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Abstract The objective was to analyze the mes- Resumo O objetivo é analisar as mensagens so-
sages about drugs of the rap lyrics from represen- bre drogas nas letras de rap de grupos com repre-
tative and influential groups among the youth sentatividade e influência entre jovens da perife-
living in the periferias of São Paulo. It under- ria de São Paulo. O rap é um gênero musical que
stands that rap is a kind of music that is part of faz parte de um movimento cultural – o hip hop –,
cultural movement – the hip hop – that dissemi- que difunde uma visão social de mundo, princi-
nates a particular set of ideas, mainly in the peri- palmente nas periferias das grandes cidades. Por
ferias of the big cities. Through Discourse Analy- meio da Análise de Discurso estudaram-se 11 le-
sis 11 lyrics of 9 rap groups were taken as a sam- tras de 9 grupos. O tema marcante é a vida na pe-
ple. The outstanding theme of the lyrics is the sit- riferia retratada pelo tráfico e consumo de dro-
uation of the segregated areas of the city, includ- gas, pela violência e pela discriminação. O uso de
ing the presence of drug trafficking and consump- drogas é compreendido por alguns grupos como
tion, as well as violence and discrimination. The conseqüência do modo de produção, e por outros,
problem of drug consumption is understood by a pelas características individuais, pela influência
few rappers as a consequence of capitalism, and da família e dos amigos. As propostas para o en-
by others as individual characteristics and the in- frentamento e para a superação dos problemas es-
fluence of family and friends. The rap proposal to tão voltadas à responsabilização do sujeito que,
confront and to overcome those problems is mak- através de um esforço pessoal, não se envolveria
ing a personal effort to keep a distance from drug com o tráfico e consumo de drogas consideradas
trafficking and consumption, especially from crack perigosas e destrutivas como o crack e a cocaína.
and cocaine, considered risky and potentially de- O fortalecimento de laços familiares e de amizade
structive. Family empowerment, friendship and e a educação são também vistos como saídas para
formal education are also listed as important to os problemas advindos do envolvimento com as
prevent drug problems. Therefore, the rap propos- drogas. As propostas invocam um discurso que,
1 Departamento de al relies strongly on individual power, making a além de denunciar a situação dos jovens da peri-
Enfermagem em Saúde discourse that goes beyond denunciation, it pro- feria, propõe mecanismos de proteção para criar
Coletiva da Escola
de Enfermagem da poses developing protection mechanisms to live uma alternativa de “vida possível” – de convivên-
Universidade de São Paulo. with violence, drug trafficking and consumption. cia com a violência, com o tráfico e consumo de
Av. Dr. Enéas de Carvalho Key words Deprived areas, Rap, Drug of abuse drogas.
Aguiar 419, 05403-000,
São Paulo SP. Palavras-chave Periferia, Rap, Consumo de
nagre@ig.com.br drogas
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Silva, V. G. B. & Soares, C. B.
cova do grupo SNJ e finalmente Cocaína do gru- tórico exterior ao próprio sujeito – responden-
po Sabotage. do a determinações sociais singulares –, mas
Dessa forma e procurando contemplar to- não só, o sujeito teria possibilidade de construir
dos os períodos históricos do rap paulistano, um discurso diferente das idéias dominantes,
foram analisadas uma letra de cada grupo, com em espaços de conflitos e contradições que per-
exceção dos Racionais MCs que tiveram três le- mitem rupturas, discussões e interpretações da
tras analisadas, sendo uma de 1993 – primeiro realidade diferenciados, constituindo a crítica
período do grupo, outra de 1997 e a terceira do da ideologia existente (Pêcheux, 1990).
