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Primeira vez que escrevo algo. Por favor, sejam bonzinhos ao avaliar - principal
mente o português ruim :3.
Era uma pequena cidade (normalmente referida como vila), em um lugar
relativamente isolado, no interior. Era tão pequena que havia apenas uma escola:
Esta com cerca de 50 alunos, para os quais a única professora lecionava com
certa dificuldade os conteúdos referentes a faixas etárias distintas. Mas ainda
assim, era um local bonito, com pessoas felizes.
Das poucas pessoas lá que podería-se dizer que tem uma vida difícil, nenhuma
compara-se a vida de Karina. Ela era uma garota pequena, de apenas 9 ou talvez
10 anos de idade, que havia perdido os pais em um acidente quando era ainda
menor. Seus tios passaram a cuidar dela, mas 2 anos depois, a tia dela foi
brutalmente assassinada por um homem (que diziam ser usuário de drogas) que
bateu em sua cabeça repetidas vezes, com um taco de basebol. Seu tio, então,
mudara-se para uma cidade grande, na capital, e ela ficou aos cuidados de uma
amiga.
Mesmo que já tivesse passado por vários problemas em sua vida, Karina ainda
tinha a alegria inocente de uma criança. Ia à escola, estuda sempre, e brincava
com alguns amigos. Dentre estes amigos, o que ela mais gostava era Rodrigo: Um
garoto 4 anos mais velho que ela, mas que era semelhante a seu irmão que não
estava mais perto dela. Ele era atencioso e estava sempre fazendo brincadeiras
que a divertiam, tornando seus dias mais felizes.
Seu tio, que há muito havia se mudado, acabou tendo problemas na cidade
grande e retornou a sua cidade natal, para sua antiga casa. Ao voltar para lá,
ele teve que voltar a cuidar da garota, já que ela estava, legalmente, sob sua
responsabilidade. No entanto, ele não queria ter que cuidar de uma criança: Ele
tinha 32 anos, e teria que abdicar as visitas periódicas ao bar com os amigos
para dar atenção a uma garota pequena.
Karina não teve escolha, apesar de estar feliz em sua atual casa. Ela
simplesmente foi levada para a casa onde morava antes, para viver com seu tio
novamente. Então ela descobriu que isso não seria agradável: Ela a fazia lavar
a casa inteira, suas roupas, sua moto... Ela era impedida de ir à escola, para
ir ao mercado comprar tantas coisas que era impressionante que uma menina
daquela idade pudesse carregar. As feridas em seu corpo começaram a ficar
evidentes, e a alastrar-se rapidamente - bem como as marcas que ficaram em sua
mente, depois de tantos maus tratos físicos e verbais.
Após faltar duas semanas inteiras, ao voltar para a escola, encontrou seus
amigos, que perceberam que ela estava diferente. Além do corpo enfraquecido e
machucado, ela tinha uma postura diferente, e falava muito pouco. Disse estar
doente, mas nem todos acreditaram nisso.
Neste dia, quando acabou a aula, Rodrigo, que gostava muito dela, foi a sua
casa com ela. Ele buscava entender melhor o que estava acontecendo, quando viu
que o tio dela gritava com ela assim que chegava em casa, de forma extremamente
agressiva. Ele a puxava pelos braços finos para dentro de casa, e era tão
violento que Rodrigo se esforçou muito para não começar uma briga naquele
momento.
Ele não suportava vê-la sofrer daquela forma, e pos-se a pensar em uma
solução urgente para o problema.
Eis que a elabora: Comprou um taco de Basebol, fez um buraco em um canto
escondido, na estrada de terra por onde passava-se para chegar aos arredores da
cidade grande.
No outro dia, ele não foi a escola. Com muita calma, pensou bem nas
consequência de suas atitudes, e resolver seguir em frente. Cerca de 8 horas da
noite, horário esse em que ele sabia que Karina não estaria em casa naquele
dia, ele ligou para a casa dela, de um telefone público: O tio dela,
visivelmente bêbado, atendeu o telefone depois de cerca de 5 minutos. Rodrigo
disse ser policial, e precisava que ele fosse a delegacia para resolver um
problema referente a Karina, sobre o qual não deu detalhes (já que não havia
pensado nos mesmos).
Subindo com desgosto em sua moto com pouca gasolina, o completamente bêbado
homem dirigiu-se a cidade, pela estreita estrada de terra. No meio do caminho,
foi surpreendido por uma pancada em seu rosto, vinda da escuridão da noite. Com
o taco de basebol, Rodrigo, veementemente, atingiu a cabeça do tio de Karina
inúmeras vezes, com força que nem ele acreditava ter. O sangue que jorrava do
corpo já desmaiado, mas ainda vivo, manchou a pequena estrada, que era agora
iluminada únicamente pela lanterna largada no chão, de Rodrigo.
Após bater tantas vezes que o taco já estava amassado, e ter certeza que o
homem estava morto, Rodrigo arrastou o corpo vários metros até o buraco que
havia cavado, onde jogou o corpo e o enterrou, cobrindo o local com plantas da
região.
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Valter acordou com um sangramento moderado no calcanhar, e imaginou que esbarrou
em alguma coisa antes de ir dormir. De fato, o sangue estava coagulado, e não p
assava de um arranhão que culminava num pequeno ponto vermelho. Bem, não valia n
em a pena olhar o relógio, estava na cara que era madrugada, visto que pela jane
la tudo estava iluminado com a perolada luz da lua cheia. Voltemos a dormir entã
o. Foi isso que Valter pensou, ao se virar e fechar os olhos. Contudo, não passa
ram 10 segundos e um tec-tec de chinelos sendo arrastando cresceu pelo corredor, a
porta do seu quarto se abriu, e o tec-tec tornou-se o nítido som de alguém cami
nhando dentro de seu quarto. Em seguida, um choro, baixo e tentando ser contido,
mas sem sucesso. Assustado, Valter se sentou rapidamente e a cama rangeu com o
movimento. O choro (que já estava contando com soluços e tudo) parou no momento
que a cama rangeu, e o barulho de chinelos recomeçou, agora muito mais rápido e
em direção a saída do quarto, batendo a porta do mesmo com força.
Qualquer idiota saberia que algo possivelmente não cristão estava acontecendo, e
Valter estava longe de ser um idiota, sem dúvida alguma. Se em alguma noite de
sua vida ele sentiu sono de verdade, com certeza não foi nessa. Agora totalmente
acordado (mas um tanto aéreo de uma forma estranha e agradável), ele estava dec
idido a tirar essa história a limpo. O que um barulho de passos pode significar
no meio da noite? Assaltantes? Ora, faria mais sentido ser sua mãe indo ao banhe
iro no meio da noite, o que era extremamente comum. Ou seja: basta ir ao quarto
dela e ver se ela está lá dormindo.
No momento em que Valter ligou a luz do próprio quarto para iluminar a corredor
que o levaria até a verdade, outro grito. Não um grito de dor, mas um grito rápi
do e ríspido, de puro susto. Seguido a isso, o som da porta do quarto da mãe sen
do fechado com força. Ah sim, agora algo está errado, com CERTEZA. Razoavelmente
desesperado, o protagonista dessa história voltou correndo para o quarto, trope
çando no grande espelho que estava no corredor que ligava os quartos (e como ele
sentiu vontade de se olhar no espelho, mas tinha coisas mais importantes pra fa
zer agora), desligou a luz do quarto, fechou a porta, pulou a janela, e caminhan
do pelo telhado, foi espiar o quarto da mãe. A janela do quarto dela estava com
o vidro totalmente fechado, então ele não pode entrar, mas a proteção de madeira
estava totalmente arriada, então ele podia enxergar o interior perfeitamente. P
ara ver melhor, ele colou a face na janela e o que viu foi francamente perturbad
or. O lado da cama que pertenceria ao seu pai estava, como sempre, vazio. O lado
onde sua mãe era uma montanha de cobertores, indicando que ela estava embaixo,
mas ela não conseguia ver sua cabeça ou qualquer parte do seu corpo emergindo da
s cobertas. Mas como aquela montanha de cobertores estava tremendo ( e embora el
e não quisesse reparar, mas também estava soluçando baixinho), então era o sinal
definitivo que sua mãe estava a salvo, dormindo em sua cama.
