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UFPB — Centro de Ciências Jurídicas — Ano 1 — Nº 1 — Março de 2010 — Venda Proibida

PNDH-3: compromisso de Estado, desafio de governo


O Programa Nacional de Direitos Humanos surge em sua terceira edição com duas preocupações latentes: superar paradig-
mas em relação aos setores conservadores da sociedade e firmar-se como projeto de governo que não se esvaia ao gosto
dos representantes políticos
“Coisa de maluco”. Foi assim que uma das econômicos e culturais passaram à comunida-
mais lidas (e não menos criticadas) revistas de internacional a mensagem de que era preci-
nacionais adjetivou o PNDH-3. A investida do so tirar da Declaração Universal dos Direitos
veículo de comunicação contra o programa de Humanos a feição de mera carta de recomen-
direitos humanos do governo federal já era de dações e, para além disso, positivá-la na forma
certa forma esperada: defendem-se interesses de compromisso de Estado. Nesse contexto,
corporativos que invocam o discurso de uma três anos depois, surgiu o primeiro Programa
iminente e perigosa censura às liberdades Nacional de Direitos Humanos, onde já consta-
constitucionais de expressão e de imprensa, vam propostas tão polêmicas quanto as do
da forma como a grande mídia entende que atual (que é, de longe, muito mais criticado do
sejam essas liberdades. Semanas após a pu- que seus antecessores foram).
blicação, ao participar de um debate num canal Da grande mídia partiram os comentários in-
de televisão público, o ministro Paulo Vannu- dignados mais incisivos sobre o PNDH-3. "Não
chi, da Secretaria Especial de Direitos Huma- é o Estado que tem que ser o tutor da socieda-
nos, tinha em mãos a página da revista com a de. O mercado e a auto-regulação fazem isso
polêmica reportagem que o qualificava como extremamente bem", declarou Alberto di Fran-
“ex-terrorista de esquerda” que “tentou trans- co, do jornal O Estado de São Paulo, na ocasi-
formar o Brasil em uma ditadura comunista”. A ão do 1º Fórum Democracia e Liberdade de
resposta do ministro foi acertada: a mídia bra- Expressão, um evento que prometeu (e tomou)
sileira estava preocupada em transmitir uma “ditadura branca”. Mas parece que os críticos ares de campanha eleitoral. Lá as discussões
imagem distorcida e “esquizofrênica” do PN- esqueceram ou preferiram ignorar a decisiva deram ao programa de direitos humanos um
DH-3 que poderia custar caro à consolidação participação da sociedade civil, entidades de status do qual ele ainda não desfruta e cuja
das reais intenções do programa. classe e grupos de direitos humanos na cons- materialização de propostas, no tocante à mí-
A briga travada entre o governo e os mais di- trução do programa; participação esta que será dia, vem antecedida de incertezas e questiona-
versos setores reacionários da sociedade traz também imprescindível na persecução dos mentos entre os próprios membros do gover-
à tona um embate ideológico que historica- seus objetivos, bem como a própria atuação do no. “Deixar as coisas como estão” e permitir
mente tem obstaculizado a consolidação dos Congresso Nacional. A propositura de consul- que se promova, em detrimento do controle
direitos humanos no Brasil. Quem se julga tas populares, que, desde os modelos mais social, um auto-controle (de gosto duvidoso)
prejudicado pelas pretensões do PNDH-3 tenta ortodoxos de democracia, representa instru- dos veículos de comunicação é a alternativa
lançar mão de um fundamento absoluto capaz mento importante na resolução de questões liberal para quem demanda do Estado um agir
de salvaguardar interesses particulares: pelo polêmicas, é interpretada agora como tentativa precipuamente negativo em matéria de liberda-
menos em matéria de direito, não existe funda- dos elaboradores do PNDH-3 de instaurar um de de expressão. Não se nega a missão demo-
mento absoluto. “O fundamento absoluto não é sistema “chavista” no país. crática da imprensa, fundamental na visibilida-
apenas uma ilusão; em alguns casos, é tam- De todo esse discurso, é possível pôr em evi- de dos atos do poder político e constitutiva de
bém um pretexto para defender posições con- dência o desafio proposto: mexer em estrutu- um dos pilares da construção da opinião públi-
servadoras”, alertou o italiano Norberto Bobbio ras oligárquicas implementadas há décadas e ca. Sua capacidade de ingerência de pontos
num dos seus livros de maior repercussão, A em dissonância com o projeto democrático de vista sobre o âmbito social pode, contudo,
Era dos Direitos. Para os barões da mídia, a assumido pelo Brasil, frente à comunidade transformar-se em perigoso armamento que
alta cúpula das Forças Armadas, os latifundiá- internacional, sob o ensejo da Constituição de orienta seus tiros de acordo com a conveniên-
rios e os representantes da Igreja Católica, o 1988 que, vale dizer, tem nos direitos humanos cia político-mercadológica do veículo de comu-
decreto nº 7.037, de dezembro do ano passa- o conteúdo mínimo dos direitos fundamentais. nicação (o “efeito silenciador do discurso”, na
do, que aprova o PNDH-3, é o marco regulató- A Conferência de Viena (1993) foi um forte
rio de um governo que se diz democrático mas contributo às pretensões desse projeto político:
que age com viés de autoritarismo. Para usar prerrogativas como a interdependência e indi- Publicidade
uma expressão deles mesmos, seria uma visibilidade dos direitos individuais, sociais,

