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Hey, anões do meu /shit/, escrevi algumas aleatoriedades, na falta do que fazer,

e gostaria de postar o resultado aqui.Enjoem.


Café, alface e maionese
Eram três da manha e eu estava discutindo com o Charlie.
Uma coisa, Charlie , eu disse, enquanto bebia um café extremamente amargo que só fa
zem aqui, se eu sou medíocre em tudo que faço, eu sou excelente em minha mediocri
dade, certo? , terminei de falar, quase cuspindo o café na blusa de manga longa ro
sa do Charlie.
Ele não gosta que chamem de rosa, e sim de fúcsia.
Acha que isso vai afetar menos sua hombridade.
Vai começar com essas perguntas? Você deve ser retardado. ele me disse.
Só me responde, cara. eu falei, enquanto espreitava a cozinha por uma fresta.
Você nunca sabe o que esses caras põem na sua comida.
Na última vez que eu vim aqui, tinha uns cinco tufos de cabelo no meu prato.
Eu não sei se o amargo do meu café era realmente do café ou alguém havia mijado
ali.
Charlie termina de comer seu lanche, que de tão recheado que estava, o sujou, de
ixando de lembrança uma folha de alface e maionese no lado da boca.
Quando eu vejo pessoas com o rosto sujo de comida, eu nunca falo nada. Não sei,
é meio desconfortável. É como se você estivesse apontando um erro e as obrigando
a corrigir. Você se sente superior por alguns instantes. Seu rosto está limpo,
perfeito, e o da outra pessoa não.
E eu gostava de prolongar essa sensação de superioridade.
Bom, é verdade. Se você é medíocre em tudo que faz, você é excelente em sua medio
cridade. Pelo menos eu acho." Ele me disse, ainda sujo.
É, cara. Esses dias andei fazendo umas observações e percebi uma coisa interessan
te.
Olho para o resto de maionese no rosto do Charlie.
Ouço gritos vindos da cozinha, junto de passos frenéticos em ritmos dessincroniz
ados.
Percebo que há gente soando os narizes, espirros.
Volto o corpo em direção ao Charlie.
Se você é excelente na sua mediocridade, sendo medíocre em tudo que faz, você não
é medíocre em tudo. Do mesmo jeito que, se você for magnífico em tudo que faz,
você não será magnífico na sua mediocridade, logo, você não é magnífico em tudo.
Um inverte o outro. , digo, enquanto viro um pouco pra baixo a minha xícara de ca
fé.
Espreito a cozinha e vejo respingos no chão através de furos na madeira velha e
desgastada da porta.
Cara, você é louco. Charlie me diz, balançando a cabeça e levantando a sobrancelha
, aquela típica expressão de Essa porra não faz sentido. adicionada de uma cara ai
nda suja de folha de alface e maionese.
O respingo que eu vi no chão era amarelo.
Amarelo.
Isso me lembra de coisas como Teletubbies, sinal de trânsito e urina.
Urina.
Esse tempo todo, eu bebi uma mistura especial de cafeína, água, lactonas, minera
is, açúcares, material lipídico, proteínas, tanino e urina.
Urina.
Mas, pensando bem , Charlie me diz , sincronizando o seu movimento labial com a fol
ha de alface, a pessoa que for magnífica em tudo e medíocre em alguma coisa ainda
será magnífica do mesmo jeito , ele continua, e a pessoa medíocre em tudo, que é
excepcional em sua mediocridade, também será medíocre do mesmo jeito. .
É. Tanto faz.
Aceno com a cabeça em forma de um sim, e digo para ele, É. Você está certo. Mas c
ara, quer saber de uma coisa ainda mais estranha? Meu café está todo mijado. .
Conto toda a história.
E a cara do Charlie ainda continua suja.
Eu realmente gosto dessa sensação de superioridade.
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A tomada
Foi então que todos eles largaram suas enxadas, e britadeiras, e cinzéis, e chav
es, e regras gramaticais, ou mesmo paralelismos, e chaves Phillips, inglesas, de
boca, de fenda. Agruparam-se, numa marcha lenta, dando um passo de cada vez e d
eixando o campo de obra para trás. Isso tudo pois eles eram importantes, eram to
da a base estratégica e em sua união encontravam força para atacar ou resistir,
e até mesmo para promover um dos seus à uma posição na cúpula do poder máximo. D
e peito aberto e braços vivos, seguiam.
Logo em seguida, tiveram o respaldo da fé, e os representantes divinos saíram ap
ressados e aproveitando todas as fraquezas em todos os flancos. Obliquamente pod
erosos, se é que se pode dizer isso, fortaleceram o movimento como um todo crian
do um segundo pilar de sustentação para o ataque.
Contudo, um apoio mais físico viria dos verdadeiros obeliscos que outros setores
construíam. Fortalezas institucionais que pareciam galgar os montes e aniquilar
quem se opusesse, só com sua imponência.
Mas foi necessária a presença da própria líder, quase que uma efígie do poder, p
ara que a derradeira movimentação de afronta se sucedesse. A polícia montada não
passava de um mero enfeite quando perto da potência que ela representava.
Seguiu assim, primorosa, em sua elegante trilha assassina de diplomacia visceral
, explorou as feridas que o contexto todo havia gerado, partindo, arrebatadora,
rumo à vitória final. Foi assim que, de frente para o destino e para a morada fi
nal do inimigo, também tendo por trás os restos dos esforços de trabalhadores, p
regadores da fé, sua guarda montada de honra e os destroços das grandes institui
ções verticalmente poderosas, fez soar um estrondoso grito de renovação, colocan
do todo o regime em um derradeiro xeque.
O então governante apenas ri e tomba, junto com toda sua ideologia de estrategis
ta superado. Ergue-se a coroa e o mundo ganha novas cores e as enciclopédias gan
ham novas páginas. O novo rei mantém-se em sua poderosa fragilidade solitária de
líder grupal. Logo os atores do ensejo se redistribuem, do outro lado, dando in
ício ao novo embate.
E que ganhe o que tiver mais controle sobre o futuro.
Bizarramente, eu escrevi isso depois de uma partida de xadrez. Procurei descreve
r um pouco cada tipo de peça nos diferentes parágrafos, e ao mesmo tempo que não
ficasse tão óbvio que eu estou falando de xadrez. Espero que não tenha ficado m
uito massante.
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Estava meio no desespero de escrever e inventei um plot básico aqui. Lembrando q
ue isso não é um conto nem um capítulo, só um rascunho. Gostaria que vocês avali
assem esse resto de algum futuro livro.
Eu estou sendo perseguido.
Não sei por quem nem por quê.
Tem alguém me vigiando em todo lugar que eu vou.
É incrível.
Quando vou ao banheiro, fecho tudo que é porta, janela, cortina. Fecho tudo.
Incrível.
Não posso dar um mínimo de brecha que for. Eu sei lá se esse cara é algum psicop
ata ou é só um adolescente voyeur. Pode ser um sequestrador, quem sabe. Talvez e
le me sequestre e peça resgate em troca de dinheiro, só que aí ele descobriria q
ue eu vivo sozinho e sou um pobre pé rapado e provavelmente me esquartejaria e d
aria os meus restos mortais a alguma entidade filantrópica, só como uma brincade
irinha. Uma entidade filantrópica recebendo a pobreza de volta. Parcelada.
O que me irrita é a possibilidade de ser qualquer um ao meu redor. E esse perseg
uidor pode contratar outras pessoas e essas outras pessoas avisam outras que avi
sam outras e a merda toda vira um reality show.
Um reality show onde não há vencedores. Onde os participantes se juntam contra u
m só. Todos unidos por um bem maior. Todos mártires em prol do sofrimento alheio
. Nada mais do que um grupo de sádicos. É como diz aquele ditado, pimenta nos ol
hos dos outros é refresco. Só que nesse caso, eu não descobri ainda se é uma pim
enta ou um pimentão.
Já se passaram três horas e eu estou aqui no mesmo lugar. Sentado na minha poltr
ona de couro, abraçando o suor das minhas costas. Há um relógio de parede na min
ha frente, em cima da cômoda onde guardo meus remédios. O relógio já é velho dem
ais, acho que eu ganhei de presente da minha mãe. Aqueles negócios que passam de
geração em geração. Da vó, para mãe, para o neto. E o mais incrível é que ele a
inda funciona.
Não tenho tempo pra pensar nisso.
Tic-Tac.
Eu realmente não sei o que o ele ganha me vigiando. Eu sou um cara normal. Não f
aço nada de extravagante, não tenho boas histórias pra contar, não sei receita d
e bolo, não sei com quantos paus se faz uma canoa.
Tic-Tac.
A televisão está desligada, a tela preta. E eu juro que consigo ver os olhos des
se desgraçado através dela.
O vigilante. O perseguidor. O Grande Irmão.
Terminei de escrever o resto do epílogo. Aqui está.
Tudo isso começou há três dias.
Por causa de um maldito ladrãozinho.
Três da manhã, eu estou vendo televisão. Compre este belíssimo anel de diamante
por mil reais. Não. Não, obrigado. Parcelamos quinze vezes no cartão. Junto diss
o, o estrondo nos fundos.
Eu tenho quase certeza que o despertador do inferno está programado pra tocar às
três da manhã.
Ligue para nós até os próximos quinze minutos e você ganha um desconto.
Bum.
Bum!
Você está sozinho numa casa no centro da cidade, três da manhã, todos os demônio
s acordaram.
Bum!
Estátua. Eu não ouso mexer meu traseiro gordo do sofá.
Meu coração está que nem um hipódromo. Quatrocentos cavalos.
O infeliz arrancou alguma coisa do portão.
Droga, por que eu não tenho cobertor nessas horas.
Movo minhas mãos suadas pelo sofá, tentando fazer o mínimo barulho possível. Ess
a televisão está muito alta, o desgraçado vai ouvir.
É o maldito cadeado. É o maldito cadeado que ele está roubando.
O controle está no chão. Ele olha fixamente pra mim, gritando como um selvagem N
eandertal: Saia desse sofá e vire homem, seu bosta. . Minha mãe achava que eu era m
enina quando eu nasci.
Rangidos do portão.
Ouço passos largos. Vêm em direção à porta.
É só o que me faltava, maravilhoso. Não, ótimo. De verdade. Eu sou um virgem de
vinte e três anos. Agora, um virgem de vinte e três anos morto.
Ele está abrindo minha porta, caralho. Caralho. Como esse filho da puta consegui
u a merda de uma chave?
Ótimo. Mate-me e aproveite pra comprar essa merda de anel de diamante que não pa
ra de ser anunciado. Maldita programação aberta.
Pare. Pare de se mexer.
Estátua.
Meu coração está batendo tão forte que ele vai ouvir.
Senhor Parkinson, muito obrigado. Estou tremendo que nem um velho doente, assim
como o senhor previu. Que droga.
Ele abriu a porta. A maldita porta que abre com qualquer chave.
Todas as luzes estão apagadas. Só a tevê ligada. Muito indiscreto. É o mapa do t
esouro.
Por que quando eu quero dormir eu fico acordado?
Está chegando. O meu príncipe encantado vem me buscar no meu trono em seu cavalo
branco.
Animal Channel. O veado que se finge de morto pra escapar do predador. Irônico.
Deito-me no sofá, fecho os olhos.
A porta fica vinte metros da sala de televisão.
Deixo meu braço cair, assim fica parecendo que eu estou dormindo. Será que parec
e mesmo? Estou respirando que nem um afobado. Ele vai ouvir. E se eu respirar de
um jeito robótico, ele também vai perceber. Tente ser normal. Seja normal.
Como eu queria um daqueles espelhinhos de cabelereiro de ver a nuca agora. Esper
o ter dormido do jeito certo nesses vinte e três anos.
O sujeito dá uma pisada no azulejo e para.
Silêncio.
O belo adormecido.
Estou com uma vontade desgraçada de espirrar. Não, agora não. Mordo a minha líng
ua. Só consigo segurar o espirro mordendo a língua. Mordo a desgraçada tão forte
que espero que sangre e eu desmaie pra eu acordar e isso ter acabado logo.
Que merda. O cara sussurra.
Ele avança e tranca a porta. O quê?
Vai me manter em cativeiro. Dentro da minha própria casa.
A porta está abafando os ruídos. Legal. Vamos ficar aqui esperando. Esperar o qu
ê?
Eu sou pobre. Só tenho essa televisão, um micro-ondas, um forno, uma mesa, dois
pratos, dois garfos e duas facas. E minhas roupas, que estão mais pra fantasia d
e mendigo.
Tudo bem, veja pelo lado bom. Você não está morto. Sua vida é tão miserável que
ele não quer lhe fazer o favor de tirá-la. Obrigado, eu diria. Vou levar isso co
mo um elogio.
Continue como está. Quanto tempo for preciso. Não ouse se mexer.
O programa já acabou.
Listras coloridas. Som agudo. Sem programação.
Vejo de relance e já são cinco da manhã. Duas horas parado.
De olhos bem fechados.
O coração se acalma.
Já deve ter passado algum tempo, por favor... Cinco e meia. Tá bom. Vou tomar co
ragem e abrir a porta. O cara não vai acampar por aqui também. Seja homem ao men
os uma vez na vida.
Levanto-me, desajeitado e dolorido.
Ainda no total silêncio, vou até a porta e giro a maçaneta.
Direita, nada.
Esquerda, nada.
Acho que ele já foi. Vou até à porta da casa pra ver se ainda tem alguém lá fora
. O dia ainda está amanhecendo. Tem um papel sulfite no chão, dobrado. Era o que
me faltava, o ladrão deixado bilhete pra mim. Tá bom. Pego o bilhete do chão ai
nda sujo das marcas de pé do ladrão.
Compre um cadeado e uma fechadura.
Perfeito. Muito obrigado.
É. Foi assim que aconteceu.
Estou grudado na minha poltrona, de tanto suor.
O pior é que ainda não havia terminado ali. Se fosse só aquilo, tudo bem, eu ach
o. Ele veio me roubar e ficou com dó, pegou apenas um cadeado e ainda deixou um
bilhete lembrando-me de comprar um cadeado e uma fechadura. Porém, na vida real,
se pode ser pior, será.
Três dias depois, ou seja, hoje, ele apareceu novamente. Eu nunca vi a cara dess
e ladrão e nem ouvi a voz, não sei a idade dele. Quando eu estava voltando do tr
abalho, terminando de empacotar aquelas sacolinhas, ele se manifesta. No meio du
m amontoado, a sacola que havia pegado para o cliente continha um papel sulfite,
dobrado, do jeitinho que ele faz. Uma dobra pra direita, pra cima e outra pra e
squerda.
Você ainda não fez o que eu te pedi?
Não. Desculpe-me, cara. Não deu tempo. Muito obrigado pela sua atenção. Agora eu
vou ficar me vigiando o tempo todo pra ver se não aparece outro papel sulfite n
o meu bolso quando eu for tirar dinheiro pra ir ao cinema e o bilhete dizer: Esse
filme não. .
Pode deixar.
Eu tô tentando escrever, só que eu perdi as ideias e fiquei inventando algumas m
erdas.
Aqui vai o que eu escrevi.
O alarme toca. Programei-o pra tocar uma música diferente a cada dia. Que música
horrível.
Quem canta isso não tem mãe? Ninguém pra avisá-lo: Filho, sua voz é horrível. Mam
ãe não gosta de falar isso, mas é para o seu bem. . A hipocrisia das pessoas faz c
om que o mundo encha cada vez mais de lixo. Conteúdos horríveis incentivados por
família e amigos.
Isso está presente desde nossa infância: na primeira série, a titia, geralmente
uma velha que finge gostar das crianças apenas pra ganhar dois salários mínimos
no fim do mês e continuar sua vida inútil e vazia, manda você fazer um desenho d
e papai e mamãe. Você, com uma mente dócil e inocente, rabisca duas linhas retas
e dois círculos. Aí que entra a falsa amiga, a hipócrita, a alimentadora de ilu
sões, a titia: Nossa, que desenho lindo. Que tal colorir? . Começa assim. Depois, a
adolescência. Você, um masturbador crônico cheio de espinhas na cara e uma pele
oleosa, resolve montar uma banda com seus amigos. Sonho de adolescente. Você va
i dormir, pensando num nome épico pra sua banda e como no futuro vocês serão mun
dialmente reconhecidos e um dia perguntarão, Como isso tudo surgiu? , e você, com o
rgulho, irá lembrar-se das noites mal dormidas na sua cama pensando e planejando
o grande futuro: Ah, tudo começou quando eu tive uma ideia genial aos quatorze o
u quinze anos. Doce ilusão. A primeira música é feita, guitarras faltando cordas
despejam alguns acordes mal tocados, uma bateria fora de sincronia e ritmo, um v
ocal desafinado. Até a sua mãe ouvir e dizer: Filho, você canta muito bem! Que or
gulho! . Cheio de esperança e orgulhoso, você resolve tocar com sua banda na escol
a. O caminho já está sendo traçado. No grande dia, você treina durante horas na
frente do espelho. Vestido com sua melhor roupa e com gel no cabelo, você sobe n
o palco. Uma multidão te encara, mas pra você isso não é nada. Não há do que se
preocupar. Sua mãe já lhe deu o testemunho de sua aptidão vocal. Então, você com
eça a cantar. Todos te olham com uma cara estranha e começam a cochichar. Logo,
algum engraçadinho, geralmente o espertalhão da turma, grita: Que lixo, você cant
a mal pra cacete! Você não tem mãe pra te avisar não?! . E como um iceberg partind
o ao meio, como um Titanic afundando, um paralelepípedo quebrando o para-brisa,
um avião atingindo as torres gêmeas, você desmorona. Seu sonho acaba. E desde aq
uele dia, nunca mais pedi conselhos à minha mãe. Nunca mais pedi conselhos a nin
guém.
Desligo o alarme.
O sol entra pela janela.
Perdido num emaranhado de lençóis e cobertores, sufocado com a cara amassada no
travesseiro.
Levanto-me. Sempre que estou atrasado para o emprego, eu desafio a mim mesmo: Duv
ido que você se arrume em menos de trinta segundos. .
Vai!!
Tiro a camisa com uma mão, com a outra abro o armário e pego uma calça, uma cami
seta e um par de meias. Cueca velha é só virar mesmo, sem problemas. Segurando o
par de meias entre os dentes, tiro minha bermuda e po-
Merda.
Merda, caí. Tropecei.
Caí de cara no azulejo. Isso dói. E pra caralho. Quando você cai de rosto virado
para o chão, você trinca os dentes. É como se você tivesse dado uma mordida num
pão velho de dois meses atrás. O seu dente começa a latejar, você sente como se
ele fosse cair a qualquer instante. Junto disso, você quebra o nariz. Inchaço.
Dor. Você sente seu rosto formigando. Se a queda fez empurrar os ossos para fora
do lugar, o nariz se deforma. Você parece o Quasímodo. Coloco a minha mão no na
