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Capitulo | O Fundamento da Existéncia do Processo Penal: Instrumentalidade Constitucional FDiamte do *direito penal do_terror implementado pelas_politicas I nepressivistas dele eordem, tlerimcia zero ct, processo passou adesem- fenhar uma missio fundamental numa sociedade democratiea enquanto ins Trumento de limitacio do poder esata c, a mesmo tempo, instrument) servico da mixima eficacia dos direitos ¢ gavantias fundamentas. aquestio a ser enfrentada é exatamente (ge)diseutir qual ¢ o funda mento da existéncia do processo penal, por que existe ¢ por que precisamos dele, A. pergunta poderia ser sintetizada no seguinte questionamento ‘Processo Penal, para que(r)? ‘Buscar a resposta a essa pergunta nos conduz & definigao da ldgica do sistema, que vai orientar a interpretagio e a aplicagao das normas processuais penais, Noutra dimensio, significa definir qual € 0 nosso paradigma de leitu- fa do processo penal, buscar 0 ponto fundante do discuss Nossa opcio ¢ pea leitura constitucional e, desta perspectiva, visualiza- mos o processo penal como instrumento de efetivasio das garantias const ucionais. J. GOLDSCHMIDT, | a seu tempo,? questionou: Por que supde @ imposigdo da pena a existéncia de um proceso? Se o ius puniendi cortesponde ao Fstado, que tem o poder soberano obre seus stiditos, que acusa e também julga por meio de distintos Srgios, pergunta-se: por que necesita que prove seu direito em um processo? [A resposta passa, necessariamente, por uma leitura constitucional do processo penal, Se, antigamente, o grande conflito era entre o direito posii- 1” Problemas Jaridices y Potics de! Proceso Pena... epeetnsderand que on saber data nteres-non mais perpuna do ques respoma dada pelo ator naquele momento vo e o direito natural, atualmenie, com a recepgao dos direitos naturais pelas modernas constituigdes democriiticas, o desalio & outro: dar eficdcia a esses direitos fundamentais ‘Como aponta J. GOLDSCIIMIDTS 0s principios de politica processual de_uma nagio nao so outra coisa do que segmento da sua politica estatal em geral; ¢ 0 processo penal de ums nagio nao é sendo um rermdmetro dos ele memtos auioritérios ou democriticos da sta Constituigao, ~~ Avuma Constituigéo autoritéria vai corresponder um processo penal autoritério, utilitarista (eficiencia antigarantista). Contudo, a uma Constituigo democrética, como 2 nossa, necessariamente deve corresponder uum processo penal democritico e garsntista, até porque a ideia de garantis- mo brota da Constituicéo, da novdo de garantia substancial que dela emerge Assim, devemos definir o fundamento legitimante da existéncia de um processo penal democratico atraves da instrumentalidade constitucional, ou seja, 0 processo como instrumento a servigo da ma de garantias minimas I. Principio da Necessidade do Processo em Relagio 4 Pena A titularidade exclusiva por parte do Estado do poder de penar surge no ‘momento em que é suprimida a vinganga privada e sio implantados os crité- ios de justiga. O Estado, como ente juridico e politico, avoca para si o direi to (€ o dever) de proteger @ comunida, e e também o préprio réu como meio de cumprir sua funcio de procurar o bem comum, que se veria afetado pela transgressio da ordem juridica-penal por causa de uma conduta delitiva.4 A medida que 0 Estado se fortalece, consciente dos perigos que encer- ra.a autodefesa, assume o monopélio da justiga, ocorrendo néo s6 a revisio da natureza contratual do processo, como também a proibigéo expressa para 6 particulares de tomar a justica por as préprias maos. Frente & violagdo de um bem juridicamente protegido, nio cabe outra atividades que ndo a invocagio da devida tutela jurisdicional. Impde-se a necessétia utilizagao da estrutura preestabelecida pelo Estado ~ 0 processo judicial ~ em que. Problemas luvidicos y Politic p67 ARAGONESES ALONSO, Ped. Insicciones fe Derecho Provesal Penal, p.7. Salvo aquelas protegidas pols aussie exsisio da dict ow da culpabitidade jurdcamente reconheidas po Dizcta Pena | | i Inuzodugio Cites a0 Proceso Penal { gediante a atuacio de um terceiro imparcial, cuja designagao nao corres- J ponde & vontade das partes e resulta da imposicio da estrutura institucional Seri apurada a existencia do delito e sancionado 0 autor. © pracesso, como mstituigdo estaal, € a nica estruvura que se reconhece como legitima para a imposigdo da pena, Iso porque o Direito Penal ¢ despido de coercio dire- tae, 20 contrario do direito privado, ndo tem atuagio nem realidade conere~ ta fora do processo correspondente. 