Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

"Diz o índio...": Políticas Indígenas no Vale Amazônico (1777-1798)
"Diz o índio...": Políticas Indígenas no Vale Amazônico (1777-1798)
"Diz o índio...": Políticas Indígenas no Vale Amazônico (1777-1798)
Ebook258 pages27 hours

"Diz o índio...": Políticas Indígenas no Vale Amazônico (1777-1798)

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

Nos últimos anos temos acompanhado o crescente número de estudantes indígenas que acessam as escolas e as universidades dos "brancos". Ao dominar nossos códigos culturais, eles fortalecem suas lutas pela garantia de seus direitos, o que faz muitos brasileiros afirmarem que "os índios de hoje estão mais espertos". O que Rafael Rogério nos revela em seu livro "Diz o índio...": Políticas indígenas no Vale Amazônico (1777-1798) que essa esperteza dos índios é muito mais antiga. Diante do profundo choque cultural provocado pelo contato que ameaçava o modo de vida dessa população, restava a estes povos aprender a se apropriar dos códigos do colonizador, de modo a garantir e ampliar os direitos que a legislação lhes reservava. Assim, foram muitos os casos em que os índios do vale amazônico, no período colonial, acessaram a justiça denunciando arbitrariedades ou reivindicando o direito de transitar nos espaços coloniais sem embaraços. Tradicionalmente invisibilizados, vistos como "povos sem história", estes homens e mulheres são habilmente recuperados pelo autor em sua condição de sujeitos históricos, impondo limites ao projeto colonizador, ora celebrando conquistas, ora negociando perdas. Desse modo, "Diz o índio..." nos revela vozes silenciadas de povos que sempre tiveram muito o que dizer. (Prof. Márcio Couto Henrique, Professor Associado | Universidade Federal do Pará)
LanguagePortuguês
Release dateSep 17, 2021
ISBN9788546214303
"Diz o índio...": Políticas Indígenas no Vale Amazônico (1777-1798)

Related to "Diz o índio..."

Related ebooks

Latin America History For You

View More

Related articles

Related categories

Reviews for "Diz o índio..."

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    "Diz o índio..." - Rafael Rogério Nascimento dos Santos

    Prefácio

    No final dos anos 1960, muitos antropólogos chegados às aldeias espalhadas pelo Brasil depararam-se com um dado inesperado. Tendo partido de centros urbanos, onde estavam situadas as instituições de pesquisa de que faziam parte (particularmente, as universidades e seus programas de pós-graduação), alcançavam as aldeias munidos de perguntas que buscavam dar conta das questões clássicas da Antropologia: as relações de parentesco, a economia ritual e as relações de poder eram alguns dos grandes temas, dentre um leque amplo que caracterizou os estudos que tinham os povos indígenas como objeto. Os povos indígenas que encontravam estavam articulados em discussões e lutas envolvendo seus interesses, de tal modo que suas vidas em movimento surpreendiam os pesquisadores.¹

    Durante anos, a memória histórica e a produção historiográfica reiteraram o vaticínio de Adolpho Varnhagen em relação aos povos indígenas – De tais povos na infância não há história: há só etnografia.² Historiadores e antropólogos, cada qual no seu quadrado, fizeram sua parte para transformar em argumento aquela afirmação. Os últimos por meio de estudos que privilegiavam a análise de aspectos relacionados às matrizes culturais daqueles povos e os primeiros por meio da obliteração de sua agência. Pois, no final dos anos 1960, os antropólogos encontraram mais que seus objetos de pesquisa nas aldeias – depararam-se com homens e mulheres em movimento, articulando-se a partir de agendas variadas, pontuando políticas no trato com a sociedade nacional e, particularmente, com o Estado. Em lugar de relações imobilizadas no tempo, aqueles pesquisadores se viram diante de relações que se constituíam no tempo.³

    Nasce daí um campo de pesquisa hoje consolidado – a História Indígena. Construído a partir da contribuição de antropólogos e historiadores, seu objetivo tem sido a produção de análises nas quais a perspectiva indígena figure como eixo integrador. Trata-se de um imenso desafio. Isto não quer dizer, simplesmente, rever análises e incluir, nelas, os povos indígenas. O esforço implica na proposição de estudos que assumam os povos indígenas como agentes históricos plenos, participantes ativos e proativos dos processos nos quais estão inseridos. Para historiadores que abordam a experiência americana os desdobramentos são inúmeros.