Nesta edição
3 | Entrevista | Professor Giuseppe Tosi, do NCDH da UFPB, fala da importância de uma cultura
de educação em direitos humanos no contexto da democracia brasileira
5 | Espaço Discente | Adoção por casais homossexuais, a falta de previsão legislativa e a atua-
ção imprescindível da jurisprudência
7 | Espaço Docente | O Conselho Nacional de Justiça e a nova condição da magistratura nacio-
nal, por Gustavo Rabay Guerra
8 | Cultura | Michael Moore, o sistema de saúde público e a dificuldade de consolidação dos
direitos sociais
8 | Concursos públicos e estágios | Prefeitura de João Pessoa oferece 1.100 vagas
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linguagem do estudioso americano Owen civil homossexual, o aborto e a retirada de PONTOS POLÊMICOS DO PNDH-3
Fiss). O PNDH-3 não trata de censura: é uma símbolos religiosos dos estabelecimentos
pretensão potencializante do direito à comuni- públicos da União, conforme declaração da Direito à comunicação:
cação democrática que entende o papel deci- CNBB, que tentou uma justificativa cultural
sivo do Estado na promoção do pluralismo e pouco convincente com o fim de mitigar o -Regulamentar o art. 221 da Constituição Fede-
ral, estabelecendo o respeito aos direitos huma-
defesa dos valores de direitos humanos. O processo de laicização institucional do Esta- nos como condição de outorga ou renovação dos
dilema do governo é tentar incrementar esse do. Os movimentos feministas, por sua vez, serviços de radiodifusão;
discurso num ambiente notadamente adverso. mobilizam o governo para que não ceda às -Suspender programação e publicidade
O fato é que não foi possível agradar a gre- pressões das autoridades católicas quanto à atentárias aos direitos humanos;
gos e troianos. Numa outra vertente de inte- retirada do aborto da pauta do PNDH-3. Ao -Elaborar um ranking dos veículos de
resses, a chefia das Forças Armadas também que parece, as dimensões de “autonomia” e comunicação comprometidos com os direitos
resmunga enquanto a democracia tenta sorrir: “igualdade” têm diferenças gritantes entre os humanos, bem como os que cometem violações.
o PNDH-3 promete fazer o Estado brasileiro lados que se enfrentam.
pagar uma boa parcela de sua reconhecida Temos um futuro incerto assim como no pas- Direito à memória e à verdade:
dívida para com as vítimas do regime militar e sado permaneceu a certeza de um imobilis-
para com uma sociedade que não pode es- mo. Eleições gerais se aproximam e a ques- -Instituir a Comissão Nacional da Verdade para
apurar e trazer a público as violações de direitos
quecer da vida pregressa do poder político. A tão dos direitos humanos não pode ser escan-
humanos praticadas durante o regime militar;
memória e a verdade são prerrogativas natu- teada das propostas políticas. Diante dos -Ratificar, dando status constitucional, a
rais da justiça de transição, uma justiça que dissensos (sintoma de um regime democráti- convenção internacional que torna imprescritíveis
nunca findou na terra brasilis. A pretensa co), é importante deixar aberto um permanen- os crimes de guerra e contra a humanidade;
Comissão Nacional da Verdade (chamada por te espaço de diálogo público sobre o Progra- -Proibir a utilização de nomes de violadores de
seus opositores de “revanchista”) provoca ma Nacional de Direitos Humanos: o fato de direitos humanos em espaços públicos.
incômodos particulares porque, mais do que ele ter sido feito e refeito confirma a tese de
trazer à luz da publicidade acontecimentos rediscussões anteriores e necessárias. Daí a Política de gênero:
sombrios do regime de exceção, quer apontar razão de se indagar acerca de uma secular
sujeitos. Mas quando se falou em mexer no celeuma nacional: aprofundar as bases da -Apoiar aprovação de projeto de lei que
“acordo político” que a Lei da Anistia democracia participativa, da cidadania ativa e descriminaliza o aborto;
-Desconstruir esteriótipos acerca das
(6.683/79) representou, o resultado foi um de efetividade das garantias fundamentais ou
profissionais do sexo;
desconforto dentro do próprio governo. Por permanecer reafirmando, a cada dia, a cons- -Apoiar aprovação de projeto de lei que
enquanto, as discussões giram em torno da trução oligárquica, elitista e conservadora da reconhece a união civil entre pessoas do mesmo
ADPF 153, proposta pelo Conselho Federal nossa história? Não parece interessante, para sexo;
da OAB, que pede ao STF para interpretar a a promessa de consolidação do Estado demo- -Garantir o direito de adoção por casais
citada lei em prejuízo dos agentes do Estado crático, que a lei da inércia sirva como pano homossexuais;
que praticaram crimes comuns contra os opo- de fundo de seu dever garantista. E para
sitores do regime: os nossos vizinhos argenti- quem duvida do potencial estruturante dos Religião:
nos não relutaram em banir do ordenamento direitos humanos nas sociedades (“pós”)
uma lei que consideraram de natureza des- modernas, vale o entendimento que sintetiza -Eliminar símbolos religiosos dos
moralizante para o regime democrático. a obra do saudoso italiano citado no começo estabelecimentos públicos da União;
-Estabelecer o ensino da diversidade e história
A Igreja Católica e os grandes proprietários de deste texto: “Direitos do homem, democracia
das religiões.
terra também andam com os ânimos exalta- e paz são três momentos necessários do
dos. Estes últimos veem com bastante desa- mesmo movimento histórico: sem direitos do Acesso à justiça e conflitos fundiários:
grado o implemento de políticas de mediação homem reconhecidos e protegidos, não há
para evitar o uso imediato da força em ações democracia; sem democracia, não existem -Propor projeto de lei para institucionalizar a
de reintegração de posse - consequência de condições mínimas para a solução pacífica utilização de mediação nos conflitos agrários e
uma cultura de “desjudicialização” desejada dos conflitos”. urbanos, através de audiência coletiva com as
pelo programa. Já por parte da Igreja, “a con- partes e o poder público, preliminarmente à
cepção de pessoa humana que lhe advém da Por Douglas Pinheiro avaliação da concessão de medidas liminares
fé e da razão natural” não concebe a união douglas_jp16@hotmail.com pela justiça.

EDITORIAL
Finalmente um espaço nosso o trabalho conjunto de estudantes e professo- uma análise do PNDH-3, fruto de controverti-
res, apostando também em parcerias firmes das polêmicas, e de temas como a jurispru-
A ideia deste jornal surgiu de um trabalho com instâncias de representatividade estu- dencialização e a insuficiência legislativa e
discente sobre segurança pública. Alguém dantil, como o D.A. Tarcísio Burity, e patroci- governamental em matéria de efetividade dos
balbuciou que o CCJ precisava de um jornal nadores confiantes na função cognitiva do chamados direitos universais. Apostamos
permanente como proposta de integração jornal, a exemplo da Livraria Prática Forense, numa informação de caráter crítico capaz de
acadêmica para além das conversas costu- abre-se um leque de possibilidades que a- engendrar críticas saudáveis. Boa leitura!
meiras nos corredores da faculdade. Eis que pontam para a construção de um íntegro
as projeções lograram êxito; esperamos que espaço dialogal a nível do CCJ e (por que Os Editores
a boa repercussão também o faça. não?) para além dele.
Antes de qualquer declaração insinuosa, Os direitos humanos nortearam o tema princi- O CCJ em Ação presenteará com o livro
alertamos para o fato de que este instrumen- pal desta edição. Indagações do tipo “direitos “Direitos Humanos, direitos sociais e justiça”,
to não pertence a um grupo restrito de pesso- humanos devem existir apenas para os hu- de José Eduardo Faria (org.), o leitor que
as. O modelo organizacional existente é ape- manos direitos” e “direitos humanos só exis- enviar o melhor comentário sobre alguma
nas uma exigência burocrática mínima: en- tem para bandidos” sugerem que, mais de 60 matéria ou tema específico tratados nesta
tendendo o ambiente da faculdade como de anos após da Declaração Universal da ONU, edição. O comentário deve ser enviado para
propensão democrática, o CCJ em Ação per- o debate ainda não chegou a um estágio o email jornalccjemacao@gmail.com até o
tence a toda ela. Não se pretende firmar um maduro. Qual a importância do assunto em dia 10 de abril. Não concorrerão comentários
cerceamento de pontos de vista que devem uma época de internacionalização de direitos de pessoas que não pertençam ao CCJ ou
atender a interesses privados; a pluralidade e e de aprimoramento dos regimes democráti- que tenham contribuído, de forma direta ou
a discordância são praticamente uma regra cos interna e externamente falando? indireta, para a elaboração desta edição e da
para quem quer expor suas ideias aqui. Com Esperamos despertar a curiosidade quanto a próxima.
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ENTREVISTA - Prof. Giuseppe Tosi

“A educação em direitos humanos não deveria ser uma disciplina”