'No direito privado, as normas possem uma eficécia direta, imediata, pois os particulares detém o poder de praticar atos juricos ¢ negécios juri- Bicos, de modo que 2 incidéncia das normas de direito material - sejam civis, ‘comerciais etc. ~ ¢ direta. As partes materiais, em sua vida diria, aplicam 0 direito privado sem qualquer intervengio dos érgios jurisdicionais, que em regra sto chamados apenas para solucionar eventuais conflits surgidos pelo ‘do cumprimento do acordado, Em resumo, néo existe o monopélio dos tri- bunais na aplicagio do direito privado e ni siguiera puede decirse que esta- disticamente sean sus aplicadores mas importantes. Por outro lado, totalmente distinto € o tratamento do Direito Penal, pois, ainda que os tipos penais tenham uma fungio de prevengao geval ¢ tam- ém de protecao (ndo s6 de bens juridicos, mas também do particular em relacdo aos atos abusivos do Estado), sua verdadeira esséncia esté na pena e a pena nao pode prescindir do processo penal, Existe um monopélio da apli- cagio da pena por parte dos drgios jurisdicionais¢ iso representa um enor me avango da humanidade. Para que possa ser aplicada uma pena, nao so & necessério que exista um injusto tipico, mas também que exista previamente o devido processo penal ‘A pena nio 86 ¢ efeito juridico do delito,” senao que é um efeito do proces 50; mas 0 processo nao é efeito do delito, sendo da necessidade de impor a pena ao delito por meio do processo, ‘Appena depende da existéncia do delito e da existéncia efetiva ¢ total do processo penal, posto que, se 0 procesto termina antes de desenvolver-se completamente (arquivamento, suspensio condicional etc.) ou se néo se desenvolve de forma vilida (nulidade), ndo pode ser imposta uma pena Existe uma intima e imprescindivel relagao entre delito, pena e proces- so, de modo que sio complementares. Nao existe delito sem pena, nem pena MONTERO AROCA, jn. Principive del Proceso Penal. p15. Como explica GOMEZ ORBANEJA, Coment inva la Ley de Eject Criminal, Tore pp.27 ess Ary Lopes J. sem delito e proceso, nem Processo penal senio para determinar o delito ¢ Assim, fica estabelecido 0 cardter instrum slag fence instrumental do processo penal com ine Si 4 Pena. pois 0 processo & 0 caminho necessisin E 0 que GOMEZ ORBANEJAs denomina de del proceso penal, amparado no art. Iv da LECrimg ena, nem pena sem delizo ¢ minar o delito e atuar a pena Principio de la necesidad Pois ndo existe delito sem Process, nem processo pei O principio a {iva aplicacdo no campo penal do adagio lat iudicio, expressando © monopéli também a instrumentalidade do Sio trés!0 05 monopélios est inal sendo para decer- Pontado pelo autor resulta da efe- ino nulla poena et nulla culpa sine 0 da jurisdigao penal por parte do Estado « rocesso penal tata a) Exclusividade do Direito Penal: b) _Exclusividade pelos Tribuna ©) Exclusividade Processual Como explicamos, atualmente a pena é estatal (piiblica), no sentido de que o Estado substituiu a vinganga privada e com isso estabeleceu que a pena € uma reagdo do Estado contra a vontade individual. Fstao proibidas a auto- tutela e a “justiga pelas préprias maos’. A pena deve estar prevista em um tipo penal ¢ cumpre ao Estado definir os tipos penais ¢ suas consequentes penas, ficando 0 tema completamente fora da disposigao dos particulares (vedada, assim, a “justiga negociada”).!! Hl LAURIA TUCCI!? aponta para a imposigio de uma autolimitagao do incerese punitivo do Extalo-Administagd que somente poderd realizar 0 ediante a acao judicisria dos juizes e tribunais. ve tnerderon que x exlsvade ds (buna em matt pel deve ser analisada em conjunto com a exclusividade processwal, pois, ao mesmo Cai nto Criminal, Tomo, p27. Comentarios at Ley de Enjuiciamien Norma procesial penal espanhola ~ Ley de Enjuilamiento Criminal. 