Por que ser vegetariano? Muitos americanos se tornam vegetarianos
porque não concordam com a criação e matança de animais para a alimentação. Ser vegetariano, é uma forma de protegê-los. É também uma questão ética e uma atitude política, já que não comendo carne, eles demonstram que se importam com os animais do planeta e que os animais, assim como os seres humanos, têm seus direitos. O Peta, famosa organização de proteção aos animais, tenta convencer as pessoas a parar de comer carne, através, por exemplo, de vídeos chocantes de animais sendo maltratados no abate (Se você quiser ver, basta ir ao Youtube! Mas prepare-se! Tem que ter muito estômago!). O Peta é, na verdade, contra o consumo de qualquer produto que venha do animal, como o uso de peles, e contra a animais em zoológicos e circos. Os defensores dos animais alegam que eles são seres inteligentes, que têm memória e até personalidade (basta observar o Oscar, meu gato, que, por alguma razão, de noite é bem mais amigo do que de manhã!). Fica então mais difícil se alimentar de animais quando temos tanto em comum. Mas, se as plantas são também seres vivos, por que parece perfeitamente aceitável que se coma plantas, mas não os animais? Pensamos que as plantas não têm inteligência porque elas não têm cérebro. Mas o que é mesmo inteligência? Uma das definições que se dá à inteligência é a capacidade de resolver problemas, considerada a mais complexa das funções intelectuais. Quando olhamos para nossas plantas do jardim, certamente não pensamos que elas possam fazer deliberações! Mas, pelo que tudo indica, as plantas são seres inteligente com capacidade para resolver problemas. Por exemplo, se a luz é bloqueada de um lado, as plantas se viram para o outro em busca da luz. Plantas crescem com o mesmo nível de fonte alimentícia; porém, as plantas crescem em maior volume quando em áreas maiores, indicando uma habilidade de senso de volume. Um outro exemplo é quando se dá uma escolha para a planta entre uma área ocupada por várias plantas e outra vazia. As raízes das plantas se movem para a área desocupada, longe da concorrência. Esses e outros comportamentos das plantas foram publicados em artigo acadêmico em 2005 pela Universidade de Edinburgh, como provas de que as plantas são organismos inteligentes. Estudiosos têm cada vez mais se distanciado da idéia de que as plantas são seres passivos, estáticos, e não inteligentes. Um outro provável motivo para considerar comer plantas aceitável, enquanto comer animais uma crueldade, é que os animais podem ser comunicar com suas vozes, literalmente “falar” quando, por exemplo, estão em perigo ou se ferem. Plantas, ao contrário, não se comunicam. Bem, errado de novo! A sua maneira, as plantas se comunicam. As plantas parecem ter evoluído formas de comunicação, de acordo com alguns estudos. Por exemplo, quando um inseto está comendo suas folhas, algumas plantas emitem um produto químico que atrai outros insetos predatores, como as vespas, que vão comer os pequenos insetos. Isto é, a planta pede socorro para a vespa, que entende, e vem em sua ajuda. O que parece é que, mesmo que neguemos comer carne como uma atitude em defesa aos animais, não estaremos deixando de comer organismos vivos e inteligentes ao tornarmos vegetarianos.
Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada na Columbia
University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2010, March 26). Comendo Seres Vivos. Clarim, Ano 15, n. 711, p. A2.