Satisfeito com o que viu, o garoto voltou para a janela de seu quarto, mas em ve
z de entrar, ficou lá sentado no telhado, com a cabeça entre os joelhos, notando
que a área que estava roxa em seu calcanhar agora se espalhava por toda a perna
. Mas amanhã isso estará normal, certo? O que importava no momento era sentir o
vento acariciando os seus cabelos, o frio e incrível toque da noite outonal. Não
será a noite uma prostituta velha que parece jovem depois de milênios, que ensi
na os segredos de um coração negro para todos aqueles que estiverem dispostos a
ouvir, no silêncio do sono dos fracos? Esse tipo de pensamento sempre trouxe um
forte êxtase para a alma de Valter, e não foi diferente nessa noite. Na verdade,
foi tão forte que ele quase começou a dançar como uma besta velha no telhado! N
ão duvido que ele realmente fosse dançar, pois no momento que se levantou para s
entir melhor o vendo nos cabelos, ele tropeçou numa telha mal posta e caiu de co
stas no gramado. E não sentiu nenhuma dor.
E deitado na grama úmida e fria ele ficou, por um longo tempo. Ao fim de aproxim
adamente alguns segundos, ele se levantou, sentindo como se fios prateados ligas
sem o seu corpo a uma força maior, ah sim, alguma coisa em sua mente dizia que e
le tinha esquecido algo muito importante, mas isso não alterava o seu bem estar
absoluto. Valter se sentia bem pra caralho!
Ao experimentar a porta de entrada da própria casa, a fim de voltar para o própr
io quarto (ou para o telhado) descobriu que ela estava trancada, o que era basta
nte óbvio, e isso lhe alegrou muito. Que tipo de idiota vai querer desperdiçar u
ma noite dessas? Talvez ele pudesse encontrar algum de seus amigos estranhos no
parque da cidade, e ficar filosofando sobre qualquer coisa substancialmente inút
il para a vida no século XXI, mas tão importante para a alma que não conhece o t
empo nem o século. E então, sob a luz da lua, ele foi caminhando em direção ao p
arque da cidade, com seu pijama cinza, andando como um monstrinho, sem notar que
a sua pele ficava cada vez mais cinzenta.
Ao chegar ao dito parque, sentou se no banco de pedra onde geralmente se encontr
ava com os amigos, contudo Valter estava sozinho. Absolutamente sozinho aquela n
oite, e talvez desde sempre, e em todos os momentos, no fundo de sua alma, ele s
abia disso. Era ridículo, mas a única que lhe entendia completamente e o suporta
va era a noite, aquela velha prostituta que só trabalha meio turno!
Independente duma sensação de solidão interior, não era nada normal aquele parqu
e tão frequentado por vagabundos estar absolutamente vazio a noite. Além disso,
no trajeto de casa até o parque, Valter não viu absolutamente ninguém, mesmo que
ouvisse o barulho dos carros passando, as vezes tão alto que era como se um car
ro quase o tivesse atropelado, mas as ruas estavam todas desertas. Era tão insan
o que Valter riu até vomitar, constatando que expeliu um líquido negro.
O cemitério daquela cidade mediana ficava de fato, ao lado do parque. E talvez l
á fosse seu lugar a vários dias. E foi para lá que Valter foi, aos tropeços, lem
brando de nunca mais andar com o calcanhar desprotegido num mato cheio de escorp
iões.
Ao ver seu nome escrito numa lapide recente, seu coração teria dado uma forte gu
inada, se ainda estivesse batendo. Aliás, só agora Valter reparou que desde que a
cordou no meio da noite, não estava mais respirando. Contudo nem a podridão na qu
al se encontrava lhe impediu de cair de joelhos ao ver as folhes ainda vivas que
descansavam contra a pedra. Havia flores brancas (presente da mãe, imaginou), e
flores negras e azuis (presente dos amigos, imaginou). Lágrimas de cadáver corr
eram pelo rosto que já apodrecia a uma semana e alí ele ficou, de joelhos, olhan
do para o próprio nome, que sinalizava que a um metro abaixo estava o seu corpo
morto no mundo dos vivos.
Ao chegar em casa, a porta de entrada não se atreveu a não abrir, e Valter subiu
as escadas, fazendo o máximo de silêncio possível, sua mãe já tinha sofrido dem
ais com barulhos noturnos de alguém que permaneceu na Zona Crepuscular por tempo
demais. O momento de se admirar pela última vez chegou, e o espelho em que ele
tropeçara uma hora antes estava ali, no meio do corredor. Ele se parou de frente
ao espelho, se olhou nos olhos, e então compreendeu que está na hora de sair do
azul para entrar no negro.
A decomposição imaginária de sua alma então acelerou e gerou uma espécie de comb
ustão, e Valter finalmente entrou para a eternidade da escuridão, mergulhando no
mundo dos mortos mais vivo do que nunca.
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E lá ia ela, novamente. Como todos os dias, - com exceção dos fins de semana e d
esta quinta, porque ela estava cuidando da vó doente - ela ia pra casa. Rosto fe
liz, feição calma. Olhos claros, cabelos longos e dourados. Corpo discreto, roup
as claras como de costume. A mesma blusa que ela usou semana retrasada, - ela nã
o costuma repitir roupas, nem semanalmente - no mesmo dia em que quase agi. Cabe
lo um pouco bagunçado, o trabalho como garçonete devia estar agitado, e isso se
reflete no horário: 11:30 pm.
Já faz um ano que a venho observando. Desde a primeira vez, no Café do Porto. Le
mbro o diálogo exato... Repeti ele milhares de vezes em minha mente. Eu estava e
stressado, as cobranças no trabalho eram extremas. Enquanto em casa, em momentos
que deveriam ser de lazer, eu passava horas refletindo e "conversando" com outr
as pessoas no computador, numa inútil tentativa de socializar. Um lugar era pior
que o outro. Eu ainda tinha que forçar sorrisos e risadas no meu dia-a-dia, par
a não parecer anti-social e ser excluído de vez, queria pelo menos ter alguma es
perança.
Naquele dia, em especial, eu havia excedido um prazo, e meu chefe havia gritado
e batido na minha mesa. Eu odeio ser advertido. Odeio.
E então, eu sentei naquela mesa, com possivelmente um dos maiores estresses da m
inha vida... Aguardei cerca de 5 minutos. Olhando para a mesa, mãos no rosto, pr
essionando-o. Milhares de coisas passavam pela minha cabeça, e a sensação de que
eu sou um inútil, e todos os minutos extras que eu passei dormindo poderiam ter
feito a diferença.
E então ela veio. Como um anjo, a luz do sol atrás do seu cabelo, criava uma aur
a dourada. Os olhos verdes e o sorriso extremamente branco, além dos lábios rosa
dos de batom, soltaram no ar as palavras que eu nunca vou esquecer, que flutuara
m lentamente até meus ouvidos:
-Bom dia!
Bom dia. Bom dia pra quem, e por quê? O meu dia não estava sendo bom. Ela está a
firmando, ou está me desejando um bom dia? Ou é mera educação?
-O que tu vai querer?
Tu. Além da conjugação errada do verbo "ir", porém não me espanto, afinal isso é
comum aqui em Porto Alegre. Até prefiro que me chamem de "tu" e que não conjugu
em o verbo subseqüente corretamente, pois detesto formalidades.
