, meus sobrinhos. lagiio de Mulheres Brasileiras (AMB), 4 Marcha Mundial 's (MMM) e a0 Movimento de Mulheres Camponesas ir todo apoio, especialmente as suas militantes que nos m entrevistas, didlogos e reflexes e tornaram este trabalho Behring, pela seguranga em compartilhar a tese com suas todas as ricas orientagoes ¢ pelo carinho e atencao, sempre Falquet, a quem registro um agradecimento especial pela ‘olhida em Paris, pelo rico mergulho no feminismo mate- ono e pela disponibilidade nas orientagdes e na banca da tese. a Gurgel, Maria Inés Bravo, Mauro Iasi e José Paulo Netto, i8 8 contribuigdes na banca de qualificacao e de defesa da o pelo estimulo a essa publicacao. (0s) de vida, em especial, Marflia Gurgel e Luciana m quem pude contar com a solidariedade do comparti- la no Rio de Janeito e com o abraco fortalecedor em bolsa concedida no ano de 2012, para cursar dou- na Universidade de Paris 7. de trabalho do Departamento de Servico Social ibilitaram cursar 0 doutorado com liberagao CAPITULO 1 Classe, luta de classes € formacdo da consciéncia no capitalismo (0 que 6 necessério explcar néo @ que 0 faminto roube ou que o explorado entre em reve, mas por {que razo a maioria dos famintos no rouba e 2 Iaioria dos explorados nao entra em greve. ithe Reich’ Este capitulo tem 0 objetivo de situar nossa perspectiva te6rica sobre a compreensio das categorias classe, luta de classes e formacio da consciéncia, sob a luz da teoria marxista e feminista. : De acordo com Katz. e Coggiola (1996, p. 140), as classes sociais e constituem em um “fenémeno hi ico” © a di com sua relagio de propriedade com os : 4 definicéo nao seja falsa, ela nao é suficiente para com- 9s o conceito classe. Para percebermos essa insuficiéncia como proprietério de terra e do tor nico compra nenhuma forca de trabalho como Mla, Nilo Poemos simplesmente dizer que pertence a classe De tal modo, ser proprietario dos meios de Produgio nao eito como burgués, ainda que esse elemento seja indis- Pata defini-lo como tal. Da mesma forma: ado nio € em si proletariado a ndo ser que venda sua de trabalho em troca de salério, e isso implica 2 eee a pra. Mas 86.0 ato da compra nao caracteriza a relagio, a forga de ho deve ser comprada como mercadoria para ser conouimida om le produsio cle mercadorias, que produza, além disso, para que estejamos falando de uma relagGo capitalista, F so Interior dessa relagdo que uns tomanse proletdrios pera cating rere capitalists (las, 207, p. 108), a perspectiva, seguinco o pensamento de Mauro lasi, ancora- @studos marxianos, a classe se define ndo apenas pela posicao tla propriedade, ou nao propriedade, dos meios de producao, bom “pela posicio no interior de certas relagdes sociais de io” ©, ainda, ncia que associa ou distancia de “pela acao dessa classe nas lutas concretas” im, nao basta pertencermos a uma classe no sentido de 10 situagio, temos que levar em consideragio a acdo e a cons- {ue possibilitam a identidade com uma determinada classe. 8 palavras, ainda que, ' origem : Por exemplo, uma pessoa ao nascer 11 origem e se desenvolva no seio da classe trabalhadora, fenvolver identidade politica com a burguesia e ter suas acdes S Para os interesses da classe burguesa. Igualmente, uma pes- tenha sua otigem de classe burguesa e nunca tenha precisa- ler sua forga de trabalho para sobreviver, pode desenvolver @ ler identidade com os interesses da classe trabalhadora hegamos a um aspecto importante para a compreensio olitico. A politica também compée a dimensao histé- encontram-se, assim, dialeticamente articuladas na dinémica leterminacao e reprociugao das classes sociais. 10s das alteragdes hist6ricas, como istoricas das contradig6es estruturais que amadurecem no interior de cada sociedade” (Iasi, 2007, p. 110). Dessa forma, para ‘compreender as classes, necessério aprender a dinamica da luta de classes. Entender esse processo exige compreender nao apenas a dina- mica econdmica restrita da exploragao capitalista sobre a classe tra- balhadora, mas compreender as particularidades e diferencas dos sujeitos que compdem essa classe € como 0 capital se apropria das mesmas para gerar mais lucro. ., consideramos que a classe trabalhadora € heterogénea. igo que de fato acon- a nogao de relagao historica [. sm sempre corporificada ‘em pessoas reais € num contexto concreto” (Thompson, 1963, p. 9) Logo, nao podemos considerar classe como um conceito puramente abstrato, tampouco a-hist6rico. Se consideramos que s40 pessoas reais que corporificam a classe, ndo podemos negar a existéncia de ‘componentes como sexo e “raga” /etnia nas relagées de classe, ja que, assim como a classe, as pessoas nao so homogéneas, ainda mais em uma sociedade desigual. Da mesma forma, ndo podemos negar 0 componente classe nas relagdes sociais de sexo e étnico-raciais, Ha expressdes de hierarquias no interior da classe trabalhadora, advindas da propria forma de organizacio da sociedade. As diferen- sas hierdrquicas que a constitui sao apropriadas pelo capital na sua dinamica de producao e reprodugio de desigualdades associadas ao seu processo de acumulacdo. Dentre essas diferencas (transformadas em desigualdades na sociedade de classes) que compéem a classe trabalhadora, destacamos a de sexo, que passaremos a discutir. até o final da década de 1960, havia uma visio ho- moggnea sobre a classe no que diz respeito a sua composicao de sexo. aU CSN lo final dessa década que passamos a encontrar estudos imatizam a classe como algo homogéneo. Destacamos como ina vez em 1969, _ De acordo com Elizabeth Souza-Lobo (2011, p. 123), considerada Hh nos estudos comparativos sobre o trabalho desenvolvido por © mulheres no Brasil? foi “necessdrio que um movimento H salsse ds ruas e sacudlisse as venerdveis estruturas da producéo 2 Para que a varivel sexo fosse incorporada em pesquisas 6”. Dessa forma, percebemos que a incorporagio dessa va- estudos sobre a classe trabathadora esta radicalmente arti- lo luta feminista contra a invisibilidade e exploracao da mulher lorizagao do seu trabalho. Isso ocorre por meio da acertada Iso de que “as regras da dominagio de géner 1 reproduzem nas varias esferas da atividade soc O11, p. 157), © para a produgio te6rica critica: a desomogen Ihadora e os desdobramentos px €N torno de praticas col es de classe sao atravessadas pelas relagdes de poder e Mo sexo masculino sobre o feminino, como nos esclarece SSouza-Labo que marca ese enfogue com Hasculing ef FEMINSMO E CONSCIENCIADE CLASSE NO BRASIL 2s Engels: “[.. o primeiro antagonismo de classe que apareceu na his- t6ria coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem ¢.a mulher na monogamia e a primeira opressao de classe coincide com a opressio do sexo feminino pelo sexo masculina” (1979, p. 22). A origem do antagonismo de classe coincidir