    Os primeiros manuais de metodologia da história afirmavam que sem documentos, não há história. A máxima permanece, ainda que a concepção de documento tenha sofrido uma profunda modificação. Perceber e problematizar a perspectiva indígena e a sua agenda exige a identificação e análise de documentos nos quais ambas estejam expressas. No entanto, quanto mais nos distanciamos do tempo em que vivemos, menores são as chances de identificarmos documentos, especialmente os escritos, produzidos pelos próprios indígenas. No que se refere à experiência colonial, a maior parte dos registros disponíveis sobre os povos indígenas em arquivos brasileiros e estrangeiros é da lavra de não-índios. Mesmo se tivermos o século XIX como horizonte, as dificuldades são de monta.

    O século passado e este em que vivemos são pródigos em documentos – de naturezas distintas e diversas – produzidos pelos indígenas ou que registram suas falas, nos quais é possível identificar e problematizar várias dimensões da vida. Os últimos cinquenta anos têm assistido à proliferação de análises que reconhecem a agência indígena e, mais importante, tem testemunhado a emergência de estudos produzidos pelos próprios povos indígenas, na condição de intelectuais inseridos no universo acadêmico.⁴ Isto não quer dizer, porém, que as análises relativas ao passado colonial são escassas ou sofram de qualquer limitação de ordem conceitual ou metodológica.

    Desde há trinta anos, historiadores brasileiros têm se voltado para o passado colonial e construído análises nas quais a perspectiva indígena é fator estruturante. Não sem motivos. As análises relativas à experiência colonial portuguesa na América conformaram-se, desde cedo, em um campo de discussões cujos desdobramentos afetam a área de História, em todos os seus campos de investigação. Desde o início da produção acadêmica, sob a égide do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, adotou-se a Europa não apenas como ponto de partida de nossa trajetória, mas como epicentro a partir do qual essa mesma trajetória adquiria sentido.⁵ Mesmo quando consideramos o que se convencionou chamar de moderna historiografia brasileira, essa perspectiva permanece: nas obras seminais de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior é na Europa que se encontram as nossas raízes e os fundamentos de nossa cultura política e nossa matriz econômica.⁶ Todos esses autores elegeram a colonização portuguesa como espaço a partir do qual refletiram e problematizaram os problemas brasileiros do tempo em que viviam, de modo que se voltaram para o passado colonial com o objetivo claro de debater o Brasil contemporâneo. Não por acaso suas teses foram apropriadas e desdobradas por segmentos diversos do pensamento social brasileiro subsequente.

    Dentre elas, a tese segundo a qual o sentido da colonização havia demarcado as diversas dimensões da vida brasileira, em especial a economia, mas não só ela, formulada por Caio Prado Júnior, tem vida longa. Seu argumento foi apropriado por um grupo de intelectuais, historiadores inclusive, afetando não somente as formas de se interpretar o Brasil – seu passado e seu presente – mas de projetá-lo. O modelo explicativo pensado para a colônia amparou posicionamentos políticos, tentativas de explicação da situação latino-americana e políticas públicas.⁷ As reflexões sobre o passado colonial, como se vê, tem afetado profundamente a produção historiográfica ocupada com outros períodos, mas, não só ela.

    Não por acaso, é nas análises sobre o passado colonial que tem se verificado uma decisiva inflexão no modo de perceber e pensar os povos indígenas. As obras de Stuart Schwartz, John Manuel Monteiro, Nádia Farage, Francisco Jorge dos Santos, Maria Regina Celestino de Almeida, Patrícia Maria Melo, Maria Leônia Chaves de Resende, Almir Diniz de Carvalho Júnior, Rafael Ale Rocha, entre outras, representam o esforço em incorporar as perspectivas indígenas nas análises sobre a América Portuguesa.⁸ Isso significa não apenas problematizar modelos explicativos consagrados, mas discutir as matrizes da própria historiografia brasileira, apontando como os povos indígenas não estiveram à mercê das vontades europeias, pois atuaram segundo uma agenda própria, em meio a contextos demarcados por conflitos de natureza diversa que, porém, guardavam um substrato comum: uma sociedade demarcada por valores do Antigo Regime, no qual a diferença conformava um instituto organizador da ordem social, expressa, particularmente, em uma hierarquia baseada na cor/raça.

    Tal contribuição tem desdobramentos insuspeitos para a produção historiográfica e para a memória histórica. O livro de Rafael Rogério Nascimento dos Santos, Diz o índio ...: políticas indígenas no Vale Amazônico (1777-1798) é exemplar nesse sentido. Tendo como objeto a ação dos povos indígenas diante da política indigenista construída no Estado do Grão-Pará e Maranhão na segunda metade do século XVIII, a análise evidencia que as políticas indigenistas não se efetivaram como desígnio, mas como resultado de conflitos, nos quais os povos indígenas participaram ativa e decisivamente, posicionando-se diante daquela hierarquia.