Fiquei 3 segundos olhando estático nos olhos dela. Mergulhei naquele fluxo esmer
áldico, que que me remetia à redenção nos domingos. Um lugar calmo, verde, com u
ma brisa refrescante...
Ela então corou as bochechas, provavelmente devido à minha fixação, e então perg
untou:
-Um café..? Alguma coisa? - Disse ela, sorrindo, tentando chamar minha atenção e
desfarçar algo, a fim de tirar meus olhos dos dela.
-Ah... Perdão. - Eu disse, sorrindo também. - Eu aceito um café. Forte, pouco aç
ucar.
Ela simplesmente sorriu e foi de volta para trás do balcão. Falou para a "cafete
ira" fazer meu café, e foi atender outras mesas.
Eu fiquei repetindo aquela cena na minha mente, várias vezes. Como em uma sala d
e espelhos, para todo o lugar que eu olhava, eu via ela vindo na minha direção e
sorrindo. E como, mais uma vez, eu fui idiota, e assustei a mais bela criatura
que já pisou na terra. Mas, como ela esperava que eu tirasse os olhos dela? Foi
um magnetismo, algo inexplicável.
O dia, o mês, o ano, girou em torno dela. E à 30 minutos de uma volta completa d
a terra em torno de seu eixo, eu estou aqui, observando-a secretamente, novament
e. Repetindo minha rotina.
Mas hoje, eu preciso tomar uma iniciativa. Eu venho planejando, ensaiando isso,
há quase 1 ano. De hoje não passa.
A coragem me falta, mas a vontade é maior me cega. O dia está perfeito: ruas vaz
ias, escuras. Como planejado. As lojas ja fecharam e ninguém mais está vagando.
Eu me aproximo sorrateiramente pelos cantos. Ela olhou para trás umas duas vezes
, e acelerou levemente o passo. Desconfiando, certamente, porém não querendo dem
onstrar isso, para o vento ou para mim, ou para quem ela imagina que a esteja pe
rseguindo. A distância já é menor de cinco metros, e eu estou pronto.
Apresso o passo e chego por trás dela. Toco o pescoço, desço para a espinha... E
la vira o rosto assustada. Eu já posso ouvir o grito, mas me antecipo:
-Por favor, não grita.
É inútil.
Ela já está gritando. Não posso fazer nada, meu reflexo é mover minha mão em dir
eção à boca dela o mais rápido possível, a fim de calar o grito que estragaria t
udo o que eu planejei. E assim o faço.
Ela está chorando. Isso parte meu coração. Não precisava ser assim, mas eu não t
eria chance com alguém como ela. Eu, um rato, que vive em um porão sujo e bagunç
ado, e ela, um verdadeiro anjo, cujas riquezas vão muito além de prata, ouro e p
ertences.
Eu arrasto ela para o beco que eu já havia planejado. Um beco escuro, pequeno, e
scondido. Não é usado por ninguém - o motivo eu não sei. É claramente um beco qu
e poderia ser usado para tráfico ou sexo - e a mordaço. Acaricio seu rosto, seco
suas lágrimas, sorrio... A expressão dela permanece assustada, porém ela já des
istiu de gritar. Agora, só há lugar para os gemidos de medo, e de leve dor. Tiro
a mordaça, espero cerca de um segundo e meio: ela não gritou. Eu a beijo... e e
ntão, eu não sou mais eu. Algum tipo de entidade ou personalidade toma conta do
meu corpo, aquela sensação é inexplicável. Ouso dizer que é uma sensação única:
ninguém, nem mesmo na minha situação, sentiria isso. Esse sentimento tem uma dig
ital própria. É algo que só acontece uma vez, em um lugar.
Eu levanto a blusa dela, está um pouco frio. Tento não encostar na barriga ou no
tronco dela com minhas mãos geladas, pois essa sensação é horrível. Vou apenas
direto para os seios. Abaixo o sutiã, e sinto aqueles seios macios, quentes. Não
são volumosos, mas certamente, formosos.
Tenho pressa. Levanto a sua saia, rasgo sua meia calça - porém, sem nunca machuc
á-la. Eu não me perdoaria se ela chegasse em casa com sequer um corte, ou uma le
são. Puxo sua calcinha, meu zíper já estava aberto. Ela não se debate muito, ach
o que pelo mesmo motivo de não gritar: medo de que eu tenha algum tipo de arma,
e possa ferí-la.
Apenas penetro-a. A sensação é semelhante à que eu já conhecia, porém muito melh
or. Mais quente, mais difícil, mais recompensador.
E o ritual procede, até o fim infame. Um orgasmo - só um - e um gemido notório.
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Atendendo à pedidos...
Peço também, aos lurkers (caso haja algum), que dêem mais feedback. Gostaria de
saber o que acharam do meu texto, de preferência sem apontar os erros de portugu
ês mais críticos, pois esses foram em sua maioria erros de digitação.
Also, tive uma idéia. Unindo o útil ao agradável, eu vou inventar uma nova moda
aqui no /shit/: Você decide.
Cada vez que eu terminar um trecho do texto, eu vou terminar de uma forma ambígu
a, mas com uma pergunta (pra não deixar possibilidades infinitas, e fuga do tema
). E vocês irão decidir de que forma eu continuo, respondendo a pergunta. Podem
responder de forma ampla: quando eu tiver um certo número de respostas, eu vou v
er que caminho vocês querem que a história tome, e inclusive na personalidade da
s personagens. Espero que funcione, e espero que gostem.
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Eu a deixei lá, deitada, exausta. Não se debateu muito, mas o nervosismo e o med
o, em si, já foram suficientes para exaustar o seu corpo. Minhas pernas estão tr
êmulas... Mal sinto meu passo, enquanto caminho em direção ao ponto de ônibus. M
inha mente, focada no acontecimento.
O que eu fiz? Como eu fui capaz? O que justifica minha atitude? Até então, eram
só pensamentos e planejamentos, mas acabou de se tornar real. Um estupro: algo,
que até então, não passava de uma fantasia. Pela maioria das pessoas, agora, eu
posso ser considerado uma escória, com algum tipo de distúrbio mental.
E, apesar de tudo, foi bom. Foi melhor do que eu esperava. Aquela sensação inexp
licável de poder sobre alguém, uma sensação que eu tive poucas vezes na vida: do
minar. E, de alguma forma, ela parecia estar gostando, apesar de todos os medos.
Eu a violentei de uma forma carinhosa, se isso é possível. Ela deve ter percebi
do. Em algum momento, acredito inclusive, que ela estivesse mexendo os quadris e
estava molhada! Talvez seja alucinação, ou o que eu quero acreditar.
E no exato momento em que chego na parada de ônibus, - depredada, sem banco. Tet
o pixado, pareces pixadas e com propagandas coladas: a maioria de umbanda, ou po
lítica. - percebo que estou sentindo mais uma sensação que tem sua digital própr
ia. A culpa prazeirosa. Eu sei que o que fiz foi errado, sinto isso, mas foi tão
bom. Talvez eu tenha destruído a vida dela durante algum tempo, ou até mesmo pr
a sempre. Eu tento fazer algo para corrigir, ou simplesmente deixo ir? Eu me sin
to, de certa forma, viciado. Como uma criança, quando aprende a andar, e fica co
rrendo pela casa.
Talvez ela esqueça em alguns dias, ou meses. Ou talvez, nunca esqueça. Mas since
ramente, eu não ligo mais, tanto. Agora que eu à possuí, ela já não está mais tã
o idolatrada. Eu a sinto humana, e não angelical. Ela é, realmente, de carne e o
sso, assim como eu. Ela não é mais o amor platônico, ou a paixão inalcansável.
