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Sendas & Veredas propée-se a atuar em ras fentes distintas:apresentarenssis de Shudiosos braiecos sobre a Floris nitachisn, razor a publ Go tadugbes comentadas de exrtos de Nietesche eeditar textos de pensadorescontemporineos seus, de culturahem que cle vivew ‘a tcrita atmostera Coordenadora: Scarlett Marton Conselho Editorial: Exnildo Stein, Paulo Eduardo Arantcs © Rubens Rodrigues Torres Fillo Tigalos publicados: Bsaranginciae mao abe fl Sexe Marton fade Nira (2 eis) Newsbeat marl Vinin Dutra de Arrego CO cropitcale de jet em Niche ceucome brivse a vf om mtefies Alberto Marcos One ‘Neto sonra Drain ‘Wilson Antonio Fez Janie Nera: ils emaral Annie La Mona Kapaion A malice smeared O problems da cvbansa em © Antti de Niele Fernando ds Moraes Burros, Concer iar: Um emai ptr de E Nace Ghar Foe Nima cig, angulamonts Ne fli det extremes Clem Las Ara Sabie «np aan do stig de Ninh Refs Exce Hom Sandi Kol Formac Rosa Maria Dias NIETZSCHE E A MUSICA Sto Paulo i 2005 Prajna edocs. Gaerne Regs Ns scsi toil ey SUMARIO PARTE I, MISICA E TRAGEDIA CCAP, 1, MUSICA: A ARTE DIONISEACA CCAP, 2. 4 EANGAO POPULAR CCAR. 3. NASCIMENTO DA TRAGEDIA ‘car, 5. A FUGA DA MUSICN PALAVRA E MUSICX OW © ESTILO RECITATIVO Na OPERA 2 3 CcaD. 4, MUSICA EVID 5. car. 6 ks PARTE II, MUSICA E DRAMA AP, 1. 0 DRAMA MUSICAL W GNERIANO ‘CAP, 2. AS BRUMAS WAGNERIANAS ‘CAP, 3. FISIOLOGIA DA ARTE. ear. 4. SUNY MUSIC IRM Da PaLMetaa” conclusio nInLIOGRAFIA 1» a 33 a ° 89 109 7 159 163, PREFACIO Nietaichee 4 Misica 6 ances de tudo um convite para se pensar a filosofia de Nietsche, Convencida de que as r= Nlexdes desse filsofo sobre a misica nos levarn a0 coragio de seu pensamento, percorrirodas as inflexdes desse tema se- guindo o fio condutor da relagio misicae palavra, misica € Vida. Detive-me nas grandes obsas da escética de Nietsche, principalmente em O nascimento da oragédia, Richard Wagner ‘em Bayreuth, O caso Wagnere Nietasche conera Wagner, em a guns capitulas de seus livros em que a questo da arte sobres: salise por entre a série dos importantes aforismos critcos 4 metafisica da arte, sobrewudo nos dois volumes de Humane, demasiado bumano, na ceceita dssertagio da genealogia da ‘mara e ainda cm suas cartas e Fragmentos pastures. Ao analisar todos esses livros, aproftndei-me, como ji ‘observe nas relagbes misicafpalavea ¢ miiscalvida. Todos os dois micles so uelizados para exclarecer as vinculages entre inisica e tragédia.¢ misica ¢ dram, 0 que divide o livro em dluas partes principais: Musica ¢ Tragédia, em que Nietsche reinterpreta os gregos a patir dos “impuleos artsticos da a tureza’ e Misia ¢ Drama, que mostra como as relagdes mi sicafpalavea e miisicalvida ressurgem na andlise de Nietsche sobre o drama musical wagneriano, Na tima parte do lito, 8 Rosa Masia Diss teatei também da estécica eardia de Nietsche, em que a mii= sica de Wagner deixa de eer um papel revoluciondria, Nietzohe e a musica é assim o resultado de alguns anos de trabalho ea base da minha tese de doutorado, Dee anos depois de sua primeira publicacio, em 1994, ele volta-me 3s imios apés ter percorrido diferentes caminhos nas mos de seus letores. Retorna agora jé-arcjado em alguns pontos € cenriquecido pelas contribuigées de outros olhares. Parafrase ando um aforismo de Nietsche de Hlumano, demasiado Hu mano, este “liveo quase tornado gente” rexouna, cle que ja possui para si uma vida propria, “que vive como um ser do- tado de espitito ¢ alma, e, no entanto, nio € uma pessoa’ Esgotado na sua primeira edigio,retorna sim, com novos re toques, mas sinto ji por ele uma certaestranheza ~ ele nio percence s6 a mim, mas cambém a seus leitores e leitor Uma deh, Searlert Marcon, leitora e amiga, quer dar-lhe nova vida, pd-lo novamentea caminho para que posss, quer sale, inspitar outros letorese provocar pensamentos¢ senti- rmentos fecundos INTRODUGAO A vida sem a musica simplesmente um erro, uma tarefa cansatva, um exilo™! Essa flase de Nictasche resume toda imporeincia que el stribui 8 msica para o pensamen: to ¢ paraa vida, Segundo Cutt Jane, se reunissemos os livros O nascimento da ragéiia no exprito da msisica, Richard Wagner em Bayreuth, O caso Wagner Nietzsche conora Wagner, 8 390 {agGes eas carta em que Niewsche trata da mnisica,teriamos dois volumes consideriveis sobre a arte musical Tal obs vagio por si sé justificaria uma abordagem da concepsio nieaschiana da miisca. No encanto, mais que uma numero- sa bibliografia do proprio Nietsche sobre o ema, 0 stim Jo para fazer este trabalho foi entender que qualquer uma de suas idias sobre a musica levaria, sem dhivida, a0 maga de seu pensamento, Para seguic esa trajet6ria €acompanhar esse pensader rascido, como ele mesmo diz, das “entranhas da music” ¢ 2 Nisesche, Cras Peer Ga, Nie, 15 de janine 1888 CC Jans, Cure Pau, “The Fa etent Piven in Fredric Niet’ Concepcion nf Masi’ in Michael An Gili ¢ Fae B Strong forge) Neale Naw Sar, Chis. The Univers of Chi cage Ps 18K p37 lo Rosa Maw Diss {que afirma manter com as pessoas e a8 cosas um convivio constituide de “inconscientes relagdes musicals”, fui buscar, «em sua estérica musical, a relagio musica e palavea subordi- nada questio musica ¢ vida. Até agora, o que tem sido nor rmalmente aponeido por outtos estudiosos de Nietasche como centro de sua concepgio de arte €a relagio arte vida. Apdi- am-se para isso no priprio filésofo, quand cle di, em “En: Ssio de autocrtca’, eer examinado, em O naximent da tnt {édia,«ciéncia na Sica do artista ea arte na rica da vida? Js questo da misia nao tem merecido igual tengo, Mui ta coisa ainda etd por se dase. Esta é origem dese exudo, Quando se elaciona Niewsche a misia, imedatamen seaisso seasiocia o nome de Wagner. F inegvel ue, na obra do filgsofo, padem-se identifica o diferentes momentos de seu relacionamento com o compositor: féetilamizad, a profundsadmiragio ca feroe hostilidade. Mas, videntemen- {no se pode arbuir a Wagner 0 fato de Nictche ter de- votado grande parce de seu pensamento 3 misica. A rando dessa alirmaydo esti na pare dedicada a O caso Wagner, no escrito aurobiogrfico Ence Homo, em que ele cscreve: "Para fazer justica a este wabalho, € preciso softer do destino da smsica como de uma frida aberta ~ De que sao, quando soffa do destino da misica? Do fato dea rnsica ter sido des pojada de se carter afizmativo e eansfiguradar do mundo, dle ser misica da dicadence eno mais a flauts de Dionis. Supondo, porém, quese sintaa causa da mavica de al modo convo sua propeia causa, como ahistéra do proprio sofrimen ‘scrito como pleno de deferéncia cso * Niche, “Enaio de Autti’, 2 in O maciewts de gi Nictchs, “Fees Ho Como vemos, a musica sempre ocupou ur lugar cen- tral na estética de Niewsche, que, durante roda a vida, bus- cou sempre desmascarar qualquer subcerfigio que pudesse Aesvid-la de sua finalidade: a afirmagio da enisténcia, Para abordar cal tema este estudo se dividird em duns pares: Musica ¢ Tragédia, Misica e Drama. Misica ¢ ‘gia rata das elages misicalpalaveae musica/vida na tage dia grega. Niewsche reinterprera os gregos a partir dos “im: pulsos aristicos da nature, 0 apolineo eo dionisiaco, Sio dois impulsos antaginicos, duas faculdades fundamentais do hhomem: a imaginacio figuratva, que geta as artes da aparén cia (as palavras poéticas eas artes phistcas) ea poréncia emo ional, que dé voz e vex 4 musica. Partindo da descoberta do ionisiaco no cerne da civilizagio grega, Nietasche nega que © conceito de serenidade, como pensavam 0s helenistas get= ‘manicos, possa dar conta de rodas as artes ali desenvolvidas, A misica, por espelhar o querer € nio os fendmenos, nia pode estar incluida nesa categoria, que tem como parimetra abelea, TInteressado em apresentar a unio da miisica e palavia nna tragédia dtica, Nietzsche analisa 0s precursores da tage dia: a cangio popular e a poesia lic, Identifies nessas ma- nifestagbes artsticas 0 mesmo mecanismo que di origem & tragédia: a misca,gerando as imagens eas palavtas, ea lin- guagem, procurando imizar & musica. Na eangio popular, & melodia o espelho mical da mundo, as estfes prod 2em uma profusio de imagens eas palavras procuram imitar ae Dastinds da tenn de mt plas, Niewsche afirma que a waged mento no spiita da mica. A principio coro, “um cafe vivo de ressonincias, que incessantemente se descarega emt 2 Ron Masia Dias tum mundo apolineo de imagens"’ em seguida, 0 apareci mento em cena do ator, que representa a figura vislumbrada pelo coro, unido mais perfeta de sia e palavra. A ms ca, exteriorzando as imagens, ¢ as palatas, ranspondoesias imagens em sons E a parce dessa relagio de musica ¢ palavra que Nictzsthe vé a questio da afirmacio da existincia na tage dla, Embora a miisica precise das palaveas, esas funcionam como uma proceso contra o poder que ela tem de artastar © individuo a0 estado de natureza, em que cle perderia a sua individualidadee se aniquilaria. A musica, o mito, a imagem eas palavra, juntos, permitem ao espectador alegra-se com © aniquilamento do her, pos, através dele, pode experimen tar o esado de iensifiagao com a nacueza e pressenir que a vida “no fundo das coisas, a despeito de toda a mudanga dos fendmenos, ¢indescruivelmente poderosa e alegre” § Mas esa unio pereita de musica e palavra, misica e vida, €rompida coma alianga de Euripides e Séerates. Aau- cia de musica, a predominancia da palavra, 0 dominio da dislécca orimista (a justa de palarase argumentos’) fazem parecer na eragédia um tipo de pensamento qu, subordina- do moral, nega a vida. Surge o enlace da arte com a cgncia, que acredita poder atingico imago da vida, ea mesmo cor Figil, Chega ao fim a idade trigicae principia a idade da A pera, que surge no século XVI de uma necesidade do ouvinte de entender a palavras sobre o cane, é uma he- leita dessesocrtismo, O fato dea palavsa ser pivlegiad na pers ¢, para Nietzsche, um sintoma de que ela naseeu no 7 Niwache, © maciment de gi, 8 sm, 7 rstmonuche 6B de uma preocupacio esttica, mas terico-moral. Um grupo. de cedricos em Florenga, pensando em criaro drama musical rego, engendza 0 recitativo estilo meio cantado e meio fala do que enfatiza a modulagio das palavras. Esses erudios Aoreacinos, ao submeterem a miisica 3 palavea, cinham por objetivo reproduaie 0 que julgavar sera linguagem origins tia da humanidade, Acteditavam ter encontrado um ancido- {o para o pessimismo, rrazendo de volta & cena uma época sonhada, esencialmente idliea, em que o homens era nats ralmente bom e artistic, ‘Misica e Drama ~ mostra coma as relages musical palavra e misicavida ressurgem na andlise de Nietasche s- bre 0 drama musical wagneriano. Nicwesche, em Richard Wagner em Bayreuth, econhece a misica como elemento principal do drama ea palavra como recurso capar de expres sara riqueza de sugestées que a miisica tear para a culeura ‘moderna, Além disso, percehe que, para criar ums harmonia perfciea encre misicae pala, Wagner eve de inventar uma Tinguagem que se assemelhasse & musica e buscar no apenas 1 musicalidade das palavras, mas concebé-la em “atos sensi ves ou vsiveis’, sto, pensi-la de forma mica como 0 povo sempre a pensou. Segundo Niewsche, a mnisica de Wagner & ope 1, do renascimen: to de uma cultura tigica. Iniciando seus ouvinees em algo suprapessoal, Wagner, através da misiea, permite que eles experimenter 0 estado de alma teigica sem desvi-los date alidade do mundo, reavivando nels a certeza de uma per rmanéneia da vida ea esperanga de um melhor relacionamen 10 entre as homens. ‘Mas Nietsche, pouco cempo depois, apresents uma mudanga na avaliagio do drama wagneriano. Rompe com 0 xe O caso Wagner ¢ Nietzsche conera Wguer esses livros, investiga, na rlagio misca e palava, © tema composicor ec “4 Ross Mania Dias da signficagi isto go Faro dea musica, em Wagner, querer diver alguma coisa, sr um meio e no um fim, Percebe que nos dl nas dramas wagnerianos ~ periodo influenciado por Schopenhauer, a mvisica nfo € mais saberana da cena, mas sim caudatiria de um enredo, cuja finalidade € veicular urn sentido moral, teligiso, merafisico. A misica, por encontrar sua justifiaagio no drama e ndo em si mesma, por estar construida em tomo das nagies de vittude, de purera, de cas- ridade, de redengio, nao pode ser pensada verdadeiramente como musica, sindnimo, para Nietzsche, de afirmagio da ‘Nessas obras, crcica de Nietsche se coloca nfo mais za perspectiva de uma "metaisica da misica’, mas na de uma ino seria docnte, por- {que nao foi gerado a partir de urna plenitude de vida, ¢, sim, dle seu depauperamento. Para Nietzsche, 0 contrétio, a m= sca € antes de tudo uma “are afirmativa® ou de “grande esti- Jo". Nasce da superabundincia, diviniza eintensifica a torali- dade da existéncia, Carmen de Bizec 6m exemplo dessa ate Nicwesche apdia-se nessa obra para lutar contra a tendéncia moralizante da misica de Wagner, 08 de qualquer outro tipo de miisica que tena por objetivo querer dizer alguma coisa, “aver falar o sensimento”, ow passar uma mensagem desse ot do ousro mundo, Assim, live da submissio 20 sentido, a uisica despertaacriagio, o poder de inventar novas possibi= “fsiologia da are’: 0 drama wagnes lidades de viver e de pensar. msinoDucte 1s Servitam de base a este trabalho: O nascimento da trac _gdia no esprto da musica (1871); as conferéncias da mesina Epoca: “A visio dionisiaca do manda", °O drama musical gre- go", “Sécrares e a tragédia"s A considerayio extempordneas Richard Wagner em Bayreuth O caio Wagner € Niece con ns Wagner. Como complemento, fragmentos postumose te- chos de outros livros de Niewsche que tém relagio direta com fo assunta tratad, PARTE I MUSICA E TRAGEDIA "Sa miica coloada av lado do mundo pode nos dar wna idia dy. gue deve ser ‘entendide po uta do mundo como fenimeno eto, (O nascimento da raga, 24 capiruLo 1 MUSICA: A ARTE DIONIS{ACA As idéias de Niewsche sobre a miisica enconi (O nascimento da ragédia,inseridas ern uma problemitieafun- damental 20 seu pensamento, a qual acavessa toda sua obra, dos primeiros 208 ilkimos textos: rela arte e vida e, den tro desta, a eelagio mifscae palavra. Quatorze anos apés a primeira edicio de O nacimento dda tragéia, Nierasche acrescenta-lne um prcficio a que de~ snomina “Ensaio de autocrtica”. Nele, afrma tes, em O nas eimenro da ragédia, ousado pensar a atte na perspectiva da vida.! A questio metafisica~ "que €arte?"~ coincide com 3 questio existencial ~ “qual o sentido da vida?” A vida como propésito da arte, arte como necessiria protegio da vida, 3 GL Niche, “Enso de auc’, 2 E procs salem que nes prelicio Nite naa conedhe o concen de vide da mesma fons ome spresentada, em O nariment de ge sentido con © feo-meraiic, mas an vontade de pon 2% Rosa Masia Diss vida 6 se justiicando come fendmeno esttico!constituem praticamente um Leirmoro que acompanha todas as qust6es Fundamensaisdesselivo, E & precio frisar que, quando Niewsche fala em arte, é sempre na maisica que ele pens? ‘38a misicacolocada a lado do mundo pode nos dar uma idéia do que deve ser entendido por justicago do mundo com fendmeno estétio."* Ame e vida, misiea e paavea sio pensadas em O nat cimento da ragédie, principalment, na perspective da tage dia grega, e a partir do que Nictache chama de “implsox arvsticos da nacurea”®~ 0 apolineo e o dionisiaco. Contd CE Nieto, Oneness de nga, 5624 9 CE Niewche,Fpmentor pean, 1871, 990], CE também Fre ‘ost, owtane de 1885, outona de 14N6. Sand 0 depoiments de Ids Ovesiock, Nitache arament x intrensra pele mts pit fs sins comes sobre a arte sempre dtm resp 8 mise (er Geneve Binguis, Mire dev a conemportin p38) Nits, © manent ds agi, 26 5 Ider, 2, Kumsriee- "impala atic”. Trad Te por impul soy cm lugar de insino, come ataducioeaparhola de Ades Sanches, Paicunl es francesa de Geneitve Bianqus para O mevinene de Page slit A. Sinches Pac radu Theb por nina, ma dea ma nta Cplicatt: "Apes dos equtocos qu prem sug, ade Tb por Inia. Niche toma ese vrme, atin come w de Kise Ge ‘atic do vocauliio de Schopenhauer, Sm divide deve testers insito ery um sentido muito amp cm endcia pt (ora 19, p259) Os teadtors da edi ana da Galimard de O armen deride, Nichl Hat, Ppp LacoucLabarhe «Jan Tse Nancy: rdasem Tih por apabion os plone uandam a sr0 O mnie ‘mage quando Socrates entra cna no em 13. Tad Tis por sa conservara mesma acepyo ji encontada em lag po ‘gues adugio de Nie ober nomplean Col Os sre 1974) de Rabe Totes Plo, e a eadaqao de grag dese Mosicy: 4 anre arosstacn a rio 20s helenistas germinicos ais como J.J. Winckelmann ® e Lessing, que detivaar a atte de um dnico principio, 10- ‘mado como origem necesira de toda obra de arte, Nietsche fixa seu olhar em duas dvindades gregss ~ Apolo e Dioni- so, econhecendo nelas a evidéncia de dois mundos dstin- tos de arte. A diferenga entre a arte plistica ~ apolinea ~ a ‘misica~ dionisaca ~cornouese clara para ee em sua leitura de Schopenhauer, que, embora nio fesse referéncia a0 sim bolismo dos deus, fio primeieo a sugerr que a misicafos- se compreendida diferentemente das arts plisticas, Partindo do fito de que a misica fala uma lingua que codos podem entender imediatamente, Schopenhauer reconece que ela “fee de todas as outras artes por nfo sera cépia do fen- ‘meno ou, mais corretamente, da objecividade adequada da vontade, mas cépia imediata da prépria vontade e, poraneo, presenta, para tudo que éfsico no mundo, o carrlato me- tafisico, para todo fendmeno a coisa em si.” Como bem ob- serva Gérard Lebrun em seu artigo "Quem er Dioniso?, ‘de Alem do Ber edo Mal de Palo César Sours Vera ata de Pal Csr Sura sobre cos qusto cm Alin do eed Mai. 216 220), Tamim Jacs Guinan, teadton de O macnenty detrei, trad Tob por imp, S Johan Joachin Winckelmann fo um do princi lems inte sae plo mundo gogo (ver Gerd Borns, "Escorgo do horas ‘ukurl’, p64). Ao estar conta como! mundo hrc principal ‘emt stat da ccltora, Wickelmann encntt cel de bles J anobesimplisidadee acalna grander Til um mo devid, de Belera que encontra na est grga, Es vio da Gri, que priiegi beler, fo redmenionada por Niche, Pra cl op (ae Btane pleas, mat alo ipl din, Nieciche, Omaiments de rage, 16, 2 Ross Manta Diss Niewsche percebe que Schopenhauer inaugura uma nova rmaniea de se compreender a musica: “Antes de Schopen: hauer, pensava-se que a musica nos proporcionasse a mesma cspécie de prazer que a beas forms; julgava-e a musica con forme a mesrna idéia de beleea que se usava para as artes plis- rica’ Assim, a arte giega ea arceem geral fundamentavam- seem serenidade, medida e harmonia. Essa forma de Schopenhauer entender a miisica €im- portante para a compreensio da estética musical de Wagner, que, no seu Beethoven, ? insite em que se deva apreciar :miisica segundo principios bem diversos dos que costumam ser aplicals as artes plistcas. A musica, pelo seu carter exti- ‘ico ibera o homem temporariamente da vontade individual © 0 deixa dominado pela naturera; uma emogio desmesura- dda se apodera de todo o seu sere desperta nele sentimentos ‘obscuros que no padem ser explcadas pela Idi * Gérard Lebrun, “Quem ea Dino”, p41. Eduard Hani (1825: 1964), erico musical auac, em seu Ye Miah Schone (De el ied, pubieado pela prices es em 1854 (Lip) consid ‘vague msi prdiao mse efit que ascension a ber “sacs do poo pla forma Bel Pua comemorar a ceneniio de Boxthoven, Wags roi ft, de rane o anode 1870, ua série de aoe miei que near, no hata «tia, devido puta anes prastana, Tara no di ‘ar pasar em branco una dita que ele conserva fundamental para altura lem deci honar su mes com nett Berthoen publica cm novenipo de 1870, Sobte ee io, Newsche wereve 3 (Cul on Genortf em 7 de novembro de 1870: "Wigner me enviow [falane dium matavlhow manic inrnhnd Restos ‘emasaf uma verdad Flin da ric, ini spel asian idl a Schopenhauer Ex ora ser pliada em ho 2 ctor, coma maior homage gu he poss dr ng (Cur Paul Jane Miralet. hp 34) ostea: « axt# mowistncn 2 ‘A caracerieagio da misia como are diferente de todas as ourras constitui para Niewsche um talisma que lhe permi- te estuat a origem da teageia dea. Mas por que sua preo cupaso com esa arte? Certamente nao é 0 deseo de erudi- {0 que move sua pesquisa. Nictsche sempre usouafilologia Como instrumento para pensar o presente e € em fungio do presente que cle aborda os aurorestrgicos. O firo de Wagner considerate herdeito de Esquilo!” e de a épera aparecer como o desenvolvimento da ragédia grega fo suficienee para reacendr em Nietesche urn antigo ineresse pela eragédia, 0 {que jf havia se manifesado quando estudara Edipo Rei, no colégio de Porc, Em “Ensaio de autocrtia’, ele celembra a série de ynamentos que deram origem a O nascimento da tage ‘Nascimento da tragédia no espirito da musica. Na mi sia Misia eeragédia? Gregose a misica de eragéia? Gre- {gos¢a obra de arte do pessimismo? A raga mais bem-sucedida de homens nascidas até encio, a mas bela 2 mais invejada, 2 ‘mais apta anos seduzi em favor da vida ~ 05 gregos ~ como? Seri que logo eles civeram necesidade da cagédia? Mais ain- dda ~ da arce? Para que ~ arte geega?