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O anjo de Hamburgo

Ela tinha apenas 15 anos quando foi forçada a se separar dos pais e a
trabalhar, sem remuneração, costurando uniformes militares para os nazistas.
Trabalhava até a exaustão, sem direito a descanso. Um dia de muito frio e neve,
ela, sem sapatos, vai até um soldado nazista alemão e implora por um par de
sapatos velhos. Sem misericórdia, ele pisa em seus pés congelados. Mas o pior
ainda estava por vir. Logo depois, vou enviada para os médicos nazistas onde
foi vítima de experimentos cruéis, tão cruéis, que ainda hoje, com quase 70
anos, ela evita falar sobre o que realmente aconteceu naqueles dias.

Histórias como esta foram narradas pelos próprios sobreviventes do


Holocausto em um evento numa universidade de Nova York em que participei.
Para uma pessoa que nasceu e cresceu em Araxá e só ouviu falar sobre os
horrores nazistas nos livros escolares, ouvir histórias como esta, chocam e
comovem.

Hitler começou a perseguir os judeus, ciganos, homossexuais, liberais,


socialistas e comunistas na Alemanha em 1933. Muitos judeus queriam sair da
Alemanha e vir para o Brasil. Porém, o governo brasileiro da época proibiu a
liberação de vistos para os judeus, demonstrando assim sua simpatia para com
a Alemanha. Vivíamos, então, a ditadura de Getúlio Vargas.

Entretanto, é em momentos difíceis que heróis nascem. No consulado


brasileiro da cidade alemã de Hamburgo, uma brasileira chamada Aracy
Guimarães Rosa, ajudou mais de 100 judeus a obter o visto e a vir para o Brasil,
arriscando, muitas vezes, sua própria vida. Talvez o nome dela tenha lhe soado
familiar. Aracy foi casada com o grande escritor mineiro João Guimarães Rosa.
Eles se conheceram lá em Hamburgo. Guimarães Rosa era então um diplomata
naquele país. Ao perceber que Aracy estava ajudando os judeus, resolveu unir-
se a ela neste ato heróico. Mais tarde, em 1940, eles se casariam.
Quando o Brasil enfrentou o golpe militar em 1964, Aracy e o marido
ajudaram a esconder muitos brasileiros perseguidos pelo regime. Geraldo
Vandré, por exemplo, ficou escondido no apartamento deles no Rio de Janeiro
até que pudesse se exilar do país.

Aracy é um destes heróis discretos, ainda desconhecido da maioria dos


brasileiros. Viúva do escritor Guimarães Rosa desde 1968, Aracy completa 100
anos este ano. Mora em São Paulo com seu filho e já não pode mais andar. Ela
sofre do mal de Alzheimer e muitas vezes não reconhece as pessoas. Aracy,
porém, deve ser lembrada como a heroína que foi, uma mulher que enfrentou
ditaduras e salvou vidas, conhecida entre os judeus como o anjo de Hamburgo.

Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers


College Columbia University (Nova York) e professora de português como
língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com

Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):

Osborne, D. (2009, August 21). O Anjo de Hamburgo. Clarim, Ano 14, n. 682,
p. A2.

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