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15 de Setembro de 2016
Constitucionalismo, direito constitucional e Constituigao
A inalidade deste ensaio nao esgotar o tema que Ihe da nome, sendo
abordar, sucintamente, alguns dos aspectos elementos imprescindiveis
compreensao do constitucionalismo, do direito constitucional e da
constituigao. Com essa ressalva, espera-se que o texto seja util, pelo menos,
como roteiro basico, que sirva como diagrama de uma curta “visita guiada”
aos controvertidos escaninhos do direito constitucional.
1. Constitucionalismo
Em sentido lato, o constitucionalismo surge a partir do momento em que
grupos sociais, racionalmente ou nao, passam a contar com mecanismos de
limitagdo do exercicio do poder politico. Nessa acepcao ampla, configura-se
independentemente da existéncia de normas escritas ou de
desenvolvimento teérico.
De outro lado, a nogdo de constitucionalismo esta fortemente atrelada ao
proprio desenvolvimento histérico dos intimeros conceitos de constituigio.
Por ora, basta fixar que, considerando exatamente o nivel de racionalidade
e de estruturagio teérica com que estabelecidos tais mecanismos de
limitago do poder politico, costuma-se dividir 0 constitucionalismo em
antigo e moderno.
1.1. Constitucionalismo antigo
O constitucionalismo antigo é definido como conjunto de prineipios
escritos ou costumeiros voltados a afirmagio de direitos a serem
confrontados perante o monarca, bem como a simultanea limitagao dospoderes deste].
Com base em LOEWENSTEIN, pode-se dizer que o constitucionalismo
antigo viveu fase embrionaria com a praxis politica teocratica do povo
hebreu[2]. Por acreditarem que todos, indistintamente, viviam sob
dominio de tinica autoridade divina, os hebreus estruturaram regime
politico baseado em leis sagradas que impunham - inclusive aos
governantes — a observancia de preceitos morais e religiosos como forma
de evitar a ira de Deus.
Numa segunda fase, destaca-se a experiéncia democratica da Grécia antiga,
especialmente nos séculos IV e V. Ainda que a civilizagao grega prestasse
inicialmente obediéncia ao thémistes — 0 direito divino ou 0 direito
transmitido pelos deuses a legitimos representantes humanos —, passou a
observar posteriormente o thesmés, que era direito ainda de grande
conotacio religiosa, mas imposto por agente humano investido de
autoridade superior. Apés, o thesmés foi paulatinamente substituido pelo
nomos, isto é, a lei formulada pelo legislador e aceita como vinculante pela
comunidade de cidadaos[3]. De outro lado, toda cidade-estado grega
(polis) podia ser abstratamente conceituada pela palavra politeia, cujo
significado exprimia a unidade e a identidade da propria polis, em conexaio
com a relagao de cidadania compartilhada pelos respectivos cidadaos
(politai). Assim, a partir do conceito de politeia, os gregos nao s6
descreviam as
acteristicas politicas e estruturais da cidade-estado, como
também racionalizavam o exercicio do poder estatal mediante
componentes normativos auténomos (nomoi)[4]. Nesse sentido, para
PLATAO e ARISTOTELES, a politeia foi espécie de constituigéo em sentido
material[5]. Ademais, o grau de desenvolvimento da democracia da cidade-
estado de Atenas notabilizou-se com a criagao do graphé paranomén,
mecanismo de legitimidade popular destinado ao controle de atos
normativos secundarios (pséfisma) em face do nomos[6]. Dai a raziio pela
qual DOGLIANI afirma que os gregos deixaram como importante legado a
explicacao do teor normativo das constituigdes, independentemente do
principio da autoridade, da tradigo ou das leis naturaiNessa segunda fase do constitucionalismo antigo, ressalte-se ainda o
periodo republicano do Império Romano. & que, até a ascensio de Jtilio
César ao cargo de ditador vitalicio, a organizagio estatal republicana de
Roma configurava sistema politico dotado de complicados dispositivos de
freios e contrapesos para dividir e limitar o poder politico[8]. Havia
controles intra-érj
s, como a estrutura colegiada das magistraturas
superiores, a estipulagdo de mandato anual para os cargos e a proibigdo de
reeleicdo imediata. Além disso, acoplavam-se eficientes controles
interérgaos, tal qual a participagdo do Senado na nomeagao dos
funciondrios piiblicos e a avancada previsao de governo para tempos de
crises, mediante a institucionalizagao da ditadura constitucional com
determinados fins e por perfodos limitados[9]-
J&a terceira fase do constitucionalismo antigo comeca na Idade Média,
mais exatamente com a aprovacao da Magna Charta da Inglaterra (1215).
Consolida-se no mesmo pais durante o século XVII, em decorréncia do
Petition of Rights (1628) e dos sistemas politicos implantados apés a
Revolucao Puritana (1648) e a Revolucao Gloriosa (1688), com grandes
repercussdes nas coldnias inglesas. Nao obstante outros documentos
significativos, como as Fundamental Orders of Connecticut (América do
Norte, 1639) e o Agreement of the People (Inglaterra, 1647), deve-se
também a esse periodo a primeiraconstituigaoo escrita: o Instrument of
Government[10], assinado por Oliver Cromwell em 1654, no breve periodo
republicano inglés[11).
1.2. Constitucionalismo moderno
Caracteriza-se o constitucionalismo moderno como conjunto de regras e
principios postos de modo consciente a partir das teorias e movimentos
ideoldgicos voltados a organizar o Estado segundo sistematica que
estabelecesse limitagdes ao poder politico, além de direitos e garantias
fundamentais em favor dos membros da comunidade. Teve inicio na
transicao da monarquia absolutista para o Estado liberal, j4 no final do
século XVIII. E dessa fase, ademais, o esforco em documentar as
constituigdes sob formas solenes, dai surgindo a tendéncia de
“universalizagéo da constituigéo escrita”[12] desde as primeiras
constituigdes do periodo (Constituigdes norte-americana de 1787 e francesade 1789) até os dias atua
is. LOCKE, MONTESQUIEU e ROUSSEAU sao
apontados como os principais precursores do constitucionalismo moderno,
exatamente porque nas idéias contratualistas por eles difundidas se
encontravam teorias sobre o Estado com base na vontade popular, de
forma dissociada das explicagées teolégicas que até entdo serviam de
fundamentos a titularidade do poder estatal.
‘Todavia, o constitucionalismo moderno nao é movimento que se resuma a
territérios ou tempo determinados. Esta presente em todas intervencgdes
voltadas a novas formas de ordenagio e sistematizagao do Estado e do
poder politico. Com isso, sofre influéncias das ideologias e pensamentos
reinantes em cada periodo histérico e contexto social. Esse o motivo para
se afirmar tanto que o constitucionalismo é “técnica juridica” de limitagao
do poder que varia de acordo com a época e a tradigdo de cada pafs[13],
como para se sustentar a existéncia de miltiplos movimentos
constitucionalistas, especialmente o constitucionalismo inglés, o norte-
americano e o francés[14].