riz e a mão volta ensanguentada. Se depois de dez minutos não parar o sangrament
o, procure ajuda. Entendi.
Pelo visto foram só algumas gotas de sangue. Pego um band-aid na minha cômoda de
remédios e coloco, já é o bastante.
Termino de me vestir, agora mais atrasado ainda.
Vou ao emprego assim mesmo, com atraso e um nariz quebrado.
Agora vem a pior parte. Não, trabalhar até que é bom. Empacotar sacolas de super
mercado é divertido. Ir a pé ao trabalho também é. Numa caminhada você oxigena o
cérebro e libera endorfinas, melhorando o bom-humor. O que me inflige é o Grand
e Irmão.
Durante o caminho ao trabalho eu posso topar com ele. Daí nós teríamos uma conve
rsa e eu gentilmente pediria pra que ele parasse de me perseguir. Não.
Saio de casa. Janela fechada, portas trancadas.
O meu bairro é horrível. Morar no centro da cidade é uma das piores coisas que v
ocê pode fazer. Você nunca tem sossego. É raro ficar em silêncio. E quando está
silêncio completo, é porque vai ocorrer um assalto ou homicídio. Verdade.
A cidade não dorme.
De dia, as ruas são o inferno. De noite, o inferno com a luz apagada.
Tudo muda.
Pessoas me encaram. O que aconteceu com o nariz dele? . A curiosidade é algo inato
do ser humano. Era. Hoje em dia as pessoas são egoístas. Não há mais eclipses.
Perto do trabalho, há duas ruas. Uma você dá de frente ao supermercado. A segund
a é um lugar onde nunca atravessei.
Chego ao supermercado. Sinto-me em casa.
Modelos simetricamente produzidos em massa.
As três leis da robótica.
Fomos treinados pra obedecer.
E eu estou ficando cansado disso.
Onde você esteve esse tempo todo? meu supervisor indaga. Ele é uma das pessoas mai
s monótonas que eu já conheci. Aquele monossílabo que gagueja quando questionado
.
Lidar com ele é simples, um cara tímido. Foi treinado com respostas padronizadas
às perguntas padronizadas.
Não seja convencional e você se depara com outra pessoa.
Marcelo, o meu supervisor. Um homem viril com respostas prontas para todas as su
as perguntas. O macho alpha. O meu representante. O meu mestre Jedi.
Por que você quer saber? Já estou aqui. O que importa é o agora, amigão. Não é me
smo?
Marcelo, uma mulherzinha. Um covarde. O pior exemplo que a empresa pode dar de u
m supervisor. Um merda.
Questionando o inquestionável.
Seus olhos negros dirigem-se para o canto superior esquerdo. Isso significa que
ele está procurando algo já gravado, uma memória.
O guia completo de respostas para afrontas à autoridade.
É uma pena que ainda não há.
Ah... tá bom. Vou ali pegar um cafezinho, me dê licença. ele diz.
Ah, Marcelo. O grande chorão. Sempre com sua desculpa do cafezinho.
Acho que isso é tudo que vou escrever até o fim da semana, aproveitem.
O segredo de ser empacotador é ser simpático.
Sorria.
Finja que está tudo bem.
Finja que você não ganha menos que um salário mínimo.
Finja que você tem hora extra.
Finja que você não trabalha oito horas por dia pra nada.
Finja não ser empacotador.
Sorria.
Quando você aprende essas regras, você aprende a viver.
Tudo nessa vida requer falsidade. Amizades, relacionamento, família e ser empaco
tador.
É por isso que digo que aprendi a viver e a odiar minha vida ao mesmo tempo quan
do entrei aqui. Aprendi a viver, pois consigo fingir sorrisos como naquelas prop
agandas de creme dental e risadas falsas como nos talk shows. Odiar a minha vida
, pois... Bem, sou um empacotador.
Clientes chegam.
Demônios que querem sempre estar certos.
A primeira regra pra argumentar com um cliente é não argumente com um cliente.
Não importa quão correto você esteja. Eles ganharão.
Bom dia, me cumprimenta uma senhora com casaco e bobs no cabelo.
Sorria.
Bom dia, eu respondo.
Ninguém liga se está um belo e ensolarado dia lá fora ou se está chovendo canive
tes. Bom dia, do mesmo jeito.
Por favor, tome cuidado com as cervejas, a senhora diz.
O que você disse?
Tome cuidado com as cervejas, ela repete.
A senhora está tentando ensinar o meu trabalho?
Respeite os idosos. Respeite a sabedoria anciã. Clientes e idosos sempre tem a r
azão.
A senhora quer ensinar o padre a rezar missa? Quer me dizer também pra eu deixar
deitados os produtos que possam derramar? Quer me dizer também pra deixar as ca
ixas com as pontas de pé pra não furar a sacola?
Se eu pudesse dizer isso, seria um homem feliz.
Sorria.
Sim, tudo bem. Eu sei, pode deixar que eu cuido das cervejas. Vou reforçar a sac
ola.
O neto dela pega um doce da prateleira e implora, Vovó, me compra, por favor? . A s
enhora olha para o neto e pega o doce de sua mão. Coloca de volta para a pratele
ira, Hoje vovó não pode porque está sem dinheiro, mas amanhã nós voltamos aqui e
compramos, tudo bem? .
Frutas ou produtos sensíveis que possam amassar sempre sozinhos.
Tudo bem, vovó, diz o garotinho.
No mundo ideal isso aconteceria.
Alô, alô, planeta terra.
O garotinho começa a chorar, chorar, chorar. Pula e chora. A senhora se constran
ge, João, por favor. Vovó já disse que não gosta de escândalos!!! , esbraveja, puxa
ndo-o pelo braço, Você quer ficar de castigo? Então pare já com isso. .
Tudo bem, vovó. O garoto limpa as lágrimas e aquieta.
Alô, alô, planeta terra.
E o garoto se acaba aos prantos. João, por favor. , implora a avó, Por favor , implora
a avó, João Menezes Neto, chega, por mim já deu. , afirma a avó e leva-o pelo braç
o enquanto ele tenta fugir da algema humana.
Moço, já volto, ela diz, enquanto vira a cabeça pra trás para me avisar e leva o
garoto pelo braço como um macaco adestrado.
Eu aceno.
Maldito garoto mimado.
Cervejas ou qualquer outro produto de vidro, reforce a embalagem.
Termino de embalar e a senhora volta com seus bobs ainda no cabelo e suas rugas
de sabedoria. Sempre diga rugas de sabedoria, e não rugas de velhice. As pessoas
não gostam de envelhecer.
Ela tira uma nota de cem reais do bolso e diz, Pode ficar com o troco. .
Alô, alô, planeta terra.
Ela tira uma nota de dez reais e diz Isso paga? enquanto procura moedas no fundo d
o bolso.
A compra deu um valor total de quinze reais, senhora, o caixa diz.
Ela enfia a mão no bolso resgatando tudo de mais obscuro que ali ainda permaneci
a e tira algumas moedas.
Aqui vamos nós de novo.
Dez, vinte, trinta, conta a senhora, cinquenta, um e cinquenta, três reais.
A senhora tem dois reais? O caixa pergunta.
Tira um chiclete do bolso, uma bala, uma rifa. Finalmente as moedas.
Cinco, sessenta, um real, dois reais.
Sorte é pra quem tem né? Ela diz rindo. Muito obrigado, o caixa ri, recolhendo o
s trocados e sorrindo.
Sorria.
Ela pega um carrinho, ajudo-a a por as compras e vai embora.
Vai embora e não volta nunca mais, pelo menos enquanto ainda estiver com aquele
diabrete.
Tchau, obrigado e volte sempre, digo a ela.
E então ela se vai.
Vai e esquece a rifa, um chiclete e uma bala.
Muito obrigado.
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Goão. Bom moço, contudo a controvérsia já lhe sai a começar pelo nome. Rapaz de
mentalidade curiosa, não tinha muitos conhecidos ou ainda quem lhe fosse próximo
pois família também já não lhe havia sobrado. Restou-lhe apenas o nome. Esse no
me. O maldito G no lugar de J.
Todos os documentos, todos os processos, todas as inúmeras vezes em que teve que
soletrá-lo. Isso é o seu nome? Esse é o pior trote que já ouvi. O SAC não é para e
ssas coisas , Senhor, isso não é lugar para brincadeiras, diga seu nome verdadeiro .
O maldito nome.
Já estava suficientemente cansado. Poderia haver tentado mudá-lo, mas era a únic
a conexão que lhe restava com alguém, afinal seus pais, ou quem quer que fosse,
haveria designado-lhe esse nome.
Não fez faculdade. Tentou o vestibular duas vezes. Na primeira não passou, na se
gunda passou, mas na sua inscrição constou o nome João . Depois de muitas batalhas
na justiça, não obteve sucesso. Prometeu-se que esfolaria o responsável por sua
inscrição se o encontrasse na rua. Claro, nunca soube quem foi, nem se o viu na
rua ou não, e nem o esfolaria realmente se a oportunidade surgisse. Consolava-se
em pensar que não teria dado resultado seguir adiante. Ninguém leria um artigo
assinado pelo jornalista Goão.
Não deu certo como atendente também. Suporte técnico, Goão na escuta, com quem fa
lo? . Só dava tempo de ouvir o riso e a comunicação sendo cortada. Não incomodou n
as primeiras cinqüenta vezes. Não nas primeiras cem, porém, depois de um tempo,
ele já estava suficientemente cansado.
Houve mulheres. Goão não era completamente repulsivo, no entanto a insegurança i
nerente ao nome trazia seus traumas psicológicos, e estes costumam não ajudar no
s relacionamentos. Pequenas besteiras vão se acumulando, até que um dia, uma mín
ima reação esboçada da forma errada leva a uma resposta desesperada como Eu sabia
! Sabia! É tudo por causa do nome, nunca daria certo! .
Ah, Goão. Se toda essa auto-flagelação mental te tornasse mais puro ao invés de
te matar por dentro aos poucos. Está claro que a pureza, por maior que fosse, ja
mais daria existência a um São-Goão, ou mesmo um Rabi ou Imam de nome semelhante
.
É nesse momento que aquelas vozes da cabeça, inventadas por Hollywood e infundid
as culturalmente até que todos são condicionados a acreditarem que elas existem,
passando portanto a ouvi-las, entram em ação.
Então Goão desceu às ruas, pegou uma vassoura e uma manta e saiu, glorioso, para
afrontar seu destino.
E em sua empreitada, os temerosos se afastaram, mas uns poucos se inspiraram em
sua loucura, e pegaram seus próprios cajados improvisados e o seguiram. Os mendi
gos proféticos estavam em êxtase. Cabalistas, maçons e pajés tremeriam se presen
ciassem tal cena.
A caminhada, a caminhada que já havia sido pensada mil vezes anteriormente, Goão
já sabia todas as curvas e tinha todos os possíveis obstáculos premeditados. Po
ucas centenas de metros e lá estava, o cartório onde sua maldição pessoal fora d
ecretada.
De um pulo, um salto, um grand-jeté quântico, Goão e sua turba adentraram ao apo
sento, entre brados e cantos gloriosos, e enquanto os guardas já se posicionavam
e sacavam bastões para uma primeira intervenção, o portador da vassoura largou
suas vestes e cajado e partiu para o aposento onde sabia que poderia falar com o
responsável pelos registros.
Porta, sala, balcão, soco na mesa, gritos sobre o passado, exposição da história
pessoal, lágrimas, sofrimentos contidos. O desfecho foi óbvio.
Todos foram expulsos, e só não foram presos por piedade dos seguranças.
A turba se desmanchou, foi motivo para manchete no dia seguinte, e Goão retornou
para sua casa, derrotado.
Anos depois, uma carta entrou por debaixo da porta.
Goão,
Eu sei quem você é, e sei dos seus problemas. Você se questionou quem haveria er
rado seu registro em tantos anos tirando documentos e em situações diferentes. E
ramos nós. Sempre fomos nós. Nós somos responsáveis por ter certeza que uma amos
tragem adequada de documentos venham com falhas, para que o mundo não saiba que
as coisas na verdade não funcionam tão mal. Para que as pessoas mantenham seu pr
econceito com o serviço público, e que aquela raiva natural de realizar atividad
es com os órgãos de registro se mantenha viva, pois ela é importante para muitos
, apesar de que não caiba a nós entender isso. Você ficará com raiva, Goão, mas
nós viemos lhe falar, pois é sua vez. É por esse motivo que existem pessoas com
nomes muito incomuns, Goão. Só nós sabemos o suficiente das nuances desse tipo d
e sofrimento e temos a motivação para gostar do trabalho de vingar-nos da socied
ade, causando erros nos registros. Você é um de nós. É sua vez de juntar-se ao m
ovimento .
E, com lagrimas de raiva e satisfação nos olhos, Goão leu as informações finais
da carta, e partiu ufano, em direção a felicidade, vitorioso para vencer.
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- Preste atenção, eu só vou dizer uma vez.
Nunca era só uma vez.
- Yoichi pode ter sido expulso do clã, mas ele ainda é filho do oyabun. Portanto
, mantenha seus punhos dentro dos bolsos. Mantenha seus punhos dentro dos bolsos
!
- Foram duas vezes. eu disse.
- O quê? ele rugiu como um animal.
- Nada, desculpe.
A rotina é simples. Alguém nos deve um envelope cheio de dinheiro. Nós chegamos,
parecemos perigosos, gritamos como loucos quando é necessário e tomamos o que é
nosso. Às vezes as coisas dão errado. Às vezes alguém morre.
- Nós vamos entrar e fazer o que viemos fazer. Sem maiores problemas, ouviu bem?
Sem maiores problemas!
Minha mãe era uma gueisha na região de kansai. Eu fui tomado dela como pagamento
de uma dívida. Devia ter menos de dois anos. O oyabun disse a Kuroi-san que fiz
esse comigo o que bem entendesse. A idéia era punir minha mãe, meu destino era i
rrelevante. Kuroi-san não tinha idéia de como se livrar de um bebê. Por isso eu
estou aqui.
Meu nome é Yamazaki Tatsuya, 18 anos, coletor do Mizuhara-gumi. Eu não escolhi e
ssa vida, mas ela é tudo o que tenho.
Eu sou um yakuza.
- Há quanto tempo não o vê? perguntei a ele.
- Dez anos.
Kuroi-san apoiava o cotovelo na janela aberta do carro, preso em um devaneio enq
uanto olhava o mindinho direito sem a falange. Ele a havia cortado dez anos atrá
s e entregado ao oyabun, enrolada em um lenço ensangüentado.
Nesse caso, um enorme ato de lealdade.
Yoichi havia cometido um grande erro. Grande demais para seu pai encobrir sem pe
rder o respeito da família. Ele teria de escolher entre o clã e a vida de seu fi
lho. Kuroi-san o poupou do sofrimento e, como kyodai de Yoichi, pediu pela vida
de seu pupilo oferecendo-se para pagar o preço que o oyabun não podia.
Assim, Yoichi foi expulso e Kuroi-san mutilado, mas o oyabun manteve vivos seu f
ilho e o respeito do clã.
Dez anos se passaram como o vento e nem todas as feridas cicatrizaram. Yoichi vo
ltou para Tokyo depois de dez anos vivendo como um fantasma em Kyoto. Nossa infl
uência na região de kansai é mínima e por dez anos ninguém ouviu notícias confiá
veis sobre ele. Agora, do nada, ele está de volta. Está de volta e comprando div
ersos estabelecimentos em nossa área. E com os estabelecimentos, vêm as taxas de
proteção cobradas pelo clã. Ele, mais do que ninguém, sabe disso. Mas seria dem
ais esperar que ele pagasse.
E quando eles não pagam, minhas mãos ficam sujas de sangue.
- O que está fazendo? Kuroi-san havia me surpreendido apertando o soco-inglês no
punho. O que você pensa que está fazendo?
- O meu trabalho.
- O que foi que eu disse sobre isso?
- Não se preocupe. eu lhe disse. Eu vou manter meus punhos nos bolsos.
Entramos juntos no prédio do escritório de Yoichi. Passamos pela portaria e subi
mos pelo elevador. Ninguém nos parou. Todos sabiam quem éramos e porque estávamo
s lá. Alguém nos devia um envelope cheio de dinheiro.
Yoichi estava nos esperando. E não estava sozinho.
- Kuroi-san! Yoichi o recebeu de braços abertos. Eu podia imaginar o tamanho da
faca que o desgraçado gostaria de ter nas mãos para cravar nas costas de Kuroi-s
an. Há quanto tempo!
- Yoichi. Kuroi se curvou em uma reverência cheia de respeito.
- Sente-se, por favor!
Yoichi parecia feliz. O desgraçado quase me enganou.
Ele e Kuroi se sentaram em sofás negros em lados opostos de uma mesa de centro.
Eu e os homens que vinham jogando mini-golf atrás de Yoichi ficamos de pé. Eles
sorriam dissimulados enquanto seguravam ameaçadoramente os tacos de golf. Eu não
sorria.
Não fazia parte do meu trabalho.
- Fico feliz de vê-lo bem, Yoichi. Um empresário bem sucedido.
- Parece que sou mesmo. ele disse a Kuroi-san, arreganhando os dentes em um enor
me sorriso.
- Entre outras coisas, pagar os débitos de seus estabelecimentos faz de um homem
um empresário de sucesso. Você adquiriu vários estabelecimentos em nossa área,
mas não recebemos as taxas de proteção.
Yoichi não respondeu. Continuava sorrindo e escolhendo suas palavras.
- Kuroi-san... ele se inclinou à frente. o oyabun é meu pai. Ele certamente pode
passar sem tomar algum dinheiro de seu próprio filho.
Kuroi o observou em silêncio. Ele havia me ensinado a identificar aquele sorriso
de raposa. O sorriso que costuma esconder uma faca nas costas ou um tiro no pei
to. Pelo jeito, eu havia aprendido melhor que Yoichi.
- Em cinco meses você adquiriu quatro estabelecimentos em Shinjuku. E não qualqu
er um, os mais lucrativos para o clã na região. A soma que você nos deve está lo
nge de ser dispensável.
- Kuroi-san... ele se levantou. Temos um problema aqui. Você veio cobrar um dinh
eiro que eu não pretendo pagar. Como vamos resolver essa questão?
Era minha deixa.
Dei um passo à frente. Yoichi desviou os olhos para mim, me analisando. Eu odiav
a aquele cabelo dividido e esticado, aqueles olhos cheios de falso contentamento
. Ele tinha a aparência de um fraco e eu deixei claro o que pensava enquanto nos
olhávamos. Ele havia me ignorado intencionalmente até então, mas agora eu estav
a impondo minha presença. Ele não pôde evitar deixar escapar um riso de escárnio
.
- Quem é o vira-lata?
Um minuto na sala. Eu já queria matar o desgraçado.
Tirei um dos punhos do bolso.
- Tatsu é meu shatei.
Yoichi sorriu novamente.
Os homens de terno espalhafatosos deram a volta no sofá para nos encarar ao lado
de Yoichi. Kuroi também se levantou. Ele já devia imaginar o que estava por vir
. Ele nos conhecia bem o suficiente para isso.
- Diga a meu pai que não vou pagar. Eu não tenho o dinheiro. uma mentira grande
e gorda, e ele a contava sorrindo. Por que não corta outro dedo e acerta as cois
as por mim outra vez?
Foi a gota d água. Meus punhos estavam fora dos bolsos.