O ônibus da meia-noite - o último - chegou. São cerca de 35 minutos daqui até em
casa, deve ser tempo suficiente pra me acalmar.
Mas o impasse permanece na minha mente:
1- Tento justificar para ela, de alguma forma, a atrocidade que eu cometi? Minha
preocupação com o estado psicológico dela é clara.
2- Deixo ir? Vivo, e deixo viver? Talvez ela esqueça, de alguma forma. Ou, talve
z não. Centenas de milhares de pessoas são estupradas todos os dias no mundo tod
o, se algumas passam por isso, ela também pode.
3- Essa sensação... Eu preciso senti-la novamente. É uma questão de tempo, até q
ue ela tome conta de mim, assim como tomou hoje. Tenho um certo medo. É uma espé
cie de fome, basicamente. É algo ruim, enquanto se sente. Porém, quando saciada,
- principalmente, por uma bela refeição - a sensação é incomparável.
Lembrando que as respostas não são absolutas (Exemplo: A primeira e a segunda, q
ue são mais "humanas", não necessariamente significam que a personagem deixe de
ser um estuprador, tal como a terceira, não significa que ele vai virar um estup
rador em série.)
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Vou tentar postar algo em outro estilo, dessa vez. Tomara que gostem mais:
Titulo: O leitor
Ele já tinha lido de tudo. De tudo mesmo, uns seis autores começando com cada le
tra, uns seis livros por cada autor. Um culto. Um intelectual. Um esclarecido.
Estava apto a saborear o presente. Quanto não tinha em seu acervo mental de linh
as e citações, versos e estrofes, que não pudesse procurar no mundo, para sentir
com sua própria pele? Deixar de olhar para os livros como um teste de Rorschach
, várias manchas pretas num fundo branco, carentes de significado.
Saiu pela terra, e foi sentir as brisas ferozes do além mar, os odores adocicado
s das auroras campestres, as qualidades enigmáticas e quase etéreas do luar em c
idades remotas, em noites frias de outono. Foi trazer para si tudo o que os livr
os lhe prometiam. Recitou versos para donzelas, recitou também para prostitutas
com a indevida vênia, por assim dizer, cantou com os bêbados, chorou com os bêba
dos. Foi injustiçado, injustiçou outros. Brigou com homens e mulheres, reconcili
ou-se com quem pode. Riu, chorou. Ainda havia tanto que os livros lhe prometiam.
Tanto que aqueles grandes nomes haviam colocado no papel, como um mapa apontand
o um tesouro que estava no mundo todo, esperando para ser achado. Procurou com t
anto afinco. Dormiu sob as estrelas, comeu do fruto da terra, matou uma pessoa,
salvou outra, espancou um mendigo só para ver o que aconteceria, espancou uma mu
lher também, já que podia. Drogas, chás, vinhos, temperos. Procurou tudo com afi
nco.
Mas o vento era só vento e lhe dava frio, e não era muito mais que isso. Nem os
cortes, nem os sabores, nem os dissabores. E finalmente compreendeu que tudo não
passava de prazeres momentâneos, e que em sua miserável existência era necessár
io que se enaltecesse ao máximo os pequenos pontos positivos com eloqüência. Sen
tia-se bem, sentia-se mal. Não descobriu o cheiro de outono, nem odores adocicad
os, nem o revigorante toque da luz do sol. Era tudo ar respirado e espirado. Era
tudo calor, ou frio. Eram todas mentiras.
E todas as princesas, e todas as putas, eram só parte do mesmo ensejo. Calores e
frios, doçuras e amarguras. Qualquer coisa que depois pudesse encher de adjetiv
os para se sentir mais real e menos insignificante. Pimenta era ardente, sal era
salgado, ouro era brilhante, terra era... terra.
Sua capacidade de agir com a realidade limitou-se, e não seria problemático segu
ir lendo mentiras para poder se sentir bem com uma sensação estranha de filosofa
r sobre o porquê das coisas, mas se havia cansado, pois o condicionamento de aum
entar suas sensações para escapar da mesmice acabou por colapsar sobre ele como
o templo que engoliu Sansão.
Mas havia quem o salvasse, invocou as balas do realismo e a pistola do existenci
alismo. Goethe carregou os tambores, outro qualquer ajeitou-os, naquela roleta r
ussa de fim pré determinado, e toda a filosofia e sentimentos lhe passaram em um
estrépito, enquanto deu-se um último golpe, um baque arrebatador, um final que
o fez compreender tudo.
Não, nem isso. Até a morte era apenas morte.
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Leiam isso e digam o que acham desse tipo de texto. Resistam ao forte impulso de
dizer que isso não tem lógica nenhuma e por isso é uma merda. As vezes gosto de
escrever textos nesse estilo pela sensação que tenho ao ler tantas aliterações
seguidas. As vezes gosto de escrever pra ir enfiando metaforicamente problemas d
a minha vida pra fora do meu corpo. Esse texto foi um resultado dos dois, depois
de ler Haroldo de Campos por um tempo:
Chaveiros e molhos de chave e já se adentra as aliterações terríveis dos transto
rnos intransigentes de trabucos tardios em terras tortas. Tente-te ao tentar tra
nscrever tétricas teorias tolas que tratam de determinar o tempo de terminar. Tr
ansfiguradas tertúlias trôpegas em tremenda trama atrofiada, fiando em topos e t
opando em fios, enfiando enfezadas enfáticos enfeites, em fase, desfazendo-se em
esfuziantes zéfiros. Fosse fácil forçar o fóssil nas feias faces facínoras, far
ia-o. Fê-lo falo e falo que fala fascinantes falácias fasciculadas, folheando o
filo filial da feliz falante. Em um estrépito quasi pétreo patroneou-se por três
trizes, mais que por um. Por um poro esporeou possante, possuído ao pêlo pelo p
elotiqueiro, parametrizado em periculosas películas preclusas pertencentes a rec
lusas repetentes reportadas em retumbantes rótulos radicais de raiados ronronare
s régios.
Ainda assim ele poderia ser romântico. Pintando a porradas o silvo do pintassilg
o numa silvicultura tântrica intrincada em tanta trepadeira tipicamente tropical
. Trespassando a três passos da valsa selvagem, ressalvada a relva, respeitada a
pauta, respaldada a puta. A raiva é intensa, mas não menos que a vergonha ou qu
e a fobia da vergonha ou que a alforria da cegonha ou que a grande orgia triston
ha que lhe deu motivo para voar. Não se olha para baixo ou para trás ou para o i
ntermitente tépido tornassol tacanho de um estúpido estigma espúrio.
Finda enfim afim de dar fim assim a uma tentativa falha de ser feliz.
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Queria saber a opinião dos anões desse shit sobre este pequeno conto meu.
O projeto inicial era entregar a um amigo, que coleciona contos sobre banheiros,
e pretende fazer uma espécie de HQ misturando todos eles.
Mas sei lá, fiquei com vergonha. Agi corretamente anões, Em não entregar o conto
?
Estou na minha, cama. Acabei de, acordar. Levanto-me, vou até o banheiro da minh
a kitnet, palavra estranha, kitnet. Olho-me no espelho, a maquiagem branca. O go
sto de cigarro na garganta cheia de catarro e pus, o catarro e o pus escorrem at
é meu peito.
Não, não é metáfora. Embora os sentimentos, que não enchem meu peito - aprendi n
a aula de biologia que os sentimentos ficam na cabeça- mais se pareçam com catar
ro e pus que qualquer outra coisa, meu peito esta, na real, cheio de catarro e p
us e dos azulejos brancos do banheiro, do espelho, que só reflete branco, de uma
toalha amarela, e de meu rosto.