último disco de 2002. A apreensão dos significados das letras e a
Os Racionais MCs constitui o grupo mais análise, através dessa metodologia, pretende-
popular e mais antigo entre os selecionados. Es- ram entender como o enunciador vê o mundo e,
se grupo, bem como, o RZO e o Facção Central portanto, reconhecer, interpretar e reinterpretar as
adotam um discurso de denúncias sobre como concepções sobre determinado objeto (Car, Berto-
o capitalismo destrói a vida de jovens negros e lozzi, 1999).
pobres da periferia. Já o Thaíde & DJ Hum, o Do ponto de vista operacional a primeira
XIS e o Doctor´s MC´s têm seu foco nas expe- coisa a ser feita para conhecer um discurso é a
riências individuais, familiares e de relaciona- consideração das condições em que esse dizer
mento interpessoal. O grupo 509 E está preocu- foi produzido. Neste caso, em particular, saber
pado em denunciar mais especificamente os ca- quem fala (rapper), para quem fala (jovens), de
minhos da criminalidade (509 E se refere à cela que forma (rap) e de que lugar da sociedade (de
na qual os integrantes do grupo se conhece- uma classe social que integra a periferia das
ram). Já o grupo SNJ define seu trabalho como grandes cidades) são elementos fundamentais
“rap futurista”, procurando disseminar mensa- no processo de comunicação estabelecido pela
gens “positivas”, desvalorizando toda postura linguagem (Oliveira, 1992).
pessimista.
Procurou-se, empírica e aprioristicamente,
apreender a ideologia nas letras do rap através Resultados e discussão
dos temas: problemas relacionados às drogas e
propostas de superação da realidade. A análise do O rap em suas letras procura denunciar os pro-
discurso revelou a recorrência de um outro te- blemas da periferia, principalmente a exclusão
ma – a vida na periferia – configurando-se na social, as injustiças e a discriminação do jovem
verdade como categoria empírica central nas le- negro e pobre. Pretende também alertar o jo-
tras analisadas. Para tratar especificamente dos vem para as possíveis situações perigosas e criar
encaminhamentos operacionais da análise de uma identidade comum de proteção entre eles.
discurso propriamente dita utilizou-se Pêcheux Para a sociedade o rap se apresenta como um
(1990) e Fiorin (1990). discurso de enfrentamento, de ameaça, como se
Para colocar em evidência a relação entre chamasse a atenção: olhem o que a sua sociedade
discurso e ideologia recorreu-se a Fiorin (1990) produziu, estamos de olho em vocês! Oliveira
que resgata primeiramente a relação entre lin- (1999) reitera esta percepção: é um discurso de
guagem e discurso. A linguagem pode ser lida revolta, de denúncia da realidade, e que para os
através de um discurso que, em si, diz respeito a rappers é um importante instrumento de catarse,
uma formação historicamente situada, havendo de descarga emocional da violência e da cólera. O
um campo de expressão através de símbolos da grupo Facção Central exemplifica essa afirmati-
linguagem (sintaxe) e um campo de expressão va, na letra Nada é mais como antigamente:
dos significados (semântica). É a semântica dis-
cursiva que constitui o campo da determinação Bem humilde esquecido como toda a quebrada
ideológica. A cada discurso, portanto, existe uma Um detento em formação
determinada visão de mundo que pode ser ideo- Um cadáver, as coisas boas não foram
lógica ou utópica. ensinadas
Assim, o discurso relaciona-se com a ideo- Ninguém é santo, mas também não tem
logia na medida em que materializa um con- demônio aqui, morô?
junto de idéias correspondentes a uma determi- Se têm dois 157 121 eu se atiro na cabeça
nada visão de mundo (Fiorin, 1990). do boy
O sujeito do discurso é, nessa concepção, re- É só o fruto da semente que o Brasil plantou
presentativo de um determinado contexto his- Desde pivete, choque, no DP
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cotidiano. Pode ser retratada como lugar que cotidiano retratado nas letras exige dos jovens
valoriza os talentos individuais, principalmente comportamentos e atitudes necessários para sua
da música e esportes, mas que pode se tornar sobrevivência e para uma “vida do bem”, basea-
empecilho, devido à dificuldade de acesso e des- dos nas próprias contradições apresentadas na
valorizar a condição humana devido à violência vida da periferia. Se o jovem não tiver certas
e às drogas. Possibilita portanto a ascensão in- qualidades pode ser atraído pelo tráfico, uso de
dividual e a destruição, a amizade e a discórdia, drogas ou criminalidade. Tais qualidades posi-
uma vida comum ou de criminalidade. tivas são encaradas pelos grupos como uma ma-
Conforme relatado, a ausência do Estado na neira de compensar os aspectos negativos da
periferia e a corrupção são denunciadas pelos periferia.
