Movimentos denunciam falta de controle público, transparência e critérios para outorga e renovação das concessões públicas de radiodifusão. Por Bruno Zornitta
No próximo dia 5 de outubro, diversos movimentos
sociais que lutam pela democratização da mídia promovem um dia nacional de mobilizações para denunciar ilegalidades no sistema de concessões públicas de radiodifusão brasileiro. Nessa data, vencem as concessões das TVs Record, Band, Gazeta, Cultura de São Paulo e de cinco filiais da Rede Globo - São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Belo Horizonte.
Os movimentos alertam para a falta de controle
público, transparência e critérios para outorga e renovação das concessões públicas de radiodifusão. Atualmente, o tempo médio de análise dos pedidos de renovação de concessões por parte do Executivo tem sido de seis anos.
Na prática, o sistema de concessões é uma
verdadeira caixa-preta: o governo não disponibiliza informações sobre as outorgas e ninguém sabe quais são os critérios para renovação das mesmas. “As concessões são o instrumento que materializa o poder das emissoras comerciais, protegendo o monopólio e a falta de compromisso delas com o interesse público. No processo de renovação, prevalece a ausência de participação popular e a inexistência de critério. Todo rigor que eles têm com as comunitárias inexiste para as comerciais", afirma João Brant, do Intervozes, em reportagem do Observatório do Direito à Comunicação.
O "coronelismo midiático" existente no país também
será denunciado na manifestação. Um estudo realizado em 2005 pelo Projor, entidade mantenedora do Observatório da Imprensa, revelou que pelo menos 51 dos 513 membros da Câmara dos Deputados eram concessionários de rádio e TV. A pesquisa mostrou também que muitos desses parlamentares participavam das reuniões que tratam das renovações e homologações dessas concessões na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara (CCTCI).
O exemplo da Venezuela
Os movimentos consideram a conjuntura favorável
para mobilizar a sociedade quanto a esse tema, uma vez que o presidente venezuelano Hugo Chávez deixou de renovar recentemente a concessão da RCTV (uma espécie de Globo da Venezuela), o que colocou o assunto em pauta. Na ocasião, jornais de todo o mundo acusaram Chávez de atentar contra a liberdade de imprensa, mas esqueceram de dizer que a RCTV articulou um golpe de Estado em abril de 2002, como mostra o documentário "A revolução não será televisionada".
O dia nacional pelo controle público das concessões
de rádio e TV conta com o apoio de entidades que lutam pela democratização da mídia, como o Intevozes, a Campanha pela Ética na TV e o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), de organizações de mulheres, do movimento negro e quilombola. Para mais informações, acompanhe as notícias em www.direitoacomunicacao.org.br
editorial do site “Fazendo Media”
Quando quatro corporações (Viacom, Disney, AOL Time-Warner e Rupert Murdoch) concentram 90% da produção de jornais, rádios, televisão, teatro e cinema, fica descaracterizada qualquer possibilidade de democracia nos meios de comunicação.
No Brasil, seis grupos controlam 667 estações de
rádio e televisão. A informação produzida por este oligopólio é manipulada e envenenada de acordo com interesses outros que não os da sociedade.
Os veículos de comunicação da grande mídia limitam-
se a transmitir as informações de maneira a agradar a elite político-econômica que a controla.
Para isso, distorce fatos, fabrica versões,
descontextualiza acontecimentos e omite detalhes. Espalha o conformismo.
Dessa forma, molda percepções e define estilos de
vida. Constrói e sustenta os paradigmas que permitem a manutenção do status quo. Assim, observa-se uma grave distorção de valores. Em lugar da comunicação ética, voltada para o desenvolvimento social, tem-se uma comunicação voltada única e exclusivamente para o lucro, embora muitas vezes dissimulada por campanhas superficiais, que estimulam o mais baixo tipo de caridade - aquela que meramente consola, conforma e humilha, sem nunca questionar a crescente desigualdade social.