com a dominagao do homem sobre a mulher demonstra, dentre outras determinacSes, a necessidade de analisarmos as relagdes entre classe e sexo. Cremos que esses antagonismos “coincidiram” no tempo histérico nao por conta de uma determinagao natural, mas para atender aos interesses dominantes de garantia e reprodugao da propriedade privada, bem como da forga de trabalho. A marca do sexo nao esteve presente apenas na origem do anta- gonismo de classe, mas, ainda, faz-se fortemente presente. Compre- endemos, assim, que “a classe operdria tem dois sexos” (Souza-Lobo, 2011), do contrério, como podemos explicar que as mulheres estao nos postos de trabalho mais precarizados e mal remunerados? Como explicar a persistente divisio sexual do trabalho, que néo apenas diferencia trabalho feminino do masculino, mas gera desigualdades entre homens e mulheres pertencentes a uma mesma classe? Como explicar a jornada intensiva e extensiva de trabalho e o nao reconhe- cimento/desvalorizacao do trabalho doméstico/reprodutivo? Como explicar 0 porqué de 70% dos pobres do mundo ser mulheres (Més- ‘z4r08, 2002)? Negar a dimensao de sexo no trabalho € negar a reali- dade em que vive a classe trabalhadora, em especial a das mulheres, ‘em sua relagao com 0 capital. Segundo Souza-Lobo (2011), a resisténcia em trabalhar a proble- mitica classe~“género” esta associada a duas questées. Primeito, conceber a classe de forma homogenea por entendé-la apenas como algo definido nas e pelas relagdes de produgio. Contudo, como afir- ‘ma a autora, nao 6 possivel separar as relagbes de producio das re- sociais, das qu Wes dle sexo so, indiscutivelmente, % MRL CONE Be indo Souza-Lobo (2011, p. 125), por meio dessa argumentacao, \utiliza-se o espantalho da divisio da classe para reafirmar a deter- nagio da estrutura produtiva de onde se deduz. a classe como ‘0 homogéneo”, A importancia em se perceber a heterogeneidade da classe nio i no reconhecimento das especificidades que nela existem. Trata-se rriminagSes de sexo no trabalho sio uma especificidade das mulheres, mas “elementos fundamen- que estéo na base da dominagao da classe operér Il, p. 79). Isso nos leva a necessidade de ressaltarmos um alerta: (Souza-Lobo, Se a eliminacio das mulheres como sujeito social e hist6rico ests na thiz e € parte integrante do discurso econdmico (Vandelac, 1982) e 0 esté construfdo para ser geral, 0 problema que se oloea 6 de evitar a armaditha da dicotomia entre a andlise de relacoes tas gerais e de relagdes ditas “especificas”, como se existissem rela- de trabalho neutras e relagBes de trabalho no feminino (Souza- e da condigéo da mulher no mundo do trabalho nao 6 jestio de ordem lingufstica ou meramente gramatical. Ou seja, trata, apenas, de ressaltar que além de trabalhadores, existe hadoras na composicao da classe. Trata-se de analisar como as Sofrem uma exploragao particular, ainda mais intensa do homens da classe trabalhadora e que isso atende direta- interesses dominantes. ar essa reflexdo para a questo 'm um dos elementos fundamentais Mos 0s mecanismos de dominacao e exploragao de pgio da ersopeneicade da IEMO CONSCIENCIA DE CLASSE NO BRASIL ” formas de submissao e revolta” sdo “atravessadas sempre pelas rela~ ges de género e pela divisio sexual do trabalho” (Souza-Lobo, 2011, 1p. 98), 0 que torna essas dimensGes indispensaveis para a elaboracao de estratégias coletivas de enfrentamento. Essa perspectiva permite, ainda, que as discriminagdes nao sejam mais atribuidas aos sujeitos especificos [mulheres, negros(as)], mas, sejam consideradas um problema de toda a classe. £ nesse sentido que Simone de Beauvoir (1980, v.2) afirma: “o problema da mulher sempre foi um problema dos homens”. Concordamos com Beauvoir, afinal, “ndo existe nenhuma questo que afete a mulher e que ndo seja também uma questo social mais ampla, uma questdo de inte- ‘esse vital para o movimento revolucionério, pela qual tanto os homens como as mulheres comunistas devem lutar” (Waters, 1979, p. 42; tradugao nossa). ‘Assim, a classe nao é uma massa homogénea, mas tem “raga” / etnia e sexo. “Se 6 certo que o capitalismo utiliza uma estratégia de ‘dividir para reinar’, a configuragao dessas divis6es ¢ construida Imente através das relagdes de classe, de ‘raca’, de género e das préticas sociais” (Souza-Lobo, 2011, p. 173). Dessa forma, nao podemos compreender o sistema capitalista apenas por meio da explicagao dos fatores que constituem a divisdo da sociedade em classes sociais an- tagénicas. £ preciso entender que esse sistema “langa mao da tradigao para justificar a marginalizacao efetiva ou potencial de certos setores da populagéo do sistema produtivo de bens e servigos. Assim que © sex0, [..],fonte de inferiorizacao social da mulher, passa a interferir, de modo positivo para a atualizagéo da sociedade competitiva, na constituigao das classes sociais” Gaffioti, 1979, p. 35). Cada uma das particularidades estruturantes da classe — sexo- -aga”/etnia —, combinadas ou nao, imprime determinagdes ¢ im- pliastes diferenciadas para as mais variadas fragdes que compéem b ioe isin Sian lneres brancas ganham sa- das mu- a anus csv FENINSMO E CONSCIENCIADE CLASSE NO BRASIL classe. Tal hiera Muinte ocd ira da desigualdade social segue a chegamos ao extremo de as mulheres negras ganharem apenas 36, (Gpardogiil mulheres brancas, homens negros dos homens brancos. Esse dado jé nos seria suficiente para ilustrat Nod OP x onan que a classe tem sexo e “raca”/etnia e que essas dimensies si0 dos qua SIMMS © as be ee leres seguem ganhando menos. truturantes e indispensaveis para a compreensao da classe traball maa mi negras menos do que as brancas, dora e da dinamica de exploracao que o capi pode ser visto a seguir, Sain oareton(e) Além disso, o aprofundamento da desigualdade entre 0s sext na atualidade também € expresso no ntimero maior de mulheres n Quadro 4 trabalhos em tempo parcial e marcados pela inform. Razéo entre rendimentos médios mensais do trabalho principal empregaticios. Segundo dados do IBGE, na Pesquisa Nacional de alguns grupos selecionados* — 2003 e 2009 Amostra de Domicilio (PNAD) de 2009, a populagao ocupada: ocupagées precérias* por sexo e “raca” /etnia, revelou os seguint ae dados: 25% de homens ¢ 41,1% de mulheres, sendo dessas, 4 negras ¢ 34,3% brancas. Com isso, podemos perceber que, de uma forma geral, a eXf ragio sobre a mulher trabalhadora ocorre de forma mais intensa | que sobre os homens. Hé ainda que se considerar que entre as pr} mulheres essa exploragao também ganha faces particulares, ¢ Boschetti (2006, p. 185), com base em dados do Relatério da © sao Externa da Feminizagao da Pobreza (2004), do Senado ‘mostra dados ainda mais alarmantes do que os apontados a proporgio de mulheres que se concer (61%) é 13% superior & proporgao de homens