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eeeoeerwrewer ern 4 BRINCADEIRA, BRINQUEDOS E TELEVISAO Quer @ Jamentemos, quer nos resignemos ou @ aceitemos com entusiasmo, a midia desempenha nas ‘sociedades ocidentais um papel consideravel, tanto tentre aos adultos quanto entre as criangas. No que se refere a estas tltimas, existe um debate acalorado jntermindve! ae qual nan desejamos entrar. S6 que- emos tentar perceber as miltiplas consequéncias dessa situagio, quanto & brincadeira e aos brinquedos téa otianga, independente de qualquer julgamento de Valor, E fato que nossa culura e, talvez, mais ainda 4 das criangas, absorveu a midia e, de um modo privilegiado, a televisio. A televisio transformou a vida e a cultura da crianga, us referéncias de que cla dispe. Ela influenciou, particularmente, sua cul tura hidica Entendo, pela expresso acima, uma estrutura complexa e hierarquizada, consttufda (essa lista esté Jonge de ser exaustiva) de brincadeiras conhecidas fe disponiveis, de costumes lédicos, de brineadeiras individuais, tradicionais ou universais (se isso pode ter sentido) € geracionais (préprias a uma geragi specifica). Essa cultura inclui, ainda, um ambiente composto de objetos ¢, particularmente, de brinque- tdos, 20 que o psicélogo francés Redde denomina 50. “parque de bringuedo” € que deve ser considerato tum conjunto organizado! Essa cultura hidica ndo esta fechada em toro de si mesma; ela integra elementos: externos que in- fluenciam a brincadeira: atitudes € capacidades, cul- tura e meio social. Os bringuedos se inserem nesse contexto. Para se tomar um verdadeiro objeto de brincadeira, tal objeto deve encontrar seu lugar, “eavar seu espago” na cultura hidica da erianga. Por essa insergio 0 brinquedo é, entéo, objeto de uma apropriacio. 2 E certo que, atualmente, nossa cultura Iidiea est muito orientada para a manipulagio de objetos; sem duvida, isso ¢ uina dimensiiv essencial. Come con seqincia, ela evolui, em parte, sob o impulso de novos brinquedos. Novas manipulagdes (inclusive jogos eletrénicos ¢ de videogame), novas estruturas de brincadciras, ov desenvolvimento de algumas em detrimento de outras, novas representagdes: 0 brin- quedo contribui para o desenvolvimento da cultura lidiea. Porém, o brinquedo se insere na brincadeira através de uma apropriagdo, ou seja, deixa-se envolver pela cultura Iidica disponivel, usando préticas de brincadeiras anteriores. Tal cultura liidiea ndo € sé composta de estruturas de brincadciras, de manipulagdes em potencial que podem ser atualizadas. Ela € também simbética, suporte de representagées, A brincadeira €, igual- mente, imaginagao, relatos, hist6rias. O proprio brin- 1 REDE, G. [enfant et le jowete, Tese, Bordeaux Ul, 1984 3 vols 51 rs quedo serve de suporte para representagées, para as historias, sejam elas espeetticas ou retiradas de outros suportes (livros, filmes, desenhos animados). E evidente que essa cultura hidica que evolui com a crianga é, em parte, determinada” por suas capacidades psicolégicas. Porém, elas 56 fazem per- mitir ou impossibilitar algumas ages ou represen- ages, Trata-se, entio, de condigdes necessrias, mas nfo suficientes. A cultura lidica dispée de uma certa autonomia, de um ritmo proprio, mas s6 pode ser entendida em interdependéncia com a cultura global de uma sociedade especifica, A cultura Iidica recebe esiru- turas da sociedade, conferindo-Ihe um aspecto espe- fico. E 0 que acontece com a diferenga de genero ‘que provém da sociedade, mas adquire tragos espe- cfficos na cultura Iidica. Na verdade, esta é dife- renciada: diferenga de sexos, de geragoes, até mesmo de idade, de meio social, de nagdes e de regides. Essa cultura Iidica & também estratificada, com- artimentada, ¢ no acontece do mesmo modo em todos 0s lugares onde a brincadeira & possivel: na escola ou na sua casa, a crianga utiliza aspectos diferentes de sua cultura lédica. Enfim, seguindo Winnicott, poder-se-ia pensar que essa cultura hidica iré constituir uma bagagem cultural para a crianga € se incorporar de modo dinamico a cultura, & capacidade de criagao do futuro adulto, Essa cultura hidica esté imersa na cultura geral & qual a crianga pertence. Ela retira clementos do repert6rio de imagens que representa a sociedade no seu conjunto; € preciso que se pense na importancia 52 da imitagdo na brineadeira, A cultura lidica incorpor: também, elementos presentes na televisdo, fornece dora generosa de imagens variadas. Seria inverossime! se a brincadeira da crianga no se atimentasse da televisio e de seus efeitos. Vamos tentar anali mais. precisamente as variadas contribuigoes da te Jevistio para as brincadeiras infantis, para a cultura Iidica atual. . 1. A influéncia direta da tetevis brincadeiras infantis, elas ficgdes, pelas diversas imagens que most a televisdo fornece as criangas contetido para suas brincadeiras. Elas se transformam, através das brin cadeiras, em personagens vistos na televisd0. Assi a reprise do Zorro na televisio francesa levou i criangas a usarem, macigamente, esse personage como suporte de brincadeira, Contudo, nao basta ue as imagens sejam apresentadas na televisi mesmo que elas agradem, para gerar brincadeiras € preciso que elas possam ser integradas ao univers Widico da crianga, as estruturas que constituem base dessa cultura Iidica mencionada anteriorment E preciso que tais conteddos possam ser integradss nas I6gicas da brincadeira, que variam menos {que as representagdes. A uta, 0 conftonto com 1» perigo, 0 socorro levado a alguém, a reproduga sl certas cenas da vida cotidiana (refeigio, uid com 0 bebé, compras) so as tais estruturas sym podem ser revestidas de novos contesidos 3 eewreereeereonnwnwrernwrerrrererereeeree Na realidade, a televisdo influencia as brincadeiras na medida em que as criangas podem se apoderar dos temas propostos no quadro de estruturas das, brincadeiras usuais, Nem tudo se presta & brincadeira! ‘A brincadeira no aparece como uma imitagao servi daquilo que € visto na televisio, mas sim como um conjunio de imagens que tém a vantagem de ser conhecidas por todas; ou quase todas as criangas, de ser combinadas, utilizadas, iransformadas, no ém- bito de uma estrutura Iidica, Isso ilustra bem a dupla dimensfo da brincadeira: uma estrutura sobre fa qual representagdes variadas vém se inserir para aaimé-la, renavé-la, Os efeitos de modismos, ou do entusiasmo passageiro atingem mais facilmente esse segundo nivel E claro que a televisdo no se limita a propor novos contetidos para as estruturas da brincadeira. Através da cobertura que d4 ao esporte, por exemplo, ela promove, também, estruturas lidicas que as ctiangas podem retomar, adaptando-as as condigbes especificas de um pitio de recreagio ou da rua. De qualquer modo, a televisio tomou-se uma fornecedora essencial, sendo exclusiva, dos suportes dle brincadeira, 0 que s6 pode reforgar sua presenga junto & crianga, Realmente, a crianga nao se limita receber passivamente os contetidos mas reativa-os se apropria deles através de suas brincadeiras, de aneira idéntica & apropriagdo dos papéis sociais & mmiliares nas brincadeiras de imitagdo. O grande valor da televisio para a infincia € oferecer As vviungas, que pertencem & ambientes diferentes, uma Vguagem comum, referéncias Unieas. Basta lembear 4 Oe | um heréi de desenho animado para que as criangas centrem na brincadeira em pé de igualdade, ajustando sev comportamento ao dos outros a partir daquilo que conhecem do seriado lembrados