Doutor em Filosofia CCJ - Como o senhor vê a interface entre os partida para criar essa ética pública, esses valo-
pela Universidade planos de educação nos níveis fundamental, res republicanos. Nós temos a moral individual e
de Pádua (Itália) e médio e superior e as perspectivas programá- o Direito: na moral individual, cada um pode
com pós-doutorado ticas, no PNDH-3 e PNEDH (Plano Nacional de escolher a sua maneira de ser feliz na vida, e o
na Universidade de Educação em Direitos Humanos), da educa- Direito é o grande transformador social que ga-
Florença (Itália), o ção para os direitos humanos? Um plano rante o direito de todos e tem que estar orientado
professor Giuseppe integrado ou inter-referencial seria necessá- na busca dos princípios de ética pública. Numa
Tosi é coordenador rio? sociedade pluralista, é complicado ter uma ética
do Núcleo de Cida- pública porque você não pode impor um único
dania e Direitos Tosi - O Plano Nacional de Educação em Direi- modelo de vida. Mas o Direito também nasce de
Humanos da UFPB, tos Humanos, que é recente, tem cinco grandes valores, então os direitos humanos constituiriam
criado em 2006, áreas: (1) a educação básica, (2) a educação - porque são produto de grande experiência da
além de coordenar superior, (3) a educação não-formal, (4) a educa- humanidade - os princípios fundamentais a partir
o programa de pós- ção dos profissionais dos sistemas de justiça e dos quais nós poderíamos construir uma ética
graduação em Filo- segurança e (5) a educação e mídia. Na relação pública que orienta o próprio Direito. Portanto, os
sofia e de pertencer entre educação básica e educação superior, a direitos humanos não são meramente direitos:
ao corpo docente do programa de pós- proposta se orienta por alguns princípios funda- são valores ético-políticos que se traduzem de-
graduação em Ciências Jurídicas do CCJ. Tosi mentais. O primeiro princípio é o de que a edu- pois em normas jurídicas. Daí a importância da
recebeu a equipe do CCJ em Ação para tratar do cação em direitos humanos não deveria ser uma educação em direitos humanos: ela permite que,
tema “educação em direitos humanos”. Confira a disciplina, deveria ser um tema transversal, por- aos poucos, esses valores se tornem parte da
entrevista: que, se você transforma em disciplina, parece cultura para que, então, sejam enraizados na
que está voltando àquela ideia da educação maneira de ser de um povo. No Brasil, essa
moral e cívica; deveria ser um tema transversal história é recente e está muito mal contada:
CCJ - A educação é o primeiro dos direitos que atravessa várias disciplinas. Segundo, deve- precisamos criar o alicerce para uma sociedade
sociais citados no art. 6° da Constituição de ria haver uma articulação entre ensino, pesquisa em que não haja apenas progresso econômico,
1988. Nesses 21 anos da Carta Magna, como e extensão. A criação do Núcleo de Direitos mas também, como dizia Kant, um progresso
o senhor vê a evolução em nossos índices de Humanos da UFPB vai nesse sentido de criar um moral e político da humanidade.
analfabetismo, acesso à escola e qualidade núcleo que favoreça a interdisciplinaridade e a
de ensino? transversalidade do tema de direitos humanos, CCJ - O PNDH-3 tenta promover uma política
embora eu ache que, em alguns casos, como a de pluralismo própria dos regimes democráti-
Tosi - O Brasil, nesses 21 anos após a Constitui- faculdade de Direito, seja necessário também cos e é bastante incisivo no tocante à integra-
ção, evoluiu muito significativamente. Houve, criar uma disciplina específica. Mas a ideia é que ção racial. Recentemente, no STF, foram rea-
sobretudo, um grande crescimento tanto dos os direitos humanos sejam o eixo articulador do lizadas audiências públicas para discutir a
índices econômicos quanto dos sociais, mas, ensino, pesquisa e extensão e o eixo transdisci- questão das cotas raciais no processo de
mesmo com a capacidade, com a potencialidade plinar que perpasse toda a educação porque, por seleção para ingresso nas universidades.
que o Brasil tem, a educação, infelizmente, ainda exemplo, também o médico, o engenheiro e o Como o senhor vê essa questão? Acha que
não está conseguindo acompanhar esse proces- profissional da administração pública deveriam as cotas representam uma saída imediatista
so como deveria. E nós sabemos que, sem o ter uma formação em direitos humanos para respectivamente a um sistema educacional
desenvolvimento da educação, nenhuma nação adaptá-la à sua condição: a universidade forma- irresponsável ou vê um certo progresso a
conseguiu um crescimento sustentável, uma ria, ao mesmo tempo, profissionais e cidadãos. nível de equiparação entre grupos?
política que pudesse ser consistente; então a Então a educação para a cidadania deveria exis-
educação continua com um grande déficit, embo- tir tanto no ensino básico quanto no superior, Tosi - Tomemos três pontos para entender isso.
ra nós devamos considerar que, no caso do não tanto criando a disciplina que vai ter um Primeiro, a política de cotas não é inconstitucio-
ensino federal, por exemplo, é a primeira vez, conteúdo específico, mas um tema transversal e nal; é uma política que existe em outros países e
em vinte anos que eu estou nesta universidade, um conjunto de atitudes e valores, que são valo- que foi, inclusive, teorizada por estudiosos libe-
que nós temos um projeto de expansão como o res da ética pública (cidadania, respeito à coisa rais, como John Ralws e Ronald Dworkin, então
REUNI - de duplicação do ensino de graduação pública, tolerância, paz). Por isso que não pode não fere o princípio da igualdade porque trata da
e de um fortalecimento também das pós- ser só uma disciplina, ou um tema, ou um conte- idéia de igualdade de oportunidades. Segundo,
graduações. údo, mas o incentivo a atitudes de uma ética há um consenso no fato de que a política de
pública. cotas deve ser social; como diz Cristovam Buar-
CCJ - Muito se fala sobre a Constituição Diri- que, no Brasil houve um apartheid social, e não
gente. Em relação à conformação da política CCJ - Quais seriam os benefícios a médio e racial, como na África do Sul e Estados Unidos.
de educação no Brasil pela Constituição, é longo prazo de uma política arrojada de edu- Terceiro, até que ponto as cotas sociais vêm a
possível afirmar que ela obteve maior desta- cação para os direitos humanos na sociedade satisfazer as exigências das populações indíge-
que que as investidas internacionais e os brasileira? nas e negras, sobretudo, que sempre foram
meios alternativos no seu direcionamento na discriminadas? Sobre isso, há uma discussão
melhora dos níveis de educação em nosso Tosi - No Brasil existe um grande equívoco de desnecessariamente acirrada. Eu sou favorável
país? que os direitos humanos estão associados à ao fato de que, dentro dessas cotas sociais,
defesa de bandidos. Nós precisamos de uma possa haver cotas destinadas a negros e índios.
Tosi - O pacto federativo da Constituição expõe política de direitos humanos que primeiro des- Claro que essa política deveria ser universalista,
a questão dos três níveis: educação superior construa esse discurso, o que é complicado, mas nós precisamos encontrar certos atalhos
federal, ensino médio estadual e ensino básico porque, principalmente diante do fenômeno da para acelerar esse processo porque se nós for-
municipal. Talvez aí esteja o problema: o sena- violência, estão encontrando nos direitos huma- mos esperar que isso aconteça com políticas
dor Cristovam Buarque faz tempo que propõe a nos um bode expiatório e a mídia tem uma into- universalistas, vai demorar muito mais. Então
federalização do ensino básico. Eu não sei se lerância muito forte nesse sentido, identificando- essa é uma forma temporária para acelerar esse
isso interfere no pacto federativo mas, de qual- os como direitos de bandidos. Então a primeira processo de inclusão social da população negra
quer maneira, a questão é essa: o brasileiro que grande tarefa seria desconstruir esse discurso e que não fere a Constituição, não fere o princípio
nasce na Amazônia, no Nordeste, em São Paulo, construir um outro, da ética e da cidadania. Ne- da igualdade e permite uma igualdade de oportu-
dependendo da região, vai ter uma qualidade de nhum grande país do mundo, nenhuma grande nidades para uma população que até agora ficou
ensino bem diferente. Então talvez essa ideia de civilização, se construiu simplesmente com de- excluída. Deve, portanto, ser trabalhada com
federalização do ensino básico poderia criar as senvolvimento econômico, mas com referenciais bastante bom senso para que não seja criada
condições mínimas para todo cidadão brasileiro. de ética pública, então os direitos humanos, no uma expectativa de “guerra racial”.
nosso entendimento, constituem hoje o ponto de
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POR DENTRO DA UFPB E DO CCJ

