Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
INTRODUÇÃO
Pela honrosa eleição dos ilustres membros da Academia Mineira de Letras, toma posse
nesta noite o sucessor do notável literato Olavo Drummond.
Foi com este conceito de debates que diversas instituições literárias surgiram na França,
entre as décadas de 1620 e 1630, consolidando-se, no berço de todas as agremiações literárias, a
Académie de France.
Mesmo antes desta, outras instituições existiram, com objetivos análogos, mas foi
depois da fundação da Académie de France, em 1635, que várias outras surgiram por toda parte.
Entre elas se destaca, sem dúvida, a Academia Mineira de Letras, relacionada nas
melhores enciclopédias como uma das mais importantes deste país.
Para conhecimento de diversos amigos que vieram prestigiar esta cerimônia de posse,
em rápidas pinceladas, o histórico deste sodalício.
2
Feliz dia 25 de dezembro de 1909 no qual outro nascimento se deu na já então famosa
Manchester Mineira.
Em Belém veio ao mundo, na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4) Aquele que é “a luz que
ilumina a todo homem que vem a este mundo” (Jo 1,90).
Em Juiz de Fora, nascia, no alvorecer do século XX, aquela que agremiaria inúmeras
personalidades, as quais seriam também luzes a alumiar as rotas de tantos concidadãos através
das veredas da Literatura.
Ressalte-se, desde logo, o sério comprometimento que se há de ter para não a deslustrar,
inspirando-se no lema que acalenta, através dos tempos, este sodalício: Scribendi Nullus Finis1.
É, pois, com suma reverência que este neo-acadêmico entra nesta Casa, a qual tem sido
honrada por tão ilustres personagens de nossa História.
Esta dilatou sua irradiação cultural com a presença deste renomado escritor, umas das
figuras marcantes da História de Minas e do Brasil no final do século XX e início do século
XXI
OLAVO DRUMMOND
Sobre sua atuação política o Dr. Murilo Badaró deixou um testemunho lapidar em
formoso artigo no jornal Estado de Minas: “O mais fascinante capítulo de sua intensa vida
pública aconteceu no final. Concordou em ver seu nome posto ao exame do eleitorado de Araxá,
para dela ser prefeito. Sua eleição foi um fato natural e, como administrador da bela estância
hidromineral, realizou magnífico trabalho, resultado de sua vasta rede de relações no governo e
no mundo empresarial”.
Olavo Drummond foi também Delegado do Brasil nos Estados Unidos e, ao retornar ao
país, notabilizou-se como Procurador da Fazenda Nacional e Procurador da República junto ao
Supremo Tribunal Federal.
Na mais Alta Corte do Brasil, atuou durante doze anos, tendo emitido perto de dez mil
pareceres.
Na capital federal, fundou o Memorial JK, do qual foi Curador e Vice-Presidente, razão
de haver sido citado na biografia e na mini-série sobre a vida de Juscelino Kubitschek de
Oliveira, do qual foi amigo, confidente e a última pessoa grada que esteve com aquele grande
estadista da República dias antes do trágico acidente na via Dutra, que ceifou a vida do
Fundador de Brasília.
Vulto de escol, por ocasião de seu falecimento, a Imprensa falada e escrita rememorou
seus feitos adamantinos e registrou os mais justos encômios a sua insigne pessoa.
Olavo Drummond foi Chanceler da Universidade São Marcos, de São Paulo, a qual tem
como lema: Conhecimento, Ética e Cidadania.
Foi condecorado com o Colar de Honra, outorgado pelo Tribunal de Contas da União,
honraria concedida, até então, a seis brasileiros exaltados pelo trabalho, pela integridade e pela
dedicação devotada ao País.
Nossas homenagens, neste instante, a sua esposa Márcia Drummond e seus filhos Ana,
Elizabeth, Patrícia, Olavo e Pedro Ricardo e a seus netos Carolina, Felipe, Cassiana, Lourenço,
Maria Eduarda, Miranda e Olavo Neto.
O poeta
No que tange a seus poemas, que se lembrem as palavras de Paulo Bonfim ao prefaciar
Noite do Tempo. Assim se expressou: “Olavo Drummond chegou das Gerais trazendo lirismo
nas veias e uma grande ternura nas lavras do coração. A poesia mora em seu gens. Vem na
heráldica do tempo, de geração em geração, das brumas da Escócia para as névoas de São
Paulo. É poeta naquilo que escreve e naquilo que vive”.
Não menos feliz foi Francisco Luiz de Almeida Salles ao ressaltar “a fluência
espontânea dos seus versos, esse respirar cadenciado, como se a poesia fosse a sua maneira
natural de existir”.
Aliás, Olavo Drummond, certa feita, declarou que amava fazer “a estrofe amena,
deslizante como canta o velho rio”. Foi o que ele nos legou sobretudo em dois preciosos livros:
Noite do Tempo e Ensaio Geral.
Pedro Nava, ao ler, afirmou que “a leitura de seus versos mostra Olavo Drummond
como a criatura em permanente estado de tensão poética – reteso como o arco armado que vai
disparar a flecha – que deflagra segundo a ocasiões que se oferecem pelo aparentemente banal
da vida e que ele compulsoriamente vai interpretar com seu lirismo, suas imagens, seu senso de
transfiguração, seu humour, raramente com sua ponta de ironia e quase nunca com sarcasmos
ou maldade. Ele dá às coisas sua riqueza interior, a transcendência de sua inspiração, a força de
seu colorido”.
O escritor
Jornalista abalizado, foi redator da Rádio Inconfidência e dos jornais Estado de Minas e
Diário da Tarde. Aliás, ainda como estudante, fora apreciado professor de Português da Escola
de Polícia “Raphael Magalhães”, em Belo Horizonte.
5
Jorge Meduar arrolou Olavo Drummond entre os mais famosos escritores mineiros,
assim como Guimaraens Rosa, Afonso Arinos, Ciro dos Anjos, Fernando Sabino, Otto Lara
Rezende, Carlos Drummond de Andrade. Alphonsus de Guimaraens, Murilo Rubião, luzeiros
que enriqueceram o patrimônio literário nacional.