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Primeira vez que escrevo algo. Por favor, sejam bonzinhos ao avaliar - principal
mente o português ruim :3.
Era uma pequena cidade (normalmente referida como vila), em um lugar
relativamente isolado, no interior. Era tão pequena que havia apenas uma escola:
Esta com cerca de 50 alunos, para os quais a única professora lecionava com
certa dificuldade os conteúdos referentes a faixas etárias distintas. Mas ainda
assim, era um local bonito, com pessoas felizes.
Das poucas pessoas lá que podería-se dizer que tem uma vida difícil, nenhuma
compara-se a vida de Karina. Ela era uma garota pequena, de apenas 9 ou talvez
10 anos de idade, que havia perdido os pais em um acidente quando era ainda
menor. Seus tios passaram a cuidar dela, mas 2 anos depois, a tia dela foi
brutalmente assassinada por um homem (que diziam ser usuário de drogas) que
bateu em sua cabeça repetidas vezes, com um taco de basebol. Seu tio, então,
mudara-se para uma cidade grande, na capital, e ela ficou aos cuidados de uma
amiga.
Mesmo que já tivesse passado por vários problemas em sua vida, Karina ainda
tinha a alegria inocente de uma criança. Ia à escola, estuda sempre, e brincava
com alguns amigos. Dentre estes amigos, o que ela mais gostava era Rodrigo: Um
garoto 4 anos mais velho que ela, mas que era semelhante a seu irmão que não
estava mais perto dela. Ele era atencioso e estava sempre fazendo brincadeiras
que a divertiam, tornando seus dias mais felizes.
Seu tio, que há muito havia se mudado, acabou tendo problemas na cidade
grande e retornou a sua cidade natal, para sua antiga casa. Ao voltar para lá,
ele teve que voltar a cuidar da garota, já que ela estava, legalmente, sob sua
responsabilidade. No entanto, ele não queria ter que cuidar de uma criança: Ele
tinha 32 anos, e teria que abdicar as visitas periódicas ao bar com os amigos
para dar atenção a uma garota pequena.
Karina não teve escolha, apesar de estar feliz em sua atual casa. Ela
simplesmente foi levada para a casa onde morava antes, para viver com seu tio
novamente. Então ela descobriu que isso não seria agradável: Ela a fazia lavar
a casa inteira, suas roupas, sua moto... Ela era impedida de ir à escola, para
ir ao mercado comprar tantas coisas que era impressionante que uma menina
daquela idade pudesse carregar. As feridas em seu corpo começaram a ficar
evidentes, e a alastrar-se rapidamente - bem como as marcas que ficaram em sua
mente, depois de tantos maus tratos físicos e verbais.
Após faltar duas semanas inteiras, ao voltar para a escola, encontrou seus
amigos, que perceberam que ela estava diferente. Além do corpo enfraquecido e
machucado, ela tinha uma postura diferente, e falava muito pouco. Disse estar
doente, mas nem todos acreditaram nisso.
Neste dia, quando acabou a aula, Rodrigo, que gostava muito dela, foi a sua
casa com ela. Ele buscava entender melhor o que estava acontecendo, quando viu
que o tio dela gritava com ela assim que chegava em casa, de forma extremamente
agressiva. Ele a puxava pelos braços finos para dentro de casa, e era tão
violento que Rodrigo se esforçou muito para não começar uma briga naquele
momento.
Ele não suportava vê-la sofrer daquela forma, e pos-se a pensar em uma
solução urgente para o problema.
Eis que a elabora: Comprou um taco de Basebol, fez um buraco em um canto
escondido, na estrada de terra por onde passava-se para chegar aos arredores da
cidade grande.
No outro dia, ele não foi a escola. Com muita calma, pensou bem nas
consequência de suas atitudes, e resolver seguir em frente. Cerca de 8 horas da
noite, horário esse em que ele sabia que Karina não estaria em casa naquele
dia, ele ligou para a casa dela, de um telefone público: O tio dela,
visivelmente bêbado, atendeu o telefone depois de cerca de 5 minutos. Rodrigo
disse ser policial, e precisava que ele fosse a delegacia para resolver um
problema referente a Karina, sobre o qual não deu detalhes (já que não havia
pensado nos mesmos).
Subindo com desgosto em sua moto com pouca gasolina, o completamente bêbado
homem dirigiu-se a cidade, pela estreita estrada de terra. No meio do caminho,
foi surpreendido por uma pancada em seu rosto, vinda da escuridão da noite. Com
o taco de basebol, Rodrigo, veementemente, atingiu a cabeça do tio de Karina
inúmeras vezes, com força que nem ele acreditava ter. O sangue que jorrava do
corpo já desmaiado, mas ainda vivo, manchou a pequena estrada, que era agora
iluminada únicamente pela lanterna largada no chão, de Rodrigo.
Após bater tantas vezes que o taco já estava amassado, e ter certeza que o
homem estava morto, Rodrigo arrastou o corpo vários metros até o buraco que
havia cavado, onde jogou o corpo e o enterrou, cobrindo o local com plantas da
região.