nessa mesn NO pode ser observado no Quadro 1, no houve melhoria (54%). No caso das mulheres negras, essa proporcao é de 7 de 2003 para 2009 nos rendimentos das mulheres com elas se concentram nas ocupagies mais precarias ¢ det I Ferdimentos dos homens, ainda mais quando corsice. do mercado de trabalho. A tendéncia maior da mao de ob irlavel “raca”, Na combinacao entre as desigualdades, apresenta uma desvantagem marcante nesse aspect desemprego, em relacdo aos 10% das mulheres brancas mise agudiza no caso das mt ‘no ano de 2022, Wolair Quadros (2004) também confirmou essa * RUA cSNE taxas alarmantes de desemprego, de 25%. Além disso, no que se re- fere a0 emprego doméstico, as mulheres negras sio a maioria. Por ‘essas razes, estas alcangam somente 39% dos rendimentos dos homens brancos, Hi ainda outra dimensao importante a se considerar nessa “or- hierarquica, que é o sistema heterossexual obrigatério de orga- igho social." Os homens brancos e heterossexuais possuem muito io do que o outro lado extremo da hierarquia social: a jer negra, lésbica e pobre. Assim, a dimensao da orientagio sexual, ia Sociedade patriarcal, engendra opressées particulares. Por iplo, um homem pobre e heterossexual possui muito mais res- lade do que um homem pobre gay. A dimensao de classe, lo, nao pode ser dissociada dessa andlise. Um gay rico, por mais fra opressdes pela sua orientacdo sexual, nao sofre tanta dis- Igo quanto um gay pobre, além disso, possui privilégios ofe- pela sua condigao socioecondmica que um pobre heterossexual im interior do campo dos “transgressores” da heterossexualida- Hem desigualdactes e preconceitos mais acentuados para alguns, ‘Por exemplo, para os trans. Isso impacta diretamente na de: de no mundo do trabalho, posto que esses sujeitos, assim como heres, esto mais expostos aos trabalhos precarizados. ir de reconhecermos a mi idade dos sujeitos inseridos mesma classe, nao queremos isolé-los em suas “identidades”. , precisamos perceber o sujeito classe trabalhadora, em ide, 0 que exige desvelar suas particularidades e singula- classe como determinagao central’ nao pode secundarizar alquet (2009, p, 123), 0 sistema heteosoexual obi ria cliviao da Numan em dois Sex dal com plemanis FeMINSMO # CONSCIENCIADE CLASSE NO BRASIL 3 05 demais elementos estruturadores desse sujeito, da mesma forma que tais elementos nao podem subtrair a classe. Dai nossa insi ‘em perceber as relacbes entre classe, “raga” /etnia e as “relacdes sociais de sexo” como uma unidade dialética que determina o sujeito totali- zante: a classe trabalhadora. Hi, portanto, uma unidade dialética entre as subestruturas basicas de poder da sociedade capitalista: classe, sexo, “raca”/etnia, na qual essas categorias esto organicamente integradas. Dessa forma, “o importante é analisar estas contradigdes na condigao de fundidas ou enoveladas ou lagadas em um n6é. [...] No né [..] a dinamica de cada uma condiciona-se a nova realidade, presidida por uma lgica con- tradit6ria” (Saffioti, 2004, p. 125). Esse n6 “nao pode ser desatado no nfvel das préticas sociais, mas apenas na perspectiva da, sociais de classe, sexo e “rag “coextensivas”, ou seja, a0 se de- senvolverem, elas "se reproduzem e se correproduzem mutuamente” (Kergoat, 2010, Para D. percebido entre as relacées de classe, “raga” € sexo. Para a autora, esas relagdes sio de producio e nelas a exploragio, a dominagao € a opressio se entrecruzam. Por isso, Kergoat alerta para a necessidade ‘minuciosamente como se da a apropriacao do trabalho de um grupo por outro, 0 que nos obriga a voltar as disputas (mate- tiais e ideolégicas) das relages sociais” (2010, p. 99). :perativo materialista” a ser Ainda nessa direcao analitica, destacando as relagdes entre clas- se e sexo, aponta Antunes: tenire género e classe nos permitem constatar que, no uni- do produtivo e reprodutivo, vivenciamos também a ia " Mc sexuada, onde os homens e as ‘ea escola, diferentemen- MLA Che NO BRAS determinag3o central na sociedade capitalista. Apenas dessa form izando a expressio de Elizabeth conseguiremos compreender esta classe em sua totalidade e em su classe operdria tem dois sexos” 6 fanda- condicao de totalizante, condigao prévia para pensarmos seu process 0 ©; consequentemente, organizacio da de organizagio. 's classes acontecem a0 viverem os ho- as relagSes de producdo e ao experimentarem, L.-J trata-se, pois, de estar sempre alerta para poder detectar a pt intes dentro do conjunto das relacées sociais” a das diferencas-semelhangas de classe nas relagdes de género. Ef 1975, p. 38). Por isso, ndo podemos negar a existéncia de outros termos, esses dois tipos de relagdes so absolutamente recor Foe 8 Telasbes de classe, tampouco podemos negara dimen- tes, impregnando todo o social. A razo tiltima para a existénd P le classe nas relagées sociais de sexo, dessas clivagens pode ser encontrada a [si macro. As rel Considerar as diferencas eas dk \davia, se inscrevem no plano entre as pessoas. Eis por Classe nao deve ser no senti nao se podle abrir mao de uma postura teérica que permita o I a, Ao contrario, ; f ‘ transito entre o plano macro e o nivel micro. Este ir e vir constitul Bio econdmica das sociedades, ou seja, no movimento de ees fundamental para propo, «ptror ane, da Gin Feet cusdo da vida. A organizagio econémica de uma sociedade, Sa ecae: mndida des 7 Fee canee2 forma, Ndo pode ser restringida as relagées de pro- Desse modo, lerar a diversidade da classe faz-se neces’ ge la ‘0 dos sujeitos coletivos em para compreendermes a luta politica engendrada pela criaca ee ola tetizé-lano “fato econdmico”. de uma luta classista, que deve ser 0 ponto comm ‘ lutas que buscam o fim das desigualdades sociais. 1.2 Formagio da consciéncia de classe Mic den CPS materalsta da histéra, o fator que, em ee ee ce determina a historia € a producio e reprodugae da e Mlpuda, a Ct afimamos, uma vez soquer, algo mais do que isso eneifica,afirmando que o fato econdmico 0 nico fate converte aquela tese numa frase vazia, abstrata . 