[..J"!" Teriam ado 0s helenistas gentinicos ~ Winckelmann, Goethe, Schiller ~30 ineerpreatem a arte grega a partir do conccito de “sere Ae"? Seri de fato que os gregos produziram bels obras por aque eram eles mesmos belos, harmoniosos e setenos, ou os © No ensio Oper e drama, Wagner di pei dengue bagi de Fen consonants csr ony en doves ced na Alcmanhs, Ee mcsno ve ¥é coma 6 Equi ‘Sis eran da mola lems Nietache, Esso de aunts", | 4 Ross Mania, Dias helenisas alemses projearam sobre a cultura grega sua eufo- sia racionalisa? Meditando sobre essas quests, desfazendo pedea por pedraa"Moncanha magica do Olimpa’,simbolo até entio da cultura apolinea, Niewsche encontra, a0 lado dessa sere- nidade e em oposigio a ela, desmesura e violena crueldade. (© impulso apotineo, criador da bela aparéncia do mundo do Olimpo, esfera de beleza onde os gregos vem suas imagens refletdas como em um espelh, coexsia com um outz0 m= ppubo, 0 dionisiaco, que apontava para uma relidade mais fundamental, de dor ¢ excess, em dilacerante contradigio consigo propria, revelando a part obscura e absurda da exis- téncia, Para esconder este mundo de emog6es contraditrias, terriveleseduror, os gregoseriaram 0 mundo apolineo, um jogo de esplhos da beleza, em que viam os deuses coma seus belo reflexos. Por meio dessa miragem, eriaram uma "vie sio libertadors, ltaram contra o talent para o sofrimento, correlato a0 talento artsico e abismaram-se na contempla so da beleza, Asim, permaneceram calms e seremos, ‘Ter encontrado 0 dionisiaco no Aimago da civlizasio apolinea leva Niewsche ao coragio da tragédia e, portanto, 3 ttsica.O ponto mais importante de sua filosofia da miisica € 0 desenvolvimento dos aspectos dionisiacoe apolineo na ate grega,considerados como impulsos antagdnicos, como dus facldades fandamentais do homer: a imaginasio f- szuratva, que produ as artes da imagem, aescultura, a pin= tra € parte da poesia, ca poténcia emocional, que encontra sua voz na linguagem musical. Cada um desss impulsos se ‘manifesta na vida humana por meio de estadosfsioldgicos, ‘ sono ea embriague2, que e opéem, como 0 apolineo eo "5 Ch Nieuiche, © memento de api, 5, sien: A are mlonistact 25 ionisiaco, O sonho e a embriaguer s30 condigbes necessiri 4s para que a arte se produzs” Por iso, © artista, sem entrar ‘em um desses estados, nfo pode criar, (Ossonho é a forgaaristica que se projeta em imagem ¢ produ. cenit das formas e figuras. Apolo é 0 nome grego para a ficuldade de sonar; é 0 principio de luz, que fa sur- git o mundo a parti do caos originiio; &o principio orde~ rnador que, tendo domado as forcas cepas da natureza, sub- smete-a a uma egra, Simbolo de toda a aparéncia, de toda 2 cenergia plistica, que se expressa em formas individuals, Apo- lo €0 “Magnifico quadro divino do prineipium individua- tions’. Da forma is coisas, dlimitando-as com contarnos precisos, fixando seu caréter distintivo e determinando, no conjunto, sua fungéo, seu sentido individual. Modelando 0 movimento de todo elemento vital, imprimindo a cada uma cadéncia ~ a forma do tempo -, ele impoe 20 devie uma lei, uma medida. Apolo ¢ também o deus da serenidade, que, ter do superado o terror instintivo em face da vida, domina-a com um olhar licido esereno: Esse €0 verdadero propésito estético de Apolo, sob cio nome reunimos todas aguelasinumerivelslusdes 1 Ver Neches, Onnciment da radi, quand cle dig" _apancia do muro do sno, em ci poi cada sec amano € tm ara consume, consi a precondgto de vod art plies, € também [| de wa importante meade da poesia Niewache, U naemone ss aged, 1 prtsjs ainda deve ser ertedido tl como Schopenhauer 9 cate, como pring iodo espagn edo tempo, Sound el, a vontade come "ene « Mi {Iced mundo” & un, mahi rm suse formas fenomenica, © {que determin sa pluridade fo 9 epagoe 0 26 Ross Manis Dias dlabelaaparéneia que a cada instante tornam esstncia digna de ser vivids ¢ nos incitam a vives instante seguinte.? Ha embriaguez 0 estado que deste, despedaca, abole © finito co individual. Na embriaguez, desfazem-se 0 lacos dlo principinm individuation, rasga-se o véu dasilusbes para dleixaraparecer wma realidade mais fundamental: a unio do hhomem com a natutera Sob o mundo das aparéncis, das formas, da beleza, da justa medida, estd © espaco de Dioniso — 0 nome grego para © éxtase. Dioniso €0 deus do caos, da desmesura, da distor- ‘midade, da firia sexual edo fluxo da vida; deus da fecun- didade da terrae da noite criadora do som,!® é deus da mii sca, a arte universal, mie de todas as artes. Nascido da fome eda dor, perseguido edilacerado pelos deuses hostis, Dioniso fenasce a cada primavera e ai, cia e espalha a alegra. Despercadas as emogées dionisiacas, provocadas por bebidas naredcicas e pelo desencadeamento dos instintos pri maveris,”” 0 homem, em éxase, sente que todas as barrcitas entze cle ¢ 0s outtas homens estio rompidas, que todas as formas voltam a ser reabsorvidas pela unidade mais origins- Fia fundamental ~0 "Uno primordial” (der Ur-Eine) ~ em que s existe lugar para a intensidade, Nesse mundo das emo- Ges inconscientes, que abole a subjetividade, o homem per dea consciéncia desi ese véao mesmo tempo no mundo da hharmonia eda desarmonia, da consonincia eda dissonincia, 6 Niesche, Pgmena puma, nscro de 186 pinavea de 1870, 300). CE Nieache, O maimento de gia, | do prazer ¢ da dor, da construgio e da destruigho, da vida € ca mone. “Ter visto 0 dionisiaco ao lado do apolineo na are gre -possibilita a Niewsche formular uma “hipétese metafsi- Ft no pena pena ate como a atvidade hams nia que se encarna em abras, mas apresenti-la como algo que se encontra na esfera da nacureza. ‘A oposisio apolinea e dionislaca, considerada no pla- rho metafisico, se dé a partie da nogio de vontade ou querer ‘stendida no sentido que a ela deu Schopenhauer, de “centro «enticleo do mundo” ou “forga que eternamente quer, deseja asp”. A vontade ou 0 querer & a origem ou o fim de oda efémera individuaidade.F um “ser de navureza emociva’ ue nio pode ser pensido como repousundo em si mesmo, impassivel ou pacifico, mas que traz em si uma guerra sem limites. Vivendo em constant contiadicio consigo mesmo, fem incessante dor, esse ser nio pode petmanecer por muro tempo indererminado. Uma forga vinda dele mesmo obviga fo feagmentarse: a multiplicar-se em seres fnitos, a fxarse tem imagens ea produzie o mundo das formas individusis da realidade fenoménica.”” ‘© mundo fenomenico, como resultado desse movie mento do querer raz em si as marcas da dor, do despeda- ‘gamento da vontade e, para se libertar dessa dor, faz um segundo movimento, dessa ver estétco,seproduzindo 0 mo vvimento iniial que a vontade realizou em ditegio A aparéncia, isso emana a “aparéncia da aparéncia" ou a “bela aparéncia! dem ® CF Nicesche er, 4 Ver ambi interpreta de Rosana Saat sobre ce tanto cn su dita de trad ree bing primcivs ert de Merah p23, 28 Ross Matta Diss do sonho, um bilsamo para o querer, um remédio para liber- -lo momentaneamente da dor pelo seu desmembramenco «em individuos, E dessa maneira que Niewsche, no capitula IV de O nascioenta da eragédi, explica 0 processo transfigurador que a “natreza artista’ realiza por melo do sono para ria a bela aparéncia, Esse ndo é porém, nem o nico, nem o mais fun- clamental esado fisioldgico pelo qual a naturezarealiza seus impulsos artisticos. O mais esencial é a embriaguez. ‘As aparéncias 6 adquirem sentido quando relacionadas a0 mundo dionisiaco, que Ihes € metafisicamente anterior: Na embriaguer dionsiaa, no impetuoso percursa de rods ax esas animicas durante as exiases na citicas ow no desencadeamento dos impulos primave- fis, nacurcea se manifesta em sua forga mais pode rosa: ea tein novamente os individuos e fz com que se sintam camo uma 16 unidade, de tal modo que 0 principio individuation aparega como wm estado pro Tongado de raquers da vontade. Quanto mas debiltada cstiver 3 vontade, mai todo se Fagmentaeé em parse isoladas: quanto mais a individu forego cabites- rio, mas faco ser seu organism, Por isso, em tise ‘ads, apesena-seum tag sentimental da vontade, um "solugo da ceiauta” peas coisas penlida; no prazce a remo, ressoa gito de espanto, oF gemidos nowt cos de uma perda ieteparivel. A naturces exoberante © Nictachs, mm O nakimente de agi, infucaiad por Scope have conse lade cus aprtncia 2 repeentagso, emis cena vida com 4 vontde 1 vids continget.individealiada, com 4 epecnag ‘9 mundo, ose, como natura, cua orci € vo tac » celebra 20 mesmo tempo, suas sarurnais e suas exéquas, ] As doves despertam prazer, a ubilaatranca do pe to gritos cheios de dor O deus, 0 liberador desstos, erm tomo dle, todas as amarras, a edo transforma." Na embriaguce, © processo pelo qual a vontade satis seus impulsosaristicos €0 inverso do movimento de produ 0 das aparéncias. Com o colapso do principium individu tions pela intensificagio das emogées dionisiacas, tudo vole seu ponto de origem, 3 unidade primeira. Coma morte ou aniquilagio das individualidades, 0 homem rerorna ao est do natural, reconcila-se com a narureza. Essa reunifcagio gera um prazer supremo, um &xtase delicioso que ascend desde o intimo de seu see e mesmo da natureaa,ressoando tem “gritos de espanca” e “gemidos nostilgicos”. Com cantos e dangas, esse ser entusiasmado, possuido por Dioniso, ma nifesea seu jibilo. Di vor e movimento i natureza. Vor € movimento, que nao se acrescentam a ela como algo artic ‘mas parecem vir do seu Amago: Cantando dangando, manifesta-seo hornem como ‘memo de uma comunidade superior: leu 2 andar e a fille est a ponto de, dangando, voando pelos ares, De sus gests fla encantamenc, Assim como agora os animate flam ea tera dé ete cl, da interior do homem também s03 algo de sobrenatutl ele sent deus, amin to extasido ¢ «nlevado, como via em sonhos os dewres carinharens, © Niewache, “Avs dons do manda 30 Rosa Manta Dias forca arttica de toda a narurens, para dlicisa sais faglo do uno primordial, revelarse aqui sob o feémio dds embriaguez” ‘Mas é preciso observar que, aa Grécia dionisiaca, essa dilaceragao do principium individuatonistornow-se pela pri- imeira vez um fendmeno artistico 2 Hi nos festivais greco- orgisticos uma ética diferente da dos birbaros orgiacos. A. diferenga est na inttodusso do caréter apolinco, ou se ‘idealizagio da orgia’. Enquanto nos bitbaros, 0 dionis omava o aspecto de uma sensualidade desenfeeada e de wma crueldade ritual eagerada, nos gregos, esse Dioniso selvagem, ‘que nos poemas de Homero no tinka o dieito de sentar-se mesa com os deuses do Olimpo, espirtualia-se e rorna-se © génio da arte. Apolo imps os lagos da beleza a0 deus po- detoso, refteou © que havia de iracionalmente natural em Dioniso ~ a miscura da volipiae da crueldade -, retirou-lhe cas mios as armas mortifeas, a0 ensinar-lhe a medida, O jogo do artista ‘Ao apresentar sua “metafisica do artista’, Nietzsche, no primeieo momento de sua anise, nio fax mengio ao artista humane. Apolineo e dionisfaco sio impulss arvstcos que ‘emergem do seio da naturcza independencemente da media- ‘io do artista, A perfeigao do mundo dos sonhos existe sem que sci nevessiia a cultura arstica do individuo, e a reali- 2 Niche, O momen de agi, 2 ea, 2 Moston: A ARTE Bromtstnca 3 dade da embriaguer existe sem levar em conta o prdptio in dividuo jé que ele se encontra aniquilado, embora edimmido num sentimento mistico de unidade. Para que a arte se torne uma atividade do ser humane € preciso que o individuo d2 forma 20 sonho e 3 embriaguer como isso se fard? Pela imitaclo.*" O artista é um imitador ue, em estado Iidico, joga ou com 0 sonho ou com a em briaguez ou, no caso do artista tric, com ambos 20 mes: ‘mo tempo. Posém essa imitagio no deve ser entendids como reprodugio ou cipia da natureza, mas como imitagio de um processo da natureza, ou sje, do movimento que ela realiza para criar ou repradiie as aparéncias, o do movimento que far para reabsorver ou desteuirasaparencias: “A obra de arte 0 individuo sto uma rpergio do proceso originario de onde surgiu 0 mundo, de alguma forma um anel de onda na onda." Para explca 0 jogo da are com os sons, Nietsche, ‘em “A visio dionisfaca do mundo”, estabelece a seguinte di Ferenga: enquanto o homem que sonha joga com a realidade, com 2 viglia o artista joga com o sonho. A bela aparéncia do mundo dos sonhos, em cuja produgio todo homem & um asa perfeto, € a condigio prévia de coda arte da imagem, seja ela pineura,esculeura ou poesia Epica: Ver O nariment de api, 2, em que Nicesche esrve “Em fice dle cnado artic medias da natures, odo art £m a tale isto quet como atta anrcoaponeo, que come atta ‘dio dons, ow enim ~ como, por exemplo, ma tages sRepquamto ana to memo emp ona exc bel de 1871.7 {217 Diora Dank, Shade replicates: amatiadossonbor seu Togsr na isfia de Nish, disertagio (Nesta). anal eom rane aude a questa dojo na are spline. 25 Nietschs, Fngment plume, final de 3 Ross Manta Dias Astin, bloco de mésmore,é ums coisa muito rl mas arealidade da estitua, come forma once & apes soa viva da deus, Enquane 2 estitu, como produto da imaginasio, pair dlnte dos olhos do artist, ele ainda Joga com a tealidade: quando traduz essa imagem em rmirmore, ele joga com 0 sonho,” Enquanto no estado apolineo, o homem jogs com @ tealidade, no estado dionisiaco, ou de embriagues, ele jogs com vontade ou com a prépria natureza que nele e revela: “Que the importam de agora em diante imagens ¢ extétuas? Ohhomem nao é mais artista, ele se comou obra de arte, ele cra em éxtase ¢ exaltagio, como em sonho havia visto etra- rem os deuses".#¥ Masse a embringuet é jogo da natueza com o ho- mem, a cragso do artista dionisiaco & o jogo com a ‘embriaguez.. O setvidor de Dioniso deve estar m ‘stado de embriaguer e a0 mesmo tempo permanecee postadoacis de si como um observador. Ni én alter- rincia ence lucideze embriaguer, mas em sua simulta nsidade, que se encontrao estado dinisiaco” ( artista dionisiaco no se enconera no mesmo estado de identidade com a natureza como 0 homem embriagado © artista dionistaco ndo é, como diz Platio, aquele que cria quando ests ébrio, mas o que joga com a embriaguez, Nesse jogo, nese sutldistanciamento, estado em que se combinam a sobriedade ea embriaguez, encontra-se a arte dionislaca, Nictache, “A visio dioica do mundo" ™ Nigcachs Lem, 1 O aciment de engi, 2 Niceuche, “A vis dioica do mands" - 3 A lucidee éo elemento de transfiguragio que se intro- dur no dionisiaeo para transfornélo em arte. Fo momento ‘em que Apolo ver em socorto do artista, distinguindo-o, cenvolvendo-o no véu da ilusfo, salvando-o do desejo de per der-se na vontade e de aniquilar-se no devi dionsiaco, Nesse estado de emogio, o artista dionisiaco é levado a0 “paroxismo de suas ficuldades simbélicas, a narureza 0 forga a se exprimis, a dominar 0 caos da vontade, que ainda nf se transformou em figura,” a eriar um novo mundo de simbolos que constituird a linguagem e a substincia da arte dionisiaca. Esse novo mundo de simbolos no esti no nivel da pa- Javra ou da imagem, nfo é convencional, mas em uma afini- dade natural com a realidade que simboliza. Ele corresponde A mimica, 4 danga, 3 misica Agora easncia da nanuteta deve expressirie por via simbeliea, um nove mundo de simbolos se Faz ne sito, ado osimboismo corporal, no apenas si bolls dos libios, dos semblantes, das palavras, mas 0 conjunt inteito,rodos os gests bailantes dos membros fem movimentosremicos.Também as Forgas simbilicas dda misica~ timo, dintmia eharmonia~erescem sbi o.com impecuosidade. Pata ating ese extado de de sencadeamento de todas as forgassimbelicas,¢ preciso aque 0 homem tenha chepado a ese gra de despoja- _menta de si que procua capri sib cas Forgas © Ce Mom ™ Nieasche, O nacimente ds agi, 2 34 Ross Manta Daas Miisica apotinea ¢ musica dionisiaca Anes de investigar a unizo de musica e palava, subor- dlinada & relagio rnsicae vida ma tagédia greg, gostaria de Fazer uma observagio. Niewsche, por ter perecbido, no ato decriagio do artista dionisiaco, a lucidez como um elemento apolineo,e por ter feito a distingio entre 0 Dioniso asistico, selvagem e 0 Dioniso grego, artistico, coloci-nos diante de uma questo: seria a musica uma arte puramente dionisfaa? ‘Anes de eespondé-a, atentemos para a distingio que Nictasche fiz entre a misica dionisiaca ea apolinea, Com 0 ‘objetivo de demaccar bem as diferencas de uma e outta, le observa que a misica dionisfaca foi introduzida na Grécia ‘mais ou menos na século VIL a.C. e logo assimilada pela cul- tata grega, sendo tocada principalmente acompanhada da Aauta, Antes disso, os gregos jd possulam wma misica quali- ficada de apolinea que, entretanto, era apenas uma “arquit uta dérica de sons dobrava para apresentar as estados apolineos, um movimento cadenciado, uma espécie de som que a citara produzia. O iiisico de Apolo, que recitava os poemas de Hometo acom- panhado da clara, s6 mangjava as Forgas plisticas ow arquite- ‘urais do som: uma outta especie de imagem, Com sons ape- 2 yma “ondulagioetmica” que se des- as insinuados, ele ecortava figuras no tempo, ¢ por isso sua ica etava mais préxima das arces plisticas do que da ‘miisica propriamente dita. A misica apolinea foi definida como musica por uma imprecisio da linguagems 2 ela falta- vam os elementos bisicos que constituem a esncia da mii sica: 0 dinamismo ronal (ou 0 poder emocional dos tons), 0 Naso wnittiy da melodis «6 mundo da harsnonia.