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Valter acordou com um sangramento moderado no calcanhar, e imaginou que esbarrou
em alguma coisa antes de ir dormir. De fato, o sangue estava coagulado, e não p
assava de um arranhão que culminava num pequeno ponto vermelho. Bem, não valia n
em a pena olhar o relógio, estava na cara que era madrugada, visto que pela jane
la tudo estava iluminado com a perolada luz da lua cheia. Voltemos a dormir entã
o. Foi isso que Valter pensou, ao se virar e fechar os olhos. Contudo, não passa
ram 10 segundos e um tec-tec de chinelos sendo arrastando cresceu pelo corredor, a
porta do seu quarto se abriu, e o tec-tec tornou-se o nítido som de alguém cami
nhando dentro de seu quarto. Em seguida, um choro, baixo e tentando ser contido,
mas sem sucesso. Assustado, Valter se sentou rapidamente e a cama rangeu com o
movimento. O choro (que já estava contando com soluços e tudo) parou no momento
que a cama rangeu, e o barulho de chinelos recomeçou, agora muito mais rápido e
em direção a saída do quarto, batendo a porta do mesmo com força.
Qualquer idiota saberia que algo possivelmente não cristão estava acontecendo, e
Valter estava longe de ser um idiota, sem dúvida alguma. Se em alguma noite de
sua vida ele sentiu sono de verdade, com certeza não foi nessa. Agora totalmente
acordado (mas um tanto aéreo de uma forma estranha e agradável), ele estava dec
idido a tirar essa história a limpo. O que um barulho de passos pode significar
no meio da noite? Assaltantes? Ora, faria mais sentido ser sua mãe indo ao banhe
iro no meio da noite, o que era extremamente comum. Ou seja: basta ir ao quarto
dela e ver se ela está lá dormindo.
No momento em que Valter ligou a luz do próprio quarto para iluminar a corredor
que o levaria até a verdade, outro grito. Não um grito de dor, mas um grito rápi
do e ríspido, de puro susto. Seguido a isso, o som da porta do quarto da mãe sen
do fechado com força. Ah sim, agora algo está errado, com CERTEZA. Razoavelmente
desesperado, o protagonista dessa história voltou correndo para o quarto, trope
çando no grande espelho que estava no corredor que ligava os quartos (e como ele
sentiu vontade de se olhar no espelho, mas tinha coisas mais importantes pra fa
zer agora), desligou a luz do quarto, fechou a porta, pulou a janela, e caminhan
do pelo telhado, foi espiar o quarto da mãe. A janela do quarto dela estava com
o vidro totalmente fechado, então ele não pode entrar, mas a proteção de madeira
estava totalmente arriada, então ele podia enxergar o interior perfeitamente. P
ara ver melhor, ele colou a face na janela e o que viu foi francamente perturbad
or. O lado da cama que pertenceria ao seu pai estava, como sempre, vazio. O lado
onde sua mãe era uma montanha de cobertores, indicando que ela estava embaixo,
mas ela não conseguia ver sua cabeça ou qualquer parte do seu corpo emergindo da
s cobertas. Mas como aquela montanha de cobertores estava tremendo ( e embora el
e não quisesse reparar, mas também estava soluçando baixinho), então era o sinal
definitivo que sua mãe estava a salvo, dormindo em sua cama.
Satisfeito com o que viu, o garoto voltou para a janela de seu quarto, mas em ve
z de entrar, ficou lá sentado no telhado, com a cabeça entre os joelhos, notando
que a área que estava roxa em seu calcanhar agora se espalhava por toda a perna
. Mas amanhã isso estará normal, certo? O que importava no momento era sentir o
vento acariciando os seus cabelos, o frio e incrível toque da noite outonal. Não
será a noite uma prostituta velha que parece jovem depois de milênios, que ensi
na os segredos de um coração negro para todos aqueles que estiverem dispostos a
ouvir, no silêncio do sono dos fracos? Esse tipo de pensamento sempre trouxe um
forte êxtase para a alma de Valter, e não foi diferente nessa noite. Na verdade,
foi tão forte que ele quase começou a dançar como uma besta velha no telhado! N
ão duvido que ele realmente fosse dançar, pois no momento que se levantou para s
entir melhor o vendo nos cabelos, ele tropeçou numa telha mal posta e caiu de co
stas no gramado. E não sentiu nenhuma dor.

E deitado na grama úmida e fria ele ficou, por um longo tempo. Ao fim de aproxim
adamente alguns segundos, ele se levantou, sentindo como se fios prateados ligas
sem o seu corpo a uma força maior, ah sim, alguma coisa em sua mente dizia que e
le tinha esquecido algo muito importante, mas isso não alterava o seu bem estar
absoluto. Valter se sentia bem pra caralho!
Ao experimentar a porta de entrada da própria casa, a fim de voltar para o própr
io quarto (ou para o telhado) descobriu que ela estava trancada, o que era basta
nte óbvio, e isso lhe alegrou muito. Que tipo de idiota vai querer desperdiçar u
ma noite dessas? Talvez ele pudesse encontrar algum de seus amigos estranhos no
parque da cidade, e ficar filosofando sobre qualquer coisa substancialmente inút
il para a vida no século XXI, mas tão importante para a alma que não conhece o t
empo nem o século. E então, sob a luz da lua, ele foi caminhando em direção ao p
arque da cidade, com seu pijama cinza, andando como um monstrinho, sem notar que
a sua pele ficava cada vez mais cinzenta.
Ao chegar ao dito parque, sentou se no banco de pedra onde geralmente se encontr
ava com os amigos, contudo Valter estava sozinho. Absolutamente sozinho aquela n
oite, e talvez desde sempre, e em todos os momentos, no fundo de sua alma, ele s
abia disso. Era ridículo, mas a única que lhe entendia completamente e o suporta
va era a noite, aquela velha prostituta que só trabalha meio turno!
Independente duma sensação de solidão interior, não era nada normal aquele parqu
e tão frequentado por vagabundos estar absolutamente vazio a noite. Além disso,
no trajeto de casa até o parque, Valter não viu absolutamente ninguém, mesmo que
ouvisse o barulho dos carros passando, as vezes tão alto que era como se um car
ro quase o tivesse atropelado, mas as ruas estavam todas desertas. Era tão insan
o que Valter riu até vomitar, constatando que expeliu um líquido negro.
O cemitério daquela cidade mediana ficava de fato, ao lado do parque. E talvez l
á fosse seu lugar a vários dias. E foi para lá que Valter foi, aos tropeços, lem
brando de nunca mais andar com o calcanhar desprotegido num mato cheio de escorp
iões.