    A importância do livro pode ser percebida a partir de um aspecto estruturante da pesquisa e da conclusão que encaminha. Ela está situada, desde onde percebo, no modo como problematiza uma categoria: Política Indígena. A produção historiográfica é pródiga em análises sobre as políticas indigenistas. Elas têm ocupado um grupo significativo de estudos, nos quais o Estado (metropolitano, imperial ou republicano) cumpre a função de protagonista das políticas voltadas para os povos indígenas. Em tais trabalhos, em que pese o eventual reconhecimento da agência indígena, o Estado é promotor de políticas que são objeto de reação dos povos indígenas.

    Pois, aqui, a ação indígena não é percebida como mera reação à ação metropolitana, mas como expressão de uma leitura e uma análise do contexto diante do qual se deparavam os indígenas habitantes do Estado do Grão-Pará e Maranhão. A análise oferecida por Rafael Rogério Nascimento dos Santos evidencia o quanto as ações indígenas foram devedoras de uma reflexão sobre as possibilidades que a vida colonial lhes apresentava. Os contextos, as situações, os interesses e os projetos indígenas, coletivos e individuais, foram determinantes na formulação de ações políticas que demarcaram a relação entre índios e não-índios ao longo do período recortado pela pesquisa.

    Esse, no entanto, não é o único mérito do trabalho. A documentação analisada é outro tesouro do livro. Ela articula os documentos disponíveis pelo Projeto Resgate às fontes guardadas no Arquivo Público do Pará (verdadeiro cofre dos registros sobre o passado colonial amazônico!) com o objetivo de demonstrar como as políticas indígenas se expressaram nas intenções e ações de indígenas, assumidos como devem ser: agentes históricos plenos. Nesse sentido, o livro participa da discussão historiográfica, ocorrida em solo nacional e alhures, sobre a incorporação da perspectiva de diferentes agentes nas análises dos processos históricos. Ele dialoga, ainda, com a produção preocupada em perceber os processos históricos vividos na América como algo mais que os desdobramentos da vontade europeia – refletindo sobre os condicionantes imediatos que concorreram para o horizonte dos agentes históricos que vivenciaram o momento.

    Isso é alcançado por meio de uma investigação pormenorizada nos documentos disponíveis nos arquivos. Mapas, devassas, leis, papéis administrativos e correspondências envolvendo várias instâncias da vida colonial foram analisados, com vistas a busca de indícios que dessem conta não somente das ações metropolitanas, mas das ações dos indígenas inseridos na sociedade colonial. Com isso, Rafael Rogério demonstra não somente que é possível dar voz àqueles que por décadas tem sido deixados de lado, mas que considerar outras perspectivas é caminho fundamental para a construção de análises que promovam inflexões na produção historiográfica.

    Eu, de minha parte, reconheço outro mérito no trabalho de Rafael Rogério. Ele expressa a eficácia e a pertinência de políticas públicas voltadas para o incentivo à formação de pesquisadores. O autor deste belo livro foi Bolsista de Iniciação Científica e, a partir dessa experiência, conformou seus instrumentos de ofício – sua competência para formular problemas; sua habilidade em vasculhar arquivos e transformar documentos em fontes; seu compromisso com a tradição da disciplina, especialmente no que concerne aos princípios da crítica à documentação e ao domínio da produção historiográfica; e, sobretudo, o compromisso ético com a crítica à memória histórica, com vistas à desmistificação de visões calcadas em um ideal de exclusão.

    Mauro Cezar Coelho

    Abril de 2018.


    Notas

    1. Sobre isso, ver, entre outros trabalhos Gordon, Cesar. Economia selvagem: ritual e mercadoria entre os índios Xikrin-Mebêngôkre. São Paulo: Unesp; ISA; Rio de Janeiro: NUTI, 2006.

    2. Varnhagen, Francisco Adolpho. História Geral do Brasil. São Paulo: Edusp, 1981, v. 1, p. 30.

    3. Sobre isso, ver, além do texto clássico de Manuela Carneiro da Cunha (Cunha, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: ______. História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras; Secretaria Municipal de Cultura; FAPESP, 1992. p. 9-24), Monteiro, John Manuel. Tupis, tapuias e historiadores: estudos de história indígena e do indigenismo. 2001. 233f. Tese (livre-docência) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, p. 1-7.

    4. Para ficarmos, somente, com a produção realizada no âmbito da Universidade Federal do Pará, cito: Machado, Almires Mendes. De Direito indigenista a Direitos indígenas: desdobramento da arte do enfrentamento. 2009. 146f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Instituto de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do Pará, Belém; Machado, Almires Mendes. Exá raú mboguatá guassú mohekauka yvy marãe’y: de sonhos ao Oguatá Guassú em busca da (s) terra (s) isenta (a) de mal. 2015. 209f. Tese (Doutorado em Antropologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém; Domingues, William César Lopes. Cachaça Concreto e Sangue! Saúde, Alcoolismo e Violência. Povos Indígenas no Contexto da Hidrelétrica de Belo Monte. 2015. 119f. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém.