Numa sociedade que fragmenta os contexios culturais, a televisio , oferece uma referéncia comum, um suporte de co- municag3o. Seu papel, aqui, ndo é similar ao que desempenha essa mesma televisio como superte de conversas, como lugar-comum, para os adultos? ‘A pesquisadora francesa Lurcat (1984), for sua vez, acrescenta 0 papel da descarga emocional, 0 derivativo que constitui a brincadeira coletiva na {qual as criangas retomam as cenas vistas na televisic: “O televisual vivido encontra, entdo, um derivativo, porque existe algo como uma descarga da impres- nagio televisual no derivativo que & a brincade! (.}. A brincadeira coletiva (..) permite acaba com 08 efeitos do bombardeamento emocional a que sio submetidas as criangas quando assistem, solitérias, a certos programas.”? ‘Também € preciso lembrar 0 desenvolvimento recente do brinquedo que vem reforgar a importancia da televisio na brincadeira. Na verdade, indmeros fabricantes produzem, atualmente, brinquedos que representam os personagens dos desenhos animados E claro que podemos ver af s6 uina exploragio ou tuma oportunidade comercial. E freqiiente que seu efeito seja parecido aquele jé lembrado, mas além de ser mais compativel com a brincadeira solitéria, 2 LURGAT, L Le jeune enfant devant les apparences tli sueles, Paris, 1984 55 quedo serve de suporte para representagdes, para as historias, sejam elas especificas ou retiradas de outros suportes (livros, filmes, desenhos animados) E evidente que essa cultura Midica que evolui com a cerianga é, em parte, determinada por suas capacidades psicolégicas. Porém, elas 56 fazem per- mitir ou impossibilitar algumas ages ou represen- {agdes. Trata-se, entdo, de condigées necessirias, mas ndo_ suficientes. A cultura hidica dispde de uma certa autonomia, de um ritmo proprio, mas s6 pode ser entendida fem interdependéncia com a cultura global de uma Sociedade especffica. A cultura lidica recebe estru- turas da sociedarie, conferindo Ihe wm aspeciu espe~ cifico, E 0 que acomtece com a diferenga de genera que provém da sociedade, mas adquire tragos espe- cificos na cultura Idica. Na verdade, esta é dife- renciada: diferenga de sexos, de geragies, até mesmo de idade, de meio social, de nagdes e de regides Essa cultura lidica € também estratificada, com- Partimentada, e io acontece do mesmo modo em todos os lugares onde a brincadeira € possivel; na escola ou na sua casa, a crianga utiliza aspectos diferentes de sua cultura lidica. Enfim, seguindo Winnicott, poder-se-ia pensar que essa cultura Iidica ird constituir uma bagagem cultural para a crianga © se incorporar de modo dinémico a evltura, & capacidade de criagdo do futuro adulto, Essa cultura Iidica esta imersa na cultura geral A qual a crianga pertence, Ela retira elementos do repertério de imagens que representa a sociedade no seu conjunto; 6 preciso que se pense na importincia da imitagio na brincadcira, A cultura tidica incorpora, também, elementos presentes na televisio, forrecs, dora generosa de imagens variadas. Seria inverossimel se a brincadeira da crianga nao se alimentasse. da felevisio © de seus efeitos. Vamos tentar analisare mais precisamente as vatiadas contribuigdes da te. levisdo para as brineadeiras infantis, para a cultura Iidica atwal . 