Ao ver seu nome escrito numa lapide recente, seu coração teria dado uma forte gu
inada, se ainda estivesse batendo. Aliás, só agora Valter reparou que desde que a
cordou no meio da noite, não estava mais respirando. Contudo nem a podridão na qu
al se encontrava lhe impediu de cair de joelhos ao ver as folhes ainda vivas que
descansavam contra a pedra. Havia flores brancas (presente da mãe, imaginou), e
flores negras e azuis (presente dos amigos, imaginou). Lágrimas de cadáver corr
eram pelo rosto que já apodrecia a uma semana e alí ele ficou, de joelhos, olhan
do para o próprio nome, que sinalizava que a um metro abaixo estava o seu corpo
morto no mundo dos vivos.

Ao chegar em casa, a porta de entrada não se atreveu a não abrir, e Valter subiu
as escadas, fazendo o máximo de silêncio possível, sua mãe já tinha sofrido dem
ais com barulhos noturnos de alguém que permaneceu na Zona Crepuscular por tempo
demais. O momento de se admirar pela última vez chegou, e o espelho em que ele
tropeçara uma hora antes estava ali, no meio do corredor. Ele se parou de frente
ao espelho, se olhou nos olhos, e então compreendeu que está na hora de sair do
azul para entrar no negro.
A decomposição imaginária de sua alma então acelerou e gerou uma espécie de comb
ustão, e Valter finalmente entrou para a eternidade da escuridão, mergulhando no
mundo dos mortos mais vivo do que nunca.
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E lá ia ela, novamente. Como todos os dias, - com exceção dos fins de semana e d
esta quinta, porque ela estava cuidando da vó doente - ela ia pra casa. Rosto fe
liz, feição calma. Olhos claros, cabelos longos e dourados. Corpo discreto, roup
as claras como de costume. A mesma blusa que ela usou semana retrasada, - ela nã
o costuma repitir roupas, nem semanalmente - no mesmo dia em que quase agi. Cabe
lo um pouco bagunçado, o trabalho como garçonete devia estar agitado, e isso se
reflete no horário: 11:30 pm.
Já faz um ano que a venho observando. Desde a primeira vez, no Café do Porto. Le
mbro o diálogo exato... Repeti ele milhares de vezes em minha mente. Eu estava e
stressado, as cobranças no trabalho eram extremas. Enquanto em casa, em momentos
que deveriam ser de lazer, eu passava horas refletindo e "conversando" com outr
as pessoas no computador, numa inútil tentativa de socializar. Um lugar era pior
que o outro. Eu ainda tinha que forçar sorrisos e risadas no meu dia-a-dia, par
a não parecer anti-social e ser excluído de vez, queria pelo menos ter alguma es
perança.
Naquele dia, em especial, eu havia excedido um prazo, e meu chefe havia gritado
e batido na minha mesa. Eu odeio ser advertido. Odeio.
E então, eu sentei naquela mesa, com possivelmente um dos maiores estresses da m
inha vida... Aguardei cerca de 5 minutos. Olhando para a mesa, mãos no rosto, pr
essionando-o. Milhares de coisas passavam pela minha cabeça, e a sensação de que
eu sou um inútil, e todos os minutos extras que eu passei dormindo poderiam ter
feito a diferença.
E então ela veio. Como um anjo, a luz do sol atrás do seu cabelo, criava uma aur
a dourada. Os olhos verdes e o sorriso extremamente branco, além dos lábios rosa
dos de batom, soltaram no ar as palavras que eu nunca vou esquecer, que flutuara
m lentamente até meus ouvidos:
-Bom dia!
Bom dia. Bom dia pra quem, e por quê? O meu dia não estava sendo bom. Ela está a
firmando, ou está me desejando um bom dia? Ou é mera educação?
-O que tu vai querer?
Tu. Além da conjugação errada do verbo "ir", porém não me espanto, afinal isso é
comum aqui em Porto Alegre. Até prefiro que me chamem de "tu" e que não conjugu
em o verbo subseqüente corretamente, pois detesto formalidades.
Fiquei 3 segundos olhando estático nos olhos dela. Mergulhei naquele fluxo esmer
áldico, que que me remetia à redenção nos domingos. Um lugar calmo, verde, com u
ma brisa refrescante...
Ela então corou as bochechas, provavelmente devido à minha fixação, e então perg
untou:
-Um café..? Alguma coisa? - Disse ela, sorrindo, tentando chamar minha atenção e
desfarçar algo, a fim de tirar meus olhos dos dela.
-Ah... Perdão. - Eu disse, sorrindo também. - Eu aceito um café. Forte, pouco aç
ucar.
Ela simplesmente sorriu e foi de volta para trás do balcão. Falou para a "cafete
ira" fazer meu café, e foi atender outras mesas.
Eu fiquei repetindo aquela cena na minha mente, várias vezes. Como em uma sala d
e espelhos, para todo o lugar que eu olhava, eu via ela vindo na minha direção e
sorrindo. E como, mais uma vez, eu fui idiota, e assustei a mais bela criatura
que já pisou na terra. Mas, como ela esperava que eu tirasse os olhos dela? Foi
um magnetismo, algo inexplicável.
O dia, o mês, o ano, girou em torno dela. E à 30 minutos de uma volta completa d
a terra em torno de seu eixo, eu estou aqui, observando-a secretamente, novament
e. Repetindo minha rotina.
Mas hoje, eu preciso tomar uma iniciativa. Eu venho planejando, ensaiando isso,
há quase 1 ano. De hoje não passa.
A coragem me falta, mas a vontade é maior me cega. O dia está perfeito: ruas vaz
ias, escuras. Como planejado. As lojas ja fecharam e ninguém mais está vagando.
Eu me aproximo sorrateiramente pelos cantos. Ela olhou para trás umas duas vezes
, e acelerou levemente o passo. Desconfiando, certamente, porém não querendo dem
onstrar isso, para o vento ou para mim, ou para quem ela imagina que a esteja pe
rseguindo. A distância já é menor de cinco metros, e eu estou pronto.
Apresso o passo e chego por trás dela. Toco o pescoço, desço para a espinha... E
la vira o rosto assustada. Eu já posso ouvir o grito, mas me antecipo:
-Por favor, não grita.
É inútil.
Ela já está gritando. Não posso fazer nada, meu reflexo é mover minha mão em dir
eção à boca dela o mais rápido possível, a fim de calar o grito que estragaria t
udo o que eu planejei. E assim o faço.
Ela está chorando. Isso parte meu coração. Não precisava ser assim, mas eu não t
eria chance com alguém como ela. Eu, um rato, que vive em um porão sujo e bagunç
ado, e ela, um verdadeiro anjo, cujas riquezas vão muito além de prata, ouro e p
ertences.
Eu arrasto ela para o beco que eu já havia planejado. Um beco escuro, pequeno, e
scondido. Não é usado por ninguém - o motivo eu não sei. É claramente um beco qu
e poderia ser usado para tráfico ou sexo - e a mordaço. Acaricio seu rosto, seco
suas lágrimas, sorrio... A expressão dela permanece assustada, porém ela já des
istiu de gritar. Agora, só há lugar para os gemidos de medo, e de leve dor. Tiro
a mordaça, espero cerca de um segundo e meio: ela não gritou. Eu a beijo... e e
ntão, eu não sou mais eu. Algum tipo de entidade ou personalidade toma conta do
meu corpo, aquela sensação é inexplicável. Ouso dizer que é uma sensação única:
ninguém, nem mesmo na minha situação, sentiria isso. Esse sentimento tem uma dig
ital própria. É algo que só acontece uma vez, em um lugar.
Eu levanto a blusa dela, está um pouco frio. Tento não encostar na barriga ou no
tronco dela com minhas mãos geladas, pois essa sensação é horrível. Vou apenas
direto para os seios. Abaixo o sutiã, e sinto aqueles seios macios, quentes. Não
são volumosos, mas certamente, formosos.
Tenho pressa. Levanto a sua saia, rasgo sua meia calça - porém, sem nunca machuc
á-la. Eu não me perdoaria se ela chegasse em casa com sequer um corte, ou uma le
são. Puxo sua calcinha, meu zíper já estava aberto. Ela não se debate muito, ach
o que pelo mesmo motivo de não gritar: medo de que eu tenha algum tipo de arma,
e possa ferí-la.
Apenas penetro-a. A sensação é semelhante à que eu já conhecia, porém muito melh
or. Mais quente, mais difícil, mais recompensador.
E o ritual procede, até o fim infame. Um orgasmo - só um - e um gemido notório.

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Atendendo à pedidos...
Peço também, aos lurkers (caso haja algum), que dêem mais feedback. Gostaria de
saber o que acharam do meu texto, de preferência sem apontar os erros de portugu
ês mais críticos, pois esses foram em sua maioria erros de digitação.
Also, tive uma idéia. Unindo o útil ao agradável, eu vou inventar uma nova moda
aqui no /shit/: Você decide.
Cada vez que eu terminar um trecho do texto, eu vou terminar de uma forma ambígu
a, mas com uma pergunta (pra não deixar possibilidades infinitas, e fuga do tema
). E vocês irão decidir de que forma eu continuo, respondendo a pergunta. Podem
responder de forma ampla: quando eu tiver um certo número de respostas, eu vou v
er que caminho vocês querem que a história tome, e inclusive na personalidade da
s personagens. Espero que funcione, e espero que gostem.
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Eu a deixei lá, deitada, exausta. Não se debateu muito, mas o nervosismo e o med
o, em si, já foram suficientes para exaustar o seu corpo. Minhas pernas estão tr
êmulas... Mal sinto meu passo, enquanto caminho em direção ao ponto de ônibus. M
inha mente, focada no acontecimento.
O que eu fiz? Como eu fui capaz? O que justifica minha atitude? Até então, eram
só pensamentos e planejamentos, mas acabou de se tornar real. Um estupro: algo,
que até então, não passava de uma fantasia. Pela maioria das pessoas, agora, eu
posso ser considerado uma escória, com algum tipo de distúrbio mental.
E, apesar de tudo, foi bom. Foi melhor do que eu esperava. Aquela sensação inexp
licável de poder sobre alguém, uma sensação que eu tive poucas vezes na vida: do
minar. E, de alguma forma, ela parecia estar gostando, apesar de todos os medos.
Eu a violentei de uma forma carinhosa, se isso é possível. Ela deve ter percebi
do. Em algum momento, acredito inclusive, que ela estivesse mexendo os quadris e
estava molhada! Talvez seja alucinação, ou o que eu quero acreditar.
E no exato momento em que chego na parada de ônibus, - depredada, sem banco. Tet
o pixado, pareces pixadas e com propagandas coladas: a maioria de umbanda, ou po
lítica. - percebo que estou sentindo mais uma sensação que tem sua digital própr
ia. A culpa prazeirosa. Eu sei que o que fiz foi errado, sinto isso, mas foi tão
bom. Talvez eu tenha destruído a vida dela durante algum tempo, ou até mesmo pr
a sempre. Eu tento fazer algo para corrigir, ou simplesmente deixo ir? Eu me sin
to, de certa forma, viciado. Como uma criança, quando aprende a andar, e fica co
rrendo pela casa.
Talvez ela esqueça em alguns dias, ou meses. Ou talvez, nunca esqueça. Mas since
ramente, eu não ligo mais, tanto. Agora que eu à possuí, ela já não está mais tã
o idolatrada. Eu a sinto humana, e não angelical. Ela é, realmente, de carne e o
sso, assim como eu. Ela não é mais o amor platônico, ou a paixão inalcansável.
O ônibus da meia-noite - o último - chegou. São cerca de 35 minutos daqui até em
casa, deve ser tempo suficiente pra me acalmar.
Mas o impasse permanece na minha mente:
1- Tento justificar para ela, de alguma forma, a atrocidade que eu cometi? Minha
preocupação com o estado psicológico dela é clara.
2- Deixo ir? Vivo, e deixo viver? Talvez ela esqueça, de alguma forma. Ou, talve
z não. Centenas de milhares de pessoas são estupradas todos os dias no mundo tod
o, se algumas passam por isso, ela também pode.
3- Essa sensação... Eu preciso senti-la novamente. É uma questão de tempo, até q
ue ela tome conta de mim, assim como tomou hoje. Tenho um certo medo. É uma espé
cie de fome, basicamente. É algo ruim, enquanto se sente. Porém, quando saciada,
- principalmente, por uma bela refeição - a sensação é incomparável.
Lembrando que as respostas não são absolutas (Exemplo: A primeira e a segunda, q
ue são mais "humanas", não necessariamente significam que a personagem deixe de
ser um estuprador, tal como a terceira, não significa que ele vai virar um estup
rador em série.)