A universidade representa um novo universo, litografia e galeria com exposições periódicas Iniciação Científica (PIBIC): 3216-7374;
principalmente para o fera recém–saído do abertas ao público em geral. Localizado na Iniciação à Docência (PROLICEN): 3216-
ensino médio. O site da UFPB (www.ufpb.br) Rua das Trincheiras, 275, Centro de João 7135;
dá uma boa noção de todas as possibilidades Pessoa. Fone: 3221-5038. Programa Especial de Treinamento (PET):
acadêmicas existentes na realidade dos cam- 3216-7383;
pi da instituição. A UFPB oferece, também, — Dança: Balé Popular, do Núcleo de Pesqui- Programa de Bolsa de Extensão
um leque de atividades culturais que integram sa e Documentação da Cultura (NUPPO), (PROBEX): 3216-7078;
a sociedade com o meio universitário. Campus I, aberto aos alunos da UFPB e à Assessoria para Assuntos Internacionais
comunidade em geral. Fone: 3221- 7070. (AAI, programa de intercâmbio universitá-
— Bibliotecas: A Biblioteca Setorial, localiza- rio): 3216-7156.
da na própria Faculdade de Direito (segunda — Canto: Vários grupos de canto coral vincu-
a sexta, das 08h00 às 22h00) e a Biblioteca lados à PRAC e ao Departamento de Música/
Central, ao lado da Reitoria (segunda a sexta, CCHLA.
das 07h30 às 21h30, e sábado, das 8h00 às
13h00). O web site da Biblioteca Central é — Música: Cursos oferecidos pelo Departa-
www.biblioteca.ufpb.br. mento de Música/CCHLA, nas modalidades:
Violão; Violino; Flauta doce; Flauta transver-
— Teatro: Núcleo de Teatro Universitário sa; Clarinete; Sax; Contrabaixo; Piano; Musi-
(NTU), no Teatro Lima Penante, localizado na calização Infantil. Fone: 3216-7122.
Av. João Machado, 67, Centro de João Pes-
soa. Fone: 3221-5835. Oferece cursos e ofici- Além de tudo isso, a UFPB desenvolve pro-
nas em artes cênicas para estudantes e pes- gramas de pesquisa, extensão, treinamentos
soas da comunidade. especiais, intercâmbios acadêmicos etc. Al- O site do Centro de Ciências Jurídicas
gumas dessas atividades oferecem bolsas (www.ccj.ufpb.br) também oferece importante
— Cinema e Vídeo: O Núcleo de Documenta- para o aluno (concedida após seleção prévia) contributo na busca de informações sobre o
ção Cinematográfica (NUDOC) disponibiliza e são fundamentais para cumprir a carga CCJ.
periodicamente cursos teóricos e práticos de horária extracurricular do curso de direito. É _______________________________________
cinema e vídeo para estudantes. Localizado importante não limitar a vida acadêmica às A partir da próxima edição, o CCJ em Ação
no térreo da Reitoria, Campus I, fone: 3216- aulas do dia-a-dia. disponibilizará espaço para que os grupos de
7382. pesquisa, extensão e prática jurídica do Centro
— Telefones úteis: deixem a comunidade acadêmica a par de suas
— Artes Plásticas: Núcleo de Arte Contempo- atividades.
Por Alysson Guerra
rânea (NAC), que possui ateliê, biblioteca, Estágio e Monitoria: 3216-7383;
alyssonsg@msn.com

ESPAÇO DATAB (Diretório Acadêmico Tarcísio Burity)


O DATAB exerce um informativo e bastante útil. Ocorrem também — DATAB Social
relevante papel pe- palestras sobre as diversas carreiras jurídicas:
rante o Centro e seus um momento importante para a orientação profis- O DATAB, Diretório Acadêmico Tarcísio
estudantes. É de sua sional. Burity, dentro de suas atribuições, busca reali-
imediata responsabili- zar doações a instituições carentes. Para o
Data: 15, 16 e 17 de março.
dade representar o início do período 2010.1 alguns membros
Local: Auditório do CCJ-Campus I
interesse do corpo realizaram uma visita à Casa da Misericórdia.
discente do CCJ, — II Olimpíadas Jurídicas DATAB Tal estabelecimento abriga muitas crianças e
auxiliando-o e benefi- suas respectivas mães. Lá se encontram mu-
ciando-o em sua reali- As Olimpíadas Jurídicas, evento esportivo lheres que já foram viciadas em drogas ou
dade de curso, em organizado pelo DATAB, se configuram como álcool, além daquelas que não mostravam
toda sorte de vicissitudes e necessidades. Como uma forma de integração dos diversos alunos condições econômicas para sustentar seus
tal, participou da construção do novo Projeto que formam o Centro de Ciências Jurídicas, filhos. Ficou evidente um trabalho muito impor-
Político Pedagógico (PPP), com uma grade curri- inclusive os calouros. Para isso, são promovi- tante para a vida dessas pessoas, com a reali-
cular mais ampla, mas flexível, que fomente uma dos campeonatos de diversos esportes, tanto zação de oficinas de artesanato e pintura e,
maior e mais espontânea assimilação dos conte- para o público masculino quanto para o femini- também, de momentos de evangelização diá-
údos por parte dos estudantes. Fomenta a inte- no, como vôlei de casal, futsal e dominó de rios. Dentre as necessidades da instituição
gração dos estudantes de Direito, através do dupla. Assim, há o objetivo de proporcionar estão itens de higiene pessoal, alimentação e
Encontro Regional dos Estudantes de Direito momentos de lazer para os discentes, aliando a dificuldade financeira com o transporte para
(ERED) e do Encontro Nacional dos Estudantes o trabalho da mente, conseguida na vida aca- as crianças. Assim, o Diretório Acadêmico
de Direito (ENED). Incentiva a cultura, o esporte dêmica, com o trabalho do corpo. decidiu ajudá-los promovendo uma campanha
e o lazer: Semana do Fera, Seminário de Direito de doações, se juntando a outra instituição já
Público e Privado do CCJ, Olimpíadas Jurídicas Data/local: 10, 11, 24 e 25 de abril na UFPB; ajudada pelo DATAB: Bom Pastor. Além da
DATAB e Copa Fera de Futsal. Início das Inscrições: 08 de março, com procura de patrocinadores dentre diversas
qualquer membro DATAB; empresas, como supermercados e atacados,
— Semana do Fera Premiação: troféus e medalhas; essa campanha se estende também à carida-
Modalidades: futsal, dominó, tênis de mesa, de dos alunos do Centro de Ciências Jurídicas
A Semana do Fera é um evento acadêmico orga-
winning eleven e vôlei de casal. que se dispuserem a ajudar; não apenas os
nizado pelo DATAB que objetiva integrar os ca-
louros com a realidade do CCJ e da UFPB. Há a calouros, no trote, mas todos que queiram
Será exigido, no ato da inscrição, comprovante abraçar essa causa nobre. Portanto, essas
participação de membros da Direção, Coordena-
de matricula (histórico escolar, horário indivi- doações poderão ser entregues a qualquer
ção e Departamentos, visando familiarizar o alu-
dual ou declaração fornecida pela UFPB) no membro do DATAB, que encaminhará os do-
no que adentra a faculdade com o funcionamen-
Curso de Direito, salvo os casos do dominó e nativos às instituições.
to administrativo do Centro. Na ocasião, é entre-
do vôlei de casal.
gue o chamado “Manual do Fera”, um folhetim
CCJ EM AÇÃO — ANO 1 — Nº 1 PÁGINA 5