1.2.1, Principais movimentos
Com referéncia a apenas trés dos principais movimentos
constitucionalistas modernos, deve-se ao constitucionalismo inglés
modo todo especifico de garantir direitos e liberdades, bem como de
estabelecer limites ao poder, sem que fosse necessario “criar” uma lei
fundamental[15]. Como ensina CANOTILHO, os ingleses repelem a idéia
de um poder constituinte com forca e competéncia para, por si proprio,
desenhar e planificar o modelo politico de um povo. Preferiram “revelar” a
normaconstitucional mediante, principalmente, a confirmagao da
existéncia de direitos e liberdades embasados em normas costumeiras, sem.
embargo de pequeno mimero de leis escritas[16], Nesse sentido, para
GALINDO, o mais importante dos principios constitucionais britanicos é a
idéia da soberania ou supremacia do parlamento[17]. Segundo SANTI
ROMANO, 0 constitucionalismo inglés deixou como contribuigdes de
maior relevancia os institutos da monarquia constitucional, do parlamento
bicameral, da representacdo politica por membros geralmente designadospor eleicao popular, do governo de gabinete e sua responsabilidade perante
o parlamento, bem como as liberdades piiblicas e as garantias
constitucionais[18].
Em outra linha, ainda conforme CANOTILHO, o constitucionalismo
norte-americano assenta-se na tese de que o povo é o poder constituinte
—reparar a famosa formula “Nos, 0 povo...” contida no preambulo da
Constituig&o de 1787 —, mas o texto constitucional nao é concebido como
projeto de futuro, senao como diploma no qual se tragam as regras do jogo
politico, nele se registrando normas que garantem direitos e limitam 0
poder estatal. A Constituicdo norte-americana 6 documento feito para
“dizer” a norma[i9].
Jo constitucionalismo francés tipificou-se pela grande preocupacdo
em superar a monarquia absolutista. O poder constituinte assume entdo a
tarefa de “criar” a norma que estabelece nova ordem politica e social para 0
futuro, mas que simultaneamente promove a ruptura total com o antigo
regime[20].
Contudo, tanto o constitucionalismo norte-americano quanto o francés se
influenciaram reciprocamente. Teorias contratualistas francesas eram
muito difundidas nos Estados Unidos e as cartas norte-americanas foram a
principal fonte imediata do constitucionalismo da Franca[21]. Por isso,
podem-se destacar, conjuntamente, os seguintes legados dos
constitucionalismos norte-americano e francés: (a) o desenvolvimento dos
principios ingleses relativos aos direitos individuais e 4 diviséo dos
poderes, (b) a formulagio do principio da “soberania nacional” e (c) a
proclamacao do principio da isonomia em referéncia a estruturas sociais
modificadas pela divisdo dos agrupamentos humanos em categorias e
classes ocupantes de posicées juridicas diversas entre si[22].
1.2.2. Constitucionalismo “contemporaneo” e
neoconstitucionalismoAtualmente, a despeito dos variados movimentos constitucionalistas
nacionais, defende-se a existéncia de constitucionalismo global ou
globalizado, cuja pretensao é unificar e consagrar juridicamente os ideais
humanos conforme os seguintes objetivos: (a) o fortalecimento do sistema
juridico-politico internacional embasado nao somente nas relagdes
horizontais entre Estados nacionai
s, mas também nas relagdes
Estado/povo; (b) a primazia, em face do direito nacional, do direito
internacional fundado em valores e normas universais; ¢ (c) a elevagao da
dignidade da pessoa humana a pressuposto nio-limitavel de todos os
constitucionalismos[zg]. E de fato, parece ser mesmo necessdria uma nova
modalidade de constitucionalismo supranacional a contrapartida viével
para elidir a impoténcia dos Estados nacionais frente as relagdes
assimétricas de poder e aos demais efeitos nocivos da “globalizagao”.
Ademais, ha quem se refira, pejorativamente, a um
neoconstitucionalismo, corrente de pensamento assim apelidada por
defender o enfraquecimento da supremacia constitucional em favor da
atenuacao do excesso de rigidez e do carater voluntarista das constituigées
contemporaneas[24].
Direito constitucional
Nao cabe neste estudo definir o que seja direito, tampouco se existe
somente uma forma de direito (universalismo juridico) ou mesmo varias
modalidades delas (pluralismo juridico)[25]. Esse tormentoso assunto
compete especialmente a filosofia do direito. Cumpre apenas dizer que o
direito constitucional pertence ao direito estatal, ou seja, aquele tipo de
direito alusivo ao ordenamento obtido a partir do exercicio do poder
politico concernente a cada Estado soberano[26].
De qualquer forma, o direito pode ser concebido como sistema dotado de
ordem e unidade racionalmente obteniveis[27]. Por isso, subordina-se a
diretrizes juridic:
s, principios ou pautas gerais de valoragiio que
coordenam a reciproca conexao das normas que o compoem[28]. E porfazer exatamente esse papel de conexo e coordenacdo, ocupa o direito
constitucional o lugar hegeménico na ciéncia do direito antes reservado
ao direito civil[29].
Nesse sentido, o direito constitucional é 0 “ramo do direito publico que
expe, interpreta e sistematiza os principios e normas fundamentais do
Estado.”[30] Todavia, tal definicdo mostra-se ainda insuficiente. Com
freqiiéncia, constituigdes escritas positivam normas que nao correspondem
as preocupacées centrais do direito constitucional. S6 que nao hA critérios
seguros para distinguir qual seja verdadeiramente a matéria do direito
constitucional e tampouco se pode autorizar o estudioso do direito
constitucional a desqualificar a natureza constitucional do que foi
“constitucionalizado” por quem elaborou a constituicéio[31]. Entao, 0
objeto do direito constitucional deve ser particularmente ampliado para
incluir também es:
normas, porquanto nao ha como fugir da tarefa de
investigar e compreender tudo aquilo que é considerado
constitucionalmente vinculante, sob pena de quebrar a unidade da
constituicao. Dai se conclui que o direito constitucional é a disciplina
juridica que estuda e sistematiza todas as normas constitucionais,
independentemente do contetido delas, embora a preocupacao central dos
constitucionalistas seja mesmo a analise das normas referentes 4
conformagio politica e estrutural do Estado, bem como os direitos
fundamentais das pessoas sujeitas a soberania do ente estatal.
De outro lado, como as normas constitucionais podem tratar de assuntos
ligados a diversos ramos do direito, 6 comum defender-se segmentacao
disciplinar a partir dos pontos de intersegao entre o direito constitucional e
as outras disciplinas a que pertencem propriamente determinados
principios e regras constitucionalizados. Nesse sentido, v. G., fala-se num
“direito constitucional processual” formado pelo conjunto das normas
constitucionais relativas ao direito processual[32]. Porém, parece
inadmissivel a criagdo de novos ramos disciplinares baseados apenas no
revestimento formal-constitucional das normas que esses novos ramos se
propéem a analisar, salvo se a esséncia juridica do conjunto delas for
diferente da das demais normas que os componham. Caso contrario,
proliferariam tentativas de criar sem-ntimero de novos segmentos
disciplinares, 4 proporgdo das disciplinas juridicas que tivessem alguminstituto inserido no texto da constituig&o, a ponto de quase esvaziar 0
proprio direito constitucional, que s6 nao disputaria espago com um
pleonastico direito constitucional “constitucional”.[33] Obviamente, nada
disso infirma a existéncia de relagdes entre direito constitucional e outras
ciéncia:
4]. Apenas significa que a crescente incluso de temas
interdisciplinares nos textos constitucionais nao serve de fundamento para
que se criem novas disciplinas co-respectivas.
Por fim, como ensina SANTI ROMANO, adverte-se que “o direito
constitucional é 0 inicio, a primeira posigao do direito e, por isso, esté em
imediato contacto com o mundo metajuridico ou extrajuridico, do qual est
separado por limites freqiientemente nao determinados e muito
variaveis’[35].