1. A influéncia direta da televisiio nas brincadeiras infantis Pelas fieyies, pelas diversas imagens que mostra, a televisio fornece as criangas contetido para suas brincadeiras. Elas se transformam, através das brin. cadeiras, em personagens vistos na televisio, Assim, a reprise do Zorro na televisio francesa levou as eriangas a usarem, macigamente, esse pefsomagem como suporte de brincadeira. Contudo, no basta que as imagens sejam apresentadas na televisio, nem mesmo que elas agradem, para gerar brincadeiras; € preciso que elas possam ser integradas a0 universo lidico da crianga, as estruturas que constituem a base dessa cultura hidica mencionada anteriormente E preciso que tais contetidos possam ser integrados nas légicas da brincadeira, que variam menos do ‘gue as representagdes. A uta, © confronto com 0 Perigo, © socorro levado a alguém, a reprodugio de certas cenas da vida cotidiana (refei¢ao, cuidados com 0 bebé, compras) séo as tais estruturas que podem ser revestidas de novos contesdos 33 Na realidade, a televisdo influencia as brincadeiras ma _medida em que as criangas podem se apoderar dos temas propostos no quadro de estruturas das brincadeiras usuais, Nem tudo se presta a brincadeira! A brincadeira nio aparece como uma imitagao’ servil daquilo que é visto na televisio, mas sim como um conjunto de imagens que tem 2 vantagem de ser conhecidas por todas; ou quase todas as criangas, de ser combinadas, utilizadas, transformadas, no am. bito de uma estrutura Idica, Isso ilustra bem a dupla dimensio da brincadeira: uma estrutura sobre qual representagdes variadas vém se inserir para animé-la, renovécla. Os efeitos de madismos, ot de entusiasmo passageiro atingem mais facilmente esse segundo nivel. E claro que a televisdo ndo se limita a propor novos contetidos para as estruturas da brincadeira, Através da cobertura que dé ao esporte, por exemplo, cla promove, também, estruturas liidicas que as criangas podem retomar, adaptando-as s condigoes especificas de um pitio de recreacio ou da rua, De qualquer modo, a televisio tormou-se uma fomecedora essencial, sendo exclusiva, dos suportes de brincadeira, © que s6 pode reforgar suia presenga Junto & crianga. Realmente, a crianga no se limita a receber passivamente os contetidos mas reativa-os € se apropria deles através de suas brincadeiras, de maneira idéntica & apropriagdo dos papéis socials & familiares nas brincadeiras de imitagio. O grande valor da televisto para a infincia é oferecer as criangas, que pertencem a ambientes diferentes, uma linguagem comum, referéncias Gnicas. Basta lembrar s4 uum herdi de desenho animado para que as eriangas entrem na brincadeira em pé de igualdade, ajustando Seu comportamento ao dos outros a partic daguilo que conhecem do seriado lembrado. Numa sociédade Que fragmenta 0s contextos culturais, a televisio oferece uma referéncia comum, um suporte de co- municagio. Seu papel, aqui, no € similar ao que desempenha essa mesma televisdo como suporte de conversas, como lugar-comum, para os adulips? ‘A pesquisadora francesa Lurgat (1984), por sua vez, acrescenta o papel da descarga emocional, o derivativo que constitui a brincadeira coletiva ‘na quai a etiangas retomam as cenas vistas na televisio: “O televisual vivido encontra, entio, um derivativo, Porque existe algo como uma descarga dz impreg. hago televisual no derivative que € a brincadeira (.. A brincadcira coletiva (..) permite acabar com 98 efeitos do bombardeamento emocional a que sio submetidas as criangas quando assistem, solitarias, a certos programas."? Também € preciso lembrar o desenvolvimento recente do brinquedo que vem reforgar a importancia da televis’o na brincadeira, Na verdade, intimeros fabricantes produzem, atualmente, brinquedos que Fepresentam os personagens dos desenhos animados. FE slaro que podemos ver af sé uma exploragao ou uma oportunidade comercial, E frequente que seu efeito seja parecido aquele jé lembrado, mas além de ser mais compativel com a brincadeira solitaria, 2. LURGAT, L. Le jeune enfant devant ler apparences tev suelles, Paris, 1984 55 FO ele permite & crianga passar de uma telagdo passiva com a televisdo para uma relagao ativa de manipu- lagdo ¢, eventuaimente, de (re)criagao. O brinquedo permite a um grupo de criangas entrar na brincadeira Bragas a essa referencia comum, sem se colocar, no entanto, em situagio de identificagao corporal com lum personagem. Realizamos uma experiéncia em classes de pré-escola na Franga, com a série dos “"Senhores do Universo”. O investimento das eriangas ha brincadeira esté diretamente ligado ao conheci- mento que elas tém do personagem pela televisio, € isso parece permitir a5 professoras fazerem as epresentagdes da televisio entrarem na classe’. Ao Permit, como na brincadeira colctiva, uma descarga emocional, essa situago dé oportunidade & crianga de estabelecer um distanciamento em relagio. aos ersonagens e as situagdes que ela pode dominar, Fepresentar, controlar, mais do que com elas se identificar. Embora alguns autores tenham levantado a con- corréncia da televisio © da brincadeira em nivel de tempo disponivel da crianga, esta soube integrar, Perfeitamente, as imagens que recebe por esse ins. trumento em suas brincadeiras. A televisio nao se opGe a brincadeira, mas alimenta-a, influencia-a, estrutura-a na medida em que a brincadeira nao nasceu do nada, mas sim daquilo com o que a crianga ¢ confrontada, Reciprocamente, a brincadeira 3. BROUGERE, G. "Jouer avec ds figurines & cole materelle in Intemational Journal of Early Chilibood, vol. 19, x" 1, 1983, mara 56 permite & crianga apropriar-se de certos contetidos da televisao, 2. A influéncia indireta: os brinquedos 44 indicamos © quanto o brinquedo influencia ¢ estrutura a cultura lidica da crianca tanto a0 nivel das condutas lidicas quanto no dos contesdos sim bolicos. A brincadeira da crianga esté, eim parte, Tigada aos objetos hidicos de que ela dispae. Acontece auc, atualmente, ao menos nos paises que aceitam # publicidade de brinquedos pela televisio. os brin. uedos mais vendidos so, na maior parte dos casos, aqueles que sao objeto de uma campanha publicitéria televisiva Por meio dos filmes publicitérios, os quais sabemos que a crianca gosta de olhar, ela descobre, a0 mesmo fempo, suportes de brincadeiras e de situagdes hidicas apresentadas como encenaca0 do abjeto promovido a A televisio tem influéncia sobre a imagem do brine a quedo € sobre seu uso e, € claro, estimula 0 consumo de alguns deles Entretanto, para considerar devidamente o papel da televisio. € preciso abstrair-se dessa influéncin direta. Na verdade, a necessidade de promaver um brinquedo pela televisio exerce pressaes sobre 0 quc seria o brinquedo: ele deve ser comunicdvel, ou seja, explicavel e desejdvel através de breves imagens deve ser tnico, ou seja, nao comparivel a um owiny brinquedo, conseqiientemente em relagio ao seu a ecto deve ser bem personalizado; deve estar asus 57 peeseevevesuesvenvsceeeveeovverveeererwrererre ciado a uma gama ou a um universo, de modo a rentabilizar a publicidade sobre uma pluralidade de objetos. A evolugio da publicidade televisiva, conseqiien- temente, influenciou fortemente 0 brinquedo:‘ele esti cada vez mais ligado a uma histéria (como os novos bichos de pelicia que apareceram nos siltimos anos), € personalizado, na maior parte das vezes através de um desenho animado, ¢ est ligado a um deter- minado universo. Em suma, sua dimensio simbélica, seu conteddo representativo cresceu tanto em im- ortincia que a televisio pode, facilmente, colocd-lo em evidéncia. Estamos tratando da dupla brinque- do/televisio, insepardvel. Através do brinquedo, como por meio da televisio, a crianga vé sua brincadeira se rechear de novos conteddos, de novas repre- sentagdes que ela vai manipular, transformar ou respeitar, apropriar-se do seu modo. Da mesma forma ‘como para os contetidos televisivos, os fendmenos do modismo ¢ da mania regem a vida dos