ESPAÇO DISCENTE

Adoção por homossexuais e a evolução do conceito de família


Antes de qualquer coisa, é necessário elucidar e apresentou os seguintes resultados: diversidade”, compõe, juntamente com outras
delimitar alguns dos termos que envolvem o as- vinte e quatro, o dito Programa, que é fruto do
— A Holanda é o único país em que um casal
sunto em questão. Sendo assim, sob o nosso Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de 2009, e
homoafetivo pode adotar uma criança;
enfoque, é homossexual o indivíduo que, sentin- que, além da adoção homoafetiva, prevê ações
— Apenas os dinamarqueses e os holandeses
do-se confortável com seu próprio sexo, sente-se programáticas envolvendo outras matérias con-
têm legislação que permite explicitamente a
atraído ou mantém relações afetivas com indiví- cernentes à questão de gênero, a exemplo da
adoção de uma criança pelo parceiro homosse-
duos do mesmo sexo. É válido ressaltar, também, união civil entre pessoas do mesmo sexo. No que
xual do pai ou mãe da criança;
a diferença entre os termos homossexualidade e tange à adoção por casais homossexuais, o PN-
— A Holanda, Inglaterra e o País de Gales e, em
homossexualismo, sendo este utilizado pelo Con- DH-3 atribui a responsabilidade da promoção de
menor extensão, a Alemanha, permitem aos
selho de Medicina Federal do Brasil até 1985 e ações ao Ministério da Justiça, à Secretaria Espe-
casais homoafetivos partilhar a autoridade pater-
pela Organização Mundial de Saúde até 1991, cial dos Direitos Humanos da Presidência da
na ou materna;
quando essa orientação sexual não era conside- República, bem como à Secretaria Especial de
—Alemanha e Dinamarca são os únicos países
rada “saudável”, uma vez que o sufixo “ismo” está Políticas para as Mulheres da Presidência da
em que a lei limita o acesso de mulheres em
relacionado à doença. Ainda, a homoparentalida- República. Além disso, estipula que caberá ao
relacionamentos heterossexuais a tecnologias
de, designação utilizada pela primeira vez em Judiciário a realização de campanhas visando à
reprodutivas.
1997, em Paris, pela Associação de Pais e Futu- sensibilização de juízes a fim de se evitar precon-
ros Pais Gays e Lésbicas (APGL, como é conhe- ceitos nos processos que envolvam adoção por
cida no exterior), é tomada aqui como a situação Enquanto isso, os Estados Unidos, no continente casais homossexuais. Enquanto isso, ao Legisla-
em que ao menos um adulto, que se reconheça americano, contam com muitos entes federativos tivo caberá elaborar projeto de lei objetivando
homossexual, é (ou pretende ser) pai de, ao me- em que há a ausência de leis ou decisões judici- garantir o direito daqueles casais a partir da posi-
nos, uma criança de forma a compor uma família. ais específicas para o caso. Por outro lado, de tivação da matéria.
Porém, a ideia de família ocidental é fundada em acordo com relatório do The Urban Institute, onze No entanto, embora não haja diploma legal espe-
uma entidade “natural” dotada, em sua maioria, estados, além de Washington D.C., expõem que cífico a regulamentar a matéria, identificamos
de uma estrutura nuclear composta por pai ho- a orientação sexual não pode funcionar como dispositivos constitucionais nesse sentido, a e-
mem, mãe mulher e filhos. Tal estrutura é classifi- uma barreira legal para a adoção por gays ou xemplo do artigo 227, o qual atribui à família e à
cada como “natural” por estar em conformidade lésbicas. Em contrapartida, três estados daquele sociedade, concorrentemente ao Estado, o dever
com as leis biológicas, segundo as quais são mesmo país possuem leis que proíbem os ho- de assegurar à criança e ao adolescente a convi-
necessários o espermatozóide do homem e o mossexuais de adotar crianças. Embora o Missis- vência familiar, dentre outras garantias. Desta
óvulo da mulher para que haja a fecundação com sippi permita a adoção por gays e lésbicas soltei- feita, a adoção figura como um dos possíveis
consequentes formação e desenvolvimento de ros, veda que esta seja realizada por casais for- caminhos para que tal dever seja efetivamente
uma criança. Na Antiguidade romana, a ideia de mados por indivíduos do mesmo sexo. Nessa cumprido. Logo, os obstáculos que são postos
família abrangia não só pais (homem e mulher) e mesma linha, Utah impõe uma proibição indireta neste percalço aos casais homoafetivos, bem
filhos biológicos, mas todos aqueles que se en- ao apresentar um estatuto que barra a adoção como aos homossexuais individualmente consi-
contravam sob a tutela do pater, que era o chefe por todos os casais que não estejam unidos pelo derados, são um grave atentado aos preceitos de
do grupo. Com o perpassar do tempo, essa no- casamento. A Flórida é o único estado que veda liberdade, justiça e solidariedade, aclamados no
ção passou a ser mais restrita, vinculando tão especificamente aos homossexuais o direito de inciso I, artigo 3º, da nossa Carta Magna, e en-
somente os genitores e seus descendentes. Mas, adotar uma criança. Nos demais trinta e seis contram respaldo unicamente em uma cultura
com a Idade Média e a forte religiosidade a ela estados, os gays ou lésbicas que querem adotar homofóbica, centrada naquele modelo de família
atrelada, passou-se a prezar pelo casamento uma criança são deixados à mercê dos juízes, nuclear e heterossexual. Além da Constituição
enquanto sacramento como base do grupo famili- bem como das agências de adoção e, mesmo Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente
ar. Dessa forma, vida conjugal e vínculos biológi- que se aponte que sessenta por cento daquelas traz a questão de forma implícita em seu texto ao
cos passaram a ser as palavras-chave. agências aceitam os requerimentos de homosse- vedar, no artigo 29 do mesmo, a colocação do
Foi com a Revolução Francesa que o conceito de xuais, estes, frequentemente, enfrentam outras adotando em família substituta que se revele
família entrou para a área de abrangência do barreiras durante o processo.Quanto à aceitação incompatível com a natureza da medida ou que
Direito, visto que o casamento deixou de ser sa- por parte da população, uma pesquisa realizada não disponha ambiente familiar adequado. Por-
cramento para transmutar-se em contrato civil. em março de 2006 pelo Pew Research Center tanto, não faz referência à orientação sexual, mas
Ainda, com o Código Napoleônico, reforçou-se a apontou que quarenta e seis por cento dos ameri- tão somente a um “ambiente familiar adequado”,
premissa de subordinação da filiação ao casa- canos apóiam a adoção por gays e lésbicas, em de forma que não traz em seu bojo vedação ex-
mento, tomando o pai como o marido da mãe. contraposição aos trinta e oito por cento de 1999. plícita à adoção por pessoas ou casais que se
Contudo, a família nuclear, heterossexual e mo- Além do apoio da população civil, a questão rece- assumam homossexuais.
nogâmica que conhecemos hoje data do século be a aceitação de diversas organizações tais Além do citado artigo 29, temos ainda o artigo 19,
XIX, como fruto de uma lenta evolução jurídico- como The National Adoption Center, The Ameri- que apresenta redação no sentido de comple-
sociológica, e que, no entanto, ainda é objeto de can Medical Association, American Psychological mentar o disposto no artigo 227 constitucional,
acalorados debates. Portanto, depois de nos Association e The American Academy of Pedia- pois nos introduz a noção do que vem a ser con-
situarmos histórica e terminologicamente, é preci- trics, as quais declaram que ter pais homossexu- vivência familiar. Por tudo isso, a adoção, sendo
so partir para uma abordagem macro da questão ais em nada afeta o desenvolvimento normal e um ato de amor e, além disso, uma opção, deve
ora apresentada, de maneira a rompermos nos- sadio da criança. se libertar de posturas meramente preconceituo-
sos limites territoriais e ousarmos a ponto de Assim como em alguns estados norte-americanos sas que não apresentam respaldo jurídico, socio-
atingirmos, inclusive, outros continentes, dada a e em alguns países europeus, o Brasil não dis- lógico ou psicológico algum e servem de barreira
sua importância. pensa tratamento específico à matéria. De acordo apenas ao nosso desenvolvimento enquanto
É nesse sentido que encontramos no continente com o nosso princípio constitucional da legalida- sociedade e enquanto cidadãos. Aproveitemos
europeu a já citada Associação de Pais e Futuros de, uma vez que não há lei que veda a adoção as discussões acerca do PNDH-3 para enterrar-
Pais Gays e Lésbicas da França, que foi fundada por homossexuais ou casais homoafetivos, esta mos de uma vez por todas essa homofobia enrai-
em 1986 e tem por objetivo principal auxiliar o não pode ser levada para o campo da ilegalidade. zada em nossa cultura heterossexual e conserva-
homossexual ou o casal homoafetivo em ques- Em face dessa situação, a Secretaria Especial dora desprovida de qualquer fundamento científi-
tões que envolvam a sua orientação sexual e o dos Direitos Humanos da Presidência da Repúbli- co e priorizarmos a efetivação dos direitos e ga-
desejo de adotar uma criança. Ainda, foi realizado ca elencou a “Garantia do respeito à livre orienta- rantias previstos constitucionalmente a crianças e
um estudo de vinte páginas pelo Departamento ção sexual e identidade de gênero” como um dos adolescentes de forma indistinta.
de Assuntos Europeus do Senado francês a fim objetivos estratégicos da décima diretriz do seu
de comparar as legislações de alguns países Programa Nacional de Direitos Humanos ou,
europeus no que dizem respeito aos direitos de como é comumente conhecido, o PNDH-3. Tal Por Ariadne Costa
pais gays e lésbicas. Em linhas gerais, o estudo diretriz, denominada “Garantia da igualdade na ariadne.costa@hotmail.com
CCJ EM AÇÃO — ANO 1 — Nº 1 PÁGINA 6