A maquiagem branca, e a rolha, a rolha de plástico branco em cima da pia, de por
celana branca. Branca e burguesa, minha cara no espelho, branca e burguesa. a ro
lha no ralo, a pia aberta, a pia enche, começa a transbordar, respiro fundo, tom
o coragem e,
Bato meu rosto com força na pia cheia d'água, a água voa, embora eu não veja, no
chão. A maquiagem sai do meu rosto, e flutua na água, esfrego meu nariz de bran
ca e burguesa com força na porcelana, aprendi na escola, com Newton, que dois co
rpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Mas minha cara e a pia não
são dois corpos, são um só, branco e burguês. o sangue sobe junto com a água que
vai caindo da pia, o que não me importa, não o vejo, em minha mente, só o branc
o.
Meu corpo continua lá, no banheiro, a cara afundada na pia. Mas eu não estou lá,
estou voando. Voando dentro de um apartamento acarpetado, apinhado de quadros n
a parede, são cenas do campo, dos homens do campo, das estradas do campo. Não go
sto dos quadros. Junto dos quadros ruins, sentada num sofá de couro bege, uma se
nhora recebe visitas e serve café, com sua melhor louça para visitas, estampada
na cara, em forma de sorriso.
Saio da sala, o corredor, mais quadros. Quadros modernistas, cenas do campo, em
cores vivas. a porta do banheiro, esta aberta, o chão é de azulejos marrons, a p
ia é branca, os armários, pregados na parede também. Embaixo dos armários, meu d
eus, eles tem quadros até no banheiro!
o celular toca, no meu bolso, no meu corpo, e eu volto. Não importa o que uma pe
ssoa esta fazendo, ela tem de atender o celular. A voz daquele nojento, chefe no
jento. Resmunga meio que gritando, e eu tenho que bater a meta de produtividade
em dois dias, entregar o projeto do banheiro daquela loja. Saio da pia, vou até
a cozinha, começo a preparar o café, só mais dois dias, e posso voar.
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5
Em um breve instante a situação ficou ridiculamente clara.
Elas estavam dançando juntas e eu não era mais do que qualquer outro idiota olha
ndo uma se esfregando na outra a um passo de distância. Diabos. Até Coelho me pu
xava pro meio quando se esfregava em outra mulher. Se tem algo que eu nunca fui
é um idiota qualquer.
Eu sou um idiota de primeira.
Larguei a bolsa dela no chão e andei. Não importava para onde. Só precisava esta
r em outro lugar. Me espremi contra as pessoas subindo as escadas e fui para a p
ista no andar de baixo. As pessoas fumavam no corredor entre as pistas, decidi m
e juntar a elas. Acendi um Lucky Strike e traguei o máximo que meu fôlego suport
ou.
Não podia arrebentar a cara daquela aprendiz de piranha, mas podia arrebentar me
us pulmões.
- Oi, tem fogo?
- Tenho.
Não peguei o isqueiro. Fiquei parado olhando os belos lábios que haviam me feito
a pergunta. Belos lábios vermelhos. Belas tetas.
Quem precisa dizer algo inteligente com peitos como aqueles?
Acendi o cigarro dela com a brasa do meu. Ela tragou e me pagou o favor com um s
orriso sem vergonha.
- Posso te oferecer mais alguma coisa?
- Você não estava acompanhado?
Ela já estava de olho em mim. Adoro quando elas facilitam as coisas.
- Não estou agora.
Ela chegou mais perto. Cheirava bem.
- Isso não seria um problema?
- Seria. Só não seria meu.
- Então eu acho que vou me aproveitar mais um pouco da sua boa vontade.
Ela se aproximou mais e encostou seus lábios nos meus. A mulher beijava como uma
devoradora de homens. Tinha vontade. Paixão. Tinha uma força sutil em seus lábi
os macios.
E cheirava bem pra caralho.
Ela apertou seu corpo contra o meu e eu escorreguei minha mão por suas costas. E
la levantou uma de suas pernas e eu a apertei com vontade. Tinha coxas grossas e
firmes. Um belo par de pernas.
- Entra comigo no banheiro. ela me pediu.
A ficha levou uns segundos pra cair. Mas caiu.
E eu estava puto demais pra dizer não.
Rápido e tão discreto quanto se pode ser ao lado de uma mulher como aquelas em u
m lugar tão cheio, entrei no banheiro. Puxei a mulher para dentro e fechei a por
ta. Ela não perdeu tempo e abriu os botões da minha calça. Colocou a mão dentro
da minha cueca, me apertou com vontade e sorriu satisfeita. Puxei a alça de sua
blusa para o lado e apertei um de seus seios. Mordi de leve o bico de um dos sei
os. Ela gemeu e me apertou mais uma vez.
- Você tem camisinha?
- Não.
- Não tem problema.
Ela se abaixou como uma leoa e começou a usar os lábios. Chupou com tanta força
que quase perdi o equilíbrio. Ela se apoiava em mim com uma das mãos e se tocava
com a outra. Ela era boa. Sabia exatamente o que fazer.
Ouvi dizer que o beijo diz 70% do que se precisa saber sobre o sexo entre duas p
essoas. Pessoalmente, acho que a chupada diz outros 20%.
O resto são nulos e indecisos.
Não consegui gozar. Uma gorda mal comida de saia rosa batia na porta como uma po
rca faminta atrás de farelos. A adorável estranha me olhou e deu um último chupã
o. Quase um presente de despedida. Uma recordação.
Ela se levantou, eu coloquei para dentro da calça e saímos do banheiro. Muita ge
nte olhou, mas ninguém parecia surpreso. Só a gorda mal comida.
Sexo devia ser algo mitológico em seu mundinho de feiosidade mórbida.
- Vem comigo pra pista?
- Eu adoraria dançar o resto da noite com você...
- Mas...
- Mas minha garota está lá em cima. Eu vim com ela e vou sair com ela.
- Você é um idiota.
- Um idiota de primeira.
Ela sorriu e me deu um último beijo.
- Queria que o meu namorado pensasse assim. Ele veio comigo, mas não sei onde el
e está. Já deve ter ido embora com outra...
Ela se virou e desapareceu rebolando entre as pessoas. Eu me virei e subi as esc
adas. A minha garota ainda se roçava na magricela. Sequer havia notado minha aus
ência. Whatever, dude.
Não sentia mais raiva. Não sentia mais nada. Só a sensação daqueles lábios desli
zando em minha pele. Dane-se ela e a magricela. No que me dizia respeito, Deus e
stava dando asas à cobra.
E a noite ainda não estava na metade.
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1
- Cansei dessa porra. eu lhe disse com o olhar perdido no fundo do copo.
- Eu te pago uma Heinekken. ela me disse.
Eu a ignorei. Ela não tinha idéia de como eu me sentia.
- Cansei de morrer cinco dias pra viver dois. Não vou mais fazer isso.
- É? E o que vai fazer? Vai viver de quê?
- De sexo e livros.
Ela me olhou com seu velho olhar de descaso. Um dia, eu o achei sexy.
- Vai ser gigolô ?
- Cafetão.
- Ha! Tá bom...
Meus olhos ainda estavam afogados no fundo do copo. A cerveja estava quente, mas
isso não fazia a menor diferença. Nada fazia. A música alta, as pessoas estranh
as ao redor, os idiotas olhando a minha mulher. Nada me importava muito naquele
momento.
Eu estava isolado em meu melancólico e confortável autismo.
- Não deve ser difícil. Só preciso de uma puta.
- É, só isso.
Ela encheu nossos copos com o que restava de cerveja na garrafa. Tomamos uns gol
es, em silêncio. Seu olhar as vezes se perdia e eu sabia que estava sendo uma pé
ssima companhia aquela noite, mas eu não podia fazer muito.
Não era com ela que eu queria estar.
- Eu posso convencer uma garota a ser minha puta.
- É? Me convença, então.