™ om CE Nieasehe, "A wisi donisacs do mundo", 2. Moen: a abre olowtstaca 8 A diferenga radical entre a musica apolinea ea musica dlionisfca encontea-se prneipalmente nsto: enquanto 3 apo- linea reproduz o fenémeno, a dionisiaca traduz 0 queter. A woz da misica é a vor do querer. "De um querer entendido ‘io como origem ou sujeit da sonoridade", mas como obje- to. "A vontade”, escreve Nictsche, "é objeto da musica, e nto «sua fone. |] Quanto origem da misc, [.] ela nio pode estar na vontade; a0 contro, reside no seio desta forga que engendra sob a forma de vontade um mundo de vies. A origem da misica est siuada além da individuagio,™ iso fica evidentea partir do que dissemos do dionisiaeo” Por manifesta e comunicar direeamente a emogio, o sentimento =o prazer ea dor do querer =, por revelaro querer deforma Jmedliatae tral, antes de ele ter ingressado em algum fend ‘meno, a miisiea dionsiaca € nica via de aceso 4 vontade Fntao, respondendo & pergunta proposta, M.SSilk ¢ LPStern, autores de Nictzche on Tragedy, observam que 980 existe dionisiaco puro na concepeio de arte de Nigesche. A relagio entee 0 apolinco e o dionisiacoeseatia presente em coddasas Formas em rodos os aspectos da arte trgica. Mesmo Comenrando ess pasages, Bernard Patt cm Union dane dit ques misca deve ser comprendida come 00m ut mpes0al, © Spo sm orig: amuses & es meama origins sendo-se out Antes mesmo que um auvid prea que india» praca ds rmulada do queer De um queter que aoe origem ou 0 ye da onordade: A vontade eacreve Niche, 0 ajo dams, 80 foe Asi a msi, par alm de todas as suas formas ess Sonoridades, 3 v0 pur nds do sé da ind ‘queer com ae byes sem eprenttt ia nag, repro ‘io o qtr sem sr podria pore send, porta VOL ae ‘Vou, Se eet, causada ser eau. tena sem aut agus cosa ‘como a prousimesaa do querer oil” (p61), ng indcando ache, Fegmentr pastor, inicio de 1871, 12 (I 36 Rose Manta Dias 4 msica, a tinica arte verdadeitamente dionisiaa, no é se unde eles, puramente firmagio, ma inceepreragio eiea por Nietasche do fendmeno dionisiaco na Gréci’”, ¢ na passagem relicionada ao mito teigico (item 25), onde ele escreve Daguele fundamento de toda a existéncia, do subytrato dionslaco do mundo, #5 € dado penetrar na conscineia do individvo humano exatamente aquele tanto que pode ser de nove subjugado pela forsa teasfigueadors (1. Li onde os poderes dionisacos se ‘exguem co impetuosamente[., i também Apolo, cenvolto em uma nuvem, dove ter descdo até nds € uma présima gerago, sem divida, contemplacsseue soberbosefios de beers * Ao que foi muito bem observado pelos autores de Nietzsche on Tragedy, acescente também que Nietzsche, et outros textos da mesma época, principalmente em "A visio ionisiaca do mundo”, mostra claramente que a misica no € uma arte puramente dionisfaca. Relacionando-a i questo a vontade, no item 4 desse ensaio, ele afirma que hi nela elementos harmonia e melodia ~ que traduzem dizetamen- tea dore o prazet, ¢ outros ~ ritmo e dinimica ~ que acal mam momencaneamente a dor, moderando-a pela medida [A barmonia live do espago e do tempo, guarda em sua tex- tua cespessura sonora a esséneia do querer €, por iso, per- rmanece como elemento especifico da miisca. }io ritmo & (CF Sil, MS. e Sern, Mitch Tg © GL Niche, Omeciments da naga, 2 2 ta, 25, apresentado come fator de ilusio — ww apolinea jogada so- bre o inebriante mundo sonoro, Enguanto a harmonia ex pressa 6 nicleo mais intimo do querer, ritmo é a simbolo extern da vontade, sua aparéncia individual que ni reflte 0 codo. O riemo esti no ponto de encontro entre a plistica ¢ a harmonia, o fendmeno e a vontade, a aparéncia ¢ a essen cia, 0 sono ea embriaguez, o apolinco eo dionisiac. Eaguanto o ritmo ¢ © dinamismo continaam send de uma certs forma aspectosexterionss da vontade, que se exprime por simbolos, enquanca ciegimn quise que eles proprios ae carscrrisicas da sparéncia, a harmo nia simbolo da esénca pura da vontade, ortanco, no ritmo € na dindmica, 0 fendmeno isolado tem de ser considerado como Fendmeno, e vind sob ese apeco, a ‘misc pode er rita somo arte de aparicia. A har ‘moni, que €indivsel, fla da vontade, dentcoe ora dle todas as formas do fendmeno, é, portante,n50 ape ras um sinboisme do sentimento, mas do mando.” Para reafirmaro que esti expresso ness citago, encon- ‘ramos ainda no fragmento péstumo do inicio de 1869 pre mavera de 1870: "A mica ni ¢plenamente orgistica, mas ‘em mais embriaguer que apolines."® Dessa forma, antes de haver a unio de musica paaves, do dionistaco¢ do apo lineo na tragédia,haveria na musica o encontto desses dois posts, que tm propesitosatisticos diferentes. Enguan 2 ane apolinea vist afirmacio da eternidade da ap 9 Nerachs, “A iio donna do unde" 4 “ Nicrsche, Foent numer, nko de 869- primavera de 1970, 3 38 Rosy Mania Dias 20 triunfo sobre 0 softimento, a arte diansiaca visa a algo ‘mais fundamenal:a airmagio da dor eda eernidade da vida. $6 ela dé conta do que exté ats dos fendmenos, Assim, en quanto nas ares apolineas a verdade & cracivamente escon- lida, na mses ela & revelada: [--] natureza flan com sua vor verdaeiza, sem Aisfarce “Sede com eu sou! Sob 3incesante mudanga das aparéneias,« mie primordial! Eternamente eviado- 1, que eernamente forgs a ex que regal eterna mente com essa mudanga das aparéncias’.* [A meu ver, fato de Nictsche ter detacadoo ttmno & 4 dinimia, que distbuem e dividem a sonoridade no espa- G0 € no tempo, como um aspecco plistico no interior da misc, do sigifica que ea deixe de ser uma are donisiaca Peo contevio, & bom frisar que, para ele, 56 a melodia e a harmonia® merecem ser chamadas propriamente de musica O ritmo ea dinimica sto extnhos 8 sua esénci. Mas m= bora eses dois elementos no reltam a escia da misia, * Netchs, © naiment da agi, 6, “© Tumba em teago a aspectos que dem respite harmonia Nieusche fr uma distin ensese no legen pstum do fia 461870 e abil de 1871, 7IIL], quando cle fila da “eaiade da igédia exprime a crenga na eternidade da vida: “Somente a partir do espfrio da miisca entendemos a alegria diante do aniquilamento do individu" O espiitacrigico 56 pode ser explicado em termos musicals. S6a misica“prodz uma ré plica do uno primordial,” s6 ela transmite a certeza de que existe um prazer superior para além do mundo dos fendme nos. Mas sem o recurso da imagem, a misica, penetrando no Niewache, Fragment pany, nal de 1870abei de 1871, 7128), Niche, Orme de raga, > Cr tem, 916. * tem, 16 > Hm, 6 Ross Masts Dias mais fundo segredo da vida, & p dessa dor. Tem o poder de recondurie os ouvintes& naturers, ao estado de pravercterno, onde des suerificam sin individ alidade por um sentimento irristivel de identilicagio com ‘uno primordia 7 ramente primordial © ceo Nietsche descreve o poder da musica como algo eheio de perigo, capaz de acaretae a dstruigéo do individuo. Para que o homem possa ouvir a mica ~sinfonia de afirmagio eterna ~ € sentir-se tocadlo pelo seu poder sem aniquilarse, Apolo vem em seu socorr, restaurando sua individualidade aquase aniguilada, raduzindo a sabedotiadionisiaca em ima gens apolineas. O mito e 6 her eigica, colacados junto & :miisica fazem 0 papel de um Tira poderoso que toma, sobre scus ombros, © mundo dionisiaco para dele nos lvrat Mito e Misia Vejamos agora 0 que Nietasche emtende por mito ti: ico, © que este representa na cagédia ese guarda o mesmo estaruro do diflogo. Para o nosso flisofo, mito & “uma his ‘dria, uma cadeia de acontecimentos sem fibula doce (ague- le que conta), mas romados em seu conjunto, uma inerpre- tagio da milsica [... E a encenagio de uma dor como interpretagio da music”! No item 16 de O nascimento di magia, Nietsche apresenta, de forma sucinea, sua concepgio sobre 0 mio tré- ico. Diz Nicoachs, Pent pions 1871, 9 [125 ostea e vioa 6 Doss eapicies de efit costumam, pois, exer = ame dionisiaca sobre a aculdade artstics apolinea: 3 ‘sca extimula 3 uma inti mba da univers dda dionisica em sega faz apasecer a imagem sin bali em sur mai ala signifiayao. A partie deses fx 1s, intligtvcisem si mesmose que no so inacesives 4 nenhuma observagio mais aprofundada, concluo a aptidio da musica para gor © mic, isto, 0 mais sig nifleativo dos exemploseprecisamente, 0 mito tig: ‘© mito que fala do conhecimenco dionisiao por sim- botox." Partindo dessa ctago vemos que, para Niewsche, mito «asia nfo esto no mesmo plano. Hla tem sobre cle pr- tara, Express a verdade do mundo em suaescala universal, "Zenguanto o mito € apenas uma “abreviarura do mundo”! Reinterpretado pela misica de Dionso taduzido nos ter mos de ui pessimismo tigico, 0 mito helénico ganha uma nova forga:“O que ibertava Prometeu de eu abut e tans formava o mito em veiculo de sabedoria dionislace: forga heracleana da mii, ea manifstagio suprems iverprcta ‘mito na tagédia com nova e mais profanda sgnificacio" 8 Nietche, Onacimene de api, 16, Rosina Suse, su dst tagto de mestradar dre ngugem ne priv ev de Nehe, {taal com muita acs gaa de nolo gue da deiner 1 regime das apartncie da arte no qual ear calocam a swig de ‘epresivdade da ingugim music, popiiando 20 aginst de hea vculagae eum conteudo orgie unter. dam, 16,csambém Fagen pizwmer, caro de 1869, 149) Nieche, O nasiment de igi, 23, Adem, 10 66 Ross Mita Dias Assim, a raged resgata o mito que deBinhava Ihe dé um conteido mais profundo, ums forma mais expresiva, de ‘onde ele flresce com cones inet ¢ realza, assim, 4 mas perfec unio de misica e mit. A misies fecunda 0 mito ‘© mio protege o espectador do impacto da misica, tao do deseo por ea desencadcado de preciptarsee extin= guirse no devi musical. O mito trigico, como simbolosu- biime gerado pela misica, para cornicla audivel,arranca 0 couvinte de seu sonho de aniquilagio orgistien, leva-o 8m curera, no para destruir sua individualidad, nas para Ex lo alegra-se com a eterna vids, que core como mica con- tinua. O miv tigen, encarnado na propria pesoa do het ater a deseo de belera do especeaor, fvendo dsfilar di ante dele “imagens da vida", incitando-o a caper 0 nvicleo vital elas contd, Havera ainda, segundo Nictsche, um outro clemen co que descareparia a violencia dionstca na tragédia o dit logo. “A tagédia’, diz ele, “enquamco drama falad, € tam bem uma mancira de decarregar a violencia dionsiaca do ‘mir de protege o homem da terivel dor que 0 mito vela. Mas embora mito e dilogo preencham a mesma fun- Glo, eles nfo tém o mesmo valor. O mito protege o ouvinte da violencia da misica, é, 20 mesmo tempo, dionisiaco © apolinc, enquanto o didlogo ¢ apenas uma ilusio prosetors portanto somente apolineo. Agora, mito e dislogo juntos, na tragédia subordinados 20 canto coral, mostram que todas as coisas, desde a mais fea discordincia 4 mais estranha disso- (CE Me, 2. Wilton de Campos Vice, om a ds to Mgnt Goths Neal, dsc tobe tetr que ekment point em ela 3 mse, Niscshe, Fp ven pes, 9 =A 4871.9 [13 sic E08 o rnincia, fazer patte de um jogo artistico jogado no coragio Go mundo, que trdo 0 que nasce e se individualiza deve pe recer: $6 a vida € necessria, um eterno prsze. A dor produsiva, osaltimento tansfigurado, a vida ge- sando mais via ea vida eterna, cs 0 que representa o drama musical rego. cAP{TULO 5 A FUGA DA MUSICA A frateridade entre Dioniso ¢ Apolo foi de eurea du ragio, Quando Euripides abandona a miisica, a fonte onde bebe o tigico, quando pie de lado Dioniso, Apolo também 0 deixa e desaparece. E a tragédia agoniza e morte. Quebra: do oliame entre os deuses, Euripides volta-s para 0s homens Humaniza o teatro de Atenas, suplantando o drama dos deu- ‘ses. dos herdis como drama dos seres comuns. Com o propésito de reconstruir o drama tigico, Euri- pides dessucraliza a cena. Até ele, 0 nico herdi era Dioniso, “ematanhado na rede da vontade individual! com ele, sobe 40 paleo © homem da vida cotidiana, que deixa 0 espago re- servado 20s espectadores e invade a cena. O espelho, que n- tes tefleta a grandeza apropriada aos semideuses,reproduz agora, com extrema fidelidade, as imagens da vida conmum Familiar ecotiiana. O espectador, que na excitagio dionsiaca dividiu com 0 coro a visio do deus, no novo drama torna-se expectador de si mesmo. © que vé e ouve € seu duplo, ¢ esse Nias, Omacimente de np, 10 70 Ross Mania Dis se exprime bem, no com a fala prépria do semideus ou do sitiro embiagado, mas com a linguagem setrica, cheia de sues. A cena, que na ragédia ancga era secundiva, tor na-se ness teatro 0 lugar privilegiado do especiculo: Jo coro fcavs em segundo plano, apenas para colori conjunto. Um patio 2 mais ea cena jé domi- nova a orquesta, a eonia + metrépole; 0 dislogo dos Ppetsonagense seus cats individus ecuparam © pi meio plano esobrepujaram o que hata de importante ax ent: aimpresio de conjunc dala pea musica do Nicwiche nfo ops o talento do autor das Baca, nem uno produtidade; preotipase sim on inv Ugaro port desuacaminkadascontapel da ado, de ss recontrsso da tageda aun veda opste de oa Euripides, a fandaro drama sb orciona, ao ais tarde cori da trae fndo dons de quer drama dip parscta otis! Ds pope amis ¢ dl somente Matus come o tor nao ode hndirse totalmente com suas iagens, como lr apsodo epic, nem tho poco se tansorarefr madame Utes corps ¢ cuts las como aconec com odramatago gic an benno poder ~ cso Near sera ctegoriamente produc algum efit, Por so, Euripides fangs mao de Nictachs, “O drama musical gop ed. fences, p25, calm ps isto apolineas;explos6es emacionaisentram igar do fundo emocional Pet «es pintadas com extremo naturalismo.* dalucideee p fem cone l A dialética otimista ‘A auséncia da misica e o exagero do sentimento Fize- ram aparecer uma nova figura ~ a dialética ~ e, com ela, 0 didlogo assume proporgbes que antes no tinha. Esse elemen- to da dialdica se inerodus furtivamente no drama e produz tum efeto devastador ‘Com a hegemonia da palavea, a misicarorna-seserva na dispusa. Cria-se um dualismo no imago do deama musi cal, que desfax a unidade interior entte masica © palavra, isica ¢ agio, comgio e entendimento, querer e intclect. E, eno, cada pate lads se atin! ewido drama jt indo pode sucumbir, preciso que ele também se tore o he ri da palawrs Assim, se relagio & antign atinude nao como pocta, mas como pensador racional. Sen ripides representa um divisor de dguas em agédia, iso se deve, principalmente, 3 sia tado no banco dos espectadotes,reflecindo sobre a estrutura| do drama de Esquilo e de Séfocles, Euripides adquire uma capacidade eritiea que o leva a formular uma “estézia rio nalista” ¢a privilegia a conscigneia, a razio, a critctios pelos quis xe deve orienta toda a prdlucio es [Na verdade, essa estética consciente € prodito de uma nova alianca: a de Euripides e Sserates. Com cla chega 20 fim FGI Nish, Osimentn de rai 12 EF Nistnchs, Sgt poms, one de 169,149) n Rosa Mania Dias 2 dade erigicaeprincipiaaidade da rasio. O enlace da arte ‘com a vida deixa de ens di lugar 20 da are com a cién- cia. Para esa alianga, Nietsche tem urn nome: “socratitno «stérico”. Seu princpio é mais ou menos oseguinte:cornar a intligibilidade 0 pré-requsio da belesa. Tudo tem de set incligivel para ser belo ~ corelato 20 princpio socritico “tudo para ser bom deve ser onsciente Com a intengie de tornaro solo dionisiaco canscen- te, Euripides introduz o prélogo, que expliea, do principio ao fim, 2 ago. so que um dramaturgo moderno chamaria de quebra de tensioé, nos dramas de Furipdes, produto de tum agudo proceso critico e um exemplo de raconalidade Tor consierar que oespecador se encantzva, nas primeicas cenas, em estado de inquietude, com receio de perder o en tendimento das cenas poseriores, por flare o lo das his- cérasantsires, Euripides colocana boca de uma divinda- de, para que nfo houvesse qualquer dvds sobre a reaidade do mic, 0 relato do que ‘precede a aio, do que aconteceu até entio ¢ mesmo 0 que itd acontccet durante o desenrolar da pecs” Tud iso com uma finaldad:evtar que 0 epee tador dene de chega a patho. Mas de que modo podera ee Frio efeito patéico se a msicaé apenas um “exciante, um “stimulant para net- vos iniferents”e nfo mais asoberana da cena? Pla paixio 6p posi Eudes quer abe, pea ga da pl, 0 No drama antigo, “a musica estava dexinada a apoiar © poema, a reforcara expresso dos sentimentor eo interese > Niseche, © mainonte de magi, 10 “ Niewshe,“O drama musi ego", ed. ances p25, elem pss roca 94 mstea 3 das situagbes, sm interromper a. ago, nem perturbéla com ‘ornamentos iniecs™.® Era empregada para despertar nos ¢ pectadotes uma fortisima compaixio pelos solrimentos dos herds. Segundo Nicesche, também a palavea poética pode- ria produziro mesmo efit, se bem que de maneira media pois primeiroatua sobre o mundo conceitual 56 depois ain- fe 0 sentimento. A msica, por sr uma linguagem univer- sal, entendida por todos, oca imediaramente 0 coragio.” Euripides, porém, nao consegue produzit com a pala- vza.a compaixi trgica. Embora cenha constuido sua poe- sia no modelo do puro sonho, cal como Homero consti a Miada ea Odiséia, sua tendéncia apolinea ji se encontra “en- cerrada na crisdlida do esquematismo légieo",* ou sea, des- pojada de sua forgapodtica. O préprio mito tigico, que an- tes nascera da musica, em sas mos, é transformado em uma sucessio de acontecimentos racionalmente concatenados, “Mas a estétca conscience de Euripides nio tem apenas «© prélogo como esquema racional também o eplogo realiza ‘essa Fangio, O “consolo metafisico", sem o qual seria inex- plicivel © prazere a alegria na tragédia, foi substiuido pelo ‘deus ex machina. Tendo o genio da misica abandonado a tra- ‘dia, sendo a misica indissocivel da “consolagio metafi ca, Euripides nao tem escolha: um deus-méquina desce 20 paleo, tax “uma resolugao cerrestre para a dissonfnciaerigi- ca’) um futuro mais ameno para 0 herdi. Com esse fecho, Euripides jusifica sua visio da eragédia, e 0 espectador g2- nha a serenidade do homem teico, que acredia poder a ciéncia guiar a vidae o saber endiretae a ordem do univers 7 Teme ances, p28, ed lems, p. 328 " Niece, O masimene de gis, 4 > Ides, Rosy Mata Bias Como vimos, ess espiriva racionalisea de Furipides nto € tinea causa da morte da tragédis cle é, em iki insta cia, manifesagio de algo mais profundo ~"o racionalismo ber, s6 se 7 2 pr ignorines, 0 vecoso fl’ Para Nietsche, a maior inflcidade da Gra fo $6 «rats, feo edesrmonios, terse itroduaifo no drama de Euripides, Onde deveria nat o espirito mito. aritocri 0, pessimist, comes a governar tna dileae uma ica orimisa, que presupte seem os problemas eens da exis téncia esolvidos pla aiidade do pensament. Desprezando tudo o que rea" por insinc" incerpretando a arte trie como algo io raion, que no prdeser concebidoconcitunlmene,julgano qu oem se desvn da vendade a0 apresenar “fins sem casas sas ser efits! soratismo condena a arte erga. Color ca-a ma categoria das artes aduladoras que epresentam 0 aga divel ¢ 0 nao-ttil pee : E desse modo que Sérates inom Dioniso, a aie vagem da ate greg, © doc arte e vida, Onde havin afi magi da vida e discoid soimeno no sia da neue ‘a proporionaa pel nade interor ere msicalpaavea alia, sarge a nego da vida, 0 dominio da dale. A cali omit, como asoite de seus silogismos, cexpulsa a mien da crag: isto &, deseo a essence sé cagidia, ques se deta interpetar como manite- ‘asio eiguraso de estadosdionsiicos, como simbal ont ‘ago visivel da musica, como mand soalta por uma embriaguce dionstea= [A natureza bigica de Sderates, essa Figura histica do racionalismo grego, obriga a musica a submeter-sedialtica, «assim o homem rigico & substicuido pelo homem tesco, {que ode a ideia& vida, julga 2 vida pela ida, postla a vida ‘como algo que deve ser julgado ¢ introduz “a ctenga inabal vel de que o pensamento, seguindo o fio da causlidade, pode ating os abismos mais longinquos do ser e que cle nao ap ras € capaz de conhecer 0 ser, mas ainda de corrigi-lo","? de poder cataractera ferida da exséncia pelo conhecimen: toy! a misica, que fora a mie de tragédia, a vou de Dioniso fm pessoa, uc exprimia toda a desmesura do querer 0 seu prerea su dor limikads entre um ato out, abandona espeticulor JE ridicule mostrar um Fantasma almosando,& ridicule pelir-se a una musa tia misteios, como éx musa da musi tect, que cante no tribunal, nos en ‘heaos das esararugas datas, Comsiente dese til cilo, perplexa com sua inaudits profanasso, 2 msi falas na tags, Cada vez menos se ateve a elevar a ‘07. Finalmente embarabise canta coisa fora de pro posito,envergonhaseefoge roralmente dos retos.