Um estudo acurado da obra estética deste artista da palavra mostra como honrou com
brilhantismo a Língua de Camões.
Em sua trajetória como contista, publicou três livros: Ordens do Cardeal e outras
histórias, O Amor deu uma Festa e, por último, O Vendedor de Estrelas.
Estamos também de acordo com o romancista Gerardo Mello Mourão, o qual afirmou
que os contos de Olavo Drummond lembram “um dos melhores momentos da arte de narrar de
nossos dias; parecem aqueles fascinantes episódios de Truffaut, que sabia compor uma obra
inteira, acaba e perfeita, com o material de um simples sopro, de um quase nada da vida
quotidiana”.2
A importância do conto
É através da publicação de contos que têm surgido ótimos escritores como o foi Olavo
Drummond, que sabia transformar o cotidiano e o trivial em acontecimento intenso e inesperado
como só o grande artista é capaz de revelar.
Por serem sinópticos e interessantes, os livros de contos têm um público cada vez
maior.
É história breve, instantânea, bem de acordo com o contexto atual das vibrantes
comunicações num mundo trepidante.
Por girar apenas em torno de um centro, com apenas um tema dramático e de ação, o
bom contista vai até a culminância de uma situação existencial, deixando uma lição do
desenrolar dos fatos narrados.
Pelo fato de exercitar a imaginação do leitor, este acaba, muitas vezes, se identificando
com os personagens ou as situações descritas.
O conto é uma forma literária que agrada por não conter divagações inúteis, ou
filigranas que obscurecem a mente de quem o lê.
Trata-se de um gênero literário dos mais atraentes, embora o mais sujeito a aventuras
mal sucedidas.
Isto, porém, não se deu com Olavo Drummond, que foi um ficcionista inigualável, um
criador de imagens vivas nunca repetidas, oferecendo momentos de rara emoção.
Carlos Heitor Cony, com rara felicidade, assim se expressou: “Olavo Drummond se
revela tanto na prosa como na poesia, um freqüentador do território mágico onde tudo pode
acontecer. E realmente acontece no assombroso faz-de-conta que constitui a essência mesma da
literatura em sua maior expressão”.
Ele pertenceu a uma cadeira cujo Patrono foi o Conjurado José Inácio de Alvarenga
Peixoto.
Alvarenga Peixoto
Nesta oportunidade cumpre também lembrar o Patrono desta Cadeira que é o Conjurado
Ignácio José de Alvarenga Peixoto (1744-1793).
Este carioca, mas de alma mineira, filho de Simão de Alvarenga Braga e Ângela
Micaela da Cunha, fez os estudos preparatórios no Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro, onde
foi condiscípulo de Basílio da Gama, tendo se formado em Leis pela Universidade de Coimbra.
Bem merece ser Patrono numa Academia de Letras, uma vez que, além disto, conviveu
com outros ilustres literatos, dado que foi amigo fraterno de Tomás Antônio Gonzaga, de quem
era parente, e de Cláudio Manoel da Costa.
Morou em São João del Rei, mas vinha sempre a Vila Rica para manter com estes
conjurados tertúlias literárias e cívicas.
Foi lamentável que grande parte das suas obras tenha se perdido.
7
Honra e glória a Norberto de Sousa que legou a coleção mais completa de suas
composições, inclusive vinte sonetos.
Entre eles se sobressai o enviado a sua esposa Bárbara Heliodora, remetido do cárcere
da Ilha das Cobras, o qual o imortalizou.
É que a arte e a poesia não podem passar uma sem a outra. A atividade criadora do
espírito humano é sempre admirável e o poeta tem este dom da intercomunicação entre o ser
interior das coisas e o ser interior do Eu Humano. Por isto mesmo, a poesia é a vida secreta de
cada uma e de todas as artes.
O referido soneto foi fraguado nas entranhas de um amoroso coração, Por isto escandiu
a sua alma em versos imorredouros.
Em 1786 o soneto a Maria Ifigênia, sua amada filha que completava sete anos, é de uma
beleza única. Nele um conselho luminoso: “Despreza ofertas de uma vã beleza / E sacrifica as
honras e a riqueza/ Às santas leis do Filho de Maria / Estampa na tu`alma a Caridade/ Que
amar a Deus. amar aos semelhantes / São eternos preceitos da verdade/ Tudo mais são idéias
delirantes / Procura ser feliz na Eternidade,/ Que o mundo são brevíssimos instantes”. 3
Rodrigues Lapa asseverou que Alvarenga Peixoto nos deixou uma obra pequena, mas
de sumo significado. Acrescentou: “O sentimento nativista irrompe dela com uma sinceridade e
uma veemência que talvez se não encontre em nenhum outro escritor do tempo; mas aquilo em
que por certo se avantaja a todos os outros é a nota de comovida simpatia pelos humildes que
trabalhavam a terra, os pobres escravos que fizeram a grandeza do Brasil e que ele queria
libertar em 1789. Esta simpatia humana junto a uma arte em que se nota a insistente procura da
expressão e imagem nova são particularidades que militam a seu favor (...).” 4
Foi o fundador desta Cadeira. Poeta parnasiano de grandes méritos. Wilson Martins, no
volume VI de sua História da Inteligência Brasileira, o relaciona como uma das figuras
expoentes deste movimento literário e se refere à obra Hélikôn impressa no Porto.
Quando veio a falecer em 1945 no Rio de Janeiro, então capital do país, prestava seus
serviços no Ministério da Fazenda. Este mineiro de Santana de Ferros, formado em Farmácia
pela renomada Escola de Ouro Preto. Pode afirmar: “Dessa cidade nunca me aproximei sem a
8
mais funda emoção. A fama de sua grandeza, suas tradições, sua história, seu prestígio literário
engrandeceram-na desde cedo na minha imaginação”.
Como bom observador, relatou como se fixou em seu espírito a figura hierática do Juiz
de Direito, Augusto de Lima, quando o encontrou pela primeira vez: “um fraque preto, um
cavanhaque e duas lunetas luzindo e faiscando”.