- Você já é minha puta, meu anjo. E eu preciso de uma que me dê dinheiro, não qu
e leve o pouco que tenho.
Ela estreitou os olhos e me olhou séria, claramente magoada. Eu era grosseiro. S
empre fui. Já não pedia desculpas pelas merdas que deixava escapar, mesmo quando
queria pedir desculpas. Diabos, haveria sempre uma próxima vez.
- Convença aquela. ela apontou uma qualquer no bar.
- Eu teria que pagar pra que comessem aquilo. Eu preciso de alguém... como ela.
Ela não disse nada, mas não era preciso. A garota havia nascido pra ser puta. Se
já não fosse. Tinha cara de puta, dançava como puta, se esfregava nos homens co
mo puta. Flertava com todo o bar, servindo doses de tequila direto da garrafa na
boca de debilóides que sonhavam acordados até cairem de bêbados com tudo o que
não teriam aquela noite.
Eu costumava ser assim.
Tomado por um inefável e impetuoso sentimento de foda-se eu me levantei e fui at
é ela. Caminhei através das mesas, passei a mão em uma garrafa de cerveja qualqu
er abandonada em uma mesa e ofereci à estranha.
- Você não está bebendo dessa aí, por que não tenta essa?
Ela sorriu, bebeu o resto da cerveja na garrafa e a deixou cair sem se importar.
- Qual é o seu nome? eu perguntei ao pé de seu ouvido.
- Luíza! ela gritou no meu.
Ela não era exatamente bonita, mas tinha estilo. E seios enormes.
- Luíza, eu quero que você seja minha puta.
- Sua o quê? ela gritou de novo em meu ouvido. Senti vontade de quebrar seus den
tes, mas aí eu teria duas mercadorias estragadas ao invés de uma.
- Minha puta!
Ela levou um tempo pra assimilar o que eu havia dito. Quando a ficha caiu, ela g
argalhou como louca. Eu gostava das loucas.
- Essa eu nunca tinha ouvido! ela gritou, dessa vez longe do meu ouvido. Acha qu
e é assim que vai me ganhar?
- Eu não quero te ganhar. Quero te vender!
Raras vezes em minha vida eu falei tão sério. Acho que ela percebeu isso.
- Você é louco!
Ela me deu as costas e voltou a derramar esperança líquida na bocas dos tolos. E
u voltei pra minha mesa e minha garota. Ela me olhava com um meio sorriso nos lá
bios. Já estava acostumado a esse sorriso de se fudeu .
Constantemente eu fazia papel de idiota.
- Muito bom. Como foi que você me convenceu a ficar com você?
- Eu respirei.
- Convencido. ela disse e me beijou. Ses lábios macios estavam sempre húmidos e
sua saliva sempre salgada.
Li em algum lugar que hormônios deixam nossa saliva salgada quando estamos apaix
onados. A minha devia estar um mel.
- Vou pegar outra cerveja. ela me disse.
Ela se levantou e foi até o balcão no fundo do bar. Fiquei olhando seu passo reb
olativo enquanto ela se enfiava no meio das pessoas. Tinha belas pernas. A saia
curta não escondia muita coisa. Aquele andar me hipnotizava.
- É uma pena. disse a mim mesmo.
Ela era ótima, realmente ótima. Mas só até sumir de vista. Quando eu estava sozi
nho, seus defeitos me corroíam a alma. Não levava muito tempo até que eu me enco
ntrasse pensando em outras mulheres. O meu telefone vibrou no bolso da calça.
Mensagem de texto.
Você sabe o que está fazendo, certo?
O diabo tinha um jeito engraçado de brincar com a gente. Você ama loucamente e n
inguém olha pra você. Nem mesmo o seu amor. Você questiona sua lealdade por um i
nstante e elas chovem como confete no carnaval.
Respondi a mensagem. Fui sincero, mas minha sinceridade sempre soou falsa. Tudo
o que eu digo ou escrevo parece ter saído de uma ficção qualquer. Se é novidade,
elas amam. É romântico. Se já te conhecem, é pura cena.
- Acho que a banda não vai tocar hoje. ela disse, colocando a garrafa cheia sobr
e a mesa.
- É...
- Quer ir pra casa?
Ela me sorriu. Era cheia de sorrisos. Aquele queria dizer vamos transar .
- Claro. Vamos acabar a cerveja.
Peguei a garrafa e nos servi. Uma Heinekken.
Ela estava de volta. O copo estava cheio de novo.
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Clive era psicotico. Literalmente.
Em seu delirio, sua ruina residia em um quarto pequeno e escuro. Pequeno a ponto
de nao permitir que se deitasse, escuro de
tal forma que nao visse a propria mao diante de seus olhos. A agonia de se imagi
nar em tal situacao tomava seu sono e o
levara a ruina.
Ele precisava estar preparado.
Decidido a encontrar sua salvacao atraves de um processo maquiavelico, Clive rap
ta seis pessoas e as tranca em tres quartos.
Cada um deles construido à imagem e perfeicao de seu pior pesadelo. Assim ele in
iciou as experiencias.
Durante tres dias observou as seis pessoas em sua dor e desespero. Em seus grito
s de pavor e em suas lagrimas de
incompreensao. Ate o quarto dia.
Quando todos se entregaram, algo aconteceu. Um dos cativos torceu o pescoco de s
eu companheiro ate a vida escorrer de seu
corpo. O corpo sem vida foi empurrado para baixo e, sobre ele, o assassino se se
ntou abracado aos joelhos. Clive havia
criado um monstro.
Desesperado, Clive liberta cada um dos outros cativos, se fazendo passar por um
estranho que havia ouvido os gritos.
Quando chegou a vez do assassino, ele nao soube o que fazer. Horas depois, com a
calma reestabelecida e o suor seco em seu
rosto, ele criou um personagem bem construido, o heroi salvador, e abriu a porta
do pequeno quarto. Com discursos de
messias ele estendeu sua mao para o cativo sobrevivente. "Voce esta seguro agora
", Clive dizia. Mas ele proprio nao estava.
Rapido e fatal, o assassino puxou Clive para dentro do estreito comodo e com gol
pes certeiros em sua face arrancou
violentamente sua vida. Quando terminou, com seus punhos envoltos em sangue, o a
ssassino colocou o corpo inerte de Clive
sobre o de sua primeira vitima. Como se nao houvesse um mundo alem daquele quart
o, ele permaneceu quieto, sentado sobre os
corpos no escuro.
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(Apenas um pedaço)
Finalmente ela era sua, só sua. Havia esperado dez ou onze anos por isso. Era ta
nto tempo que já não sabia exatamente; não importa o quanto durou sua paciência,
apenas que esperou muito tempo. A tinha ali, só com ele. Seus olhos castanhos b
rilhantes, seus lábios rosados visivelmente macios, suas pequenas e tímidas orel
has, seus braços ligeiramente finos, seus dedos delgados... Embora faltassem alg
uns da mão direita devido à porta do porta-malas. Ainda assim, estavam belíssimo
s.
Uma vez deu a ela um buquê de lírios brancos. Ela odiou, tanto quanto detestava
seu nome. Gostava de se bronzear, um marrom claro e brilhoso que nada remetia à
flor. Nunca se pareceu com um lírio de fato, mas agora não havia como negar que
estava como um: pele lívida, sorvendo o formol como seu alimento póstumo, fazend
o sua fotossíntese com a lâmpada fluorescente.
Estava com Liliam ali, numa casa no campo. Havia comprado há algum tempo, mas nã
o tempo o suficiente para que o lugar tivesse alguma personalidade. Havia decidi
do chamar Liliam para passar uma semana ali com ele e alguns amigos, caso quises
se. A resposta foi como sua paixão por ele: Não. Eu odeio o campo. Seca.