    5. Ver texto de Manuela Carneiro da Cunha já citado aqui e o trabalho essencial de Manuel Luiz Salgado Guimarães. Historiografia e Nação no Brasil, 1838-1857. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2011.

    6. Freyre, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1996; Prado Júnior, Caio. Evolução Política do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1999; Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

    7. Uma reflexão sobre tal argumento e seus desdobramentos pode ser encontrada em Florentino, Manolo; Fragoso, João. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia: Rio de Janeiro, 1790-1840. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 23-59.

    8. Schwartz, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1999; Monteiro, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Compahia das Letras, 1994; Farage, Nádia. As muralhas dos sertões: os povos indígenas no Rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Anpocs, 1991; Santos, Francisco Jorge dos. Além da Conquista: guerras e rebeliões indígenas na Amazônia Pombalina. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1999; Almeida, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003; Melo, Patrícia Maria. Espelhos partidos: etnia, legislação e desigualdade na Colônia – Sertões do Grão-Pará, c. 1755 – c. 1823. 2001. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói; Resende, Maria Leônia Chaves de. Gentios brasílicos – índios coloniais em Minas Gerais setecentista. 2003. 388f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas; Carvalho Júnior, Almir Diniz de. Índios cristãos: a conversão dos gentios na Amazônia portuguesa (1653-1769). 2005. 402f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas; Rocha, Rafael Ale. Os oficiais índios na Amazônia pombalina; sociedade, hierarquia e resistência (1751-1798). 2009. 146f. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói.

    9. Para citar apenas alguns trabalhos, Kiemen, Mathias C. The Indian Policy of Portugal in the Amazon Region, 1614-1693. Washington, D.C.: The Catholic University of America Press, 1954; Arnaud, Expedito. Aspectos da legislação sobre os índios do Brasil. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1973; Neves, Luiz Felipe Baeta. O combate dos soldados de Cristo na terra dos papagaios: colonialismo e repressão cultural. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1978; Silva, Maria Beatriz Nizza da. A estrutura social. In: Silva, Maria Beatriz Nizza da (coord.). O Império Luso-Brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Editorial Estampa, 1986, p. 215-260; (Serrão, Joel; Marques, António Henrique R. de O. (dir.). Nova História da Expansão Portuguesa, v. 8), p. 227; Gomes, Mercio Pereira. Os Índios e o Brasil: ensaio sobre um holocausto e sobre uma nova possibilidade de convivência. Petrópolis: Vozes, 1988; Alencastro, Luís Felipe. A interação européia com as sociedades brasileiras, entre os séculos XVI e XVIII. In: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Brasil nas vésperas do mundo moderno. Lisboa: Quetzal Editores, 1991, p. 97-119.

    Introdução

    Sobre as agências indígenas

    Em 19 de abril de 2013 deparei-me com a seguinte informação: os índios¹⁰ Xavante estavam cobrando impostos de qualquer pessoa que transitasse em um trecho da BR-070. Eles paravam caminhões, carros, motos e, segundo a reportagem, cobravam dos motoristas quantias que variavam entre R$10,00 a R$50,00. Ao serem perguntados sobre o porquê de estarem cobrando pedágio, responderam que o dinheiro arrecadado seria utilizado nas comemorações do dia 19 de abril, o Dia do Índio.¹¹

    Ao ler um pouco mais sobre o assunto, percebi que a cobrança de pedágio por indígenas em diversos cantos do Brasil não é algo raro, e não ocorre somente no Dia do Índio. Em 2012 índios da etnia Enawenê, do Matogrosso, cobravam pedágio com o intuito de obter dinheiro a fim de subsidiar o envio de representantes para reivindicar do governo, diretamente em Brasília, a criação de uma farmácia e de um posto de saúde em sua aldeia, assim como uma estrada que a ligasse à rodovia MT-170.¹²

    Os índios Apurinã foram mais além, com suas moradias ao longo da BR-317 no sentido Rio Branco/Boca do Acre, apresentaram um projeto aos parlamentares de Boca do Acre com o intuito de oficializar a cobrança de impostos naquele trecho, comprometendo-se com a manutenção do trecho da estrada, e não cobrariam pedágios de veículos oficiais e ambulâncias.

    De acordo com o documento, entregue a vereadores de Boca do Acre, o projeto tem como objetivo geral, a concessão nos trechos compreendidos nos quilômetros 45 e 124,

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1