Assim descreveu o poeta Raimundo Correa, que ele também conheceu: “Pouca estatura,
perfil fino, barba preta e aparada quase à Cristo, crânio alongado, muito pálido”
Muito se fala dos desafios de uma boa biografia, gênero literário por vezes considerado
compósito, híbrido, controverso, problemático.
Sua relação se torna então intensa com a sociedade em que viveu o biografado e os
valores que este possa ter cultivado.
É certo ser impossível a qualquer biógrafo atingir o absoluto do “eu” e, por outra,
sabendo que deve fugir da exposição de uma evolução linear do berço ao túmulo com um
encadeamento enfadonho de causas e efeitos.
A micro-história escrita por Carlindo Lellis foi, de início, uma conferência pronunciada
na Federação das Academias de Letras no Rio de Janeiro, mas posteriormente revista para a
publicação em livro. Este veio a lume no centenário de nascimento do biografado, ocorrente a 5
de abril de 1959.
Pode-se dizer que ele percorreu com perspicácia as províncias deste gênero literário,
pois foi uma biografia modal, visando ilustrar formas de comportamento a partir da vida de
Augusto de Lima, e uma biografia hermenêutica, pinçando o que foi significativo neste vulto
9
singular e o significado de suas ações. Tanto isto é verdade que afirmou: “O artista é sempre
uma figura que se destaca no seu meio. Tem ele por certo uma função social que lhe traçou o
destino. Traz consigo o fascino de sua arte e o que é sonoro e rútilo nele tem eco e vai sendo a
cada dia recolhido para a tradição. Cercam-no o respeito e a estima. Já e de todos, já lhe querem
todo como seu e, como o tempo é patrimônio de toda a gente e seu nome se incorpora às coisas
que se hão de repetir e recordar. Assim era Augusto de Lima, em Ouro Preto”, conclui
magistralmente.
Trata-se de uma biografia não meramente factual, dado que analisa os livros e as
composições poéticas de Augusto de Lima com suma argúcia e assevera então: “A arte suprema
consiste na correspondência, na equivalência perfeita, entre a forma e o pensamento”, o que
verificara nos escritos de seu biografado. Analisou uma opera lírica em quatro atos e afirma que
Augusto de lima era “wagneriano em todos os seus nervos e em toda a potencialidade de seu
cérebro”. É de se notar como Carlindo Lellis situava bem o contexto histórico em que viveu
Augusto de Lima, focalizando no tempo e no espaço as figuras famosas da época que exerceram
tanta influência cultural em Minas e em todo o país e, portanto, em seu biografado.
Trata-se de uma bem fundamentada apreciação sobre este pintor e escultor religioso
pouco conhecido de origem espanhola que faleceu em 1900.
Nos escritos de Carlindo Lellis se percebe um fundo sólido, forma lúcida, percepção
estremada, objetivo claro daquilo que tinha em mira. Nada de períodos penteados e frases
elegantes apenas para compor uma situação.
Itaúna se gloria de ser o berço deste notabilíssimo escritor que mostrou ao Brasil os
valores desta nobre urbe.
Seus pais tiveram, além de João, 11 outros filhos aos quais exemplarmente se dedicaram
Após os primeiros estudos, em sua terra natal, veio para Belo Horizonte, nos anos 20, e
aí esteve sempre no convívio das mais célebres personalidades do mundo intelectual e artístico.
10
Nos anos seguintes, escreveu mais vários outros livros 5 com uma média de lançamento
de um livro a cada dois anos, publicando-os até 1951.
Ele cultivou sabiamente a ciência dos atos humanos do passado e dos fatores que neles
influenciaram vistos na sua sucessão temporal. Fazer história é refazer a vida e ele fez isto com
propriedade. Eis sua máxima grandeza.
À custa de suas próprias idéias, levantou monumentalmente sua obra: deu-lhe corpo e
consistência.
Investigou com perspicácia fatos, sobretudo de sua Itaúna querida, e abordou com
propriedade os feitos de outros vultos notáveis.
Da História deve estar ausente a paixão, porque quem a escreve não deve distorcer os
acontecimentos, e à História deve conviver com a Filosofia por ser uma ciência. Assim procurou
ser Dornas Filho na maioria de suas obras.
Opulentou-se com o manto da Filosofia da História. Dotou sua gente, dignificou sua
cidade cuja História não será nunca escrita sem consultas à obra de 1936.
Seus escritos continuam sendo lidos, debatidos, comentados por historiadores de vários
países e cultores da Língua Pátria.
Foi, sem sombra de dúvidas, um dos expoentes da cultura brasileira, figurando com
destaque em enciclopédias de vulto como a Delta Larousse 7 e Bibliografias especializadas.
Nelson Werneck Sodré relaciona várias de suas obras no livro O que se deve ler para
11
conhecer o Brasil. Sobre Aspectos da economia colonial assim se expressou: “No Trabalho de
João Dornas Filho há capítulos que tratam de matéria fora da época colonial. Mas aqueles em
que abrangem a mencionada época contêm elementos de grande interesse. O livro consta de
cinco estudos sobre o tropeiro, o “cometa” e o mascate; sobre o aparelhamento mecânico da
agricultura colonial; sobre a saúva; sobre o tabaco e sua influência na sociabilidade brasileira e
sobre as queimadas e as secas” (p 112).
Uma das conferências mais aplaudidas deste Acadêmico foi proferida em Curitiba nas
festas da instalação do “Centro Mineiro” daquela Capital em 1952, quando abordou o tema “Os
Mineiros na História do Paraná”. Esta palestra foi publicada inclusive no Jornal do Comércio
do Rio de Janeiro, dia 26 de outubro de 1952.
Acrescente-se que quem quer penetrar fundo no estudo da contribuição mineira para a
formação econômica do Brasil há de estudar a obra pioneira deste Acadêmico O ouro das
Gerais e a civilização da Capitania. Ele, como acentuam os editores desta obra, “reivindica
para os mineiros não só uma influência fundamental na transformação brasileira neste ciclo
econômico, mas ainda em importantes fases que se seguiram, como a conquista e povoamento
do vale do Paraíba e do norte e oeste de São Paulo, criando o quarto ciclo da riqueza do Brasil –
o café”.