Teoria da constituicao
Assentadas as linhas gerais do direito constitucional, cabe diferenciar duas
posigées metodolégicas pelo qual pode ser estudado[36]. Quando analisa
ordem constitucional individualizada no tempo e no espaco (0 atual regime
constitucional brasileiro, por exemplo), o direito constitucional atua sob
Angulo da doutrina do direito constitucional[37]. Porém, ao cuidar
dos conceitos abstratos das constituigdes em geral ou das peculiaridades de
cada uma delas[38], ou ainda quando procura discutir, descobrir ou
5 po
normativa, o direito constitucional é visto pela ptica da teoria da
criticar os limites,
ibilidades, os conceitos ou sua propria forga
constitui¢ao[39].
Essa dualidade, todavia, nao implica dizer que tais metodologias nao se
comuniquem. Pelo contrario. O estudo especifico de ordenamento juridico-
constitucional individualizado nao deve se afastar de referéncias teéricas,
da mesma forma que as teorias nao se podem dissociar das concretas
questées constitucionz
40], Trata-se de metodologias complementares
tendentes a resolver problemas do direito constitucional.
3-1. Constituicao e seus conceitosConstituigao é uma daquelas “palavras viajantes” cujos conceitos variam de acordo com o
momento histérico [41]. Tem origem remota no termo grego politeia [42], mas chegou ao
vernaculo a partir do latim constitutio. De sua vez, essa palavra latinasignifica tanto "aquilo que faz
ser uma coisa” quanto “o modo de ser, as caracteristicas da coisa (coisa dotada de ordem)” (43). E
se tal conceito paradoxal ja ilustra bem a velhice dos problemas enfrentados quando se pretende
conceituar “constituigao’, serve ainda, segundo DOGLIANI, para demonstrar a dificuldade de se
pensar a ordem normativa estatal separadamente das caracteristicas objetivas do préprio Estado
ou da maneira em que este pode ser descrito como realidade intrinsecamente ordenada [44].
3.1.1. Conceito histérico
O conceito histérico de constitui¢do refere-se ao conjunto das normas
(escritas ou consuetudinarias) e das estruturas institucionais que
conformam, num certo periodo, a ordem juridico-politica de determinado
sistema socialmente organizado[45]. Os institutos, conceitos e modelos
constitucionais variam de acordo seja com a época e 0 local, seja com tipo e
o nivel de desenvolvimento do constitucionalismo entao vigorante.
Nos primérdios do constitucionalismo moderno, num conceito de
constituigdo tipicamente liberal do século XVIII, dizia-se que uma
“sociedade em que nao est assegurada a garantia dos direitos nem
reconhecida a divisao dos poderes nao tem Constituigao.” (Art. 16 da
Declaragao dos Direitos do Homem e do Cidadao ~ 1789). Mas atualmente
j se reconhece que quaisquer organizagées sociais possuem constituigéo,
pois cada uma delas se apresenta estruturada, pelo menos, por certo
conjunto de prescrigées bascadas no costume ou na simples autoridade de
quem exerce 0 poder politico.
Todavia, as arcaicas formas de constituigao da fase anterior ao
constitucionalismo eram meramente descritivas da realidade estatal, sem
que se notasse nelas preocupacao consciente em fixar mecanismos
limitadores do poder politico ou em estabelecer direitos e garantias para os
membros da comunidade. Como disse SCHMITT, embora a qualquer
existéncia politica concreta corresponda alguma constituigéo, nem toda
entidade politica concreta decide conscientemente acerca dessa forma de
existéncia politica, nem adota, mediante determinacao propria e
consciente, a deciséo sobre seu modo concreto de ser[46].Nesse rumo, é somente com o desenvolvimento do constitucionalismo
moderno que surge a chamada constituigdo moderna, cujo conceito
consiste “na ordenagio sistematica e racional da comunidade politica
através de documento escrito no qual se declaram a liberdades e os direitos
fundamentais e se fixam os limites do poder politico”[47].
3.1.2. Conceitos em perspectiva eminentemente sociolégica,
politica e juridica
Para
entender o que seja constituigdo, é importante estudar trés
classicos conceitos formulados a partir de perspectivas diversas acerca do
mesmo problema.
3.1.2.1. Conceito sociolégico
Deve-se a LASSALLE a classica conceituagao da constituigado num sentido
tipicamente sociolégico[48]. Em conferéncia de 1863, ele qualificou a
constitui¢do como “a soma dos fatores reais de poder que regem uma
nacéio”[49]. A constituigao é simples documento com o qual os “fatores
reais do poder” se impéem diante de determinada comunidade. A
constituicao juridica apenas incorpora em documento escrito os fatores
reais do poder, sem a concorréncia dos quais a constituigéo nao passaria de
uma “folha de papel”. Esses fatores reais do poder é que sdo a esséncia da
“constituicdo real” de um pais. Por isso, a verdadeira constituicdo baseia-se
nos fatores reais ¢ efetivos do poder. As constituigdes escritas sé tém valor
e durabilidade se exprimirem fielmente correspondéncia com esses fatores
reais de poder[50]
3.1.2.2. Conceito politico
Numa perspectiva eminentemente politica, SCHMITT teorizou a
constituigao como a sintese da “decisio politica fundamental” [51]. £ dessa
decisdo que emana a unidade politica concreta representada pelo Estado e
sua respectiva constituigao. Toda normatividade reside numa decisao
politica do titular do poder constituinte. A constituigao é valida quando
emana de um poder (isto 6, forga ou autoridade) constituinte e seestabelece por vontade dele[52]. Todavia, constituigao nao se confunde
com leis constitucionais. A constituigao em si contém somente a
determinaciio consciente da concreta forma de conjunto pela qual se
pronuncia ou se decide a unidade politica do Estado. Assim, a constituigao
nao vale em virtude de sua justica normativa ou de sua hermética
sistematica, sendo por decorréncia da vontade politica existencial daquele
que a concebe[53]. Ja a validade das leis constitucionais toma por base essa
constituicdo originada da decisao politica fundamental. Para que sejam
consideradas validas, as leis constitucionais necessitam, em ultima
instancia, da conformidade para com a decisao politica prévia e adotada
por um poder ou autoridade politicamente existente[54].
3.1.2.3. Conceito juridico
O conceito juridico de constituigao reconduz ao positivismo de KELSEN e
s respectivas explicagdes acerca do ordenamento juridico. Nessa
perspectiva, a ordem juridica nao é sistema de normas ordenadas no
mesmo plano, umas ao lado das outras, mas construgao escalonada de
diferente:
Hi relagio hierarquica de fundamentacao
camadas e niveis[55].
e derivagdo das normas juridicas. Norma juridica s6 é valida se encontrar
fundamento em norma superior que regule seu respectivo processo de
producao. A constituicgao, portanto — e sem embargo do problema da
norma fundamental “pressuposta” —, ocupa o nivel mais alto no ambito
normativo estatal[56]. E, nesse Ambito, é ela que regula a produgio das
normas juridicas estatais, servindo assim de parametro superior da
validade das demais normas de determinado ordenamento juridico. Ainda
para KELSEN, no sentido material, a constituigéo consiste nas regras que
regulam a produgiio das demais normas juridicas[57]. No entanto, existem
ainda outros tipos de normas que se incluem no conceito de constituicao:
no sentido formal, constituigao é o conjunto de normas contidas em
documento escrito cuja alteracdo é dificultada mediante a previsao de
prescricdes especiais[58].
