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Lucia Bertazzo
mestranda / Cultura Visual / FAV / UFG
Dra. Maria Elízia Borges (orientadora)
ANPAP / FAV / UFG
Resumo: Nesse artigo, pretendo introduzir o conceito de ação, uma forma de arte
pública que trabalha com os anseios da população. O enfoque está no estudo da
produção do artista Siron Franco que consegue perpetuar mensagens de protestos
nos meios de comunicação de massa através da realização de obras, principalmente
instalações, em locais públicos. Abre-se espaço para a discussão de como a arte se
insere na mídia.
Palavras Chave: Ações; Instalações; Siron Franco; Mídia; Protesto.
Abstract: In this article, I intend to present the concept of action, a kind of public art
that develops the claims from the people. I focus on the study of the production of the
artist Siron Franco, who can perpetuate protest messages in mass media through his
works, mainly installations, in public places. Some room is opened for the discussion
on how art finds its way in mass media.
Key words: Actions; Installations art; Siron Franco; Media; Protest.
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nos meios de comunicação e atrair a mídia para acontecimentos que merecem serem
divulgados, discutidos e importunar a consciência das pessoas.
O termo ação foi usado anteriormente por Joseph Beuys (Aktionen, em alemão) que
fazia questão de diferenciar suas obras das que se enquadravam dentro da categoria de
“performance” (BORER, 2001: 7). A referência que faço a Beuys se dá porque ambos artistas
estiveram preocupados com questões sociais e ambientais e produziram manifestações
públicas, mas a relação entre as obras de Siron e as de Beuys não é direta. Algumas ações de
Beuys, principalmente as produzidas dentro de museus, têm sentidos subjetivos que evocam
rituais xamânicos.
Nas obras de Siron, desde a pintura inicial até as ações, vemos a necessidade de
registrar os acontecimentos históricos enquanto ocorrem. O artista assumiu a postura de quem
engaja a própria vida e, consequentemente, a obra nos acontecimentos sociais. "A ligação com
a vida é um traço da própria personalidade de Siron, sempre presente, sempre atuante,
buscando interferir no processo social e político. Esse traço 'participante' do cidadão - do pintor
- se expressa em manifestações que às vezes extrapolam a linguagem da pintura para se
valerem de formas heterodoxas de expressão" (GULLAR, 1999: 16). Expressando-se através
da obra, encontramos em Siron uma pessoa idealista e que toma partido. Não deixa de se
manifestar em fatos polêmicos que cercam a política e a respeito de acontecimentos sórdidos
no campo social que presenciamos no Brasil e no mundo.
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Fugindo das discussões exclusivas das artes plásticas, a função dessas obras é ser
um agente na tentativa de ajudar na resolução dos problemas relatados. Distancia-se das
discussões exclusivas do âmbito da estética e entra em problemas que afligem a sociedade.
"É natural que a cultura popular lide tão intimamente com problemas objetivos, uma vez que
isso é determinado por seu propósito de atuar na realidade concreta" (GULLAR, 2006: 24).
A estratégia de Siron para que suas obras ganhem visibilidade e provoquem de alguma
forma a reflexão é atrair para elas a força do chamado quarto poder: a imprensaiii.
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Criar acontecimentos para veicular mensagens reflexivas por meio dos meios de
comunicação é a chamada mídia artificial. Faz parte de uma estratégia pensada e usada pela
contracultura. Abbie Hoffman, líder estudantil dos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, pregava a
utilização da mídia para atingir as massas com mensagens subversivas. Para ele não
importava como isso ocorresse; o importante era que a sociedade tomasse consciência da
revolução pela qual estava passando.
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Siron também passou por isso. As antas tiveram de ser retiradas do gramado do
Congresso Nacional por falta de autorização; o mesmo ocorreu com a Ratoeira, um protesto
contra o presidente Collor. Por causa do constrangimento provocado, a obra que representava
fezes, em 2001, ficou exposta somente duas horas.
Fora de um regime ditatorialiv, as táticas de protesto que utilizam elementos artísticos
sofrem, de maneira geral, poucas represálias e não se restringem a simples notícias. Quando
bem sucedidas, a qualidade estética das manifestações dialoga com os destinatários e cria
emoção.
Atrás dessa visibilidade na imprensa e para agregar a arte a seus protestos, entidades
como o Fórum Nacional de Direitos das Crianças e dos Adolescentes (DCA) e o Grupo pela
Vidda convidam artistas, como Siron, para participarem de seus manifestos. Para essas duas
entidades foram criadas as ações com as crianças que escreveram o SOS (1991) no gramado
do Congresso e a passeata com o Terço (1993) gigante, respectivamente. Independente do
envolvimento de artistas, as sociedades de classe e organizações têm usado o elemento
estético para atrair a mídia. Um exemplo é a ONG “Rio Pela Paz” que realizou em 2007 doze
manifestações criativas pedindo o término da violência no Rio de Janeiro. Em suas
manifestações foram usados, entre outros, 700 cruzes, 1500 rosas, sacos pretos, pessoas
deitadas. Usando a criatividade, os protestos ganham maiores repercussões do que as
antiquadas passeatas.