Distinguiu-se, outrossim, como jornalista, tendo dirigido com brilho o Correio Mineiro
e a Folha da Noite, revelando-se também apreciado radialista, cronista.
Sua atividade literária foi realmente extraordinária. Publicou apreciados livros de contos
e crônicas, salientam-se entre elas Políticos e Outros Bichos Domésticos, no qual se percebem
laivos de aguda ironia atinente aos maus homens públicos, Nos tempos do João Goulart, com
lampejos históricos interessantíssimos, Viagens inócuas, o qual é uma impagável premunição
aos governantes andejos, perigosamente andejos, levados pelo fascínio das cômodas vias
percorridas pelas aeronaves, e não se fixam em lugar algum. Neste ponto ele deu razão a
Bernanos que afirmou que é preciso criar raízes nos lugares visitados.
12
Cumpre se exaltem, de fato, sua veia irônica, sua imaginação poderosa e o pleno
controle que manifesta do picaresco, abarcando os mais diversos temas, levando por vezes o
leitor à hilaridade, outras às lágrimas pelo notável lirismo
Seu Manual de Ciências das Finanças, em 1984, atingiu a 20ª edição, tendo sido
atualizada a legislação pelos Professores José de Mesquita Lara e Alberto Deodato Filho, ambos
da UFMG. Cumpre se ressalte a visão pedagógica deste Mestre inigualável que foi Alberto
Deodato, o qual, bem dentro da filosofia da educação de Edouard Claparède 8 , dizia, em 1977,
que não pretendia que quem estudasse neste Manual soubesse Finanças Públicas, mas que se
aprendesse, neste livro, a estudar Finanças Públicas. Seu objetivo, portanto, era passar uma
metodologia que permitisse a seus discípulos uma reciclagem contínua. Oferecia um
instrumental teórico que possibilitaria a seus epígonos navegarem com segurança pelos mares
da ciência e a profissão do manejo do dinheiro, particularmente do dinheiro do Estado.
Como membro da Comissão de Economia na Câmara Federal digno de registro foi seu
parecer sobre “O depósito em banco estrangeiro”.
Era natural de Maruim, que foi um importante centro comercial, industrial e cultural do
Estado no final do século XIX. Pode-se dizer que Sergipe nasceu em Maruim
Bem se diz que Sergipe exporta talento. A safra sergipana é de todo cultural.
Conterrâneos de Alberto Deodato foram, por exemplo, Jackson de Figueiredo, João Ribeiro,
Sílvio Romero, Tobias Barreto, Laudelino Freire.
Seja registrado que o livro de contos sob a epígrafe Sensala, escrito em 1919 mereceu
de Humberto de Campos este comentário: “O livro de Alberto Deodato é escrito em linguagem
fluida e desataviada, o que concorre para emprestar mais releve ao seu modo cintilante e à sua
vivacidade em exprimir-se”.
Talento versátil, levou à cena no Rio de Janeiro Vaudevilles e uma opereta Flor
Tapuaia.
Alberto Deodato foi, sem sombra de dúvidas, uma renomada personalidade literária, um
político sem jaça, que dignificou os cargos e as cátedras que conquistou.
É ele de uma estatura moral desmesurada, colossal, ampla demais para um discurso.
Durante quase cinco lustros sua presença na vida política do Brasil foi decisiva e ele se
notabilizou como um grande conciliador, dado que tinha o dom de irradiar a paz e a harmonia
onde quer que atuasse.
Na vida política, se destacou como vereador e presidente da Câmara em São João del
Rei, deputado estadual de 1946 a 1951, relator da Constituição Mineira de 1947. Deputado
federal de 1951 a 1955. Foi ministro da justiça no Governo de Getúlio Vargas, estando a seu
lado no trágico 24 de agosto de 1954. Voltou à Câmara dos Deputados de 1963 a 1979.
Governou Minas Gerais de 15 de março de 1983 a 14 de agosto de 1984, tendo sido eleito dia
15 de janeiro de 1985, pelo Colégio Eleitoral, para Presidente da República, mas a morte o
impediu de assumir o mais alto cargo do país.
Seu estilo era de um vigor marcante e eminentemente literário, sendo antológicos seus
discursos e artigos.
Seu falecimento, num dos momentos mais cruciais da História da República, foi um
brusco sobressalto, mas se constituiu numa revelação intensíssima.
Apoteóticas as homenagens que recebeu por todo o país e ele entrou no panteão dos
mais famosos personagens do Brasil.
14
Como mostrou a televisão, pelas ruas da Capital Mineira o entusiasmo popular adejou
ao paroxismo. Os aplausos estrugiram partindo de pessoas de todas as classes sociais e dos mais
diversos partidos políticos.
Quando todo um povo que ama as grandezas de seu país pranteou, sentiu
profundamente, com tanta comoção, a morte de um cidadão como Tancredo Neves, lavrou-se
solenemente a sentença que qualificou sua importância e canonizou seus cívicos merecimentos.
Aconteceu com Tancredo Neves o que soe ocorrer com os geniais, os úteis, os famosos
semeadores da idéia, aos lídimos patriotas, ou seja, obreiros do presente se tornam na bela
expressão da baronesa de Staël, contemporâneos do futuro.
Tancredo Neves não engolfou nas sombras da sepultura, mas se pompeou nas
incrustações da memória nacional, fecundando as páginas auríferas da República brasileira em
alastramentos de luz.
Grande a missão cívica que recebeu de Deus, ele a cumpriu com raro descortino. Ele
ostentou sempre o verdadeiro espírito do político mineiro, ou seja, ânimo de ferro para dobrar
resistências e um olho que era de lince para observar as circunstâncias, ostentando sempre bom
tino e bom senso abissais.
Foi um ideal feito homem e um homem feito personalidade marcante, nunca descurando
os interesses da Pátria.
Tríplice sua imortalidade: nesta Academia Mineira de Letras, aquela que lhe outorgou a
voz do povo que jamais o esquecerá e a melhor de todas as recompensas, perene nos palácios
eternos de Jesus Cristo do qual foi insigne epígono.