284; grifos do autor), oe Teprocucio da vida real 6 deter- vez, possuem MARLA CSN “autorrepresentacao consciente” nao surge espontaneamente, ou, m outras palavras, ndo basta pertencer a uma classe para se tera consciéncia dela, Na verdade, como nos ensinaram Marx e Engels (2009, p. 67): As ideias da classe dominante so, em todas as épocas, as ideias do- minantes, ou seja, a classe que ¢ 0 poder material dominante da socie- dade 6, a0 mesmo tempo, 0 seu poder espiritual dominante. idefas dominantes nao s0 mais do que a expressao ideal das relagdes materiais dominantes [...J; portanto, das relagdes que precisamente tornam dominante uma classe, portanto as ideias do seu dominio (destaque dos autores). Isso explica, em grande medida, porque muitos trabalhadores acabam incorporando a ideologia que representa os interesses das ses dominantes e nao a consciéncia revolucionaria de sua classe. Sobre isso, Mauro lasi nos alerta que “enquanto o proletariado tomar como sua a consciéneia do outro seré ineapaz de completa e verda- deira autonomi tudo da consciéncia, “como uma maneira de aferir o grau de matu- ridade da luta de classes expressa na luta entre concepgoes de mundo antag6nicas, como grau de amadurecimento de novas formas dle consciéncia que lutam ainda sob o invélucro da velha sociedade” (lasi, 2002, p. 36). Karl Marx nos oferece dois pressupostos imprescindiveis para irmos sobre as possibilidades e os limites a serem enfrentados ra a construgéo de uma nova histéria, Um é 0 de que nao 6 0 pen mento que determina a realidade, mas a realidade que determina 0 pensamento. Nas palavras do pensador: Na produgao social da propria existéncia, os homens entram emt 4g0es determinadas, necessdrias, independentes de sua vontade) INSMo E CONSCIENCI DE CLASSE NO BRASIL pp. 47; grifos nossos). ‘Assim, “ndo é a consciéncia que determina a vida, ¢ determina a consciéncia” (Marx e Engels, 2009, p. 32). A prine so poderia nos levar a falsa concepgio de que o ser humano Ni teria a capacidade de produzir sua histéria, tampouco de transfor 1a. Contudo, o segundo pressuposto, encontrado na obra O 18 BM mario de Luis Bonaparte, diz exatamente o contrério, quando Mal expressa a dimensio politica do ser social na condigao de construl da hist6ria, ainda que sob circunstancias nao escolhidas: “Os home {fazent a sua propria histéria, mas nao a fazem segundo sua livre VO de, em circunstancias escolhidas por eles proprios, mas nas cit Lincias imediatamente encontradas, dadas e transmitidas pelo pi do” (Marx, 2008, p. 207; grifos nossos). Nessa mesma linha fandlise marxista, lasi (2006, p. 520) afirma que a consciéncia [.cJantes de tudo, uma consciéncia social herdada, inet dle uma certa ordem social de relagies que se insituiram em fo valores, juizos, concepgées de mundo, partilhados em comt aqueles que conviver numa certa época, mas é mais que isto, ppressdo ideal de uma substancia que correspondle A esséncia das pi relagbes que _singularidade, ou soja, uma singular visdo do mundo prépri ~ forma singular de vida. mulheres} tanto quanto os homens [e as mi Engels 2009, p. 59). Ls ida, em tiltima andlise, por essa conscién- nento do inclividuo; essa agao 96 pode ser conhe- tir dessa consciéncia (2003, p. 142), olUtiondria (Marx e Engels, 2009, p. 68). 8 PlSsupostos apontam para a necessidade de partirmos Onereto, Ma realidade, ou seja, de uma perspectiva materialista, land O-nos do idealismo. Ao mesmo tempo e, dialeticamente, arx nos A dla passividade positivista que naturaliza a his- en lo ser humano a capacidade de tr: a 86 6 possivel mediante a recat da” arise “Feea idacle clemanda irmos as raizes das relagdes sociais, que, segun- Marx (2008a, p. 47), encontram-se “nas condicdes materi as éncia”. Tais condicdes, por mais que guardem as determinacde: A ideologia dominante, oferecem também, pelas contr: castes \configuradas, as possibilidades a para uma revoluga explica Marx: ane ae J 0 destino de uma classe”, alerta-nos Lukécs, “de- le de sua capacidade de esclarecer e resolver, em todas as suas ‘0s problemas que lhes impée a evolugao histérica” ia € fruto social, resultante de um processo ininter- ela nao € estanque, exatamente por ser social. “A is, logo desde o comego, um produto social e conti- lo enquanto existirem homens”. Ela inicia apenas como jmediato e consciéncia da conexao imitada com outras pessoas e coisas fora do individuo que se vai tornando consciente de si [...]” (Marx e Engels, 2009, p. 44; destaque dos autores). £ importante ressaltar que a consciéncia nao € apenas uma in- trojegéo do mundo externo. O individuo ao “tomar consciéncia” projeta também sua reflexao sobre a sociedade, mediada pelas muil- tiplas relagdes que estabelece ao longo da sua trajetéria. Nao devemos, portanto, compreender a consciéncia como algo apenas subjetivo, tampouco apenas como uma introjecéo do mundo objetivo, mas como uma sintese das relacdes estabelecidas entre o individuo e a socieda- de. Nessa perspectiva, a consciéncia nao é algo meramente individual ‘ou exclusivamente subjetivo, posto que 08 individuos estabelecem no processo de formagio da consciéncia relagdes com 0 mundo externo, Em outras palavras: Em uma certa etapa de seu desenvoh 2 lesenvolvimento, as forcas produtivas, | materi sociedad etm em conrad com as eles dere dlugdo existentes, ou, 0 que no & mais que sua expresso juridica, com fs relagdes de propriedade no seio das quais elas se haviam desenvol- Vido até entio, De formas evolutivas das forgas produtivas que e lessas relagdes convertem-se em entraves. Abre-se, enta epoallé : traves. Abre-se, entao, uma época de revolucdo Social (2008a, p. 47) ae Segundo Marx e Engels (2009, p. 58), “todas as formas e produtos gonsciéncia” nao sto resolvidos pela critica espiritual, pela disso~ lo na consciéncia, “mas pela subversio prética das relagies sociais que derivam das fantasias idealistas. Em uma palav1 ora da hist6ria |... nfo é a critica, mas sim a revoluci Onsciéncia de classe, todavia, é fundamental para a revolucéo. E preciso, Portanto, entendermos o que é consciéncia de classe, comecemos pelo fi comecemos pelo que ela no é Segundo Lukées, consiéncia ‘Aconsciéncia em sua forma mais simples, singular, seria a capacida humana de representar a si mesma e 0 mundo por imagens e si ‘mentais, e, portanto, em sua aparéncia, a consciéncia tem sido sem] vo. Entretanto, analisando mais pi iplica, na concepedo marxiana e, de associada a0 universo st damente, a consciéncia . MARL SKE forma, também para Hegel, uma unidade entre os aspectos subjetivos ou internos & objetivos ou externos (Iasi, 2002, p. 52). No capitalismo, as relagées dos individuos com a sociedade so mediadas por grupos e instituigGes como familia (em que ocorre a lizacao priméria"), igreja, escola, movimentos sociais, partidos diversos, trabalho ete., que constituem a “socializagao secundaria”. Essas instituigdes sio a “base” sobre a qual os individuos “constituirao ‘oncepedes de mundo” (Iasi, 2002, p. 108). Nao necessariamente todas essas instituigdes estardo presentes na vida de todas as pessoas. As que se fazem presentes apresentardo influéncias diferenciadas para cada uma, exatamente por se tratar de relacdo e como tal, exigir a interferéncia de um outro polo: o individuo. Tais influéncias podem, ser modificadas ao longo da trajetéria de vida dos individuos, de acordo com as novas relagdes que estabelecem e 0 contexto hist6- m que se inserem. £ com base nessa compreensio que a pers- Pectiva marxiana afirmaa existéncia de uma “unidade dial Individuo e sociedade, ou se Assim, para analisar o processo