3.1.3. Constitui¢do e norma fundamentalA discus
embora pertenca a filosofia juridica, é essencial para entender o papel da
(0 sobre seja a norma fundamental do ordenamento juridico,
constitui¢ao na ciéncia do direito. Por isso, sera aqui tratada brevemente,
apenas para demonstrar que a maneira com a qual se encara o problema da
norma fundamental altera as conclusdes de varias teorias de direito
constitucional.
A idéia de uma norma fundamental que concede unidade ao ordenamento
juridico nao é nova, ainda que nao costumasse ser conscientemente
estruturada. TOMAS DE AQUINO, por exemplo, ao defender a primazia do
direito natural em face do direito positivo, negava autenticidade as leis
humanas que nao se baseassem em leis da natureza, isto é, naquelas
emanadas direta ou indiretamente de Deus[59]. Também na linha
jusnaturalista, KANT formulou esbogo de norma fundamental conforme o
qual as leis positivas seriam precedidas de lei natural que estabelecia a
autoridade do legislador[60].
Mesmo dos conceitos sociolégico e politico acima expostos, extrai-se a
concessao de nicleo fundamental na estrutura dos ordenamentos estatais.
Nesse rumo, para LASSALLE, a constituicdo é a lei fundamental de uma
nagao, pois consiste na “forga ativa” que faz com que todas as outras leis ¢
instituigdes juridicas vigentes no pafs “sejam o que realmente sao” [61]. A
partir do instante da promulgacdo da constituig&o, néo se podem decretar
outras leis contrarias a lei fundamental[62]. Contudo, nao deixam de ser os
“fatores reais do poder” a “forca ativa” a determinar que essas outras leis e
instituicdes vigentes nao possam ser diferentes do que so na
realidade[63]. Ou seja, o carater fundamental da constituicao real nao
decorre do valor dela mesma, mas de sua correspondéncia aos fatores reais
do poder. Conforme SCHMITT, o aspecto fundamental da constituigao
radica na vontade politica do poder constituinte. A unidade e ordenacéo do
sistema juridico nao provém das prescricées particulares contidas nas leis
constitucionais, senao na prépria existéncia politica do Estado[64]. A
validade das leis constitucionais pressupée, em iltima instancia, decisao
politica prévia adotada por poder ou autoridade politicamente
existente[65]. Todas prescrigées contidas nas leis constitucionais saorelativas, pois dependem das circunstancias e contingéncias politicas. Daf,
o fundamental, o que realmente pode ser chamado de constituigao, 6a
decisao politica do titular do poder constituinte[66].
Mas é com KELSEN, no entanto, que o debate sobre a lei fundamental foi
profundamente modificado. Para ele, ndo é somente por ser eficaz que uma
norma pode ser considerada valida. O fundamento de validade da norma
radica necessariamente noutra norma superior, e nao num fato. Assim,
para evitar a regressao infinita em busca da norma que primeiramente
autorizou a produgdo das demais, surge a necessidade de “pressupor” a
existéncia de uma norma fundamental cuja validade nao pode ser mais
questionada. Como explica KELSEN, essa norma fundamental “é
pressuposta como valida porque sem essa pressuposicao nenhum ato
humano poderia ser interpretado como um ato juridico e, especialmente,
como um ato criador de Direito.”[67] A fungao da norma fundamental
pressuposta, entdo, é permitir a interpretacdo normativa de certos fatos
como criadores de normas validas, para dai servir como indice ultimo da
validade de todas as normas do ordenamento juridico. Obtém-se a unidade
do ordenamento como produto da conexdo de dependéncia das normas em
relagdo as que as apdiam, e assim por diante, até se chegar 4 norma
fundamental pressuposta. Trata-se de ficcdo positivista[68] concebida para
sistematizar o ordenamento juridico a partir de bases que nao reconduzam
a fatores estranhos a ele proprio.
3.1.3.1. Criticas 4 idéia kelseniana da norma fundamental
pressuposta
Partindo tanto das escolas positivistas quanto das nao-positivistas, siio
inéimeras as criticas feitas norma fundamental kelseniana. HART, por
exemplo, adepto do positivismo analitico, embora também concordasse
com a visio escalonada do ordenamento juridico, entendeu que a norma
fundamental kelseniana era dispensavel, pois suficiente que a constituigiio
fosse reconhecida e aceita como tal pelos integrantes do sistema juridico.
[69] As relagdes de validade entre as normas do ordenamento juridico
estabelecer-se-iam por meio de “regra de reconhecimento” que apenas
existe como realidade de fato e cuja validade nao se discute.[70] Aexisténcia da “regra de reconhecimento”, de sua vez, seria extraida do
consenso judicial, isto 6, da maneira como os integrantes do sistema
juridico a identificam como direito valido.
No Brasil, FERRAZ JR.[71] formula tese segundo a qual o ordenamento
juridico no se vincula somente a um tipo de hierarquia, razdo por que nao
se pode falar numa tinica norma fundamental. As séries de subordinagéo
normativa tampouco sao infinitas, pois o liame de subordinagao entre as
normas nao é causal, porquanto nao implica relagées lineares que se
prolongam indefinidamente, mas de imputagio. Isso faz com que, em
determinado momento, ponha-se fim a cadeia causal de subordinagao
normativa mediante a imputacao definitiva de competéncia a uma norma
superior. Assim, nao ha como avaliar a validade da norma-origem do
ordenamento, pois sua caracteristica normativa provém de atributo
diverso. Deve-se nao a validade obtida de norma superior, mas da
imperatividade decorrente de situagao de fato institucionalizada conforme
“regras de calibragem” do sistema. Dessarte, o fendmeno da substituicéo de
uma constituicgao por outra é explicado da seguinte forma: a “regra de
calibracdo” até ento vigente, ou seja, o padrao-legalidade conforme a
antiga constitui¢do, foi alternada para o padrao-efetividade resultante do
carter imperativo da nova constituicdo. Mas pode ainda ocorrer que a
mudanca constitucional seja tao traumdtica a ponto de mudar as proprias
regras de calibracao do sistema.
‘A grande questo em todas essas criticas 4 tese kelseniana esta em elucidar
se os motivos “por que se deve obedecer” determinado nticleo normativo
podem ser extraidos de enunciados faticos (do mundo do “ser”). Ao refutar
que o fundamento de validade de uma norma pudesse radicar num fato,
KELSEN ressuscitou o famoso “Problema do Ser/Dever-Ser” (Is-Ought
Problem), discutido inicialmente por HUME.[72] Nesse sentido, é mesmo
bastante questionavel defender que se possam extrair proposiges
normativas (mundo do “dever-ser”) a partir de circunstancias faticas, i. E.,
do mundo do “ser” (tais como a existéncia, imperatividade, forga ou
efetividade da constitui¢o), muito embora enunciados empiricos possam
constituir boas razées para se estabelecer enunciados normativos. Por isso,
inclusive juristas nao-positivistas, como ALEXY, [73] concordam com atese de HUME. Daj, ainda hoje, mostra-se defensavel a teoria de KELSEN
acerca da norma fundamental pressuposta, a despeito das muitas opinides
em contrario.
Assim, afigura-se insatisfatério apontar “regras de calibragdo” para
explicar a normatividade da chamada “norma-origem” do sistema juridico,
enquanto nao se explique por que se deve obediéncia a essas regras. $6 que
tal explicacao reconduz ao mesmo problema da regressio infinita que
KELSEN desejou finalizar ao conceber a norma fundamental pressuposta.