rappers, sendo que o governo e a polícia são as Dessa forma, o jovem é responsabilizado com
instituições públicas com maior descrédito e ao muita veemência pelos seus caminhos e esco-
mesmo tempo são tidas como indispensáveis lhas. As letras assumem, portanto, duas possibi-
para a melhoria das condições de vida. A ma- lidades de resposta às condições desfavoráveis
neira como essas instituições se apresentam na da periferia: sucumbir e morrer através da vio-
periferia é vista pelos rappers como uma má in- lência ou das drogas ou se adaptar e enfrentar
fluência para os jovens que acabariam por to- as “armadilhas da sociedade”.
má-las como exemplo. A polícia, por exemplo, Os que não permanecem firmes são com-
no caso do porte de drogas, tem o poder de clas- preendidos como vítimas das condições sociais
sificar o infrator como usuário ou traficante, a que foram submetidos (Guasco, 2001).
apoiando-se na subjetividade interpretativa do Na periferia não é proibido sonhar, mas os
delito (...) para julgar os que cometem um crime sonhos de ascensão social parecem passar pela
de maior ou menor gravidade (Zaluar, 1996). mesma dualidade: a satisfação de desejos de con-
A polícia acaba por ter um papel discrimi- sumo pode ser encontrada pelo envolvimento
natório com uma atuação confusa que é perce- com o tráfico ou, por outro lado, pelo desenvol-
bida e denunciada pelo rap. Zaluar (1996) lem- vimento de talentos individuais notadamente a
bra ainda que muitas vezes o efeito esperado da música (rap) ou o futebol.
atuação policial torna-se oposto, terminando O tráfico de drogas e o crime apresentam-se
freqüentemente na antipedagogia da corrupção e concretamente como meios para satisfazer am-
da violência arbitrária. Assim como os rappers, bições e anseios de uma vida material com mais
a autora entende que a presença do Estado atra- bens e mais prestígio. Zaluar (1996) reitera essa
vés da escola – de um projeto pedagógico que va- percepção afirmando que a vontade de enrique-
lorize o diálogo, os meios verbais de negociação do cimento é um grande estímulo que leva o jovem
conflito, em detrimento da força bruta (...) – são ao crime. A autora também aponta que a mera
atributos importantes para a melhoria da cri- existência de opções informais do mercado ilegal
minalidade e conseqüentemente das condições de drogas e demais crimes contra a pessoa e con-
de vida na periferia. tra o patrimônio minou a perspectiva da profis-
Os rappers compreendem que a criminali- sionalização e da educação como saídas para a
dade e o envolvimento com o “mundo” das drogas pobreza.
podem levar a conseqüências desastrosas para Dessa forma, mesmo que as dificuldades do
os jovens e suas famílias, como a morte, a pri- jovem da periferia sejam explicadas pela sua im-
são e a violência. Com isso também concorda possibilidade como classe social de acessar os
Zaluar (1996), assinalando que o tráfico pode bens que são socialmente produzidos – media-
ocasionar a morte dos jovens e a conseqüente das por dificuldades de reprodução social das
diminuição das rendas das famílias da periferia. famílias, pela violência doméstica, pela falta de
Kaplan (1997), assim como os rappers, associa oportunidades e perspectivas futuras, ou pela
o tráfico de drogas à violência como uma das insatisfação e inconformismo gerados pela vida
conseqüências da conexão entre a droga e a es- cotidiana da periferia –, a disposição individual
trutura montada pelo crime. aparece como fator preponderante na escolha
Um dos aspectos marcantes nas letras é a de vida do jovem.
dupla possibilidade de o jovem ter uma vida co- Os rappers compreendem que a omissão do
mum e respeitosa permeada por valores familia- Estado se manifesta também na ausência de in-
res de amizade e com poucos bens materiais fraestrutura urbana, tornando a vida ainda mais
(longe dos aspectos negativos da periferia) ou difícil e o lazer ficando a cargo dos bares e das
de ter uma vida de tráfico e criminalidade. O esquinas.
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Muitos que estão com o pensamento ções que se estabelecem no modo de produção
ao contrário capitalista contemporâneo.