de formacao de consciéncia da Glasse que nao & linear, tampouco uniforme ou estanque, é preciso compreender que a consciéncia resulta das mtiltiplas relagdes esta- belecidas pelos sujeitos na sociedade, ainda que ela se processe idualmente, Consideram os que a consciéncia de classe é determinada histo- lente pelas condigées e relagées estabelecidas na sociedade e, essas sio, por sua vez, determinadas pela dindmica da luta de de classe dos trabalhadores pode representar de avangos e recuos proprios” dessa dinamica, desde a ousadia revolucionéria ivismo” (Iasi, 2002, p. 133). is que a anélise da ideologia e da alienagio FEMINISMO & CONSCINCIA DE CLASSE NO BRAS. a que se submetem, devem também justificé-las na diregao de mi tengo de determinados interesses, ot seja, a consciéncia pode se torn ideologia” (asi, 2002, p. 94-95; destaque nosso). O autor nos indica qh é dentro de um contexto especifico, de uma sociedade cindi leresses de classes antagonicos, que 0 processo de constru consciéncia social pode em vez de “ser um elemento de identidat do individuo com a sociedade volte como forca hostil, como jt cativa ¢ ocultamento de relagdes de dominagéo, ou, para ser pred como ideologia” (Iasi, 2002, p. 113). Passemos, pois, a buscar entender a ideologia, jé que sem fica invidvel a compreensao da formacao da consciéncia nesta ciedade de cl ressaltar que da que nem toda forma de consciéncia seja uma ideolog 2002, p. 97). © conceito de ideologia é considerado polissémico. Ni ratar dessa polissemia, contudo, pretendemos dei a concepcio de ideologia e em qual tradigao te6rica cio da diversidade de concepgdes sobre ideologia, fil sypectiva de Marx que compreende ideologia como uma fonhecimento” (Konder, 2002, p. 10). £ importante, no torcdo ideolégica ‘lo se reduzia a uma racionalizagio cinica, grosseira, tOse stra dos interesses de uma determinada classe Ou vezes ela falseia as proporgges N jovimento yonse sentido que Kond \ ser Um “processo”, é executada rt “um ‘conscléncla, porém nio podemos deixar del Jue 0 processo da ideologia é maior do que a falsa conscién- ele nifo se reduz a falsa cons que incorpora necessa- ite em seu movimento conhecimentos verda (2002, p. 4 ques do aut , Para nés, 0 importante e o que determina a perspectiva marxis- bre ideologia, é a necessidade de desvelarmos os processos de ago do capital sobre a classe trabalhadora. Seja qual for 0 jo ou. o alcance da anélise — sempre determinada pelo seu con- hist6rico —, todos os marxistas que estudam ideologia partem Janilise da Iuta de classes que determina o proceso de formacao Ws consciéncias, com um claro compromisso te6rico-politico com a \cipagdo humana, Mauro Tasi (2002, p. 95) afirma que, para Marx, o termo ideologia “inseparavelmente ligado & necessidade [da] [..] consciéncia icar determinada relagao de dominagio, e, portanto, de velamen- inverséo e naturalizacdo de relagées sociais que marcam o dominio ‘uma classe sobre outra”. Essa ideologia, para exercer dominacao, sita de uma base: a alienacio, Cabe, aqui, o entendimento da io entre ideologia e alienagio, bem como a diferenga entre ambas. jarece-nos Iasi (1999, p. 24); isticas fundament e ser is para exercer uma dominagdo que, agindo de fora para dentro, encontra nos indivi- duos um suporte para estabelecer-se subjetivamente, __ Lendro Konder, também seguindo o pensamento de Marx, res- lta que o essencial da ideologia consiste na “expressao da incapa- ipreendlera ideologia no plano concreto da cidacle, Assim, para desvelar 0 “enigma” da ideologia, é neces- i compreender as relagSes materiais que a produzem e quem ela como apontam Marx e Engels (2009), na A ideologia fa tem como fundamento as relagées materiais domi- © germe da ideologia, em sua “acepedo negativa”,* encontta: nna divisio social do trabalho na sociedade de classes, & medida 6 set social fragmenta sua capacidade de apreensio da totalit sobre seu processo de trabalho. A diviséo social do trabalho sio entre o trabalho material e espiritual. A partit diferente da consciéncia da praxis existente, de representar a coisa sem representar nada de real [..]" (Marx e Engels, 2009, Surgem, entio, as bases concretas para o desenvolvimento da gio que, segundo Mészaros (2006 [1970)), baseado nos estudos xianos, expressa-se em trés aspectos /niveis organicamente vincull ‘6 ser humano alienado da natureza; o ser humano alienado de © ser humano alienado da sua espécie. 4 [sso ocorre porque a divisao entre trabalho intelectual e mi impede que o ser humano exerga sua capacidade teleol6gica, que execuite e domine seu processo de trabalho, Em outras palavras, divisio impede que o ser humano se efetive e se reconheca NO duto do seu trabalho, ele o estranha. Para haver 0 reconheci "umano como ser social, hé a necessidat Pp a realizagéo do ser hn “A ieologia também foi concebida em uma acepcio positiva, inclusive POF tomo Gramsc e Lenin, ue defenderam a possbilidade da construcio de indo, Essa ideologia it sdeolopia Togiarevoluciondra comiprometida com os interesses do romeo de “histocicamenteonganica”,contrria 3s “ideo {que distorce realidad e conbibui para a reproduc mente orginica” aponta para a necessidade do “hist fdelase presenta, mas para os sistemas filos6fics © {da alenagio, base do desenvolvimento das ideologlas “at mminagio). A ideolog sno absoluto” no ape © idade do proceso de tral ico de suas necessidades naturais e sociais. Essa frag. P era, portanto, um estranhamento e no um reconhecinen lo ser social no resultado do seu trabalho. O estranhamento do m seu objeto se expressa, segundo M: \cional-econémicas: Scena m que quanto m, tabalhador procuz, menos tem para con- ra es ctia, mais sem-valor e indigno ele se jy uanto mas bem formacl o seu produto, tanto mais deformado pint quanto mals ciizado seu objeto, mais birbaroo tabalhader quanto mais poderoso o trabalho, mais impotente o trabalhador se torna; quanto mais rico de espirito : servo da natureza se to fabalho, mais de espitito », mais pobre de espirito 1 o trabalhador. Esse trabalho estranhado, vale lembrar, tem como resultado ppriedace privada. Ao mesmo tempo, dialeticamente,a propriedade la ndo é penis opr 7 do trabalho estranhaclo, é também o fa que o trabalho se exteriorize (Marx, 2008; 1%, 2009a, p. 87-8) fofta a divisio social. Com isso, o trabalho que funda, ora Passa a ser um meio de alienagao e nao om 0 trabalho alienado o ser social se coisifica 0 resultado do que prod " ia da natureza, aa Jo se reconhe- Produz, estranha-o. Assim, o ser social se fetichizando-a. O trab: una obvigasio para sobrevivéncia eno “anions ents Sc), “€ atividade imposta que gera sofrimento ¢ aga ea 0 gers pre” Ele € realizado para 0 outro pela auséncia de ee iferente para garantir a sobrevivéncia, sendo por venda da forga de trabalho. £ importante