ESPAÇO DISCENTE

A representação e o porquê da cidadania ativa e do Estado garantista


Em uma sociedade desiludida pela repre- Isso traz algo muito mais profundo ao deba- uma participação conjunta com os cidadãos.
sentação política, como a nossa, existe um te e poderia ser trabalhado a partir de uma Mas essas atividades são congêneres e não
sentimento de indiferença a tal ponto que outra pergunta: “se um deus perfeito tivesse podem se diferençar entre deliberativas e
não conseguimos identificar porque a repre- a compaixão de nos governar, nós abando- garantistas de modo a representar uma
sentatividade é legítima. Poderíamos res- naríamos a democracia?”. A maioria diria independência de percurso: elas se interpe-
ponder: “porque uma democracia direta é que sim. Por quê? Porque a confiança na netram para a formação de um modo de
impraticável”. Mas essa justificativa não democracia vem da confiança na racionali- vida democrático. A inclusão deliberativa
explica de modo satisfatório o seu vínculo dade no uso do poder (uso do poder em prol sem garantismo dos direitos é impulso ingê-
de legitimidade em nosso consciente porque do bem comum) e, em nossa hipótese, o nuo e está sujeita a todos os defeitos demo-
ela é demasiado pragmática. Bobbio diz que deus governante venceria esse quesito. E cráticos apontados pelos antigos e moder-
a governabilidade de um regime monárquico essa é a fonte da desilusão: o conflito entre nos. Estado de direito sem aprofundamento
é bem maior do que a de um democrático, voluntarismo e racionalidade na democraci- democrático se arrisca como joguete retóri-
já que as decisões daquele partem de um a. Nossa experiência histórica nos levou a co de autoritarismo e populismo. A consci-
único governante, acelerando o processo ditar a esse meio ortodoxo democrático a ência dos/para os direitos depende de uma
decisório. Não apoiaríamos a monarquia construção do Estado de Direito e de uma compreensão da experiência como ponto de
pelo fato de ela ser mais praticável. A res- saída deliberativa da política pela cidadania encontro entre o conhecido e o desconheci-
posta mais aceitável seria a consciência de ativa. do, assim como da relevância do papel das
um poder que vem de baixo. Negamos, A práxis do aprofundamento democrático novas (e velhas) instituições para a efetiva-
assim, a autocracia. Isso porque os gover- pode ser mais atual do que parece. Fenô- ção dessa hermenêutica filosófica no direito
nantes e governados passam a comungar menos como o ativismo judicial, o neo- e na política, da política no direito e do direi-
de uma fonte de identidade que vem de constitucionalismo, o pós-positivismo e a- to na política. A discussão agora gira em
baixo pra cima. Mas caímos numa aporia da ções de compromisso republicano entre os torno de saber se, em um clima de pós-
maioria - a tirania da maioria, ou seja, um três poderes expõem os novos rumos do modernidade, poderemos, por meio desses
esmagamento das bases da minoria des- Estado de Direito; a ascensão dos novos novos mecanismos democráticos, retornar a
qualificada politicamente pelo bloco ideoló- sujeitos políticos como os movimentos soci- uma racionalidade prática na política, ou,
gico da maioria. Ocorre que, então, deve-se ais, a Campanha Nacional em Defesa da pelo menos, ao otimismo na democracia.
atentar à pluralidade, que nega o abuso da República e da Democracia, com patrocino
monocracia. Dai a legitimação: a represen- da OAB Federal, desde 2004, e municípios
tação assegura um governo plural e por com Orçamentos Participativos (OP) e con- Por Yure Tenno
decisão popular. Então por que a desilusão? selhos comunitários retratam o esforço para yuretenno@gmail.com

Mensagens subliminares e a proteção ao consumidor


O mercado da propaganda usa de muitos projeção foi feita de forma mais rápida que o Certo que o inconsciente não pode obrigar
artifícios para induzir o consumo. Um deles consciente humano pode notar. As imagens um indivíduo a fazer algo que normalmente
é a mensagem subliminar. Nosso subcons- projetadas foram as frases “Drink Coke” e não faria, mas certamente pode influenciá-lo
ciente pode percebê-la através da visão e “Eat Popcorn”. O experimento foi realizado nas suas decisões. E o consumidor nem
da audição. O fato é que, quando estamos novamente dias depois. O resultado compu- mesmo tem consciência dessa influência.
andando na rua, assistindo a um filme, es- tado foi um aumento de 57,7% nas vendas Podemos dizer que, a nível de ordenamento
cutando uma música ou olhando uma foto, de refrigerante e 18,10% nas de pipoca. jurídico, existe uma proibição principiológi-
nossa atenção está voltada para determina- Essa experiência é prova de como as men- ca. Permitir é tolerar que o consumidor não
dos aspectos; mas o subconsciente absorve sagens subliminares induzem o consumo, tenha mais opção de escolha na compra de
todas as percepções perdidas pelo consci- manipulando as escolhas humanas. Tam- produtos. É tolerar o cerceamento de certas
ente. A informação fica guardada no nosso bém são muito empregadas as mensagens liberdades. Ainda o Código de Ética dos
cérebro e mais tarde pode influenciar nos- sonoras em baixa freqüência nos supermer- Profissionais de Propaganda, no art. 20,
sas decisões. Qualquer tipo de informação cados; usualmente são sentenças imperati- ressalta que a propaganda deve ser sempre
pode ser implantada no cérebro humano vas, transmitidas de modo que apenas o ostensiva. Os profissionais deveriam prezar
sem que exista consciência de que aconte- subconsciente perceba, que incentivam o pela propaganda sem enganações.
ceu. Os filmes da Disney são famosos por consumo de determinados produtos. É mes- De fato, não existe uma legislação incisiva
usar o recurso de inserção de imagens. A mo ético usar desses artifícios? Manipular sobre o assunto. Em outros países as pro-
imagem é escondida a cada 24 quadros, é o as escolhas humanas não é uma forma de pagandas subliminares são mesmo proibi-
mínimo que o olho humano é capaz de per- limitar o livre-arbítrio? das. Na Espanha, por exemplo, a Lei Geral
ceber. Acontece que não é a percepção O ordenamento nacional não fala direta- de Publicidade caracteriza as mensagens
consciente que absorve aquela informação. mente sobre mensagens subliminares. No subliminares como forma de propaganda
Ela fica guardada no inconsciente, latente, entanto, o Código de defesa do Consumi- ilícita. No entanto, o fato é que o art. 36 do
pronta para influenciar qualquer decisão dor, no art. 36, diz que a publicidade deve CDC condena essa prática. Se se diz que o
futura. Na verdade o que essas propagan- ser veiculada de modo que o consumidor consumidor tem direito de conhecer a pro-
das fazem é achar uma maneira de ludibriar tenha conhecimento de que está submetido paganda a que está sendo submetido, não
o cérebro para colocar uma informação na a um tipo de propaganda. Ora, o princípio existe espaço para a mensagem subliminar.
cabeça dos consumidores. Uma informação das mensagens subliminares é a inconsci-
valiosa para algum empresário. ência do fato. Logo, só se pode inferir que a
O exemplo mais marcante referente a essa propaganda subliminar fere o direito do con-
questão foi o experimento realizado em sumidor de identificar a propaganda veicula-
1956 por Jim Vicary, um especialista em da. A verdade é que é preciso existir bom
marketing. Ele instalou um segundo projetor senso; esse tipo de propaganda limita o Por Manuela Braga
durante a exibição do filme Picnic: essa direito de escolha do consumidor. manuelabraaga@gmail.com
CCJ EM AÇÃO — ANO 1 — Nº 1 PÁGINA 7