Quem não se aposentou só se tá preso Veja-se por exemplo alguns trechos da letra
ou é finado de Malandragem dá um tempo do grupo Thaíde
Alguns pedindo nos faróis, desnorteados e DJ Hum:
Tem química na fita, contamina os brasileiros
Criança de seis anos com o cigarro nos dedos Crescemos juntos sempre quis te ver numa boa
Só no descabelo como disse o sem cabelo Mais parece que você não quer se ajudar
eu creio o que que há?
Que o poder quer atitude e respeito Você não era de dar sopa pro azar, de repente
Mas observe os pretos sendo tirado no Brasil ficou diferente
inteiro Não troca mais idéia com a gente
Então prefiro sim um fininho do que me diz Só te vejo correndo pra cima e pra baixo
Do que a pedra no cachimbo e o pó no nariz angustiado descarregando pente
Afinal é tipo assim, pretendo usufruir Às vezes nem me reconhece no meio da rua
Já vi vários lutarem contra o vício e consegui outro dia até me estranhou
Basta saber esperar, ligeiro e não vacilar Qual é a sua?
Na moralina toda estrela sei que há E você não precisa mentir pra mim dizendo
de brilhar por que que sua família tá bem a pampa
Cá cocaína vou parar Faz uma cara que você não da noticias
Eu sei coca eu sei que mata em casa
Por isso eu tenho que parar de cheirar E se acaba de graça com os manos
Dessas eu não posso desandar da sua banca
O que fazer se você escolheu assim revólver
Os grupos têm uma preocupação em mos- pó pedra covardia enfim
trar os aspectos internos à realidade do pequeno Uma vida perigosa pra você e pros outros
tráfico, procurando alertar o jovem para as con- que certamente lhe trará o fim
seqüências do envolvimento. Nas letras não exis- .........
te menção às conexões do pequeno tráfico com Na brincadeira de criança você nunca
os grandes esquemas de produção e distribui- queria ser o bandido
ção dessa mercadoria. Hoje dá perdido em uns vende pedras
Embora o rap não se preocupe em relacio- pra outros
nar o tráfico no espaço da periferia com o gran- Se você sai do buraco te expulsam do morro
de tráfico, os problemas dos bairros e particu- Muitos dos seus camaradas só colam na sua
larmente do consumo de drogas são relaciona- quando você tá com dinheiro pra bancar
dos com o lugar que a periferia ocupa no modo várias cervejas
de produção capitalista. Compreendem que Ou então também quando a grana fácil
quem vive na periferia faz parte de uma classe não vem você é o cara que tem como
social duplamente submetida, às relações de completar a seda
produção capitalistas e, na sua forma contem-
porânea, às condições da globalização e do pro- E trechos da música Crime vai e vem dos Ra-
jeto neoliberal. Assim como os países da perife- cionais MCs:
ria do capitalismo, a periferia circunscrita em si
mesmo serve aos interesses de reprodução do Dinheiro, segredo palavra-chave
capital, ocupando a função de prover uma força Manipula o mundo e articula a verdade
de trabalho mal remunerada, a quem a forma- Compra o silêncio, monta a milícia
ção social destina muito pouco. Paga o sossego, compra a política
As teorias explicativas para o consumo de dro- Aos olhos da sociedade mais um bandido
gas entre os jovens apresentadas pelo rap osci- E a bandidagem paga o preço pela vida
lam das compreensões de cunho microssocial, Vida entre o ódio, traição e o respeito
como apresenta o grupo Thaíde & DJ Hum (en- Entre a bala na agulha e uma faca cravada
volvendo o contexto social mais próximo – fa- no peito
mília e amigos – e o próprio usuário), até as de Daquele jeito ninguém ali brinca com fogo
cunho macrossocial, exemplificado pelo grupo Perdedor não entra nesse jogo
Racionais MC´s, que atribui o consumo às rela- É como num tabuleiro de xadrez
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tâncias políticas de atuação como as posses que não há no horizonte mudanças radicais pa-
(Sposito, 1994), não foram observadas propos- ra essa condição e uma vez que o comércio da
tas políticas como a participação dos jovens em droga que parasita os jovens da periferia é a pri-
movimentos sociais, por exemplo. meira mais lucrativa empresa produzida pela
globalização e pelo neoliberalismo e não vem
sendo honestamente combatido (Coggiola, 2001;
Considerações finais e implicações Kaplan, 1997). Ou seja, nos três pólos envolvidos
para as políticas públicas de saúde na equação do consumo de droga, o indivíduo, a
droga e o contexto, os rappers têm potência para
As mensagens do rap fazem a denúncia dos pro- buscar a atenção dos sujeitos para que façam es-
blemas relacionados à periferia, principalmente colhas mais saudáveis para si e sua família.