lembrarmos que: {..] quanto mais 0 trabalhador se desgasta trabalhando, tanto Poder se oma mundo cbt ale gue cn des nt eee se torna ee ear, ‘seu mundo interior, [e] tanto noe [o lor] pertence a si préprio. [..] O trabalhador encerra sua vida ‘io porteniee mals a ele, 09 sim a _ Hié assim, Yeoisa”. E, a0 pas jenagdo de si como ser humano, o indi- Viduo, também, distancia-se da sua espécie, Ocorre, utilizando as palavras cle Marx (2009a}, uma “exteriorizacao” do trabalhador em seu produto. Tal exteriorizagio ndo é resumida apenas no fato do resultado do trabalho ser um objeto, mas, por esse objeto parecer independente de quem 0 produziu, como algo estranho ao balhador que 0 fez. Com isso, o objeto torna-se uma “poténcia auténoma” diante do trabalhador e “a vida que ele concedeu ao objeto se Ihe defronta hostil e estranha” (Marx, 200%, p. 81). Esse processo, segundo Marx (2009a), faz com que o trabalhador no se sinta bem, mas infeliz, ndo desenvolvendo “nenhuma energia fisica e espiritual livre”, mas, “mortifica sua p) pitito”, Por isso, 0 trabalho torna-se obrigatério ¢ no voluntério, tampouco, prazeroso. Nas palavras do autor: “o trabalho no qual 0 homom se exterioriza, é um trabalho de autossacrificio, de mortifica- G0. [..] a atividade do trabalhador nao ¢ sua autoatividade. Ela pertence a outro, € a perda de si mesmo” (Marx, 2009a, p. 82-83). Dessa forma, “em vez do trabalho tornar-se o elo do indi da vida, metamorfoseia-se num (asi, 0) coma humanidade, a producao s0% meio individual de garantir a propria sobrevivéncia particular 2007, p. 22-23). A divisao social do trabalho, contudo, forja as condigdes para a sua superacdo, uma vez que, segundo Marx e Engels (2009, p. 46): "De toda essa porcaria [referindo-se a divisio do trabalho e seus descobramentos] extraimos um s6 resultado, o de que [...] a forca de producao, o estado da sociedade e a consciéncia, podem e tém de cair em contradigao entre si”, Para os autores, a possibilidade de nao cairem em contradigao s6 ocorreria com a superacio da divisto do MLA CSN trabalho, ja que com ela “esté dada a possibilidade, mais a realidade de aatividade espiritual ea atividade material, a fruigdo e 0 trabalho, 2 produgio € 0 consumo caberem a individuos diferentes” termos, @ consciéncia para a superagdo da alienagdo e da ideclogia necessita da eliminagio da divisio social do trabalho, que, por sua vez, nao resultard da simples vontade ou do desejo da consciéncia, mas, da agao politica concreta da classe trabalhadora. Todavia, as contradicdes entre a consciéncia e a realidade so fundamentais para esse desdobramento politico, como veremos adiante. Nesses Além da superacio da divisio social do trabalho, Marx e Engels (2009, p. 50-51) também apontam como necessidade para superagio da alienagdo: {..] uma grande massa da humanidade absolutamente ida de Propriedade” (.. ao mesmo tempo em contradigéo com um mundo existente de riqueza e cultura, o que pressupée um grande aumento da forca produtiva, um grau elevado do seu desenvolvimento e, por outro Indo, esse desenvolvimento das forcas produtivas [..] & também uma Premissa pratica absolutamente necesséria porque sem ele 56 a escassez I se generaliza, ¢, portanto, com a caréncia [..] também teria que omecar a luta pelo necessério (destaques dos autores). sto, entendemos que a divisio social do trabalho associa riedade privada sintetizam as determinagées da desigual Ie da alienacio advindas do modo de produgdo do capital Sociedade capitalista, ao ser baseada na “generalizacao da © de mercadorias”, faz com que “o movimento dos objetos” “todas as esferas da vida humana” e com isso, camufle o8 lentos subjetivos”. Como vimos, até mesmo a forca de trabax FEMINSMO E CONSCEENCIA DE CLASSE NO BRASIL instrumental” é “quantificadora”, i desqualificagao na subjetividade, tanotoremnao Sue fe ees ‘ de fanas’. Com ess “razao instrumental”, 06 individuos s20 sat suas qualidades. Em torno dessa reflex ee, Leandro onde conclu naa dost capitaina “end te ante qualitativos, 0 ae ee homens Ov sues ndviduss sp iduidos a Carpe ended plano no qual as maquinas pad n met ‘Hos e superé-los, rendendo mais do que cles” (Konder, 2 ae ic ams bart socal que ha 0 processo de formacao Cs Ja, exbebido por relacées de alienagéo que proporci ecient ie) das distorgées ideol6gicas acerca do conhe ie e on ee & “profundamente enraizada ono ty baseada em modelos e identificagbes de felon ie p-20). Ela é entendida como “a a ae — pois a quant da percepgao imediata e sensi de mundo” (asi, 2002, p. 111) : nl A primeira forma de consciéncia, segundo p- 18), possui como principais caracteristicas: 1.a vivencia de relagies que jé estavam preestabelecidas ¢ de dada; a Jo da parte pelo todo, em que 0 4) hunts como una feria pontaltrna-se “a realidad lizagio) ' 3. une mecanismo, as relagdes vividas percem sett + co @ cultural para se tornarem naturais, levando a perce} fol assim e sempre sera’ 0 das necessidades, seja da sob 2007, p. 30). Dessa forma, assim como na primeira forma de consciéncia ha tise ideol6gica” gerada pelas contradigées desta sociedade las no individuo, na segunda forma também hé contradigdes s uma A consciéncia ainda reproduz 0 mecanismo pelo qual a satisfacio do desejo cabe ao outro. Agora, ela manifesta o inconformismo e nao a submissdo, reivindica a solucéo de um problema ou injustiga, mas quem idica ainda reivindica de alguém [..] temos que nos submeter as formas e condigées estabelecidas por outros para manifestar esse incon- fi | Bsses no sio [..] apenas limites de uma certa forma de ‘onsciéncia, mas também li 2007, p. 31). (© que o autor procura nos chamar atencao é que a “consciéncia pode até permitir ao proletariado uma consciéncia de classe, ela se limita as reivindicagSes mais imediatas. Nao hé ainda uma idace determinando essa consciéncia ao ponto de possi Jetcepcao das determinacdes estruturais das injusticas sentidas ¢ Dlestadas pelo proletariado. Assim, a reivindicacao no ganha a a da luta para além do capital, para a eliminacdo da socie- de classe. As Iutas so travadas nos limites da sociedade capi- lista, sem apontar para a necessidade de sua transformacio. € determinada pelo alcance do que Marx }) denominou de “classe em si”. Ao perceberem seus interesses 1um, os(as) proletérios(as) tornam-se uma classe “em si” em hiea em nome da satisfacéo das necessidades que atend imediata e, no maximo, a uma melhor condig ua SNE vam sendo vistos pela pessoa como naturais e verdadeiros” FEMINSMO E CONSCIENCIA DE CLASSE NO BRASIL 0 emancipatéria, que s6 6 possivel coma eliminagao das classes sociais. Marx nos explica: [As condig6es econdmicas transformaram, em primeiro lugar, a massa do povo em trabalhadores. A dominacao do capital sobre os trabalha- dores criow a situacdo comum e 05 interesses comuns dessa