15
Tancredo Neves, como poucos, captava a trepidação do corpo social, o borbulhar das
aspirações populares a desejar melhores tempos e a cata de maiores bens. Isto ele transfundia
em suas inflamadas peças oratórias e escritos eivados de um civismo inigualável
Com razão Carlos Figueiredo entres os cem discursos históricos mais relevantes na
História Universal publicou o que Tancredo Neves pronunciou dia 15 de janeiro de 1985,
quando foi eleito Presidente da República, no bojo de uma campanha que encerrou o período
militar. Nesta oração antológica, conceituou o que é a pátria, a democracia e qual era seu plano
de governo e conclamava: “Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças
públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão. „Se todos quisermos‟,
dizia-nos há quase 200 anos Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança „poderemos
fazer deste país uma grande Nação‟. Vamos fazer”!
Em síntese: Orador, sua palavra foi soberana; Estadista, sua influência foi inegável;
Cidadão sua vida foi modelar e na palavra, na influição e na existência foi um patriota imortal,
um acadêmico luminar.
Assim, procurar não deslustrar a tradição literária da Cadeira número 12, ocupada por
tão eminentes varões, há de constituir a preocupação central deste novo acadêmico.
Missão do Literato
Vivemos uma fase de transição histórica. Este início de milênio exige muita reflexão e
civismo, sobretudo daqueles que fazem parte de Cenáculos Literários como este.
Uma cosmovisão correta leva a uma mundividência perfeita que exige muito
discernimento daqueles que são referência por lidarem no mundo literário.
Neste, com efeito, a troca de idéias se dá de uma maneira profunda e tais idéias são
transmitidas para a sociedade por tantos veículos de que se servem os cultores dos vários ramos
da Literatura.
Com efeito, de acordo com seu perfil caracterológico, nas várias províncias da
Literatura, com o uso estético da linguagem um acadêmico fascina e arrasta, muito
influenciando.
A vida do ser racional recebe luzes especiais vindas dos poetas e dos escritores que se
tornam fontes de otimismo, esperança, abrindo risonhos horizontes e levando tantos aos
palácios do belo ou às planícies verdejantes das certezas por entre o fluir inexorável do tempo.
Este o condão dos que lidam com a Literatura: sabem simplificar as questões
complicadas, ultrapassando a epiderme do trivial e, assim, enlevando os espíritos e iluminando
as veredas do cotidiano.
Hoje, mais que nunca, num mundo plural, os literatos têm um campo imenso pela
frente, dada a maleabilidade com que tratam os assuntos mais complexos.
Esta é, realmente, a hora do pluralismo das idéias e, portanto, de uma atividade profícua
dos que militam numa Academia de Letras.
Muitos perderam o sentido último da vida e a razão de ser no itinerário que deve
conduzir cada um até o seu Princípio Supremo.
17
Eis aí uma tarefa à qual não pode se furtar um Acadêmico: viver e testemunhar de
maneira sábia, competente e eficaz a relação entre o contingente e o Necessário, entre o finito e
o Infinito, entre o tempo e a Eternidade.
O lugar em que cada literato vive é um espaço privilegiado para difundir o valo r da
vida, colocando no altar da consciência do próximo aquela atitude em face dos problemas
humanos ou sociais que consiste em considerá-los passíveis de uma solução global positiva, do
que pode resultar uma maneira de ser ativa e confiante que vivifica e redime.
Num contexto de tantas controvérsias e deturpações isto se faz ainda mais urgente.
Daí o cuidado intelectual e espiritual para com o outro e uma ação eficaz de animação
fiducial que se torna uma iluminação para as almas decepcionadas pela materialidade reinante.
Por suas obras maravilhosas poéticas e religiosas, por seu teatro e suas tragédias ele se
tornou um dos grandes gênios literários de todos os tempos, um dos símbolos da cultura
francesa a honrar o ser racional de todas as épocas!
É dever dos membros de uma Academia como esta empunhar, de fato, a chave aurífera
que abre os páramos de uma autêntica concepção da importância do ser pensante dentro de um
projeto existencial de dar sentido ao viver. É mister assim tornar os outros cientes e conscientes
de suas possibilidades de auto-realização.
Tal é, aliás, o papel da Literatura, que lança o ser racional nas paragens da beleza que é
seu fim transcendente supremo.
Não se entra, então, apenas numa relação de identificação intencional ou espiritual com
o mundo exterior, com as maravilhas da natureza.
Como todas as artes, a Literatura implica, por si mesma, uma espécie de sortilégio, puro
e estético, que lança o ser pensante nos planuras de realidades luminosas.
18
O poeta ou o prosador têm olhos de lince para contemplar melhor o esplendor de uma
flor, a luminosidade crepuscular do Sol ou para captar o cântico dos pássaros, enfim, para
perceber todas as maravilhas que o Criador espalhou por toda parte.
O Literato, neste sentido, é uma ponte que liga o Mundo e o Eu, dado que sabe capturar
o belo para o transmitir a outrem. Esta intenção prática de comunicação é marca do bom literato.
O resultado a ser produzido no espírito do leitor é inteiramente invisível, mas dotado de
realidade, desabrochando-se em novos caudais de idéias.
Ao lado disto, a empatia que o autêntico literato tem com os seres humanos o leva a
apreender detalhes de situações que passariam até despercebidas aos cientistas sociais. Esta
percepção do microcosmo que é o homem, inserido no universo, com todas as reações
psicossomáticas que o caracterizam, é que movem inclusive a imaginação do artista das Letras.
Deste modo, surgem os contos, os romances, as novelas e tantas outras composições que
atraem, fascinam e se tornam best-sellers, fluindo de uma fecunda subjetividade criadora.
É que, quanto mais a percepção artística, que anima o literato, apreende e manifesta a
face interna das coisas, tanto mais comporta, simultaneamente, uma revelação e uma
manifestação do Eu humano, donde a sintonia com o leitor.
O homem deste início de milênio tem seu espaço muitas vezes preenchido por
significados prontos que não satisfazem suas mais recrescentes aspirações. Disto resulta um
vácuo que é fonte de angústia existencial.
