Um fato inédito marcou a história americana no começo do mês de junho
deste ano: Barack Obama ganhou as eleições primárias do partido democrata contra Hillary Clinton e marcou história se tornando o primeiro candidato negro a concorrer eleições presidenciais. Se Hillary Clinton, mulher do ex-presidente Bill Clinton, tivesse ganhado as primárias, também teria sido um fato inédito pois seria a primeira mulher candidata. Embora tenha perdido para Obama, a disputa entre os dois foi acirrada e seguiu praticamente empatada até o final.
Ser o primeiro candidato negro à presidência tem um significado especial
neste país. Há apenas algumas décadas atrás, era impossível imaginar a candidatura de um homem negro. Em 1968, todas as formas de segregação racial foram consideradas inconstitucionais. Mas antes disso, a segregação existia em locais públicos, como parques e restaurantes, meio de transporte, escolas, igrejas, etc. Tudo separado entre negros e brancos.
A candidatura de Obama pelo partido Democrata mostra que o americano
tem mudado sua abordagem em relação à questão da raça, já que a maioria dos eleitores democratas são brancos.
Obama representa um motivo de orgulho para os negros americanos e
um modelo para as crianças. Filho de um queniano negro e uma americana branca, Obama estudou em universidades famosas, como Columbia e Harvard. Depois, se tornou senador.
Em Quênia, sua candidatura à presidência foi manchete do principal
jornal do país e na vila onde seu pai nasceu, as pessoas cantavam e gritavam seu nome. Além de representar um orgulho para eles, muitos quenianos acreditam que Quênia e a África se beneficiarão, mesmo que indiretamente, caso Obama se torne presidente dos Estados Unidos. Para ganhar as eleições no próximo novembro, Obama terá de conquistar os votos das mulheres e da classe trabalhadora. Além disso, seu oponente, o candidato republicano John McCain, é um candidato forte. Neste momento, é impossível dizer qual dos dois é o favorito dos americanos.
McCain é um herói de guerra. Durante a guerra do Vietnã, McCain foi
capturado e mantido em cativeiro por mais de 5 anos. Lá, ele sofreu privações e torturas. Quando a guerra finalmente acabou, McCain voltou aos Estados Unidos como um herói. Ns anos 80, McCain passou a fazer parte da vida política americana e desde 1986, ele é senador.
Embora ninguém possa com fidelidade prever como será o mandato de
um presidente depois de eleito, uma coisa parece certa. Se Obama for eleito presidente, isso terá um efeito positivo na comunidade negra que sempre viu o preconceito como uma barreira para o sucesso. Além disso, a imagem internacional dos Estados Unidos pode mudar, passando de um país racialmente segregado a um país mais aberto e democrático.
Sem dúvida, a corrida para a presidência de 2008 tem sido cheia de
entusiasmo. Afinal, estas eleições, além do evidente peso político que tem, é também um momento histórico para os americanos.
Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers
College Columbia University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2008, September 12). O que Obama tem que os outros não têm. Clarim, Ano 13, n. 635, p. A2.