Tampouco “regras de reconhecimento” parecem solucionar esse problema.
Nao bastasse HART haver expressamente assumido a natureza fatica das
regras de reconhecimento, [74] a circunstancia de os participantes do
sistema aceitarem como valida determinadaconstituigdoo jé significa que a
pressupdem como juridicamente vinculante.[75] E essa pressuposicaio
equivale a um tipo semelhante 4 norma fundamental pressuposta de
KELSEN[76].
Por isso tudo, do ponto de vista interno do direito, enquanto nao
superado o “Problema do Ser/Dever-Ser”, nenhuma critica parece abalar o
cerne da norma fundamental kelseniana. Como afirma BOBBIO, a norma
fundamental pressuposta é mesmo necessiria para conferir unidade ao
ordenamento juridico. Ela exerce a fungio similar a dos postulados num
sistema cientifico. Se os postulados sao convengdes ou proposicées
primitivas das quais se deduzem outras, mas que nao podem ser obtidas
por dedugao, a norma fundamental é convengio posta no vértice do
sistema para que a ela se possam reconduzir todas as demais normas[77].
Enfim, numa perspectiva exclusivamente juridica, no importa se a
constitui¢do foi concebida por ato de vontade, para corresponder as
aspiragdes do povo ou para servir de instrumento de opressio popular[78].
O importante é que a dogmatica juridica deve pressupor, por motivos
estranhos ao direito, que a constituigdo deve ser obedecida porque foi
editada por poder superior que autorizou sua elaboragao por parte do
poder constituinte.J&a questo dos “fundamentos” da norma fundamental, ou seja, a razio
pela qual a norma fundamental deve ser obedecida, sé se resolve quando se
procuram solugées “de fora para dentro” do sistema juridico
positivado[79]. Como afirmou LARENZ, o “jurista nao pode, com métodos
juridicos, levar a sua indagagao para além da validade normativa da
Constituigao.”[80] Se o fundamento da norma fundamental nao constitui
problema juridico, uma vez que o sistema dela necessita como postulado de
trabalho[81], ent&o sao idéias externas ao direito positivo que parecem
melhor esclarecer o porqué da obrigatoriedade das leis constitucionais.
Nesse rumo, teses como a “vontade divina”, o “direito natural”, o “contrato
social”, os “fatores reais do poder” ou a “decisao politica fundamental”
podem em principio ser utilizadas como justificativa 4 necessidade de se
obedecer ao comando do poder constituinte originario. Mas aqui o
importante nao é elucidar qual dessas teorias é a mais correta, sendo
alertar que sob cada uma delas existem ideologias proprias a demarcar
posicées distintas acerca de como se deve justificar e encarar o fendmeno
constituicao. Tal como conclamou HUME, [82] é preciso que os tedricos
tenham o cuidado de explicar a relacao de valor a permitir que de um fato,
i. E., a circunstancia de haver sido aprovada umaconstituigoo, se possa
deduzir a correspondente criacdo de um conjunto de enunciados
normativos obrigatérios.
idéias acerca do
De outro lado, num grande esforco reducionista, as variz
assunto podem ser enquadradas num dos segmentos da dicotomia
positivismo vs. nfio-positivismo.
Para ilustrar, analise-se a seguinte opinido de BOBBIO: se o ordenamento
juridico, tomado como um todo, s6 existe se for eficaz, o que ha por trés da
norma fundamental € o poder coercitivo, pois qualquer ordem juridica
deve impor-se pela forga, sob pena de nao ser assim considerada[83].
Segundo essa visio, como 0 proprio BOBBIO admite, o direito 6 apartado
da justica[8.4]. Para BOBBIO, a definicdo de direito nao coincide com ada
justiga, pois 0 direito é a expressio dos mais fortes, e nao a dos mais
justos[85].Concepgies desse tipo ent
ixam-se na visdo juridica positivista,
exatamente por defender a desvinculac&o do direito em face da justica, ou
seja, de principios morais reconhecidamente aceitos como justos.
De outro lado, como demonstra ALEXY, é possivel depositarem-se
elementos morais no conceito da norma fundamental pressuposta, a ponto
de até mesmo teorias nao-positivistas nela encontrarem apoio para suas
conclusées[86]. Nesse sentido, partindo da perspectiva de que o direito néo
pode distanciar-se da justica, o fato de se aceitar uma norma fundamental
pressuposta nao significa, necessariamente, incorporar também o cardter
esvaziado de contetido material que lhe atribuem KELSEN e positivistas
como BOBBIO.
Enfim, voltando ao campo eminentemente do direito constitucional, as
consideracées filoséficas acima servem para segmentar as conclusées
acerca de problemas que afligem os constitucionalistas. Ao contrario dos
que aceitam a incorporagao de valores morais no conceito da norma
fundamental pressuposta (norma fundamental nao-positivista), aqueles a
sustentar a visdo positivista do direito ndo podem coerentemente defender
que o poder constituinte esteja limitado a ideais morais superiores, o que
afasta a tese da proibicao de retrocesso em matéria de constitucionalizagao
de direitos fundamentais, v. G., ou mesmo que se reputem invalidas
normas que contrariem padrées de justica situados acima da constituigao.
3.1.4. Constituicao ideal
Nao ha formula ideal de constituigao. Cada ideologia defende sua prépria
constituicao ideal. Para ilustrar, na linguagem do liberalismo burgués, s6
existe constituicdo se garantida a propriedade privada ¢ a liberdade,
enquanto para o marxismo essa mesma idealizada constituicao liberal nao
passa de constituigao de Estados economicamente atrasados ou de uma
pesudo-constituic&o reaciondria[87]. Enfim, todo Estado tem sua propria
realidade e ideologia dominante, nao havendo como se estabelecerem
arquétipos constitucionais definitivos. Todavia, a partir das ideologias
prevalecentes em cada periodo, é possivel constatar qual seja o conceitomais adotado de constitui
. Surge dai pauta de requisitos minimos
considerados como necessarios para se configurar uma constituigo
idealizada segundo as idéias ora dominantes.
Nesses termos, atualmente predomina a idéia segundo a qual constitui
deve consistir em documento escrito que contenha o conjunto de normas a
conformar a estrutura fundamental do Estado, regulando os mecanismos
de legitima aquisicao de poder e distribuigao de competéncias, além de
estabelecer os direitos e garantias das pessoas sujeitas 4 soberania dessa
mesma ordem estatal.
* Texto especialmente escrito para o blog do professor no sitio
do Atualidades do Direito.
1] DOGLIANI, Mario. Introduzione al diritto costituzionale. Bologna: Il
Mulino, 1994, p. 152-3. No mesmo sentido, CANOTILHO, José Joaquim
Gomes. Direito constitucional e teoria da constituigao. 3. Ed. Coimbra:
Almedina, 1998, p. 48.
[2] LOEWENSTEIN, Karl. Teoria de la constituci6n. 2. Ed. Trad. Alfredo
Gallego Anabitarte. Barcelona: Ariel, 1976, p. 154.
[3] DOGLIANI, op. Cit., p. 44.
[4] Sobre o assunto, cf. DOGLI
ANI, op. Cit., p.33-72.
[5] LOEWENSTEIN, op. Cit., p. 152.
[6] No direito ateniense, dever-se-ia privilegiar 0 nomos - o direito formal -
ante o pséfisma - espécie de decreto -, como informa CAPPELLETTI,
Mauro. O controle de constitucionalidade das leis no direito comparado.