Por tudo isto, muito se tem focalizado o papel político do literato. Com efeito, a polis
depende do valor de seus cidadãos e enorme, como foi mostrado, é a influência da Literatura na
formação das pessoas.
Através dos tempos, muitos homens de letras, como Lamartine e Vitor Hugo na França,
exerceram um papel político importante no contexto histórico em que viviam.
Vitor Hugo acentuou mais ainda a tarefa política do literato No prefácio de Voix
intérieures, ele já havia destacado a tarefa séria do poeta, de sua missão civilizadora. No poema
Função do poeta, da coleção Les Rayons et les Ombres, de 1840 escreveu : “Deus o quer: que
nos tempos difíceis cada um trabalhe e cada um sirva. Infeliz daquele que diz a seus irmãos: Eu
retorno para o deserto! Desditoso o que mete suas sandálias, quando as iras e os escândalos
tormentam o povo agitado! Desonra ao pensador que se mutila e se manda, cantor inútil, pela
porta da cidade! [...] O poeta nos dias de desgraça vem preparar dias melhores [...] Por que a
poesia é a estrela que conduz a Deus reis e pastores”!
É de se notar que obras que abordam a arte da política não exercem a mesma influência
que os textos literários. É que aquelas são muitas vezes frias, teóricas, convencionais, ao passo
que os últimos lançam mensagens por entre o burburinho das experiências humanas, fluindo do
rio da vida.
O literato, com sua sensibilidade à flor da pele, tem uma acuidade política muitos mais
profunda que os demais contemporâneos. Muitas vezes, ironicamente, sub-repticiamente,
denuncia erros e chantagens, desmascarando as atitudes dos sofistas.
Célebres o J´accuse de Zola, Les Châtiments e Les Misérables de Vitor Hugo, além
das obras dos filósofos das Luzes.
20
O que ocorreu no Brasil no período de 1964 a 1968 é outra prova do influxo político do
literato que causa temor e terror nos regimes de exceção.
Assim é que o Ministério da Educação fez um expurgo nas bibliotecas e queimou livros
de Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, Guerra Junqueiro, Jorge Amado, Paulo Freire, Darcy
Ribeiro e outros.
Áugure e mago, ele decifra o futuro e pode ler as forças do progresso que vão civilizar o
mundo.
O autêntico literato é capaz de, não apenas fomentar o espírito cívico, como também faz
com que cada um sinta como é bom viver e como as circunstâncias da existência têm tanto
significado. Sua inspiração transmite elã vital.
Seus tormentos íntimos se sintonizam com os de seus coevos e daí o fascínio da obra
literária sobretudo nestes instantes cruciais. Livros e artigos se tornam incandescentes!
Quando se torna um militante, o bom literato repleta os anais dos parlamentos que
passam a guardar, como pérolas preciosas, discursos que honram e glorificam as Letras Pátrias e
a cultura de uma nação, despertando o civismo e apontando soluções oportunas . Parlamentares
do naipe de um Rui Barbosa, Duque de Caxias, Juscelino Kubitschek, Afonso Arinos, Pedro
Maciel Vidigal.
É o civismo sublimado pela arte influenciando o destino de uma nação e até do mundo
todo.
Aliás, seja dito que foi um papa polonês que se distinguira também nas Letras que
contribuiu com seus maravilhosos escritos para a queda do muro de Berlim e transformou a
história do final do século XX e início do novo milênio.
Através da palavra bem trabalhada, é possível dar uma explicação última do mundo sem
obscuridade, sem fugas, com fidelidade às exigências humanas.
Por tudo isto é que são tão numerosos os políticos nas academias.
21
Aqui mesmo, o presidente da AML é um dos expoentes da vida pública deste país,
político estreme, inteiriço e de bronze, de autoridade indiscutível e competência sem rival, tendo
já exercido importantes cargos públicos, como Secretário de Estado e Ministro da Indústria e
Comércio. Além de vários mandatos de deputado estadual e federal, senador da República e
prefeito da cidade de Minas Novas 9.
Este acadêmico está sucedendo ao ilustre Prefeito de Araxá, que sucedeu a um dos
baluartes da democracia nesta nação, o qual aqui entrou depois do fundador da UDN.
Nada, portanto, mais justo do que proclamar altissonantemente o lema desta Academia:
Scribendi Nullus Finis, a bem da pátria e de seus cidadãos, nunca falta o que escrever.
Conclusão
Cumpre finalizar exaltando a fecunda gestão do Dr. Murilo Badaró, que ampliou
significativamente a presença da Academia Mineira de Letras em todo o país e no exterior,
mercê da implantação de projetos inovadores e programações culturais do mais alto nível,
continuando a obra imortal do saudoso, jamais esquecido, Dr. Vivaldi Moreira.
Saúdo, outrossim, ao Pe. Dr. João Batista Megale que receberá este seu confrade nesta
Academia.
1
Epígrafe do Epílogo do Livro IV de Fábulas de Fedro – “Nunca falta o que escrever”.
2
François TRUFFAUT (Paris, 6 de Fevereiro de 1932 — Neuilly-sur-Seine, 21 de outubro de 1984) foi um
cineasta francês. Ele foi um dos fundadores do movimento nouvelle vague e um dos maiores ícones da
história do cinema do século XX. Em quase 25 anos de carreira como diretor, Truffaut dirigiu 26 filmes.
Conseguiu conciliar um grande sucesso de público e de crítica na maior parte deles. Os temas principais
de sua obra foram as mulheres, a paixão e a infância. Além da direção cinematográfica, Truffaut foi
também roteirista, produtor e ator.
3
Obras Poéticas de Inácio Jose de Alvarenga Peixoto, Rio de Janeiro, B.L.Garnier, 1865.
4
LAPA, M. Rodrigues [1960]. Vida e obra de Alvarenga Peixoto. p. ivi.