classe. ‘Assim, essa massa jé 6 uma classe em relagio ao capital, mas nao ainda na classe para si mesma. Na luta, da qual indicamos apenas algumas fases, essa massa se une e forma uma classe para si. Os interesses que cla defende tomam-se interesses de classe (1982, p. 5) Um bom exemplo da “classe em si” e da sua forma de conscién- ‘cia 6 a reivindicagéo por melhores salarios em uma greve. Percebe-se a dos baixos salarios, reivindica-se um aumento, porém, ndo icia do trabalho assalariado, suas determi a necessidade de sua eliminagao. ‘Apesar disso, néo temos como negar a importancia da possibi- dade que essa forma de consciéncia permite ao proletariado: o re- > de si, em alguma medida, como classe, embora, esse onhecimento e 0 processo de reivindicacao afirmem a existéncia ‘gua classe e da classe que o domina, ou seja, “ao se assumir en- (0 classe, 0 proletariado nega o capitalismo afirmando-o" (asi, M7, p. 32). Assim, a “classe em si injusticas e, mais isso, contesta-as, mas nao busca superar as classes e suas deter- Ges estruturais, ao contrério, afirma-as. Isso ocorre por ndo lit a apteensio da realidade em sua totalidade. A reivindicacao da forma de consciéncia, portanto, é parcial e, consequente- sagiio da ideologia dominante também. também denominada por Iasi (2007) jada pelo processo de superagao Esta, por sua vez, de acordo yecimer sARLA CSN Nessa forma de consciéncia, portanto, nao ha apenas o reconhe- cimento do proletariado como classe, mas também a necessidade de superagio das classes. A reivindicacio, nos limites do ca assa a ser insuficiente e 0 proletariado assume sua tarefa revolucionaria de superacao do capitalismo ¢ construgo da emancipacdo humana. Nas palavras de Engels (1984), em sua obra Do socialismo ut6pico a0 soci cientifico, seria o salto da humanidade “do reino da neces- sidade ao reino da liberdade”. Para Mauro lasi, a “verdadeira conscién consciéneia da transformagio”, € fruto de uma “dupla negacdo’: “num primeiro momento, 0 proletariado nega 0 capitalismo assumindo sua posicao de classe, para depois negar-se a si proprio enquanto classe, assu- mindo a luta de toda a sociedade por sua emancipagao contra 0 capital” (2007, p. 32). Essa “dupla negacao”, contudo, nao pode ser percebida como momentos separados ou isolados. O importante é ter a clareza de que a consciéncia de classe nao esté na consciéncia em si ou para mento que leva uma a outra, Até porque a consciéncia nao é linearmente progressiva. Ou seja, a0 alcangar a consciéncia revolucionaria, o ser social e mesmo a nao estdo livres de “recuos” aos niveis mais baixos da consciéncia. Nesse movimento, 0 papel do partido deve estar voltado para as- segurar que as reivindicagées imediatas, parciais, sejam associadas & negacao do capital e das classes em sua totalidade, ou seja, que as ersalize. lasse Esse processo emancipatrio demanda, necessariamente, a exis- t6rico que compreende a necessi- jondria: a classe trabalhadora e, centralmente, © proletariado, Essa defesa se fundamenta na reflexao de Lukécs (2003) de que, para 0 proletariado, o conhecimento de si mesmo é também ‘0 conhecimento objetivo da esséncia da sociedade, Para o proletariado alcancar a perspecti € indispensavel que seus interesses est socialismo, Pari MO E CONSCIENCIA DE CLASSE NO BRASH entre o interesse imediato ¢ o final, ou seja, entre o momento isolado totalidade. Isso significa alcancar a “Iuta politica” pela transfor= macio da sociedade capitalista, ndo se limitando a “luta econdmi imecliata, ou, nas palavras de Gramsci (2000a), superando a conscién« econémico-corporativa (que corresponde aos interesses das cates gorias profissionais isoladamente, sem unidade de interesse com 0 grupo social mais amplo) e a sindicalista (na qual hé solidariedade tre os interesses de um grupo mais amplo, mas no ultrapassa dimenséo econémica). Esse momento de superacdo da dimens “econdmica da consciéncia de classe, Gramsci (2000a, p. 41) denomil dle “fase hegem@nica’’ circulo corporativo, de grupo meramente econdmic devem tornar-se os interesses de outros grupos subor fase mais estritamente politica, que assinala a passagem ni ra para a esfera das superestruturas complexas; é a fa que as ideologias geradas anteriormente se transformam em" tentram em confrontacao e lutam até que uma delas, ou pel MARLA SNE ica “trade-unionista”," a qual diferencia da mnaria, por se limitar as lutas pelas necessidades mais imedis se trabalhadora e, portanto, nao estar voltada para uma juptura com o capitalismo. Essa politica também ficou conhecida ‘como reformismo, por buscar apenas reformas no ambito do sistema ista e ndo a sua superagio, A questéo fundamental qu a “luta econémica” reside na busca da methoria e nao da transformagio das condigées de trabalho e de vida, A “luta econdmica” é, portanto, segmentada, nao imprime o ‘eardter de negacio do capitalismo em sua totalidade e nao confere, por conseguinte, um caréter de demanda generalizada para a classe balhadora como na “luta politica”. Marx" nos esclarece: gteves, os capitalistas isolados a redugio da jornada de trabalho em determinada fabrica ou ramo da inctistria, ¢ um movimento puramen- te econémico; pelo contrério, 0 movimento visando obrigar que se 6 um movimento politico. ‘umm movimento de classe, cujo alvo & que se dé satisfacio a seus int : wes em forma geral aa totalidade, a critica ni parcial”) e como uma unidade bilitada pela busca da total Nao se trata, tanto, de “fases”, ou seja, adquirir conquistas econémicas, reformas mitadas A ordem capitalista, para depois se travar a “luta politica” transformacio dessa sociedade. Trata-se de nunca subordinar 0 ts partes isoladas, nao submetendo a luta revoluciondria & luta mista, o que exige nao perder de vista a estratégia, objetivo das lutas: o socialismo. Cabe & classe trabalhadora, portanto, desvelar essa sociedade fe sua ideologia dominante de que o mundo burgués é “o do’ e de que suas ideias sio “as ideias”. Mais do que isso, fun- fentalmente, cabe a essa classe, com sua agio politica, destruir a de que o “destino da humanidade se converteu no destino i, 2002, p. 26). a, é insuficiente que a tenha uma consciéneia rev 6 necessiria a sua inter- a realidade de forma a despertar as massas indicagio dos interesses universais, como explica Marx 4 om nome dos interesses gerais da sociedade é que uma classe par ‘ra supremacia geral, Para alcancar esta posi¢a "Hadora e a direcfio politica de todas as esferas da sociedade, nao m avenergia e a consciéncia revolucionarias. Para que a revolugao vo en emaneipagto de uma te 0 todo da sociedade, ‘em de concentrar em si todos os males da sociedade, eve enoarar ¢ represeniar un obsticulo € wn a che ". O que significa percebermos homogénea, mas permeada e a definigao de uma classe na lcance da emancipagio porque