2. Ed. Trad. Aroldo Plinio Gongalves. Reviséo José Carlos Barbosa Moreira.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1992, p. 48 e segs. Sobre o instituto
grego do graphé paranomén, pelo qual se possibilitava aos cidadaoss ra promincia retroativa da invalidade de ato que
contrariasse leis consideradas de origem divina, cf., mais, POLETTI, op.
Cit., p. 10-11.
[z] DOGLIANT, op. Cit., p. 72.
[8] LOEWENSTEIN, op. Cit, p. 156.
[9] bidem, p. 156-157. O proprio significado da expresso latina rem
publicam constituere, segundo DOGLIANI, indica que os romanos
consideravam a res ptiblica como fruto de intencional atividade humana
ordenadora, dissociada do principio da tradicio, até porque era precedida
por verbo que significava um “fazer” (op. Cit., p. 108).
Uo] Nesse sentido, cf. SCHMITT, Carl. Teoria de la constitucién. Trad.
Francisco Ayala. 1. Ed. 2. Reimp. Madrid: Alianza Universidad Textos,
1996, p. 61; LOEWENSTEIN, op. Cit., p. 158; CANOTILHO, José Joaquim
Gomes. Direito constitucional. 6. Ed. Coimbr
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. Sao Paulo:
Saraiva, 2002, p. 11.
: Almedina, 1993, p. 62;
[11] Jé para GALINDO ~ que identifica no Bill of Rights (1628) a
primeiraconstituigdoo inglesa do ponto de vista formal -, o Instrument of
Government nao passou de “efémera carta constitucional”, pois tinha
poucos caracteres das constituigdes modernas, ja que nao possuia catalogo
de direitos, nem separagio de poderes, embora estabelecesse “uma
superioridade hierarquica em rela
aos atos regulares do Parlamento ea
organizacdo institucional da Repiiblica Inglesa.” (GALINDO, Bruno. A
teoria da constituigéo no common law: reflexées tedricas sobre o peculiar
constitucionalismo britanico. Revista de Informacdo Legislativa, Brasilia,
n, 164, out./dez. 2004, p. 307.)
[12] LOEWENSTEIN, op. Cit., p. 159-160.
Cf. Verbete CONSTITUCIONALISMO. In: MATTEUCCI, Nicola; BOBBIO, Norberto; PASQUINO,
Gianfranco. Diciondrio de politica, Trad. Carmem C. Varriale et al; coord. Trad. Joo Ferreira; rev.
Geral Joao Ferreira e Luis Gerreiro Pinto Cocais. 12. Ed. Brasilia: UnB, 1999. V. 1, p. 247-248.Cf. CANOTILHO, Direito constitucional e teoria.... p. 47
[15] Curiosamente, apés claborarem o primeiro exemplo de constituigao
escrita (o Instrument of Government, de 1654), os ingleses passaram a se
contentaram com disciplina constitucional feita por leis sem status
diferenciado, tradic&o essa que ainda se mantém viva, embora sé
compartilhada com os neozelandeses. Cf, LOEWENSTEIN, ibidem, p. 159.
[16] Direito constitucional e teoria..., p 65. Para GALINDO, fazem
atualmente parte desse conjunto de leis escritas, entre outras menos
importantes, a Magna Charta Libertatum (1215), 0 Petition of Rights
(1628), os Habeas Corpus Acts (1679 e 1816), 0 Bill of Rights (1689), 0 Act
of Settlement (1701), os Judicature Acts (1873-1875), os Acts of Parliament
(1911 e 1949), 0 Statute of Westminster (1931), o European Communities
Act (1972) e o Human Rights Act (1998). Cf. GALINDO, A teoria da
constituigao no common law..., p. 309-
[17] Ibidem, p. 311. Ainda para GALINDO, embasado em DICEY, além da
soberania o Parlamento, a compreensio do direito constitucional do Reino
Unido radica na distingdo entre “direito da constituigao” (law of the
constitucion) e “convengoes constitucionais” (constitucional conventions).
Para o autor, o direito da constituicdo representa aquelas regras que se
podem intitular “juridicas em sentido estrito”, nesse sentido entendidas as
que se estabelecem pela forca que tem a jurisprudéncia no direito
britanico, seja as consolidadas pelas cortes judiciais a partir do direito
legislado (statue law), seja a partir do direito jurisprudencial (common
law). Jé as convengdes constitucionais formam 0 conjunto de
“entendimentos, habitos ou praticas que, embora nao consolidadas pelas
cortes judiciais, regulam a conduta de muitos membros do poder soberano,
tais como ministros e os proprios parlamentares, entre outros.” (Ibidem, p.
309-310.).
[18] Op. Cit., p. 52-53.
[19] CANOTILHO, Direito constitucional e teori
[20] CANOTILHO, ibidem, p. 67.[21] ROMANO, op. Cit., p. 52.
[22] Ibidem, p. 53-54.
CE TAVARES, op. Cit,, p. 15; e CANOTILHO, Direito constitucional e teoria... p. 1.276-8.
Cf. BRITTO, Carlos Ayres. Teoria da constituicdo. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 7-8.
[25] Sobre esse controvertido assunto da multiplicidade ou nao das formas
de direito, sabe-se que 0 positivismo sé reconhece o direito em sua forma
positivada pela vontade soberana dos Estados (direito estatal e direito
internacional). Ao revés, correntes doutrindrias baseadas principalmente
na sociologia juridica identificam varias outras espécies de direito, a
depender de consideracées acerca dos diferentes espacos estruturais e das
igualmente diferentes formas de poder dai obtidas. Nesse ultimo sentido,
sustenta SANTOS existir enorme variedade de ordens juridicas circulando
na sociedade, das quais seis so particularmente importantes: 0 espago
doméstico e a forma de poder patriarcal geram o direito doméstico; o
espaco da produgdo e a exploracao e a natureza capitalista como formas de
poder, o direito de producao; o espaco de mercado ¢ 0 fetichismo das
mercadorias como forma de poder, o direito da troca; o espaco da
comunidade e a diferenciacao desigual como forma de poder, o direito da
comunidade; 0 espaco da cidadania ¢ a dominagao como forma de poder,
o direito estatal (territorial); e o espago mundial e a troca desigual como
forma de poder, 0 direito sistémico. Cf. SANTOS, Boaventura de Sousa.
Para um novo senso comum: a ciéncia, 0 direito e a politica na transicéo
paradimitica. Sio Paulo: Cortez, 2000. V. 1. Critica da razao indolente:
contra o desperdicio da experiéncia, p. 290-303. De forma semelhante,
para BOBBIO, convivem tanto ordenamentos acima do Estado (como 0
ordenamento internacional ou, segundo algumas doutrinas, o da Igreja
Catélica), quanto abaixo dele (ordenamentos propriamente sociais
reconhecidos pelo Estado, que os limita ou os absorve); ha ainda
ordenamentos ao lado do Estado (como o da Igreja Catélica, segundo
outras concepcées, ou também o ordenamento internacional, conforme a
teoria “dualistica”) e contra o Estado (organizacées de malandros, seitassecretas ete.). Cf. BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento juridico. 10.
Ed. Trad. Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos. Brasilia: UnB, 1999, p.
164.