5
Eis algumas obras publicadas: “Silva Jardim” (Cia. Editora Nacional – Brasiliana - São Paulo, 1936); “Os
Andradas na História do Brasil” (Gráfica Queiroz Breiner – Belo Horizonte, 1937); “A Escravidão no
Brasil” (Civilização Brasileira S/A, - Rio de Janeiro, 1939); “Bagana Apagada” – contos (Editora Guaíra,
Curitiba, 1940); “A Influência Social do Negro Brasileiro” (Caderno Azul nº 13 – Editora Guaíra, Curitiba,
1943); “Eça e Camilo” (Caderno Azul nº 21, Editora Guaíra, 1945); “Júlio Ribeiro” (Cadernos da Província
nº 2 – Livraria Cultura Brasileira Ltda – Belo Horizonte, 1945); “Antônio Torres” (Caderno Azul nº. 31 –
Editora Guaíra – Curitiba, 1948); “Os Ciganos em Minas Gerais” (Movimento Editorial Panorama –
Edições João Calazans – Belo Horizonte, 1949) e “Efemérides Itaunenses” (Coleção Vila Rica – Edições
João Calazans – Belo Horizonte, 1.951). cf. CHAVES, Pepe . PAGINA OFICIAL DE JOÃO DORNAS FILHO,
mantida por Via Fanzine, www.viafanzine.jor.br, Itaúna - Minas – Brasil.
6
Página oficial de João Dornas Filho.
7
Editora Delta S.A. Rio de Janeiro, vl 5 p.2268.
8
Edouard CLAPARÈDE. A escola sob medida. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura S.A. p.200.
9
Mandatos já exercidos pelo Dr. Murilo Badaró: Deputado Estadual de 1959 a 1963: Deputado Estadual
de1963 a 1967; Deputado Federal de 1967 a 1971, de 1971 a 1975, de 1975 a 1979; Senador da
República de 1979 a 1987, Prefeito de Minas Novas de 2005 a 2006.
23
OBRAS CONSULTADAS
Livros
BERNANOS, G.La Culture française et les enfants brésiliens. Bul. de la Soc. des Amis de G.B..,
août,1953. In: Starling e Macial, Cours de Français. Belo Horizonte: Vigília, 1972.
Jornais
Revistas
REVISTA DA ACADEMIA Mineira de Letras. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 2004, 2005 e
2006.
REVISTA DO INSTITUTO Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, Volume VI, 959.
REVISTA DO ARQUIVO Público Mineiro, Belo Horizonte: Imprensa Oficial, Ano XXIX,
Abril/1978.
Sites
CHAVES, Pepe . Página Oficial De João Dornas Filho, mantida por Via Fanzine, Acesso a
<http://www.viafanzine.jor.br>, Itaúna - Minas – Brasil.
25
APÊNDICE
ALVARENGA PEIXOTO
Bárbara bela,
Do Norte estrela,
Que o meu destino
Sabes guiar,
De ti ausente
Triste somente
As horas passo
A suspirar.
Por entre as penhas
De incultas brenhas
Cansa-me a vista
De te buscar;
Porém não vejo
Mais que o desejo,
Sem esperança
De te encontrar.
Eu bem queria
A noite e o dia
Sempre contigo
Poder passar;
Mas orgulhosa
Sorte invejosa,
Desta fortuna
Me quer privar
Tu, entre os braços,
Ternos abraços
Da filha amada
Podes gozar;
Priva-me a estrela
De ti e dela,
Busca dous modos
De me matar.
Apud HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos Poetas Brasileiros da fase colonial.
Volume II. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1952. p. 41.
26
CARLINDO LELLIS
Dessa cidade nunca me aproximei sem a mais funda emoção. A fama de sua grandeza, suas
tradições, sua história, seu prestígio literário engrandeceram-na desde cedo na minha
imaginação.
Ao avistá-la, do alto das serranias, outrora, nos meus primeiros anos, nela entrando pelas
montanhas do norte, depois de jornadear léguas sem conta pelos chapadões sonoros, ao tropear
das montanhas, por fráguas e carrascais, vales de água escachoante, catas abandonados, barrocas
e lavras decadentes, rincões que uma natureza atormentada marcou com selo bizarro, terras
requeimadas e corroídas de remotas erosões geológicas, em que tudo fala ao espírito e encanta a
vista, a cidade surgia de súbito, quase a meus pés como a surpresa de uma cenografia risonha
em que, pelos pendores dos montes, de encostas em campos pardacentos e mosquiados, casas
brancas pintalgam a paisagem, velhos monumentos lembram barbacans, ameias e adarvas de
castelos mortos, e as flechas das igrejas recordam catedrais, e basílicas que a poesia do tempo
empana e sombreia,como um véu sobre gravura antiga que revive distantes,esmaecidas no
tempo. [...]
Ruas tortuosas acompanham as ravinas das encostas, e, nos seus pavimentos, os pedregais
ressoam sob os passos que vão acordando, na modorra decrépita do casario triste, os sons
adormecidos, os ecos do antigo alarido, quando os alviões e os almocrafes orquestravam os
alalis do trabalho e o metal luzia no mundo das bateias, como a areia fulva de um penhasco de
ouro esmigalhado.
Sob as arcadas das pontes de velha cantaria corre a água clara e viva, e cada vale é uma égloga
virgiliana, sem pastor e avena, velada pela sombra de Dirceu.
LELLIS, Carlindo in Augusto de Lima: sua vida e sua obra. Belo Horizonte: Velloso S.A,
1959. p.7-8.
O MINEIRO E A AGRICULTURA
Exauridas as riquezas aluviônicas que fizeram da Capitania das Minas, durante um século, o
recanto mais rico de Portugal e suas conquistas, foi para a agricultura que se voltaram, assim, os
remanescentes da mineração, retornando ao seu verdadeiro clima social o homem que nasceu
em terras amplas e férteis.
O mineiro é visceralmente um homem rural.
Afonso Arinos virava e mexia pelos centros civilizados do Velho Mundo e voltava
periodicamente a rever a selva e os campos natais, como se movido por uma necessidade
fisiológica. E é comum às pessoas que residem nas grandes cidades fugir semanas e meses do
bulício do asfalto para a tranqüilidade virgiliana das fazendas mineiras.