> * Hem er 15 "CL Nits, bo. 18 ® Nieosche, “Sictnove ati’ anes ASce ae p. S38 50 CAPITULO 6 PALAVRA E MUSICA OU © ESTILO RECITATIVO NA OPERA © socratisme estxico marcou de cal forma a histéria dda humanidade que, em toda busca que izermos pata esmit sar a decadéncia da vida e da cultura ¢ a consequente dege- nereseéncia da ate ele estard presente, provocando toda e- pécie de devastagdo. Foi assim com a tragéi, serd assim com 4 pera, que segue 0s mesmos principios do socratismo. (© que corna a dpera herdera do soeratismo & justa- mente, 0 fixo de prvilegia a palavra em detrimento da mii sica ede revelar uma visio otimista eidlica da existincia, sto 6, acreditar que, na origem do mundo, existe um homem bom ¢ naturalmente artistico, que “canta pelo menos um pouco,a fim de, na menor excitagio sentimental, poder can tara toda vor"! Mas antes de analsarmos a relago palava¢ miisica na pera, uma observacio se faz necesita, A partir de seu item. " Nistesche, O nacimente da mpi 19, O waicimento argo 0 semas Nietache votada apes para o esto dos gregos is preocupado em investigar a origem da dpera canscrerizs-a como obra da cultura soeritica, em oposigio a0 drama musi cal wagneriano, obsa de uma cultura ergica. Essa mudanga & visti com desconflanca pela maiosia dos inérpretesdesse li- sro de juventude. Acreditam ter Niewsche, apaisonado por Trstdo e bold, enunciado & filologia ¢, influenciado por Wagner, se dedicado & divulgagio da obra do grande mestre No encanto, ao estudsr as idélas de Nietzsche sobre a rmsisica, essa segunda parte de O mascimento da ragédia pa rece-me perfeitamente orginica em relacio & primeira Nictasche no abandon a filologia, nem muda suas idéias sobre a misica. Entende, sim, o trabalho do fildlogo num sencido diferente de seus contempordncos: “Nao sei ve, "para que poderia servr a filologia clisica no nosso tem po, sen para langar uma agio incempestiva contra esta épo- ca, sobre esta €poca e, assim espero, em beneficio do tempo aque hi de vie"? Dessa mancira, avesso& fillogia profissional, que ha- via se tornado um trabalho de anciquitio, Nietsche busca a cultura e arte antgas, no que elas podem servir para cons- ‘Nich, tar a Spano itr 19 de O macimont de agin, ‘ao fir wfenla neu eorapositor em especial Apa em us Fragen pcan do invecno de 187 auton de 1872, enc Hck ¢ Mozart O de Clack, iad subordinaao da : cpa msc deve contemarse em cols, O de Moz, Higado 3 ond sha ® Neusche, Da wilidede edenanage da Hi ‘rar a cultura modems, Muito embora saiba que o ideal de uma verddeita cultura (4 “unidade de estilo aristicw em eo das a manitestayoes vias de um pove")* aio mais existe, ten- do sido substicuido pelo espirta socritico, actedita que ese ideal deve ser buscado como alzernativa para a decadéncia dx pvca moderna, Por isto, na sua dtica, Wagner, ao dar prim za 4 misca, craz & baila a experigncia dos erigicas e, com cela sua euleura Ao discutir a cultura, Nietasche estabelece uma distin so enere cultura trigicaesocritica, Caracterza a trigica pela certeza da indestruibilidade da vida, e a sovritica pelo amor ao saber. A primeiea se manifesta através da mnsia, a sun dda se exprime pela palavea. Assim, qualquer cultura que ase gure preponderincia da misica ¢ erica, qualquer uma que «dé, palavra prioridade, socitia, Na cultura moderna, na qual domina a palwea, 0 que prevalece sio os ideais do homem teérico que, atmado de conhecimencos poderosos, pe a vida a servign da ciéncia, O protétipo desse homer tesrieo & Fausto, Descontente, le entrega-se 3 magia e ao diabo por sede de saber. Privilegian do 0 conhecimenco em detrimento da arte, essa cultura socritica ow alexandtina desclasitica 0 dionisiaca e exige que cleserotne vsive!& razao, de modo que o tgica ~afirmae ‘0 da existencia ceda lugar a0 oximismo do saber febve deviver © que melhor encarna esses ideais & a pera, Eli & regida pelos mesmos principios que regers a cultura soctitica 8 primazia da palava, o oximismo de homem resrico ea s- ico sobre o artists, perioridade do leiga Py Rosa Masia Dias Camerata Fiorentina A Sper surge no foal do século XVI, na Telia, quan- do um grupo de melas emisicn chamado Cemerata Forentina, inentvado pelo conde Giovanni Bad, retine- se para diseutir a possibilidade do eenascimento da arte musical, Fsse grupo, atento ao fac de a letras das misicas no serem compreendids perfeitamente, pasts a pesquisa a smiscagregae investiga ligagto masic palavea a tagé- dia. A partie dessa pesquisa, ensaia uma nova forma de canto em que as palaveas, sem desteuiem os verso tornam-se mais imeligiveis ara satsfizer a0 desejo do ouvines de compecender as palavas sob o canto, surge, entio, 20 lado da eatedral das harmonias palestrnas, baseado no principio do contraponto, do movimento melédico, da consonincia da disonancia, em caja construgiotrabalhou toda a Idade Média cist, um composto nio-natural gerado por impulsos exrarttios: 6 rectatvo, silo rappreentativ, que os lorentinosprojetara como o equivalente do discusso melddico que ees supunhara ser didlogo na tag. 5s te maine representantes dese grupo retin so: Vinsnes Galil (1520-91) ~ pido fico Galea publcou em 1581 o abs tho de tora musical Dine dele mia amiga e madera aco Pe OS61-1633, compte os rimeitor dramas no silo nppraensiirs Dati «Furr: Claudio Moreen (1976-1643), reco ces ‘orguetal mat subordinow a hurmonin ome 3 pala. lnfuence «do pels ideas de Gali, pubicow seu prime iv de mig cm 1587 erealzo, em 1607, rf, 3 primeira obra prima do grupo. Niewsche, © maces da mgt 19. rauavea & mDsica 81 O recitativo ~ stillo rappresentativo 0 recittvo, estilo meio cantado ¢ meio flado,wsusl- mente acompanhado por um istrumento,cravo ou volon- Celo,enfatina a modulagio ds palavas permite 20 cantor tum espantosaMlexibilidade, de movimento da fla tonal dade, de acordo com a demanda dramatica do libre, sem, no entanto, sobrepujarinteamente a misica Para que nao exitas ameaga de a musica ieromper em. cena como figura principal, o que destuiria o impacto do dis- curso e a iter ds paiva, o aur do libre cia siuages fm que o cantor pode extender com virtosidade sua vor © descansar no elemento puramente musical, sem levarem con- ‘4a palavea. Assim, ao mesmo tempo em que abreespago para 4s, ces sn prio ao bre on das incerciges lirics, da repetiho das palavas esenengas sn alsingio de palavate mire fo considrada pelos criadores da épera a verdaderarecriagio da arte tigi Ca. Para Nietiche, 20 contro, embora a dpera poss dar uma ideia do que cra esa art, ela € apenas uma carcacura do drama musical geego. 'A psigio de Nieasche & clara 0s ponios de deseme- Ianga entra tragédia ea Sper io maiores do que os que as asemelham, Enguanto a wapédia nasce de un corto dioni- siaco © da cangio populat, quando o liame entre pala © smisica ainda no havia sido ompido, a pera surge em um gabinete, das mios de eruditos florentnos, que preendiam enovar os efeitos produzides pela misica na anxguidade.* 7 Ndem Siete," cama musi geg", dl 516.5175 fn cea, p. 1. + Maas Diss Ora, fruro de : dade 3 magnifica arte dos ancigos, que brotaea da vida de um abscrata, a dpera nio di contin povo. Pelo contririo, mila suas raze, isto &, aleera de tal ‘modo as catacteristicas dionistacas da misea, que se tora escrava do texto e da aparéncia dos fendmenos, De espelho do mundo, a misca torna-se uma are da imicagio. Mimetita os fenmenos e, neste aspect, em mais semelhangas com a misia do novo ditirambo itco e com a rmisica litera da dade Média do que com a eragéda, Tal como 0 novo dititambo, nfo rflete a vontade, mas sim im 12 0 sentido ds palavras; uma torments no mas, por exer plo, sed acompanhada de uma misicarormenvoss Tl como 2 misiea litera da Made Média, evjas nots eram represen- tadas mas pariuras com a mesma cor da coisas refrids no text, isto é vere, quando mencionava plantas, campos & has vermelbo parpura, quando flava do sol eda lus, € feta mais para os olhos do que para os ouvidos? ‘Mas coloca a misica 3 servigo da imagem eda pave, empregé-la como um mio, em vista de um fim, parece 4 Nieasshe to sdiclo quanto personagem que que sel var no ar com a ajuda de seus priprios bragos."” A. mvisiea jamais pode servi de meio, Mesmo em seu estado mais gros: sero, sempre ultspassao texto eo ebaixaaser apenas 0 su reflexo. Comparada & musica, toda expresso verbal tem qualquer coisa de indecent; dite embrace, analiza 0 que ‘Nistchs,°O drama Msc Grp ale, p. 517s. ns CE Niewsehe, Bagmentorperamoy, Final de 1870 abril de 18 stake E MOC 83 “evtamyente a meisica pode engendas im gens que sio “esquemas ou exemplos de seu conceit universal!" Entre ‘anto, o camino inverso é impossvel. Quever iustrar musi calmente um pocma, querer toenar intligivel a palavea pela miisca ¢ como virar mundo pelo avess, “écomo seo lho aquisese engendraro pai? Imaginar que a dpera precisa de Tibreo, de palavra para suscitar 0 seatimento musical, acte- dlicar que “as palavtas 0 mais nobres que o contrapont™,!? que a leva gowerna a poifonia como 0 senhor a0 eseavo",¢ dlesconhecer a natureea da musica Como o mundo apolineo do oar, absoro na sua {jet nso na evocarépenhuma sonra, E crest Se Rate iene scala alga som, erate 0 seria piston in roa so Rail 4 Rosa Mana Diss texto inspirara musica, ambém nio concorda que esta nasga dos sentimentos engendrados pelo poema, Na verdade, os sentimentos podem simbolizé-la, mas sio o que hi de na artistic na arte. Quando um misico far misica para um. poema, ndo se inspira nem nas imagens, nem no conteido seritimental do texto: quando iso se dt & porque o poema por si mesmo ji era musical, ou cendia a tornar-se misica “Uma incitagio musical que vem de esferasinteiramente di ferentesescolhe esse rexto como uma expresso que a clase assemelha.”? Anda para enfaizar essa idéia da impossibilidade de hhaver uma relagio necessria entre os dois mundos distintos = som ¢ palavra ~ para mostrar que entre eles existe apenas uuma telagio de exteriotidade, Nietsche recorre a um exem- plo:a Nona Sinfonia, de Beethoven. Composta para a Ode & Alegria, de Schiller, essa musics nada lembra o poema que @ acompanha. A ode de Schiller nao convém 3 alegria ditt bia dessa misica, ingénua e popular, que evocs a redengio universal. Iso € tio evidente que, a0 sermos tocados por el, io nos preocupamos em entender as palavras,e até mesmo ouviclas nos €indiferente.'© Mas, se & verdade que nas inimeras anosagies que fer para a lima parce da Nona Sinfonia o que preocupava Beethoven eraa sua musica e no as palavras do poema, que, para ele, cinham um valor puramente sonoro,"” por que, en to, esolhera a Odea Alegria? Nietsche responde a essa ques ® CE Mem CF Mm de Debus, em Momieur Goh, tm 0 mesmo pensamento de [Niewchesobres None Sinfonia iso sic eed Bosthoven rio a liter por dos totes (0 menos, ia no sei que eat hoje fem dia as pala). Ele aaa opus 8 main er Pata stars € Moston 85 tio mosteando que Beethoven precisava, para desdobrar 20 iximo a poréncia sonora e os acordes cheios de alegria de sua miisica, do “som persuasive das vozes humanas” ¢ no do sentido das palvras, As vozes estavam ali, em sua sinfonia, sratadas 4 mancita de insttumentos musiais. Com a miisica de Beethoven nos owvidos, com 0 coro das mil vouessaudando a misica, dominadorae tinica rai- nha, Nierasche admirase que a pera nasga para atender a0 desejo dos ouvintes de querer ouvir ¢ compreender as palavras sob o canto, Paa ele, ral fato € sintoma de decadéncia,c por isso adverte: quando a miisica perde sua primazia, cambém as palavea perdem seu verdadero sentido comunicativo."* A bpena: uma visio idilica da existéncia A essa erica constieuigo técnica da Spera, Niersche acrescenta uma ousea, que diz rexpeito a visio de mundo con- ‘ida em sua poética. Fruto da cultura socritica, a dpera vive da erenga de que é possvel criar uma visio menos sombria leaping io darament usec dea vida priv Tal: ‘ese deva ve a snfonia comm core apenas um get is ese tao de oral, e€ 6, Um caerainho, no qual eto anotados mais tke duzznin specs difete di ida conduora do final dea Fania compara wma penis obwinada e 3 epeculags paramente mus qu uv fon verse de Scher rearent em a valor apenas snoro) (p36) law © misic no hi necesidade de trmarmon compress pale O eremplo dad, pata tornar mai clara ews di, ¢o 30 ost lio do cao popu, qu ¢prfeamentecomprceido sls oavintes ue, cantando, acompanfam os versos do comps CF Nictache, Fagen pmo nici de 1871, 120 86 Ross Mauia Diss da exiscéncia, menos trigics, em que, na origem, estas 0 them separado do mal e um homem sem pecido, original- mente hom e vttuoe. Touco importa a Nieusche que os humanists do Re- nascimenco combatam através dessa creng a concep tei rica cristé do homem predestinado a0 mal ¢ 3 condenagio. Emboradessem 3 opera o carder de oposigio a um dogina, io foram radiaisa ponto de dexarem es lugar vatos pe encherar-no com um outro dogma o homem naturalmen= te bom. Derrubaram, com 0 eu pretenso paganism, 0 ve dadeiro paganismo dos deuses gregos ¢ tansformaram o xxase musical em mera comprcensio racionl de uma rest «ada puiado, fia de palavtasesons, na slo rapproentaio. ‘Assim, querendo restauat © que julgam sera lingus- {gem oxiginiia da humanidade’? (0 recatvo), esses huma- nists riaram urna visi idea, em oposigio 3 antiga e ver dadcirasimplicidade representada pelos sitzosembriagados pojeraram, na origer da humanidade, um homem eterna mente ats, pastor, cantor, rocador de lata cento, sob a inspiragio desa fsa origem, geraram uma espécie de arte despa de caracersicasapolineas edionisiaess, pondo em sco asobrevivéncia da cultura eda pri vida, que precina da ante como bilsamo eespelho transfiguador Em suma, a principal extca de Nietsche& pera ests no fao de ela ter privilegiado a palvea em dettimento da _misicae rer feito da misica urn meio para veiculat um sent dio que lve era extrinseca~ uma visio do paraiso powoado de sexes ingénuos e bons ~ que € prodao de um hiperroa da oximismo eedica "Ch Mom, vera de 1870.71, agosto, 8281 PARTE I MUSICA E DRAMA "Se algem dia tend bre mion clus reno, com fsa pp, vor para ‘meus priprio eeu Se brincand, nade’ em profndas de ‘iat de luz ¢& minha liberdade renia-se i ave da stbedoria ‘Mae ain fla a ave da sabedovia: Vis? io exit alto nem base! Avvae pare (qualquer lado, pare frente, part tnd, 3 eve eriatura! Canta, no far mais! ‘Na foram as plane porvonture, fies arto: eres pear? No mente sodas les eriavara feve? Canta! Nao fales ‘Os ste slo" (ous “A cage de vm € Amen’) ‘Asim falou Zaeatustia cap{tuLo 1 © DRAMA MUSICAL WAGNERIANO Dominada pelo socratismo estético, a misia esteve por muito tempo, caudaciia da palavra, Mas através da mi- sica alema, em sua “caminhada soberana e solar, de Bach a Beethoven, de Beethoven a Wagner’, roma seu lugar de origem,e, prineipalmence com Wagner, renasce. Coneebendo a misica como elemento principal do drama, seguida da agio ¢ do aspecto verbal, Wagner recupe 20 impulso dionisiaco recalcado pelo socratismo ¢ aponta para o renascimento de uma cultura trigica. E esse 0 tema dos iens Finais de O nascimenta da magéda © uma das ques ‘es prncipais da quarta Consideragto extemprdnea: Richard Wagner ens Bayreuth? "Nike, macinent dis, 19 Tab isa ds Kan | Schopenhave Niche veo esrginento do esp tein, Ese Fld ap dearutem osormxma cen’ su timo, ‘scm eu abjeiv de aver mater una cur gc. 2 Uma obras frsenecetia omo provar snot de 1874, que no nth de oul pasa, 18 vieram ao conbecimento do 0 Ross Matis Dias Ao analisar as idéias de Niewsche sobre a misica na quarts Exvemponinea, percebo a mesma prablemicica que so- lientei em O nascimento da oragédia, com a diferenga que, em Richard Wegner em Bayreuth, o Kare enerernsiene palavea E mais estreito do que encontrada no primeiro livro de sche. Enquanto naquele livo a palavea acescentase 4 Imiisica Go-somente como um elemento de protegio contra ‘seu poder de conduzir 0s homens ao extado de natureza, aniquilada a sua individualdade,” neste, palavra, lune'se 3 musica para expressils, O nascimento da raédia, para tornar rosie com preensivel aos olhos modernos a funsio protetora que a ima gem es palavas , sobretudo 0 mito, exercem em relagio & ‘nisica, no drama musical grego, Nietasche eeorte ao exem plo de Trsrtoe hola, Perganta aos que real rete tém aia , seta possivel imaginar um individuo capaz de escutar © 3° aco de That e dsl sem a sua das imagens e palavras, "puramente como um enorme movimento sinfonico ¢ que no expice por espasmos despre: gando asasas da alma.” Para Nieeasche, isso seria impossvel. Sem dlade com a misica se, para concha de vidro da individualidade humana”, no se toleraria ‘ists ants de publica guar Espana s $876, 6 ria hums sctie de resis 3 penal de Wig esta pred ie. Far refrncina io quando anlar On tn Wg Cf acina Pate 1 Cap 4, Misi vi isto sm chan Wagner em Bea sume concitschopentaians de oma e spina an com oneal ev stn HSA GEREN on SEafeente foe qu angus og plea permite go individ espa deoviando pars a sua tengo. Eas Sin. por mas ques sina combalidoe cheo de compuisio els dor ds protagonists do drama, ela o saa, ener, Te pando olga, do sfimeno do mundo", repos Sd imetasmenepalamis, com ac see trac dum age pr do mand evasion ‘Sac quetcentegrne eminent ogi dee Min prec bln que, embora Niascheeabe log ena tla, pra etn O macnena da rei 9 ‘sinc em au ssl bead, no pecs nem dso fener ds paves apenas sora acu do" Nayar imi as paws pets do nde vise pt ad Teo mun novo que cat para eltra oer, Tonos ur sun delocmenoimporanse na fet niewachiana sores misc, Enguano em Ona drrtade ud queteu em Rich Wigner Beth a perma camo npungem do patos, “do querer apavorado, Tle Nistoche se fie Tid ld Av om, 5 tds, 6 Nisahs, Ried Wipro ae Srp pica, Per em, pats de at 92 Rosy Mania Dias A misica pré-wagneriana e a wagneriana Para deixar mais clara a ruprura que a misica de Wag- ner representa em relagio a tudo que se compés antes dele, Nietzsche faz um ripido apanhado da historia da mdsica, apontando as diferengas ent a misica pré-wagneriana e a ‘wagneriana A primeira “aplicavase a estados permanentes do hhomem, a qu os gregos chamavam de eths",° ea segunda fala do pathos, alinguagem da paixto. Sem fizerreferéncia a nenhum compositor, Nietzsche observa que as composes musicais pré-wagnerianasinspi ravam-seem estados de alegia ou de calms, de recolhimenco ‘ou de attependimento, néo admitindo que umn mesmo tre- ‘cho musical pudesserefleir duas emagSes de qualidades di- ferentes. E como na época qualquer excess era considerado 1nio tio, essa misica tradura o que havia de gravee modera- ddo:nossentimentos humanos. Entrecanto, um pass foi dado pata transformécla, quando comegou ase esbosar, nas compo- SigBes musicais, um quadro de estados de alma opostos, des- cobrindo-seo charme dos contases, "ou ainda, quando um ‘mesmo trecho admitiasentimentos ou emog6es diferentes. ‘Apesar de essa mudanga serum avango, & com Beetho- ven quea misica passaiaa falar uma linguagem nova “a lin- fguagem aré entéo proibida da paixdo".!