Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Pode-se dizer que política da Austrália Branca (White Australia policy) funda a
ideia moderna de nação australiana em vários sentidos. Dentre eles, pela sua primazia
política e jurídica, tendo sido o Immigration Restriction Bill (1901), sua legislação
fundadora, a primeira com a qual lidou primeiro parlamento da recém-formada
Commonwealth of Australia (ANG; STRATTON, 1998), no início do século do qual foi
a política migratória predominante. Além disso, constitui um projeto de nação, tentando
manter a Austrália “britânica, europeia e ‘branca’” (VAN KRIEKEN, 2012), favoreceu
uma certa composição demográfica, um modelo de relação intergrupal, e um sentido de
insegurança que, de algum modo, permanece até hoje. Essa insegurança tem sua origem
no chamado “medo de invasão pelo Norte”, sendo parte, de acordo com Devetak (2004)
do processo de formação nacional, que envolve noções de nação, raça e segurança. Isso
pode ser percebido na origem da política em questão como barreira à imigração chinesa
(MCMASTER, 2002).
Na Austrália, dois incidentes podem ser destacados nesse ano: o Tampa affair e o
Children overboard affair. No primeiro, o governo australiano impediu a entrada de um
navio norueguês (MV Tampa), que tinha resgatado 438 solicitantes de refúgio de um
navio indonésio naufragado, alegando se tratar de uma ameaça à soberania da Austrália
por parte de imigrantes “ilegais”, potenciais terroristas que queriam usar o status de
refugiado para se aproveitar das leis australianas e que não poderiam ser enviados aos
centros de detenção, já no limite de lotação (MCKAY et al, 2011). No segundo caso, o
governo liberou fotos acusando solicitantes de refúgio em uma embarcação “ilegal”, o
SIEV 4, de jogar crianças no mar para garantir resgate pela marinha australiana, e assim
sua entrada no país (SLATTERY, 2003).
Utilizando esses eventos como justificativa e se apoiando em um histórico de
tratamento securitário das migrações, o governo Howard tornou-a um assunto de
segurança e soberania nacional. Reformas securitizantes na política migratória australiana
já vinham sendo feitas desde 1999 com as Migration Amendment Regulations (que
criaram o Temporary Protection Visa e, com isso, duas classes de refugiados no país),
mas a Migration Amendment de 2001 foi provavelmente a mais restritiva (BABACAN,
2008). Do ponto de vista humanitário, o governo alegava ser necessário manter a
soberania do Estado para proteger os refugiados “verdadeiros”, que seria diluída pela
entrada de migrantes “ilegais” no país.
Bibliografia:
ANG, Ien; STRATTON, John. Multiculturalism in crisis: The new politics of race and
national identity in Australia. TOPIA: Canadian Journal of Cultural Studies, n. 2,
1998.
AUSTRALIA. REVIEW OF POST-ARRIVAL PROGRAMS AND SERVICES TO
MIGRANTS; GALBALLY, Frank. Migrant services and programs. Australian
Government Publishing Service, 1978.
GRASSBY, Al, ‘A multicultural society for the future’, discurso para o Cairnmillar
Institute’s Symposium Strategy: Australia for Tomorrow, Melbourne, 11 de Agosto de
1973.
JORDAN, Matthew. The reappraisal of the White Australia policy against the
background of a changing Asia, 1945–67. Australian Journal of Politics & History, v. 52,
n. 2, 2006, p. 224-243.
MCKAY, Fiona H.; THOMAS, Samantha L.; BLOOD, R. Warwick. ‘Any one of these
boat people could be a terrorist for all we know!’ Media representations and public
perceptions of ‘boat people’ arrivals in Australia. Journalism, v. 12, n. 5, 2011, p. 607-
626.
SLATTERY, Kate. Drowning Not Waving: The ‘Children Overboard’ Event and
Australia's Fear of the other. Media International Australia Incorporating Culture and
Policy, v. 109, n. 1, 2003, p. 93-108.
VAN KRIEKEN, Robert. Between assimilation and multiculturalism: models of
integration in Australia. Patterns of Prejudice, v. 46, n. 5, 2012, p. 500-517.