Seu casamento com ela durou apenas oito anos. Apenas, para ele, muito, para ela.
Ele a amava, mas não fazia parte de sua vida. Ela estava sempre há milhas tempo
rais de distância dele. Eram muito diferentes e mesmo assim foram cônjuges por 8
anos. Ele nunca sentiu que era sua, sempre a sentia escapar, como se tentasse e
nvolver névoa em seus braços. Quando foi embora, explicou que tentou amá-lo por
considerá-lo uma boa pessoa, relativamente estável, mas que o problema se encont
rava em justamente ser estável demais. Nunca ralhara com ela, gostava de agradá-
la, amava-a. Ela queria apenas alguém para fazê-la sentir miserável na maioria d
as vezes e fingisse suportá-la nas horas vagas. Deixou-o em pedaços. Agora tinha
chego a sua vez.
Estava disposto a partir seu coração em mil fragmentos, mas deixou-o intacto e s
eparado em um vidro só pra ele. Cabeça em outro. Mãos em outros. Pés em outros.
O restante estava em um grande isopor. Ficou com preguiça de cortar em pedaços m
enores. Poderia ser reutilizado, nunca se sabia a que nível chegaria sua loucura
, ou, como ele preferia pensar, sua paixão.
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Olhe novamente para esse ponto. É aqui. Esta é a nossa casa. Ou seja, nós. Todas
aquelas pessoas que você ama, todos que você conhece, todos os quais você nunca
ouviu falar, todo mundo que já existiu, o homem tem vivido sua vida sobre ele.
Todas as nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões confiantes, ideolo
gias e doutrinas econômicas, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada
criador e destruidor de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonad
os, cada mãe e cada pai, cada esperança, criança, cada inventor e explorador, ca
da professor espiritual, cada político corrupto, cada superstar , cada líder sup
remo, cada demônio, cada deus, cada santo e pecador na história da nossa espécie
viveram lá - sobre a partícula de poeira, suspenso em um raio de sol.
Terra - um palco muito pequeno na imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangu
e derramados por todos os generais e imperadores para que, à luz de glória e de
triunfo, brevemente tornarem-se mestres desta areia. Pense nas crueldades infini
tas cometidas pelos habitantes de um canto desse ponto de mal se distingue a par
tir deles, os habitantes da outra esquina. Sobre quantas vezes seus desacordos s
obre como eles estão sedentos para matar uns aos outros, como o seu ódio fervoro
so.
Nossa postura, a nossa importância imagino, a ilusão da nossa posição privilegia
da no universo sucumbir a esse ponto de luz pálida. O nosso planeta - um pontinh
o solitário na grande escuridão do ambiente espacial. Em nossa obscuridade, em t
oda essa infinitude, não há nenhum indício de que a ajuda virá de outro lugar pa
ra nos salvar de nós mesmos.
Alguém disse que a astronomia nos ensina a humildade e constrói o caráter. Prova
velmente, não há melhor prova da loucura da vaidade humana que essa imagem dista
nte de nosso mundo minúsculo.
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Havia terminado. Ela estava morta.
Um ano de luta contra uma doença que progredia alheia a qualquer oração havia se
passado e terminado em uma grande e lamentável derrota. Jovem, bela, sorridente
até mesmo em seus minutos finais, quando todos os seus órgãos começaram a falha
r. Estava morta.
Ele, o sobrevivente, queria ter morrido no lugar dela.
Durante as primeiras semanas sua irmã havia estado com ele todos os momentos. To
dos temiam que ele acabasse com a própria vida desejando estar com ela. O Tempo
passou e as pessoas acharam que ele poderia aprender a lidar com a situação.
A vida continua.
Ele abandonou a casa, mobiliada para um casal, e se mudou para um lugar menor. U
m apartamento para solteiro. Velho, sujo e quase sem mobília. Caixas foram empil
hadas pelos cantos. Caixas com as poucas coisas que pertenciam apenas a ele. Coi
sas de uma vida distante, uma vida de solteiro. A cama não foi montada e a gelad
eira não foi ligada. Havia um colchão no chão e latas quentes de cerveja. Comia
pizza de calabresa com catupiry todas as noites. Era a favorita dela.
O primeiro mês passou como se tivesse sido um ano inteiro. Os dias estavam cada
vez mais longos. As janelas permaneciam fechadas por todo o dia. Ele não se impo
rtava com o que acontecia do lado de fora. Desejava que não houvesse um lado de
fora. Assim, talvez um dia, não houvesse um lado de dentro também.
Uma vez por mês sua irmã trazia comida e dinheiro. Ele fingia estar dormindo a c
ada visita. Ela sabia que não era verdade, sabia que era mais fácil pra ele agir
desse jeito. O peito dela doía sempre que ele fazia isso, mas ela o amava. Agor
a ambos acreditavam que o amor não passava disso, uma dor no peito. Ela respeita
va a escolha do irmão.
Todas as manhãs ele se olhava no espelho. Queria dizer a ele mesmo que a vida co
ntinuava. Queria seguir em frente sem ela.
Mentiras.
Ele queria ficar do jeito que estava até que olhasse no espelho e não se reconhe
cesse mais. Até poder acreditar que aquele não era mais ele. Até poder fazer de
conta que tinha uma outra vida.
Talvez a vida continuasse assim.
Dias se passavam e ele perdia a noção de tempo. Horas, dias, semanas. Palavras q
ue não tinham mais sentido. Era sempre noite dentro do apartamento de três cômod
os. As portas estavam sempre trancadas. Não se levantava do colchão a menos que
precisasse. Não via mais o sol nascendo ou se pondo. Havia apenas a escuridão do
quarto.
A loucura agora o visitava. Ela lhe dizia coisas absurdas e impossíveis. Outras
vezes, ela lhe dizia coisas tão possíveis que lhe davam calafrios. Algumas vezes
ela não dizia nada e tudo o que restava da loucura era uma sensação de não esta
r só.
E isso era o pior.
Sentia olhos observando-o quando se deitava. Encolhido sobre o colchão se cobria
como uma criança com medo do escuro. Nesses momentos ele desejava ter alguém ao
seu lado. Nesses momentos, ele desejava que ela estivesse ao seu lado. E nesses
momentos ele sabia que ninguém mais poderia estar ao seu lado.
Algumas manhãs a luz do sol o acordava. Ele olhava a janela, a mesma que deveria
estar fechada, e via uma fresta aberta. Nessas manhãs, sempre havia um pequeno
origami branco no chão ao seu lado.
Sempre um animal. Um cachorro.
Por pouco tempo ele questionou o que aquilo queria dizer. Achava que sua irmã es
tava enlouquecendo junto com ele. Isso o fazia se sentir culpado.
Ele guardava todos os origamis que amanheciam ao seu lado dentro de uma caixa. A
creditava que eles representavam a esperança da irmã de animar a sua vida. Ele s
abia que aquilo era inútil, mas ele não partiria seu pobre coração.
Os origamis apareciam com freqüência maior. Sempre da mesma cor, sempre do mesmo
papel, sempre com a janela aberta pela manhã. Quando já não havia mais lugar em
uma caixa para todos, ele encontrou um diferente dos anteriores. Era vermelho e
havia um objeto junto com ele.
Uma moeda furada.
Durante horas ele olhou e analisou a moeda. Tentou se lembrar de algo que pudess
e fazer a presença dela ter algum sentido. Por mais que pensasse, parecia ser ap
enas mais uma loucura de uma irmã preocupada. Talvez apenas um presente. Ele fec
hou a janela e deixou a moeda no chão. Voltou a dormir.
Pesadelos. Ele via seu corpo deitado sobre o colchão velho no canto do quarto. N
otava toda a decadência ao seu redor como se fosse a primeira vez.
O fundo do poço.