ESPAÇO DOCENTE - Prof. Gustavo Rabay Guerra*

O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA E A NOVA CONDIÇÃO


DA MAGISTRATURA NACIONAL
No início de 2006, o Plenário do Supremo o parlamento adotou outro sistema: aprovado discurso em torno da igualdade política entre
Tribunal Federal (STF) considerou constitu- como órgão de “controle externo”, no bojo da os cidadãos mudou o panorama de governo
cional a Resolução 7 do Conselho Nacional chamada reforma do Judiciário, o CNJ é com- nos países democráticos, pois agora aqueles
de Justiça (CNJ) que regulamenta a proibição posto por juízes, de diferentes níveis, inte- antes excluídos do poder de decisão estavam
do nepotismo na Justiça Estadual. Apenas grantes do Ministério Público, da Ordem dos aptos a opinarem e defenderem seus interes-
com um voto contrário, a Corte reconheceu o Advogados do Brasil e dois representantes do ses.
poder do CNJ para regulamentar essa maté- Congresso Nacional (um da Câmara dos De- Assim, na busca por diretrizes para a constru-
ria. A decisão, embora não tenha sido unâni- putados, outro do Senado Federal). ção de uma participação cidadã no âmbito do
me, deu vida e voz ao novo órgão de No entanto, ainda que superada essa barreira Judiciário, a partir do CNJ, é preciso realizar
“controle externo” do Judiciário, que contava de se inserir no Conselho membros estranhos algumas reflexões que o tema evidencia,
com pouco mais de seis meses de existência, à magistratura (sem que tal configurasse vio- como a ideia de que a proposta de um contro-
ao tempo do julgamento do STF. Na senda da lação à cláusula da separação dos poderes), le externo do Judiciário sempre foi vista como
Emenda Constitucional 45, de 2004, o CNJ foi ao longo de 2 anos de atuação efetiva e a uma possibilidade de democratização desse
efetivamente instalado em junho de 2005. Em recente alteração dos membros que com- segmento do poder público, reconhecidamen-
novembro de 2005, ao editar a resolução põem a instituição, é fácil se concluir que o te autoritário e corporativista.
relativa ao nepotismo, o CNJ tocou no delica- simples fato de que a presença de represen- Os primeiros desafios do CNJ levaram a ver-
do tema que aflige o serviço público brasilei- tantes de outras “carreiras jurídicas”, além dadeiras transformações do sistema de justi-
ro: a contratação de parentes de até terceiro dos dois indicados pelo Congresso Nacional, ça, tais como a criação de políticas públicas
grau de juízes e outros integrantes do Judiciá- não é suficiente para atestar a legitimidade do Judiciário; o plano de mutirões nos presí-
rio estadual para ocupar cargos de confiança. democrática do Judiciário, que a instituição dios e a devida atenção à justiça criminal em
Além de autorizar o Conselho a editar normas almeja acrescer à esfera pública. Nos dias geral; os expedientes regulamentares, com a
de amplo raio de efeitos, a mencionada deci- atuais, sob a presença, de uma brutal expan- elaboração do Código de Ética da Magistratu-
são do STF é sugestiva da legitimidade do são do poder do Judiciário, cujo reflexo mais ra e a edição de inúmeras resoluções que
órgão enquanto instituição democrática e visível é a excessiva judicialização das rela- incidiram nos mais diversos segmentos; a
criada para proporcionar um controle social ções sociais e da política, se faz cada vez transparência e aprimoramento da gestão
dos serviços do Judiciário. mais emergencial o aperfeiçoamento da fun- estratégica dos tribunais, com a instituição de
A Associação Brasileira dos Magistrados ção de julgar, no sentido de dotar esse seg- metas em que a celeridade e a prestação de
(AMB), a Ordem dos Advogados do Brasil mento da atuação estatal de melhores práti- contas foram a tônica essencial; e, principal-
(OAB), além de outras associações de classe cas que assegurem o exercício da jurisdição mente, o exercício exemplar da Corregedoria
correlatas perceberam a importância do CNJ com respeito à cidadania e corrigindo-lhe Nacional de Justiça do CNJ, no uso de sua
a partir dessa construção de um conjunto de distorções históricas que, não raro, conduzem atribuição fiscalizadora, apontando e des-
normas de moralização do Poder Judiciário. ao autoritarismo ainda bem identificado com a constituindo descalabros e desvios, que cul-
O Conselho passou a ter seu lugar sob o sol postura de alguns juízes. minou com a punição de vários magistrados
das instituições políticas democráticas. No Sem dúvida, a experiência de controle demo- em todo Brasil. Nesse particular, é preciso
sentido do que propõe Canotilho, "o elemento crático da Administração da Justiça precisa refletir se a independência judicial foi incre-
democrático não foi apenas introduzido para trilhar um longo caminho para contar com a mentada às custas de uma ´caça às bruxas´;
´travar´ o poder (to check the power); foi tam- participação da sociedade. Essa é uma pre- e se essa atividade repressiva abalou indire-
bém reclamado pela necessidade de legitima- missa importante para a validação de sua tamente a própria independência dos juízes.
ção do mesmo poder (to legitimize the po- própria concepção. É preciso refletir sobre as Muitas mazelas ainda sobram ao Judiciário,
wer)." Seria essa, então, a função do Conse- verdadeiras possibilidades de democratização mas, aprendendo com seus próprios erros e
lho Nacional de Justiça: legitimar democrati- do Judiciário, de modo a consagrar a legitimi- acertos, o sistema judicial e os conselhos
camente a atuação da função judicial, aproxi- dade da atuação dos órgãos jurisdicionais, a nacionais de Justiça e do Ministério Público
mando-a da sociedade. partir de um diálogo com a cidadania ativa, estão propiciando uma verdadeira revolução
Como idealizado, o CNJ é encarregado da tendo como interlocutor primordial o CNJ, que do modo-de-ser do Estado judicial e amplian-
fiscalização das gestões administrativa e fi- ao lado do Conselho Nacional do Ministério do as impressões acadêmicas e profissionais
nanceira dos tribunais e do controle da atua- Público (CNMP), se torna paradigma para um da onda efetivista do processo, ressigificando
ção e da conduta dos magistrados. Entre modelo de controle das instituições em geral, a ideia de acesso à justiça. O CNJ representa
suas principais atribuições, exerce o poder de em que pese o fato de que o funcionamento um protagonista central que incrementa a
editar atos normativos de repercussão abran- desses órgãos tem sido pautado em questões judicialização da vida social e do mundo polí-
gente (resoluções) e de decidir controvérsias corporativas e de interesse primário dos pró- tico. Segundo dados do Corregedor-Geral do
individuadas (procedimentos administrativos prios integrantes da carreira. Afastar o contro- Poder Judiciário, a demanda cresceu quase
em geral). Em sua origem, enquanto proposta le do Judiciário de uma forma compreensível 5.000% em apenas um ano. O próprio Conse-
de emenda à Constituição, foi objeto de con- de participação social descaracteriza sua lho instituiu um programa de pesquisas sobre
centrado lobby por parte dos magistrados, razão de ser. Em sua trajetória histórica, a esse novo cenário. Oxalá os próprios magis-
inclusive pela tentativa mal sucedida da AMB democracia sempre esteve associada à no- trados se conscientizem das novas regras do
de convencer os parlamentares e a opinião ção de cidadania exercida pelo povo. Para jogo e de sua nova condição.
pública de que o CNJ interferiria na indepen- denominar-se democrática, uma nação ne-
dência do Judiciário, chegando o STF a deci- cessita efetivar a participação de sua popula-
dir que o órgão deveria ser composto apenas ção. A cidadania inclusiva, sondada por Ro-
de juízes. Membros do Ministério Público e da bert Dahl como uma instituição necessária
OAB (incluídos na composição do Conselho) para a democracia em grande escala, foi a-
poderiam apenas denunciar eventuais irregu- quela que mais demorou a ser implementada * Gustavo Rabay é professor do CCJ/UFPB,
laridades detectadas, mas sem ter o direito de na sociedade. Diz respeito à participação de advogado, mestre em Direito pela UFPE e
votar em processos que apurassem a respon- toda a população no processo democrático, doutorando e pesquisador da Faculdade de
sabilidade e eventuais falhas dos juízes. Mas que só se tornou possível no século XX. O Direito-UnB.
CCJ EM AÇÃO — ANO 1 — Nº 1 PÁGINA 8