1 Proce Penal p. WGe Seguindo MONTERO AROCA, Princpios de! Proceso Penal pp fo questions ‘Seguindo MONTERO AK ‘ceaal de porsepuire pun etd sendo rsunidade e conveniéa- nio de prineipios como opo je dlos deseo penal priv ou public condoms (plea bargaining. A justica negociada configura us ian ome dus ro mo hse pl sume fo sume pg Cuore ores po conforms TSRIRIA TUCCL, Ropero, Toi lo Dito Poel Peal: Introduce Critica 20 Processo Penal F empo em que o Estado prevé que s6 os tribunais podem declarar 0 delito e {por meio do devido processo penal. Ou seja, cumpre aos juizes e aos tribu- impor a pena, também prevé a imprescindibilidade de que essa pena venha sais declararem o delito e determinar a pena proporcional aplicével, essa operagdo deve necessariamente percorrer 0 leito do processo penal valido } com todas as garantias constitucionalmente estabelecidas para 0 acusado. Aos demais Poderes do Estado ~ Legislativo e Executivo ~ esti vedada essa atividade, Inobstante, como destaca MONTERO AROCA.|3 absurda- mente (...] se constata dfa a dia que las leyes van permitiendo a los érganos administrativos imponer sanciones pecuniarias de tal magnitud, muchas veces, que ni siquiera pueden ser impuestas por los tribunales como penas. ia ‘Da mesma forma, na execugo penal, conforme abordaremos oportunamen- q | te, constata-se uma excessiva e perigosa administrativizacao, onde faltas gra- i ves ~ apuradas em procedimentos administrativos inquisitivos - geram gra- gee | issimas consequenci Outra situagao que nos parece inaceitavel é a aplicagio de uma pena sem que tenha antecedido na sua totalidade um processo penal valido, como ‘ alguns juizes ja decidiram na transagao penal, prevista no art. 72 c/c 85 da i Let n° 9.099. Uma leitura equivocada dos referidos dispositivos permitin que i i a pena de multa, aplicada de forma imediata na audiéncia preliminar, fosse y convertida em pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos quando nao fosse paga pelo acusado. O resultado final é absurdo: uma pena privati- va de liberdade (fruto da conversio), sem culpa e sem que sequer tenha exis tido o processo penal. £ um exemplo de subversio de principios garantido- res bisicos do processo penal. ie | Por fim, destacamos que o proceso penal constitui uma insténcia i formal de controle do crime,\4 e, para a Criminologia, é uma reacao for: ‘ | mal ao delito ¢ também pode ser considerado como um instrumento de selecao, principalmente_nos sistemas ju come o da oportunidade, plea bargais 6 agravam a que. possui 13 Princpioe de} Proceso Pena. 19. 14 Conformeexplcam FIGUEIREDO DIAS e COSTA ANDRADE na obra Crminolopa pp. 365 es. IL. Instrumentalidade do Processo Penal Estabelecido © monopélio da justica estatal e do processo, trataremos agora da instrumentalidade. Desde loyo, nto devem existir pudores em afirmar que o processo é um instrumento (o problema é definir 0 contetido dessa ins- trumentalidade, ou a servigo de que(m) cla esti) e que essa é a razio basica de sua existéncia, Ademais, o Direito Penal careceria por completo de eficécia sem a pena, e a pena sem processo & inconcebivel, um verdadeiro retrocesso, de modo que a relagio a interagio entze Direito e Processo & patente Da mesma forma, um processo penal que nio possa gerar pena alguma é inconcebivel. Por vezes, nos deparamios com processos penais que s40 apenas geradores de estigmatizagio ¢ degradacio, atuando como pena em si mesmo, reforma de 2008 introduyiu wn importante inovacio: a possibilida de-de absolvicao suméria, art. 397 do CPP. ‘Trata-se de permitir a absolvigao no inicio do processo, sem que evista instrugio, reduzindo com isso a pena Processual decorrente de uma acusagio infundada. Infelizmente, o novo tem encontrado alguma dificuldade de obver plena eficicia e ainda