Fonte: www.riodepaz.org.br
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Não só nos protestos é que arte e a mídia têm relações bastante próximas. A arte
desde sempre se apropria dos meios de comunicação existentes e cria os seus próprios meios.
Basta pensar nas gravuras, nos cartazes, nas caricaturas e no cinema. No início do século
passado, os manifestos modernos, como os do futurismo e do dadaísmo, foram publicados
primeiramente em jornais, pregando uma nova forma de entender a arte. Atualmente temos
uma nova denominação – artemídia - para a arte que se apropria dos veículos de comunicação
e das chamadas “novas mídias” como forma de expressão:
“Seria, pois, numa dupla direção que encaminharia o exercício (no interior do
mercado, dos meios de comunicação) de uma consciência crítica de consumo
e do espetáculo. De um lado, há, de fato, uma ocupação tática intencional de
todos os canais possíveis de difusão de massa; acompanhada,
simultaneamente, por outro lado, de um continuado tensionamento interno
desses meios, e de formas diversas de exposição consciente, de dramatização
mesma dessa ocupação.” (SÜSSEKIND, 2007: 43).
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O movimento provocou tanta visibilidade que teve todos seus lideres exilados nos
anos de endurecimento do regime. Em 1979, com a liberdade de expressão devolvida aos
brasileiros, o Grupo 3nós3v utilizou novamente a mídia para veicular eventos artísticos, tendo a
cidade como palco. Os integrantes do grupo saíram à noite cobrindo com sacos de lixo as
estátuas de São Paulo. No dia seguinte, ligaram para todos os jornais. A obra só estaria
completa com a veiculação nos meios de comunicação (ARANTES, 2007: 164). Outra ação foi
vedar as portas das galerias com fita crepe e marcar com um X. Deixavam um bilhete em cada
porta: “O que está dentro fica – o que está fora se expande”. Essa necessidade de
comunicação foi assim analisada:
As obras que foram citadas contêm elementos que encontramos também nas ações de
Siron: arte, mídia, protesto e a cidade como palco. Lembramos as ações diante do Congresso
que atraem a atenção dos meios de comunicação. As ações de Siron conseguem sair dos
programas e cadernos destinados aos debates culturais e aparecem nos jornais televisivos,
nos cadernos de política, cadernos das cidades e, constantemente, na primeira página dos
jornais. É raro encontrarmos exposições que tenham alcançado tamanha divulgação.
Analisando toda a produção das ações do artista Siron podemos afirmar que foi
alcançado o objetivo principal que as obras se propunham: apresentar à sociedade, pelos
meios de comunicação, ações e assuntos que mereciam visibilidade, debate e até intervenções
dos poderes públicos.
Para essa massiva divulgação, Siron sacrifica a linguagem da chamada arte elitista
utilizando uma linguagem mais imediata e compreensível a um público maior. E se justifica. Ao
explicar a obra dos Caixões, declara: “Caixão e bandeira são duas coisas que todo mundo
conhece, não há ninguém que não entenda” (Entrevista, O POPULAR, 12 out 1990).
Notas:
i
Corrente artística característica da América Latina. Para mais informações da filiação das obras do
artista com o movimento do Realismo Maravilhoso pesquisar na tese de mestrado: PEREIRA, Eliane M.
C. Manso. O Realismo Maravilhoso de Siron Franco: Uma arte crítica à mentalidade dominadora na
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Um dado interessante é que a ditadura brasileira parece não ter se importado com o teor crítico das
obras nas artes plásticas. .Na realidade, grande foi a quantidade de obras produzidas no período que
criticavam liricamente o regime. Provavelmente os censores não estavam preparados para ler imagens
quando compareciam em exposições. Como exemplo, temos as cenas brasileiras de João Câmara, que
retratavam o país de outra época, mas que, efetivamente, eram retratos da realidade política
contemporânea.
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Formado por Hudinilson Junior, Rafael França e Mario Ramiro.
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Referências:
AMARO, Aurézia. A arte para romper cercas. O Popular. Goiânia, 14 set 1989.
BORER, Alain. Joseph Beuys. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
DOCTORS, Márcio. Siron Franco. Filho do Absurdo. Catálogo Galeria Montesanti. São
Paulo, 1987, Revista Galeria, nº 14, São Paulo, 1989.
GOFFMAN, Ken; JOY, Dan. trad. Alexandre Martins. Contracultura Através dos
Tempos: Do mito de prometeu à Cultura Digital. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
GULLAR, Ferreira. A Pintura vida de Siron Franco; in ADES, Dawn. Siron Franco:
Figuras e Semelhanças, Pinturas-1968-1995. Rio de Janeiro: Editora Index, 1995.
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LOGULLO, Eduardo. Siron, o franco atirador. Revista Interview AD. São Paulo, 1988.
n.107.
MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
MORAIS, Karla Jaime. Um símbolo nada augusto. O Popular. Goiânia, 12 out 1990. O
Popular 2, p.1.
Sites:
Currículo
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