a exclusão e a violência, alertam o jovem para Uma das características da arte é a expressão
tais problemas e pretendem criar informações de insatisfação, questionamento, freqüentemente
desvinculadas da mídia – ideologia dominante de revolta, em face do modo como está organiza-
– para que os jovens construam mecanismos de da a sociedade (Konder, 2002), contrapondo-se
enfrentamento das adversidades. Os rappers à visão social de mundo dominante e o rap o faz
compreendem periferia como bairros que apre- na denúncia das condições de vida na periferia,
sentam problemas de exclusão social e discri- mostrando-se potente também para fazer pro-
minação – principalmente policial –, mas tam- posições que tenham como objeto a transfor-
bém como lugar de amizade e ascensão social. mação desse contexto. Ao negarem as informa-
Dessa forma a periferia pode ocupar qualquer ções produzidas pela mídia e pela “sociedade
espaço geográfico na cidade. não periférica” sobre os problemas da periferia,
Os rappers apontam duas possibilidades de o rap poderia veicular uma proposição utópica,
vida na periferia: a de se corromper pelo “siste- ou seja, transformadora em relação àquela por
ma” ou por influências familiares e de amizade eles criticada.
ingressando no mundo da criminalidade e/ou O rap assume a “função a que veio”, trazen-
no consumo de drogas ou, por méritos pessoais, do um discurso que além da denúncia, propõe
adaptar-se e enfrentar a dinâmica social impos- uma alternativa de vida possível na periferia, de
ta tendo assim uma vida respeitosa. As relações convivência com a violência, com o tráfico e
de amizade, família e religião são valorizadas com o consumo de drogas. No contexto da ex-
pelo rap e entendidas como fundamentais para clusão, do desemprego, da agressão policial, da
um convívio social saudável, longe da crimina- descriminação e da violência do tráfico, o rap
lidade e das drogas. Portanto as propostas estão torna-se uma referência e cria uma identidade
sempre associadas à valorização individual, fa- através da qual o jovem de periferia pode se
miliar e de laços de amizades. (re)estruturar.
Em relação aos problemas relativos ao con- Este estudo reitera a necessidade, já aponta-
sumo contemporâneo de drogas pelos jovens, da em outros trabalhos, de ampliar a qualifica-
pode-se concluir que no campo explicativo há ção da força de trabalho em saúde na área de
uma tendência de alguns grupos em expressar drogas, para além do que tradicionalmente vem
através do rap uma compreensão estrutural do sendo ensinado – o tratamento de dependentes
consumo de drogas, localizando-as como merca- –, procurando superar preconceitos, socialmen-
doria cuja produção, distribuição e consumo te disseminados e que compõem a ideologia do-
envolvem os jovens da periferia numa teia per- minante, que faz recair sobre o indivíduo todo
versa que acaba muitas vezes na criminalidade o peso relacionado ao consumo e às suas conse-
quando não na morte. No campo propositivo, qüências (Soares, Campos, 2004).
as práticas se conformam em propostas de forta- A prevenção ao consumo prejudicial de dro-
lecimento do sujeito através de um esforço de gas demanda do setor saúde a tarefa de recolo-
não envolvimento com o tráfico e de abstinên- car a complexidade dessa discussão, evidencian-
cia das drogas consideradas problemáticas co- do a sua dimensão estrutural, politizando os di-
mo o crack e a cocaína, drogas às quais é atri- ferentes setores sociais e em especial a juventude
buído um poder quase sobrenatural, capaz de negra e pobre sobre os determinantes desse pro-
“dominar” e alienar a vida do jovem. cesso e oferecendo apoio e acolhimento para o
Nesse caminho o peso dado ao indivíduo po- jovem, inclusive adotando práticas de redução
de parecer espetacular. Tal tarefa deve ser com- de danos, que possam fortalecer os jovens e evi-
preendida no contexto da periferia, uma vez tar desfechos trágicos (Soares, Jacobi, 2000).
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