[26] & intencional a insergiio do adjetivo “estatal” para qualificar o termo
“direito”, pois mesmo constitucionalistas de renome, principalmente da
escola institucionalista, defendem o pluralismo juridico, ou seja, a
existéncia sobreposta de varios ordenamentos juridicos, muitos dos quais
até reconhecidos pelas constituigdes. Nesse rumo, segundo MARTINES, é
comum que as constituigdes reconhegam e permitam a existénc’
ordenamentos juridicos paralelos ao ordenamento estatal, tais como 0
ordenamento das associagées, de partidos politicos e de sindicatos.
(MARTINES, Temistocle. Diritto costituzionale. 13. Ed. Rev. Por Gaetano
Silvestri. Milano: Giuffré, 2000, p. 23-25.) Para o mesmo autor, esses
ordenamentos extra-estatais podem ser origindriosou derivados,
conforme encontrem ou nao titulo de validade no préprio direito estatal.
Podem ainda ser licitos ou ilicitos, de acordo com as proscricées
estabelecidas no direito estatal. Contudo, se forem ilicitos (ordenamento de
organizagao criminosa, v. G.), nado serio obviamente “juridicos”. (Ibidem,
p. 25.) Ha ainda quem sustente a possibilidade da convivéncia paralela de
miiltiplos ordenamentos juridicos de equivalentes hierarquias “superiores”.
Sobre o assunto, CANOTILHO apontou o direito internacional e o
direito comunitario como exemplos de ordenamentos juridicos
superiores que disputam paritariamente, com a Constitui
o portuguesa, a
“aplicagdio preferente de suas normas e principios” (Direito constitucional
e teoria..., p. 644-645). No Brasil, entretanto, tem prevalecido a tese da
inexisténcia de paridade de forca ou de superioridade do direito
internacional em face do direito estatal. Para o STF, direito proveniente de
tratados internacionais tem validade condicionada a observancia das
normas constitucionais, pois de hierarquia similar A de simples leis
ordinarias, bem como possui eficdcia dependente de prévio processo
legislativo de ratificagao.
Cf. CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemdtico e conceito de sistema na ciéncia do direito.
Trad. A. Menezes Cordeiro. 3, Ed. Lisboa: Fundacao Calouste Gulbekian. 2002, p. 14 e segs.
Segundo CANARIS, a ordem sistémica do direito provém da adstri¢ao dos agentes politicos
exigéncia de proceder com adequacdo (regra da adequacao valorativa), o que se deve fazer de
acordo com o reconhecido postulado de justica segundo o qual se deve tratar o igual de modo
igual, e o diferente de forma diferente, a medida da diferenca entre eles, J8 a unidade radica napreocupacao que em garantir a auséncia de contradigdes da ordem juridica, de forma a realizar a
chamada "tendéncia generalizadora” da justica.
[28] Nesse sentido, ef. LARENZ, Karl. Metodologia da ciéncia do direito.
3. Ed. Trad. José Lamego. Lisboa: Fundagdo Calouste Gulbenkian, 1997, p.
621.
[29] BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 5. Ed. Sao Paulo:
Malheiros, 1994, p. 21.
[30] SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 15.
Ed. Sao Paulo: Malheiros, 1998, p. 36.
[31] Ver CANOTILHO, Direito constitucional e teoria..., p. 1.065.
[32]MARQUES, José Frederico. Manual de processo civil. 4. Ed. Sio
Paulo: Saraiva, 1976. V. 1: Teoria geral do processo civil, p. 4. Nao
confundir, porém, “direito constitucional processual” com “direito
processual constitucional”, concebido como o “conjunto de preceitos a
regular o exercicio da jurisdigao constitucional” (MARQUES, ibidem, p.
67). E que o estudo apartado do direito processual constitucional se
justifica plenamente, em reforgo a idéia da tutela processual da
constitui¢do (jurisdicdo constitucional), o que nao se confunde como o
simples tratamento constitucional das normas processuais.
[33] Recorrendo novamente ao argumento ad absurdo, a vingar a tese da
distingao disciplinar baseada no status formal das normas estudadas,
haveria ensejo, p. Ex., 4 formaciio de um “direito constitucional
administrativo”, de um “direito constitucional tributario” ou de um “direito
constitucional previdenciario”, ao qual se seguiriam um “direito ‘legal’
administrativo”, um “direito ‘legal’ tributario” e um “direito ‘legal’
previdencidrio”, todos operando sob a justificativa de fazer estudo
diferenciado, respectivamente, das normas administrativas, tributarias e
previdencidrias contidas numa constituigdo, em relagdo aquelas previstas
na legislagao infraconstitucional, bem assim das normas administrativas,
tributarias e previdencidrias veiculadas por lei formal, em face daquelas
outras veiculadas por disposigdes regulamentares. No mesmo rumo,GUERRA FILHO afirma a irrelevancia da distingdo entre direito processual
constitucional ¢ direito constitucional processual. A razo estaria em que
apenas o primeiro deles pode ser considerado um novo ramo do direito
processual, enquanto “um Direito Constitucional Processual (ou Civil,
Penal etc.) sé se pode falar em sentido metaférico.” (GUERRA FILHO,
Willis Santiago. Processo constitucional e direitos fundamentais. 2. Ed.
Sao Paulo: Celso Bastos, 2001, p. 13, rodapé.)
[34] Nesse sentido, muitos manuais de direito constitucional ocupam-se
com as relagdes deste com o direito administrativo, o direito penal, 0
direito processual, do direito trabalhista, o direito internacional, o direito
privado, a ciéncia politica e a teoria geral do Estado. Por todos, ef.
BONAVIDES, op. Cit., p. 29 e segs.
[35] ROMANO, Santi. Princfpios de direito constitucional geral. Trad.
Maria Helena Diniz. Sao Paulo: RT, 1977, p. 30.
[36] CANOTILHO, Direito constitucional..., p. 132 € segs.
Cf. HESSE, Elementos.., p. 25.
[38] HESSE, idem.
[39] CANOTILHO, Direito constitucional..., especialmente p. 132 ¢ 153.
[40] Nesse sentido, TAVARES, Curso..., p. 18-19.
Cf, CANOTILHO, Direito constitucional.., p. 12-14.
[42] Segundo DOGLIANI, politeia comumente queria dizer algo como a
“condigao de cidadao”, a “vida cotidiana de cidadao”. Mas o sentido mais
profundo da palavra significava a propria “comunidade de cidadaos”, vale
dizer, “o ordenamento no qual eles viviam para alcancar determinado
objetivo”. Op. Cit., p. 24.
Cf, DOGLIANI, ibidem, p. 28.[44] Idem.
[45] Nesse sentido, CANOTILHO, Direito constitucional e teoria..., p. 49.
[46] SCHMITT, op. Cit., p. 47.
[47] CANOTILHO, Direito constitucional e teoria.., . p. 48.
[48] LASSALLE, Ferdinand. A esséncia da constituigdo.4. Ed. Trad. Walter
Stdnner. Rev. Luzia Ferreira de Souza. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1998.
[49] Ibidem, p. 32.
[50] Ibidem, p. 53.
[51] SCHMITT, Teoria de la constitucién..., cit.
[52] Ibidem, p. 34.
[53] Ibidem, p. 46.
[54] Idem.
[55] KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6. Ed. Trad. Joao Baptista
Machado. Coimbra: Arménio Amado, 1984, p. 309-310.
[56] KELSEN, Hans. Teoria geral do direito ¢ do estado. 2. Ed. Trad. Luis
Carlos Borges. Sao Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 129-130.
[57] Ibidem, p. 130.
