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Não é doutrina cristã a oposição radical entre a alma e o corpo, pois todo o
homem, em corpo e alma, está chamado a alcançar a vida eterna. Ninguém
como a Igreja ensinou a dignidade e o respeito que se deve ao corpo: Não
sabeis que os vossos membros são templo do Espírito Santo que habita em
vós, e que o recebestes de Deus e que portanto não vos pertenceis a vós
mesmos? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, e
trazei a Deus no vosso corpo3.
Temos que estar atentos para não nos deixarmos levar por essa ânsia
desmedida de bem-estar que está presente em muitos sectores do mundo
actual, nos quais se pensa que o ápice da vida e do triunfo consiste em ter
mais e em ostentar aquilo que se possui. O nosso verdadeiro êxito está em
sermos fiéis àquilo que Deus quer de nós e em alcançarmos a vida eterna. Nós
sabemos que o nosso coração só pode saciar-se em Deus, pois está feito para
a eternidade, e que as coisas terrenas sempre o deixarão insatisfeito, frustrado
e triste.
Viver bem esta virtude implica andar desprendido dos bens e dar-lhes a
importância que têm e não mais; não criar necessidades; não fazer gastos
inúteis; ser moderado na comida, na bebida, no descanso; prescindir de
caprichos...
Nos nossos dias, também se pode dizer de certas pessoas que o seu Deus
é o ventre11, pela preocupação que põem nos assuntos da comida e da bebida.
Pessoa sóbria é aquela que modera o uso dos alimentos: evita comer fora de
horas e por capricho; não procura pratos mais requintados neste ou naquele
restaurante, entrando em gastos desproporcionados; não consome
quantidades excessivas... “Habitualmente, comes mais do que precisas. – E
essa fartura, que muitas vezes te produz lassidão e incomodidade física,
torna-te incapaz de saborear os bens sobrenaturais e entorpece o teu
entendimento. – Que boa virtude, mesmo para a terra, é a temperança!”12
Ainda que muitas destas manifestações de gula não sejam pecado grave, no
entanto são ofensas a Deus, que debilitam a vontade e acabam por ser uma
recusa dessa vida austera, alegre e desprendida que o Senhor pede. São os
espinhos que afogam a boa semente; levam a uma vida de tibieza e de
desinteresse e apatia pelos bens espirituais e especialmente pelos divinos.
(1) Cfr. Gen 1, 25; (2) Gen 1, 31; (3) 1 Cor 6, 19-20; (4) João Paulo II, Sobre a temperança,
22-XI-1988; (5) Mt 13, 22; (6) São Pedro de Alcântara, Tratado da oração e da meditação, II, 3;
(7) Paulo VI, Alocução, 8-IV-1966; (8) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 84; (9)
Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, n. 35; (10) João Paulo II, Exort. Apost. Familiaris
consortio, 22-XI-1981, n. 37; (11) Fil 3, 19; (12) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 682; (13)
São Tomás, Suma Teológica, II-II, q. 149, a. 4; João Paulo II, Sobre a temperança, 22-XI-1988.