existe uma injustificada resisténcia em absolver-se sumariamente o imputado, ainda que seja uma das situagdes previstas no art. 397. Nessa linha, nada justfica, por exemplo, manter-se um processo penal quando se vislumbra a prescrigio pela provével pena a ser aplicada.'5 15 A jurspradéncia ainda & majortarismente reconhecimento da prescrigdo em per Dectivas que nos parece ua postra uso Conta, en sent contre ae evapo aNforizadas voze sustentando a inuliade so penal neste caos. Nese tema, € um teferinci a ligéo do Desemibargacor Fez I" AFONSO RKUM VA2,eolsor ds Apelaio 2» 2005.0401.023823-0, Quarca Seco do Tribu Reyional Federal da 4 Reg EMENTA: PENAL PROCESSUAL PENAL. AAO PENAL ORIGINARIA. PERSECUGAO PENAL. EFETIVIDADE, AUSENCIA. PRESCRIC(O VIRTUAL OU PROIETADA, EXTINCAO DAPUNIBILIDADE, 1A persecugx pal, con's espécie do género dak ayder eta, deve st eficieme,efcazeefetiva De naa aan in tmndo verieada, ab initio, «imposs Dilidade de sua fatura e eventual execu » soutldade do eventual e incerto provi: ‘mente condsnatéro.¢de rigor sea. deelaada 0.9 4 punibiidad stigdo em perspsstiva da pretensio punitiva « Invidvelseja negada a aplicagto do ins tuto por desproporcionalapelo ao forinalis 0 processo penal natimore implica mal ferirosbasilares prinepioscorstituc iris a ‘mocrético de diteto em: Magrante e nj tifa prejuizo do cidadio. 3. Etingi dp Je das agentes frente a prescrigio em pers Peetiva que aucoriza a sums absolvii >on julgamento anecipade da ide (Cadigo 4 de Processo Penal, artigo 397 inciso 1V. en dada pela Leia 11,71972008). (TRE. APN. 2005.04 01,028823.0, Quarts Seco, PAULO AFONSO BRUM VAZ, D.E 31/10/2008) (rita Manter em andamento vm process nati ‘xpress do eelato,& completamente descabid e pure formalise indi. Ain ja “viewal,efetvoseconerecos sie Inrodugio Gites a0 Proceso Pera 'A instrumentalidade do processo é toda voltada para impedir uma pens sem o devido processo (principio da necessidade), mas esse el de exigéncia iio existe quando se trata de no aplicar pena algume. Logo, para no aplicar fama pena, © Estado pode prescindir completamente do instrumentoy absol: vende sumariamente. Iso também estd intimamente relacionado com 0 tema da dilagio indevida, tratada em t6pico especifico, 20 qu ‘Trata-se de um patente constrangimento ilegal ~ mente inconstitucional ~, pois o Estado nao esté autor ceseo penal como pena em si mesmo ¢ tampouce, est tizagio sociale juridica produzida sem suficiente justa A strumentalital® do processo penal reside 0 penal apresenta, quando comparada com outras nor Histica de que 0 preceito tem como conteudo um det mento proibido ou imperativo ¢ 2 sancio tem com al remetemos 0 leitor. processo substancial- jzado a utilizar 0 pro- logitimada a estigma causa fato de que a norma as juridicas, a caracte- xerminado comporta~ 10 destinatirio aquele poder do Estado, que & chamado a aplicara pena. Nao € possvel a aplicasio da reprovacio sem 0 § to do acusado, pois ele nao pode se sub por meio de um ato judicial (ni évio processo, nem mesmo NO er voluntar ‘caso de consentimen- amenté 8 pena, sendo ulla poena sine iudicio). Essa particularidade dd processo penal demonstra que seu cardter instrumental € mais destacado us odo proceso cut F fondamental compreender que a instrumental significa que ele seja. ur qual seja a satisfagao de uma pretensio (acusatri) jnstrumento a servigo de uma nica finalidade. idade do processo “Tk jado dela, esti a funcio constitucional do processo como instrumen= toa servico da realizagdo do projeto democr ico (e nao instrumento de defesa social, por evidente). Nesse vids, insere-se 2 {inalidade constitucional: da liberdade individual dora da maxima eficicia dos direitos e das garantias fundamentals, em alo ara sari da ji, ceupr pa terpe de de oars EO dancin fit ini Trata x de puro “ar de conta” qe gera rejulzs resi, pols. enquan vor tempocom in proces nnd, oto to reer einer as Se se minando, quem sabe, rumo a ineetvicade ttl da adn 6 Ce STNplicn LEONE. Element di Dirt e Povcedura Penal, 9 16 Cal objet sf cise dns, cmt dizer