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Vou tentar postar algo em outro estilo, dessa vez. Tomara que gostem mais:
Titulo: O leitor
Ele já tinha lido de tudo. De tudo mesmo, uns seis autores começando com cada le
tra, uns seis livros por cada autor. Um culto. Um intelectual. Um esclarecido.
Estava apto a saborear o presente. Quanto não tinha em seu acervo mental de linh
as e citações, versos e estrofes, que não pudesse procurar no mundo, para sentir
com sua própria pele? Deixar de olhar para os livros como um teste de Rorschach
, várias manchas pretas num fundo branco, carentes de significado.
Saiu pela terra, e foi sentir as brisas ferozes do além mar, os odores adocicado
s das auroras campestres, as qualidades enigmáticas e quase etéreas do luar em c
idades remotas, em noites frias de outono. Foi trazer para si tudo o que os livr
os lhe prometiam. Recitou versos para donzelas, recitou também para prostitutas
com a indevida vênia, por assim dizer, cantou com os bêbados, chorou com os bêba
dos. Foi injustiçado, injustiçou outros. Brigou com homens e mulheres, reconcili
ou-se com quem pode. Riu, chorou. Ainda havia tanto que os livros lhe prometiam.
Tanto que aqueles grandes nomes haviam colocado no papel, como um mapa apontand
o um tesouro que estava no mundo todo, esperando para ser achado. Procurou com t
anto afinco. Dormiu sob as estrelas, comeu do fruto da terra, matou uma pessoa,
salvou outra, espancou um mendigo só para ver o que aconteceria, espancou uma mu
lher também, já que podia. Drogas, chás, vinhos, temperos. Procurou tudo com afi
nco.
Mas o vento era só vento e lhe dava frio, e não era muito mais que isso. Nem os
cortes, nem os sabores, nem os dissabores. E finalmente compreendeu que tudo não
passava de prazeres momentâneos, e que em sua miserável existência era necessár
io que se enaltecesse ao máximo os pequenos pontos positivos com eloqüência. Sen
tia-se bem, sentia-se mal. Não descobriu o cheiro de outono, nem odores adocicad
os, nem o revigorante toque da luz do sol. Era tudo ar respirado e espirado. Era
tudo calor, ou frio. Eram todas mentiras.
E todas as princesas, e todas as putas, eram só parte do mesmo ensejo. Calores e
frios, doçuras e amarguras. Qualquer coisa que depois pudesse encher de adjetiv
os para se sentir mais real e menos insignificante. Pimenta era ardente, sal era
salgado, ouro era brilhante, terra era... terra.
Sua capacidade de agir com a realidade limitou-se, e não seria problemático segu
ir lendo mentiras para poder se sentir bem com uma sensação estranha de filosofa
r sobre o porquê das coisas, mas se havia cansado, pois o condicionamento de aum
entar suas sensações para escapar da mesmice acabou por colapsar sobre ele como
o templo que engoliu Sansão.
Mas havia quem o salvasse, invocou as balas do realismo e a pistola do existenci
alismo. Goethe carregou os tambores, outro qualquer ajeitou-os, naquela roleta r
ussa de fim pré determinado, e toda a filosofia e sentimentos lhe passaram em um
estrépito, enquanto deu-se um último golpe, um baque arrebatador, um final que
o fez compreender tudo.
Não, nem isso. Até a morte era apenas morte.

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Leiam isso e digam o que acham desse tipo de texto. Resistam ao forte impulso de
dizer que isso não tem lógica nenhuma e por isso é uma merda. As vezes gosto de
escrever textos nesse estilo pela sensação que tenho ao ler tantas aliterações
seguidas. As vezes gosto de escrever pra ir enfiando metaforicamente problemas d
a minha vida pra fora do meu corpo. Esse texto foi um resultado dos dois, depois
de ler Haroldo de Campos por um tempo:
Chaveiros e molhos de chave e já se adentra as aliterações terríveis dos transto
rnos intransigentes de trabucos tardios em terras tortas. Tente-te ao tentar tra
nscrever tétricas teorias tolas que tratam de determinar o tempo de terminar. Tr
ansfiguradas tertúlias trôpegas em tremenda trama atrofiada, fiando em topos e t
opando em fios, enfiando enfezadas enfáticos enfeites, em fase, desfazendo-se em
esfuziantes zéfiros. Fosse fácil forçar o fóssil nas feias faces facínoras, far
ia-o. Fê-lo falo e falo que fala fascinantes falácias fasciculadas, folheando o
filo filial da feliz falante. Em um estrépito quasi pétreo patroneou-se por três
trizes, mais que por um. Por um poro esporeou possante, possuído ao pêlo pelo p
elotiqueiro, parametrizado em periculosas películas preclusas pertencentes a rec
lusas repetentes reportadas em retumbantes rótulos radicais de raiados ronronare
s régios.
Ainda assim ele poderia ser romântico. Pintando a porradas o silvo do pintassilg
o numa silvicultura tântrica intrincada em tanta trepadeira tipicamente tropical
. Trespassando a três passos da valsa selvagem, ressalvada a relva, respeitada a
pauta, respaldada a puta. A raiva é intensa, mas não menos que a vergonha ou qu
e a fobia da vergonha ou que a alforria da cegonha ou que a grande orgia triston
ha que lhe deu motivo para voar. Não se olha para baixo ou para trás ou para o i
ntermitente tépido tornassol tacanho de um estúpido estigma espúrio.
Finda enfim afim de dar fim assim a uma tentativa falha de ser feliz.

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Queria saber a opinião dos anões desse shit sobre este pequeno conto meu.
O projeto inicial era entregar a um amigo, que coleciona contos sobre banheiros,
e pretende fazer uma espécie de HQ misturando todos eles.
Mas sei lá, fiquei com vergonha. Agi corretamente anões, Em não entregar o conto
?
Estou na minha, cama. Acabei de, acordar. Levanto-me, vou até o banheiro da minh
a kitnet, palavra estranha, kitnet. Olho-me no espelho, a maquiagem branca. O go
sto de cigarro na garganta cheia de catarro e pus, o catarro e o pus escorrem at
é meu peito.
Não, não é metáfora. Embora os sentimentos, que não enchem meu peito - aprendi n
a aula de biologia que os sentimentos ficam na cabeça- mais se pareçam com catar
ro e pus que qualquer outra coisa, meu peito esta, na real, cheio de catarro e p
us e dos azulejos brancos do banheiro, do espelho, que só reflete branco, de uma
toalha amarela, e de meu rosto.
A maquiagem branca, e a rolha, a rolha de plástico branco em cima da pia, de por
celana branca. Branca e burguesa, minha cara no espelho, branca e burguesa. a ro
lha no ralo, a pia aberta, a pia enche, começa a transbordar, respiro fundo, tom
o coragem e,
Bato meu rosto com força na pia cheia d'água, a água voa, embora eu não veja, no
chão. A maquiagem sai do meu rosto, e flutua na água, esfrego meu nariz de bran
ca e burguesa com força na porcelana, aprendi na escola, com Newton, que dois co
rpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Mas minha cara e a pia não
são dois corpos, são um só, branco e burguês. o sangue sobe junto com a água que
vai caindo da pia, o que não me importa, não o vejo, em minha mente, só o branc
o.
Meu corpo continua lá, no banheiro, a cara afundada na pia. Mas eu não estou lá,
estou voando. Voando dentro de um apartamento acarpetado, apinhado de quadros n
a parede, são cenas do campo, dos homens do campo, das estradas do campo. Não go
sto dos quadros. Junto dos quadros ruins, sentada num sofá de couro bege, uma se
nhora recebe visitas e serve café, com sua melhor louça para visitas, estampada
na cara, em forma de sorriso.
Saio da sala, o corredor, mais quadros. Quadros modernistas, cenas do campo, em
cores vivas. a porta do banheiro, esta aberta, o chão é de azulejos marrons, a p
ia é branca, os armários, pregados na parede também. Embaixo dos armários, meu d
eus, eles tem quadros até no banheiro!
o celular toca, no meu bolso, no meu corpo, e eu volto. Não importa o que uma pe
ssoa esta fazendo, ela tem de atender o celular. A voz daquele nojento, chefe no
jento. Resmunga meio que gritando, e eu tenho que bater a meta de produtividade
em dois dias, entregar o projeto do banheiro daquela loja. Saio da pia, vou até
a cozinha, começo a preparar o café, só mais dois dias, e posso voar.

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5
Em um breve instante a situação ficou ridiculamente clara.
Elas estavam dançando juntas e eu não era mais do que qualquer outro idiota olha
ndo uma se esfregando na outra a um passo de distância. Diabos. Até Coelho me pu
xava pro meio quando se esfregava em outra mulher. Se tem algo que eu nunca fui
é um idiota qualquer.
Eu sou um idiota de primeira.
Larguei a bolsa dela no chão e andei. Não importava para onde. Só precisava esta
r em outro lugar. Me espremi contra as pessoas subindo as escadas e fui para a p
ista no andar de baixo. As pessoas fumavam no corredor entre as pistas, decidi m
e juntar a elas. Acendi um Lucky Strike e traguei o máximo que meu fôlego suport
ou.
Não podia arrebentar a cara daquela aprendiz de piranha, mas podia arrebentar me
us pulmões.
- Oi, tem fogo?
- Tenho.
Não peguei o isqueiro. Fiquei parado olhando os belos lábios que haviam me feito
a pergunta. Belos lábios vermelhos. Belas tetas.
Quem precisa dizer algo inteligente com peitos como aqueles?
Acendi o cigarro dela com a brasa do meu. Ela tragou e me pagou o favor com um s
orriso sem vergonha.
- Posso te oferecer mais alguma coisa?
- Você não estava acompanhado?
Ela já estava de olho em mim. Adoro quando elas facilitam as coisas.
- Não estou agora.
Ela chegou mais perto. Cheirava bem.
- Isso não seria um problema?
- Seria. Só não seria meu.
- Então eu acho que vou me aproveitar mais um pouco da sua boa vontade.
Ela se aproximou mais e encostou seus lábios nos meus. A mulher beijava como uma
devoradora de homens. Tinha vontade. Paixão. Tinha uma força sutil em seus lábi
os macios.
E cheirava bem pra caralho.
Ela apertou seu corpo contra o meu e eu escorreguei minha mão por suas costas. E
la levantou uma de suas pernas e eu a apertei com vontade. Tinha coxas grossas e
firmes. Um belo par de pernas.
- Entra comigo no banheiro. ela me pediu.
A ficha levou uns segundos pra cair. Mas caiu.
E eu estava puto demais pra dizer não.
Rápido e tão discreto quanto se pode ser ao lado de uma mulher como aquelas em u
m lugar tão cheio, entrei no banheiro. Puxei a mulher para dentro e fechei a por
ta. Ela não perdeu tempo e abriu os botões da minha calça. Colocou a mão dentro
da minha cueca, me apertou com vontade e sorriu satisfeita. Puxei a alça de sua
blusa para o lado e apertei um de seus seios. Mordi de leve o bico de um dos sei
os. Ela gemeu e me apertou mais uma vez.
- Você tem camisinha?
- Não.
- Não tem problema.
Ela se abaixou como uma leoa e começou a usar os lábios. Chupou com tanta força
que quase perdi o equilíbrio. Ela se apoiava em mim com uma das mãos e se tocava
com a outra. Ela era boa. Sabia exatamente o que fazer.
Ouvi dizer que o beijo diz 70% do que se precisa saber sobre o sexo entre duas p
essoas. Pessoalmente, acho que a chupada diz outros 20%.
O resto são nulos e indecisos.
Não consegui gozar. Uma gorda mal comida de saia rosa batia na porta como uma po
rca faminta atrás de farelos. A adorável estranha me olhou e deu um último chupã
o. Quase um presente de despedida. Uma recordação.
Ela se levantou, eu coloquei para dentro da calça e saímos do banheiro. Muita ge
nte olhou, mas ninguém parecia surpreso. Só a gorda mal comida.
Sexo devia ser algo mitológico em seu mundinho de feiosidade mórbida.
- Vem comigo pra pista?
- Eu adoraria dançar o resto da noite com você...
- Mas...
- Mas minha garota está lá em cima. Eu vim com ela e vou sair com ela.
- Você é um idiota.
- Um idiota de primeira.
Ela sorriu e me deu um último beijo.
- Queria que o meu namorado pensasse assim. Ele veio comigo, mas não sei onde el
e está. Já deve ter ido embora com outra...
Ela se virou e desapareceu rebolando entre as pessoas. Eu me virei e subi as esc
adas. A minha garota ainda se roçava na magricela. Sequer havia notado minha aus
ência. Whatever, dude.
Não sentia mais raiva. Não sentia mais nada. Só a sensação daqueles lábios desli
zando em minha pele. Dane-se ela e a magricela. No que me dizia respeito, Deus e
stava dando asas à cobra.
E a noite ainda não estava na metade.