CHARGE CULTURA
Michael Moore, o sistema de saúde público e a dificul-
dade de consolidação dos direitos sociais

A partir da Constituição de 1988, a saúde foi


descrita como um direito fundamental garan-
tido pelo menos do ponto de vista teórico.
Dentre os diversos artigos constitucionais
que tratam do tema, os de número 196 e
198, inciso II, provam que o acesso aos
serviços públicos de saúde é um dever im-
posto ao Estado, de modo que este não
pode abster-se de cumpri-lo. Tendo como
garantia a nova perspectiva dos direitos
sociais, vem crescendo a demanda de pro-
cedimentos judiciais contra os entes federa-
tivos com a finalidade de realizar procedi-
mentos cirúrgicos, fornecer medicamentos e
custear tratamentos médicos de alto valor.
Um exemplo é o caso descrito em um julga-
mento do Agravo de Instrumento nº 1.0024.07.440744-6/001, pelo
TJMG, em 2007, em que um único paciente requisitava ao estado de
CONCURSOS PÚBLICOS E ESTÁGIOS Minas Gerais o valor de U$ 30.000,00 (dólares norte-americanos) para
que adquirisse uma dúzia de doses do medicamento PanHematin –
· Prefeitura de João Pessoa Data: O candidato será informado 313 mg.
Concurso Público com 1.100 vagas acerca do dia, hora e local de apli- Existe uma dicotomia quando tratamos dessa questão. Aqueles que
para servidores da Secretaria Muni- cação das provas mediante aviso são contrários à efetivação indiscriminada e plena do direito à saúde
cipal de Saúde. publicado no Diário da Justiça. alegam que o Estado não tem obrigação de cumprir com esse dever
constitucional. Custear individualmente as enfermidades de cada cida-
Cargos: Médicos e Cirurgião Den- dão pode se tornar demasiadamente oneroso, tendo como base desse
Gostaríamos de parabenizar to- raciocínio o princípio da reserva do possível. Para além disso, alega-se
tista Buco-maxilo-facial com carga
dos os alunos do CCJ aprovados que as normas constitucionais relacionadas ao direito à saúde são de
horária de 30h ou 10 plantões,
no concurso da Justiça Federal! conteúdo programático, e que, por isso, não podem nem precisam ser
(remuneração de R$ 5.000,00);
Segue a lista: efetivadas de imediato. Aqueles que são a favor da plenitude do direito
Nível Superior com jornada de tra-
à saúde alegam que o Poder Público não pode se esquivar de sua
balho de 40h semanais
DIEGO TAGLIETTI GILVANIA DIAS obrigação de efetivar um direito fundamental, sob ameaça de tal atitu-
(remuneração de R$ 1.519,76); de caracterizar uma inconstitucionalidade. Um dos partidários desse
Nível Médio Técnico com 40h se- RAFAEL MARINHO FERNANDO NETO
entendimento é o Ministro do STF Celso de Mello, que se pronunciou
manais (remuneração de R$ PLINIO DE CASTRO RAFAELA MENEZES do seguinte modo durante o julgamento do Agravo de Instrumento nº
867,89) e Nível Médio com 40h ANNA CAROLINA WARLEM TELES 699767-RS:
semanais (remuneração de R$ ANNA TEREZA HELITON FIGUEIREDO
811,50). BRENO HONORATO JUSSARA ARAUJO O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atua-
DALLIANA VILAR ção no plano da organização federativa brasileira, não pode se mostrar
Inscrições: Internet, de 1 de março WELANIO GUEDES indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir,
de 2010 a 26 de março de 2010 - PEDRO LEITE ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconsti-
www.ibfc.org.br. PRISCILLA RIBEIRO tucional. Saliente-se, também, que a regra contida no art. 196 da Cons-
LARISSA LINS tituição tem por destinatários todos os entes políticos que compõem,
Valor da inscrição: Varia de R$ no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro
GABRIELA DE AVILA
60,00 para níveis médio e médio
técnico a R$ 100,00 para nível ZUILA HELLENA
Essa é uma discussão bastante polêmica. Se você se interessou pelo
superior e médicos e cirurgiões JHEAN KARLOS
o tema, assista ao documentário “Sicko – SOS Saúde” (2007) do cine-
dentistas. RAFAEL FECHINE asta americano Michael Moore. No vídeo de 123 minutos, Moore de-
RAFAELLA DE MELO fende, bastante entusiasmado, o acesso pleno e gratuito ao sistema de
Data: A prova objetiva será dia 25 MARINA FREITAS saúde público, fazendo um comparativo entre diversos países, mos-
de abril de 2010. Os locais e o ho- FELIPE PIRES trando realidades caóticas e outras próximas da perfeição. O governo
rário serão publicados no Semaná- DAYNNA BEATRIZ norte-americano é praticamente massacrado pela câmera de Moore: o
rio Oficial do Município de João ELIS NOBRE cineasta mostra um Estado omisso no que diz respeito às políticas de
Pessoa-PB e na internet, nos sites ADILIA DANIELLA saúde pública que deixam como única opção aos seus cidadãos os
da Prefeitura Municipal e do Institu- LUANA RIBEIRO planos de saúde privados, com preços abusivos e péssima assistência
to Brasileiro de Formação e Capa- YANA ALMEIDA - situação semelhante à nossa. Por outro lado, o diretor viaja para ou-
citação, em 19 de abril de 2010. CHARLES ALBERTO tros países como França, Inglaterra e, ironicamente, Cuba, o grande
rival americano. Em todos esses destinos, uma realidade completa-
PRISCILA LOPES
— Ministério Público Estadual mente oposta à dos Estados Unidos é revelada; a saúde pública é
ANNA ANITA gratuita e de qualidade. Apesar de um pouco sensacionalista e mani-
(PB)
RENATA PATRICIA pulado, “Sicko” abre uma intrigante discussão sobre esse delicado
JOAO PAULO tema. A situação brasileira não é abordada no documentário, mas, nem
Cargo: Promotor de Justiça substi-
tuto (20 vagas). PEDRO HENRIQUE por isso, o mesmo deixa de ser um ótimo parâmetro de análise. Assista
BRUNO TORRES e reflita!
Inscrições: Internet LAYSE NEGROMONTE
(www.mp.pb.gov.br) ELAYNE CRISTINA
JAILSON LUCENA Por Magno Duran
Valor da inscrição: R$ 200,00. BARBARA MARIA magnoduran@gmail.com

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