[58] Idem.59] Segundo BOBBIO, palavras de AQUINO: Omnis lex humanitus
posita intantum habet de ratione legis inquantum a lege naturale
derivatur: si vero in aliquo a lege naturali discordet, iam non erit lex; sed
legis corruptio. (Qualquer lei estabelecida pelos homens é auténtica na
medida em que deriva da lei da natureza; se discordar desta, j4 nao sera
uma lei, mas corrupco da lei.) Cf. BOBBIO, Norberto. Locke e o direito
natural. 2, Ed, Trad. Sérgio Bath. Brasilia: Universidade de Brasilia, 1997,
P. 40.
Cf. ALEXY, Robert. El concepto y la validez del derecho. 2. Ed. Trad. Jorge M. Sefia, Barcelona:
Gedisa, 1997, p. 116.
[61] Op. Cit, p. 25-26.
[62] Idem.
[63] Ibidem, p. 26.
[64] Op. Cit., p. 35.
[65] Ibidem, p. 46.
[66] Ibidem, p. 47.
[67] Teoria geral do direito..., p. 121.
[68] Embora KELSEN inicialmente concedeu a pressuposigao da norma
fundamental o cardter de “hipétese” (“norma hipotética”), posteriormente
revisou sua teoria para considerar a norma fundamental nao mais uma
hipétese, mas “pura ou ‘verdadeira’ ficgo” (KELSEN, Hans. Teoria geral
das normas. Trad. José Florentino Duarte. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris, 1986, p. 328). Segundo os mais recentes escritos de KELSEN, o
“fim do pensamento da norma fundamental é: o fundamento de validade
das normas instituintes de uma ordem juridica ou moral positiva, [sic] é a
interpretaco do sentido subjetivo dos atos ponentes dessas normas como
de seu sentido objetivo; isto significa, porém, como normas validas, e dos
respectivos atos como atos ponentes de normas. Este fim é atingivel apenaspela via de uma ficgdo. Por conseguinte, é de se observar que a norma
fundamental, no sentido da vaihingeriana Filosofia do Como-Se nao é
hipétese — como eu mesmo, acidentalmente, a qualifiquei -, e sim uma
fiegdo que se distingue de uma hipotese pelo fato de que é acompanhada
pela consciéncia ou, entio, deve ser acompanhada, porque a ela nao
corresponde a realidade”.
[69] Afirmou HART: “A norma fundamental de Kelsen tem, num certo
sentido, sempre o mesmo conteiido: porque é, em todos os sistemas
juridicos, simplesmente a regra de que a constituigdo ou aqueles ‘que
estatutfram a primeira constituicao’ devem ser obedecidos (...). Esta
aparéncia de uniformidade e simplicidade pode ser enganadora. Se uma
constituic&o que especifique as varias fonte de direito for uma realidade
viva, no sentido de que os tribunais e funciondrios do sistema
efectivamente identificam o direito de acordo com os critérios que prevé,
entao essa constituigao é aceite e existe efectivamente. Parece ser uma
duplicaco repetida e intitil sugerir que ha uma regra ulterior
estabelecendo que a constituicao (ou os que ‘a editaram’) deve ser
Ed. Trad. A. Ribeiro Mendes. Lisboa:
Fundaco Calouste Gulbenkian, 2001, p. 275.)
obedecida.” (O conceito de direito.
[70] Confira-se o seguinte trecho: “A regra de reconhecimento é diferente
das outra
regras do sistema. A asserciio de que existe s6 pode ser uma
afirmacdo externa de facto. Porque enquanto uma regra subordinada de
um sistema pode ser valida e, nesse sentido, ‘existir’, mesmo se for
geralmente ignorada, a regra de reconhecimento apenas existe como uma
pratica complexa, mas normalmente concordante, dos tribunais, dos
funciondrios e dos particulares, ao identificarem o direito por referéncia a
certos critérios. A sua existéncia é uma questo de facto.” (Ibidem, p. 121.)
Cf. FERRAZ JR, Tércio Sampaio, Introducdo ao estudo do direito: técnica, deciséo, dominagio. 3. Ed.
So Paulo: Atlas, 2001, p. 185 e segs.
[72] O problema foi posto nesta celebrizada passagem da obra Treatise of
Human Nature (1738): “In every system of morality, which I have
hitherto met with, I have always remark’d, that the author proceeds for
some time in the ordinary ways of reasoning, and establishes the being ofa God, or makes observations concerning human affairs; when of a
sudden I am surpriz’d to find, that instead of the usual copulations of
propositions, is, and is not, I meet with no proposition that is not
connected with an ought, or an ought not. This change is imperceptible;
but is however, of the last consequence. For as this ought, or ought not,
expresses some new relation or affirmation, ‘tis necessary that it shou’d
be observ’d and explain’d; and at the same time that a reason should be
given; for what seems altogether inconceivable, how this new relation can
be a deduction from others, which are entirely different from it.” (Livro
III, Parte I, Secdo I. Disponivel em:. Acesso em: 18 jun. 2005.) Para
HUME, portanto, enunciados valorativos do tipo “deve-ser” nao podem ser
deduzidos de simples fatos (mundo do “ser”). Em outras palavras,
enunciados ou conclusées deénticos nao se extraem de enunciagoes faticas.
Daf, a reforcar a teoria de KELSEN, a constituig&o s6 pode decorrer de uma
outra norma.
Cf. ALEXY, El concepto....p. 97.
[74] Disse HART, textualmente: “A questo de saber se uma regra de
reconhecimento existe e qual é 0 seu contetido, isto é, quais sao os critérios
de validade em qualquer sistema dado, é considerada em todo este livro
como uma questio de facto empirica, embora complexa.” (O conceito..
274.)
[75] Nesse sentido, cf. ALEXY, ibidem, p. 98-102.
[76] Como disse KELSEN: “Pressupde-se que a primeira constituigao seja
uma norma de carater obrigatério, e a formulacao dessa pressuposigao é a
norma fundamental dessa ordem juridica.” (Teorial geral do direito..., p.
120.)
[77] BOBBIO, Teoria do ordenamento..., p. 62.
[78] Nesse sentido, cf. FERRAZ JR., op. Cit. P. 228.[79] BOBBIO, Teoria do ordenamento..., p. 63. O proprio KELSEN
advertiu ser possivel ir além da norma fundamental pressuposta, quando
se pergunta por que se deve respeitar a norma fundamental mais remota,
ou seja, aquela que estabeleceu o carater obrigatério da primeira
constitui¢o. Ocorre que isso levaria, segundo KELSEN, a respostas como a
origem divina dos poderes de quem elaborou a primeira constituigao,
tematica essa indiferente ao positivismo, que trabalha com a hipotese
iiltima da norma que autorizou aquele que foi o primeiro legislador. (Cf.
KELSEN, Teoria geral do direito e do estado... p. 120-121.)
[80] Metodologia..., p. 271.
[81] BOBBIO, Teoria do ordenamento..., p. 63.
[82] Op. Loc. Cit.
[83] Ibidem, p. 66-7.
[84] Idem.
[85] Idem.
Cf. ALEXY, El concepto..., especialmente p. 95-122.
[87] Exemplos dados por SCHIMITT, op. Cit., p. 59.
Direito Constitucional I - v.2
Olavo Augusto Ferreira e Juliano Taveira Bernardes
Disponivel em: http:/jjulianobernardes jusbrasil.com.br/artigos/121934252/constitucionalismo-
direito-constitucional-e-constituicao