que a nabdades do p Fira «objets Por mao. no existe nenhurna contradgio et iro da justia penal) 189, re puraiade de funces © © ao aaratoria oben nico do procs penal sequin arora 00 be AE AMES GOLDSCHMIDT, especialmente na obra Problems Penah ridicos y Pllicos del Proceso t Ary Lopes J E, aqui, é 0 momento de ajustar contas com 0 passado (¢ © que escrevi em edigoes anteriores). © termo instrumentalidade, que sempre remeteu a algumas ligdes parciais de RANGEL DINAMARCO,' deve ser revisitado Claro que nunca pactuamos com qualquer visio “eficientista” ou de que o proceso pudesse ser usado como instrumento politico de seguranca pablica ou defesa social Resulta imprescindivel visualizar o processo desde seu exterior para ‘constatar que 0 sistema nao tem valor em si mesmo, sendo pelos objetivos que é chamado a cumprir (projeto democratico-constitucional), Sem embar- g0, devemos ter cuidudo na definigao do alcance de suas metas, pois 0 pro- cesso penal no pode ser transformado em instrumento de “seguranga publi- ca”, Nesse contexto, por exemplo, insere-se a critica a0 uso abusivo das medidas cautelares pessoais, especialmente a prisio preventiva para “garan~ tia da ordem piblica”. Trata-se de buscar um fim alheio ao processo e, por tanto, estranho 4 natureza cautelar da medida. Trataremos novamente desse tema quando analisarmos a presungio de inocéncia ¢ as prises cautelares. Nesse sentido, importante é a andlise de MORAIS DA ROSA'? quando sublinha o perigo de ~ ao transmitir-se mecanicamente para 0 processo penal as ligdes de Rangel Dinamarco — pautar a instrumentalidade pela conjuntu- 1a social e politica, demandando um “aspecto ético do processo, sua conota- 10 deontolégica” (expressio de Rangel Dinamarco). Explica MORAIS DA ROSA que “esse chamado exige que o juiz tenha os predicados de um homem do seu tempo, imbuico em reduzir as desigualdades sociais”, baseando-se nas: modificagées do Estado Liberal rumo ao Estado Social, mas “vinculada a uma posigdo especial do juiz.no contexto democritico, dando-the poderes sobre- humanos, na linha de realizagio dos escopos processuais, com forte influtn cia da superada filosofia da consciéncia, deslizando no Imagindrio e faclitan do o surgimento de Juizes Justiceiros da Sociedade” E conclu o autor afirmando que a “pretensio de Dinamarco de que juiz deve aspirar aos anseios sociais ou mesmo ao espirito das leis, tendo vista uma vinculagio axiol6gica, moralizante do juridico, com 0 objetivo de realizar o sentimento de justia do seu tempo, nio mais pode ser acoll democraticamente”. Nenhuma diivida temas do enorme acerto ¢ valor dessas ligdes ¢ de esse perigo denunciado por MORAIS DA ROSA é concreto e encontra & 1B RANGEL DINAMARCO. Candido, A Instrumenialidade do Processo 19 MORAIS DA ROSA, Alexanlre, Divito Infacional. pp. 185. Inraducdo Crftea ao Proceso Penal movimentos repressivos, como lei e ordem, tolerincia zero e direito penal do inimigo, um terreno fértil para suas nefastas construgdes. Mais danoso ainda so as viragens linguisticas, os giros discursivos pregados por lobos que, em pele de cordeiro (e alguns ainda dizem falar em nome da Constituigdo...), seu zem ¢ mantém em crenga uma multiddo de ingénuos cuja frigil base teérica faz com que sejam presas ficeis, iludidos pelo discurso pscudoerudito desses ilusionistas, Cuidado leitor, mais perigoso do que os inimigos assumidos (e, por sa assungao, até mereceriam algum respeito) si0 0s que, falando em nome da Constituigao, operam num mundo de ilusio, de aparéncia, para seduzir os incautos. Como diz JACINTO COUTINHO, no prefacio desta obra, “parecem pavées, com belas plumas multicoloridas, mas os pés cheios de craca" Em suma, nossa nocio de instrumentalidade tem como con! ‘méxima eficdcia dos direitos e garantias fundamentais da Constitui¢a0, paw. humana submetida a violéncia do | Valtando ao binémio Direito Penal-Processual, a independéncia con- ceitual e metodoldgica do Direito Processual em relagio ao diteito material for uma conquista fundamental. Direito e processo constituem dois planos