O adicional de penosidade está previsto no artigo 7º, inciso XXIII da
Constituição, juntamente como o adicional de insalubridade e
periculosidade.
Esta modalidade indenizatória, de natureza trabalhista, encontra
amparo em atividades profissionais que não causam dano efetivo à saúde do empregado, mas tornam sua vida profissional mais sofrida e trazem complicações a seu desempenho.
Como exemplo dessa indenização, podemos tomar os motoboys,
forçados a viajar longas distâncias, e muitas vezes desconhecidas, na mesma posição, em quaisquer condições climáticas e prazos curtos. Estas circunstâncias certamente dificultam a atividade profissional do trabalhador, além do aceitável para os padrões da justiça obreira.
Apesar de prevista na Carta Magna, esta modalidade indenizatória
não se encontra ainda regulamentada pela legislação celetista, o que lhe aplica inexigibilidade de per si. Alguns sindicatos, no entanto, asseguram este direito em convenções coletivas, o que dá ao empregado a prerrogativa de solicitar esta indenização na Justiça do Trabalho de forma cumulativa.
Ainda assim, entende-se que os índices para base de cálculo são
discricionários ao empregador.
Porém, sem que exista previsão em norma coletiva, o pensamento
majoritário doutrinário é pela impossibilidade jurídica do adicional de penosidade, cogitado na Carta Magna, mas carente de regulamentação. Dessa maneira, não há que se falar em remuneração nessas condições, salvo indenização nos termos e condições da responsabilidade civil, seja pela teoria da culpa, seja pela teoria do risco.
Todavia, a jurisprudência considera, para efeitos de apreciação dos
pedidos de penosidade, a analogia aos artigos 192 e 195 da CLT, que tratam de insalubridade, combinando-os com as teorias da culpa e do risco acima mencionadas e o quinto constitucional, pela qual cabe a todo agravo uma reparação, seja moral ou material – princípios relativos ao dano moral, regulamentado pelo Código Civil brasileiro.
Mesmo que não esteja o adicional de penosidade incluso em
convenção coletiva de trabalho, há entendimento corrente no TRT da 2ª Região concedendo o benefício, uma vez caracterizada a existência de trabalho penoso.
Recentemente, a senadora Serys Slhessareko (PT-MT) elaborou o
projeto de Lei 552/2009, que acrescenta normas especiais de tutela do trabalho na CLT. Tal projeto contém normas reguladoras do adicional de penosidade, o que dará aos empregados a prerrogativa de solicitar esta indenização em Reclamações Trabalhistas sem a necessidade de convenção coletiva pré-estabelecida – com a aprovação do projeto, o adicional de penosidade seria incluso na legislação celetista. Atualmente, encontra-se em pauta na Comissão de Assuntos Sociais do Senado.
Porém, com a regulamentação do adicional de penosidade sem
maiores ressalvas, a Justiça do Trabalho corre sério risco de trazer ônus demasiado às empresas, e assim, facilitar fraudes de ambos os lados.
Os empregados dispensados poderão solicitar em juízo todos os
adicionais que acharem convenientes, dada sua condição de hipossuficiência, além das prerrogativas já disciplinadas pela carta celetista, tendo certeza da concessão de algum dos pedidos e lucrando indevidamente com sua rescisão contratual (enriquecimento ilícito quase imperceptível, já costumeiro na justiça laboral).
Os empregadores, dada a situação nociva estabelecida pelo
paternalismo da legislação, seriam obrigados a tomar serviços de cooperativas e outras organizações cuja atividade não caracteriza vínculo trabalhista. Tanto o adicional de periculosidade quanto o de insalubridade são onerosos e tendenciosos ao empregado, visto que, mesmo fornecendo todos os mecanismos de segurança necessários, fiscalizando sua utilização e providenciando cuidados médicos periódicos para evitar a deterioração da saúde de seus funcionários, o empregador é sempre considerado responsável por quaisquer danos, e portanto compelido a indenizar.
Tal situação é por demais onerosa e injusta, e pode se agravar com a
adição da indenização por penosidade, que mesmo sendo plenamente definida, não possui quantificação em texto legal – o grau de dificuldade das várias tarefas profissionais executadas em diversas áreas por N funcionários é subjetivo. As dificuldades do motoboy divergem das dificuldades de um secretário, e mesmo entre si, o grau de dificuldade não se equipara dentro das atividades a que cada motoboy ou secretário se dispõe a cumprir.
Como exemplo básico, podemos citar serviços de entrega de
refeições rápidas e serviços de entrega de correspondência e encomendas. Embora tenham a mesma finalidade, estão em áreas diversas, com regras próprias e nichos separados.
O entregador de refeições tem prazos curtos e atende regiões fixas,
nas imediações de seu local de serviço, tendo jornadas e cargas maiores de trabalho, mas com grau menor de dificuldade; os serviços de correspondência trabalham com longas distâncias e prazos maiores, dando ao empregado uma carga bem menor de tarefas, com um grau bem maior de dificuldade em suas execuções.
No entanto, para solicitar o adicional de penosidade em suas
dispensas, por terem a mesma função, estes profissionais utilizariam o mesmo critério. E esta seria uma situação corriqueira em todas as atividades profissionais que pudessem, de alguma forma, enquadrar o exercício de suas funções no adicional de penosidade. A atual conjuntura da Consolidação das Leis do Trabalho merece atenção, pois seus dispositivos supõem uma hipossuficiência já inexistente nos dias atuais. Apesar de ser um dispositivo legal necessário e essencial para a manutenção da saúde das relações trabalhistas, favorece por demais um determinado nicho em detrimento de outro. Ao considerar somente a hipossuficiência do empregado, relega ao esquecimento a função social do empregador, sobrecarregando-o de encargos e tolhendo seu crescimento.
É, portanto, necessária a reformulação das normas celetistas, não
apenas para a inclusão de benefícios aos empregados, mas para garantir a segurança dos empregadores nas relações laborais, dando- lhe alguma guarida jurídica.