® Mas, embora ese compositor rena pereebido que, no ‘proceso dramitico in terior, cada paixdo segue um curso dramitico © impée sua "em, 10, Chem "Idem 9. Nietache toma agu fing de Schopenhaucr de qe "a musica € linguagem do sntimenio eps (er Le Mone cone Vote sama Reprrition, 2.933), ‘massa Musteat WAESHRIANO 93 Foca’, sua acteestavaimpregnada das leis e convenes cexistentes no ets, e, por isso, viu-se obrigado a fazer con- essbes. E, asim, tentando fazer falar 0 pathos com 0s recur- Sos do ethos, cornou suas primeiras Composigies um tanto confusas ‘Nietasche ainda acrescenta que, em suas ikimas obra, Beethoven pensa resolver a dificuldade que a linguagem da paisao lhe impunha, Para desenvolver 0 movimento tempes- ‘tuoso da paisio, que luta contra a alma inteia e contra si mesma, rec na exaltagio e na depressio, espera e desspera suplica€ teeta, adorae odeia ~ Beethoven escolhe pontos dleterminados, frases euras. Incerpreta-as com extrema pre- Cisio, deixando 8 imaginagio do ouvinte 0 cuidado de con- ceber ede recompor 0 conjunto, concliando a unidade for mal de cada parte com a liberdade do todo. Entio, vista do ‘exterior, essa nova forma produzia o efeiro de um conjunto ‘de muitas pesas de misca, cada uma das quais represencava, aparentemente, um estado de alma constante, mas, na real- dade, nada mais er que um movimento passageio n0 curso drarndico da paisio. Mas nem sempre Beethoven consegue se fazer enten- dec. Os ouvintes, muitas vee, estando perdida a nogio de conjunto ea relagio entre a diversas partes, imaginam que a sua misica express ainda estados da alma. Dai a impor cia que Nietsche destina a Wagner. Para ele, ese composi- tor, procurando por todos os meios a clareza fazendo todos 1s esforgos para se desligar das convengbes € pretenses da misica anterior, conse fazer a misics express com vera ‘dade “a dinimica sonora dos sentimentos e da paixio’ Idec ambi, Figen pms, ver de 1875, 1105 6 Niecache,Fingmenin tums, verdad 1975, 118, 4 Ross Masia Dias So Wagner atinglu © que munca havia sido aleangado: “a lin _guagem mais Force e mais clara dos sentimentos”* 56 ele con: seguit fazer “um verdadeito arabesco de sons desenado pela paixio’."© Para Niewsche, toda musica anctior, comparada 4 de Wagner, parece “tensa, fraca,afetada, limieads”. E 0 que hi de excepcional nesse compositor ¢ ter cle traduzido as gradagoes suris do senrimento e tudo 0 que hi de excessivo, Iimenso, ambicioso, no homem espisitual e natu, com wena seguranga e precsio extremas."” Dealhando cada emosio, fixando seus poncos de intensidade rixima, fazendo com que se propaguer em ondas sonoras, Wagner proce wma musi- ca que exala 0 calor da vida: Joes sus misia € vig, feta de estados de alma, tudo 0 que fla por meio dea, homem aw naturera, le ‘fina partir de uina psixio estrtamenteindividualiza dla;a tempestade eo Fogo tomam ele Tors podeross cde uma vontade pessoal Acima da ressonincia de eda ex individusids- ds ¢ do combate que uavam as psndes, asia de toda 1 eferescéncia desis contastes, para com toda hci ez uma soberanainteligéncia snfonica, qu, da guer ra, far maser incessantemente a epics do mundo, tal como o compreendeu o grande fissofa de Eis, como haemoniaresulante do conflio, com unde da jus tiga eda howtlidade."" adel, Richord Wie Tinnbiner em ari 3. CL Nirah, Rcd Wa orem Bayo, 9 [er CL arn Feggentn pats, vero nde 1875, 1015 Desai MUSFeaE WRENERIAN 95 Miisica e palaora Mas uma questio se coloc: ses palatas, por terem se e dh vida, softer de afistado da misica e, eonseqienteme uma docnga secular, enconeramse em um grat minimo de incensidade, como podem tosnar perceptive ese mundo so- noro? Haveria um outro tipo delinguagem que pudesse dar cont da misia? A solugio pas ese pealeme, Netsche parece encontri-la em Wagner, que a rest dlido entre “musica ¢ vida", “naisca e dram’ tz remédios pparaa“enfermidade da lingua’, que pest sobre vodo 0 desen- volvimenco humano,!” Sempre preocupado com a questio ds ling considerando que o individuo sé ¢ livre quando sabe usar them a sua propria lingus,2” Niewsche faz uma anise de seu uso na escola, na literatura, na imprensae, ptncipalmente, nas rlagbes pessous, Diagnostica uma grande debilidade Peo fito de desenvolver-se para abarcar o mundo do pensamenco” e de afasar-se excesivamente de sua fangio primordial ~expressar o sentimento com simplicidade e ve racidade — a lingua termins por ficardistante de seu pono dl parida, de sua forte: a propria vida, Distanciada da vida incapse de eamprir a exigencia paraa qual se destina = far ‘cam que os que sofiem cheguem a um acorlo sobre as ne =P ansformada em cesscaes mas elementares da vida TCE Ninh, Aird Wagner em Beat 8 Frage pany (37 UM Niche tan Ch. ike, IE 125220111 12899, 98 96 Rosa Manta Diss lngugee anon, em pura onveng, a nguger a sim, nao pode dar conta da musica, To Maso diagndtico de Nicasche enapola 0 mito propriamente lings. Fleacredtaquc oo dendo hier 56 scravo dat pave mas tami sca dat comer. Coes que ram, prio mesmo, "scrvo do Sen inj (Oho conegindo exes ous eeprias senmenon “Asim iante dem quad de dong da linguager, € conseguentemente da propa clas, que dar as cal wagneran adguite oda sa signi, Pimeo por uc da mise inguagem da natueese mas sind _uto segundo porque transforma sa puscaem lingagem és podemasafrmar com a mir certezs na obra de Wagner, tudo que é vsivel no mundo quer se apro Fundar ese imeriorztrudo que éaudivel procura emer: ie manifesar-se vsea elu, quer, de alguma for ‘ma, cogporifiar-s. Sus ate o condus sempre por esses, ois caminhos, que vio de um mundo da audio + um mundo enigmatcamene primo 20 drama visual © CE dem. Quando Nictache tal 2 educagio nas Evepornes, sa preoupagio maior € monar que aera hic, fortes ¢ Misi, deforma de al moda individu lersinando Ihe a pens co ‘etamant em lgar de sent crretament, coma sc ase pose pe sor corztamente, sem aprender a seni ousamet), que ee mal Pe manter sua props mvc, suc gue sth» penat de edo com a coven, Mem. 5 (nash MUSICAL AGNERIANE ” Masse a misica wagneriana exist pata fier falar as paixies,é precio assnalar que, comada isoladamente, sem 0 eam flado”, la ndo di conta verdadeiramente dos sent- mentos2> Pata corpoifiea-se, comunicar os semtimentos ¢ fevelaro que cas em sia msica precisa das palavtas e dos sos — do mundo vsive S680" a verblzara mis, Wagner iventa uma nova in- uagem, que esti perto da natureza e da msi. Mas para iso reve de corer dois scs: primeiro, de torn incom preensvel ao dar &linguagem e ao pensamento“coloragbes inabituss’2 ao fat-los fla a paso; o segundo, de no comunicarverdadeirament os sentimentos, 30 us a pale ‘ras que, em aims iastincia, podem despertar em nds 0 hhomem teérico” Dara resolver essa dificuldades , princi- palimence acento para o segundo perigo, que deur sua Inisica ~ visto que ela sarge no quadro de uma cultura Socritiajustamente para se conteapor 20 “instntodesenieae ode saber” et cultura fistéia dos pseudolerados-, Wagnet far uso de uma linguagem que étepensada através da mi- c condutda a seu estado originvo, onde ela ainda & “pocsia, imager esentimento”” pee alegando o recurso da aicrago,® despojando a linguagem de todos os tgores da ligieae da sintaxe que a tomam reffaira 20 canto €aarrastam como ura engrent 5 Nieashe, Fragments ponumr veo de 1875. 115). % tdem, © CE Nictachs, ind Wigner om Beyrath, 9 2 Netche, Figen pm, 9 = V 14a 187), 972 2 Nicasche, Riche Wigrerem Bayeth 9 © CE Nctache, Papen: pews inca de 1874-pimaver de 18 53216), Wagner considera alter como ot gu Has 5 He tap verso. Asin. andre dh alteragi, fr com ques mss os Ross Mis Dias gem enferrujada, confiando no catiter original e inesgorivel 4d lingua alems, na forga sonora guardads na rae das pal ras" Wagner torna a linguagem audaciosamente concisa, simplifica 0 encadeamento dos periodos, dé forga ¢ modula 0 rtmica as frases, faz uso de uma notivelriqueza de pala ras vigorosas ¢ expressivas, nascidas de uma veia popular © proverbial”, em suma, converte a linguagem de pensamen- na linguagem de sentimentos"."" Além disso, para cada um de seus dramas, ele eompse uma mnisica bem espe- ial riumada pelos verso patétcos dos personagens, onde as palavras estio envolvidas ¢ submersas na melodia." sade das plascovesponda aos sentiments que elas expeessi. Sie rnumeross as aliteagdcs a Trg Tal recurso eadur ora nein famento migicn (Krieche Kr), ora o despreza (Zeremmert! Zeca cer (Rae Race, Zandt ir Zan), 0 8 aonb inal cin Nicer gener). Tash wine sonatas Tinhas (Nace wd Nebel eh nd el). ‘Wagner eee: "Se considers com aenso.ahisria ds ings pecchereme sinds hoje ma rai dae pala ua igo de Srl laraente qu, ne infin,» Ferma dade um obj foincidi de uma mania quas completa com asemagiopemeal que hos cuunna; euler loses ied admit que a primis ling humans deve reco ma grande semihangs com w camo” (Richard Wagner. Quatre Pine Opes, p 57-58). Nictache, Fregnenur pnw, ern de 1875, 115). Esq ‘and ses va nce Wager di gu" Tinga don Sons comega co is diag das pals com seine tog comoyo co fim ds comprenso, omit, d hari cis, haps (Sada por Sos High Maton en Doman p 1). 1 "Conmunieacto aon mis din. Were nor ders rata sm Oca dr Nibbana 9 gue appa oe lig he ou Sidi cme fmcm oven bah, wundo a ingage se nei, ons ines vgs do vere lead fo aM Musteat wacse nase ” A anilise nieeschiana prossegue ainda mostrindo que «© elemento possico em Wagner iio se apresenta apens ‘musicalidade das palaveas, mas, principalmence, era cimentos”. Wagner concebe sua misiea “em atos ensfveis ou Visiveis,e nio1em conceit, isto é, ele pensa de forma mitica, como 0 povo sempre pensou”.™ Preacupado com 0 povo, que havia se tornado eseravo do trabalho, pensando om devolverlhe seu “sistema poético de imagens miticas",dnia forma de revitalii-lo novamen- «ce, Wagner se pergunta: qual poderia ser, para esse povo s0- fiedor, 0 maior consolo ¢ 0 mais sélido apoio na misévia? O compositor mesmo responde: © mito ea musica. O mito que cle sibia ser "feuto ¢ expressio da inflicidade do povo, © a _nsca de semelhanceorigem, posto que mais misteriosa"> “Mas embora ivestem @ mesmo solo de erigem, mito & rasica estavam separados na sociedade moderna. Enquanto a misica era ainda cultivada pelo povo, o mito ~ a imagem {que 0 povo far de si mesmo, de seu destino ede seu futuro, quando se vé sebypecie acteritais~ estava desfigurado, trans {ormado em conto, Wagner redimensiona, entio, a8 duas es feras, que pareciam viver estranhas e indiferentes uma a ou tra, Resttui ao mito seu cariter de imagem do mundo ecria ( drama, “tertério intermeditio entre o mito ¢a musica’. ‘O'mizo,o elemento essencialmente poético do drama, «que faz a musica falar em toda a sua plenitude, “no se funda em um pensamento como se aredita comumente, mas é ele mesmo un pensimento, embora nig conceit, ou melhor. rnder emt tuma imagem do mundo que no se pode comp: ‘Nievache, Fo 2 Nisenchs, Ri ents ples, vera de 1875, 11118) rom Barat, 8 em i em 100 Rosa Mania Duss pales, mas aconrecimenros-” Wagner, de cco ned pars por mito Sua mica aaa dss “ebids Bee amen”, que mio tm a foxma das ig abst eaten forema de "tos vsives c sensi, desencolan- spas tjame de nos “como causalidades factual, no Mosh do spor cxemplo, © Anet dex Niblangos “urn prodigioso seen de pensamento sem 2 forma especulatva do pens Seer SFOs pensamcntos que os hers do poema expr series os pensamenos do poet como pact ele t= sme i pucimentos, a sucesso das cenas, © 88 ao QUE Se desenvolveéseu pensamento™" sev: fend a unio de eito emisia,restaurando o andgo compromino ene via, ate soo, Wagnet fe are aversion aspects desu drama asia eam, Fada so seninentos. Enquanco a mii ansmite ime Tieuche amen ptm veri & 1875, A108) tb Rilond Wagner om Breath, 9 a orden pes vo que xn mamas de Whgnet fs Dow Ud gc xo ri nnd evusaumars pla us te tacoma, Ai decent que he cao © an pene dein a ews um mundo de its nti met sertraline pt Ne ae nea, ho ls incu amen ey Foe re olncomprecndepor que msm o confines oe mgr cand O ta ge aeanaam 8 Spo © face ean dew compen rennin Dt raion legion das ring Fe a acon brihoume ir ded eno penis qe me past ingore Urn cay ct, een cg precio on wma trade 0 damn” (en Leben, Marque 191, p30) 9 Nien, Ricad Wagner em Bare 9 che Pgoenn pmo, vero de 1875, 1 08 01 eee ‘radu os movimentos da musica € a palavea exprime ¢ gee ae memes clade cae Miisica ¢ culbura Alem da fungi de inguin do pen, fia di tamente aos individuos, a misica aparece a quarta Eston ‘ontnesinda com uma fungi dee da cltra E penn oci fo deo drama musial vagnetane fast wrigu do mundo mas pefco da sui com 0 manda vais completed Vsio™" densa eid deatan pr tomo, mas pécimo ds exc humans gus ie be ote acdc tsssaeedte ‘Sthando'o mundo da pespesiv da muses pa ddo do presuposto de que ela €" linguagern para 0 sen i snide Len, 9 9 em, (RABE MUsteAL WAcseRIAsO 105 Wagner 6, para Nicesche, um “dramaturgodiisimbi- Far de su “mdsica ma ponte entre o eu ¢ 0 1 eu” entre a culeura a naturers 0 individuo ea comunidad, ni- clando desse modo sus ouvintes em ao “suprapessal” permitindo que els adquiram o "sentido tgio” ‘© argunento de Nietaiche para explicar como 0s ou- vinues da misica de Wagner chegam “a ter 0 sentido ceig- 0" €semelhante a jf apresentado em O nascimento da sétia, quando analisa 0 antigo drama musical. A diferenga ‘sti no Fito de que, na quarta Extempordns, tl como mos tea Chases Aner, 0 “estado de alta txigico™ no nos devia da relidade do mundo ao fazer-nos mergulhar na esfera da vida desconhecida¢ impessal que corre independentemen- te de nése das costs, mas nos faz Vver © preset, reaviva em nds a certeza de uma peemanéncia da vida € a esperanga dde umm melhor telacionamenco entee os homens” [Nitaiche, na quarea Extempordna, expe sua compre ensio do “sentido wigco”,etado de alegta que afa a vida, acavés da tajtéria de quem ouve o drama musical wagne. Fiano, O entusiasmo set tal, dz ele, que o ouvinge srt tans partido por meio da misica pars fora de si mesmo, tornan- dvs incapun de compreender a si pdprio eas eusas mais 5 Adem, 6 dem. 4 % Idem Ch Charles Andle,Mitache a i et por hp 214, Exe autor reconhece que Niche compreendedifesentemente send vem O maments de apie em Riad Wagner om Baye 0 {ef sets 08 rpartarme compreensio gue Niece tom {bo cane vd No imei lv, ada & pensad em um secido ‘ceumeligiea-metficn; no egindo, lm de rio, tem cmb Umut, antopegico 106 Rosa Masts Diss familiares. E assim, depois de atingir “as dkimas escalas da sensagio” ¢ de acompanar toda a lia do her, todo 0 ‘erescente de sta paixio que o leva morte, experimen: «2 uma “alegria absolucamente impessal” e vida Ihe apa ce com todos os sus atratives.Transformado desse modo em hhomem trgico, volea 8 vida, comum ¢ familiar, mas condo audquirido um sentido que antes nao possua, com um sent: mento nobre ¢ benévolo, e procura compartilhé-lo com 0s sous semelhantes)® ‘Todo o sentido da arte wagneriana resume-se nisso proporcionar a transfiguracio do individuo, permitir que cle cconquiste 0 “sentido crigica”, isto & fazer com que, por urn Ieve instance, "encontreo sagrado” ~ a afirmagio da vida apesar da incerteza, da dor eda more. E, entio, para que esse “estado de alma erigico” no perega € possa fecundar 0 tempo presente, Wagner cria 0 Fesypieliaus cx Bayreuth, Esse teatro tinha por objetivo re- novar @ ambiente artstco ¢ cultutal da Alemanha e destina- vase dar dignidade & arte e& vida, Pereebendo que a are moderna havia se tornado uma mercadoria de luxo 4 disposi- Go de uma sociedade de luxo, Wagner prope mudar a con- cepgio burguess de arte: “entretenimenta e diversao". Bem sabe, porém, que essa realizagio ndo pode ser concebida iso- ladamente. Se a ante € simbolo de degeneragio da propria vida, para se fzer uma reforma artistica no ceato, seria ne- cessitio renovar tudo: os costumes ¢o Estado, a educagio ea vida socal Dai a diferenga de Bayreuth em rela aos outros ea tros. Enquanto nos outros, um expeticulo ¢ apresentada sim- plesmente com 0 propésito de divertir ede entreter de matar 0 xédio au de fazer 0s ouvintes esquecerem os aborreciment \ldtios, em Bayreuth o drama musical ¢ fico para um publi- ‘co artista, como a "consagragio matinal de wma jornada de [Na “obra erigiea Bayreuth”, aarte nfo & compreendida como “remédio ow marcérico” gragas ao qual se poderia des fazer-se de todas as misias; 0 que ali se vé é um quadto de Tua dos individuos contra tudo que se apresenta como inexo rivel: 0 poder, ale, a tadigio, os pactos e toda a espécie de ‘ordem estabelecida em, 4 CAPITULO 2 AS BRUMAS WAGNERIANAS Minha melancolia quer repouser nas entrincas € nos abismos da perez or io tenho ncesidade da mics. Que ‘me importa drum! Que me inporsans 11 convuliss dever moraizantes éxtser fond 0 ove’ encontn sail, A gaia citncia, 368 Doe anos 2pés a publicago da quarea Extemporines, Nictsche escreve um outro enaio sobze o compositor de Parsf:O caso Wagner. Nese lve, reafirma o que jf vinha denunciando em textos anteriores, No drama musical wagne Fiano a misica nio €a soberana da cena, mas ext a servigo de um enredo, de uma idéa, de una nosio eujafnalidade principal é veicular um sentido moral, religioso o metas o.Assm, Wagner jé nfo Ihe parece o Fsquilo moderno. mas tum comediante, o Calisto ds sons, No entato, pot mais que esta mudanga possa parecer ams reviravolta no pens mento de Nietsche, nio se pode esquecer, como mencionei no Ross Miia Dias aque le, jem 1874, confiava a seus cadet: nos critics violentas& nitude diance da misica, eriieas que em muico se lam as exposcas em O eauo Wagner. A diferenga esti apenas 50 10m, mais brando em 1874, mais polémico em 1888. Dentre as curiosas nocas que redige em janeiro de 1874,a que mais me chama stengio é aquela em que revela estar Wagner concebendo a miisca como arte subordinada: sonalidade do compositor € sua ‘Wagner quaifica como um erro o ito de, no géne ro atstico pera, wm meio de expres a miisias ena s tornado 4 fnalidade, enquanto a fnalidade de ex pressio cornava-se um meio. Logo [isto significa que Wagner] tem a musica por meio de expresso - muito caictristico do ator, Hi pouco perguntivamios, pro sito de uma snfonia: sea misia é al ume meio de ‘expres, qual é ento a fnalidade? Esta nio pode por- tanco reside na misic: o que 6, segundo sua natuers, tam meio deexpresio deve er conteqdentemente algu sma coin para expres: Wagner pena no drama. Sem fo dram, ele considers a misica uma monstuosidade ‘que sugere esa pergunta: ‘Com que ent rma a ba rulho?" F por essa rio que considers a Nowa Sin hia obra mais importante de Besthoven, porge ali, por incrodusio da pulave, cle dava& masca seo sont do de meio de expressio? Chacima 2 Pare ap 1, 902 Nietache,Feapmenty psa [32 U I Sa, ni de 1874 prion sees de 1874) 32152. Aaimasio de Wagner que Niche we rte ncn cn pent dra, hp J putnss waesensas Mn gmento, embora conten as principais erii- cas que 0 filésofa fati a0 compositor em O c1so Wagner (1888), vai em sentido oposco as idlas de O nascimenta da ragédi e da quasta Extemponinea, 00s quais © que aparecia apologia a Wagner, justameate por ter concebido a sisca como elemento principal do drama, seguido da ag30 e do aspecto verbal. Ora, o que levaria Niewsche a clogiar publicamente Wagner na quarta Exremporiner ¢a silenciar suas observagdes sobre a obra wagneriana? J4 mio sabe que a iiisica no drama és um meio e ni un fim? Para ess per- ganas, tenho uma possvel resposta: os lagos de amizade Nictasche admieava Wagner. Certamente no elogia o que The repugna no compositor: o temperamento histronico e dom ragor que “no admite nenhuma outra personalidade a nio set a sua ca de sous familiares’? mas o earier criados, ino cente € luminoso, que vence a esfera sombria, indomivel e tirinica, pela are ( proprio Niewsche apresenta sua versio para o fo quando em Bice Homo, num olhar rerospectivo, referee 4s Extemponinens ¢ avalia 0 que elas tepresentam no conjurto de sua ob, Diss ele Agora que lho para tris rove de wa certs di cin a conaigbes de que ees exritos so testemunbo, ‘nia qusto negar gue no fundo filam apenas de mi "Wagner em Bayrewh’& uma visio de mes cure: mss cer "Sibupenhaner come educa esti hisnia mais acim, mic erase, Sobretudo meu com promis! [..] © que hoje sou, onde hoje estou ~ erm Jane Ga Pal Ni, dows a Bayo 22.» 