É uma fatalidade psicológica movida pela condição geográfica de Minas. Por isto, o seu amor
pela agricultura é o segredo de, mesmo contra o desejo do governo português, sermos um povo
de capacidade invejável para as fainas rurais.
Ainda nas cidades a preocupação do mineiro, mesmo de profissão diferente, é a agricultura.
Antônio Felício dos Santos, médico e jornalista do Rio, inventava em fins do século passado
27
uma aparelho para dissecação do café, obedecendo ao princípio das torres de dessecação do
lúpulo na Bélgica e na Alemanha. E o conde de Iguassu, irmão do marquês de Barbacena,
escrevia ao “Jornal do Comércio” em 5 de Março de 1842 uma carta, na qual comunicava a
solução de um problema agrícola de indisfarçável importância, que é a cultura da alfafa ou
luzerna do Chile.
DORNAS Filho, João. O Ouro das Gerais e a civilização da Capitania. São Paulo: Cia. Editora
Nacional, 1957. p.90-92
ALBERTO DEODAT0
A CARIDADE
Quando era meu aluno de Direito Internacional Público, e dos mais brilhantes que passaram
pela Faculdade, Edgar Mata Machado me presenteou com um livro. De quando em quando o
releio. O autor é Gaston Fessard. O livro se chama «Pax Nostra». É a mais bonita dissertação
sobre a Caridade. É um mundo de pensamento cristão sobre essa grande virtude.
A caridade individual. A caridade nacional. E a caridade entre as Nações. A caridade com o
semelhante próximo e o remoto. Basta dizer que ele assenta os postulados de Direito
Internacional nessa grande virtude. Não é a esmola. Essa é virtude rudimentar. Mas a caridade
tem maior amplitude. A compreensão. A tolerância. O amor. A ordem. O trabalho. O
pensamento contínuo e intransigente de que o homem não vive só. Nem vive por si nem para si.
Existe porque é social. No menor ato, no menor gesto, ele precisa do seu semelhante. Do
trabalho de outrem. Da colaboração. Do entendimento. Da convicção de que são humanos todos
os erros. Todas as quedas. Todas as horas de decisão entre a sua conduta e o abismo, que
aparece sob todas as formas. A lembrança desse livro admirável me veio agora diante de dois
convites. Um, inauguração da sede da Fundação Dom Bosco. Outro, sobre o Serviço de Obras
Sociais, com a sigla S. O. S.
Não sei de organizações que mereçam maior solidariedade humana. A primeira se refere aos
excepcionais, de 4 a 14 anos de idade. Para divulgar as vantagens da educação especializada.
Manter as oportunidades educativas e assistenciais, firmando convênios com as instituições
oficiais e particulares. O segundo, o S. O. S. com programa notável de assistência permanente
aos necessitados. Não dando a esmola deprimente. Mas assistência, preservando a dignidade da
vida. Recuperando as famílias desajustadas. Educando a criança través do próprio pai.
Recuperando todos os elementos e entrosando-os na normalidade social. Serviço de recambio
sistemático de indigentes provindos de outros lugares e impedindo a permanência de elementos
indesejáveis de outros municípios, após sérias pesquisas.
Ambas as instituições têm o mais profundo significado humanitário. Exercem a caridade no
sentido verdadeiramente cristão da virtude, que é, a meu ver, a maior virtude do homem.
Estado de Minas, 23-4-966. Transcrito em O Arquidiocesano, Mariana, Editora Dom Viçoso,
17-07-1966, n. 357, Ano VII, p.3.
Não há Pátria onde falta democracia. A Pátria não é a mera organização dos homens em
Estados, mas sentimento e consciência, em cada um deles, de que pertencem ao corpo e ao
28
OLAVO DRUMMOND
SONHAR É PRECISO
És a Nossa Senhora
De minhas tristes ausências,
Dos meus tédios de agora,
De minhas loucas carências…
Se fazes milagres, não juro,
Nem afirmo sem saber,
Mas tens a chama divina
De fulminar o sofrer
Morreram contigo e por ti
Os meus amargos silêncios
E na glória de um instante
Até meu tédio morreu
Criaste em mim a alegria,
Plantaste um roseiral de sorrisos
No deserto do meu eu…
Obrigado, Senhora Minha,
A quem não se ama a esmo
Quero-te, assim, como és,
Redentora de mim mesmo…
Olavo Drummond. Ensaio Geral: Poemas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, p.174-175, 1984.
____________________
O texto deste discurso de posse foi revisado por Públio Athayde, Revisor Acadêmico e
Literário, ex-aluno do autor, Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, no Instituto de
Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto.
PÚBLIO ATHAYDE, Historiador, Cientista Político, Educador e Artista Plástico. Graduou-se
em História (Licenciatura) no ano de 1987, pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP,
tendo sido aproveitado, logo em seguida, como professor substituto daquela universidade.
Ainda em Ouro Preto, onde nasceu, participou de diversos Festivais de Inverno, cursos e
eventos nas áreas de Museologia, Arquivística, História de Minas Gerais e da Arte - conhecendo
bastante de perto os acervos documentais históricos da região de Ouro Preto e Mariana.
Lecionou ainda na Universidade Federal do Espírito Santo, na União de Negócios e
Administração (UNA), na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), na Faculdade de Pará de Minas (FAPAM). A principal atividade exercida atualmente
é a de Revisor Acadêmico e Literário. Tem formação em Ciência Política pela UFMG e
vivência de dirigente em educação extra-escolar, programas de meninos de rua, vida ao ar livre,
educação alternativa e desenvolvimento e integração social oriundas de quinze anos de
atividades no escotismo. Autodidata em Filologia Românica, conhece arcaísmos das línguas
neolatinas e variantes do Latim. Dedica-se atualmente à atividade literária e à orientação de
diversos projetos acadêmicos. Autor de diversos trabalhos de poesia disponíveis em diferentes
formatos de e-book pelo eBookCult, e-BooksBrasil, Terra Quadrada e outros. Atua como
revisor acadêmico na Editora Keimelion. Fonte: Wikipedia. (pathayde@hotmail.com).