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1
- Cansei dessa porra. eu lhe disse com o olhar perdido no fundo do copo.
- Eu te pago uma Heinekken. ela me disse.
Eu a ignorei. Ela não tinha idéia de como eu me sentia.
- Cansei de morrer cinco dias pra viver dois. Não vou mais fazer isso.
- É? E o que vai fazer? Vai viver de quê?
- De sexo e livros.
Ela me olhou com seu velho olhar de descaso. Um dia, eu o achei sexy.
- Vai ser gigolô ?
- Cafetão.
- Ha! Tá bom...
Meus olhos ainda estavam afogados no fundo do copo. A cerveja estava quente, mas
isso não fazia a menor diferença. Nada fazia. A música alta, as pessoas estranh
as ao redor, os idiotas olhando a minha mulher. Nada me importava muito naquele
momento.
Eu estava isolado em meu melancólico e confortável autismo.
- Não deve ser difícil. Só preciso de uma puta.
- É, só isso.
Ela encheu nossos copos com o que restava de cerveja na garrafa. Tomamos uns gol
es, em silêncio. Seu olhar as vezes se perdia e eu sabia que estava sendo uma pé
ssima companhia aquela noite, mas eu não podia fazer muito.
Não era com ela que eu queria estar.
- Eu posso convencer uma garota a ser minha puta.
- É? Me convença, então.
- Você já é minha puta, meu anjo. E eu preciso de uma que me dê dinheiro, não qu
e leve o pouco que tenho.
Ela estreitou os olhos e me olhou séria, claramente magoada. Eu era grosseiro. S
empre fui. Já não pedia desculpas pelas merdas que deixava escapar, mesmo quando
queria pedir desculpas. Diabos, haveria sempre uma próxima vez.
- Convença aquela. ela apontou uma qualquer no bar.
- Eu teria que pagar pra que comessem aquilo. Eu preciso de alguém... como ela.
Ela não disse nada, mas não era preciso. A garota havia nascido pra ser puta. Se
já não fosse. Tinha cara de puta, dançava como puta, se esfregava nos homens co
mo puta. Flertava com todo o bar, servindo doses de tequila direto da garrafa na
boca de debilóides que sonhavam acordados até cairem de bêbados com tudo o que
não teriam aquela noite.
Eu costumava ser assim.
Tomado por um inefável e impetuoso sentimento de foda-se eu me levantei e fui at
é ela. Caminhei através das mesas, passei a mão em uma garrafa de cerveja qualqu
er abandonada em uma mesa e ofereci à estranha.
- Você não está bebendo dessa aí, por que não tenta essa?
Ela sorriu, bebeu o resto da cerveja na garrafa e a deixou cair sem se importar.
- Qual é o seu nome? eu perguntei ao pé de seu ouvido.
- Luíza! ela gritou no meu.
Ela não era exatamente bonita, mas tinha estilo. E seios enormes.
- Luíza, eu quero que você seja minha puta.
- Sua o quê? ela gritou de novo em meu ouvido. Senti vontade de quebrar seus den
tes, mas aí eu teria duas mercadorias estragadas ao invés de uma.
- Minha puta!
Ela levou um tempo pra assimilar o que eu havia dito. Quando a ficha caiu, ela g
argalhou como louca. Eu gostava das loucas.
- Essa eu nunca tinha ouvido! ela gritou, dessa vez longe do meu ouvido. Acha qu
e é assim que vai me ganhar?
- Eu não quero te ganhar. Quero te vender!
Raras vezes em minha vida eu falei tão sério. Acho que ela percebeu isso.
- Você é louco!
Ela me deu as costas e voltou a derramar esperança líquida na bocas dos tolos. E
u voltei pra minha mesa e minha garota. Ela me olhava com um meio sorriso nos lá
bios. Já estava acostumado a esse sorriso de se fudeu .
Constantemente eu fazia papel de idiota.
- Muito bom. Como foi que você me convenceu a ficar com você?
- Eu respirei.
- Convencido. ela disse e me beijou. Ses lábios macios estavam sempre húmidos e
sua saliva sempre salgada.
Li em algum lugar que hormônios deixam nossa saliva salgada quando estamos apaix
onados. A minha devia estar um mel.
- Vou pegar outra cerveja. ela me disse.
Ela se levantou e foi até o balcão no fundo do bar. Fiquei olhando seu passo reb
olativo enquanto ela se enfiava no meio das pessoas. Tinha belas pernas. A saia
curta não escondia muita coisa. Aquele andar me hipnotizava.
- É uma pena. disse a mim mesmo.
Ela era ótima, realmente ótima. Mas só até sumir de vista. Quando eu estava sozi
nho, seus defeitos me corroíam a alma. Não levava muito tempo até que eu me enco
ntrasse pensando em outras mulheres. O meu telefone vibrou no bolso da calça.
Mensagem de texto.
Você sabe o que está fazendo, certo?
O diabo tinha um jeito engraçado de brincar com a gente. Você ama loucamente e n
inguém olha pra você. Nem mesmo o seu amor. Você questiona sua lealdade por um i
nstante e elas chovem como confete no carnaval.
Respondi a mensagem. Fui sincero, mas minha sinceridade sempre soou falsa. Tudo
o que eu digo ou escrevo parece ter saído de uma ficção qualquer. Se é novidade,
elas amam. É romântico. Se já te conhecem, é pura cena.
- Acho que a banda não vai tocar hoje. ela disse, colocando a garrafa cheia sobr
e a mesa.
- É...
- Quer ir pra casa?
Ela me sorriu. Era cheia de sorrisos. Aquele queria dizer vamos transar .
- Claro. Vamos acabar a cerveja.
Peguei a garrafa e nos servi. Uma Heinekken.
Ela estava de volta. O copo estava cheio de novo.
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Clive era psicotico. Literalmente.
Em seu delirio, sua ruina residia em um quarto pequeno e escuro. Pequeno a ponto
de nao permitir que se deitasse, escuro de
tal forma que nao visse a propria mao diante de seus olhos. A agonia de se imagi
nar em tal situacao tomava seu sono e o
levara a ruina.
Ele precisava estar preparado.
Decidido a encontrar sua salvacao atraves de um processo maquiavelico, Clive rap
ta seis pessoas e as tranca em tres quartos.
Cada um deles construido à imagem e perfeicao de seu pior pesadelo. Assim ele in
iciou as experiencias.
Durante tres dias observou as seis pessoas em sua dor e desespero. Em seus grito
s de pavor e em suas lagrimas de
incompreensao. Ate o quarto dia.
Quando todos se entregaram, algo aconteceu. Um dos cativos torceu o pescoco de s
eu companheiro ate a vida escorrer de seu
corpo. O corpo sem vida foi empurrado para baixo e, sobre ele, o assassino se se
ntou abracado aos joelhos. Clive havia
criado um monstro.
Desesperado, Clive liberta cada um dos outros cativos, se fazendo passar por um
estranho que havia ouvido os gritos.
Quando chegou a vez do assassino, ele nao soube o que fazer. Horas depois, com a
calma reestabelecida e o suor seco em seu
rosto, ele criou um personagem bem construido, o heroi salvador, e abriu a porta
do pequeno quarto. Com discursos de
messias ele estendeu sua mao para o cativo sobrevivente. "Voce esta seguro agora
", Clive dizia. Mas ele proprio nao estava.
Rapido e fatal, o assassino puxou Clive para dentro do estreito comodo e com gol
pes certeiros em sua face arrancou
violentamente sua vida. Quando terminou, com seus punhos envoltos em sangue, o a
ssassino colocou o corpo inerte de Clive
sobre o de sua primeira vitima. Como se nao houvesse um mundo alem daquele quart
o, ele permaneceu quieto, sentado sobre os
corpos no escuro.

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(Apenas um pedaço)
Finalmente ela era sua, só sua. Havia esperado dez ou onze anos por isso. Era ta
nto tempo que já não sabia exatamente; não importa o quanto durou sua paciência,
apenas que esperou muito tempo. A tinha ali, só com ele. Seus olhos castanhos b
rilhantes, seus lábios rosados visivelmente macios, suas pequenas e tímidas orel
has, seus braços ligeiramente finos, seus dedos delgados... Embora faltassem alg
uns da mão direita devido à porta do porta-malas. Ainda assim, estavam belíssimo
s.
Uma vez deu a ela um buquê de lírios brancos. Ela odiou, tanto quanto detestava
seu nome. Gostava de se bronzear, um marrom claro e brilhoso que nada remetia à
flor. Nunca se pareceu com um lírio de fato, mas agora não havia como negar que
estava como um: pele lívida, sorvendo o formol como seu alimento póstumo, fazend
o sua fotossíntese com a lâmpada fluorescente.
Estava com Liliam ali, numa casa no campo. Havia comprado há algum tempo, mas nã
o tempo o suficiente para que o lugar tivesse alguma personalidade. Havia decidi
do chamar Liliam para passar uma semana ali com ele e alguns amigos, caso quises
se. A resposta foi como sua paixão por ele: Não. Eu odeio o campo. Seca.
Seu casamento com ela durou apenas oito anos. Apenas, para ele, muito, para ela.
Ele a amava, mas não fazia parte de sua vida. Ela estava sempre há milhas tempo
rais de distância dele. Eram muito diferentes e mesmo assim foram cônjuges por 8
anos. Ele nunca sentiu que era sua, sempre a sentia escapar, como se tentasse e
nvolver névoa em seus braços. Quando foi embora, explicou que tentou amá-lo por
considerá-lo uma boa pessoa, relativamente estável, mas que o problema se encont
rava em justamente ser estável demais. Nunca ralhara com ela, gostava de agradá-
la, amava-a. Ela queria apenas alguém para fazê-la sentir miserável na maioria d
as vezes e fingisse suportá-la nas horas vagas. Deixou-o em pedaços. Agora tinha
chego a sua vez.
Estava disposto a partir seu coração em mil fragmentos, mas deixou-o intacto e s
eparado em um vidro só pra ele. Cabeça em outro. Mãos em outros. Pés em outros.
O restante estava em um grande isopor. Ficou com preguiça de cortar em pedaços m
enores. Poderia ser reutilizado, nunca se sabia a que nível chegaria sua loucura
, ou, como ele preferia pensar, sua paixão.