15 na Ross Manta O15 uma altura de onde jé no alo com palavas, mas com ‘ios ~ 6 quo longe disso eu ainda etaa ent! ~ mas cu vin a Terra ~ nfo me enganel um instante sobre cx sabre o éxito! A grande paz no prometer, 0 feliz mirar em um furuo que ndo per Iminhos, maces eperigos imaneceré mera promessa!~ Ali cada palavia€vivia, pofunds, interior os sfrimentos malores esto presen ‘es, exstem palataecobertas de sangue- Mas um vento de grande liberdade sopra sobre tudo: a propria frida i € sentida como abstculos Ainda em Eece Homo, Nietssche escreve: 2] Um psicdloge poderiaacrescentar que © que cri na miisica wagneriana, quando jovem, nada tem a ver em abioluro com Wagner; que, ao descrevera mis ca dionisaca, descrviaaguilo que ew havi escuado — que cu, instintvamente, tudo traduaa ¢ wansigueava ‘50 nav espito que taza em mim. A prova disso, for- ‘econo sb wna prov pade er, € 0 mew ensio de Wagner ‘em Bayreuth’ em toda as passagens de relevineiapsi- ‘oldgia € de mim somente que se tata pode-se ra ‘iilamentecolocar meu nome ou ode Zaratcns onde no texto héo nome de Wagnee? Assim, discanciado de seus escrtos polémicos, Nieesche percebe que, embora tenha mudado de estilo, as idéias que agora alimenta estavam li, em 1876, em germe, e que part poder se fazer ouvir, exprimir idgiasinusitadas e inoportunss, Niewace, “As Extemporinen’ ive Hem, 3 9 Ader, O nacional rage 4 -z so mmonens waGveRIANs M3 precisara da mascara de Wagner, como Platio usara a de Sécrates, ¢ Schopenhauer, a de Kant. Quem melhor do que ‘Wagner podevia ser itil a Nietzsche, na epoca, apenas um jo- vem professor de filologia na Basléa, para exempliicar sua ‘compreensio da misica dionislca, para defender seu ponto de vista ~"a musica absoluta &a musica legitima, ea misica do drama deve ser também musica absoluta'®—e moserar que s6 ela, colocada junto a0 mundo, pode nos dar uma idéia do que significa a airmagio plena da existéncia? ‘Nietzsche, porém, no poderia usar por muita tempo a miscara de Wagner. As esperangas que 0 compositor Ihe suscitara foram de curta duragio, Apds assistr, em 1876, 3 estréia da Tevalogia em Bayreuth, encontrar 0 compositor “ornado de ‘virtues’ alemas” tio priprias de um devoro, ¢ perceber gue “o wagneriano havia se assenhoreado de ‘Wagner’," Nierasche aponta contra ele e contra o wagnerismo sua “arvilharia pesad Antes de fazer referéncia aos alvos atingidos, gostatia de reiterar que, apesar de crticara obra de Wagner, Nietsche rio deixa de demonstrar sua gratidio a0 composic. Con fessa que, para se tornar 0 filésofo que é, foi preciso, prime: ro, ter sido wagneriano, ter ouvido Trstdo ¢ lols.) um © Niewsche, apna pmo [82 = U IS Ica de 1874 «prin vers de 1874) 32 [52 7 Wiese, Fie Hon tem, ° im Exe Homo fan sobre composi, Niche tee: ‘Ain dic procs Haman, demasiado human", 2. un obra de Ein opr, deus nit 0 doce tad como Tipu vi ods 8 inks extagen de Leonard da Vin perder sa mags m3 primers ached Tn, Exam sb = ply (0 Inspervel de Wags” (Po gue so tan sect 6). prea na bs Mania Dis contravencno para tudo que havia de alemios segunda, vee superado em sio seu compo ¢, conseqiientemene, Wagner prapria imagem de sua Epoca, Deacte as intimeras critica de Nietsche a Wagner des- cacam-se estas ele inaugura 0 comediante na musics, “am artista moderna por excelénci’,” co por instinco"," pois faltam-the “a natureza ea euleura’.!? sabe descobrir com extraordinéta acudade a alma humana “em sua paralsia,em seu cansago, entorpecimento ou inimtc rade ¢ cao! ¢ usa com extrema habilidade de todos 0s cursos dramiticos: misca,palavras e gestos, para estimular 0s nervos cansadose distaidos de seu piblico. Na sua arte encontra-c “misturado de maneira mais seducora aquilo de que 0 mundo hoje tom mais necessidade ~ os tts grandes cestimulantes dos exaustos: 0 clemento brutal, o artifical ¢ 0 inocente(idiora”* Alem disso, conesbe a misica como uma erica teatal", como “um instrumento da expresso, do reforgo dos gesos, da sugestio edo psicoldgicopitoresco”? Busca a semiética dos sons para os getos. Assim, io per tindslemb que, mesmo depeis deters afstado de Wagner ¢ de Schopenhauer, = conmuerado gatas inlucncia de Schopenkaust sobre o drama masel wagnesana, Nictsche, tn momento esr, renege Trt lds, bra conerbida sob ca nuns, Na mia ‘opnio, is se deve ao Fata de Nctzche conn aver nessa comer ‘ilo a msica como predominant "© Niece, Oca Wer, 5, dem Nem, 16 "Adem. 5 5 em 8 Js omens wacsensns us tence histéria da amisica.""°E Nieesche acrescenta enfai- camente: se a ela parece estar ligado, isso se deve apenas 20 faxo de promover a “ascensio do ator na mises", de sube meter a misica as efeitos draméticos Mas aos olhos de Niewsche, o que ainda parece mais grave € ter Wagner coneebido a misca como ura arte que tem a intengio de dizer alguma coisa. A teoria de Wagner de ‘que a misica& um meio e no um fim fer da dela uma "serva cla dramaturgia" ou do sentido a ser weiculado no drama nao foi, diz Nierache, com a miisica que Wagner conquis- tou os jovens, mas com aid; ele tornou-se hegeliano,!” 0 «que explica sua necesidade de atribuir um significado a cada composigo assim, "ser obrigado a colocarem primcitopla- no seu: st significa’ 2° ‘Quando subliahao carite eatal da misica wagneria- nae aponta para o fto de Wagner ter aumentado “desmesur adamente a capacidae deexprsio(Sprachvermoagen da mi siea”, de ser 0 “Victor Hugo da miisica como linguagem” "© Adem eambe, Her, 1 em 1 Adem 8 "CL Idem, 10. Asin fla Nitsche abr ohegsaism de Wage: Lerbremo-os de que Wapaer era jonem no tomo em que Hegel © Sclling edrra os apie, que ee advinhoue toc ics coisa que oalrioeva aso, aI’ sto alguna cos hs inert mister (.). Wagneecompreendew ese gosto, invents. paras entio, um elo que sifiavaa infin «conceeu a mir {ior como una i, Sa mais sinha a peters de sig ag ta cost que nio € mist, Que sigtica Ea? Crtaente Hs © © expt inconciot do por’ Wage foi durante os a sua wa wm comentador dala (cave Wagver, 1) idem. n6 Rosa Mania Diss (Sprache), Nietsche deiea claro que essa misica, encontran- do sua justificagso no drama e no em si mesma, nao pode servis como a mais perfeita afirmasio da existéncia, Pelo con. trdvio, justamente por estar submetida a questBes psicologh cormonais ¢ construida em toro das nogies de “virrude", ‘pureza’,“castdade", “redengio", “amor universal”, nega a rnaturezac, com isso também a vida 0 arquipélago Feuerbach e recife Schopenhauer [A meu ver, Niewsche divide toda a tajetsria musical, de Wagner em dois grandes periodos, orientados segundo dois tipos de vida: um que afirma.?? outro que nega a exis- «énia. No primeito periodo, de Siegied e de Ouro do Reno, preconiza idias¢ atitudes que confluem para aaceitagio da vida; no segundo, de Crepisculo dos Dewses e Parsi, adora ideas como um conteidoestrtamente morale relgioso, Em sua epoca feuerbachiana,"de Siegfied, Wagner no valoriza 0s “instintos nists”, que empobrecem ¢ negam a lem, Roger Hollinake, em Nirah flo de perio, itando ds car de Wager, aponta pa ese piodoepeciaiment afematvo ‘obs wagnerana Dele: "Wagner, ao sree a Rockler 26 de Fancito de 1854, fla de Siefed como o sr humano pers cia onseltcisupevioes nist ma vida a ff: numa putea ear | 23 de agosto de 1856, ele record que concsbeu + Tig uma por em que, em sts imaginass construe um mand ain Fernie earescent:“Tembrneme apes de que fi pan eed nid propio criadr que modelo crite do meu Sighied (p51) Wagner lé Anim Feuerbach, Rilo sr la mart ¢ Himmel (1830), no moreno ems gue ree seu text sobre os Nibele et 1149, Ena se om onaeriiano dese ator coma sonia un? vida, antes privilegia a sensualidade, € no a ope & castida de. O personagem Sieghied é a prova disso: filho do adulté Fio edo incesto dos irmaos gémeos Sigmund eSieglinds, des- deo nascimenco declara guerra A moral, extrainde seu canto do fluxo da vida e do gore carnal ‘Ora, € provavelmente nesse periodo que Nietsche en contra na obra de Wagner a hegemonia da miisica sobre 0 drama e a possbilidade do renascimento da tragéia, Mas, epois, diance da representagio do ciclo completo do Ane! dos Nibelungos * em Bayreuth e de uma composigio como Parsifl, em que a misica esha servigo de uma idéia moral ¢ Feligiosa, descobre um novo periodo na obra da misico ~ 2 velhice rendendo homenagem & catidade, Para dar conta desse periodo, Nietsche se pergunta sobre 2 razio dessa reviravole radical na obra de Wagner € encontra duas respostas. A primeira diz respite 3 fisiologia ‘Wagner envelheceu ca velhice favoreceo ideal asctico; ase ‘gunda refere-se& mudanga de sua filosofia. A cristisnizagio dde Wagner cem uma estreita relagio com o nilismo de Schopenhauer Por longo tempo [isto é, antes do enconteo com Schopenhauer] a nave de Wagner seguiu contente ese de que ma nacre cts a chave do verdad univer: “Os misios ‘mais profundesresidem nos objets naturais mais simples que 9s. tito especlaivo esoahadr, que apa ao alm, aa com grande des prez (cado por Jen-Claude Berton em Richard Wagner et "age, p10), egunde anda Jean-Claude Berton, Wage Eten des “Hotta do fata” o principio de unio rg ene o res sole o qual pout ods vi sci p10), % Aspens que compéem a Tale de Wagner O Ane ds ible ‘i: O Our do Remo A Vague, Sigh O Cepisculo dx Dens us Rosy Manis Dias curso. Sern vida, Wagner buscava ele o seu mais clevada objetivo. Que aconteceu entio? Um cident A nave fai de encontto 2 um reife: Wagner encalhow ( recife era filosofiaschopentausiana; Wagner estar snealhado sob uma visio de mundo conmiris, © que hhaviacolocado em musica? O otimism. Wagnet sn. vetgonhou. Além disso, um atimismo para 0 qual Schopenhauer havis erindo um adjetivo mat ~ 0 oti= ‘mismo inline, Ble envergonhou-se novamente, Me- ditow por longo tempo, sua seuagio passa desespe radora.. Enfim vishimbrow uma sida revife no qual aufiagava es leo interpretasse como objetivo, como inengio ocults, como veidadeiro sentido de sua vi gem? Naufraga ali ~ isso era também uma meta. Bene avigavi, cum nanftagivm foci... (naveguel bem, 20 afiaga..)2% Entio Wagner compreendeu de imediato que “com a {coria ca inovagio Schopenhauer podia-se fazer mais in ma orem musicaegloriam (para maior gloria da masica) — isto é, ‘com a soberania da musica, eal como Schopenhauer a com: ® Nierche ets refecindo a pido arco de Wager: Sg que dectaravs "gets ao8 contests (dia & mor)” Em lm de ‘ered Mal, 256, Nias, teletndo seeing is motive de ‘Wagner = Sige ~ sce: Bgura de Sigfied,aqute homem mato lve, que € porencra demasiado live, demasiado dro, co {emt sto ania paruo gota doe vlhos e mirios paves c ‘lando.He pode ter Side mer [pera Wagned wm pend noe dns turvos desu hice, quando ~ anscipando um goto que desde sos tomou plies ~comegou, com a veeméncia eligi que lhe psp, e nfo pecore certamente prego cine Rom % Nezchs, Oot Wigner 4 Set ttt tt a was WAENERINNHS Lis preendia: a musica separada de todas as demais artes, a arte independente em si, fo como as outras artes, oferecendo imagens da fenomenalidade, mas falando a linguagem da vontade mesma, diretamente do abisme’, como sua revela (80 mais propria, mais primordial, mais imediata. Com essa extraordinra elevagdo do valor da misica, cambém a cova 80 do mixico subiu prodigiosamente: tornou-se um oricu- To, um sacerdore, mais que um sacerdote, uma espécie de porea-vor do ‘em s' das coisas, um telefone do além — jd nio falava apenas musica esses venriloquo de Deus — flava me taflsica: como se admirar que um dia flasse em ideas acé- ico.” Em suma, Wagner, que havie sido um encusiasta dda formula feuerbachiana da “sensualidade sadia’, por in fluéncia de Schopenhauer, pasa a opor a castdade sensua lidade e “a tradusie 0 Anef em linguagem sehopenauriana”.” Na gencalogia da moral, no iter dois da terceea disser- tagio, Nietasche observa que, embora Wagner, de certa a for- ‘ma, tenha sempre rendido homenagem a castidade, s6 nas obras Fina ele o faz em um “sentido ascévieo”. Séemn Parifal torna-se verdadeiramente um merasico, E enelo, a0 fazer 0 clogia da castdade, o adotaro ideal ascético, um ponto de vista moral para a vida, esté morta como attista € mesmo como misico, Nos Metres Cantores, por exemplo, obta com posta em 1868, num periodo “mais belo, mais alegre, mais forte, mais valente" ainda encontrando no casamento de Mais adit, quando exer enuandoFnmann,demaviade mano, fai cence rca de Niewsche concep shopenturiana da 8 Nicteche, genaigi de monl, 3° Diseras,5 ” Nistche, Oca Wer 4 © Nicwache, geen cde ral, 3° Diserasio, 2 120 Rosa Mania Dias Lutero* a prova de que entre castidade ea sensualidade nio hi oposigao necessitia, tem a coragem de ver no homem, nao apenas sua espiritualidade, mas também sua animalidade, tem a coragem de elogiar 20 mesmo tempo a castidade ea sensua- lidade, pois sabe que “todo bom casamento, todo verdadeiro e180 amoroso estéalém dessa aposigio™? Wagner aos pés da Santa Cruz Ora, 0 deslumbre pela sancidade e por “todos os absur- dos moras ereligiosos" leva Wagner aconceber arf urn filho da natureza que se corna eatélico. Embora ji exsta em outras obras do compositor ~ expeciticamente Tannhauser¢ Lobengrin* — uma certatendéncia religiosa, ela aparece os- 5 Wagner ee a iment defer ua Sper nda: Nips de aun ual eter slog» eageade are de ia an serve, [Nicushe, abi de mare! Dist, 2: cmb Nioce can Wigner,“ Wapnet, sale dx aac’ 2 Lin Alm do om Ma, 240" Niece dt ite sabre Moves Carer “Our, ovate pl rica ver, aber de Wage abe Mes Co toc una at sober, grave cad td to ore Ih de respon pra su cetendiment, gu dot eo de en permanesam vor ft deen rg see sia Egy ie fons orem itch, Oca Wagner 3 Henry Lichtnberger. em sc Ho Richad Wine, Pate Pe 468 confer cenit de Nhe Dice “Tear ir {bem igor mniearse nso gone todas as por de ssid sb fom de uma spr costae vo el oringyo Se parca, de ln de amon, conebide como elie a tte tt comida sis reqienemente come specs Fe uae ¥ AS HRUNAE WAGNERLANAS mt tensivamente acentuala em Parsifil. Nietsche desejatia ver fem Pansfal “um drama satirco”, “uma brincadeiea", “uma deliberada parédia do trégico".* com a qual 0 “tagico Wagner” quis despedir-se de nds e sobretudo da tragédia: Isto teria sido propriamente digno de um grande tigico: © qual, como todo artista, somente chega a0 cume de sua gran- dera a0 ver asi mesmo ¢& sua arte como abais de si~ a0 rir de si mesmo," Todavia 0 contririo ¢ o verdadeiro, Wagner de fto engendra Panifal dentco do cristiano. Opoe & sennualidade a castdade,tesabeleceo sistema de oposghes tio proprio da metafsca privlegia um dos pélos da relacio, 4 castidade, cri o cindido ¢ casto herd que aprende 0 significado da compaixio, Sob esse aspecto, Parsifalé, no modo de ver de Nietzsche, um golpe de génio. O refinamen- to1na combinacio da belera eda doencaatinge ness obra cal perfeigio que projet, de alguma forma, uma sombra sobre a arte antetior de Wagner. Parifal € uma obra da perfidia, da buia vinganga, que envenena em segredo as fontes da vida. E uma obra ru, Pegae a castidade € ir contra a natura. Eu desprezo quem nio percebe Pusifil como um ultaje 20s ‘sens apresetaern O Neve Fentaoma em Taner comno0eine {de Deus em O nf der ingore nou ecto evoluionsi do petiodo de 1848 1 1851, como’ sino do amor e Sociedade do Fur’ em Trt flee na cate ecias em 1854 como 0 tna dant’ nieana dial em Lofgren e Pail come be tn Gal nas bas do smo periods coma 8 advent da eenea fe umn © Niewache, © Adem 2 Nits, “Wagner apstladacasidads", Niche conte Wagner, 3 eclogi ds mon, 3 Dsserai, 3. 12 Ross Mania Diss Assim, 0 que Niecsche reprova em Wagner, 20 vé-lo subordinar a miisca a0 drama, é, em primeito lar, eer que: Fido fizer acreditae que 2 msica tem uma hegemonia sobre todas as outras artes, quando, na verdade, sua misica signi ca alguma coisa que no é propriamente misica, quando € veiculo para idéias religiosas e morais E, em segundo lugae, ‘er eaido o principio basico da excéticanieraschiana: a msi= ca deve ser um meio de afirmar a existencia, de corn lev, «endo de negéla Como Wagner usa a miisca para sevir a um fim — pai- sar acima da existencia numa pas biidica ou redimiralgaém dessa vida cheia de dor e misérias — io é de se estranbar que todos 05 seus temas musicais eresgam em torno da idea de redengio, que em codas as suas dperas exista sempre alguém para “ser salvo". Ora & um pobre senhor, como é 0 caso do judeu errante de O Nevio Faneasma, que s6 enconera salva- <0 quando se casa; ora si belas javens que preferem ser sal- vas por um cavaleiro wagneriano (veja-se Mestres Canora); fora €0 “Velho deus” que, depois de cer sua moral totalmente comprometida,é salvo por um live pensador € un imoralis (0 Ane; ora sie mulheres casadas que também querem ser salvas por um cavaleiro (Jsolda).3* Tal arte parece a Niewsche quase um pesidelo e um arentado contra a musica. E uma arte da seducio e da ment +, no vai além de persuadir os nervos, de provocat efeitos. Wagner é"o mesce do passe hipndtico, mesmo os mas for tes de prosterna como touros” Ni é misicn, mas gem co ragem, erige suas lacunas em doutrinas. Ensina que s6 uma coisa é fundamental: drama; e redue a misica a um meio SC Niche, Oca Wigner, 3 > tem As eRUMAS WAGNERLASAE bs de expresio, Bajula os “instinosnilistas", coma partido de tudo que ¢ fiaco, imporente, derépito: protege tudo que, no dominio do espiico, sente 3 fadiga ¢ 8 decomposiga se interpre de toda a decadéncia morale religoss, de todos (0s “moedeiros alos” da transcendéncia e do além:; transor- ma em misica tudo © que no vingou no solo de uma vida ‘exuberante; cria a “melodia infinit’, um “p6lipo na mmi- Sica" porque Ihe fala o sentido melédico; abusa dos me tais na orquestra, porque 0 Fitmo se degenera. E "0 caos em Iugar do ritmo”? mas cudo isso € escamoreado pela “ment ‘ado ideal”? © dem 1 4 Niche, "Wagner eomsiderado come um pis" Wag, Tick cabin “Posterprm, Oca Wagner * Niece, “Plo”, Eve Homo, 2 irae one car{TuLo 3 FISIOLOGIA DA ARTE “E preciso mediteranizar a misc.” O cao Wagner 3 Toda essa critica de Nietsche a Wagner 56 pode ser centendida se situada onde foi produzida, isto é dentro de uma nova concepsio de arte que 0 filésofo comeca a esbogar cem Humane, demasiado humano, Trata-se de uma mudanga cde perspeetva, a partir de 1876, que nfo pouecas veres foi re- lacionada & desilusio que Nieesche sofrew com as represen tages do Ane! em Bayreuth, No encanto, algo lhe escapa. Sem diivids, 0 mas fundamental é fato de Nietsche nao star satisfeito com a prépria andlise da are , principalmen- 6, com 0 seu entendimento sobre a miisca Como bem mostra Gérard Lebrun, em seu artigo ‘Quem era Dioniso?", 2 mudanga de gosto, os conceitos de romantismo edecadéncia,aconversio 20 classcismo e a fisio~ logia da arte provieram no de uma iritagio concta Wagner, 126 Ross Mata Deas ‘mas de uma aurocritica em profundidade.’ Nas primeira li nihas do aforismo de A gaia Citnca inttalado "O que € 10 manrismo2”, Nietsche, numa tentativa de aurocritica, rest sme as suas antigas conviegGes ¢estimativas Talvers lembrem, pelo menos entre meus amigos, {que no inicio foi com alguns rosso exo esuperest- rmativase, em todo aso, com een que me prec Piteisobre esse mundo modeeno, Earns ~ quem sabe em fangio de que experiéncas pessoas? — 0 pesimis: mo filossfico do século XIX como se fesse o sintoma de fogs superior do pensamento, de bravura mais te- que as que haviam sido praprias ao século XVIII & época de Hume, de Kant, de Condillac e dos sensualistas, de ‘modo queo conhesimentotigio me pareci como se smerita, de mss vtoiossploinade de vida do propriamente 6 luxo de uma civilizgio, como seu mais precios, mais nobre, mais petigoro modo de banjamento, mas sempre, em rao de sua superabun- dincia, como seu luxo permitide, Do mesmo modo, ‘xpliquei-mea masica lems, interprtando-a como ex pressio de uma potencialdade dionisiaca da alma ale Ind: nea aereditei ouvir o tremor da terra com que uma fowga primordial represada desde ansguidadesfialmen te abreespago para si ~indiferente se, com iss, tudo © {que ands se cham eviliagio entra em tepidago, Ve se que eu desconhecia,naguelerempo, tanto no pes mismo filosifico quanto ma mise alemi, aguilo que constitu propriamence seu crite sey romantismo.! CC Laban, G., "Quem ea Danio? p53 Nisusche, gaia ace, 370. Em ts notsies do outons de 1885 stuns de 1886, 2113), Ntache noe dima alguns dads sore Fstorocta 9 7 Uns Ieitura cronoligica da obra de Nietzsche most que Hamano, demasiado bumano marca detinisivamente passagein de Nietasche para uma nova fase, que pode ser ‘dentificada em cermos biogrificos com 0 seu afastamento da filosofia de Schopenhauer ¢ com a sua ruptara com Wagner E Niceesche mesmo quem anuncia sua modificagio, numa anotagio fea na época de Huumano, demasiado human Eu quero expressamente declaat aos Ktores de mi snhas obras anteriores que ev abandonei as posgbes metafkio-etéeas que dominam essencialmente: las so agradives, poi insustentiveis. Quem se permite prematuramente falar em piblico ¢ normalmente for ‘do ase contradizeepeblicamente logo pss No periodo de Humana, demasiado humane, que po~ dera ser caracterizado de "positivist", Nietsche ataca die oni de sas asc, Exess “Eu come por uma hips me {ase see osentida da msc, mas mo fund hava ums experi pclgos 3 ua Wo aba anda bie wna xpi sce {ict Tanspora mises para metfsien cau ato de venerg30| {de recorinements no fund cdo ou ee lig ira we to, ta com sa exprinca, Depois fio feveso da medals: = Isto indinctnlente mize deruidora que execs sore mim est “que dsapatee junto coin (clon, Na tries venta tema wesio meus thon se aber pars» nes de mses {Brn [Mew a ‘Obra de et do ft! me apace como a Sinn enescitad d itst de riret n ‘mires Malia lig, hier bal de ods maguinaa meron A ia tami fille um tipo de Borman hu * Nstache, Fagen itr 23 = MIX 1, 18761877, 290591 128 Ross Manis Duss tamencea religio, a metafsiea ea arte, evelando seu cariver ilus6rio. Proclama, 0 contririo do que havia pensado em O naicimento da ragédia, a primazia da ciénca, sindnimo de iécodo de investigacio critica. E sob esse aspecto,investign concepcio de Schopenhauer sobre a musica, que Ihe havia servido de base para a sua esética musical. Assim, no aforismo 215 de Humano, demasiado humana, rejcitaaideia de ela ser independente do mundo dos fendmenos ou de sera expres: sfo da vontade: "Em si nenhuma misia é profunda nem sig nificativa, io fala da ‘vontade’, da ‘coisa em si." Anda no aforismo 171 desselivro, critica o fato de ela ser uma “lin= guagem universal” e “intemporal”: A miisica, escreve cle, “cortesponde, 20 contririo, exatamente a uma certa medida ddecempo, a um certo grau de calor ede sentimento, que uma cultura bem distinea e determinada, definia no tempo eno «espago,reconhece por lei incerior; a misica de Palestina te ria sido certamente inacesivel a um grego, ¢ por outro lado, {quem ouviria Palestrina na misiea de Rossini?” > " Nieche, Haman, dmatadaente men, 1215. Niche, em 1871, desma de nog devon tl coma Schopenhauer cone became qa encodes een Cit a moa do ini de 1871, om que le exes ques vom no nice fenbmenos, mat "ams forma fens en gel Ue alee Enchimonsfor) de sgn ss une po snl absolute indecitvel part ds ual cash gual mente as compre demo todo dir todo qtr” (12 = MpXIi1 ii 871721) Njaninds cio no Bil de 187, ail de 1971, 7167 °Avontade ik ume formed fsa & prin que mise ina, peu de vedo um apace 5 Nicrchs, Mem, "Missin de opines caste, 171. Ein ‘ane compara ene afore co figment osu de 1879.0 spa Niewche cere: "A msc como ate ies aco imempo 6a nis ae force (9 Ul 1871910 Em Pe Fsotacta va were 19 Depo desta flexes bre a teses que tent sus sentra, Nese conclu, por tee pense a mais se undo ss eatgoras merafieomusiean de Schopenhauer, Priilegars urna arrequese encontaa fora da maltipliciade fonomenal equ exprssava uma raiva instintva da eldade, commando necessro deembaragila de ses peso merase, da quimers do lem edo aquém. Como ae lgads 20 ot dos nao tem nada a vet com a esncia das cos, m0 pe- tence natures, mas aos homens! Enceresane nota a perspeciva de Nicasche ante das tests cts de Schopenhauer: no actitaa misca como teflexo da vontade, mas reconhece a sua primazia sobre a pa- lava. Ese pono de vita, presente na sun andl da tag- di edo drama wagnerian, sexi mantido até ofl de sa obra. Sempre orienta por ex compreensio, nas antagoes de 1874 cem seus vo, wriltase deus ost ela de Schopenhascr, que € um desdobramenco da eese da ‘mano, demasadament humane, Nica parece se dat cota gue 0 ‘mete um ero ao tenar fet Wagner herdio do dea mas Br fo 3 ft pouel porque fer uma genes sm eros es Sis, Nioatentou, por exmpo, para ifeengy qu cite ene © tema mda gga eo tonal: CE Kem 28150]; amb Faget pms: [24 = Mp XIV 1 ‘outono 1877). 241, 7 Niceache, Fragment plitames [23 = Mip XIX Ub, 1876 ~ 1877. 23150], CF cam Pagmenpotames,2~ WL 8, Outono 1885: ‘tomo 1486, 2 [291A mance no revla a essnca do mundo st Nomtade come a precrden Schopenhauer (que se enganara sob = ‘isi com sabe a pedad,« eta mera rani ~ cle scones mas muo pouco pa experi), a musa nlo reve eno oS ores musics E eles ignransa si mesmo ~ Equesort abet gue eso igneren 130 Ross Manta Dass hhegemonia da milsica sobre a palavea: a0 se submecer 3 pal va, a misica pode se omar um meio de expresso. Referin ddo-se 8 épera, Schopenhauer escreve: Tal € a origem do canco com palavras eda Spea:v se por ai que as palavras do canto edo ibtto da dpera nfo devem nunca esquecr sun subordinagio,apodersn close do primero plano, © que tansformatia 3 ‘em simples meio de expresso: ito seri uma enorme rolce eum abaurdo Embora ese aspecto da estétcaschopenhauiana tena uma repercussio imensh nos dtimos livros de Nietsche, © aque esti mais em evidéncia, em Hamano, demasiado hua ro, é0 ato dea misica pode ee considrada reflexo davon tade. Asim, nese lv, com o objetivo de despojila de seus ‘oucopeis metaiicos, Nietsche acaba por concebé-la nia mais como reveladora da esséncia do mundo, mas como arte dla apuréncia, da bela oupager, do sori e, mais and, como patente prixima da reigt.”Primeio, por nos conv dara abandonaro rumor do mundo ea goratosiléncio dis esatncss, segundo, por querer servir de remédio, hiamo ¢ sedativo, Assim, a misc, que antes fora considera superior 2 todas a ouras ates, encontase defini como arte da de cadéncia, E para mostrar quanto a deprecia, Niewsche chega mesmo a sugerireducar-se nas exangas,primeiz, seu sent dl visual e, depos, o audivve: " Schopenhar. emondr como abd et como mien. 84 CE Nicsnche, Honan, demeiademente huveno, 1, 150 “Let aut Ta msiguc’, in Quare Pome dpe, Wigs, connctando a ine nia de Besthoren, conesbera com "resslag dem auto mundo" pser siotocta ba ante BI A educasio anti do olho desde 3 infincia pelo dlesenbo pela pincura, ox erbogos de paiagens de pes sos, de conas, presenta anda esta vaneager inestims vel para a vida: agugar 0 olho,cornslo came e pacen- te pats 2 observasio das pessoas ¢ situagdes. Igual lbeneficio complementae nose cra da cultara «do cuvido: assim as escola primciseagio em geral, nlhor an preferrem a arte do ola da audio." Ainda explicitando ess idéia de que a misica nfo tem tanta importincia na educagio das eriangas, Nietasche, em Aurora, © ouvido, érgfo do medo, s6 pide desenvolverse muito porque 0 fr na ite ou ns penumbra das fe rests e ds caverns abscurs, segundo 0 modo de vida da ida do medo, quer dizer ds mais longa de todas idades humanas:sob alu, © ouvido & menos necessi- fio, Daf a cartcterities da misiex: atte da noite e da penumbra!” [A propésito dese periado positivist ou de “ils musica de Niewsche, desenvovido principalmente em Hamano, demasiado burmano, em que a enc ero mais va lor quc a sca ea eriaco estética em geal podemos dizer Niche, “Mixliaca de Opniese Sentensa, Humana, demas lament naan, 2,213, <6 tabém Fragment pitumes (21) = NUL Sina 1970 ver0 1377), 216, Niece, Aut 2 ™ yprsso de its Lantre. Ver Lis id de Neches mage, pio 132 Rosa Mana Duss que representa, em sua obra, uma eransigio, uma mudanga de pele. Importate, pois nos permite compreender como € por que nosso fiésofo seri levado a dstinguir 0 doenee © 0 sadio a arte ea julgar a msica segundo dois cittios: 0 ro- smincio, que esti a servigo da ilusio metaisia, da religito ¢ da orl, eo clissico, a servigo da vida Depois de ter Furiosamente depreciado a musica, Niewsche comega uma nova fase, hidica afirmativa, que, animada pelo espittoextico, conju alegra e cine Em A gaia céncia, tendo despojado a musica das fiegbes met sico-religiosas, passa a apresent-la como are que di respei- oaparénca, a tnicarealidade, ou melhor, “a prépia real- dade ativae viva". Jogando com a oposigo dos eonceitos vontade e aparéncia, profesa agora a “arte como boa vontade com a aparéncia. Essa arte tem seu favor o vento Mistral E “utva, ucuante, zombeteira, pueile bem-avercurada’ tear consigo 0 movimento ea danga, a levers ca gratuidade. “Mas ainda que para ele a misica adquira de novo um aspectoafirmativo, no se pode esquecer que, pataelamente a ela, existe uma outra, decadente. F para que uma miisica romantica." decadentee reativa nio possa ser confundida com outra de estilo elissico, ascendente e afiemativa, Nietsche estabelece um citrio para dstingu-las, que parte ” Rivtache A gai ai, 56 idem, 206 ide, ao psfcn par. segundo ero de Huan demain danons, ds sxtmbue de B86, Nite define ani 4 asics omit "ae ‘qutocs, grndlaguent, abla, que ra» epi de igo © Agra fencer tod cop de suds neti, de arse ep ine", FistoLocis 08 Akt 133 freqlemtemente de uma pergunta: Como nasce a mmisics? E produto de um excedente de forgas, de uma plenitude de vida? Ou de uma feaquera, de um depauperamento vital? Torna-me melhor? Faz-me fecundo? Estimula-me? E um ri nico? Ou serve de remédio, de sedativo?” Analisando sob esse aspecto a misica de Wagner, ele a descobre como produto nio de uma superabundincia de vida, mas de um édio contra a prdpria vida: ndo €, pois, dionisiaca,¢ sim, zomantic, ‘Mas © que Nietzsche pretende ao chamar Wagner de romiintico? Certamente ele nio 0 faz no intuito de inelut-lo rho movimento chamado de Romantismo. Embora “no fn~ clo aarte de Wagner seja ainda literatura, assim como 0 é todo © romantismo francés" embora apresente um gosco pela magia do exotismo, por outtos poves ¢ costumes, mostte um incerese por paises longinquos ¢ estranhos, de que s6 se ti- tnha noticia através dos livos, e se encontre voltada para © pasado, na busca de sua razes nacionalistas,o que & “tam bhém uma forma de exotismo”,"” o romantismo de que Nicwsche fala no € ese, ¢ pricolégico © mesmo fsiolgico. Wagner & rominsico porque produz a partir de um grande descontentamenco de si proprio ¢cria uma arte que é apenas tum expediente destinado a suprir algo que the falta. *” Em termos gerais, 0 romantismo wagneriano Cem como cacacteristiea principal 0 fato de colocat a “expressic” cm primeizo plano, ist g fzer da msica urn meio pata al: uma coisa que no ela mesma, um meio para exacerbar os EL Nish A ie ai, 370, Nietche, Finger peter, pimaver-er 1888, 1634 ” Nem, mr tons de 1885-0 Cf, Fenny po rea Rosa Mania Diss sentimentos, profesaro culto da pando, tomar partido dos cansidos e deserdados e esconder 0 egoismo mais sntimien tal aris de um “nob desinceresse™ Mas ainda que al catac ‘erstieapossa ser encontrada em outta ates na misica cla fepresenta uma ameaga mais clara a sua especificidade ea seu sentido, porque, sob o disfarce das cores, itmos sons, colo- esses dos fagmentos, uma coisa parece estar clara Nicesche sente eentende a area partic do compo, pensado como multiplcidade hierarquizada de forgas cuja organiza ‘0 € indicio de sade ou doenga, de negagio ou aflemagio da vida, E da, segundo “o coxpo como fo condutor” es mascara 0 que 0 drama wagneriano simula com ernas ext 0s € pasagens abandonadas, tempestades¢florestas virgen 05 vicios rros, 0 casos patoldgicos monstruosos, a forsa au- sente, em suma, 0 mau funcionamento do corpo, a desart- culagio psicofisioligica. Além disso, considerando o drama wagneriano arte do sistema nervoso desagregado, querendo dlemarcar suas diferengas para com ess arte, Nietzsche inves- ‘ga ligacio entre o pessimismo flosfico schopenhauriano <0 romantismo de Wagner, analsa a concepgio de beleza de Schopenhauer, sua relagio com o corpo, ¢ busca 0 seu desen volvimento na obra de Wagner ~ pois esta é,em sua quase rotiidade, “um curso prtico da flosofia schopenhauriana’?> ® Niemche, Oca Wp 5 & Nictche,Fgpment plums, gone sccm de 1885,50 (15) tambem veria de 1886-outabro de 1887, [36 ® Nicasche, Corepondeni, cata a Rohe de 9 de demo de 1868 «Med juno de 1869. Ver também» cata encegaa + Gero fe U1 de arg de 1870, stoLocis ante 137 ‘0 belo ¢ apenas uma promessa de felicidade” Vejamos primeiramente a critica que Niewsche faz a Schopenhauer guinto& sus utlizagio da concepgo kant ta de que“ belo €o que agra sem intrese™*e quanto sua inerpretagso desi “em interes”. Para Schopenhauer, o exado esttico apazigua o querer e age contra o incerese sexual. “Excutemor, diz Nietsche, "por exemplo, uma das mais explicitas passagens, entre as muitas que escteveu [Schopenhauer] em louvor ao estado estético (O mndo como tontade como rprsentagae, Il, eg30 38), eScutemos 0 tm, © sofiimento, a felicidad, a gratidio com que foram dias cst palavras Ese é endo sem dor que Epicuro louvava como ‘bem supremo eo estado dos deuses: por um momen: to, subusimo-nos 4 odios pressfo da Vontad,eelebra- mus o Sabi da servidio do querer, roda de Ixon se dete. 27 A compreensio que Schopenhauer tem da arte & ape- nas a generalzacio de uma experiéncia pessoal. Ele pode ter raz3o no que toca 3 sua pessoa, mas isso de nada serve para © entendimento da natureza do belo, Diz-se kantiano, dectarae se partidirio do prazer desinteresado, enquanto, na realida- de, um interesse profundo move sua adoracio 20 belo. O belo The traz a libertagio da pressioinsensata do sex, proporcio- navthe auséncia de dor, além disso, Schopenhauer percebe apenas um efzito do belo: ser 0 calmante da vontade. Em 2B Nenche, genni de moral 3° Diserag,6 2 em { | 38 Ross Manta Bias constapatid, Stendhal, por exemplo, vtdadeir espectador artist, destaca um outeoeeito "1 exiasao da vont (do inceese)* Diz cle: “O belo € apenas uma promessa de cidade’. E Niewsche el se apropra dessa afirmacio de Stend- hal extraida deuma nota do eap. XVI do lito De amor) para rebate a visio desineressada da esta schopenauriana Para se compreender tal apropriagio da frase de Stendhal por pare de Niewsche, € preciso ter em mente 0 ae exe encende por arte, Para ele, “ate & esencialmente aprovasio, bingo, dviniagio da exstncia".? Nao exclu o meres, no acalma, ‘nao suspende’o deseo, oinstnto ea vontads"." E antes de mais nada um nico, um "esimula para.o querer, inensfia a vontade de pottncia, ava.” E fase pata novos valores enovas posibildades de vida, e por dso dove escar em conraposiio a todas as formas de dees déncia 6 nilismo religioso, flossico € mora dem © Ninsche, Bagentptumes, prayers de 1888, 14 (4 ™ Dele, Gills, Mize ctl piluapie p16. ° Tiadszo Wile er Mache por "voeade de otic sind a ead ‘0 de Rubens Torres Filho em Niet bn ncomplesde astores, ‘somo Roberto Machado mm Nitahee venide¢ Seakat Marton fm Nitze: dis fas conic ao aoe mane, Pia esa tes ode nade de pode, poxguc ca nos pei eva ine pretar ese concsitorchaenictsthino de oma cine, cncebendo + vontade como subtinis ou subervidade ue deg algo ue nia Psi poder: Pata Nietache, rds coins servo ste he ‘cos, comportamentos humane pesumenos 4 s50 poten fongavem lat, que querem, que dec near ow a ‘ou incensificar-se,“creser,estender, agamburcar, daminat. no pot morale ou ioraliade, mas porque vive vi ¢vontae de wins (lindo Be de Mal, 239), sot octa 98 ante 139) Ova oi ein retina ae de pom de visa do epetador, do con- ‘Epladon do eecputo,e n da perspec do atta do aneucicaada cai. Aart deve ser compre st Woah ca do art Todav, io nao signin priv Daven davian rora econ en ado ar, d aad qu ra, esis gee ble -inplcteratnente pata id, pars s pecaria principal A embriagues artistica GE Neh gm de mo 3 Dis ara Ni onda para ube, to, ob, oe GiZadbos ul edo gu cate mt mai done Sige ue é pce queen perder ra es ite ; 59 CF Niche, Pages puma, prinaver de 1888 1423) 40 Rosa Masia Dias cembriaguez da satie fsica que incoxpora tudo 0 que encor trae lhe imprime sua forma, pois desea ver nas coisis sua plenitude e seu prazer de viver. Pertence aos verdadeiros ar- ristas,a0scriadores.#* Sio vitios os tipos de embriaguer que levam o arcstaa transfigurar as coisas. Nietasche os enumera: (Ja embriaguer que se segue a todor os grandes desejos, a todas a5 emogGes fortes 0 inebriamento ds festa, da lata, do feito temerivio, da vitbria, de rodo Imovimentaextremos a embriaguce da crueldade; 3 em- briagues de desrugio; a embriaguer soba ago de cer tas influéncias meteorlégieas, como, por exemplo, Niece, Prigmente plums, pimavers 1888, 14 [117]. ovata va ante a Com muita raxio, Neasche observa que “todos eses momentos de vida exaluds'¢ de estado de praver que char ‘mamos embriaguet’* eaconram-se de tal modo relaciona ddos uns com os outros questa um set acionado, para que toda a cadeia entre em fincinamento: (..Jassim os stags teminam porse mistura quan- do teriam talver rates pr permanccerextahos uns 06 outros. Por exemplo,osentimento de embriaguez religio¢a excitaio seul (dois sentiments podeso- 505, aparece naturimexce juntos). Que & que agrada 4 rodas esas mulher pidosat, a vlhase i ovens? Resposta: um santo com bonitas penis, sind jovem sind too.) Tambén ntragédi, a crucldade ea pie- dade aparecem normalmiate junta.” Esa inter-rlagio dos diferentes estados de embriaguez leva Niewsche a concluirquea obra de arte nio €s6 produto dda embriaguez artistca, mas de tados os outros estados a cla relacionados, € que, por isso, nao existe arte desinteressada. Por exemplo a visio amoross esti na riz da cragio esttica, Tudo 0 que € “perfito bly age como urna lembranga in- consciente do estado amoreso e de sua mancita de ver"? Assim, a noite passada com 3 hem-amada transigura os mais insignificantes acasos, tansforma a vida numa succssio de faxos sublimes, "o mundo torna-se perfeito pelo amor, Toda peifeigio, coda beleza despera por contiglidade a beaticude * idem, Idem © lem, 8 ~ Mp XVII 3e stn 1987.1. me Rosa Manta Diss de Afrodite (fsiologicamente o instino criador ea propaga: ‘io do sémen no sangue..)