nario que possa superar a cisa; 1 ra cisao no sentido de representar a universalidade la pela luta de classes. Assim, sociedade civil é condicao para o alc necessitamos de um sujeito revoluciot de classe da sociedade, dos interesses humanos, cdo delas dk i proletariado seja uma “classe pa area ‘elementos da perspectiva da huma: ” (Konder, embora 0 icular”, ele € capaz de antecipar inidade reunificada, uni i cada, unindo teoria 2002, p. 62). Isso ocorre, fundamentalmente, FEMINSMO E CONSCENCIA DE CLASSE NO BRASIL condigo em que vive ser adversa a essa possibilidade. Em outrag palavras, como o proletariado pode alcangar a percepgao da totalid de, superandoa parcialidade e as distorgdes ideol6gicas dela advinds estando inserido em uma sociedade alienadora? Em tazao da contradigao do proletariado entre guardar a p jade da universalidade, mas ndo ter as condigdes de, sozinho, cangé-la, muitos pensadores como Lénin e Lukécs, embora com dif renciagdes entre eles, defenderam a necessidade de uma consci tribuida, ou seja, vinda de fora. A“ intido. Nas palavras de Lénin: “A consciéncia politica de classe pode ser levada ao operariado senio do exterior, isto é, de fora da econémica, de fora da esfera das relagdes entre operarios e pal A dinica esfera de onde se poderd extrair esses conhecimentos 6 a relagdes de fodas as classes entre £ importante, contudo, a reflexdo de que essa consciéneta da de fora nao ocorre de forma mecanica, como se 0 proletal nao tivesse condigdes de reflexao e apenas incorporasse ciéncia alheia, o que nao o 1 sar do uso dos termos “cons cada”, Lénin e Lukées entenderam isso, ow 6 apenas um depésito. Afinal, estamos falando de ico que tem um papel revolucionério. E nesse sei dissertando sobre uma organizagio de revolu MARLA CSN mene que o cotidiano é a esfera da heterogeneidade, da ime- ti a e soe idade — organicamente vinculadas —e, uma esfera na qual a alienagao é facilmente impregnad. dificulta, significativamente, o aleance de uma Bogard a a Ee ee idade, Por outro lado, primeiro é preciso teconhecer F 1s como fugir da vivéncia dessa cotidianidade. E nesse do que Ricardo Antunes (1996, p. 99) afirma que seria impossivel ; perce a consciéncia de classe “se nao se considerar que traba~ os coe do Ge social se inter-relacionam e ee eee or enumnree lo, 6 histérico, e, como tal, guarda também a possibi nie ilo por condicdes propicias & construgdo de uma cor a ce Em outras palavras, é no cotidiano que tanto a a a revolucao so construidas. A hist6ria se concreti 0, portanto, ele guarda o horizonte hist6rico. iéncia cotidiana, assim, ndo 6 ontologicamente degradada: 0 que ela nos apresenta é decisive para pensarmos com maior Aigo transformadora, revoluciondria, criativa, e também 05 pee estéio ancorados na cotidiani- es da cotidianidade dos homens d b : yomens do sécu- ‘marcada pela televisao e pelos entretenimentos da chamada ‘ultural) (Konder, 2002, p. 67; destaque do autor). ia.ea vida concreta, preensio de que a dade como condigho para a conseiéncia uma relagio organica com o papel do Como jé indicamos, a questao reside em compreendermos quais iades de desenvolvimento de uma consciéne! revoluicio- jedade marcada pela alienagio e pela ideologia dominante. a resposta se encontra no papel. do in- {electual (na concepgao gramsciana) e na sua yelagao com a politica. “Konder (2002, p- 110), seguindo 0 pensamento de Gramsci firma: MA historia pressupse [..] nao 86 a ago dos lideres ¢ atuagao dos de mas também a ineliminavel possibilidade da intervengio ativa ‘e consciente dos de bri (grifos do autor). £ nesse sentido que © nanxista italiano ira desenvolver a concepeao dos intelectu Para Gramsci (2000, p. 18), “todos os homens sio intelectuais, mas nem todos os homens tém a fungio de intelectusls (assim, 0 fato e que alguém possa, em determinado momen!®y fritar dois ovos ou sr uyn rasgao no palet6 no significa que todos sejam cozinheiros fu alfaiates)”. Da mesma forma podemos pensar ° contrario, ou seja, fnio & porque alguém nunca fritou um ovo que nao Pos fazé-lo.Com f mesmo raciocinio afirmamos que, ainda que um St social ndo exersa f§ funcio de intelectual, ele pode passar a exercel. Outrossim, come fhos ensina Gramsci, todos sao intelectuais, ainda que no exercam wa funcao. Ba capacidade de reflexio, de apreensio, de elaboracao ide uma concepgao sabre © mundo que torna todos intelectuai ique em condicbes diferenciadas de desenvolvimento desta capacidade. ‘Da mesma forma que as classes dominantes possuem St te i classe trabalhadora possui os seus. Sto esses qué temo ‘papel politico de contribuir com 0 prosesso de formacao da conscién- varia de forma a desvelar criticamente as relabes de ecer as relagées emancipatorias. Nesse sentido, reno origindrio de uma fun ‘rin para si, ao mesmo RUA cisNE nente, uma ou mais camadas de intelectuais que Ihe jogeneldade e consciéncia da pripria funcio, ‘econdmico, mas também no social e pol Ao apenas no 0 (2000, p. 15). Diuiguetto 2007, p.64), comunganco como pensamento gramscia- Byamumenta que cabe ao intelectual organico da classe trabalhadora CAPITULO 2 icular em unidade, em um projeto Particulares e fragmentadas. Mas essa articula Imposicio, mas pelaadesdo critica ativa e consensual dos grupos vovinis #0 Projeto de classe que quer ser hegeménico. tarefa primordial dos S consiste em estabelecer nexos nos caracteres difusas e dis. ‘senso comum” das classes subaltemas para uma elaboracao Superior de sua visdo de mundo, para uma construcio ativa de son propria historia, izador, suas aspiragies iio nao se efetiva pela Fundamentos tedrico-pol iticos do feminismo: uma contribui¢do indispensavel ao social Bsse processo em curso geta novos intelectuais orginicos da ie Je trabalhadlora, & medida que seus sujeitos tomam conscléncia Accented on msn rans condicio no mundo e passam a agir politicamente em luta eo ticcat ea echoes sgt do arau de parc ip sormacio social. Lenin (1979) “Embora saibamos que se faz necessario 0 papel dos intelectuais, iéncia revolucionaria no proletariado, esse su- ntervir de forma consciente na luta de clas- la que com gradacées diferenciadas de consciéncia entre o sgrantes ‘Tem sido pauita constante no feminismo a ee Peed |. en eae ee enaldedengearncara isdes com 0 que Gramsci denomi- - ooamercto striae dasdesigualades que marca jenso comum”. O marxista 8 como forma de se instrumentals pat intervs Possui “bom senso” e por meio dele pode haver o desen. wrslio dessa condicdo. © movimento y 9 de um espfrito critico, Isso implica, por um lado, refutar ido senso comum apenas como um depésito de sabedoria | Por outro lado, Gramsci adverte para os 1 pois ele sozinho nao é ca iionéria, uma vez ipaz de chegar a uma cons- que 6 em si mesmo “difuso @ ine 10 P '

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