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Este documento discute os desafios do tratamento psiquiátrico de adolescentes em uma sociedade que promove padrões inalcançáveis de felicidade e sucesso. O texto argumenta que as crises normais da adolescência são estigmatizadas e medicalizadas em excesso, com o uso indiscriminado de psicofármacos, em vez de abordagens como a psicanálise que valorizam a subjetividade do paciente. A medicalização é promovida pela indústria farmacêutica através da criação de novos diagnósticos.
Descrizione originale:
Artigo sobre medicalização na infância e na adolescência.
Este documento discute os desafios do tratamento psiquiátrico de adolescentes em uma sociedade que promove padrões inalcançáveis de felicidade e sucesso. O texto argumenta que as crises normais da adolescência são estigmatizadas e medicalizadas em excesso, com o uso indiscriminado de psicofármacos, em vez de abordagens como a psicanálise que valorizam a subjetividade do paciente. A medicalização é promovida pela indústria farmacêutica através da criação de novos diagnósticos.
Este documento discute os desafios do tratamento psiquiátrico de adolescentes em uma sociedade que promove padrões inalcançáveis de felicidade e sucesso. O texto argumenta que as crises normais da adolescência são estigmatizadas e medicalizadas em excesso, com o uso indiscriminado de psicofármacos, em vez de abordagens como a psicanálise que valorizam a subjetividade do paciente. A medicalização é promovida pela indústria farmacêutica através da criação de novos diagnósticos.
A clnica psiquitrica para crianas e adolescentes um microcosmo da
sociedade moderna, as demandas e os conceitos idealizados so projetados no personagem do mdico/psiclogo atravs do vetor famlia. Nesse contexto, em que se pretende um equilbrio de foras entre o desejo familiar/social e a atuao profissional, determinados aspectos referentes medicalizao merecem ser pormenorizados.
A propaganda, mais do que apresentar produtos, um disseminador de
conceitos, com freqncia, os veculos de mdia expem ao grande pblico modelos de sade e felicidade. Um exemplo recente o jingle da rede Po de Acar Pra ser feliz/ Pra ser feliz/O que voc faz pra ser feliz?, que nada tem a ver com os produtos ofertados, mas expe um padro e quase uma cobrana do que todos deveriam buscar.
O adolescente aparenta no ter espao nesta sociedade perfeita que
rema de encontro felicidade. Suas angstias, instabilidades, crises de raiva e tristeza e at mesmo seu modo expansivo de demonstrar o seu prazer e gostos contrastam com esse conceito inalcanvel. A falta de percurso pr- determinado para o jovem seguir e ritos de passagem que justifiquem as transformaes corporais vivenciadas so o substrato que conduzem s crises normais da adolescncia1.
Essas crises so ainda estimuladas por esse humano moderno de
desejos fugazes onde todos os caminhos esto abertos, mas no se sabe o que se deve alcanar e objetivos determinados pelo Outro carecem de substrato simblico necessrio para a colocao do desejo.
medida que o adolescente comea a travessia em busca de seu papel
social mais amplo e extra-familiar, questes como iniciao sexual, o uso de substncias lcitas ou ilcitas, exposio ou prtica de atos violentos e o
1 Sagesse, E. Existe uma clnica especfica com os adolescentes?
processo de desligamento da autoridade dos pais comeam a chamar a ateno da famlia para um possvel adoecimento. O servio de sade pode ser acionado, e a comeam as dificuldades clnicas de definir durante essa poca de profundas transformaes, onde tem incio a maioria dos transtornos mentais, a linha tnue que separa o normal do patolgico, o passageiro do definitivo.
Para a definio, que parece complexa e pouco delimitada, existe uma
resposta concreta e calculada, inclusive em miligramas. Essa soluo que movimenta milhes de dlares projeta suas ambies no s na venda da cura como na construo de novas patologias (...) a difuso de tal tipo de medicamento, associada a uma coleo de signos diagnsticos inespecficos e a uma propaganda que satisfaz a demanda de solues rpidas, provoca o inusitado crescimento epidmico da suposta doena. 2 Da mesma forma que diagnsticos podem ser criados para atender ao mercado eles podem ser translocados, como por exemplo, o estreitamento do conceito de psicose infantil e alargamento dos transtornos invasivos do desenvolvimento, como o autismo (Jerusalinsky, 2011).
No uma caracterstica atual o uso de substncias qumicas para
controle psicossocial de fenmenos considerados indesejveis. Em seu livro, Admirvel Mundo Novo, Aldous Huxley descreveu uma sociedade altamente organizada que funcionava de maneira sistemtica e mecanizada onde as pessoas abriam mo de sua individualidade para manter o sistema em harmonia. Para essa sociedade perfeita sem guerras ou conflitos funcionar era necessrio o uso de um medicamento fictcio denominado soma. (...) o delicioso soma, meio grama para um descanso de meio dia, um grama para um fim de semana, dois gramas para uma excurso ao esplndido Oriente, trs para uma sombria eternidade na Lua; de onde, ao retornarem, se encontraro na outra margem do abismo, em segurana na terra firme das distraes e do trabalho cotidiano,(...).3
2 Nesse texto, Jerusalinsky (2011, p. 231) compara o aumento do nmero de diagnsticos de
TDAH aps a difuso publicitria da ritalina.
3 Huxley, A (1932, posio 901. Verso e-book).
Huxley j apontava para uma demanda de suprimir o que nos torna humanos, o papel de nossa subjetividade e caractersticas individuais, suplantado por uma norma em que todos devem ser felizes e produtivos.
Em meio a esse conflito de interesses (da produtividade, da felicidade
e da indstria farmacutica) importante saber criticar a lgica positivista que emana da sociedade para preservar o espao do jovem, deixar que ele expresse a sua subjetividade, que seja visto como um ser humano complexo e no como um produto com defeito.
Nesse aspecto, a proposta psicanaltica que valoriza o sintoma como
construo do sujeito, e no como um transtorno que deve ser eliminado, e que preconiza o diagnstico longitudinal aps a anlise da evoluo clnica do paciente, tem grande valor para auxiliar o adolescente a suportar essas transformaes A transferncia, sendo uma suposio de um saber que o analista deteria, ajuda ao jovem suportar sua travessia ao encontro de suas verdades. 4
Sendo assim, importante restringir o uso de psicofrmacos a casos
que efetivamente demandem seu uso, resistindo s presses familiares e/ou da escola e valorizar a escuta dos sintomas dos pacientes para que no tratamento das alteraes psquicas observadas, os adolescentes sejam acolhidos e no apagados.
4 Sagesse, E. Existe uma clnica especfica com os adolescentes?
Bibliografia
1. Saggese, E Existe uma clnica especfica com os adolescentes?
2. Jerusalinsky, A. Gotinhas e comprimidos para crianas sem histria. Uma psicopatologia ps-moderna para a infncia.In: O livro negro da psicopatologia contempornea. Org. Alfredo Jerusalinsky e Silvia Fendrik. So Paulo: Via Lettera, 2011. 3. Huxley, A. Admirvel Mundo Novo; traduo Lino Vallandro e Vidal Serrano. - So Paulo: Globo, 2003.