."! Assim, coneebendo a existéncia de uma sinergia entre © estado artistico e a embriaguer sexual no ato de criagao, Niceasche se coloca, primeieamente, em contraposicio 2 es téticaSchopenhauriana, segundo a qual 0 goz0 artistico apa- 2igua ¢liberta 0 individuo de sua sexualidade e, em seguida, conera Wagner, que influenciado por esa teora, cra Parsi, © herdi casto que, 20 se beijado lascivamente pela fe Kundry, sente por ela compaixio. Numa nitida referéncia a Parsi, perguasa Zaratustra: "Nao sexd a voss volipia que se disfarcou e se fez chamar compaixao?"* Mas, contrariando 0s pontos de vista de Schopenhauer de Wagner, Nietsche nso pretende prvilegiat a sensuali dade, nem consideri-la oposta a castidade, mas mostrar que nnenhuma criagio antitica pode prescindir desses dois estados, fe que o talento do artista consistejustamente em manté em equilibria: os Uma catidade relativa, uma sibia © prudence aten- 50 em maria de eros, aé em pensamento, pode fazer parte douma grande sabedora naconduca da vida, mesmo nagueles sees rcamente dotados ¢ completos. sce principio éverdadivosobretudo para o artista, re presentando o que hide melhor na sua sabedoria dev ver Vores das quais nio poderlamos duvidae jf se pro runciagam esse sentido: Stendhal, Th. Gautier © também Hubert. O ars é, lve por niturers, ne em © Nietache, ‘Da Catdade, At flo Zara Fistotocta ate 43 cessriamente smal antes de tudo um einotivo, wl seriv om rodos os sentidose¢indusido naturalmente 4 experimentar rads oF tpor de excitagbes eas sages ties que extas provocam, Apesatdiso, no desempenho de su fansio, na vontade de aleangar 3 macs rani ge talents um homens sbrio¢ até eno. Fo qe ee seu insino dominant no The permit despises orto ea dist. Fax mesa for ie wats ta concep attics como no ato sexta ext ape as umn nica expécie de foeg. Sucumbir wee cas esperdisraeépergoo pars oars al procediment teal uma ka dentin, egerlmenee de wontade, um sinal de cada. Sobre a embriaguez arstca, rest ainda uma observa- ‘io a fazer. Nos fragmentos,aforismos e textos que Nietzsche ddedica & exposigio da “fsiologia da arte”, o estado de embri- aguce adquitesignificagbes que no possula em O nascimen- to da tag. vista como condigio Bsiolbgica indispensi vela toda atte, Nao €apenas uma disposigio caracterstica da imiisica, mas também das artes visuais, Explicitando o que tase pergunts agora entende por embriaguer atistic Que significa concst,intradusido na xética por ‘mle, da oposigio enti o apolineo eo dionistaco,con- cebidos ambos como espécies de embriaguer? A embri- aguet apolines mantém exctade sobretudo o olho, de modo que cle adquiteaforga da visio. O pintor e+ © Nisa, Le vl de piaane, | 441, 1888 [GnévieBrangn Pi Gad, 1948), Mas Rosa Manta Dias culos, © posta épico so visionstios per exellener. No «estado dionsiaco, em contrapartia,o sistema emacio nal em seu conjunto est exciado e intensificado, de ‘modo que descarega todos 05 seus meios de expressio cde ums vere pie para fora, a um 36 tempo, a forga dda encenagio, da imitagio, da ttansfigurasio, toda e= pécie de mimica€ repesentaio.(.] £ impossvel 40 hhomem dionisfaco deixar de encender qualquer suger to, nenhum signe da emogio Ihe eeapa, cle tem o grat, _nximo do instinco que entendeeadvinhs, assim como possuio grau maximo ds arte comunicaiva, Enea em cada pele, em cada emosio; transmuts-se incesante _ment A musica, como aentendemos hoje, éigualmen- uma excitasso descarga do conjunto das moses, mas, no entanto, é apenas um semanescente de um mundo mais pleno de expressio da emogio, um mero residuo do histionismo dionistaco. ‘arte wagneriana, 20 conttiio, produto do pessimi- mo shopenbauriano, Niewsche a reaciona ao estado negati- ‘vo de embriaguez, que espera da arte a repouso ea quietude, © siléncio e © mar sem ondas, ou, entzo, 0 espasmo, 0 emudecimento ¢ odeliro. Mas, se €verdade que atte pode servis como prova da negagio asetica da existncia, ea é de um modo geal vista por Nietsche como 0 movimento contirio a roa especie de decadéncia, de nepacio da vida, soja cla reigisa, moral ou floséfica, porque €, em skima instncia,“o grande est smulance da vide’ o grande tansigurador da existe E © Nite, ncusaes deur extemporines’ Cpe dies, 1. © Nicaache, Pigment phos, primavera L888, 1423] FistoLocia a ARTE Ms 1 ese motivo que, em todos os pargrafosem que snalisa Niesche resalia que ela comega sempre como um fend- reno de plenitude incl, inicio de que a Forgas eriadoras neontrath-se a caminko, para tudo assimilar, dominar, Jmpor sua forma, cransformat cen are, “iealzar™” — iso & cfiaro belo, produir um mundo “ideal”, mais simples, mais force mais perfcit, para divinizar e airmar a rotaidade da 1 Niche uae terme sic i om uma gnc isin, mat Pricolgca (CE Pgmeno puma, rimaver 188, 1425] Seg to cles moti clase concentra 9 mas alto entendmento depo ‘nc, que repre alma implica, concsa 3 concer trai (Ker, primavera 1888, 1446). © Dara Nitshe, "ela quer diner crise torn mais forts sn plifcr vd cos Paro, aint Loge de separa de pide Fado vl opogueno, fi, ents, cue eso otra prin ‘ipa da coin, de mod que os outs tags desaparear. Cin ‘es de um ene mporine”, Opa dor a8 caPiTuLo 4 “UMA MUSICA IRMA DA PALMEIRA” Dei ex daar pra mew corpo far Oder Minha cana ‘Minha cuca fier Oda Deis ew cantar Que é pro mundo fear Odea ra fica da barra Quiguer ci ue senbara Canto e dingo que dard Caetano Velo, Odin Esa muda me parece pefeia. Aprorinise lee suc, com poldce E amie, no mampia, “O que & thom éleve tude que diving se move com o pes dl- 148 Rosa Mania Das popular~ cla tem 0 refinamento de wma raga, no de um individuo. E rica, E precisa. Conse, organiza, conch! ‘Com essa palaveas Nietsche se eefere a Carmen de Bizcesinctia o que entende por mibsica de “estilo cisco" ‘Ora, o cxemplo de Carmen tem como objetivo para” Niecsche luae contra as tendéncias moraizantes na musica, sua subordinagio 3 mora, prineipalmente, contra aidéia da signiticagi. Toda misica que tem por objetivo cransmitir ‘mensagens, desse ou de outro mundo, deve ser rechagad. A expresso nunca foi uma propriedade imanente de miisica Pelo contre, esta deixou de ser musical a0 buscar "o ex pressivo a qualquer prego” ‘Masse a misica ni € Feit para veicularidias morais cou conceito,tadusirs, eno, sentimentose pases, expri- mira, como pensa Baudelaire, a “pare indefinida do sent- mento que a palavra nio pode expres” Evidentemente nao, Expresar ideias moras ereligioss, faze fader os sent mentos" ¢ as paixdes no & ateibuigio da mdsica, Em sua ‘Carta sobre a misica,” Wagner considera que a miisica dra- ritica tem por tzefaessencial fazer “falar” 0 sentiment, adaptar-se a0 sentimento com a mesma exatdio que a pala- ‘1a, Para Niewsche, 0 contitio, “aeavés da misica as pa- T Nistache:O sea Wigner 2 CL Nistche, “Incurses de um exemporin”, Crp drier 2; eam Progen plume, ost de 1847, 31021 " Nisa, Ali de Bom do al 286, amin” Wapaer considers como um prgo", Nee eonta Wager Baudelie Chae, Richond Wagner "Tater Pars p45 5 CE Wap in Qua Pome Ope uss SIC AEA 4 HUE M9 Ges gozam a si mesmas™ $6 um comediante ou um impos: tor poder fnr aria qua misc exprine lguma cos sa que nio els mesma. A rmisica nlo tem nada a dizer no sentido de comunicar uma informagio, de eadusr o pense ‘mento da conscigncia: Srgio de “naturexa comunititia ¢ regia,” “miservelesueita 20 ero". Sendo a misia uma linguagem “pessoal, auténsiea ¢ sobre" para se comunicarem ifinitas coisas que no encon ctaram para clas nem palaveas, nem mesmo pensamentos"? como pode estar submetida 3 linguagem verbal, traduzir conteid da eonsciéncia? Emboraa radio flssfca const derasse a conscigneia como devendo consta entre a coisas mais admirives da cra Ihe reconhecese a autoridade su prema ~ a faculdade de querer, de sentie © de pensar Nietzsche, 20 contitio, considera a consciéadia um 6egio superficial eincompleto, que est igado is exgéncias da co- _municago eda linguager. Um indvidvo, sentind-se aca- do eameagade e em poder, sozinho, fiver face is exigéncias dh vida, €competido a procuar a ajda de seus semelhantes € simultaneamenteimpelido a exprimit ea comunicar essa necesidade. Pura que os outros compreendam o seu pedido, precisa, primeiramente, “de conscignc, «, portato, ‘aber cle mesmo o que Ihe fla, ‘Saber como se sent, sabe’ 0 qe © Nieache, Ali do Bo do Mal 106 * Niewshe, A gsi cis, 354, " Niche, Agen de moe Diners ° CE Nite, Vente de orn, ANLIBD I 38D, 116 ‘A ninea 3 mia parr cadet ingen postal auteaties «nob! lana coias nip encontrar sind A Pls rem os persamerts cis que ora aoe runes Citade por Leon Koxsovitch on Sigur «adios Nita, p12 150 Ross Mana Duss ens xem seg, dos sigs para ecomunicatAcons- Gigncia nasce, assim, a0 mesmo tempo que a inguagem. preciso observar que a conscigncia ea linguagem, surgindo dle uma relagio com 0 meio, nio se fundam no que existe de individual, mas no que faz parte do gregiio. Resulta da que ‘homem trav & consciéneia apenasaquilo que & comunicivel «parithivel com outrem, logo, a parte mais superficial, a par te pior, que se eraduz em palavras, em signos de comunicag. Enquanta “nossis ag6es slo, no fundo, todas elas pessoas, incompariveis,tinieas,iimitadamence individuais’,' 0 pen- zidos a conscincia e na linguagem, toxnams 120s, tals, relativamente estipidos,geras, signos, marcas de rebanho.!? (© problema da miisca ¢ obviamente muito diferente Estando relacionada de forma explicta linguagem, somen- te quando acompanha o cexco, ela é na verdade a principal 1é mesmo a agio de um individuo, quando tadu- nguagem” da mente quanda esta se enconta em Um ests do de sentimento nio-verbal, um estado em que © prdprio “compo éo0 pensador”® Por isso, no tem a ver com o greg ‘Nistche A gin iia 354, Le. ayo de Campos, “Balada 3 mods Toscan (1895). i A Bis de cinco etn, p- 78 Pata Nese {erpeagio eonpnitagn do unde, Elec un enone ‘as important, mai copnenle do que aconsinsia, CE Fog tos patos, agente de 1883.40.15 Lats SEA HOGA. eae wt Miisica, afirmagio da vida Pensundo em wma miisica que torne corpo vivan, Nietzsche revla, em uma cartaa Peter Gast, o que espera da [Ns procsamos urgentemente de uma profssio de Fe ant-rominccaexgr da misiea que es svn mie | mora, ou a0 “mclhoramento do pore”, mas art, far atte para artistas, uma expéce de dione indiforenc, lm espcie de alert, em detsimento de tudo que tem “importincia' arte como senimenta de speio: Fidade eelevigi; opondo-se & banalidade da politic, a Bismarck, a scialsmo, a cistianismo etc..." (Ora, exigindo que a misica se torne miisica pura.” cserucurada em torno da idéia de nio-signif ‘lo estética musical nietzschiana nio resulraria, rismo de Crepizeulo dor fdolosintitulado U're pour Fart 0, a concep formals: pesleria seu poder de comunicagio? Em umn afo ‘Nietasche refutaincisivamente formalismo estética, ou 56 a douttina da arte pela arte. Fsereve | Pie pour Har signifi "A moral gue ¥4 pata 0 labo” ~ Mas, mesma esa hostile revels o prom rio do preconesito, Quando da rte xe evs Hal dade de praia a morale de miclhoraro homer. 830 Se Gut op a palms que mane 3 pal 152 Rosa Masia Dias segue dai que arte ndo tena finalidade, objetivo, sen- ‘ido, em sum, que sia [art pour Uart um etme mor ddendo sua cauda, [.] Aarte€o grande ential da via: ‘como se poderiacompreendé-ls sem fnaldade, sem ‘objetivo, come Uae pour Far A muliga, ive da submis & plea e da obtigao de veiula tm sentido, rornase, ao conrsio do que pol. ‘apres, det comunictive pos dspena no sure auc ale excep: o poder de car. Dal chave da ena Isa nccsciana:¢ mises €insperel de uma exper tnciade afmagio da exiténl Nava de um amor ei, i aleia eds superbundincia, la tansite apenas um Sco igo gprovapo sem rvnas do fel, dt zer sim ao mundo”, E, entio, sem nada expressar, dix tudo. Reta aus inspira dons, gue gana de ovo 2d tment gic, ta login da ag, a evens ¢ nn Cina “a exrordngia volipla que ela nos gues tor" Alem dso esa mica que dz nt mobili ns indvdios toda suas enerlas trarformaosem sees pre de armas, devle tes o ue dees fi confsca or una mean uma mova, re lg, una clara ma pole, Restate 6 pode de nent mows pou bilkdades de vivre de pensar" }ise dram cone pega Niece, "que mies lve o exp? asa 26 pen sien eae se ons ma fl, enn ec ® Nicasche, “ncurses deum exeporincs, Cpu de da, 24 Niece, "O caso Wagner”, ie Hon % Baudelsie, Chale, Richnd Wigner ¢"Tamahtier'em Pari pA Nieasche, Oct Wagner Veneza, um sindnimo para a muisica Para essa misica que dé asas a pensamento, Nietsche tem uim nome: “Veneta”? “misica do sul’, 0 “0 mew Sul na rmlsia’2" Evidentemente, cl nfo é a misica do sul geogri fico, nfo esti em oposigGo 3 mtisiea do Norte, mas a cudo aque aero, “Jamais admit", dz Nietsche, “que um ale mio possa saber o que é misica. Os chamados miscos ale mies, sobrerudo os maioes, so esrangeirs, slaves, croatasy italianos, holandeses~ou judeus: de outro modo so alemies de forte esttpe, alemes extinzos, como Heinrich Schica, Bach e Haendel” I justamente como exemplo de uma “miisica do Sul” que Nietsche cita Carmen, a rnsica dos céus dlaros, “da se- cura do ar” ede “uma outra sensualidade, uma outrasensibi- Tidade [.) sosibiidade mais meridional, mais motena, mas aqueimada..°2 Eo que mais agrada a Nietsche nessa misi- ‘casadiae nica, produzida como um dom, sem edculo nem segundas incengbes, é a sua alegia “alegria africana’, “cur- ta, repentina, sem perdio", que tem a fatalidade sobre si ‘Olhamos para for’, diz Nietzsche, 20 ouvi-l: “Ji vimos mar ‘liso? E como a danca moura nos fila de modo cranaiili- 2B Nerascheecev cm “Por qu 10 nti” ie Home: "Quan do busco outs palsta para 3 mies eneonto soment ¢palava Vencra" CF también Teeermene”, Nitache ona Wagner. 2 Niesche en se efeindo 3 msc de eu amigo Peter Gas (er "Por ‘que su to inlgete, Bice Homo, 7) jetsche, "Torque sou ho inigre,Eee Home, 7. Nicache, Osa Weer, lem, 14 Rosa Mani Diss ‘ade Como, em su ncva mane, mesme anon ciabilidade aprende a satisfagio."25 “Tanpoucoo tna do amor nes mia easel 3 foma como cettido nasa muse de Wagicr Er Ce mono tor apa resi, demonic, povcador os hada embra amor em Wane apart desi doe £ dire bento do aman quando verdad conde tm depos abe de omar poe do cae cobra dle ‘uma virgem de boa familiz. Nenhum sentimentalismo 4 fa Senta. Mas o amor como farum, coma fatalidade,tnico, inocenee eruel e precisamente nisso,natureza! O amor, que em seus meios é a guerra, e, no fundo, o dio mortal dos 5 os! Nio sei de eso em que o humor trigico que constitu aessincia do amor scja expresso de uma mancira tio rigoro- ‘3, numa formula co cerivel, como no iltimo grito de Don José, que conclu a obra de Mérimée, o amor foi reintegrado 3 natuteza:" Sim! cua mats ‘ex minha adorala Carmen" 2? No encanto, cto por sibora Niechecomsidereo amor des Psp Metin ogi dente exo le 0 cema, depois de Strahl, eign que ee propio se ores mis fcundo eum Histo mele depois de it Bite eon uma crea a Carl Func, do que epresema de ft pare the opesiso Wagner: "Ni lee muito aso oe ex igo a spi de Bet. Voc me cones i ee Wem 2 Senta a ering do Navi Fata ona mesten ath 9a austria 155 cexti em questio, Mas como antivese irdnica contra Wagner, produz um grande efeito”®* Nessa carta, Niewsche parece Confess que nio estépreocupado em comparar os dois com- positores, mas em apresencar Carmen como um antidoto para ‘Perfil como uma maneira de desromantizara mtsicae mos- tar que ela pode sr ainda, principalmente, apenas musical ‘Além de Bizes, hi também um outro compositor cuja smiisica dig "sim" a vida e 20 mundo e que, por iss, pode se colocado em contraposigio a Wagner: Chopin. Sobre Chopin, Nietsche escreve em Bice Home: “Eu mesmo con- ‘inuo suficientemente polonés para dar rodo o resto da mi- sica em troca de Chopin’? E 0 que mais Ihe agrada nesse ‘compositor é0fato de cle ter dado expresso musical felici= dade, Escreve a venerava Chopin, principalmente por eet fi ‘eral a dsica das influgncias ales, da propensio 8 Feira, ao sombrio, a0 pequeno burgués, 20 pesado € 10 pedante. Antes dele, a beers ea nobreza do esprit 6, principalmente, a slegria soberana, a exuberincia © 0 splendor da alma, o ardor es densidade meridional do sentimento ni haviam encontrado sua expressio me sical Comparade a Chopin, proprio Beethoven: me parecin uma naraceea semibirbara, cuja grande alma havia sido mal-educada, de modo que nunca havia aprendido a dstinguirbem entze o sublime $0, enteo simples, o mediocre 0 mas gosto" ® Wieasche, cata a Casi Funjchs de 27 de stembro de 1888, in Nets Sef Pvt fiom Hs Leven ® Niche, “Por qu ato intligene" Exe Homo, 7 > Niciche,Fngment: tame, verbo de 1882.21 (2 136 Rosa Mana Duss Chopin € superior a outros misicos alemies, porque tealiza uma musica independente de qualquer contetido cexcramusial: € “o meseee dos prelidios, que s6 preludiam a simesmos’,além de sero criador de um “canto” instrumen- tal, Profundo admirador do bel canto de Rossini e Belin, Chopin, embora no tenha escrito para a vor humana, pro- cura ter em vista, para o desenvolvimento da linha melédica pura, 2 fase cantaca por uma determinads cantor, Assim, é por prvilegiarem o canto, instrumental ou producido pela voz humana, restituirem & musica a ale- {ria seu carter afirmativo ¢ eansfigurador do mundo, que Nietzsche aprecia compositores como Chopin, Bizet & Mozart. Por meio deles, pode ver a misicarefaer suas an tigas aliangas com o canto e com a danga. Em companhia 3 anki, Vladimir Le Nome, p67. 8 O que Nictache mais preci cm Monat ito d ee compositor cig que a minea sj sempre proprimente musi ito uc sj Sempre encanadors peruasia, meme quando conto palais smareads pela tsterae plo deeper, Pos amisicy nh eos at ina, nem meso o texto de que da se serve coma um preter act ‘ada dine. Em Hamano, demaiads humana, Nicasche ere sabre “Mozart “Ele nfo encontra suas ispiragies ouvindo isin, mas hand vida vida mera amis animada lena sempre coma Fda quando Lingo eae” (2,7 154), Em Nietche cone Wegner, Nitache recrimina Wage po t= ertido a conde fistoligics da mise. Em vex de cantar ean "sia dete nos conv a nada plana. "Paracomprender a ‘melodia nina & preciso imaginae que etmos no man pedro ouco pouco o pee fiamor + merce dor ements, nota ada. Na adénca lig, sleneeardente da sca ain rm ‘movimento sucess let, er precio buscar outa cis era pre tis daar" ("Wagner considrad com peng stn SICA rae Ba pace’ sr esses, a iisca recupera levenae desperta uma moultiplic dade de teases afirmativas. Peo canto, participa da sabedo: ria do pissaro, que canta pelo prazer de cantar, sem se preo: Cupar em exprimir alguma coisa que ndo seja seu proprio ‘canto, Pela danga,libera 0 cospo, convida-o 2 alegtia, permi- te que ele se transforme e se misture no elemento aéreo, , esse modo, dé asis a um pensamento que aprove a vida e se tome, ele mesmo, um estimulo para a vida jecache exmina Agee cid, 383, ergo da misca qu ela te rhs como pues canto ea dana: “Afton de nbs es misia de Tincbe! Nu ean nage da as adn das maohis? Sole tino ¢masis gad, ino da danga? Hour agar ia ors rae avril alr? Quer ns cara una angi io esolarad, to kve, que no expanse mesma cars qe, 20 cont, onvide-ara cama e+ dang conosco”

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