O silêncio aos poucos se tornou um pequeno zumbido no ouvido. Seu corpo não se m
ovia, não parecia estar vivo. Talvez não estivesse. Queria se aproximar e ter ce
rteza, saber até onde ia o sonho. Ele abaixou lentamente e estendeu a mão em dir
eção ao corpo.
Seu coração batia mais rápido.
Antes que pudesse tocar o corpo, os origamis cortaram o ar e a ponta de seus ded
os. A porta do armário estava aberta. Os origamis voavam em fila para a escuridã
o dentro dela. O vermelho liderava a fila. Ele levou a ponta dos dedos até a boc
a e lambeu o sangue dos pequenos cortes.
O gosto ainda era o mesmo.
Caminhava com passos curtos em direção à porta aberta. Tentava ver os animais de
papel, mas não havia mais nada lá. Apoiado no portal do armário ele olhou seu i
nterior. A porta parecia flutuar no meio da escuridão.
Uma porta no meio do nada.
Alguém estava atrás dele. Podia sentir e ouvir a respiração no silêncio do quart
o. Sentiu calafrios quando lhe ocorreu que a única pessoa naquele quarto além de
le era seu corpo ao chão. Não tinha coragem de se virar. Se o lugar refletia a d
ecadência dentro de seu peito, ele preferia se jogar no nada dentro do armário a
olhar dentro dos seus próprios olhos.
A escuridão já não era tão ameaçadora.
De olhos fechados, tentava controlar sua respiração. Parecia impossível e ele ac
hava aquilo quase estúpido. Ainda de olhos fechados, tomou coragem e se virou. R
espirava fundo quando abriu os olhos. O susto quase o fizera cair dentro do nada
no armário. Apoiava-se no portal enquanto suas pernas tremiam. Não conseguia re
spirar.
Sua mulher o observava.
Vestia um kimono vermelho e sorria, como sempre. Ela parecia saudável e feliz. E
le parecia doente e isso o envergonhava. Não era metade do homem que havia casad
o com ela. Ainda sorrindo, ela abria os braços como quem esperava um longo abraç
o. Chorando de felicidade ele deu um passo à frente.
Ela o empurrou para dentro do armário e ele caiu na escuridão.
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Eu estou sozinho. O ar que eu respiro é a única coisa que me resta. Já são três
horas da madrugada, e eu estou sentado, num banco de praça, olhando ao redor, co
m a esperança de que ninguém me ache. A minha vida tem sido um inferno nos últim
os sete dias. Eu perdi as duas únicas coisas que mais me importavam nesta vida:
a minha casa e a minha namorada. E eu queria saber o por quê. Aliás, no fundo, e
u devo saber, só que ainda há um sentimento dentro de mim, que não quer que a ve
rdade se revele, um sentimento perfeccionista, um orgulho que prefere se manter
intacto à revelar algo que possa ferí-lo.
O vento sopra. A árvore balança. Uma folha cai em minha cabeça. Mas eu não quero
tirá-la dali. Estou poupando todos movimentos desnecessários. Aliás, estou poup
ando todos os movimentos. Eu nunca senti algo tão forte assim... Ser expulso de
casa é horrivel. Uma terrível sensação de rejeição, ódio, raiva, amargura e amor
, tudo ao mesmo tempo. É como se seu coração fosse um liquidificador, você pegas
se tudo isso e batesse. Você se sente tonto, perdido. Não tem noção de onde está
. Não sabe o que vai fazer, não sabe se quer viver, não sabe se quer pular da po
nte mais próxima e se jogar, não sabe se quando for assaltado, gritará para o ba
ndido: Mate-me, por favor! .
E aqui, eu penso...todo este tempo, o qual eu morei com os meus pais, em casa, e
u fui um bom filho. Nunca tiveram do que reclamar. Eu sempre fazia o que me pedi
am, ainda acho que eu era muito bonzinho. Sempre brinquei, sempre fui divertido,
bem-humorado, nunca causei mal algum para ninguém. Sempre permanecia quieto. No
meu canto, deitado num sofá, do lado de uma lareira, que me aquecia em todas as
noites frias e solitárias. A última coisa que eu fiz, antes de ouvir o julgamen
to final de meu pai, Saia daqui , e alguns empurrões em direção à rua, foi deitar d
o lado daquela lareira. Naquela hora, estava pensando sobre minha namorada. Ah,
o meu doce amor... Como eu amava aquela cachorra. Tivemos loucas noites junto, e
ra um amor insaciável, aventureiro... Mas, aquela cachorra me traiu. Eu não sabi
a se aquela porra de amor que eu sentia era recíproco. Eu não sabia se ela realm
ente me amava também ou estava lá só para me trair. Mas agora eu sei. Ela está l
á agora, comendo do bom e do melhor, sentada num aconchegante sofá azul-piscina,
pago em dez prestações, sendo confortada por dois proletariados de classe média
, meus antigos pais. Eu ainda não sei porque os chamo de pais. Nunca cuidaram be
m de mim. Eu não sei o que fiz para merecer isso tudo.
Sabe, pode até parecer clichê, mas é uma das frases que mais me conforta agora:
Tempo é remédio . E espero que assim seja. Eu digo Foda-se , bem alto, ecoando pelas
ruas ( mesmo que ainda ninguém me entenda ), pulo daquele banco e sigo em algum
a direção, a direção que, agora, é o rumo de minha vida... Ela é... o norte. O n
orte. Não sei o que me espera, nem o que vai acontecer. Eu aprendi que a vida é
apenas uma aventura sem propósito, na qual nos fodemos o tempo todo. A felicidad
e é apenas algo momentâneo, por isso, tenho que aprender a conviver com a dor. N
ada mais é importante para mim, além de mim mesmo.
E aqui vou eu, ó grande mundo que me aguarda! Eu vos digo, não é fácil ser um ca
chorro de estimação...
- Anônimo.
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Este texto não é meu. Achei ele no /h/, um anão postou lá, falando que encontrou
na comunidade do Palahniuk ( no 0rkut ), estou postando aqui porque é uma das m
aiores pérolas que eu já vi.
Oi, meu nome é Rebeca.
Sou loira, baixinha e algumas pessoas me chamam de gorda. Isso não importa nesse
momento. Na verdade nada importa. Por exemplo, poucas pessoas gostam de mim. Um
a ou outra que você não vai conhecer. Não por não fazer parte de meu circulo de
amizade, e não porque você não merece conhecê-los. É sério. Não adianta insistir
, você não vai conhecê-los. Esses poucos colegas que frequentam minha casa são d
o tipo de gente que você não vai gostar. Meus vizinhos os chamam de drogados. Nã
o são drogados, apenas não tomam banho todos os dias. O que você ou meus vizinho
s tem a ver com isso? - Não precisa responder, eu leio sua mente. Você está acha
ndo que isso é mais uma de minhas invenções. Não, não. Isso não é fantasia ou co
isa do tipo. Aliás, isso é mais real do que você imagina. Eu não imagino.
Ontem algumas pessoas, essas mesmos que insistem em me chamar de gorda, passaram
pela porta de casa. Duas pessoas. Um garoto e uma garota. Não menos gorda do qu
e eu. E veja só, não consegue correr nem dez minutos. Eu não sou gorda, você ou
ela são.
(...)
Fui pegar um copo com dois dedos de vodka. Dois dedos e cinco pedras de gelo. É
um gelo especial, fi-lo com suco de uva natural. Nunca tomou? - Experimente.
Nesse exato momento meu gato pulou da janela. Se não morreu, quebrou a pata. Não
interessa. Agora só penso no que vou fazer para que você goste menos ainda de m
im. Eu já disse, não me importo com você. Não insista. Não goste de mim e isso é
tudo. Mais que tudo, nada. Todos representam nada. Para mim, nada.
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