brinquedos. Seja diretamente por intermédio das emissdes dos programas ou indiretamente através dos brinquedos ‘que se adaptaram & sua légica, a televisio intervém muito profundamente na brincadeira da crianga, na sua cultura hidica. Parece-me indispensdvel verificar © analisar 0 fato. Isso nao significa que a cultura hidica da crianga esteja inteiramente submissa & influéncia da televisdo, Por um lado, certas brincadeiras escapam totalmente da televisio e, sobretudo onde sua influéncia é evidente, ela nio € nica, Efetivamente, aparece uma osmose entre 0 contetido da televis jo € as estruturas 58 de brincadeiras bem anteriores a ela; esse & 0 caso das estruturas de combate € de oposigéo que muitas brincadeiras organizam, no tendo necessidade da televisio para se estruturarem. Esta s6 faz, fornecer novos conteddos para as estruturas, & até niesmo para esterestipos antigos. A cultura hidica esté impregnada de tradigdes diversas: nela encontramos brincadeiras tradicionais no sentido estrito, porém talvez mais estruturas de brincadeiras reativadas, elementos, temas, céntetidos ligados & programagio infantil ow & imitagao. dos colegas ou dos mais velhos. Novos contesidos, em particular os originados pela televisio, primeira pro- vedora do imagindrio, vém se inserir em estruturas anteriores disponiveis e dominadas pelas criancas Em paite, as formas das brincadeiras mais contem- porimeas reativary estruturas de brincadeira que per- tencem a um niicleo constante da cultura Kidica, pelo menos hé diversas. geracoes, Nao parece haver oposigao entre as brincadeiras tradicionais € aquelas oferecidas pela televisio, pelo menos na cultura viva, constituida pelas brincadeiras das criangas. A brincadeira é, entre outras coisas, um meio de a crianga viver a cultura que a cerca, tal como ela € verdadeiramente, ¢ no como ela deveria ser. Do ponto de vista da edueagio da crianga pequena, a brincadeira ligada & televisio pode permitir uma abordagem distanciada, até mesmo critica, de deter- minados contetidos televisivos. Encontramos aqui @ possibilidade de conceber uma edveagao da erianga tclespectadora através da brincadeira. Na verdade, a brincadeira permite a descarga das emogées acumu- Jadas durante a recepcio televisiva, a tomada de distanciamento com relagdo as situagdes e aos per- sonagens, a invengio e a criagio em toro d: imagens recebidas. 7 60 | | | | | | | 5 OS BRINQUEDOS E A SOCIALIZACAO DA CRIANCA © circulo humano © o ambiente formado pelos objetos contribuem para a socializagao da erianga © isso através de miltiplas interagGes, dentre as quais, algumas tomam a forma de brincadeira oir, pelo ‘menos de um comportamento reconhecido como tal pelo adultos. Esse comportamento pode ser identi- ficado como brincadeira na medida em que nao se origina de nenhuma obrigagio senéo daquela que € livremente consentida, nfo parecendo buscar nenbum resultado além do prazer que a atividade proporciona. A brincadeira aparece como a atividade que permite 2 crianga a apropriago dos cédigos culturais © sew papel na socializagdo foi, muitas vezes, destacado’ Entretanto, parece importante interessar-se, também, pelos suportes mais difundidos dessa atividade, 30 menos nas sociedades ocidentais contemporaneas, ou seja, 05 brinquedos. Fm que eles contribuem para a socializagio das criangas, em que permitem o acesso a certos exdigos culturais e sociais, necessérios, para a formagio de um individuo social? Encaramos a socializagio como 0 conjunto dos processos que permitem a crianca se integrar a0 “socius” que a cerca, assimilando seus cédigos, 0 1. Consulta, por exemplo, CAZENEUVE, J. “Le jeu dans ta sovie', Pais, Encyclopedia Universalis vol. 9, 1968, 6

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