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Olhe novamente para esse ponto. É aqui. Esta é a nossa casa. Ou seja, nós. Todas
aquelas pessoas que você ama, todos que você conhece, todos os quais você nunca
ouviu falar, todo mundo que já existiu, o homem tem vivido sua vida sobre ele.
Todas as nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões confiantes, ideolo
gias e doutrinas econômicas, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada
criador e destruidor de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonad
os, cada mãe e cada pai, cada esperança, criança, cada inventor e explorador, ca
da professor espiritual, cada político corrupto, cada superstar , cada líder sup
remo, cada demônio, cada deus, cada santo e pecador na história da nossa espécie
viveram lá - sobre a partícula de poeira, suspenso em um raio de sol.
Terra - um palco muito pequeno na imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangu
e derramados por todos os generais e imperadores para que, à luz de glória e de
triunfo, brevemente tornarem-se mestres desta areia. Pense nas crueldades infini
tas cometidas pelos habitantes de um canto desse ponto de mal se distingue a par
tir deles, os habitantes da outra esquina. Sobre quantas vezes seus desacordos s
obre como eles estão sedentos para matar uns aos outros, como o seu ódio fervoro
so.
Nossa postura, a nossa importância imagino, a ilusão da nossa posição privilegia
da no universo sucumbir a esse ponto de luz pálida. O nosso planeta - um pontinh
o solitário na grande escuridão do ambiente espacial. Em nossa obscuridade, em t
oda essa infinitude, não há nenhum indício de que a ajuda virá de outro lugar pa
ra nos salvar de nós mesmos.
Alguém disse que a astronomia nos ensina a humildade e constrói o caráter. Prova
velmente, não há melhor prova da loucura da vaidade humana que essa imagem dista
nte de nosso mundo minúsculo.
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Havia terminado. Ela estava morta.
Um ano de luta contra uma doença que progredia alheia a qualquer oração havia se
passado e terminado em uma grande e lamentável derrota. Jovem, bela, sorridente
até mesmo em seus minutos finais, quando todos os seus órgãos começaram a falha
r. Estava morta.
Ele, o sobrevivente, queria ter morrido no lugar dela.
Durante as primeiras semanas sua irmã havia estado com ele todos os momentos. To
dos temiam que ele acabasse com a própria vida desejando estar com ela. O Tempo
passou e as pessoas acharam que ele poderia aprender a lidar com a situação.
A vida continua.
Ele abandonou a casa, mobiliada para um casal, e se mudou para um lugar menor. U
m apartamento para solteiro. Velho, sujo e quase sem mobília. Caixas foram empil
hadas pelos cantos. Caixas com as poucas coisas que pertenciam apenas a ele. Coi
sas de uma vida distante, uma vida de solteiro. A cama não foi montada e a gelad
eira não foi ligada. Havia um colchão no chão e latas quentes de cerveja. Comia
pizza de calabresa com catupiry todas as noites. Era a favorita dela.
O primeiro mês passou como se tivesse sido um ano inteiro. Os dias estavam cada
vez mais longos. As janelas permaneciam fechadas por todo o dia. Ele não se impo
rtava com o que acontecia do lado de fora. Desejava que não houvesse um lado de
fora. Assim, talvez um dia, não houvesse um lado de dentro também.
Uma vez por mês sua irmã trazia comida e dinheiro. Ele fingia estar dormindo a c
ada visita. Ela sabia que não era verdade, sabia que era mais fácil pra ele agir
desse jeito. O peito dela doía sempre que ele fazia isso, mas ela o amava. Agor
a ambos acreditavam que o amor não passava disso, uma dor no peito. Ela respeita
va a escolha do irmão.
Todas as manhãs ele se olhava no espelho. Queria dizer a ele mesmo que a vida co
ntinuava. Queria seguir em frente sem ela.
Mentiras.
Ele queria ficar do jeito que estava até que olhasse no espelho e não se reconhe
cesse mais. Até poder acreditar que aquele não era mais ele. Até poder fazer de
conta que tinha uma outra vida.
Talvez a vida continuasse assim.
Dias se passavam e ele perdia a noção de tempo. Horas, dias, semanas. Palavras q
ue não tinham mais sentido. Era sempre noite dentro do apartamento de três cômod
os. As portas estavam sempre trancadas. Não se levantava do colchão a menos que
precisasse. Não via mais o sol nascendo ou se pondo. Havia apenas a escuridão do
quarto.
A loucura agora o visitava. Ela lhe dizia coisas absurdas e impossíveis. Outras
vezes, ela lhe dizia coisas tão possíveis que lhe davam calafrios. Algumas vezes
ela não dizia nada e tudo o que restava da loucura era uma sensação de não esta
r só.
E isso era o pior.
Sentia olhos observando-o quando se deitava. Encolhido sobre o colchão se cobria
como uma criança com medo do escuro. Nesses momentos ele desejava ter alguém ao
seu lado. Nesses momentos, ele desejava que ela estivesse ao seu lado. E nesses
momentos ele sabia que ninguém mais poderia estar ao seu lado.

Algumas manhãs a luz do sol o acordava. Ele olhava a janela, a mesma que deveria
estar fechada, e via uma fresta aberta. Nessas manhãs, sempre havia um pequeno
origami branco no chão ao seu lado.
Sempre um animal. Um cachorro.
Por pouco tempo ele questionou o que aquilo queria dizer. Achava que sua irmã es
tava enlouquecendo junto com ele. Isso o fazia se sentir culpado.
Ele guardava todos os origamis que amanheciam ao seu lado dentro de uma caixa. A
creditava que eles representavam a esperança da irmã de animar a sua vida. Ele s
abia que aquilo era inútil, mas ele não partiria seu pobre coração.
Os origamis apareciam com freqüência maior. Sempre da mesma cor, sempre do mesmo
papel, sempre com a janela aberta pela manhã. Quando já não havia mais lugar em
uma caixa para todos, ele encontrou um diferente dos anteriores. Era vermelho e
havia um objeto junto com ele.
Uma moeda furada.
Durante horas ele olhou e analisou a moeda. Tentou se lembrar de algo que pudess
e fazer a presença dela ter algum sentido. Por mais que pensasse, parecia ser ap
enas mais uma loucura de uma irmã preocupada. Talvez apenas um presente. Ele fec
hou a janela e deixou a moeda no chão. Voltou a dormir.
Pesadelos. Ele via seu corpo deitado sobre o colchão velho no canto do quarto. N
otava toda a decadência ao seu redor como se fosse a primeira vez.
O fundo do poço.
O silêncio aos poucos se tornou um pequeno zumbido no ouvido. Seu corpo não se m
ovia, não parecia estar vivo. Talvez não estivesse. Queria se aproximar e ter ce
rteza, saber até onde ia o sonho. Ele abaixou lentamente e estendeu a mão em dir
eção ao corpo.
Seu coração batia mais rápido.
Antes que pudesse tocar o corpo, os origamis cortaram o ar e a ponta de seus ded
os. A porta do armário estava aberta. Os origamis voavam em fila para a escuridã
o dentro dela. O vermelho liderava a fila. Ele levou a ponta dos dedos até a boc
a e lambeu o sangue dos pequenos cortes.
O gosto ainda era o mesmo.
Caminhava com passos curtos em direção à porta aberta. Tentava ver os animais de
papel, mas não havia mais nada lá. Apoiado no portal do armário ele olhou seu i
nterior. A porta parecia flutuar no meio da escuridão.
Uma porta no meio do nada.
Alguém estava atrás dele. Podia sentir e ouvir a respiração no silêncio do quart
o. Sentiu calafrios quando lhe ocorreu que a única pessoa naquele quarto além de
le era seu corpo ao chão. Não tinha coragem de se virar. Se o lugar refletia a d
ecadência dentro de seu peito, ele preferia se jogar no nada dentro do armário a
olhar dentro dos seus próprios olhos.
A escuridão já não era tão ameaçadora.
De olhos fechados, tentava controlar sua respiração. Parecia impossível e ele ac
hava aquilo quase estúpido. Ainda de olhos fechados, tomou coragem e se virou. R
espirava fundo quando abriu os olhos. O susto quase o fizera cair dentro do nada
no armário. Apoiava-se no portal enquanto suas pernas tremiam. Não conseguia re
spirar.
Sua mulher o observava.
Vestia um kimono vermelho e sorria, como sempre. Ela parecia saudável e feliz. E
le parecia doente e isso o envergonhava. Não era metade do homem que havia casad
o com ela. Ainda sorrindo, ela abria os braços como quem esperava um longo abraç
o. Chorando de felicidade ele deu um passo à frente.
Ela o empurrou para dentro do armário e ele caiu na escuridão.

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Eu estou sozinho. O ar que eu respiro é a única coisa que me resta. Já são três
horas da madrugada, e eu estou sentado, num banco de praça, olhando ao redor, co
m a esperança de que ninguém me ache. A minha vida tem sido um inferno nos últim
os sete dias. Eu perdi as duas únicas coisas que mais me importavam nesta vida:
a minha casa e a minha namorada. E eu queria saber o por quê. Aliás, no fundo, e
u devo saber, só que ainda há um sentimento dentro de mim, que não quer que a ve
rdade se revele, um sentimento perfeccionista, um orgulho que prefere se manter
intacto à revelar algo que possa ferí-lo.
O vento sopra. A árvore balança. Uma folha cai em minha cabeça. Mas eu não quero
tirá-la dali. Estou poupando todos movimentos desnecessários. Aliás, estou poup
ando todos os movimentos. Eu nunca senti algo tão forte assim... Ser expulso de
casa é horrivel. Uma terrível sensação de rejeição, ódio, raiva, amargura e amor
, tudo ao mesmo tempo. É como se seu coração fosse um liquidificador, você pegas
se tudo isso e batesse. Você se sente tonto, perdido. Não tem noção de onde está
. Não sabe o que vai fazer, não sabe se quer viver, não sabe se quer pular da po
nte mais próxima e se jogar, não sabe se quando for assaltado, gritará para o ba
ndido: Mate-me, por favor! .
E aqui, eu penso...todo este tempo, o qual eu morei com os meus pais, em casa, e
u fui um bom filho. Nunca tiveram do que reclamar. Eu sempre fazia o que me pedi
am, ainda acho que eu era muito bonzinho. Sempre brinquei, sempre fui divertido,
bem-humorado, nunca causei mal algum para ninguém. Sempre permanecia quieto. No
meu canto, deitado num sofá, do lado de uma lareira, que me aquecia em todas as
noites frias e solitárias. A última coisa que eu fiz, antes de ouvir o julgamen
to final de meu pai, Saia daqui , e alguns empurrões em direção à rua, foi deitar d
o lado daquela lareira. Naquela hora, estava pensando sobre minha namorada. Ah,
o meu doce amor... Como eu amava aquela cachorra. Tivemos loucas noites junto, e
ra um amor insaciável, aventureiro... Mas, aquela cachorra me traiu. Eu não sabi
a se aquela porra de amor que eu sentia era recíproco. Eu não sabia se ela realm
ente me amava também ou estava lá só para me trair. Mas agora eu sei. Ela está l
á agora, comendo do bom e do melhor, sentada num aconchegante sofá azul-piscina,
pago em dez prestações, sendo confortada por dois proletariados de classe média
, meus antigos pais. Eu ainda não sei porque os chamo de pais. Nunca cuidaram be
m de mim. Eu não sei o que fiz para merecer isso tudo.
Sabe, pode até parecer clichê, mas é uma das frases que mais me conforta agora:
Tempo é remédio . E espero que assim seja. Eu digo Foda-se , bem alto, ecoando pelas
ruas ( mesmo que ainda ninguém me entenda ), pulo daquele banco e sigo em algum
a direção, a direção que, agora, é o rumo de minha vida... Ela é... o norte. O n
orte. Não sei o que me espera, nem o que vai acontecer. Eu aprendi que a vida é
apenas uma aventura sem propósito, na qual nos fodemos o tempo todo. A felicidad
e é apenas algo momentâneo, por isso, tenho que aprender a conviver com a dor. N
ada mais é importante para mim, além de mim mesmo.
E aqui vou eu, ó grande mundo que me aguarda! Eu vos digo, não é fácil ser um ca
chorro de estimação...
- Anônimo.
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Este texto não é meu. Achei ele no /h/, um anão postou lá, falando que encontrou
na comunidade do Palahniuk ( no 0rkut ), estou postando aqui porque é uma das m
aiores pérolas que eu já vi.
Oi, meu nome é Rebeca.
Sou loira, baixinha e algumas pessoas me chamam de gorda. Isso não importa nesse
momento. Na verdade nada importa. Por exemplo, poucas pessoas gostam de mim. Um
a ou outra que você não vai conhecer. Não por não fazer parte de meu circulo de
amizade, e não porque você não merece conhecê-los. É sério. Não adianta insistir
, você não vai conhecê-los. Esses poucos colegas que frequentam minha casa são d
o tipo de gente que você não vai gostar. Meus vizinhos os chamam de drogados. Nã
o são drogados, apenas não tomam banho todos os dias. O que você ou meus vizinho
s tem a ver com isso? - Não precisa responder, eu leio sua mente. Você está acha
ndo que isso é mais uma de minhas invenções. Não, não. Isso não é fantasia ou co
isa do tipo. Aliás, isso é mais real do que você imagina. Eu não imagino.
Ontem algumas pessoas, essas mesmos que insistem em me chamar de gorda, passaram
pela porta de casa. Duas pessoas. Um garoto e uma garota. Não menos gorda do qu
e eu. E veja só, não consegue correr nem dez minutos. Eu não sou gorda, você ou
ela são.
(...)
Fui pegar um copo com dois dedos de vodka. Dois dedos e cinco pedras de gelo. É
um gelo especial, fi-lo com suco de uva natural. Nunca tomou? - Experimente.
Nesse exato momento meu gato pulou da janela. Se não morreu, quebrou a pata. Não
interessa. Agora só penso no que vou fazer para que você goste menos ainda de m
im. Eu já disse, não me importo com você. Não insista. Não goste de mim e isso é
tudo. Mais que tudo, nada. Todos representam nada. Para mim, nada.
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