verdadeiramente distintos no sistema juridico, mas esto relacionados pela uunidade de objetivos sociais e politicos, o que conduz a uma relatividade do binémio direito-processo (substance-procedure). Respeitando sua separacao institucional e a autonomia de seu tratamen- to cientifico, 0 processo penal esté a servigo do Direito Penal ou, para ser ‘mais exato, da aplicagio desta parcela do direito objetivo.29 Por esse motivo, nao pode descuidar do fiel cumprimento dos objetivos tragados por aquele, entre os quais est o de protegio do individuo. ‘A autonomia extrema do processo com relagao ao direito material foi importante no seu momento e, sem ela, os processualistas no haveriam podi- do chegar tao longe na construgao do sistema processual. Mas isso ja cumpriu com a sua funcio, A acentuada visio auténoma esti em vias de extingio ea instrumentalic st servindo para relativizar o binédmio direito-processo paraa liberagio de velhos conceitos ¢ superar os limites que impedem o pr cesso de alcangar outros objetivos, além do limitado campo processual ‘A ciéncia do processo jé chegou a um ponto de evolugao que Ihe per- mite deixar para trs todos os medos e preocupag6es de ser absorvida pelo direito material, assumindo sua fungio instrumental sem qualquer menos- 20 OLIVA SANTOS, aa obra coletivs Derecho Process! Penal 9.6 Aury Lopes Jn rezo. O Direito Penal nio pode prescindir do processo, pois 2 pena sem pro- cesso perde sua aplicabilidade. Com isso, concluimos que a instrumentalidade do proceso penal é fundamento de sua existéncia, mas com uma especial caracteristica: é um instrumento de protecio dos direitos ¢ das garantias individuais, E uma espe~ cial conotagio do caréter instrumental e que 6 se manifesta no processo penal, pois se trata de instrumentalidade relacionada ao Diteito Penal ¢ a | Pena, mas, principalmente, a um instrumento a servico da méxima eficdcia las garantias constitucionsis. Esté legitimado enquanto instrumento a servi 0 do projeto constitucional. Trata-se de limitagio do poder e da tutela do débil a cle submetido (réu, por evidente) cuja debilidade é estrutural (e || estruturante do seu lugar). Fssa debilidade sempre existird e no tem absolu tamente nenhuma relacdo com as condigGes econdmicas ou sociopoliticas do imputado, sendo que decorre do lugar em que ele é chamado a ocupar nas | relagdes de poder estabelecidas no ritual judiciério (pois ¢ ele 0 sujeito pas- sivo, ou seja, aquele sobre quem recaem os diferentes constrangimentos ¢ limitagées impostos pelo poder estatal). Esta ¢ a instrumentalidade it cional que a nosso juizo funda sua existéncia IIL. © Utilitarismo Processual (ou a Eficiéncia Antigarantista) O sistema penal (material e processual) ndo pode ser objeto de uma and. lise “estritamente juridica’, sob pena de ser minimalista, até porque ele no est num compartimento estanque, imune aos movimentos sociais, politicos € econdmicos, A violéncia € um fato complexo,.! que decorre de fatores biopsicossociais. Logo, o processo, enquanto instrumento, exige uma aborda. gem interdisciplinar a partir do caleidoscépio, isto é, devemos visualizd-lo desde vérios pontos e recorrendo a diferentes campos do saber 22 21 Expliea RUTH CHITTO GAUER ("Alguns Aspectos da Fenomenologia da ViolEnca". tn: A Fenomenologa da Violénca, p. 13s.) que violéncis¢ um elemento esiraurl,intrineec ao {ato social e no-o tomo anacrénico de um ondem birbars em vase extingde, Esse Fendmene aparece ent todas as sociedad: faz parte, portant, de qualquer civilicaio ov grupo humane: basta atentar para a questo da violencia no mundo atual canio nas granules cides come tan bad nos recaatos mas sola 586 ojuristaconsciente da insufeiéncia do monlogo jurdica ests apto a compreendera comple dade caracterstica a sciedae contempordnea, Para tanto, deve ter humildade cence su cliente para socorrer-se de Ieturas de soiologi, antropologa, histor, psquiat ete, sen falar ‘no astro filssfico, Nao ha espe para o prfiasonalalienad, porque ee ai-é-nads,

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